SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕESSOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES
Introdução ao estudo da Sociologia das Organizações– Considerações iniciaisConsiderações iniciais
– Organização, empresa, trabalho e pessoasOrganização, empresa, trabalho e pessoas
– Perspectivas sociológicas da empresaPerspectivas sociológicas da empresa
– Sociologia do trabalho, da empresa, da gestão e das Sociologia do trabalho, da empresa, da gestão e das
organizações: semelhanças, diferenças e tendências integrativasorganizações: semelhanças, diferenças e tendências integrativas
– Sociologia das Organizações – Enquadramento epistemológicoSociologia das Organizações – Enquadramento epistemológico
– Sociologia das Organizações – Enquadramento organizacionalSociologia das Organizações – Enquadramento organizacional
Ana Maria Santos 2
Considerações iniciaisConsiderações iniciais
• São ainda escassos os estudos desenvolvidos pelas ciências sociais sobre as organizações.
• A complexidade do mundo organizacional não deve ser comprometida por estudos e abordagens teóricas demasiado restritas.
• O Homem das sociedades complexas dos nossos dias vive e actua no âmbito das organizações formais. Todos nós – estudantes, professores, gestores, investigadores e consultores – temos de lidar e de negociar diariamente com as organizações, ainda que estas nos pareçam demasiado mecanicistas, organicistas ou irracionais.
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Organização, empresa, trabalho e Organização, empresa, trabalho e pessoaspessoas
• As análises clássicas das organizações privilegiam a sua racionalidade interna.
• Nesta perspectiva, são criadas e existem para facilitar a prossecução dos objectivos a que se propõem.
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• Segundo as mesmas, as componentes essenciais que a
regem são:
– «o processo de organizar;
– a identificação do fins;
– a gestão dos recursos atinente ao alcance desses fins;
– e a orientação dos valores internos no sentido de que os fins
propostos são bons e interessando a todos os intervenientes.
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• (...) A observação de muitas organizações está de acordo com o
que se acaba de expor. Há papéis e regulações. Há fins e
objectivos. Há organigramas que definem quem fala com quem,
sendo as linhas de comando claramente descritas. As pessoas
desempenham diferentes funções coordenadas e integradas. Ser
organizado é ser dirigido.»[1]
[1] Mitchell, Terence R., People in Organizations / An Introduction to Organizational Behavior, Auckland: McGraw-Hill
Internatinal Book Company, Second Edition, 182, p. 10
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• Esta racionalidade organizativa tem vindo, no entanto a ser
questionada tendo em conta a não-consideração da envolvente
externa – que a perspectiva sistémica releva - o não contemplar os
processos de mudança organizacional e, em síntese, a insuficiência
dos critérios de racionalidade económica.
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• É que, para além da contingencialidade organizacional, na
organização real “participam seres humanos, cada um com as suas
características específicas, e que tendem a pressionar e a desviar
de forma mais ou menos marcada as estruturas formais, idealmente
definidas de acordo com a lógica dos custos e benefícios, levando-
as a funcionar efectivamente como um sistema social.”[1]
• É tendo em conta estas realidades que o estudo sociológico das
organizações ganha relevância crescente, como se verá.
[1] Barata, Óscar Soares, “O Factor Humano nas Organizações”, in Separata da Revista Estudos Políticos e Sociais,
Lisboa: ISCSP, Nºs. 3-4, 1988, p. 36
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Perspectivas sociológicas da empresaPerspectivas sociológicas da empresa
• Ver a empresa apenas como uma organização na
perspectiva da racionalidade das forças produtivas
conduz a uma leitura incompleta.
– Organizar vs. “caos” estruturar, dirigir
– Daí que uma organização tenha objectivos e regulações
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Como refere um dos mais conhecidos “sociólogos da empresa” – Renaud Sainsaulieu
«Para se desenvolver, aumentar as suas capacidades produtivas, os seus
recursos de competências, as suas forças de reacção à concorrência económica e
técnica do mercado, a empresa teve sempre de contar com a vitalidade do conjunto
humano dos seus trabalhadores. Mas um agregado de indivíduos é sempre mais
complexo do que a simples adição dos seus recursos. Com o tempo, surgem estruturas
de grupo, nascem relações entre essas forças e as regulações colectivas tornam-se
indispensáveis à gestão desses conjuntos humanos de produção. Uma estrutura social
articula assim os factores de produção e condiciona os esforços de desenvolvimento
que a empresa deve fazer para sobreviver num ambiente movediço.»[1]
[1] Sainsaulieu, Renaud, Sociologia da Empresa: Organização, Cultura e Desenvolvimento, Lisboa: Instituto Piaget,
2001, p. 15
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• A recente preocupação do estudo sociológico da empresa deriva da
necessidade de estudar o lado humano da gestão das
organizações.
• Deve-se hoje falar também na emergência de um novo tipo de
organização/empresa:
– Mais pequena, mais conectada com outras até agora concorrentes,
mais transnacional e mais adaptada e adaptável a diferentes
finalidades, diferentes tipos de trabalho, diferentes pessoas e diferentes
culturas.
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Da organização tradicional para a flexívelDa organização tradicional para a flexível
De• Competição limitada, com ciclos longos de vida dos
produtos
• Risco baixo
• Controlo centralizado
• Sistemas determinados pelos produtos
• Existência de pessoal para o “caso de ser necessário”
• Empregados como factor de produção
• Alta repartição das tarefas
• Tarefas fixas
• Minuciosas capacidades “para a vida”
• Trabalho no mesmo nível
• Repetições de trabalho para a procura da qualidade
• Resolução de problemas
• Recursos organizacionais rígidos
• Medida de resultados
• Remuneração do serviço e da lealdade
• Horários fixos
Para• Competição intensa, com ciclos curtos de vida dos
produtos
• Inovação de alto-risco
• Envolvimento descentralizado
• Sistemas determinados pelos clientes
• Produção just in time com o pessoal certo
• Empregados como recurso valioso
• Ampla responsabilidade funcional
• Melhorias contínuas
• Múltiplas e amplas capacidades “para o presente”
• Trabalho em qualquer nível
• Fazer certo à primeira
• Prevenção dos problemas
• Flexibilidade dos recursos internos e externos
• Medida da contribuição
• Remuneração das realizações e da focalização nos
objectivos
• Sistemas flexíveis de trabalho
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• A preocupação com o estudo sociológico da empresa é recente. As sociologias,
por exemplo, da família, da educação e da religião, prenderam muito antes a
atenção das sociologias. É que, até há pouco, o objecto sociológico era o
trabalho, «encastrado na economia, sendo a empresa apenas o local onde este
se realiza. No entanto (...) vários acontecimentos irão colocar a empresa na
ribalta e permitir o seu posicionamento de maneira diferente nas análises dos
sociólogos. O primeiro é o regresso da empresa (...) o facto de a crise económica
se ter manifestado (...) através do aumento do desemprego veio colocar em
primeiro plano a empresa como actor capaz de salvaguardar o emprego e,
através dele, um valor essencial de socialização da nossa sociedade. O que
atribui à empresa um papel muito mais do que económico, não só o de
providenciador de emprego, mas também o de estabilizador social.»[1]
[1] Bernoux, Philippe, A Sociologia das Empresas, Porto: RÉS-Editora, Lda., s.d., pp. 8-9
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• Peter DRUCKERDRUCKER frisa estas mudanças nas organizações que normalmente chamamos empresas, sustentando que:
«As organizações serão ainda mais necessárias que antes. Precisamente porque
haverá tanta ambiguidade, tanta flexibilidade, tantas variações, é que será
necessário muito mais clareza quanto à missão, aos valores e à estratégia; no
pesar os objectivos de longo e curto-prazo; na definição dos resultados.
Sobretudo, será necessário clareza absoluta quanto a quem toma as decisões
finais e está no comando numa crise. (...) A organização é sobretudo social. É
pessoas. A sua finalidade tem de ser, portanto, tornar efectivas as forças das
pessoas e irrelevantes as suas fraquezas. De facto, essa é a única coisa que a
organização pode fazer – a única razão pela qual a temos e precisamos de a ter.
(...) Estamos a deslocar-nos rapidamente rumo a novas organizações.»[1]
[1] Drucker, Peter, in Fundação Drucker, A Organização do Futuro, Mem Martins: Publicações Europa-América, Lda., 1998, pp. 20-21
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Sociologia do trabalho, da empresa, da gestão Sociologia do trabalho, da empresa, da gestão e das organizações: e das organizações: semelhanças, diferenças e semelhanças, diferenças e tendências integrativastendências integrativas
• A sociologiasociologia nasce e desenvolve-se com a
industrializaçãoindustrialização
– Provocou a ruptura com o antigo regime e o crescimento do
trabalho assalariado
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• Estas novas realidades de produção levaram à formação e
crescimento de um proletariado urbano, o que teve efeitos
devastadores:
– «desqualificação brutal dos modos de fazer artesanais, divisão do
trabalho, exploração dos trabalhadores e salários de miséria que
obrigaram as famílias operárias a fazer trabalhar os filhos desde muito
cedo para assegurar a sobrevivência do grupo.» [1]
[1] Durand, Jean-Pierre / Weil, Robert, Sociologie Contemporaine, Paris: Vigot, 1993, p. 18
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• Sendo a industrialização o elemento mais novo, é natural que se
afirme que a sociologia nasce como sociologia industrial
– Saint-SimonSaint-Simon (análises sobre a nova sociedade industrial dirigida pelos
mais competentes)
– Herbert SpencerHerbert Spencer (caracterização da sociedade industrial)
– Karl MarxKarl Marx (modos de produção)
– Émile DurkheimÉmile Durkheim (divisão do trabalho social)
– Max WeberMax Weber (economia e sociedade)
Ana Maria Santos 17
• Porém, estes autores tenderam a colocar em cena o trabalhador,
exaltando-o e atribuindo-lhe qualidade, mas não fazendo dele objecto de
estudo.
• Outros o fizeram:
• Le PlayLe Play (1806-1882)
• VillerméVillermé (1782-1863)
• Observaram as condições de trabalho e de existência dos operários,
recolheram indicações sobre o modo como vivem, sobre a ideia que fazem
de si próprios e da sociedade, tendo proposto medidas para tirar os
operários da sua situação pobre e marginal.
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• Segundo TRIPIERTRIPIER[1], esta procura de articular na mesma
explicação...
– condições de trabalho,
– modos de vida e
– visões do mundo
• ...leva a que a Sociologia do Trabalho se possa desenvolver
nesta direcção
[1] Tripier, Pierre, in Durand, Jean-Pierre / Weil, Robert, Sociologie Contemporaine, Paris: Vigot, 1993, pgs. 353-374
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• Ainda segundo TRIPIERTRIPIER, a pesquisa dirigida por Elton MAYO, na
Western Electric Company (1924-1932) é um momento importante
para o futuro aparecimento da sociologia do trabalho
– Os métodos utilizados são quantitativos e qualitativos
– têm como objecto principal o homem na sua situação de trabalho,
sendo a pesquisa focalizada nas tarefas, no sentimento que cada um
inspira o trabalho e na rapidez de execução deste
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– É entendido que o trabalho resulta da cooperação, voluntária ou não.
Cabe à sociologia entender como é que essa cooperação se efectua e
como as diferenças decorrentes da divisão do trabalho conduzem a um
resultado colectivo.
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• Para Mayo e seus discípulos, a empresa era um sistema social
fechado com:
– uma função técnico-económicafunção técnico-económica
• Determinada à fabricação de um produto segundo exigências de custo,
lucro e eficácia técnica
– e com uma função sócio-organizacionalfunção sócio-organizacional
• Com cooperação fundada sobre as interacções no grupo e entre os grupos
• Foi o estudo desta última vertente que, originariamente, se relevou
para o desenvolvimento da sociologia do trabalho
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• A necessidade da sociologia do trabalho cria-se e desenvolve-se a
partir da existência e contestação a três correntes de pensamento e
de análise:
– Taylorismo / organização científica do trabalhoTaylorismo / organização científica do trabalho
– Teoria das burocraciaTeoria das burocracia
– Teoria das relações humanasTeoria das relações humanas
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• Taylorismo / organização científica do trabalhoTaylorismo / organização científica do trabalho
– O conceito de “homem económico”, com a perspectiva de que o
trabalho era apenas uma obrigação, pressupondo que o homem
apenas trabalhava se fosse incentivado através da remuneração
variável (salário à peça).
– Consequente “perspectiva behaviorista”, pelo aproveitamento dos
estímulos do comportamento; o estímulo era o dinheiro, o
comportamento seria o trabalho.
– Ausência de uma “teoria do conflito”, por este ser contrário ao quadro
de relacionamento existente entre associações patronais e sindicais.
Partia-se da existência de uma confluência de interesses, pelo que o
conflito não tinha cabimento.
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• Teoria da burocraciaTeoria da burocracia
– É, tal como o taylorismo, uma procura de racionalização do trabalho.
Enquanto o primeiro é relativo às pessoas – que é suposto apenas
reagirem por dinheiro - a teoria da burocracia aponta para uma
“organização sem pessoas”, já que não as concebe como tendo
iniciativa. Eram meras aplicadoras de normas, anulando-se cada um na
sua capacidade própria.
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• Teoria das relações humanasTeoria das relações humanas
– Desenvolve a perspectiva do “primado do homem social”. Segundo
esta, o principio behaviorista de Taylor não tinha o resultado desejado,
porque o factor social de coesão de grupo e de aceitação se
sobrepunha à vontade de ganhar dinheiro. O sentimento de pertença ao
grupo assumia uma importância primordial.
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• É neste quadro, e no contexto das teorias da motivação
emergentes, que aparecem Georges FRIEDMANN e Pierre
NAVILLE
– A figura intelectual de Friedmann Friedmann desenhou-se a partir de 1936, em
obras onde:
• denuncia os desenvolvimentos do maquinismo industrial;
• critica, a partir das ciências humanas e, nomeadamente, da sociologia, os
métodos de racionalização do trabalho;
• e preocupa-se com as formas de trabalho em cadeia, com a obsolescência
das qualificações e com a perda da significação do trabalho
Ana Maria Santos 27
• O momento mais relevante para esta área da sociologia foi, no
entanto, a publicação da hoje obra clássica que marcou os
primórdios da sociologia do trabalho:
– Traité de Sociologie du TravailTraité de Sociologie du Travail (1963), da autoria de FRIEDMANN e
NAVILLE
• Para eles, a sociologia do trabalho define-se como o estudo, nos
seus diversos aspectos, de todas as colectividades humanas que
se constituem por causa do trabalho
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• Esta concepção marcou fortemente a “escola francesa da escola francesa da
sociologia do trabalhosociologia do trabalho”
– Alain TOURAINE
– Serge MALLET
– André GORZ
– Marcada pelo “determinismo tecnológico”
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• A “escola francesa” esteve sempre em contraponto com a “escola escola
anglo-saxónica da sociologia do trabalhoanglo-saxónica da sociologia do trabalho”
– Privilegiou as atitudes e motivações e o entendimento de que o trabalho
era apenas uma parcela da vida do homem, em detrimento do conflito
interclassista e da eventual degradação das condições em que se
realiza o trabalho
Ana Maria Santos 30
• Detecta-se, no entanto, no percurso deste ramo da sociologia,
alguma discordância sobre a sua denominação:
– Sociologia do trabalho, sociologia industrial ou sociologia da empresa
• Com efeito, não é pacífica a aceitação de uma ou de outra destas
designações, como o comprova Roland GUILLON (sociologia
industrial)
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• Com efeito, não é pacífica a aceitação de uma ou de outra destas
designações. Comprova-o Roland GuillonRoland Guillon, ao afirmar que a «sociologia
industrial, como o seu nome indica, é um dos ramos da sociologia que se
desenvolve ao mesmo tempo que a sociedade industrial. É uma reflexão
sociológica sobre o trabalho e sobre o homem em pleno trabalho, na sua
relação com as outras tarefas e outros homens que trabalham num dado
tipo de sociedade».[1] Segundo o autor, esta definição abarca não só a
organização industrial do sector de produção, mas também os outros
sectores (serviços, administração, etc.).
[1] Guillon, Rolland, in Dicionário de Sociologia, (direcção de Jean Cazeneuve e David Victoroff), Lisboa / São Paulo: Verbo, 1982, p. 550
Ana Maria Santos 32
• Também Bernard MOTTEZMOTTEZ utiliza a expressão sociologia industrial
como a aplicação à indústria do objecto, métodos e técnicas da
sociologia.
• Georges GURVITCHGURVITCH prefere também chamar de industrial a este
ramo da sociologia.
Ana Maria Santos 33
• No entanto, FriedmanFriedman e NavilleNaville, defendem que a sociologia do
trabalho não é apenas a sociologia industrial no sentido restrito do
termo,
– mas também o estudo das colectividades de trabalho não industrial no
comércio, na administração e na agricultura
– Reconhecem, porém, que o seu Tratado de Sociologia do Trabalho
(1963) se centraliza sobretudo no trabalho industrial
Ana Maria Santos 34
• As últimas décadas, no entanto, viram crescer, nomeadamente em
França, a tendência para a compartimentação do campo de análise
sociológica do trabalho
– A empresaempresa revelou-se o campo privilegiado de realização do trabalho
Ana Maria Santos 35
• Denis SEGRESTINSEGRESTIN e Renaud SAINSAULIEUSAINSAULIEU têm procurado as
bases do que chamam “teoria sociológica da empresa”
– Esta tendência vem na linha dos teóricos “culturalistas” e da
“excelência”, para quem a empresa aparece como um meio humano
específico, cujas regulações sociais e culturais intervêm fortemente
sobre os resultados económicos
Ana Maria Santos 36
• É neste quadro evolutivo que entra em cena a sociologia das sociologia das
organizaçõesorganizações
• Alain TOURAINETOURAINE – um sociólogo do trabalho – afirma que se
constituíram quatro domínios de estudo separados uns dos outros:
– Sociologia das organizaçõesSociologia das organizações
– Sociologia das relações industriaisSociologia das relações industriais
– Sociologia das profissõesSociologia das profissões
– Estudos antropológicosEstudos antropológicos
Ana Maria Santos 37
• Sociologia das organizaçõesSociologia das organizações
– O primeiro foi a sociologia das organizações, que procurou
abalar a ideia de racionalização que dominou o pensamento de
Weber e Parsons, substituindo-a pela da estratégia, no quadro
da passagem da ideia de sociedade de produção ou industrial
para a da economia de mercado. O acento tónico passou a ser
colocado na adaptação da organização a uma envolvente
técnica, económica e política mutável.[1]
[1] Para alguns autores, caso de Michel de Coster, a sociologia do trabalho situa-se mais ao nível societal (perspectiva macro), enquanto a sociologia das organizações é a instância mediadora entre o nível societal e o nível individual. A primeira propõe análises do trabalho em termos de valores, de tempo, de classes sociais, de instituições sindicais, etc. .
Ana Maria Santos 38
• Sociologia das relações industriaisSociologia das relações industriais
– O segundo domínio de estudo preocupou-se com a regulação
das relações sociais, pela via das negociações, da
contratualização, das arbitragens e das intervenções legais;
estamos em face da chamada sociologia das relações
industriais.
Ana Maria Santos 39
• Sociologia das profissõesSociologia das profissões
– O terceiro tem a ver com o estudo das profissões; aborda os
controlos exercidos por cada grupo profissional sobre o
exercício da sua actividade, ligações entre as estratégias de
defesa profissional e a intervenção do estado. Estamos em face
da sociologia das profissões.
Ana Maria Santos 40
• Estudos antropológicosEstudos antropológicos
– O quarto é o mais longínquo face às anteriores “sociologias”,
respeitando aos estudos antropológicos sobre a classe operária
e sobre a vida dos migrantes e das pessoas e famílias que
fizeram a transição do meio rural para o urbano e da agricultura
para a indústria e para os serviços.[1]
[1] Touraine, Alain, Prefácio a Coster, Michel de / Pichault, François (Eds.), Traité de Sociologie du Travail, Paris,
Bruxelles: Departement de Boeck Université, (2e. édition), 1998, pp. 5-6
Ana Maria Santos 41
• Recentemente, emerge um campo de análise novo, que é o da
sociologia da gestão
• Mike REEDREED toma como âmbito as perspectivas sociológicas sobre a
gestão
– Assume que cada vez mais a gestão se depara com discursos múltiplos
e conflituais, não resolúveis no quadro do seu paradigma científico
racional, o que obriga ao desenvolvimento da análise sociológica,
porque...
Ana Maria Santos 42
«Socializados na retórica de teorias e técnicas que supostamente garantem um grau
aceitável de previsão da ordem e do controlo, os gestores enfrentam uma realidade
social prenhe de relações de natureza moral e política que constantemente abalam a
lógica da racionalidade instrumental. (...) Na medida em que aumentou a nossa
compreensão da realidade social, da qual os gestores são parte essencial, a
sociologia proporcionou uma contribuição não só útil como fundamental,
esclarecedora de ambiguidades e situações difíceis que todos, sem excepção,
experimentamos. Pode também constituir precioso auxilio no desenvolvimento de
formas de análise e de conduta que enformem com maior clarividência e
sensibilidade as práticas sociais com que tentamos gerir o mundo que todos
partilhamos.» [1]
[1] Reed, Mike, Sociologia da Gestão, Oeiras: Celta Editora, 1997, p. 167
Ana Maria Santos 43
•A visão pós-modernista do mundo tem levantado alguma
perturbação sobre paradigmas, teorias, conceitos e metodologias, nas
ciências sociais em geral.
•O pós-modernismo (Braudellard, Lyotard, Jameson) revela uma
tendência para as abordagens de tipo multidisciplinar e uma inclinação
para “subverter” e “rebentar” fronteiras disciplinares e criar
perspectivas transdisciplinares que façam convergir ideias de um vasto
conjunto de campos científicos, tais como filosofia, economia política,
teoria cultural, história, antropologia e sociologia.
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES – SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES – Enquadramento epistemológicoEnquadramento epistemológico
Ana Maria Santos 44
•Se analisarmos o processo histórico de constituição destas áreas
de investigação, ou se quisermos classificá-las em tipologias,
rapidamente chegaremos à conclusão de que dificilmente se consegue
perceber, por essa via, a verdadeira articulação entre todas as suas
diferentes abordagens, particularmente no ramo da sociologia das
organizações.
Relembrar:
Cap 3 – Teoria Organizacional – Estruturas e Pessoas
Grupos TeóricosGrupos Teóricos – Perspectivas teóricas na abordagem da
realidade social (dimensão objectiva e dimensão subjectiva)
Ana Maria Santos 45
• PUGHPUGH, por exemplo, identifica seis abordagens:
1. «management theory»
2. «structural theory»
3. «group theory»
4. «individual theory»
5. «technology theory»
6. «economic theory»
Ana Maria Santos 46
• WHITEWHITE identifica sete escolas:
1. «process analysts»
2. «structuralists»
3. «organizational surveyors»
4. «group dynamicists»
5. «decision making theorists»
6. «psychiatric analysts»
7. «technological structuralists»
Ana Maria Santos 47
• ELDRIEG ELDRIEG e CROMBIECROMBIE, numa revisão das tipologias que
têm sido usadas por diversos teóricos organizacionais,
estabelecem a diferença entre:
1.1. Tipologias baseadas em funçõesTipologias baseadas em funções – Katz e Kahn, Tavistock,
Blau e Scott
2.2. TecnologiaTecnologia – Woodward, Blauner, Thompson
3.3. RegulaçãoRegulação – Etzioni
4.4. EstruturaEstrutura – Ackoff e Vickers
Ana Maria Santos 48
• A construção destas tipologias está longe de ser pacífica e aceite
por consenso, na medida em que os seus autores acabam por
salientar uns aspectos em detrimento de outros e não raramente
acontece que uma teoria pode ser legitimamente subsumida a mais
do que uma das tipologias apresentadas.
Ana Maria Santos 49
• Pode dizer-se que, quer a descrição lineardescrição linear, cronológica, do processo
histórico que conduziu ao aparecimento, por exemplo, das teorias
organizacionais, quer a tentativa de enquadrar em tipologiastipologias as
diferentes abordagens, revelam limitações de perspectiva.
– Como dizem BURREL e MORGAN, só quando se procura explorar as
presunções teóricas básicas que se encontram subjacentes aos
trabalhos, é possível encontrar afinidades e estabelecer as linhas
divisórias das diversas abordagens.
Ana Maria Santos 50
• Por este caminho, seguindo a abordagem de BURREL e MORGAN,
há que conceber as ciências sociais em termos de 4 conjuntos de
pressuposições (sets of assumptions):
– OntologiaOntologia
– EpistemologiaEpistemologia
– Natureza humanaNatureza humana
– MetodologiaMetodologia
num contínuo entre:
• Dimensão objectivaDimensão objectiva
• Dimensão subjectivaDimensão subjectiva
Ana Maria Santos 51
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕESSOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕESEnquadramento organizacionalEnquadramento organizacional
• A sociologia das organizações integra-se no domínio dos estudos organizacionais, os quais representam uma parte já significativa da investigação desenvolvida em ciências sociais.
• 3 linhas de pesquisa:– Teoria organizacional (organization theory):
• Estudo das organizações formais
• Investigação empírica, orientada para a concepção de gestão das organizações
– Theory of Social and Economic Organization (Max Weber, 1947):• Carácter sociológico, predominantemente, de gestão
– Perspectiva psicossociológica:• Estudo do comportamento humano no interior das organizações
Ana Maria Santos 52
• Estas três linhas de pesquisa desenham uma grande variedade de
perspectivas e, ao longo do seu processo de desenvolvimento, tem-
se registado uma forte influência de umas disciplinas sobre as
outras, encontrando-se reunidas numa abordagem multi-disciplinar
no âmbito do “comportamento organizacionalcomportamento organizacional” (organizational
behaviour).
Ana Maria Santos 53
• A Teoria Organizacional é a disciplina de gestão e administração
que se preocupa com a “análise organizacional”, compreensão,
explicação e previsão do desenho e da estrutura organizacional.
– O seu objecto de análise é o organizacional em si mesmoo organizacional em si mesmo
– Perspectiva macromacro
– A TO apresenta três aspectos:
• DescritivoDescritivo: descreve e informa como as organizações estão organizadas;
• ExplicativoExplicativo: explica a razão porque os indivíduos, grupos e sistemas
organizacionais revelam um determinado comportamento;
• PrescritivoPrescritivo: dá orientações sobre como podem as mesmas ser mudadas
para se tornarem mais eficazes
– Em suma, a TO ajuda a conceber uma estrutura organizacional
(organograma, descrição de funções, manuais de procedimentos, etc.).
Ana Maria Santos 54
• A Sociologia das Organizações, olhando para a organização
como uma estrutura social composta de relações sociais
(autoridade, burocracia, conformidade, poder, etc.), tem vindo a
assumir, fundamentalmente, uma orientação teórica diferente da
Sociologia do Trabalho (assumiu um carácter mais comprometido
politicamente com os mais fracos / trabalhadores, em oposição ao
patronato e à sociedade capitalista que estes representavam),
menos dicotómica.
Ana Maria Santos 55
– Passou a estudar os fenómenos sociais e culturais das fenómenos sociais e culturais das
organizaçõesorganizações (públicas ou privadas), desde que estas
apresentem estabilidade, formalidade e dimensão suficiente
(i.e., diferente de um grupo).
– O seu objecto de análise é o comportamento do Homem na o comportamento do Homem na
organizaçãoorganização
• Dá mais atenção aos pequenos grupospequenos grupos (estatuto social, poder,
conflito, liderança e comunicação) e ao indivíduoindivíduo (temas:
percepção, decisão individual, valores, atitudes, satisfação no
trabalho, motivação, absentismo, etc.)
– Perspectiva micro
Advertência!Advertência!
O estudo destes apontamentos NÃO dispensa a leitura das obras referenciadas na
Bibliografia, constante do Programa da cadeira de Sociologia das Organizações.
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