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30 Setembro 2010 | O MIRANTE38 | ESPECIAL DIA DO ANIMAL

A campanha de adopção e a “cãominhada” de Torres Novas, no domingo, são dos raros acontecimentos. Como forma de assinalar a data, O MIRANTE recolheu depoimentos de quem trata de animais diariamente.

O Dia Mundial do Animal, 4 de Outubro, celebra-se desde 1930 em mais de 45 países. Mas na região são raras as iniciativas

publicitadas ou cuja realização tenha chegado à redacção de O MIRANTE. No site oficial da câmara municipal de Torres No-vas há uma referência a algumas actividades promovidas pelo Canil Intermunicipal de Torres Novas realizadas domingo, dia 3. Nomeadamente, uma cam-panha de adopção de animais que decorre entre as 11 e as 17 horas, no Jardim das Rosas, o 3º Encontro de Animais Adoptados no Canil/Gatil e a 2ª edição da “Cãominhada”, com partida às 14h30, da Jardim e que percorre-rá várias ruas da cidade.

Em 1929, no Congresso de Protecção Animal realizado em Viena de Áustria, foi decidido ce-lebrar o dia Mundial do Animal a 4 de Outubro, data da morte de S. Francisco de Assis ( Fran-ciscus van Assisi), uma persona-lidade da Igreja Católica conhe-cida pelo seu amor aos animais. Em Outubro de 1930 foi come-morado pela primeira vez o Dia Mundial do Animal e a 15 de Outubro de 1978 foram regista-dos os direitos dos animais atra-vés da aprovação da Declaração Universal dos Direitos do Animal pela UNESCO.

O Dia Mundial do Animal passaquase despercebido na regiãoCelebra-se a 4 de Outubro, data da morte de S. Francisco de Assis

Drª Rute Porém, médica veterináriaPata a Pata e CompanhiaClínica Veterinária (Alverca)

“Os cães e os gatos também fazem fisioterapia”

Na clínica veterinária Pata a Pata e Companhia surgem so-bretudo cães e gatos para tra-tamento. Segundo a Drª Rute Porém, há muitos casais jovens hoje em dia que não têm filhos e que têm um cão ou um gato em casa para companhia, ou mesmo pessoas que vivem so-zinhas e que procuram fugir ao isolamento através da compa-nhia de um desses animais. Os animais domésticos mais pro-curados são os cães e os gatos “porque obviamente o tipo de interacção e os laços que se criam com um cão ou com um gato não são os mesmos do que um réptil”, explica.

A médica veterinária consi-dera que em Alverca, por ser um espaço urbano, as pesso-as têm tendência a ter em ca-sa cães de porte pequeno ou então gatos. “Cada vez temos espaços mais pequenos e ca-sas mais pequenas. E os cães de porte pequeno comem me-nos, são mais transportáveis, o que facilita quando chega à

questão das férias. Por outro lado, há também um aumen-to dos gatos nesta zona, por-que são mais independentes e suportam mais tempo sem os donos”, refere.

Para esta responsável, a atitude das pessoas face aos animais está a mudar lenta-mente. “Principalmente as pessoas mais jovens, que já pesquisaram na internet e já estão consciencializadas que é preciso fazer a vacinação e desparasitação dos animais por questões de saúde e seguran-ça”, sublinha.

Na clínica Patas a Pata e Companhia faz-se também fi-sioterapia para cães e gatos. Tal como nas pessoas, também com os animais a fisioterapia ajuda em casos de reumatismo e problemas nas articulações. “Fazemos massagem e trata-mentos com frios e quentes. Treinamos aqui os donos pa-ra que depois possam realizar as sessões em casa, tendo em conta as limitações dos ani-mais, os tipos de lesão e as li-mitações dos donos, porque se forem pessoas idosas não lhes posso pedir que se ponham de joelhos a dar massagens ao cão”, explica, realçando que as sessões têm tido muito bons resultados.

“Antes as pessoas que tinham um animal consideravam-no um objecto”

Regina Duarte considera que a procura de animais passa mui-to por modas e que actualmente as pessoas têm uma tendência para procurar mais os animais exóticos do que os cães e gatos, “porque para além de serem mais originais, dão menos tra-balho, ocupam menos espaço e são mais económicos”. Os ani-mais mais procurados na loja O Koala são a chinchila, o por-quinho-da-índia e os coelhos. A proprietária recusa-se a ter na loja animais como cobras ou iguanas, mas não por medo. “É uma questão de princípio. Considero que esses animais não devem estar fechados em casa, mas sim viverem livres na natureza, porque são animais

Regina Gonçalves, proprietáriaO Koala - Loja de Animais (Póvoa de Santa Iria)

selvagens. Não são animais do-mésticos”, aponta.

Regina Duarte discorda com as vozes que dizem que animais desta dimensão não servem de companhia nem são inteligentes e conta uma das suas experiên-cias pessoais. “Tive um rosicoli (pássaro) que me aparecia à solta na loja e eu não conseguia des-cobrir como é que ele fugia. Até que percebi que ele empurrava o estrado da gaiola para conse-guir sair e quando chegava cá fora empurrava-a para dentro”, diz com um largo sorriso.

A proprietária da loja O Ko-ala considera que a atitude das pessoas para com os animais mudou para melhor nos últimos anos e que há uma maior cons-ciencialização em relação aos di-reitos dos animais. “As pessoas dantes tinham um animal, mas consideravam-no um objecto. Era um bibelô que tinham para enfeitar a casa. Hoje já há cari-nho e muita preocupação e as

pessoas investem mais no con-forto e nas condições que dão aos animais”, refere.

Ainda assim, Regina tenta educar na loja os compradores dos diversos animais. “Quando vejo que não há interesse dos pais em levar os animais, tento que as crianças não os levem. Porque já sabemos que os mi-údos depois se cansam rapida-mente e depois os animais são abandonados. Penso que cabe também a cada um de nós esse papel de educadores, para preve-nirmos o abandono, quando ve-mos que não há grande interesse e que é só a criança que quer, por ser uma novidade”.

No dia 2 de Outubro vai re-alizar-se na Cercipóvoa, na Pó-voa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, uma expo-sição de animais exóticos, com hamsters, porquinhos da índia e coelhos anões, entre as 11h00 e as 19h00.

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Drª Maria Júlia Blauth, médica veterináriaClínica da Drª JúliaClínica Veterinária (Marinhais)

“Devem ser criadas mais soluções que diminuam a taxa de abandono dos animais”

Estando num meio rural, na Clínica da Drª Júlia surgem os animais domés-ticos comuns, mas também alguns ani-mais de campo, como cavalos, cabras e ovelhas. O maior problema, para esta médica veterinária, está precisamente nestes últimos, que muitas vezes são cria-dos em condições ilegais. “Muitas vezes esses animais não estão registados. Se estivessem o próprio Estado providen-ciava um veterinário para vacinar, des-parasitar e colher amostras de sangue, para prevenir doenças como a tubercu-lose e a brucelose, que são doenças que se transmitem às pessoas”, aponta. Por isso mesmo, a responsável diz que mor-reram muitos rebanhos com a chamada doença da “língua azul”, os quais pode-

riam ter sido poupados, caso estivessem legalizados.

Para a Drª Júlia Blauth, nos meios ru-rais as mentalidades ainda estão iguais no que diz respeito ao tratamento dos animais. “Há pessoas muito boas que recolhem os animais abandonados e há pessoas cruéis que os abandonam e maltratam. Já me pediram para abater vários animais saudáveis porque já não os queriam. O problema é que aqui não há nenhum sítio onde se possam abrigar os animais abandonados”, diz com pre-ocupação, lembrando que já encontrou vários animais no caixote do lixo.

A história que mais a marcou foi a de um cão cujos donos pediram para que fosse abatido, sob o falso argumento de que estaria cheio de tumores. “O cão era jovem, e perfeitamente saudável. A única coisa que tinha era nós no pêlo, mas de-pois de tosquiado fi cou lindo. Mas mes-mo assim os donos não quiseram fi car com ele”, recorda com tristeza.

Para a Drª Júlia Blauth a questão da sensibilização das pessoas para os direi-tos dos animais é bastante complexa e difícil. “Se não conseguimos sensibilizar as pessoas para questões como a violên-cia doméstica ou os idosos, como é que vamos sensibilizá-los em relação aos ani-mais?”, pergunta com desânimo. “É uma causa que todos temos de abraçar com mais intensidade. Nomeadamente no que diz respeito ao abandono. Devem ser criadas mais soluções alternativas que diminuam a taxa de abandono dos animais”, conclui.

Drª Maria João Correia, médica veterináriaCentro Veterinário da Encosta das Maias (Tomar)

“Animal perigoso é o dono. Os cães pequenos são piores que os das raças perigosas”

Para a Drª Maria João Correia, a co-municação social – principalmente a te-levisão – tem sido um meio fundamen-tal para o crescimento da informação sobre os cuidados a ter com os animais domésticos, nomeadamente no que diz respeito à sua alimentação e cuidados de saúde. “O grande avanço tem sido na medicina preventiva. As coleiras, as gotas contra os parasitas e a vacina-ção têm aumentado muito nos últimos anos”, sublinha.

Contudo, a médica veterinária con-sidera que há ainda um grave proble-ma no que diz respeito aos direitos dos animais e que se prende com o abando-no. “Devido à crise há muita gente que ao deparar-se com problemas de saúde

dos seus animais de companhia, recorre ao abandono, por considerarem o tra-tamento demasiado dispendioso”, diz com tristeza.

Tal como os colegas de profi ssão, tam-bém a responsável do Centro Veteriná-rio da Encosta das Maias considera que surgiu uma moda de adquirir animais exóticos nos centros urbanos, mas lan-ça o alerta para a questão da legalização dos mesmos. “Já me surgiram situações em que clientes me apareceram com ani-mais ilegais, que não têm certifi cado de entrada no país, como cobras, morcegos e aves selvagens e exóticas. Quando me deparo com estas situações reporto-as de imediato às autoridades”, explica.

O grosso da clientela do centro ve-terinário são essencialmente cães e ga-tos, por isso em relação a mordidelas, a Drª Maria João Correia reconhece que são “ossos do ofício”. “Já me habituei a reconhecer alguns dos sinais que os animais me dão. Nos gatos são as ore-lhas e o pêlo eriçado e nos cães é o la-drar, o não deixar tocar. Aí utilizamos os fármacos para sedar, tranquilizar ou anestesiar, de forma a poder trabalhar com os animais. Comigo, o que sucede é que com a experiência fui aprenden-do a fugir. Detecto que o animal vai ser agressivo e já me protejo”, refere mos-trando algumas marcas que fi caram de experiências anteriores.

Para a veterinária, a questão das ra-ças perigosas é um mito. “São muito mais problemáticos na clínica os cães de porte pequeno, como os pincher e os caniche do que os pitbull e os rottwei-ler. Nunca tive um pitbull agressivo com um ser humano. Na gíria veterinária até dizemos que animal perigoso é o dono, porque tudo depende da educação que é dada. Já os cães pequeninos são muito mais perigosos porque são animais mi-mados e os donos vêem com maus olhos a tentativa de lhes pôr açaime ou de os sedar”, explica.

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Drª Marta Gonçalves, médica veteri-nária - Vet TempláriosClínica Veterinária (Tomar)

“Há cães que detectam células cancerígenas”

Para a Drª Marta Gonçalves os últimos anos têm registado uma crescente melhoria na rela-ção das pessoas com os animais, principalmente no que diz res-peito aos animais de companhia. Ainda assim, a médica veteriná-ria diz que muitos ainda fazem distinção no tratamento do que consideram ser os animais de companhia e os que são “man-tidos só para guarda e que estão o dia todo preso a uma corrente ou o animal que é mantido só

para a caça”.A responsável da clínica Vet

Templários diz mesmo que o que a choca mais são os abandonos de cães que sucedem quando abre a época da caça. “Os caça-dores usam os cães para a caça e se não prestarem largam-nos. E nos primeiros dias é quando há maior incidência dos aban-donos”, sublinha.

“Desde que abriu a época da caça tenho tido aqui imensos cães que as pessoas encontram abandonados na estrada ou no meio do mato”, acusa com in-dignação.

Na clínica de Tomar surgem mais cães e gatos, mas a médi-ca veterinária assume que hoje em dia há uma maior procura de espécies exóticas, as quais se estão a tornar animais de com-

Sandra Gomes, proprietáriaAnizoo - Loja de animais (Tomar)

“Eu domestico passarinhos”

Na Anizoo há desde cães, gatos, pássaros de todos os ta-manhos e cores, peixes, tar-tarugas, iguanas, camaleões e até cobras. Apesar de já ter passado um pouco a moda dos animais exóticos, Sandra Go-mes diz que os mantém na lo-ja como chamariz de clientes. “As pessoas têm grande curio-sidade e gostam de entrar na loja para vir ver estes animais que não encontram tão regu-larmente e por vezes acabam por comprar outras coisas”, ex-plica. O animal que se vende mais nesta loja de Tomar são os pássaros, por serem animais de gaiola que não dão trabalho e são económicos, tanto em re-lação ao valor da compra como no que diz respeito à sua ma-nutenção. Foi mesmo um dos pássaros que tinha na loja, o animal a que Sandra mais se afeiçoou, recusando-se mes-mo a vendê-lo. “Eu domestico passarinhos e então tive um rosicoli, que era a minha Ki-kas, durante oito anos. Estava no poleiro mas subia para os ombros das pessoas e deixava fazer festinhas. São animais

muito inteligentes e muito mei-guinhos. Infelizmente o ano passado roubaram-me a Kikas e até ao momento não conse-gui voltar a ligar-me a nenhum outro animal da loja”, diz com uma certa mágoa.

Sandra Gomes considera que a mentalidade das pessoas face aos animais está a mudar mas muito lentamente e que as pessoas mais idosas continuam a ter o cão só para guardar a casa, preso a uma corrente pe-quena e sem lhe dar as míni-mas condições de conforto. “Os mais jovens já têm a preocupa-ção de dar uma melhor quali-dade de vida aos seus animais de companhia e de os levar ao veterinário para que sejam sempre saudáveis. Mas ainda há muita gente que considera que os animais são só um ele-mento de decoração”, aponta. Por isso mesmo a proprietária da Anizoo tenta ter também um papel de educadora. “Es-tando ao pé de uma escola, tento sempre chamar as pes-soas à responsabilidade. Por exemplo, muitos miúdos vêm aqui para comprar animais e eu não vendo sem que venham acompanhados pelos pais, por-que muitas vezes chegam a casa e se os pais não querem os bichos, eles acabam por ser abandonados.

A cadela que tinha de ser apresentada aos veterinários

No Hospital Veterinário de Santarém, a questão que mais preocupa a Drª Rita Sousa é a questão dos maus tratos aos animais. “Ainda ontem (26 de Setembro) me apareceu aqui um gato que tinha sido alveja-do com um chumbo na cabeça. Isso é propositado, diz revolta-da. “Outra das situações é o en-venenamento. Muitas pessoas recorrem ao veneno porque o cão ladra de noite e incomoda, ou porque é a maneira fácil de os abater, para quem tem essa coragem”, refere.

Abertos há apenas um mês e meio, a equipa de médicos ve-terinários ao dispor do hospital trata não só cães e gatos, mas também animais exóticos. “Es-tes casos são sempre mais com-plicados, porque a nossa forma-ção académica está sempre mais virada para cães e gatos ou então a vertente de animais de produ-ção. O que sucede muitas vezes são especializações posteriores à formação académica e que per-mitem tratar essas espécies me-nos comuns”, sublinha.

A médica veterinária confes-

panhia, como por exemplo os porcos vietnamitas, e os bodes e cabras anões, bem assim como as iguanas, tartarugas e as cobras pitons, que foram uma grande moda nos anos 90.

“Já tive de tratar uma pi-ton, com cerca de um metro de comprimento. Não é um animal muito perigoso, muito embora de vez em quando se leve uma dentada, mas não são venenosas.

“Felizmente que a patologia que apresentava eram parasitas e foi fácil de resolver. Senão o que faço é encaminhar estas es-pécies exóticas aos colegas espe-cialistas nessa área”, explica.

Para a Drª Marta Gonçalves a comunicação social deveria ter um papel mais preponderante na educação da população face aos animais e à importância que têm na vida dos seres humanos e na sociedade. “Nas notícias só vemos relatar os casos dos cães de raça perigosa e grandes títu-los sobre mortes ou ataques vio-lentos, em vez de se dar mais ên-fase aos aspectos positivos como os animais de terapia, que tra-balham com idosos e com crian-ças deficientes, como os cavalos ou os golfinhos. E em termos de investigação, há cães que detec-tam células cancerígenas. É fa-buloso, mas não se vêem notícias sobre isso”, sublinha.

sa que esta é uma profissão que só segue quem tem um grande amor aos animais e se preocupa com os seus direitos, mas quan-do questionada sobre a recolha de assinaturas do presidente da câmara de Santarém em prol das touradas, a Drª Rita Sousa diz que sendo escalabitana e es-tando neste ramo prefere não se pronunciar sobre o assunto.

O animal que mais a marcou foi uma cadela que tinha uma doença provocada pela picada por um mosquito. “A Catita chegou e tinha três cachorros bebés com ela e por isso era muito agressiva e nem sequer deixava chegar perto. Tive de

telefonar ao dono, que disse que teria de vir até cá e disse que ma iria apresentar. Apesar de curio-so, não pensei que fosse mesmo literalmente, mas o que é facto é que o dono chegou ao pé da cadela e disse “Catita, esta é a doutora Rita e não te vai fazer mal, porque é tua amiga”. E o que é facto é que a cadela des-de esse momento mudou de ati-tude comigo e deixava-me me-xer nela e nos cachorros. Ainda pensei que fosse coincidência, mas sucedeu o mesmo com uma funcionária que eu tinha, o que eu acho que é fora de série”, diz com um largo sorriso.

Drª Rita Sousa, médica veterinária - Hospital Veterinário de Santarém

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Drª Maria Gabriela Matos Directora ClínicaClínica Veterinária Vetcor (Coruche)

“O médico veterinário é um educador”

O principal problema na questão da defesa dos direi-tos dos animais, para a Drª Gabriela Matos, está no fac-to de não se fazerem cumprir as leis. “Penso que a questão não está tanto em ter uma legislação mais severa, mas sim uma maior fi scalização, para obrigar as pessoas que abandonam os animais a pa-gar multas”, aponta.

A responsável pela Vet-

cor considera que as menta-lidades ainda vão demorar a mudar enquanto perante a lei o animal for visto como propriedade do dono e não como um ser vivo por si só. “Se por um lado isso facilita muitas coisas, por outro difi -culta a acção legal para res-ponsabilizar as pessoas que mal tratam os animais ou os abandonam”, explica.

Por isso, a directora clínica sublinha que o médico vete-rinário tem de ser um educa-dor, principalmente nas rela-ções de higiene das famílias com os animais, na educação e alimentação, mas também na preservação do bem-estar animal. “Há uma serie de con-selhos que nos preocupamos

Veladimiro Elvas reconhe-ce que houve uma mudança de mentalidades na forma co-mo as pessoas se relacionam com os animais. “Há vinte anos atrás era impensável ver um homem a passear na rua um “Lulu”, porque era con-siderado um atentado à sua masculinidade”, aponta com sorriso divertido, dizendo que o surgimento das diversas as-sociações de protecção dos animais foi fundamental na mudança dessas mentalida-des. No entanto, o presiden-te da Associação de Protecção Aos Animais Abandonados do Cartaxo é peremptório em afi rmar que há muito traba-lho a ser feito no âmbito da protecção dos direitos dos ani-mais e na sensibilização das pessoas para esse tema. “Há ainda muita falta de fi scaliza-ção e de legislação e por isso

continuam a suceder os episó-dios mais cruéis que se possam imaginar”, aponta. Para o res-ponsável, Portugal está muito atrasado em relação ao resto dos outros países da Europa. “Saiu agora uma lei em Itália que diz que qualquer pessoa que atropele um animal e não lhe preste auxílio imediato se-rá punida com pena de prisão. Portanto, é considerado um acto criminoso. Em Portugal não!”, diz com tristeza.

Para Veladimiro existem ainda muitas áreas em que é preciso agir para proteger os direitos dos animais, como o tiro aos pombos, as touradas, o circo, os jardins zoológicos, mas muitas vezes as leis não avançam porque existem “de-masiadas pressões”. “Existem grupos económicos muito po-tentes que exercem pressões para que os animais não sejam

consagrados na lei como um ser ciente”, aponta.

Por isso mesmo o presi-dente da APAAF não vê com bons olhos a iniciativa do pre-sidente da câmara de Santa-rém de recolher assinaturas a favor das touradas. “Sei que estamos inseridos num meio de touradas e temos muitos affi cionados que frequentam a nossa clínica veterinária e não me posso manifestar muito nesta área. Mas eu sou

contra as touradas como es-pectáculo sanguinário. E não sou só contra as touradas, sou também contra o boxe, por exemplo, porque entendo que devemos ser um pouco mais civilizados em relação a estas questões.

Mas penso que esta medida do Dr. Moita Flores é apenas mais uma questão política pa-ra cativar mais alguns votos”, conclui.

“Existem grupos económicos muito potentes que exercem pressões para que os animais não sejam consagrados na lei como um ser ciente”

Veladimiro Elvas, presidente da APAAC- Associação de Protecção Aos Animais Abandonados do Cartaxo - Canil Municipal do Cartaxo

em dar e adaptamos a men-sagem ao cliente em questão, tentando não ferir susceptibi-lidades, porque é importante que do outro lado haja com-preensão”, refere.

A responsável pela clíni-ca de Coruche admite que as mentalidades estão a mudar lentamente, mas gostaria de ver mais acções de formação, nomeadamente nas escolas, para sensibilizar os mais jo-vens para estas questões, muito embora considere que a educação deve começar em casa, no seio da família. “Há ainda muito para fazer e é sobretudo preciso mudar o pensamento das pessoas que ainda encaram os animais como pastilha elástica, des-cartáveis. Se está doente en-tão abandona-se e venha outro”, diz revoltada.

Para a Drª Ga-briela Matos, o pro-blema do abando-no dos animais é um problema mui-to sério e preocu-pante, porque um animal vadio é um animal que poderá pôr em risco a saú-de pública. “Os ani-mais podem estar infectados com di-versas doenças con-tagiosas, como por exemplo as lombri-gas, e as crianças fa-

cilmente poderão fi car conta-minadas”, justifi ca.

Ainda assim, a médica ve-terinária recusa associar-se ao lobby das associações de protecção dos animais con-tra os caçadores. “Nesta re-gião há muitos caçadores e normalmente as associações insurgem-se contra eles por causa dos abandonos dos cães de caça. Mas a verdade é que nem todos os caçadores se enquadram neste cenário. Eu tenho muitos clientes caçado-res que têm grande estima aos animais e que são capazes de grandes sacrifícios por eles. É verdade que há alguns que uti-lizam os cães só para a casa e se não servem, abandonam, mas não são todos”, conclui.