RIO VERMELHO BY M.I.K.A.
RIO VERMELHO BY M.I.K.A.
TEXTOS DE M.I.K.A.
FOTO DE CAPA DE DIGITAL ART / PHOTOMANIPULATION /
HUMOUROUS©2010-2015. Putwittyusernamehere
CAPÍTULO 1
Os tubarões são pacatos, agitados são os
cardumes. Os raios e os trovões. As
raias, não. Nem a baía do Rio Vermelho é
agitada. É pacata. Agitados são os
foliões, com seus sorrisos vermelhos de
batom e dendê, de uma deslocada
picanha de petisco ao invés do marisco,
ou dos fiapos desfiados da lingerie de
uma transloucada menina à boca e
pintada num quadro em um casebre de
sapê. A Bahia é vermelha, o Rio
Vermelho não.
CAPÍTULO 2
Nas águas do Rio Vermelho não há
tubarões. Só mesmo quando vão a
banho, à pesca ou às oferendas. Lá os
peixes ganharam terreno e andam na de
citatinos há muito tempo. E se quando
for ao Rio Vermelho de visita vir alguns a
beberem boas águas de côco no Buracão
ao entardecer, não se ofenda: é prece ou
molengueza.
CAPÍTULO 3
O Rio Vermelho é uma terra de coronéis
da arte que raramente aparecem para
marcar ponto, mas onde o povo vive
como se estivessem presentes. Amado é
logo ali, e Caymmi deve de estar naquele
banquinho à beira-mar, mas se nem Gal
e nem Brown aparecerem para
comprovar esta prosa, tá lá Dinha que
não pára de cantinar.
CAPÍTULO 4
Iô Rio Vermêi não. Só às vez.
CAPÍTULO 5
O tubarão do Rio Vermelho cartilagem.
Curte tu baronesa desde a destreza com
que faz a barbatana antes de sair de casa
até ao baile de chamego de fucinhos
quando já agarradinhos no mar. É peba
não... No Rio Vermelho o pé-direito do
céu é mais alto mesmo. Os casarios e
sobrados resistiram mais aos arranha-
céus que em Ondina e, guardando
comigo um pouco do saudável ufanismo
baiano, até me arrisco a sugerir que se
levarem adiante esse negócio doido de
fazer da Bahia um país, o Rio Vermelho
que vire um outro país também. Mas vira
nada... o Rio Vermelho é baiano
demais...
CAPÍTULO 6
O Rio Vermêi tapioca.
CAPÍTULO 7
O Rio Vermelho é uma Bahia que dá
certo. Dá tubarão, torcedor do Galícia F.
C., tem o França – às vezes é a França -,
tem uma pirâmide, uma capelinha,
pracinha e calçadão. Rapaz... pensando
bem o Rio Vermelho é estranho demais...
CAPÍTULO 8
‘Rio Vermelho’ não é uma ode ao Rio
Vermelho. Ode se faz às musas e aos
heróis. Aos artistas e aos bons
governantes, às beleza e aos seus
merecedores. Rio Vermelho ou é bairro
ou é o tubarão que ainda não fez sua
higiene bucal após uma refeição.
CAPÍTULO 9
O Rio é vermelho só que não. Já são
águas passadas, morreu. É que na Bahia
o ‘não’ muitas vezes é consolação,
comprovação. É dizer pro moço ou pra
moça que o sorvete de umbú é bom – ‘né
ruim não’ -, quando a pedida causar
estranheza, e nem reparar que quando a
dica não é aceita a birra na cara é a
mesma.
CAPÍTULO 10
No Rio Vermelho o vai-e-vém dos barcos
e pescadores mantém-se rústico e
vagaroso como nas letras dos artesãos
locais; naif como nas pinturas
tropicalistas. O pescado chega à panela
da moqueca e às mesas do mercado de
peixes da esquina, onde tubarões
refestelam-se com cerveja mas, agitação
mesmo no cais, somente no dia 2 de
Fevereiro. Não que seja uma
particularidade. O curioso é a praia ao
lado chamar-se Paciência.
CAPÍTULO 11
À noite, o Rio Vermelho é negro.
CAPÍTULO 12
Tem tubarão no Rio Vermelho e o homem
incomoda muito.
CAPÍTULO 13
O Rio é vermelho por questões
clubísticas: é do Vitória e do Baêa
também. Em caso de persistirem
empatados após o apito final, de lá para
Pituaçu é dois palito e um sorvete de
umbú.
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