Síntese do Acordo Ortográfico de 1990
O Acordo Ortográfico visa acabar com algumas das divergências que existem entre as duas
ortografias, a do português europeu e a do português do Brasil, assim como permitir que
algumas dessas divergências possam coexistir, atribuindo-se-lhes o nome de duplas grafias.
Este acordo é acima de tudo uma tentativa de criação de uma norma ortográfica única,
privilegiando a fonética e, assim sendo, aproximando a língua falada da língua escrita.
Principais alterações a ter em conta com a entrada em vigor do novo acordo:
1. Alfabeto da língua portuguesa:
O alfabeto da língua portuguesa passa a ter 26 letras com a inclusão de k (capa), w
(dáblio) e y (ípsilon).
Essas letras são usadas nos casos seguintes:
- em antropónimos estrangeiros, isto é, em nomes de pessoas de origem estrangeira, assim
como nos seus derivados: Kafka – kafkiano;
- em topónimos de origem estrangeira e seus derivados: Kosovo – kosovar.
Nota: Nos casos em que já exista uma forma aportuguesada (vernácula) esta deve ser dada
como preferencial, como é o caso da substituição de New York por Nova Iorque.
- nas siglas, símbolos e unidades de medida internacionais, como é o caso de WWW
(World Wide Web) e de km (quilómetro);
- em palavras de origem estrangeira de uso corrente, como os exemplos seguintes: web,
software, hobby, etc.
2. Alterações na acentuação de palavras:
Supressão do acento agudo
- palavras graves com ditongo tónico ói: jibóia > jiboia; jóia > joia
Nota: No Brasil, o acento agudo será ainda eliminado em:
- palavras graves com ditongo tónico éi: idéia > ideia;
- palavras graves com í e ú tónicos, quando precedidas de ditongo: feiúra > feiura.
Supressão do acento circunflexo
- formas verbais graves terminadas em êem da 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo
ou do conjuntivo: lêem > leem; vêem > veem; crêem > creem; dêem > deem.
Nota: No Brasil, será eliminado o acento circunflexo nas palavras graves terminadas em o
duplo (enjôo > enjoo; vôo > voo).
Supressão do trema
O trema, que não é usado em Portugal desde 1945, desaparece na variante brasileira em
palavras como: frequência > frequência; tranqüilo > tranquilo. No entanto, o trema continuará
a ser usado, quer no português europeu quer no brasileiro, em vocábulos de origem estrangeira
e seus derivados: mülleriano.
Acento diferencial
A diferenciação entre palavras graves homógrafas proclíticas deixa de ser feita através da
acentuação aguda ou circunflexa e passa a ser dada pelo contexto, como nos seguintes
exemplos:
pára (presente do indicativo e imperativo do verbo parar) e para (preposição):
O automobilista para no sinal vermelho.
A passadeira é para os peões atravessarem em segurança.
pelo (presente do indicativo de verbo pelar), pêlo (nome) e pelo (contracção da preposição
por + artigo o):
Eu pelo uma castanha.
O gato tem o pelo macio.
Andei a passear pelo Porto.
Uso facultativo do acento
- formas verbais terminadas em -ámos do pretérito perfeito do indicativo na 1.ª pessoa do
plural: amámos ou amamos; passámos ou passamos;
- forma verbal grave do presente do conjuntivo do verbo dar: dêmos ou demos;
- nome feminino forma com sentido de molde: fôrma ou forma.
Dupla acentuação
- em casos como as palavras graves ou esdrúxulas com é e ó tónicos, seguidas das consoantes
nasais m ou n, com as quais não formam sílaba: ténis e tênis; fenómeno e fenômeno;
- em casos como as palavras agudas com é e ó tónicos, geralmente provenientes do francês,
em que há oscilação de pronúncia: bebé e bebê; guiché e guiché; cocó e cocô;
- nas palavras agudas terminadas em o: judo e judô; metro e metrô;
- formas verbais com u tónico na raiz, precedido de g ou q e seguido de e ou i podem perder a
acentuação gráfica em ú (mas não a tónica) ou ser acentuados (tónica e graficamente) nas
vogais a e i radicais: averigúe > averigúe ou averígue .
3. Supressão das sequências consonânticas
As consoantes mudas ou não articuladas são suprimidas e mantêm-se as duas grafias quando
há oscilação de pronúncia.
Alguns exemplos de supressão da consoante em casos em que não há dúvidas quanto à sua
não articulação:
accionar > acionar
colecção > coleção
actual > atual
decepcionar > dececionar
assumpcionista > assuncionista
adopção > adoção
assumpção > assunção
adoptar > adotar
Egipto > Egito
óptimo > ótimo
sumptuoso> suntuoso
Alguns exemplos em que a sequência consonântica é pronunciada e, por isso, não é
eliminada:
ficcional
convicção
bactéria
egípcio
corrupção
adepto
Exemplos de casos de oscilação da pronúncia em que é aceite a grafia dupla:
carácter ou caráter
infecioso ou infeccioso
infeção ou infecção
dececionar ou decepcionar
conceção ou concepção
receção ou recepção
corrupto ou corruto
perentório ou peremptório
súbdito ou súdito
subtil ou sutil
amígdala ou amídala
amnistia ou anistia
4. Supressão do hífen
- nos compostos em que se perdeu a noção de composição como nos seguintes casos:
mandachuva e paraquedas;
- duplicação do r nas formas derivadas quando o prefixo termina em vogal e o segundo
elemento começa por r ou s, como são os casos seguintes:
contra-relógio > contrarrelógio
ultra-sónico > ultrassónico
- quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente,
como é o caso seguinte:
auto-estrada > autoestrada
- com o prefixo co-, mesmo quando o segundo elemento comece com o, como é o caso
seguinte:
co-ocorrência > coocorrência
- na maior parte das locuções: cartão-de-visita > cartão de visita; fim-de-semana > fim de
semana
- na conjugação do verbo haver com a preposição de:
hei-de > hei de
hás-de > hás de
há-de > há de
heis-de > heis de
hão-de > hão de
5. Uso do hífen
- em compostos que designam espécies zoológicas ou botânicas, como os casos seguintes:
couve-flor e galinha-da-índia.
- com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por vogal, h, m ou n,
como em circum-navegação e pan-africano.
- com os prefixos hiper-, inter- e super-, quando o segundo elemento começa por r, como em
hiper-realista e super-resistente.
- com os prefixos pré-, pró- e pós-: pré-fabricação e pré-fabricar.
- quando o segundo elemento começa pela mesma vogal com que termina o prefixo, como, por
exemplo, infra-axilar e micro-ondas.
6. Simplificação do uso das maiúsculas e minúsculas
- uso de minúsculas nos casos seguintes:
Meses do ano:
janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro,
dezembro
Estações do ano:
primavera, verão, outono, inverno
Pontos cardeais, colaterais e subcolaterais:
norte, sul, este, oeste, nordeste, noroeste, sudeste, sueste, sudoeste, és-nordeste, és-sudeste,
és-sueste, nor-noroeste, nor-nordeste, oés-noroeste, oés-sudoeste, su-sudeste, su-sueste, su-
sudoeste.
Nota: Excepto se estes nomes correspondem a uma região e são usados no seu valor absoluto
(*), ou quando se usam as correspondentes abreviaturas.
(*) Vivo no Sul (por sul de Portugal)
Designações usadas para mencionar alguém cujo nome se desconhece:
fulano, sicrano e beltrano
- uso facultativo da minúscula e da maiúscula:
Disciplinas escolares, cursos e domínios de saber:
português ou Português
Nomes de vias ou lugares públicos:
Rua da Restauração ou rua da Restauração
Formas de tratamento:
Senhor Doutor ou senhor doutor
Nomes de livros ou obras, excepto o primeiro elemento e os nomes próprios que se grafam com
maiúscula inicial:
O Retrato de Ricardina ou O retrato de Ricardina
In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2010. [Consult. 2010-09-16].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$acordo-ortografico>.
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