Epilepsia na escola: Ensinando os Professores
Dra. Laura M. F. Ferreira GuilhotoNeurologista Infantil
Presidente da Associação Brasileira de Epilepsia
Apoio International Bureau for EpilepsyCia. de Seguros Aliança do Brasil
Grécia (400 a.C.) “Doença Sagrada”
• “...Em relação à doença sagrada: ela parece não ser mais divina ou sagrada do que as outras doenças, mas ter uma causa natural...
• Ela se origina como outras afecções... Os homens consideram sua natureza e causa como divinas, pela sua ignorância...
• E sua noção de divindade é mantida pela sua
inabilidade de compreendê-la, e da simplicidade do modo pelo qual é curada,...”
Sua causa é o cérebro...
Hippocrates(460-377 a.C.)
Tudo acontece no cérebro!
O sistema nervoso
• pode ser comparado a uma rede telefônica, onde as
mensagens são os pulsos elétricos que viajam rapidamente por:
• cabos transmissores e os nervos estabelecem comunicação entre as partes do corpo e
• uma “estação central”, o encéfalo e a medula espinhal.
Receber estímulosDecodificá-losIntegrar as informaçõesEnviar respostas
Divisão do Sistema Nervoso
ParassimpáticoSimpático
Sistema nervoso
Sistema nervosoperiférico
Sistema nervosocentral
Divisão eferente
Divisão aferente
Sistema Autônomo- involuntário
Sistema Somático-voluntário
Cada parte do cérebro é responsável por uma
função
Sistema Nervoso
Cada parte do cérebro é responsável por uma
função
Condução do impulso nervoso se dá nas
sinapses:
Elétricas e Químicas
Pré-sináptico Pós-sináptico Pré-sináptico Pós-sináptico
Sinapses elétricas
Sinapses químicas
Sinapses
Sinapse: local por onde são transmitidos os sinais elétricos de uma célula a outra.
O terminal axonal - pré-sináptico, Neurônio-alvo - pós-sináptico.
Sinapse Elétrica
Sinapse Química
“Epilepsia e crise epiléptica”
• Crise epiléptica
• Epilepsia
Definições
Crise Epiléptica
• Descarga excessiva e síncrona de um grupo de células cerebrais (neurônios).
• Espontânea ou desencadeada por: febre, distúrbio hidreletrolítico, intoxicações etc.
• Forma convulsiva (manifestação motora) ou não convulsiva.
Neurônios
Células do Sistema NervosoNeurônios
Potencial de ação processo eletroquímico
gera corrente elétrica
Conexão dos Neurônios
Crise Epiléptica
• Descarga excessiva e síncrona de um grupo neuronal cerebral
Crise Epiléptica
Eletrencefalograma
Por que alguns indivíduos têm náuseas,
perda de consciência, formigamentos,
sensações estranhas e outros têm movimentos anormais????
Isso ocorre porque a descarga vai do cérebro para o corpo. Portanto, a resposta corporal vai depender da região cerebral que foi estimulada.
Hoje aprendi sobre epilepsia e crise epiléptica. Mas, doutora, existem váriostipos de crises epilépticas?
Sim, dependendo da região cerebral onde ocorre a descarga elétrica anormal. Assim, podemos distinguir as crises epilépticas em:
• “Parciais ou focais”, em que a descarga se limita a uma área cerebral.• “Generalizadas”, que envolvem todo o cérebro.
Crise epiléptica
• Termos populares: Ataques, acessos, desmaios.
• Diagnóstico diferencial: Síncope, perda de fôlego, pseudocrise, enxaqueca, distúrbios do sono, tiques, refluxo gastroesofágico etc.
Então as crises epilépticas são geradas no cérebro!!!!
Mas, como as crises acontecem?
A crise epiléptica acontece quando ocorre uma atividade anormal do cérebro, ou seja, uma descarga excessiva e síncrona de um grupo de neurônios.
Porém, uma crise isolada não é sinônimo de epilepsia.
• Deficiência de oxigênio.
• Traumatismo craniano.
• Hipoglicemia(glicose diminuída no sangue).
Qualquer pessoa pode ter uma crise epiléptica
devido a:
• Intoxicações.
• Uso excessivo de álcool.
• Abuso da cocaína.
• Abstinência alcoólica.
As crianças (6 meses a 6 anos) são mais vulneráveis às crises desencadeadas por febre, denominadas “crises febris", que não significam epilepsia.
Todos que têm convulsão têm epilepsia?!!!
• Diabetes, queda da glicose no sangue, uso de drogas, intoxicações etc.
• Vigência de febre.
“ Nem toda convulsão é causada por epilepsia.
Nem toda epilepsia tem convulsão.”
O que é epilepsia?
• Epilepsia, uma palavra que significa invadir, surpreender, é uma anormalidade elétrica persistente do cérebro capaz de gerar descargas elétricas espontâneas e...
...abruptas que resultam em crises epilépticas. A anormalidade elétrica que caracteriza a epilepsia se apresenta tanto durante como entre as crises epilépticas,...
...podendo ser registrada a qualquer momento pelo eletroencefalograma (EEG), desde que ocorra em uma área suficientemente grande.
Quais são os principais tipos de crises epilépticas?
• Há três tipos de crises epilépticas:
- Crises parciais ou focais.- Crises generalizadas.- Crises parciais secundariamente generalizadas.
Crises Parciais ou Focais
• Manifestação clínica envolve uma porção de um hemisfério cerebral.
Sem evidência de início localizado, descargas eletrográficas são desde o início bilaterais, a consciência pode estar comprometida.
Crises generalizadas
Crises Parciais Simples
• São sintomas resultantes de descargas limitadas a uma área muito restrita do cérebro e que, por isso, não causam perda de consciência. Ex.:
• distorção dos sentidos da visão, do olfato, do gosto, da audição;
• experiências relacionadas à memória como a
sensação de “já visto” (déjà vu) e “nunca visto” (jamais vu);
• sensação desagradável no estômago que ascende até a
garganta;
• formigamentos, arrepios
• manifestações motoras (movimentos localizados).
O que são auras?
• As crises epilépticas, em seu grau de expressão mínimo, podem ser muito breves (“ameaços”), sendo caracterizadas por alterações dos órgãos dos sentidos como...
...visão, audição, gosto, olfato ou ainda da memória e das emoções e dos movimentos corporais.
Crises Parciais ou Focais
■ Simples ■ Complexa
Descargas epilépticas surgindo em uma parte do cérebro originam crises parciais (ex. lobo occipital que origina manifestações visuais).
Descarga focal eletrencefalograma
FP1-F7
F7-Sp1
Sp1-T7
T7-P7
P7-O1
FP2-F8
F8-Sp2
Sp2-T8
T8-P8
P8-O2
FP1-F3
F3-C3
C3-P3
P3-O1
FP2-F4
F4-C4
C4-P4
P4-O2
Crises Parciais Simples
• Quando as descargas envolvem áreas do cérebro responsáveis pelo movimento, haverá manifestações motoras.
Crises Parciais Simples
Crise tônica assimétrica, uma crise parcial, sem perda de consciência, a qual, pelo fato de ser global, provoca queda e significativo risco de ferimentos.
Crises Parciais SimplesO que fazer?
• Se o indivíduo mostra-se confuso ou amedrontado, conforte-o e acalme-o.
Crises Parciais Complexas
Crises parciais secundariamente
generalizadas
Descargas iniciadas em uma parte do cérebro (ex. lobo occipital) podem se propagar rapidamente, levar à perda de consciência e...
...manifestações motoras bilaterais pelo envolvimento de ambos os hemisférios.
Neste caso, a pessoa será capaz de se recordar das manifestações iniciais.
1)Crises Parciais Simples: preservação da consciência (sensações de formigamento, abdominais, percepção de gostos e cheiros esquisitos, fenômenos auditivos ou visuais designados por auras).
Recordando
2) Crises Parciais Complexas: comprometimento de consciência (confusão e podem ocorrer gestos automáticos, como de mastigação ou mesmo desempenhar tarefas automaticamente).
Crises Generalizadas
Descargas epilépticas surgindo em ambos os hemisférios cerebrais ao
mesmo tempo
Descarga Generalizada
FP1-
F7
F7-T7
T7-P7
P7-O1
FP1-
F3
F3-C3
C3-P3
P3-O1
Fp2-
F8
F8-T8
T8-P8
P8-O2
FP2-
F4
F4-C4
C4-P4
P4-O2
• Não apresentam evidências de início localizado.
• Manifestações clínicas indicam envolvimento de ambos os hemisférios cerebrais.
As Crises Generalizadas:
• Descargas eletrográficas são desde o início bilaterais e a consciência pode estar comprometida.
As crises generalizadas mais comuns são:
• Crise tônico-clônica
• Crise de ausência típica
• Crise mioclônica
Crise Tônico-Clônica
Crise Tônico-Clônica
Crise Tônico-Clônica
Mioclonias Palpebrais
As crises epilépticas envolvem epilepsia?
Nem sempre. Uma crise epiléptica não é
Sinônimo de epilepsia. A epilepsia envolve
Crises que se repetem espontaneamente ao longo da vida.
O termo epilepsia apenas se aplica quando as crises tendem a se repetir,
ESPONTANEAMENTE, ao longo do tempo.
A Liga Internacional Contra a Epilepsia (ILAE), em 2005, definiu epilepsia como um distúrbio cerebral duradouro causado por predisposição a gerar crises epilépticas e pelas consequências...
...neurobiológicas, cognitivas, psicossociais e sociais da condição, devendo ter ocorrido pelo menos uma crise epiléptica.
Epilepsia x Educadores
Professores bem informados que assistam a uma crise podem fornecer dados importantes aos pais do aluno, ajudando no diagnóstico e no tratamento.
Sabe-se que o tratamento será mais eficaz quanto mais cedo for iniciado.
Como um professor pode perceber uma crise de ausência?
Por exemplo, nas crises de ausência, as crises se manifestam com um breve desligamento.
A criança interrompe a fala e as atividades por alguns segundos, voltando, a seguir, à atividade que estava realizando.
Essas crises podem se repetir várias vezes ao dia, causando baixo rendimento escolar, pois durante essas crises ocorre perda de consciência.
Ainda, é importante saber que:
A maior parte dos casos de epilepsia se inicia na infância e adolescência.
O professor pode observar sonolência excessiva ou baixa concentração, sintomas que devem ser comunicados aos familiares do aluno.
Lembre-se de que a epilepsia pode ser controlada na maioria dos casos.
O que devo fazer quando alguém tem uma crise?
• Manter a calma.
• Deixar o indivíduo deitado de lado com a cabeça elevada em local plano.
• Proteger a cabeça da pessoa.
• Não se deve puxar a língua da pessoa durante a crise.
• Não dar nada para a pessoa beber ou comer.
• A crise cede após alguns minutos e é seguida por confusão.
• Se ocorrerem várias crises, levar a pessoa ao hospital.
• Aproveitar a oportunidade para dar uma explicação simples do ocorrido e do que fazer para ajudar, caso aconteça uma nova crise.
• Salientar que as crises não doem e nem são contagiosas.
• A discussão e a prática de primeiros socorros com a classe podem ajudar a desenvolver uma atitude de aceitação.
• É importante que o aluno com epilepsia seja incluído nessa discussão.
Como se faz o diagnóstico de
Epilepsia?
O diagnóstico é clínico! Por isso, é muito
importante a descrição detalhada das crises.Um dos exames mais
comuns é o EEG.
O eletrencefalograma (EEG) mede a atividade elétrica
do cérebro e pode ser útil para detectar alterações dessa
atividade e auxiliar no diagnóstico.
• Por outro lado, uma pessoa com epilepsia pode ter EEG normal.
• EEG "anormal”, sem que ocorram crises, não faz o diagnóstico de epilepsia!!
Em que período da vida se inicia a Epilepsia?
Pode ter início em qualquer idade, porém é mais
comum em jovens de até 25 anos e depois
dos 65 anos.
Quais os fatores desencadeantes para quem já tem epilepsia?
Pode ser desencadeada por ingestão de álcool, privação
de sono, cansaço físico, suspensão abrupta da
medicação antiepiléptica, Emoções.
Ter epilepsia é estar sujeito à insegurança pelo fato de não se saber quando e onde as crises irão ocorrer.
Como deve ser a consulta médica
• É essencial que nas consultas médicas as crises sejam descritas:– pelo paciente, que relatará os sintomas inaugurais, ou seja, as auras;
–e por uma testemunha, que descreverá os sintomas após a perda de consciência e a recuperação.
Como é feito o diagnóstico da epilepsia?
• Exames físico e neurológico assim como avaliação das funções cerebrais e da memória.
• Eletrencefalograma, que pode apresentar alterações tanto no período entre as crises como durante as mesmas.
• Tomografia do crânio ou ressonância magnética do encéfalo, exames que revelam alterações na estrutura cerebral.
• Exames bioquímicos que buscam a identificação de alterações que possam estar causando crises epilépticas.
Epilepsia Epidemiologia
• Dificuldades: condição heterogênea, casos mais leves não diagnosticados, preconceito.
• Incidência: A cada 100 brasileiros 2 têm epilepsia.
Epilepsia - Evolução
• 70-80% dos pacientes livres de crises.
75%
25%
Controle
Recidiva
– 50% destes sem medicamentos.
(Sander, 1999)
• 20-30% evolução para formas refratárias.
75%
25%
Controle
Recidiva
– 5% dependentes nas atividades diárias.
– Mau prognóstico: formas sintomáticas, mais de um tipo de crise, distúrbios neuropsiquiátricos.
(Sander, 1999)
Como é a terapêutica?
Na realidade há uma série de medicamentos para a epilepsia e as pessoas com
epilepsia devem tomar a medicação diariamente, conforme a prescrição
médica.
Muitas vezes, quando as pessoas estão livres de
crises durante alguns anos, o médico começa a retirar lentamente a medicação.
Deve-se levar em conta que os medicamentos
podem ter efeitos colaterais, sendo os mais frequentes:
sonolência, tonturas e náuseas.
E quando o tratamento com remédios não
dá resultado?
.
É possível, em alguns casos, recorrer à "cirurgia da
epilepsia". Para isso, o tecido cerebral, que produz a atividade
elétrica anormal provocando as crises, deve ser...
...removido sem alterar as funções cerebrais do indivíduo. A cirurgia pode ser indicada em
crianças e adultos, mas não serve para todas as pessoas com epilepsia.
As pessoas com epilepsia podem praticar esportes?
As pessoas com epilepsia podem praticar esportes?
Podem e Devem! Infelizmente, por medo, muitos pais e professores limitam desnecessariamente as atividades esportivas das pessoas com epilepsia.
Muitos atletas famosos têm epilepsia.
É lógico que o BOM SENSO deve prevalecer na escolha das atividades esportivas.
As atividades que envolvem riscos potenciais devem ser evitadas.
Os professores devem cuidar para que o aluno com epilepsia se sinta igual aos
outros, que tenha os mesmos direitos e respeite as mesmas
regras escolares.
• As dificuldades de aprendizagem, caso ocorram, podem ter 3 motivos:
– a epilepsia acompanhada de alguma disfunção cerebral;
– crises frequentes e prolongadas interferindo no processo de aprendizagem;
– os medicamentos podem causar fadiga, sonolência e diminuição da atenção.
As pessoas com epilepsia comumente vivenciam processos de:
• isolamento social;
• dificuldade de aceitar o seu diagnóstico;
• limitações que as crises acarretam;
• preconceito estigma;
• restrições ou superproteção de familiares.
Felizmente, muitos desses problemas podem ser minimizados ou evitados com as informações adequadas, diminuindo o preconceito.
Verdades sobre a epilepsia
• Não é contagiosa.
• Não se deve puxar a língua da pessoa durante a crise.
• Não é hereditária.
• Não é causada por problema espiritual.
• A pessoa com epilepsia não tem necessariamente problema mental.
• A pessoa com epilepsia pode trabalhar na maior parte das ocupações.
• Todos os indivíduos com epilepsia podem e devem frequentar a escola.
Cuidados durante a crise
• Manter a calma.
• Deixar o indivíduo de lado com a cabeça elevada.
• Proteger a cabeça.
• Verificar se a pessoa não se machucou.
• Não puxar a língua!!
• Não oferecer nada para beber ou comer!!
• Não tentar restringir a pessoa!!
• A crise cede após alguns minutos e é seguida por confusão.
• Se ocorrerem várias crises, levar a pessoa ao hospital.
Epilepsia
Associação Brasileira de Epilepsia (ABE)
www.epilepsiabrasil.org.br
International Bureau for Epilepsy (IBE)
www.ibe-epilepsy.org
Liga Brasileira Contra a Epilepsia (LBE)
www.epilepsia.org.br
International League Against Epilepsy (ILAE) www.ilae-epilepsy.org
Associação Brasileira de Epilepsia
Filiada ao International Bureau for Epilepsy
• Promover o conhecimento sobre epilepsia.
• Disseminar conhecimento para melhorar as condições sociais e médicas das pessoas com epilepsia.
Missão
• Divulgar informação ao público para diminuir o estigma e preconceito contra epilepsia.
• Formar grupos de apoio para permitir inclusão profissional a pessoas com epilepsia.
• Lutar pelo suprimento regular de medicação antiepiléptica em centros de atendimento primário e hospitais públicos.
Projeto “Arte e Vida” ABE
Agradecimentos especiais a
Todos os colaboradores da ABE
UNIFESP
International Bureau for Epilepsy
Cia. de Seguros Aliança do Brasil
Secretaria Estadual da Educação do Estado de São Paulo
Obrigada pela sua atenção!
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