ADRIANO GAMEIRO VIVANCOS
ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS EM PROCESSO DE
IMPLEMENTAO DE SISTEMAS DE GESTO DA QUALIDADE
Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia xxxxxxxxxxxxx
SO PAULO
2001
ADRIANO GAMEIRO VIVANCOS
ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE
EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS EM
PROCESSO DE IMPLEMENTAO DE SISTEMAS
DE GESTO DA QUALIDADE
Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia
So Paulo 2001
ADRIANO GAMEIRO VIVANCOS
ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE
EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS EM
PROCESSO DE IMPLEMENTAO DE SISTEMAS
DE GESTO DA QUALIDADE
Dissertao apresentada Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia rea de concentrao: Engenharia de Construo Civil e Urbana Orientador: Prof. Dr. Francisco Ferreira Cardoso
So Paulo 2001
FICHA CATALOGRFICA
Vivancos, Adriano Gameiro Estruturas organizacionais de empresas construtoras de edifcios em
processo de implementao de sistemas de gesto da qualidade, So Paulo, 2001.
169p. Dissertao (Mestrado) Escola Politcnica da Universidade de So
Paulo. Departamento de Engenharia de Construo Civil. 1. Estruturas Organizacionais 2. Qualidade 3. Construo Civil
I. Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departamento de Engenharia de Construo Civil. II. t.
Aos meus pais Ivone e Joo pelo constante amor e incentivo.
i
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a todos aqueles que, de alguma forma, contriburam para a
realizao desta dissertao. Em primeiro lugar, agradeo ao meu orientador, professor
Francisco Ferreira Cardoso, pela confiana, pacincia e, principalmente, pela
amizade construda ao longo destes ltimos anos.
Agradeo tambm aos membros das bancas de qualificao e de defesa desta
dissertao, professor Fernando Henrique Sabbatini e engenheiro Roberto de
Souza, expoentes das transformaes pelas quais atravessa o setor da construo civil
e pelos quais tenho enorme admirao.
Sou tambm grato s empresas que abriram suas portas para a realizao dos estudos
de caso apresentados neste trabalho:
Construtora Massafera Ltda.;
Tecnosul Engenharia e Construes Ltda.;
Tarraf Construtora; e
REM Construtora e Incorporadora Ltda.
CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
agradeo pelo apoio financeiro dado esta pesquisa.
No poderia deixar de agradecer a todos os professores com os quais tive a
oportunidade de conviver e trabalhar desde o incio do mestrado: Ubiraci Souza,
Mrcia Barros, Luis Srgio Franco, Slvio Melhado, Jos Francisco Assumpo,
Jonas Medeiros e Mauro Zilbovcius da EPUSP, Valter Beraldo da FEA e Mrio
Donadio e Clia Menniti da PUC-SP.
ii
queles que acreditaram no meu trabalho nestes ltimos anos, em especial a Hermes
Fajersztajn, Paulo Roberto Santos, Augusto Camargo e Ricardo Solera.
Ao professor Luis Csar Souza Pinto e Universidade Paulista pela confiana em
mim depositada e aos meus alunos pela permanente fonte de inspirao e motivao.
Aos tcnicos da CDHU com os quais tive o prazer de trabalhar: Raphael Pileggi,
Altamir Tedeschi, Vtor Augusto dos Santos, Srgio Artur de Andrade, Gilberto
Diniz e Edgard Nascimento.
Aos amigos que fiz em So Paulo: Sofa e Mrcio, companheiros inseparveis; Fred,
Edson e Cludia, companheiros de longas viagens; Alberto, Artemria, Daniel,
Eliana, Fanny, Jlio Csar, Leonardo, Lus Otvio, Odvio, Rubnio, Rubiane,
Srgio, Yda, etc, etc, etc.
Aos caipiras que, como eu, esto vivendo a aventura chamada So Paulo, meus
irmos Leandro, Dimitri, Marcelinho, Marcelo Camacho, Jlio Csar e Sandro.
Aos amigos que esto distantes mas que esto guardados no peito: Kad, Rogrio
Camacho, Reginaldo, Paulo Vincius, Arnaldo e Rogrio Pecci.
querida Giuliana pelo amor, alegria e pacincia comigo ao longo deste trabalho.
Finalmente, pelo carinho e por estarem sempre ao meu lado, demonstrando amor,
apoio e interesse pelo trabalho, agradeo aos meus pais Ivone e Joo, aos meus irmos
Fbio e Gustavo e s minhas tias Cristina e Clia.
iii
SUMRIO
LISTA DE TABELAS............................................................................................................................... V
LISTA DE FIGURAS...............................................................................................................................VI
LISTA DE ABREVIATURAS...............................................................................................................VII
RESUMO .............................................................................................................................................. VIII
ABSTRACT ..............................................................................................................................................IX
1 INTRODUO ..................................................................................................................................1
1.1 JUSTIFICATIVA..............................................................................................................................1 1.2 OBJETIVOS ...................................................................................................................................3 1.3 ESCOPO DO TRABALHO.................................................................................................................4 1.4 METODOLOGIA.............................................................................................................................5 1.5 ESTRUTURAO DO TRABALHO....................................................................................................7
2 CARACTERIZAO DO SETOR DA CONSTRUO DE EDIFCIOS ..................................9
2.1 PARTICULARIDADES DO SETOR DE EDIFCIOS................................................................................9 2.2 A GESTO DA QUALIDADE NA CONSTRUO DE EDIFCIOS........................................................13
2.2.1 O Programa QUALIHAB e o PBQP-H ..............................................................................16 2.2.1.1 Programa QUALIHAB.................................................................................................................. 16 2.2.1.2 PBQP-H ........................................................................................................................................ 18
2.2.2 A importncia da gesto da qualidade para a construo de edifcios..............................19 2.2.3 A implementao de sistemas de gesto da qualidade .......................................................21 2.2.4 Impactos da implementao de sistemas de gesto da qualidade nos sistemas de produo
das empresas construtoras ................................................................................................25
3 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS .........................................................................................31
3.1 A TEORIA DAS ORGANIZAES...................................................................................................33 3.2 O CONCEITO DE ESTRUTURA ORGANIZACIONAL .........................................................................42
3.2.1 Diviso do trabalho e especializao .................................................................................44 3.2.2 Hierarquia ..........................................................................................................................46 3.2.3 Amplitude de controle.........................................................................................................47 3.2.4 Distribuio de autoridade e responsabilidade..................................................................48 3.2.5 Centralizao e descentralizao .......................................................................................49
3.2.5.1 Perfis organizacionais de Likert .................................................................................................... 51 3.2.5.2 Ideologias organizacionais de Morgan .......................................................................................... 52
3.2.6 Departamentalizao..........................................................................................................54 3.2.7 Comunicao ......................................................................................................................58
3.3 ESTRUTURA FORMAL E ESTRUTURA INFORMAL ..........................................................................61 3.4 CULTURA ORGANIZACIONAL ......................................................................................................62 3.5 CONDICIONANTES DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL ................................................................64
3.5.1 Objetivos e estratgias........................................................................................................65 3.5.1.1 Os objetivos e estratgias como condicionantes da estrutura na construo de edifcios .............. 70
3.5.2 Ambiente .............................................................................................................................73 3.5.2.1 O ambiente como condicionante da estrutura na construo de edifcios...................................... 74
3.5.3 Tecnologia ..........................................................................................................................77 3.5.3.1 A tecnologia como condicionante da estrutura na construo de edifcios.................................... 78
3.5.4 Recursos humanos ..............................................................................................................80 3.5.4.1 Teoria X e Teoria Y....................................................................................................................... 82 3.5.4.2 Os recursos humanos como condicionantes da estrutura na construo de edifcios..................... 83
3.6 MODELO DE ORGANIZAO DE MINTZBERG...............................................................................86
iv
4 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS ESTUDO DE CASOS ...................................................................................................................89
4.1 DIRETRIZES PARA O ESTUDO DAS ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS...............................................................................................................................89
4.2 CARACTERIZAO DAS EMPRESAS ESTUDADAS ESTUDO DE CASOS.........................................93 4.2.1 Empresa A...........................................................................................................................96 4.2.2 Empresa B.........................................................................................................................100 4.2.3 Empresa C ........................................................................................................................103 4.2.4 Empresa D ........................................................................................................................106
4.3 CARACTERIZAO DAS ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DAS EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS ESTUDADAS ..............................................................................................................109
4.3.1 Anlise dos Organogramas funcionais.............................................................................110 4.3.1.1 Setores administrativos e financeiros .......................................................................................... 112 4.3.1.2 Setores comerciais e de marketing .............................................................................................. 114 4.3.1.3 Setores tcnicos ........................................................................................................................... 115
4.3.2 Anlise dos Papis Identificados nas Empresas ...............................................................117 4.3.3 Anlise das Estruturas de Poder.......................................................................................120 4.3.4 Anlise dos Sistemas de Comunicao .............................................................................123 4.3.5 Anlise das Estruturas Informais Percebidas nas Empresas............................................125 4.3.6 Anlise da Cultura Organizacional Percebida nas Empresas..........................................126 4.3.7 Identificao das Estratgias Adotadas pelas Empresas..................................................128 4.3.8 Anlise do Posicionamento das Empresas no Ambiente...................................................131 4.3.9 Avaliao dos Aspectos Tecnolgicos ..............................................................................132 4.3.10 Avaliao dos Aspectos Ligados aos Recursos Humanos ................................................133 4.3.11 Caracterizao geral das estruturas organizacionais de empresas construtoras de
edifcios de pequeno e mdio portes................................................................................136 4.4 IMPACTOS DA IMPLEMENTAO DE SISTEMAS DE GESTO DA QUALIDADE NAS ESTRUTURAS
ORGANIZACIONAIS DE EMPRESAS CONSTRUTORAS DE EDIFCIOS ..............................................141 4.4.1 Impactos sobre a estrutura administrativa .......................................................................141 4.4.2 Impactos sobre o setor produtivo .....................................................................................144
5 CONSIDERAES FINAIS.........................................................................................................148
5.1 TPICOS PARA FUTURAS INVESTIGAES.................................................................................150
ANEXO QUESTIONRIO PADRONIZADO EMPREGADO NOS ESTUDOS DE CASO.......153
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................................................165
v
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 : Aes e posturas das empresas construtoras que resultaram da implementao dos sistemas de
gesto da qualidade observados por REIS (1998). .............................................................................26 Tabela 2: Sistemas mecnicos e sistemas orgnicos (BURNS; STALKER, 1968)....................................37 Tabela 3 : Algumas vantagens e desvantagens da descentralizao (CHIAVENATO, 1997). ..................51 Tabela 4 : Os quatro sistemas administrativos definidos por LIKERT (1961). ..........................................52 Tabela 5 : As Novas Formas de Racionalizao da Produo baseadas na estratgia competitiva genrica
da liderana pelos custos (CARDOSO, 1997). ...................................................................................72 Tabela 6 : As Novas Formas de Racionalizao da Produo baseadas na estratgia competitiva genrica
da competio pela diferenciao (CARDOSO, 1997). .....................................................................73 Tabela 7 : A tecnologia e suas conseqncias na organizao segundo Woodward
(CHIAVENATO, 1997). ....................................................................................................................78 Tabela 8 : Duas concepes sobre a natureza humana (McGREGOR, 1960). ...........................................82 Tabela 9 : Caracterizao das empresas estudadas. ....................................................................................93 Tabela 10 : reas de atuao das empresas dentro do setor da construo civil, segundo a diviso da
FUNDAO PINHEIRO NETO (1984). ..........................................................................................94 Tabela 11 : Formas de atuao das empresas no subsetor de edifcios e os mercados nos quais elas atuam.
............................................................................................................................................................94 Tabela 12 : Classificao das empresas quanto ao porte em funo do nmero de empregados................95 Tabela 13 : Funes da estrutura de produo identificada nos casos estudados. ....................................116 Tabela 14 : Valores pregados pelas altas administraes e valores percebidos pelos funcionrios nas obras
das empresas estudadas. ...................................................................................................................126
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 : Representao das inter-relaes entre os elementos do sistema de gesto da qualidade
(adaptada de PICCHI, 1993 e SOUZA, 1997)....................................................................................22 Figura 2 : Outras funes da organizao que podem proteger o ncleo de produo das incertezas
ambientais (SLACK et al. , 1997).......................................................................................................33 Figura 3: A mudana de paradigma para o sucesso organizacional (ASHKENAS et al., 1995). ...............39 Figura 4 : Um modelo geral do comportamento nas organizaes (NADLER et al., 1983).......................81 Figura 5 : As cinco partes da organizao segundo o modelo de MINTZBERG (1995)............................86 Figura 6 : Organograma funcional da empresa A. ......................................................................................98 Figura 7 : Organograma funcional da empresa B. ....................................................................................102 Figura 8 : Organograma funcional da empresa C. ....................................................................................105 Figura 9 : Organograma funcional da empresa D. ....................................................................................108 Figura 10 : Nveis hierrquicos existentes nas empresas estudadas. ........................................................111 Figura 11 : Aes estratgicas apontadas pela direo das empresas. ......................................................129 Figura 12 : Avaliao percentual do grau de terceirizao de atividades entre as empresas estudadas....137 Figura 13 : Anlise do grau de internalizao e subcontratao nas obras das empresas estudadas.........138 Figura 14 : Representao de organizao padro de uma empresa construtora de pequeno e mdio porte
atravs do modelo de MINTZBERG (1995). ...................................................................................140 Figura 15 : Impactos da implantao dos sistemas de gesto da qualidade junto aos funcionrios dos
escritrios. ........................................................................................................................................144 Figura 16 : Impactos da implantao dos sistemas de gesto da qualidade junto aos funcionrios das
obras. ................................................................................................................................................146
vii
LISTA DE ABREVIATURAS
ABEF: Associao Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundaes e Geotecnia
ABNT: Associao Brasileira de Normas Tcnicas
APEOP: Associao Paulista de Empresrios de Obras Pblicas
CDHU: Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano do Estado de So Paulo
EPUSP: Escola Politcnica da Universidade de So Paulo
ISO: International Standard Organization
ITQC: Instituto Brasileiro de Tecnologia e Qualidade da Construo
NFRP: Nova Forma de Racionalizao da Produo (CARDOSO, 1997)
OCC: Organismo de Certificao Credenciado
PBQP: Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade
PBQP-H: Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat
PCC: Departamento de Engenharia de Construo Civil da EPUSP
QUALIBAT: Organisme de Certification et de Qualification des Entreprises du Btiment
QUALIHAB: Programa da Qualidade da Construo Habitacional do Estado de So Paulo
SEBRAE-SP: Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas de So Paulo
SENAI: Servio Nacional de Aprendizagem Industrial
SindusCon-RJ: Sindicato da Indstria da Construo Civil do Estado de Rio de Janeiro
SindusCon-SP: Sindicato da Indstria da Construo Civil do Estado de So Paulo
SiQ-Construtoras: Sistema de Qualificao de Empresas de Servios e Obras - Construtoras
UFF: Universidade Federal Fluminense
USP: Universidade de So Paulo
viii
RESUMO
No presente trabalho, atravs de uma reviso bibliogrfica e de quatro estudos de caso,
so caracterizadas as estruturas organizacionais de pequenas e mdias empresas
construtoras de edifcios e identificadas as principais transformaes ocorridas nestas
estruturas em funo da implementao de sistemas de gesto da qualidade.
A reviso bibliogrfica enfoca da teoria das organizaes, onde so discutidos os
principais conceitos que constituem as estruturas organizacionais e os seus principais
condicionantes. Tambm realizada uma caracterizao do setor de edifcios, onde so
destacados aspectos de interesse do trabalho, como a configurao destes
condicionantes no setor de edifcios e o papel atual da gesto da qualidade como
principal estratgia adotada pelas empresas na busca de avanos gerenciais e
tecnolgicos.
Finalmente, so propostas diretrizes para o diagnstico de estruturas organizacionais
de empresas construtoras de edifcios, so apresentados os casos estudados e so
discutidas a organizao dessas empresas e os impactos da implantao de seus
sistemas de gesto da qualidade.
ix
ABSTRACT
In this thesis, through a bibliographical review and four case studies, the
organizational structure of small and medium sized building companies is
characterized and the most important changes in these structures due to the
implementation of quality management systems are identified.
A bibliographical review in the organizational theory field is conducted, emphasizing
the conceptualization of the organizational structure and the definition of its
conditionings. Also the Brazilian building sector is briefly characterized. The
configuration of these conditionings in the sector is discussed and quality management
is pointed as the main strategy adopted by building companies in order to achieve
managerial and technological advances.
Directives for the conduction of organizational structure diagnostics in building
companies are proposed. The four case studies are presented and, based on the
directives proposed, the organization of these companies is finally discussed. The
impact of the companies quality management systems in their organization is
presented through this discussion.
1. Introduo 1
1 INTRODUO
1.1 JUSTIFICATIVA
OLIVEIRA (1994) define sucintamente a organizao da empresa como a ordenao e
agrupamento de atividades e recursos, visando ao alcance dos objetivos e resultados
estabelecidos.
Ento, quais so as atividades desenvolvidas pelas empresas construtoras de edifcios?
Como essas atividades so ordenadas e agrupadas nessas organizaes? Como so
distribudos os recursos? De que forma, efetivamente, se organizam tais empresas
construtoras visando ao alcance de seus objetivos e resultados?
Essas no so perguntas sem respostas, mas que possuem respostas imprecisas nos
meios acadmico e empresarial. Qualquer pessoa que atue no setor de edifcios, seja
ela empresrio, engenheiro, pesquisador, etc., seria capaz de dar respostas a essas
perguntas, provavelmente corretas, mas dificilmente completas.
Tem sido vastamente estudados os recursos fsicos empregados na construo de
edifcios (concreto, argamassas, cermicas, ao, etc.), a tecnologia envolvida nos
processos de produo, a viabilidade econmico-financeira dos empreendimentos, as
novas formas de gesto do processo de produo de edifcios, dentre outros aspectos
relacionados s atividades desenvolvidas por essas empresas. Entretanto, aspectos
relacionados estrutura organizacional das empresas construtoras de edifcios, como
as formas de departamentalizao utilizadas, os principais cargos existentes e suas
funes e a cultura organizacional praticada, no tem sido, via de regra, objeto de
investigaes detalhadas. Considera-se, portanto, oportuna a realizao de um estudo
que viesse a diagnosticar e a caracterizar as estruturas organizacionais de empresas
1. Introduo 2
construtoras de edifcios, especialmente no que tange aos aspectos relacionados aos
setores produtivos dessas empresas.
Por outro lado, em funo de alteraes nos condicionantes do setor, intensificadas nos
anos 90, e do acirramento da competitividade, diversas empresas tm adotado como
estratgia a implantao de sistemas de gesto da qualidade. Para a implantao desses
sistemas, de acordo com SOUZA (1997), preciso se considerar tanto os fatores
tcnicos relativos gesto de processos como os fatores humanos, relacionados
gesto das pessoas.
Diante de tal abrangncia dos sistemas de gesto da qualidade, acredita-se que o seu
desenvolvimento tenha, de fato, impactos na estrutura organizacional das empresas.
Acredita-se, tambm, que as alteraes na estrutura organizacional decorrentes da
implantao desses sistemas, relacionadas principalmente melhor definio de
autoridades e responsabilidades, tendncia de descentralizao, maior qualificao
dos recursos humanos e mudanas culturais sejam to relevantes quanto os impactos
relacionados diretamente ao processo de produo, que j foram evidenciados em
outros trabalhos (PICCHI, 1993; REIS, 1998).
Visto estar-se estudando as estruturas organizacionais de empresas construtoras de
edifcios em um momento em que um grande nmero delas esto implantando sistemas
de gesto da qualidade, considerou-se oportuna a escolha de empresas que estivessem
engajadas neste processo para a realizao de estudos de caso. Desta forma, foi
possvel a identificao de transformaes na estrutura organizacional decorrentes da
implementao de sistemas de gesto da qualidade, contribuindo-se para a
caracterizao e o entendimento deste movimento de busca da qualidade pelo qual o
setor est atravessando.
1. Introduo 3
1.2 OBJETIVOS
O trabalho possui dois objetivos gerais, que so:
a realizao de uma reviso dos principais conceitos relacionados ao estudo das
estruturas organizacionais e sua adaptao ao contexto da construo de edifcios;
a caracterizao das estruturas organizacionais de empresas construtoras de
edifcios de pequeno e mdio portes, com a identificao de transformaes
ocorridas nessas estruturas, decorrentes da implementao de sistemas de gesto
da qualidade.
A partir de uma reviso bibliogrfica so, portanto, esclarecidos os principais conceitos
e definies acerca do estudo das estruturas organizacionais, destacando-se: o conceito
de estrutura organizacional seus componentes e condicionantes. So igualmente
abordados conceitos como diviso do trabalho, hierarquia, amplitude de controle,
responsabilidade, autoridade, departamentalizao, grau de descentralizao,
comunicao, grau de formalizao e cultura organizacional. Estes conceitos so
contextualizados no setor da construo civil.
So ento propostas diretrizes para o estudo de estruturas organizacionais de empresas
construtoras de edifcios, que serviram de base para o desenvolvimento dos demais
objetivos do trabalho.
Atravs de estudos de caso, identificam-se e caracterizam-se, para as empresas
construtoras de edifcios: os organogramas funcionais tpicos, os principais setores e
cargos existentes e suas atribuies, as estruturas de poder existentes, os sistemas de
comunicao utilizados, alm dos principais aspectos culturais presentes nessas
organizaes. ainda discutida a relao entre a estrutura organizacional das empresas
1. Introduo 4
e as estratgias competitivas e de produo por elas adotadas, seu posicionamento no
mercado, a tecnologia empregada e a gesto dos recursos humanos.
Finalmente, visto que os casos estudados envolvem empresas em processo de
implementao de sistemas de gesto da qualidade, so identificados os principais
impactos deste processo nas estruturas organizacionais das empresas.
1.3 ESCOPO DO TRABALHO
Com o intuito de tornar claro o escopo deste trabalho, adota-se a classificao da
FUNDAO JOO PINHEIRO (1984), que divide o setor da construo civil em trs
subsetores: construo pesada, montagem industrial e edifcios, e que tem sido
utilizada por alguns dos principais autores consultados
(FARAH, 1992; PICCHI, 1993).
No trabalho so estudadas especificamente as empresas do subsetor de edifcios que,
segundo FARAH (1992), inclui entre suas atividades a construo de edifcios
residenciais, comerciais, institucionais e industriais; a construo de conjuntos
habitacionais; a realizao de partes de obras, por especializao, tais como fundaes,
estruturas e instalaes e ainda execuo de servios complementares, como reformas.
Divide-se ainda o subsetor em funo da forma de atuao da empresa e do mercado
no qual ela atua, considerando as seguintes possibilidades: empresa promotora e
construtora de edifcios no mercado privado; empresa construtora de edifcios no
mercado privado; e/ou empresa construtora de edifcios no mercado pblico.
1. Introduo 5
1.4 METODOLOGIA
O trabalho baseia-se na realizao de uma reviso bibliogrfica e em estudos de casos.
Caracteriza-se como uma pesquisa do tipo exploratrio-descritiva, de carter
qualitativo, trabalhando com mltiplos estudos de caso (quatro empresas construtoras
de edifcios) e mltiplas fontes de evidncia (entrevistas, observao e anlise de
documentos).
Assim como o trabalho de BARROS NETO (1999), ele exploratrio porque busca
conhecer e estudar assuntos pouco abordados nas pesquisas relacionadas com a
construo de edifcios e aumentar o conhecimento sobre o tema. descritivo porque
procura entender e mostrar como funciona determinado fenmeno ou comunidade.
qualitativo uma vez que feito em ambiente natural, com muitas variveis e pouco
conhecimento sobre o mesmo... e ...deseja-se ter viso global do problema e no
apenas uma medio abstrata de correlao entre um conjunto pequeno de variveis.
A pesquisa bibliogrfica realizada abrangeu principalmente dois temas: a teoria das
organizaes e a gesto da qualidade. importante ressaltar-se uma diferena na
reviso destes dois assuntos: enquanto a gesto da qualidade j foi extensamente
estudada sob a tica da construo civil, a teoria das organizaes ainda no o foi.
Da resultou a necessidade da realizao de uma reviso bibliogrfica mais abrangente
acerca da teoria das organizaes, reunindo-se os principais conceitos e os pontos de
vista dos principais autores, e capaz de fundamentar a realizao da pesquisa e as
discusses desenvolvidas ao longo do trabalho. Foram consultados autores que
estudaram as organizaes dentro da construo civil e, principalmente, autores cujas
obras focam a indstria de forma geral. Quanto gesto da qualidade, a reviso
bibliogrfica concentrou-se em autores cujo foco do trabalho a construo civil.
1. Introduo 6
Os estudos de caso, por sua vez, compreenderam visitas s empresas e s suas obras
pelo menos uma por empresa. Nestas visitas, utilizando-se questionrios padronizados
compostos por questes abertas, foram entrevistadas trs pessoas dentro de cada uma
das organizaes: um representante da alta administrao (em geral o proprietrio da
empresa), o coordenador da implantao do sistema de gesto da qualidade e um
engenheiro de obras que estivesse participando diretamente da implementao do
sistema. Tais questionrios esto anexados ao final deste trabalho. Nestas visitas
procurou-se resgatar como eram as estruturas dessas empresas antes do incio da
implantao de seus programas da qualidade e as razes que as levaram a adotar a
gesto da qualidade como estratgia competitiva. Isto permite a caracterizao dessas
estruturas em dois momentos: antes do incio da implementao do sistema da
qualidade (apenas atravs de entrevistas e anlise de documentos) e durante o
desenvolvimento e a implantao do mesmo. Procurou-se tambm nestas visitas
observar aspectos como: lay out dos escritrios, ambiente de trabalho; caractersticas
pessoais dos entrevistados; caractersticas da cultura organizacional; e postura e
motivao das empresas diante da implantao do sistema de gesto da qualidade.
Foram ainda consultados os sites na Internet das empresas que os possurem, alm de
sites de entidades e programas como PBQP-H, CDHU, SindusCon-SP, ABNT, ISO,
Fundao Carlos Alberto Vanzolini1, etc., ricos em informaes sobre o Programa
QUALIHAB, o PBQP-H e a certificao NBR/ISO 9000 de empresas construtoras.
1 Organismo certificador atuante nos programas QUALIHAB e PBQP-H.
1. Introduo 7
1.5 ESTRUTURAO DO TRABALHO
O trabalho est estruturado em cinco captulos, alm de um anexo e das referncias
bibliogrficas. Neste primeiro captulo so apresentadas as justificativas para a
escolha do tema da pesquisa e os objetivos que se pretende alcanar com o trabalho.
No segundo captulo procura-se caracterizar o setor da construo de edifcios, que
marcado por algumas particularidades que o diferenciam dos demais setores
industriais. dada nfase ao grande movimento das empresas construtoras de edifcios
em busca de melhorias de qualidade, especialmente atravs da implantao de sistemas
de gesto da qualidade, e aos Programas QUALIHAB e PBQP-H.
O terceiro captulo constitui-se basicamente de uma discusso dos principais
conceitos da teoria das organizaes, onde procura-se atingir o primeiro objetivo
apresentado para o trabalho. O captulo serve fundamentalmente como embasamento
conceitual para as discusses desenvolvidas nos captulos seguintes, especialmente no
quarto captulo.
No quarto captulo atingido o segundo objetivo do trabalho. Inicialmente so
propostas diretrizes para o estudo das estruturas organizacionais de empresas
construtoras de edifcios. Na seqncia so apresentados e analisados os estudos de
casos sob a tica das diretrizes propostas, concluindo-se com a caracterizao das
estruturas organizacionais das empresas do setor e com a anlise das transformaes
organizacionais decorrentes da implantao dos sistemas de gesto da qualidade nos
casos estudados.
No quinto captulo, so apresentadas as consideraes finais do trabalho e
identificados temas para futuras pesquisas relacionadas ao assunto desta dissertao.
Aps esse captulo so apresentados o questionrio empregado nas entrevistas
1. Introduo 8
realizadas nas visitas s empresas dos estudos de caso (em um anexo) e as referncias
bibliogrficas empregadas para a elaborao do trabalho.
interessante ainda ressaltar que consideraes preliminares deste trabalho,
publicadas em eventos cientficos nacionais e internacionais durante o perodo do seu
desenvolvimento, so apresentadas em VIVANCOS; CARDOSO (1999a, 1999b,
2000).
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 9
2 CARACTERIZAO DO SETOR DA CONSTRUO DE EDIFCIOS
Antes de se iniciar as discusses acerca das estruturas organizacionais das empresas
construtoras de edifcios, acredita-se ser importante a caracterizao do setor no qual
tais empresas esto inseridas. Neste captulo discorre-se sobre caractersticas do setor
que so consideradas determinantes para o estudo das estruturas organizacionais das
empresas construtoras de edifcios.
2.1 PARTICULARIDADES DO SETOR DE EDIFCIOS
O setor de edifcios composto por um grande nmero de pequenas e mdias
empresas, que formam um mercado altamente competitivo. O SindusCon-SP, rgo
representativo dessas empresas, conta com mais de 5000 filiados, existindo ainda uma
enorme quantidade de empresas no filiadas atuando neste mercado. A grande maioria
destas empresas so de pequeno e mdio portes.
Quanto base tcnica do trabalho no setor, apesar de ser comum dizer-se que esta seja
artesanal, segundo VARGAS (1983), esta tem carter de manufatura. O autor entende
que a construo de edifcios tem incorporado um conhecimento tcnico e cientfico
independente do saber operrio, que, por sua vez, encontra-se bastante desqualificado e
parcelado, restando-lhe somente o conhecimento de uma pequena parte da obra, o que
no caracteriza o trabalho artesanal e sim a manufatura.
O autor entende que, na organizao da produo assentada em bases manufatureiras,
sempre est presente uma dificuldade de controle do trabalho, dos custos e dos prazos
de execuo das atividades, ficando, de maneira geral, para o encarregado a funo de
superviso e controle dos operrios. Essa caracterstica ilustrada por PICCHI (1993)
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 10
quando o autor afirma que, na implantao de um Sistema da Qualidade, o
encarregado o principal elo de treinamento do operrio e que o desenvolvimento da
mo-de-obra, a obteno do compromisso com a qualidade, a motivao dos
trabalhadores, etc., dependem fundamentalmente das relaes encarregados-
operrios.
Essas questes tornam-se hoje ainda mais complexas tendo em vista a tendncia do
setor para a subcontratao dos servios de execuo, que passam a ser executados por
subempreiteiros, como discute SERRA (2001).
O processo de produo de edifcios caracteriza-se por uma sucesso de etapas
constitudas por atividades consideravelmente diversificadas, envolvendo a
incorporao de uma grande variedade de materiais e componentes. So vrios os
processos de transformao intermedirios que ocorrem ao longo do processo de
produo, dos quais participam trabalhadores com distintas qualificaes
(FARAH, 1992).
Esses trabalhadores possuem o que FARAH (1992) chama de um saber parcial,
relativo a fraes do processo de produo, especializaes dos trabalhadores na
execuo de determinadas atividades, no manuseio e na transformao de materiais e
componentes especficos, associados execuo de partes da edificao. Os principais
ofcios identificados no processo de produo de edifcios so os de pedreiro,
carpinteiro, armador, encanador, eletricista, gesseiro, pintor, azulejista, dentre outros.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 11
Outra caracterstica que corriqueiramente atribuda ao setor a no existncia de uma
cultura de regulamentao e controle formal dos processos de produo2, somada
inexistncia de um conjunto de normas relativas aos processos de produo da
construo no pas. Os prprios operrios tradicionalmente detm o domnio sobre a
forma como o trabalho deve ser executado, sendo este distribudo e supervisionado
informalmente pelo mestre-de-obras e pelos encarregados. Ao engenheiro cabe
principalmente a atribuio de acompanhar o cumprimento do cronograma fsico-
financeiro da obra, alm de resolver inmeros problemas decorrentes da falta de
planejamento e controle da produo, relacionados principalmente suprimentos,
equipamentos e mo-de-obra. Alm disso, deficiente a formao gerencial dos
engenheiros civis em geral, restando em grande parte dos casos a conduo das
atividades produtivas, de fato, para os mestres-de-obras, que o fazem com base na sua
experincia, que um dos principais pr-requisitos para se exercer este cargo. Esta
situao vm sendo modificada nos ltimos anos, uma vez que um grande nmero de
empresas do setor tm desenvolvido procedimentos para a execuo e para a inspeo
de servios em funo da implementao de sistemas de gesto da qualidade, como
mostra REIS (1998).
Diversos autores destacam ainda como caractersticas do setor a baixa produtividade, o
alto ndice de perdas e a alta incidncia de problemas patolgicos nos seus produtos
(PICCHI, 1993 ; FARAH, 1988).
2 Adota-se aqui a definio de CARDOSO (1996) de processo de produo como o conjunto das
etapas fsicas, organizadas de forma coerente no tempo, que dizem respeito construo de uma obra; tais etapas concentram-se sobre a execuo, mas vo desde os estudos preliminares, at a utilizao da obra e so asseguradas por diferentes atores.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 12
Analisando-se este quadro, entende-se que as empresas do setor de edifcios tm um
grande potencial de aumentar sua eficincia produtiva adotar estratgias de produo
que envolvam, entre diversas aes, a formalizao de seus processos de produo, o
treinamento e a qualificao da mo-de-obra, seja ela prpria ou ligada
subempreiteiros, a definio de padres claros de qualidade e a implementao aes
de planejamento e de controle da produo. Enfim, acredita-se que essas empresas
devem obter ganhos de eficincia atravs da melhoria dos aspectos ligados gesto do
processo de produo.
FARAH (1992) identificava no setor habitacional, j no incio dos anos 90, uma
orientao no sentido de uma racionalizao do processo de produo. De acordo
com a autora, num cenrio marcado pela intensificao da competitividade, h uma
orientao generalizada para a busca de maior eficincia, atravs do aumento da
produtividade, da reduo de prazos de execuo e de custos de produo. As
inovaes introduzidas no processo de trabalho sejam tecnolgicas, sejam
organizacionais respondem, de um modo geral, a estes requisitos.
J h cinco anos CARDOSO (1996) afirmava que as empresas construtoras deveriam,
necessariamente, passar por um aumento da sua eficincia produtiva para se
adequarem a esse novo cenrio que vinha se configurando desde o incio dos anos 90,
no mais havendo a possibilidade de serem eficazes sem serem eficientes3. Segundo o
autor, no se poderia mais falar de ganhos de competncia sem levar em conta o
ambiente exterior da empresa, seu posicionamento face concorrncia, nos diferentes
mercados nos quais ela intervm.
3 CARDOSO (1996) define eficcia como a capacidade de se alcanar certos objetivos fixados, e
eficincia como a capacidade de rendimento de um sistema avaliada, qualitativamente ou quantitativamente, face a um certo nvel de recursos de base (equipamento, homem, capital, trabalho, etc.).
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 13
Visando conseguir ganhos de eficincia produtiva, as empresas do setor tm adotado
posturas relativas organizao da produo diferentes das tradicionais.
BARROS (1996) identificou que as principais alternativas de racionalizao adotadas
pelas empresas so a implantao de sistemas de gesto da qualidade e a implantao
de aes, em canteiro, objetivando a racionalizao da produo.
Identifica-se ainda a difuso no setor dos conceitos da construo enxuta (lean
construction) (KOSKELA, 1992), sedimentados no planejamento da produo e na
diminuio no processo de produo de atividades no agregadoras de valor ao
produto atividades de recebimento e transporte de materiais e de inspeo de
servios.
Concluindo, clara atualmente a tendncia de evoluo nas empresas do setor de
edifcios por meio de aes que envolvem, entre outras, o melhor delineamento de
estratgias de produo, a implantao de sistemas de gesto da qualidade, a
subcontratao de servios, a melhoria do processo de planejamento operacional, a
implantao de tecnologias racionalizadas e o treinamento da mo-de-obra.
Dados os objetivos do trabalho, discute-se a seguir em maior profundidade a gesto da
qualidade e as formas como ela vem sendo aplicada pelas empresas do setor.
2.2 A GESTO DA QUALIDADE NA CONSTRUO DE EDIFCIOS
Segundo SOUZA (1997), em texto que fala de certificao de empresas, no setor da
construo civil brasileira, os primeiros movimentos pela qualidade surgem de forma
mais organizada no incio dos anos 90, a partir de grandes empresas lderes do
mercado imobilirio e da construo pesada. A gesto da qualidade vem desde ento
se consolidando como uma das principais estratgias adotadas pelas empresas do setor,
diante dos novos condicionantes que se configuram e do aumento da competitividade.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 14
Ao estudar empresas que praticam a gesto da qualidade (algumas inclusive
certificadas ISO 9002), REIS (1998) identificou que todas foram motivadas
principalmente pela busca de aumento de competitividade (100% dos casos) e da
melhoria da qualidade dos produtos (50% dos casos)4.
O movimento da qualidade teve grande crescimento no estado de So Paulo, em
grande parte, em funo do apoio e do incentivo dado pelo Sindicato da Indstria da
Construo Civil do Estado de So Paulo SindusCon-SP que, com o apoio de um
corpo de consultores, vm aplicando um Programa de capacitao gerencial de
empresas construtoras para desenvolvimento e implantao de sistemas de gesto da
qualidade. O Programa destina-se a grupos de empresas e est amparado por uma
metodologia que contempla os principais conceitos e elementos de um sistema de
gesto da qualidade (CTE, 1994). Diversas empresas conseguiram, a partir dessa
experincia, implementar seus sistemas de gesto da qualidade e obter a certificao
pela srie de normas NBR/ISO 9000. Esta experincia vem sendo reproduzida em
outros estados do pas. Observa-se hoje a existncia de uma srie de empresas de
consultoria apoiando empresas construtoras na implantao de sistemas de gesto da
qualidade.
A adoo da qualidade como elemento indutor do avano tecnolgico do setor teve
como outro evento marcante a instituio do Programa QUALIHAB, pelo governo do
estado de So Paulo, atravs da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e
Urbano CDHU.
4 Foram tambm apontados os seguintes fatores: melhoria da organizao interna, maior exigncia dos
clientes, reduo de custos, diferenciao no mercado e aumento da produtividade.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 15
Entre suas diversas aes, tal Programa prev a exigncia de um atestado de qualidade
para as empresas que constroem habitaes populares para a Companhia. Para tanto,
foi elaborado um Sistema de Certificao prprio do Programa, baseado nas normas da
srie NBR/ISO 9000 e adaptado realidade do setor (ITQC, 1997). As empresas que
atuam no mercado de habitaes populares no estado de So Paulo se viram obrigadas
a desenvolver e implementar sistemas da qualidade; caso contrrio, seriam excludas
deste mercado.
A iniciativa paulista do QUALIHAB est sendo estendida para todo o territrio
nacional, atravs da implementao do Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade do Habitat PBQP-H, que tambm inclui entre suas aes a certificao
da qualidade das empresas construtoras atravs de um Sistema de Certificao prprio
(Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano, 2000). A implementao do PBQP-
H consiste em passo fundamental para a consolidao da gesto da qualidade como
principal estratgia perseguida por empresas construtoras em todo o territrio
brasileiro para a obteno de ganhos de eficincia e manuteno da competitividade
Destacam-se ainda outras aes e programas relacionadas gesto da qualidade que
esto ocorrendo no setor em outras regies do pas, como:
o Clube da Qualidade na Construo, envolvendo dezenas de empresas do estado
do Rio de Janeiro, sob coordenao do SENAI, do SindusCon-RJ e da UFF
(QUALIPRO, 1998);
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 16
o Projeto Competir, resultado da cooperao tcnica entre o SENAI, o SEBRAE e
a Sociedade de Cooperao Tcnica da Alemanha GTZ, nos estados de Alagoas,
Bahia e Sergipe5;
O Programa QUALIOP Programa Baiano de Qualidade nas Obras Pblicas, que
est sendo implementado no estado da Bahia;
O Programa QUALIPAV Programa da Qualidade na Pavimentao, Obras de
Arte Especiais e Drenagem Urbana, que est sendo implementado pela prefeitura
do municpio do Rio de Janeiro.
Na seo seguinte so apresentadas as caractersticas do Programa QUALIHAB e do
PBQP-H.
2.2.1 O PROGRAMA QUALIHAB E O PBQP-H
2.2.1.1 PROGRAMA QUALIHAB
O Programa QUALIHAB constitui-se em uma iniciativa do governo do estado de So
Paulo, atravs de seu organismo fomentador da construo de habitaes populares, a
CDHU, que tem como objetivos6:
otimizar a qualidade da habitaes, envolvendo os materiais e componentes
empregados, os projetos e obras realizadas, atravs de parcerias com os segmentos
do meio produtivo, firmando acordos setoriais.
Otimizar o dispndio de recursos humanos, materiais e energticos (gua, energia)
nas construes habitacionais, preservando o meio-ambiente.
5 Maiores detalhes sobre o projeto podem ser obtidas na Internet, no endereo
http://www.competir.org.br. 6 Segundo o antigo site do Programa QUALIHAB na Internet: http://www.itqc.org.br, j desativado.
Atualmente informaes acerca do Programa QUALIHAB podem ser obtidas no site http://www.cdhu.sp.gov.br.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 17
O Programa foi institudo atravs de um Decreto Estadual7, sendo legitimado por
acordos setoriais entre a CDHU e os principais organismos e sindicatos representantes
dos agentes privados interessados (construtoras, fabricantes de materiais, projetistas,
etc.), que garantem que as empresas do setor concordam com a iniciativa e colaboram
efetivamente para o seu desenvolvimento e implantao.
Dente as aes do QUALIHAB, aquela que interfere diretamente sobre o setor da
construo de edifcios a exigncia da qualificao das empresas a partir de
auditorias de terceira parte de seus sistemas da qualidade como condio para a
participao das empresas nas licitaes da CDHU. Para tanto, foi desenvolvido um
Sistema de Qualificao evolutivo prprio (SINDUSCON SP; APEOP, 1996), que
baseado na experincia francesa do QUALIBAT (SYCODS INFOMATIONS,
1996/97) e adaptado realidade do setor da construo habitacional de interesse social.
Ele resultou de um longo trabalho de discusso, que envolveu de um lado profissionais
da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo EPUSP/PCC e do Instituto
Brasileiro de Tecnologia e Qualidade da Construo ITQC e membros da equipe do
Programa QUALIHAB, e de outro lado representantes do Sindicato da Indstria da
Construo Civil do Estado de So Paulo SindusCon-SP e da Associao Paulista de
Empresrios de Obras Pblicas APEOP, alm de consultores independentes
O Sistema compe-se de onze requisitos, que encontram correspondncia com itens da
norma NBR ISO 9.001, verso de 1994 (ABNT, 1994). Alm dos requisitos possurem
redao voltada s necessidades da construo habitacional, o Sistema define
claramente quais materiais e servios de execuo devem ser controlados de modo a
ser garantida a qualidade do produto deste setor.
7 Decreto Estadual n. 41337 de 25/11/1996.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 18
O Sistema de qualificao de empresas do QUALIHAB adotou o conceito de
evolutibilidade para sua implementao os requisitos foram divididos em cinco
nveis Adeso, D, C, B e A com crescentes graus de exigncia. Segundo previsto
no Acordo Setorial assinado entre os sindicatos das construtoras e a CDHU, que levou
em conta a real capacidade das construtoras, as mesmas tiveram, a contar a partir de
junho de 1997, prazos sucessivos de seis meses para atingirem os diferentes nveis de
qualificao do Sistema QUALIHAB8. O Sistema de Certificao est em
funcionamento desde maio de 1997, e atualmente h mais de cem empresas
construtoras qualificadas, a grande maioria no nvel A.
2.2.1.2 PBQP-H
O Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade - PBQP constitui-se em uma
iniciativa do governo federal, lanado no ano de 1992, com o intuito de fomentar o
aumento da competitividade da indstria nacional diante dos novos desafios que se
configuravam naquele momento, em especial a abertura do pas ao mercado
internacional. Uma das aes do PBQP focalizava a construo habitacional, sendo
criado o PBQP-H Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade na Construo
Habitacional. Posteriormente, o Programa passou a englobar no somente o setor da
construo habitacional, mas tambm a infra-estrutura urbana, passando a se chamar
PBQP-H Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat.
Dentre as aes do PBQP-H, est sendo implementado um Sistema Evolutivo de
Garantia da Qualidade para empresas construtoras, o Sistema de Qualificao de
Empresas de Servios e Obras SiQ-Construtoras. Assim como o do Programa
QUALIHAB, este Sistema est adaptado realidade do setor e s caractersticas
8 J exigido desde janeiro de 2000 o Nvel A nos editais de licitao da CDHU, apesar de
adiamentos nos prazos acordados entre os signatrios do acordo setorial.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 19
regionais, tambm tendo como referencial o modelo preconizado pela srie das normas
NBR ISO 9.001, verso de 1994 (ABNT, 1994).
O SiQ-Construtoras, ao contrrio do Sistema QUALIHAB, procurou seguir fielmente
os vinte requisitos existentes na NBR ISO 9.001, verso de 1994, adaptando sua
redao s necessidades do setor. Tambm neste sistema os requisitos foram divididos
em quatro nveis evolutivos, com graus de exigncias crescentes. As empresas so
qualificadas nestes nveis aps auditorias realizadas por Organismos de Certificao
Credenciados (OCC).
O primeiro agente a engajar-se ao programa foi a Caixa Econmica Federal,
atualmente o principal agente financeiro atuante no setor habitacional brasileiro, que
est estabelecendo cronogramas de implantao do SiQ-Construtoras em diferentes
estados do pas. Nos estados de So Paulo, Esprito Santo e Minas Gerais, desde junho
de 2001, a qualificao das empresas no nvel D do SiQ-Construtoras o de menor
grau de exigncia uma exigncia para a concesso de financiamentos empresas
construtoras para execuo de empreendimentos habitacionais privados pela Caixa
Econmica Federal.
Em So Paulo, o cronograma negociado com as entidades setoriais prev a exigncia
de nveis mais altos a cada seis meses, at que em dezembro de 2002 esteja sendo
exigido o nvel A, que contempla todos os requisitos do SiQ-Construtoras.
2.2.2 A IMPORTNCIA DA GESTO DA QUALIDADE PARA A CONSTRUO DE EDIFCIOS
Existe a expectativa de que a implantao da Gesto da Qualidade nos canteiros de
obras acarrete no emprego de materiais de melhor qualidade e reduo do retrabalho, e
conseqentemente em maior produtividade e menores perdas. Como conseqncia, as
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 20
empresas devem conseguir um aumento de sua eficincia produtiva e de sua
competitividade, alm de atingir maior qualidade do produto e, conseqentemente,
maior satisfao dos clientes. Entre os principais benefcios esperados com a
implantao de sistemas da qualidade por empresas construtoras est a diminuio da
ocorrncia de manifestaes patolgicas aps a entrega das obras e a reduo dos
custos de assistncia tcnica.
A experincia carioca do Clube da Qualidade na Construo, por exemplo, preconiza a
apropriao tanto de indicadores de qualidade quanto de produtividade
(QUALIPRO, 1998).
A Gesto da Qualidade, entretanto, no se resume uma ferramenta para a busca do
aumento de eficincia produtiva pelas empresas. PICCHI (1993) ressalta que os
Sistemas da Qualidade so instrumentos que facilitam a cooperao, coordenao,
viso de conjunto, integrao de setores, etc. Segundo o autor, dada sua complexidade,
na construo de edifcios estes fatores so fundamentais, no s internamente na
empresa (entre departamentos), como tambm entre esta e os demais intervenientes.
De fato, existe a expectativa de que a implementao de sistemas de gesto da
qualidade resultem em ganhos de eficincia organizacional por parte das empresas,
medida em que devem ser padronizados e continuamente buscada a melhoria de todos
os processos empresariais relacionados produo.
Finalmente, existe a expectativa do amadurecimento das relaes entre os diversos
agentes do setor com a consolidao de programas de qualidade nos diversos
subsetores que compem a cadeia produtiva na construo civil.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 21
2.2.3 A IMPLEMENTAO DE SISTEMAS DE GESTO DA QUALIDADE
Diante do fato da Gesto da Qualidade aparecer como um dos principais agentes de
modernizao e causadores de mudana de paradigmas no setor da construo de
edifcios, alguns autores desenvolveram modelos para a implementao de sistemas de
gesto da qualidade em empresas construtoras, sendo os mais difundidos aqueles
apresentadas por PICCHI (1993) e SOUZA (1997).
Estes modelos preconizam aes envolvendo praticamente os mesmos elementos, com
pequenas diferenas. A seguir so apresentados os elementos que devem ser abordados
pelo sistema de gesto da qualidade de uma empresa construtora, adaptando a
nomenclatura a partir dos dois modelos:
Poltica e organizao do sistema da qualidade;
Qualidade em recursos humanos e administrao;
Qualidade no planejamento do empreendimento e vendas9;
Qualidade no projeto;
Qualidade em suprimentos;
Qualidade no gerenciamento e execuo de obras; e
Qualidade na operao e assistncia tcnica ps-ocupao.
A inter-relao entre esses elementos apresentada na Figura 1, adaptada a partir dos
trabalhos de PICCHI (1993) e de SOUZA (1997).
9 Que poderia ser interpretado como qualidade na funo comercial em empresas que atuam apenas
como construtoras, seja no mercado pblico ou privado, no realizando o planejamento do empreendimento e a sua venda.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 22
Figura 1 : Representao das inter-relaes entre os elementos do sistema de gesto da qualidade (adaptada de PICCHI, 1993 e SOUZA, 1997).
A metodologia de SOUZA (1997), que assemelha-se bastante de PICCHI (1993),
tem como caracterstica sua forma de implementao - prev a formao de grupos de
empresas para a capacitao em gesto da qualidade, que se d atravs de 12 mdulos
sendo adotada pelo SindusCon-SP (inicialmente e depois em diversos outros
estados), motivo pelo qual teve enorme difuso e repercusso. Centenas de empresas
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 23
participaram desses programas e adotaram o modelo. Esta metodologia foi
inicialmente publicada em um livro, em parceria com o SEBRAE-SP e o SindusCon-
SP (CTE, 1994).
Outro livro consolida, atravs de especificaes e procedimentos de execuo e
inspeo, os padres de qualidade na aquisio de materiais e execuo de obras
recomendados pela empresa de consultoria CTE, pelo SEBRAE-SP e pelo SindusCon-
SP (SOUZA; MEKBEKIAN, 1996). Tais procedimentos vm sendo sistematicamente
utilizados pelas empresas do setor no estado de So Paulo, como verificado por
CARDOSO et al. (1998, 1999 e 2000).
SOUZA (1997) entende que a implementao de programas da qualidade envolve duas
vertentes: a gesto de processos e a gesto de pessoas. Estas devem ser desdobradas
em aes planejadas a serem conduzidas concomitantemente durante toda a
implantao destes programas nas empresas, no intuito de se obter a satisfao dos
clientes internos e externos.
Quanto gesto de pessoas, as aes consideradas pelo autor so: comprometimento
da alta administrao e das gerncias; divulgao de informaes e sensibilizao
para a qualidade; gerncia participativa, delegao e motivao; condies de
trabalho e consistncia do sistema de remunerao; treinamento de pessoal e
liderana dos multiplicadores; e constncia de propsitos e desenvolvimento
permanente dos aspectos comportamentais.
Quanto gesto de processos, as aes consideradas pelo autor so: elaborao do
Ciclo da Qualidade e diagnstico da empresa; planejamento do processo de
implantao do sistema da qualidade; formao de Times da Qualidade e
desenvolvimento do seu trabalho; padronizao dos processos empresariais;
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 24
implantao dos processos padronizados, verificao de resultados e aes
corretivas; e consolidao do sistema da qualidade e melhoria contnua.
Para o desenvolvimento e a implantao do sistema de gesto da qualidade,
SOUZA (1997) recomenda a formao na empresa de um comit da qualidade, ligado
diretamente diretoria da organizao e constituindo por profissionais que ocupem
posies-chave na produo, na rea administrativa e na diretoria da empresa. Dentre
as funes bsicas do comit da qualidade apresentadas pelo autor, e que devem ser
verificadas nas empresas estudadas, destacam-se: gerenciar todo o processo de
concepo e implantao do sistema de gesto da qualidade; coordenar a elaborao
do diagnstico da empresa em relao qualidade, analisar seus resultados e definir
as prioridades de ao; definir o sistema da qualidade a ser implantado na empresa
com base nas normas NBR/ISO 900010 e o Plano de Ao para sua implementao;
definir mtodos de treinamento e sensibilizao de funcionrios e da gerncia
executiva para a qualidade; definir os Times da Qualidade para elaborar
procedimentos padronizados no mbito gerencial, tcnico e operacional da empresa;
definir a documentao da qualidade e treinar os Times da Qualidade em anlise,
racionalizao e padronizao de processos e implementao do ciclo PDCA; avaliar
os resultados do trabalho dos Times da Qualidade e orientar e acompanhar o
processo de implantao dos procedimentos padronizados; criar grupos de auditoria
interna do sistema da qualidade e planejar as auditorias; elaborar o Manual da
Qualidade e implement-lo em toda a empresa; e avaliar os resultados obtidos com a
implantao do sistema de gesto da qualidade e promover aes corretivas
necessrias ao seu aperfeioamento contnuo.
10 Ou qualquer outro referencial que a empresa pretenda seguir, como o Sistema QUALIHAB, por
exemplo.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 25
O autor prope que sejam formados na empresa diversos times da qualidade, que so
equipes de trabalho s quais cabe encontrar solues para os problemas identificados
na empresa e para o aperfeioamento do nvel de qualidade e da produtividade de
uma atividade ou processo determinado.
Deve ser ressaltado que , apesar de bastante difundidas especialmente no estado de So
Paulo, essas prticas no se constituem no nico caminho adotado pelas empresas para
a implementao de seus sistemas de gesto da qualidade. Em EPUSP-
PCC/ITQC (1998 e 1999) so relatados casos de empresas que, mesmo adotando a
metodologia de SOUZA (1997), no adotam times da qualidade, delegando ao comit
da qualidade individualmente as tarefas de cada funcionrio no desenvolvimento do
Sistema da Qualidade. So tambm relatados os diferentes papis que os consultores
assumem na implantao dos sistemas de diferentes empresas.
PICCHI (1993) observa ainda que no canteiro de obras predominam as duras relaes
de desconfiana, controle, disciplina e autoritarismo. Diante desse quadro, enfatiza que
a efetividade de um sistema de gesto da qualidade depende da construo de relaes
de respeito, confiana e colaborao entre os componentes da organizao.
Pode-se dizer que a participao e a motivao de todas as pessoas dentro da
organizao so fundamentais para o sucesso da implementao da gesto da qualidade
e para a mudana cultural envolvida na busca da qualidade total.
2.2.4 IMPACTOS DA IMPLEMENTAO DE SISTEMAS DE GESTO DA QUALIDADE NOS SISTEMAS DE PRODUO DAS EMPRESAS CONSTRUTORAS
REIS (1998) apresenta em seu trabalho os resultados de pesquisa pioneira onde avalia
as alteraes nos processos de produo de pequenas e mdias empresas de construo
de edifcios decorrentes da implementao de sistemas de gesto da qualidade.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 26
O trabalho foi estruturado em torno de atividades baseadas nos elementos do sistema
de gesto da qualidade j apresentados na Figura 1. Os principais resultados desta
investigao so apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 : Aes e posturas das empresas construtoras que resultaram da implementao dos sistemas de gesto da qualidade observados por REIS (1998).
Atividades Aes e posturas das empresas construtoras que resultaram da implementao dos sistemas de gesto da qualidade
Gesto do Processo de Projeto
- estabelecimento de parmetros para a contratao e avaliao de projetistas, bem como de padres de projeto definidos pela construtora;
- aumento da exigncia por projetos mais dirigidos s necessidades de produo da obra e que trazem, em seu contedo, racionalidade e economia construo;
- preocupao em retroalimentar dados provenientes dos canteiros de obras para a fase de projeto, embora algumas empresas ainda no tenham um processo formalizado para isso;
- maior cuidado no processo de coordenao de projetos, seja ele realizado pela prpria empresa, por arquitetos ou por empresas subcontratadas.
Gesto de Suprimentos
- utilizao de procedimentos de inspeo e recebimento de material nos canteiros de obras;
- adoo de processos de avaliao e seleo de fornecedores;
- padronizao do processo de requisio e compra de materiais.
Gesto da Documentao
- grande esforo para o desenvolvimento e a implementao dos procedimentos operacionais em obra, tanto os de recebimento e inspeo de materiais, quanto os de execuo e controle de servios, permitindo que as empresas registrem sua cultura construtiva, evoluam continuamente e definam claramente o que precisam dos agentes externos produo.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 27
Tabela 1: Aes e posturas das empresas construtoras que resultaram da implementao dos sistemas de gesto da qualidade observados por REIS (1998). (continuao)
Atividades Aes e posturas das empresas construtoras que resultaram da implementao dos sistemas de gesto da qualidade
Gesto do Canteiro de Obras
- maior interesse em buscar novos equipamentos que facilitam e agilizam a execuo dos servios e o transporte de materiais em canteiro e que, tambm, garantam a segurana dos operrios;
- considervel melhoria da qualidade de vida e segurana do trabalho;
- estabelecimento de parmetros para a contratao, avaliao e seleo de subempreiteiros;
- aumento de produtividade, reduo de desperdcios e melhoria da qualidade de produtos e processos, em funo da adoo de medidas de racionalizao da produo e da melhor organizao dos canteiros de obras.
Gesto da Tecnologia
- maior conscientizao para se racionalizar o processo construtivo tradicional, consolidando uma cultura de gesto da tecnologia na empresa, com menor nfase na busca de inovaes tecnolgicas que alterem radicalmente a forma de produo de edifcios;
- realizao de convnios com universidades ou instituies de pesquisa para o desenvolvimento de tecnologia;
- maior facilidade na fixao das novas tecnologias na cultura construtiva da empresa, em virtude da padronizao dos procedimentos operacionais e de sua constante atualizao.
Assistncia Tcnica
- adoo de um novo procedimento de entrega de unidades, que garante maior satisfao aos clientes finais;
- abertura de canais diretos de comunicao com os clientes, destinando-lhes linhas telefnicas diretas ou proporcionando-lhes novos meios de comunicao via Internet, visando prestar-lhes um melhor atendimento seja no esclarecimento de dvidas ou nos servios de assistncia tcnica;
- aumento do interesse no desenvolvimento de procedimentos para a realizao de Avaliaes Ps-ocupao.
Gesto dos Recursos Humanos
- realizao de cursos de capacitao em gesto comportamental para a mdia gerncia de produo;
- maior prioridade para a alfabetizao da mo-de-obra operria, em funo da utilizao crescente de documentao nos canteiros;
- realizao de treinamento para a atividade especfica dos operrios e tambm relativo segurana no trabalho;
- abertura de canais de comunicao com os funcionrios, incentivando a participao;
- adoo de medidas que visam aumentar a motivao da mo-de-obra.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 28
Em resumo, REIS (1998) observou que atravs das mudanas decorrentes da
implementao dos sistema de gesto (da qualidade), tem-se conseguido melhorar
gradualmente a qualidade dos produtos e processos das empresas, reduzir
desperdcios e, em alguns casos, estimular uma atuao mais prxima e conjunta
entre as construtoras e os demais agentes participantes da produo (projetistas,
fornecedores e subempreiteiros) .
A autora ainda identificou como principais dificuldades para o desenvolvimento e
manuteno dos sistemas de gesto da qualidade: a resistncia de alguns funcionrios
adoo de novas posturas e a hostilidade ao aprendizado; a falta de apoio e de
comprometimento da alta administrao ou de parte dela; o desconhecimento da
relao custo-benefcio da implementao dos sistemas de gesto da qualidade; a
indefinio de objetivos e metas a longo prazo e a descontinuidade das aes
relacionadas melhoria da qualidade; o baixo investimento na formao, capacitao
e motivao do corpo gerencial e de operrios; a ineficincia do sistema de
informaes, comunicao e tomada de decises; a pouca utilizao dos
procedimentos de controle e de retroalimentao da produo; a fraca coordenao
interdepartamental; e a falta de um trabalho coordenado e cooperativo com
fornecedores e subempreiteiros.
Ressalta-se que diversas destas dificuldades encontradas pela autora so tambm
objeto de investigao deste trabalho. Deve ser observado que o trabalho de Reis
compreendeu tanto empresas que j possuam o certificado ISO 9002 quanto empresas
que o estavam perseguindo.
CARDOSO et al. (1998 e 1999), por sua vez, ao investigarem a implantao do
Sistema de Qualificao do Programa QUALIHAB junto empresas construtoras,
discutiram tambm seus impactos dentro das empresas.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 29
Quando as empresas encontravam-se prestes a obter o nvel C de certificao
apontaram melhorias em relao suprimentos, gesto da mo-de-obra, planejamento
de obras e execuo de servios (CARDOSO, et al., 1998). Pode-se dizer que naquele
instante as empresas estudadas tinham apenas uma pequena parte de seus sistemas de
gesto da qualidade implementados e encontravam-se na fase de largada, estando,
em geral, bastante motivadas.
J no instante em que as empresas encontravam-se prestes a obter o nvel B de
certificao, estas j eram capazes de apontar o controle de materiais como o aspecto
de maior impacto dos sistemas da qualidade, especialmente em relao melhoria da
qualidade do produto final. Na ocasio, quando j teriam experimentado as maiores
dificuldades da implementao de uma grande parte dos sistemas da qualidade,
enxergavam como mais significativas as melhorias relacionadas a suprimentos e
logstica externa e de canteiro, planejamento de obras, propostas e licitaes e
execuo de servios (CARDOSO, et al., 1999).
Recentemente, CARDOSO, et al. (2000) realizaram estudo em canteiros de obras de
empresas construtoras qualificadas no nvel A do Programa QUALIHAB. Foi
observado que enquanto em alguns processos, como a gesto de materiais e o controle
de documentos e projetos, houve grande avano com a implantao do sistema de
gesto da qualidade, em outros, como o controle da execuo dos servios e o
treinamento da mo-de-obra, havia falhas que deveriam ser objeto de correo. Este
trabalho evidenciou algumas falhas em um programa to complexo quanto o
QUALIHAB e vem orientando as aes corretivas que esto sendo tomadas pela
CDHU junto com os signatrios dos acordos setoriais SindusCon-SP e APEOP e
com os OCC.
2. Caracterizao do setor da construo de edifcios 30
Enfim, os estudos apresentados concentraram-se em avaliar os impactos diretos da
implementao de sistemas de qualidade no sistema de produo das empresas.
Procura-se nos captulos seguintes, a partir dos conceitos e da problemtica
apresentados neste captulo e no anterior, discutir impactos da implementao desses
sistemas na estrutura das organizaes, apontando impactos diretos e indiretos nos
sistemas de produo.
3. Estruturas organizacionais 31
3 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS
Antes de se iniciar o estudo das estruturas organizacionais das empresas construtoras
de edifcios, cabe a caracterizao e o entendimento de tais estruturas. O trabalho
apresenta conceitos que, em sua maioria, so largamente difundidos na Administrao
de Empresas e na Engenharia de Produo, mas que podem no ser claramente
entendidos pelos engenheiros civis, mesmo nos meios acadmicos. Ressalta-se que
estes conceitos j foram previamente discutidos, sucintamente, em
VIVANCOS; CARDOSO (1999a).
O foco do trabalho, como j foi colocado anteriormente, est nos aspectos das
estruturas organizacionais relacionados funo produo11 das empresas construtoras.
SLACK et al. (1997) ressaltam que a funo produo central para a organizao
porque produz os bens e servios que so a razo de sua existncia, mas no a nica
nem, necessariamente, a mais importante. Todas as organizaes possuem outras
funes com suas responsabilidades especficas. Embora essas funes tenham sua
parte a executar nas atividades da organizao, so (ou devem ser) ligadas com a
funo produo, por objetivos organizacionais comuns.
As teorias e os conceitos apresentados neste captulo referem-se estrutura da
organizao como um todo, situando-se dentro do escopo da teoria das organizaes.
Pretende-se, desta forma, fundamentar a discusso a ser desenvolvida nos captulos
seguintes, que estar concentrada nos aspectos da estrutura organizacional que
interferem de forma mais evidente na gesto do processo de produo.
11 Segundo SLACK et al. (1997) a funo produo na organizao representa a reunio de recursos
destinados produo de seus bens e servios.
3. Estruturas organizacionais 32
Essa relao entre as diversas funes da organizao e a produo evidenciada pelos
prprios SLACK et al. (1997), que apresentam o conceito de proteo organizacional
da produo. Segundo os autores, as empresas procuram proteger a produo das
incertezas do ambiente, especialmente em termos de oferta e demanda, e uma forma de
fazer isso alocando as responsabilidades das vrias funes da organizao12. Os
autores citam alguns exemplos de proteo organizacional, ilustrados na Figura 2: as
pessoas que trabalham na produo so recrutadas e treinadas pela funo pessoal;
provavelmente, a tecnologia do processo de produo escolhida e supervisionada por
uma funo tcnica, a engenharia; os materiais, os componentes, os servios e outros
recursos so adquiridos atravs da funo compras; o capital exigido pela produo
para a compra de equipamentos e custeio de suas atividades somente autorizado com
aprovao da funo financeira; as idias e os designs de novos produtos e servios so
fornecidos pela funo pesquisa e desenvolvimento (P&D); e os pedidos dos
consumidores que movimentam a produo viro atravs da funo marketing.
Ressaltada a importncia e a relao das diversas funes da organizao para o
desenvolvimento das atividades da funo produo, pretende-se ao longo deste
captulo discutir, sob a tica da teoria das organizaes, as formas segundo as quais
tais funes se organizam.
12 A outra forma de proteo da produo apresentada pelos autores a proteo fsica, ou seja, a
manuteno de estoques de recursos, seja input para o processo de transformao ou output.
3. Estruturas organizacionais 33
Tecnologia doprocesso
Idias deproduto/servio
FUNOPRODUOCompras Marketing
Engenharia/Assistncia tcnica
Desenvolvimentode produto/servio
Recursoshumanos
Contabilidade efinanas
Funcionrios Fundos
Forn
eced
ores
Consum
idores
Figura 2 : Outras funes da organizao que podem proteger o ncleo de produo das incertezas ambientais (SLACK et al. , 1997).
3.1 A TEORIA DAS ORGANIZAES
O estudo das estruturas organizacionais constitui-se em um dos pontos centrais da
teoria geral da administrao e foi tratado de diferentes formas ao longo deste sculo.
A literatura enfatiza os diversos movimentos da teoria geral da administrao, que
possuem diferentes enfoques acerca das estruturas das organizaes: a teoria clssica
da administrao, o movimento das relaes humanas, a burocracia, o estruturalismo, a
abordagem de sistemas e a abordagem contingencial (CHIAVENATO, 1997;
MOTTA, 1995; CHIAVENATO, 1987; MOTTA, 1986; GIBSON et al., 1981).
A seguir, percorre-se esses diferentes movimentos, que se sucederam
cronologicamente, destacando-se deles os pontos que contribuem para a correta
compreenso e enquadramento desse trabalho.
A teoria clssica da administrao fundamenta-se no conhecimento desenvolvido
principalmente por dois autores, que defenderam o desenvolvimento de uma cincia
que tratasse a organizao e o trabalho: Frederick Taylor, cujo trabalho Princpios da
3. Estruturas organizacionais 34
administrao cientfica foi publicado nos Estados Unidos em 1911, e Henry Fayol,
que publicou Administrao industrial e geral em 1916, na Frana. A administrao
cientfica de Taylor enfatiza que a produtividade poderia ser incrementada atravs da
diviso do trabalho em tarefas especializadas e do estudo de tempos e mtodos. O
autor preocupou-se com a organizao do trabalho, dividindo sua concepo, atribuda
gerncia, de sua execuo, atribuda aos operrios (TAYLOR, 1971).
J Fayol, cujo foco do trabalho encontra-se na estrutura organizacional, entende que o
conjunto de operaes de toda empresa, independente de seu porte e complexidade,
pode ser dividido em seis grupos: operaes tcnicas, comerciais, financeiras, de
segurana, de contabilidade e administrativas. Com o intuito de contribuir para o
desenvolvimento de uma cincia administrativa, o autor apresentou catorze princpios
gerais da administrao, ou seja, recomendaes que levariam a organizao a operar
com maior eficincia: a diviso do trabalho, a autoridade e responsabilidade, a
disciplina, a unidade de comando, a unidade de direo, a subordinao do interesse
particular ao interesse geral, a remunerao do pessoal, a centralizao, a hierarquia, a
ordem, a eqidade, a estabilidade do pessoal, a iniciativa e a unio do pessoal
(FAYOL, 1976).
Como clara resposta aos problemas enfrentados pela teoria clssica junto aos
trabalhadores, a teoria das relaes humanas constitui-se em uma abordagem
fortemente influenciada pelas cincias sociais, em especial pelo desenvolvimento da
psicologia industrial. A partir dos experimentos de Elton Mayo, entre 1927 e 1932,
percebeu-se a necessidade de um entendimento maior e mais profundo dos aspectos
sociais e comportamentais na administrao (KOONTZ et al., 1980). Enquanto a
administrao cientfica enfatiza a tarefa e a teoria clssica a estrutura organizacional,
a teoria das relaes humanas volta-se para a anlise da adaptao do trabalhador ao
3. Estruturas organizacionais 35
trabalho, ao entendimento das necessidades individuais dos trabalhadores, de seu
comportamento e de sua insero no sistema social do trabalho, em especial nos
pequenos grupos informais.
A teoria da burocracia foi desenvolvida pelo socilogo alemo Max Weber nos anos
40 e tambm concentra seu foco na estrutura organizacional.
BANNER; GAGN (1995) resumem a perspectiva de Weber da seguinte forma: uma
organizao um sistema de padres legtimos de interaes entre seus membros, que
por sua vez esto engajados em atividades com o intuito de atingirem determinados
objetivos. Os princpios da burocracia segundo Weber so o carter legal das normas
e regulamentos, o carter formal das comunicaes, o carter racional e a diviso do
trabalho, a impessoalidade nas relaes, a hierarquia de autoridade, a padronizao
das rotinas e dos procedimentos, a competncia tcnica e a meritocracia, a
especializao da administrao e a sua separao da propriedade, a
profissionalizao dos participantes e a completa previsibilidade do seu
funcionamento (WEBER apud ETZIONI, 1972). Tais princpios deveriam conduzir
mxima eficincia das organizaes. Entretanto, a burocracia quando aplicada
demonstrou tambm possuir imperfeies, que so basicamente as seguintes:
internalizao das regras e exagerado apego aos regulamentos, excesso de
formalismo e de papelrio, resistncia s mudanas, despersonalizao do
relacionamento, categorizao como base do processo decisorial, superconformidade
s rotinas e procedimentos, exibio de sinais de autoridade e dificuldade no
atendimento a clientes e conflitos com o pblico (MERTON apud ETZIONI, 1972).
A teoria estruturalista constitui-se em uma resposta rigidez da estrutura burocrtica
e procura sintetizar os aspectos anteriormente apresentados e que se contrapem aos da
teoria clssica e da teoria das relaes humanas. Os estruturalistas, dentre os quais
3. Estruturas organizacionais 36
destacam-se Amitai Etzioni, Robert Merton, Phillip Selznick e Alvin Gouldner,
desenvolveram um estudo analtico e comparativo das estruturas organizacionais,
considerando a anlise interorganizacional e o ambiente externo como novas variveis
a serem consideradas. Suas anlises visualizavam as organizaes como complexos de
estruturas formais e informais e ampliaram o campo da anlise organizacional para
alm das empresas fabris de Taylor e Fayol, a fim de incluir uma maior variedade de
organizaes. Os estruturalistas tambm passaram a considerar os conflitos como um
processo social importante dentro das organizaes, o que era desconsiderado pelos
enfoques anteriores.
J o enfoque de sistemas na administrao decorrente da difuso da Teoria Geral de
Sistemas, desenvolvida na dcada de 50 pelo bilogo alemo Ludwig von Bertalanffy,
que concebeu o modelo de sistema aberto, entendido como complexo de elementos em
interao e em intercmbio contnuo com o ambiente (MOTTA, 1995). Trata-se de um
modelo interdisciplinar, cuja corrente no campo das organizaes as entende como
compostas pelos subsistemas tcnico, social e cultural, que importam do ambiente
matrias-primas, equipamentos, valores e aspiraes, processam insumos com vistas a
transform-los em produtos e exporta esses produtos para o ambiente. As
organizaes, segundo essa abordagem, buscando sua sobrevivncia, esto
permanentemente repondo energia de seu meio ambiente, recebendo informaes que
lhes permitam corrigir desvios e multiplicando e elaborando suas funes, o que
acarreta em diferenciao interna.
Finalmente, a abordagem contingencial pressupe a no existncia de uma nica
maneira melhor de organizar, mas que as empresas precisam ser sistematicamente
ajustadas s condies ambientais. CHANDLER (1976) foi pioneiro ao relacionar a
estrutura organizacional estratgia adotada pela empresa.. Em seu trabalho
3. Estruturas organizacionais 37
contingencialista que teve grande difuso, BURNS; STALKER (1968) apresentam
duas tipologias extremas de organizaes, que eles denominam de sistemas mecnicos
e sistemas orgnicos. Os sistemas mecnicos so apropriados em condies estveis
enquanto a forma orgnica apropriada em condies de mudana. As caractersticas
dessas tipologias so apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2: Sistemas mecnicos e sistemas orgnicos (BURNS; STALKER, 1968).
Sistemas Mecnicos Sistemas Orgnicos
Alto nvel de especializao Tarefa individual muda constantemente como resultado da interao com demais
membros da organizao
Estrutura hierrquica de controle, autoridade e comunicao
Autoridade pode mudar dependendo de quem mais capaz para realizar a tarefa
Comunicao vertical Comunicao lateral, alm da vertical
Comunicao baseada em instrues e decises a partir dos superiores
Comunicao baseada em informao e aconselhamento
Obedincia e lealdade aos superiores hierrquicos
Todas as correntes e abordagens at ento discutidas focalizaram o modo de produo
em massa, sob o paradigma do taylorismo. Nas ltimas duas dcadas, entretanto, as
empresas tm voltado sua ateno para mudanas em seus sistemas de produo, em
funo da difuso dos novos paradigmas de qualidade e eficincia impostos pelas
empresas orientais, lideradas pelos japoneses. Trabalhando com maior qualidade,
menor desperdcio e menores custos, o modo de produo oriental surpreendeu os
mercados ociden
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