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Talento | ano XII | Novembro-Dezembro | 2012

Ensaio fotográfico - Pag 15

Afinal, por que queremos essa tal de democracia?

Arte: Saturnino de Oliveira

Nos últimos meses, alguns jornais no Brasil deixaram de ser veiculados em suas versões im-pressas. No Rio de Janeiro, o Jornal da Tarde, do Grupo Estadão, deixou de circular em sua versão impressa em outubro e, no mês de no-vembro, o impresso Marca Impressa, do Gru-po Ejesa, abandonou a versão no papel. Nada de novo, se consideramos que isso tem aconte-cido com veículos impressos no mundo e, no Brasil, o movimento começou com o Jornal do Brasil, em 2010.

Alguns (muitos) falam em crise do impres-so e este discurso contagia de tal forma nos-sos jovens alunos que não raro esbarramos na resistência deles em fazer pesquisas e produ-zir textos mais densos. A resistência pode ser percebida já na produção da pauta, quando a

Mais páginas e suplemento especial nesta edição

02 - Talento_ano XII_ Novembro_Dezembro_2012

inclinação é para uma abordagem breve, su-perficial e baseada em depoimentos.

A produção desta edição do Jornal Talento parece seguir na contramão, pelo menos a jul-gar pelo número de páginas, que passou de 12 para 16. Além disso, os alunos de Jornalismo Samira Rebuli, Marcos Barcelos, Giulian Ola e Sthephanny Moreira apostaram na produção de um suplemento especial para falar sobre a ilustração no jornalismo. O resultado foi ba-tizado de “Será o Benedito?” e deve passar a integrar o Talento nas próximas edições, com abordagem de outros temas. Como ocorreu na edição anterior, Giulian Ola assumiu a diagra-mação e o estudante de Educação Física Satur-nino de Oliveira junto com Vinicius Lira, da Publicidade, se encarregaram das ilustrações.

Primeira reunião da Editoria de Arte. Membros efetivos do Jornal Talento (01) Samira Rebuli, (02) Saturnino de Olivei-ra, (03) Giulian Ola, (04) Marcos Barcelos, (05) Vinicius Lira e (06) Sthephanny Moreira

EDITORIAL

Foto: Marcos Spinassé

Universidade Vila Velha - ESRua Comissário José Dantas de Mello, 15, Boa Vista - Vila Velha - ES-CEP: 29102-770 Reitor: Manoel Ceciliano Salles de AlmeidaVice-Reitora: Luciana Dantas da Silva PinheiroPró-Reitor Acadêmico: Heráclito Amancio Pereira Junior Pró-Reitor Administrativo: Edson Franco Immaginario Pró-Reitora de Pós-Graduação: Marco Oliva Pesquisa e Extensão: Marly Imperial Garabelli

O Talento é uma produção do Curso de Comunicação Social da UVVCoordenador de Jornalismo: Rodrigo CerqueiraCoordenação do Laboratorio de Jornalismo Impresso: Marcilene Forechi

Coordenação de Fotojornalismo: Elizabeth NaderCoordenação de Diagramação: Marcos SpinasséEditoria de Arte: Giulian Soares Ola, Marcos Barcelos Correia, Samira Rebuli Paiva, Sthephanny Moreira, Vinícius Lira Textos: Alunos da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso (J4M, J4N e J5N)Capa e ilustrações: Saturnino de OliveiraInfográfico: Vinícius Lira Ensaio: Gisele Pereira e Samara Mattoso Tiragem: 500 exemplares

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Editorial

Aquele Lugar

Acesso à Informação

Acesso à Informação

Comportamento

Comportamento

Democracia

Democracia

Arte e Cultura

Arte e Cultura

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Esporte

Esporte

Estilo de Vida

Ensaio Fotográfico

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EXPEDIENTE

DOLOR SENQUALRR

Talento_ano XII_ Novembro_Dezembro_2012 - 03

Por Deborah Soares, Andrey Silva, Mariana Rocha, Neymara Carvalho e Angelica Salviato

A Praia da Concha é um dos recantos mais procurdos da Barra do Jucu e ainda tem a tranquilidade preservada

AQUELE LUGAR

O que a Barra tem?

Desde a Ponte da Madalena ao ritmo do Congo, o balneário que fica a 15 quilômetros do centro de Vila Velha guarda as caracterís-ticas de uma antiga vila de pescadores e atrai turistas de todos os lugares por sua diversida-de cultural. Praias, rios, reservas ecológicas e a famosa moqueca capixaba são características marcantes de um bairro tranquilo e sossegado.

A Barra do Jucu é berço de alguns persona-gens famosos que fazem parte da história do Espírito Santo. Surfistas, cantores, pintores, escritores e jornalistas, que escolheram fazer parte da famosa ‘Barra’, são exemplos de diver-sidade cultural e social do lugar. Mas, afinal, o que motivou a escolha dessas pessoas por um lugar com cara de vila para viver e crescer?

Por ser um reduto de surfistas, que encon-tram ondas propícias para o esporte, a Barra acolhe muitos tipos de pessoas que a frequen-tam nos fins de semana para surfar e passam a

considerá-la uma segunda casa.A pentacampeã mundial de bodyboarder

Neymara Carvalho, fundadora de um projeto social que também funciona na Barra do Jucu, nasceu e cresceu na Barra e garante que o lugar é de suma importância para sua carreira. Se-gundo ela, através do Instituto Neymara Car-valho é possível contribuir para a formação de novos profissionais.

“O instituto atende cerca de 80 crianças, duas vezes por semana, e elas recebem trata-mento odontológico, aprendem outras línguas e têm um educador físico que faz acompa-nhamento rígido. É um orgulho tratar essas crianças. Espero que essa nova geração consiga alcançar seus objetivos”, diz Neymara.

No início, a Barra passou a ser procurada por pessoas que pretendiam viver dentro de um modelo alternativo de sociedade, por se-rem amantes da natureza e da liberdade. O cantor Renato Casanova, vocalista da banca CASACA, é um dos maiores representantes da música do estado e em especial da Barra do Jucu. Ele fala da sua admiração pelo lugar e diz que sua história é tão bonita quanto a beleza que se vê logo ao chegar.

“Acho que o motivo dos artistas virem pra cá e descobrirem novas coisas com as pessoas que aqui nascem e concentram-se, torna a Barra forte neste quesito. Fora daqui, vêm os “olha-res” que fazem com que o bairro seja muito

influente em distribuir cultura para o mundo com essa formação artística”, diz Casanova.

No balneário com o ar mais brejeiro do Es-pírito Santo, o clima bucólico e a simplicida-de do lugar e das pessoas são retratados por crianças soltando pipa nas ruas, garças voando ao fim da tarde em direção à Reserva de Jacare-nema e pescadores voltando com seu sustento. Nos muros das casas, pinturas do artista local conhecido como Natural, revelam toda a graça do lugar, que encantou até Martinho da Vila, que encontrou inspiração para compor a músi-ca Madalena em homenagem à Barra.

O escritor e artista plástico Kléber Galvêas diz sentir saudades de quando a Barra era mais bonita e pouco frequentada. “Eu e minha fa-mília viemos para a Barra quando eu tinha 7 anos e o que me encantou foi a paisagem maravilhosa de antigamente. Eu fiquei des-lumbrado com a praia, que antes era cheia de salsa da praia e cipó, as casas simples e as ruas gramadas”.

Kléber ainda explica o motivo de preferir a ‘antiga Barra’. “O que o Estado tinha de boni-to foi deixado de lado. As praias, a proximida-de com as montanhas, tudo foi se acabando. O Governo destruiu a identidade que a Barra do Jucu tinha. Os rios estão poluídos e o minério de ferro prejudica a saúde e o meio ambiente, mas ninguém enxerga isso. Eu tenho vontade de preservar, mas não posso fazer muita coisa”.

Música

BarraCasaca

Do alto do morro da ConchaMe sinto no céu e posso enxergarA menina Neymara princesa nativaNa areia do marMoqueca de peixe no almoçoÉ pro dia começarE a galera do surf mandou um recadoMandou te chamar

Como é bom te verQuero te levarTem que conhecerO congo da Barra (2x)A vida noturna é maneiraLá no gueto é pura adrenalinaLá no Rony rola rock and rollNo aloha onde tudo terminaTem reggae lá no movimentoFim de ano tem São BeneditoCarnaval é surpresaAgradeço a Deus por esse paraíso!

Foto: Andrey Silva

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O Portal da Transparência do Governo do Espírito Santo disponibiliza informações sobre gestão e gastos públicos

Por Barbara Becalli, Eugênio Donadia, Gessika Ávila, Jessica Freitas e Lia Menegaz

ACESSO À INFORMAÇÃO

Portal da Transparência: a informação para todos

Direito previsto pela Constituição, o acesso à informação já está disponível para grande parte dos brasileiros. A Lei nº 12.527, intitu-lada como Lei de Acesso à Informação, de 18 de novembro de 2011, garante ao cidadão o direito de saber onde os recursos públicos são aplicados, trazendo consigo o princípio de que o acesso é a regra e o sigilo, a exceção.

A Lei estabelece que os pedidos de informa-ção do cidadão sejam respondidos pela Admi-nistração Pública por meio de procedimentos, normas e prazos para que se processem os pe-didos de informação.

O acesso aos dados informativos, como do-cumentos, arquivos e estatísticas, contribui para a consolidação da democracia, fazendo com que se fortaleça a capacidade dos indiví-duos de garantir sua efetiva participação na to-mada de decisões que os envolve. “Eu acredito que, com a lei, estamos dando mais um passo para a criação de um sistema de integridade, onde teríamos um conjunto de leis funcionan-do a favor da função das instituições públicas: servir ao interesse da sociedade e garantir aos cidadãos todos os seus direitos”, afirma Rafael Simões, presidente da Transparência Capixaba e professor da UVV.

Reconhecido cada vez mais como um direito

A informação pública era inacessível

O brasileiro possui o direito ao acesso à informação, mas não usa a seu favor. Isso decorre de uma construção histórica, na qual o poder público foi, por muito tempo, inacessível , o que levou o cidadão a se sen-tir inferiorizado em relação a esse mesmo poder. A doutora em Educação Gilda Car-doso fala sobre os motivos do desinteresse por informação e se é possível reverter o mau hábito presente na cultura do Brasil.

Talento – O brasileiro possui a ferra-menta para a informação, mas, muitas vezes, não a utiliza. É possível mudar essa característica, por meio da educação?

Gilda Cardoso – Sim, apesar de ser um processo lento e muito complexo, sobre-tudo entre os educadores. A cultura do sigilo, o corporativismo profissional e a centralidade da figura do docente no pro-cesso pedagógico são elementos que tor-nam o professor impermeável às questões relativas à transparência quanto ao seu trabalho, por exemplo. Por isso, é preciso que os professores recebam formação con-tinuada numa perspectiva democrática.

Talento – De que forma se trabalha a informação pública dentro das escolas, já que é um direito constitucional?

Gilda Cardoso – Ainda não se trabalha e, quando o aluno, o pai ou outro cidadão solicita informações sobre a gestão peda-gógica e financeira de escola de educação básica e de instituições públicas de ensino superior, ou mesmo informações mais tri-viais, isso é tratado, na maioria das vezes, como um ataque PESSOAL ao grupo da escola ou ao seu gestor.

Talento – Existe espaço, hoje, no currí-culo escolar, para trabalhar direitos, deve-res e cidadania?

Gilda Cardoso – Sempre existe espaço para o novo, mas é preciso passar de um imaginário e de uma cultura marcados por relações hierárquicas a relações mais horizontais entre Estado, seus agentes, (funcionários) e população.

Talento – A educação formal está dis-tante dos assuntos ligados ao dia a dia e da formação que ocorre fora da escola?

Gilda Cardoso – Infelizmente, na maio-ria dos casos, a educação ainda é livresca e pouco articulada ao desenvolvimento da cidadania e do Estado Democrático de Direito no Brasil.

em várias partes do mundo, o acesso à infor-mação pública leva o cidadão a um caminho com melhores condições de conhecer e acessar outros direitos essenciais, como saúde, educa-ção e benefícios sociais, o que faz com que estes se tornem, então, cidadãos bem informados.

O Portal da Transparência do Governo Fede-ral (www.portaldatransparencia.gov.br) está no ar desde novembro de 2004 e foi uma inicia-tiva da Controladoria-Geral da União (CGU), colocando a transparência como método contra a corrupção, e tendo em vista exercer o controle social. Nele, os brasileiros encon-tram informações como: transferências de re-cursos, gastos do Governo Federal, receitas, convênios, informações dos servidores, entre outros recursos presentes no site. Até o dia 24 de agosto, foram registrados 1.363.243.974 informações disponíveis para acesso.

Foto: Gleison Nascimento

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ACESSO À INFORMAÇÃO

A transparência no Espírito SantoNo Espírito Santo, com o intuito de divulgar

dados e informações da gestão governamental do mandato de Renato Casagrande, o Gover-no Estadual criou o Portal da Transparência, para que a sociedade possa participar e acom-panhar as aplicações dos recursos públicos. Ele foi lançado em 2009, a partir da edição da Lei Complementar Federal nº 131/2009, com média diária de 250 acessos.

Em março deste ano, o Portal sofreu pro-funda reformulação, tendo a média diária de acessos elevada para 6 mil e, a partir de julho, para 40 mil acessos diários após a divulgação dos salários dos servidores públicos (sendo esta informação a mais acessada no site). “A Lei permite que o cidadão conheça de forma efetiva como é estão se operando os gastos do Governo. Existe o preceito da eficiência, onde o dinheiro público deveria ser gasto de forma correta, e essa ênfase dada à divulgação de salários, que é um equívoco, acaba fazendo parte do princípio da publicidade, presente na Constituição”, comentou Rafael Simões.

Após a reformulação, o novo modelo venceu o Prêmio CONIP de Excelência em Inovação na Gestão Pública, na categoria Participação e Transparência. A premiação ocorreu em São Paulo e, na ocasião, foram apontadas as ten-dências de uso de tecnologias na gestão pú-

blica. O evento é conhecido como o principal fórum de inovação nacional.

As consultas no Portal estão disponíveis no formato de tabelas e de gráficos e o cida-dão conta ainda com um glossário contendo expressões simplificadas, com explicação de todos os termos utilizados no conteúdo das consultas. O Portal também é acessível aos portadores de necessidades especiais, disponi-bilizando ajustes de tamanho de fonte, atalhos de teclado, mudança de contrates de cores e

integração com leitores de tela, sendo assim acessível até mesmo para deficientes visuais.

Além disso, o Portal interage continuamente com os cidadãos por intermédio das redes so-ciais. A maioria das consultas é atualizada dia-riamente. Algumas, entretanto, são atualizadas na virada do mês, sempre com os dados do mês anterior. Outras informações podem ser obti-das em “Perguntas Frequentes”. O objetivo é dar maior transparência aos atos administrati-vos e contribuir para o combate à corrupção.

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Talita e Eli, na foto com o Coronel Fiorido (E), conseguriam trabalho e a guarda dos filhos após sair da prisão

Quando uma pessoa é presa, a notícia que se lê é sobre as condições precárias das penitenci-árias, sobre o crime cometido, sobre os abusos da lei. Pouco se fala sobre a família dos deten-tos. Quando se encontram? Como funciona o relacionamento? O que acontece quando uma pessoa é solta? É preciso compreender antes como funciona o sistema prisional.

Nos últimos anos, a situação carcerária en-frentou críticas em relação aos direitos huma-nos, devido ao tratamento dado aos presos e à superlotação dos presídios. Os detentos se prendem às esperanças de conseguirem ir para o regime semiaberto e conquistarem um pou-co da liberdade perdida.

O chamado regime semiaberto é aquele no qual o preso recebe leves benefícios como cur-sos profissionalizantes e o direito de trabalhar fora ou dentro do presídio ao qual encontra--se vinculado, desde que tais atividades sejam diurnas, devendo passar a noite recluso. Mas, independente do regime, todos sentem falta da liberdade e da família.

A saudade só é quebrada nos dias de visita. Cada preso pode receber no máximo dois visi-

tantes por vez, que devem ser parentes de pri-meiro ou segundo grau, além de serem maio-res de 12 anos. Cada presídio pode definir até dois dias semanais para a visitação. Também cabe à penitenciária estabelecer o tempo de duração dessas visitas, que podem durar no máximo oito horas.

Em um país com aproximadamente meio milhão de presos, estima-se que apenas 30% são ressocializados. Os outros 70% retornam ao crime após cumprirem as primeiras penas. Por que é tão difícil dar a volta por cima? E como a esperança ainda permanece viva com este quase um terço dos que conseguem um novo rumo para trilhar na vida?

COMEÇAR DE NOVO Ter uma nova oportunidade de partir do

zero, reconstruir sua vida e escrever uma nova história para sua família não é tão simples. Para os egressos do sistema prisional não é uma tarefa fácil vencer o preconceito e con-seguir frequentar uma qualificação durante o período em que está recluso.

Vivemos em um país onde a desigualdade, por décadas, impôs a exclusão social, em que a criminalidade assumiu papel de grande des-taque, forjando o medo e uma cultura de vio-

lência, cuja mudança parece quase impossível. O crescimento desordenado da população e

as diferenças de oportunidades na sociedade produzem cada vez mais desvios de conduta que são punidos com a prisão. E a superlota-ção de vários presídios torna o dever da res-socialização uma realidade distante e difícil de ser alcançada. Porém, em uma atualidade em que políticas de Direitos Humanos estão na moda, o Governo vem incentivando pro-gramas de reinserção dos presos na sociedade, transformando-os em cidadãos aptos a convi-verem de forma harmônica e pacífica.

No Espírito Santo, 6,8 mil pessoas cumprem pena em regime fechado e/ou semiaberto. Esse é o número de pessoas que devem ser ressocia-lizadas e reinseridas na sociedade com a contri-buição do Poder Estatal.

UM CASO DE ESPERANÇAA vida, para a maioria dos detentos, segue

rumos diferentes. A ressocialização de um ex--detento depende não somente de sua vonta-de, mas do incentivo para que ele possa acredi-tar na sua reinserção na sociedade. O casal Eli Francisco de Oliveira, 44 anos, e Talita Zorai-de, 30 anos, é exemplo de egressos que tiveram a chance da ressocialização. Eles receberam o apoio necessário para recomeçarem suas vidas.

Talita é mãe de cinco filhos e ex-dependente química. Acusada de receptação (artigo 180), estava grávida do 5º filho quando foi detida e perdeu a guarda das crianças pela segunda vez. Pouco tempo depois, Eli Francisco também foi preso em Xuri pelo mesmo motivo. Eles per-deram as esperanças de viver uma vida normal e o direito de cuidar dos filhos.

O Coronel José Carlos Fiorido, presidente do grupo Espírita Idalinda de Aguiar (Institui-ção de Apoio aos ex-detentos) semanalmente faz visitas a presídios no Espírito Santo. Du-rante uma dessas idas, ele conheceu Talita e, a partir de então, passou a ajudá-la. Talita no início não acreditava nas promessas do Co-ronel, pois ele não era o primeiro a “querer” ajudá-la. Com o tempo ela foi conquistada.

Fiorido conseguiu um habeas corpus e ela foi solta em pouco mais de um mês. Hoje, ela tem uma casa, mora com os filhos e o marido, que foi solto após cumprir um ano de deten-ção. Desde o início, o Coronel Fiorido ajudou a família alugando uma casa para eles e pro-fissionalizando Talita, que hoje é cabeleireira e vai abrir um pequeno salão em sua casa. Ele também conseguiu um emprego para Eli.

Por Amanda Silveira, Davi Braga, Flavia Raiza, Hanna Sarte, Juliana Kuster

A história além da prisãoCOMPORTAMENTO

Foto: Flavia Raiza

Talento_ano XII_ Novembro_Dezembro_2012 - 07

Por Marcos Barcelos

COMPORTAMENTO

Em 1992, ocorreu a primeira conferência so-bre preservação do meio ambiente no Brasil, a ECO-92, que contou com autoridades de vá-rios países e um fato curioso e animador para a época: o discurso de Severn Cullis-Suzuki, uma canadense, que tinha 12 anos na época, dizendo que as autoridades não tinham a so-lução para o meio ambiente e que elas, ao me-nos, deveriam parar de destruí-lo.

Vinte anos depois, acontecia a Rio +20, que voltou a reunir representantes de várias nacio-nalidades para tratar do mesmo tema. Des-ta vez, pessoas de qualquer parte do mundo puderam opinar sobre o tema. Elas contaram com uma excelente ferramenta que democrati-zou o evento: as mídias sociais.

É foi justamente esse tema que os professo-

res do curso de Comunicação Social da UVV Bruno Franqueira e Gladson Dalmonech abordaram na Jornada Cultural, realizada no mês de outubro. No minicurso “Mídias sociais aplicadas à questão ambiental”, no dia 25 de outubro, eles falaram sobre o funcionamento das mídias sociais e mostraram que as pessoas buscam, através delas, visibilidade, criação de reputação e popularidade.

Os professores citaram como exemplo os candidatos às prefeituras do Brasil, que tenta-ram criar laços com a população por meio do Facebook e do Twitter. Também foram apre-sentadas estratégias para engajamento em mí-dias sociais, cases ligados à proteção do meio ambiente e vídeos feitos por organizações como o Greenpeace e S.O.S. Mata Atlântica.

Os professores destacaram ainda que as es-tratégias têm necessidade de ser multiplatafor-

Curso mostra poder das mídias sociais para o meio ambiente

Estímulo à sustentabilidade

As mídias sociais oferecem a possibilidade de que pessoas comuns participem de gran-des eventos, ainda que de forma indireta. Isso ocorreu, por exemplo, na Rio +20. Co-nheça algumas iniciativas na web que têm a sustentabilidade como tema.

Rebounty: este aplicativo de compra e venda aplica a sustentabilidade na reutiliza-ção de bens de consumo de maneira criativa, que são publicados para o comércio, como se fosse uma espécie de “mercado livre”. Seu lema é “One person’s trash is another’s tre-asure”, que significa “O que é lixo pra uma pessoa é tesouro para outras”.

eco-Drive: é uma página da empresa con-cessionária italiana Fiat, que busca ajudar o motorista a utilizar o carro de maneira susten-tável. Funciona da seguinte maneira: deve-se conectar um pendrive no Fiat, com o chamado “Sistema Blue&me”. Ele vai registrar e analisar o modo de dirigir do usuário, através de da-dos de consumo de combustível e redução de dióxido de carbono (CO2). Os “reprovados” podem assistir a vídeos com dicas de direção sustentável nesse site.

GoodGuide: este é um aplicativo muito interessante, pois ele destaca a importância da nova mídia na influência do consumo, além de mostrar aplicativos ligados ao meio ambiente. Ele é um guia com 70 mil itens

que informam sobre o trabalho das empresas e os produtos aplicados nos quesitos meio ambiente e responsabilidade social, objeti-vando ajudar o consumidor a tomar decisões que reflitam suas preferências e valores.

Manual de etiqueta sustentável: possui várias categorias: reciclagem, energia, água, consumo e cidadania. Seu objetivo é ensinar maneiras que garantam um futuro sustentá-vel. Empresas como Bunge, Camargo Cor-rea e Abril apoiam esta iniciativa.

Projeto Noah: objetiva catalogar espécies desconhecidas com a ajuda das pessoas, ue podem fotografar pelo smartphone essas ra-ridades e contribuir com pesquisadores, que podem recorrer ao site para pedir ajuda.

mas e abertas ao diálogo, além de oferecerem possibilidade de compartilhamento e não ha-ver fronteiras. Eles mostraram que essas ferra-mentas possuem grande alcance para a difusão de causas dignas de discussão na sociedade.

Ao final, Foi divulgado o projeto “Com-partilhar é Preservar”, que tem como objetivo produzir conteúdos de comunicação, como vídeos e fotografias, além de desenvolver pro-dutos de mídias sociais com fins de preserva-ção ambiental do Parque Estadual Paulo Cesar Vinha, em Guarapari.

Segundo Franqueira, o projeto surgiu a patir de um grupo de pesquisa formado por alunos de pós-graduação do curso de Publicidade, que consideraram importante trabalhar as mídias sociais, por se tratar de algo inovador, junto com a temática da sustentabilidade, que tende a ganhar mais visibilidade.

SURGIMENTO A propaganda

eleitoral gratuita surge nas

emissoras de rádio e TV, depois

de um projeto do deputado

federal Adauto Lúcio Cardoso.

CURRICULO Os modelos das

propagandas são alterados pela

ditadura e, então, o ditador de

plantão muda a lei. Os candidatos

não falam, apenas são

apresentados em rede – nacional,

estadual ou municipal – através de

seus retratos, para evitar o debate

As grandes redes de

tevê, como a Globo, se apropriam

da "democracia", se consideram

maiores que a democracia e

transformam as eleições num

show, onde os candidatos debatem

entre si.

DEBATE COMÍCIO/SHOWMÍCIO Os

candidatos realizam comícios,

que são uma espécie de reunião

pública, em que diversos

candidatos, da mesma coligação,

fazem discursos para uma

grande plateia de eleitores.

INTERNET EM GERAL Barack

Obama fez da internet um meio

decisivo para conquistar grande

parte do seu eleitorado. A utilização

da internet foi considerada uma

estratégia inovadora e de sucesso.

REDES SOCIAIS Em 15 de março,

o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

decidiu pela ilicitude do envio de

mensagem por meio do Twitter

antes do dia 6 de julho do ano da

eleição, desde que nela o

candidato faça expressa menção

ELEIÇÕES BRASILEIRAS1959 1974

19802000

2008 2012

08 - Talento_ano XII_ Novembro_Dezembro_2012

Por Lícia Mendonça, Larissa Tavares, Marina Denadai e Vinicius Rangel

DEMOCRACIA

Em época de eleições, os candidatos preci-sam mostrar de alguma forma para seus elei-tores suas propostas de governo. E o uso de ferramentas da internet, em especial das redes sociais, faz parte da rotina dos candidatos. No processo eleitoral, a internet permitiu mais in-teratividade nas campanhas e também maior compartilhamento das informações.

Uma pesquisa realizada online pelo Ibope, em fevereiro, mostrou que 6,5 milhões de bra-sileiros têm acesso à internet, no local de tra-balho ou em casa. Nas redes sociais, há algo próximo de 43,9 milhões de usuários no País. Alguns políticos veem a internet como uma forma barata e eficaz de fazer propaganda, porém, muitos ainda acreditam que o boca a boca é que faz a diferença na hora de o eleitor escolher em quem votar.

A professora da Universidade Vila Velha (UVV) Tânia Abreu explicou que a internet é um meio barato enquanto equipamento. Para fazer um bom trabalho profissional, no entan-to, é preciso ter o suporte de uma boa equipe, que precisa entender todo o potencial da in-ternet e também de estratégias para alcançar os objetivos da campanha. “Não basta colocar o site no ar ou as informações e esperar que os eleitores acessem. É preciso criar estímulos para isso”, afirmou a professora, que é coor-denadora do curso Comunicação e Marketing Político-Eleitoral da UVV.

Nas últimas eleições municipais, desde o dia 6 de julho, os candidatos foram autorizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a fazer campanha na internet. Pela resolução do TSE, foi permitido o uso de sites dos candidatos, do partido ou da coligação com o endereço eletrônico registrado no tribunal. A resolução vedou a veiculação de qualquer propaganda paga nesses portais e permitiu a propaganda nas redes sociais desde que coordenadas pelo candidato, partido ou coligação. Continuaram proibidos os “showmícios”, a distribuição de brindes, as propagandas em outdoors, pôster, viadutos ou paradas de ônibus.

Campanha na internet entre a eficácia e o profissionalismo

Info

gráfi

co:

Viní

cius

Lira

Talento_ano XII_ Novembro_Dezembro_2012 - 09

DEMOCRACIA

Ana Clara Mathias, Anária Loss, Erika Piskac e Tais de Hollanda

No dia 7 de janeiro de 1789 acontecia o pri-meiro voto popular no Brasil, porém o voto democrático aconteceu somente no século XX. O ato de votar não é apenas uma ativida-de obrigatória, ele representa muito mais que isso, é o exercício da cidadania garantindo a democracia de um país. Mas o que é essa tal democracia e que diferença fazemos no meio disso tudo?

assim? Ter emprego, comida, moradia e saúde em dia, para alguns, é o suficiente. Acreditam que está tudo bem e ficam por isso mesmo, sem acompanhar as mudanças do país.

O que se deve ter em mente é que democra-cia não está ligada apenas ao voto e tampouco restrita ao âmbito político-partidário. Hoje, grupos e comunidades se unem pela luta dos direitos e por um “novo” olhar sobre a partici-pação política. Por meio de um trabalho edu-cativo, informativo e de conscientização políti-ca, esses grupos estimulam a população não só a votar, como também a participar ativamente durante todo o mandato do candidato eleito.

O distanciamento entre os governantes e os governados é a negação da democracia. É possível que o cidadão nem perceba que, quando ele procura “viver em paz”, sem intrometer-se nos temas públicos, a política acaba se tornando um campo exclusivo dos “políticos profissionais”. Como estão distantes do

povo, esses políticos tendem a tomar medidas tecnicistas, orientadas por critérios técnicos, sem levar em consideração as opiniões, os interesses e as vontades da população. No dia a dia, o cidadão não se dá conta

disso. Só percebe quando os políticos baixam alguma medida que realmente o prejudica.

Francis Wolff, professor e filósofo francês, em entrevista ao Jornal Senado

De forma bem simplória, a democracia é um regime de governo no qual o poder de decisões importantes está com o povo, por intermédio de representantes, escolhidos através de elei-ções diretas. O grande desafio é identificar e escolher o melhor candidato, que se compro-meta e defenda os interesses coletivos. Daí a importância do voto!

Mas não é tão simples assim. O descrédito da população brasileira em relação às eleições vem, sobretudo, dos incessantes abusos polí-ticos. Mas deve-se também levar em conside-ração que a cultura do comodismo e do indi-vidualismo fomentou esse desinteresse. Como

“”

Afinal, por que queremos essa tal de democracia?

Fotos: Ana Clara Mathias

10 - Talento_ano XII_ Novembro_Dezembro_2012

ARTE E CULTURA

Por Lícia Mendonça

Cor e vida aos espaços mortosNa mão, latas de spray; na cabeça, uma ideia

para transformar um lugar que antes estava “morto”, criando novas formas e cores, provo-cando um olhar das pessoas para a cidade. As-sim são os grafiteiros, que modificam o espaço urbano com seus desenhos, e o graffiti, uma forma criativa e contemporânea de manifesta-ção artística em espaços públicos.

A arte está ligada a vários movimentos, em especial ao Hip Hop. Por meio desse movi-mento, os artistas expressam a opressão que a humanidade vive, principalmente os menos favorecidos. Com isso, eles mostram essa reali-dade na rua, através dos desenhos. Hoje, o gra-ffiti está incorporado de tal forma à vida urba-na que já faz parte da identidade das cidades.

No Brasil, essa arte foi iniciada no estado de São Paulo, no final da década de 1970. Além de força, o movimento ganhou características próprias do povo brasileiro e hoje é reconheci-do como um dos melhores grafites do mundo.

Saindo dos limites do Espírito Santo e che-gando a Petrópolis, no Rio de Janeiro, cidade fundada por Dom Pedro II, há várias manifes-tações dessa arte. Na cidade imperial, é possí-vel encontrar um dos pioneiros da cidade na arte de grafitar.

Rodrigo Santana, 33 anos, fez inúmeras pin-turas comerciais e pessoais, além de ser respon-sável por oficinas para crianças e jovens de vá-rias faixas etárias. Para Rodrigo, é difícil definir o que o graffiti representa em sua vida, pois desde criança sempre gostou de desenhar.

Quando descobriu a possibilidade de pintar e fazer novos efeitos com latas de spray encon-trou no graffiti uma nova forma de expressar sua arte. Hoje em dia, além de todo o prazer e satisfação que tem quando pinta e de quan-do está envolvido em algum projeto, encontra nessa expressão uma boa forma de comple-mentar sua renda com um trabalho que ama fazer. “Posso afirmar que o graffiti é uma di-versão disfarçada de trabalho!” completa.

De volta ao Espírito Santo, também pode-mos encontrar manifestação dessa arte. Um dos projetos mais recentes que encontramos

pela cidade de Vitória é o “Pontos da Arte”, que desde o dia 24 de agosto modifica os pon-tos de ônibus da cidade, trazendo mais alegria e menos poluição visual aos lugares. Desen-volvendo também uma maior consciência de preservação do espaço público, e assim, talvez menos pontos de ônibus sejam depredados, as-sim como outros lugares da cidade.

O projeto “Pontos da Arte” tem como obje-tivo principal criar um espaço de convivência seja ele por palavras, com seus poemas, canções e ou pelos seus desenhos (composições abs-tratas, alusões a temas do cotidiano ou obras famosas, representações divertidas). Além de divulgar os trabalhos de outros jovens e ado-lescentes que participam de oficinas de graffiti em projetos sociais de Vitória.

Os artistas do projeto criam um novo tema a cada ponto de ônibus, com novas mensagens. Algo que possa ser apreciado pelas pessoas e que também gere inquietações, pensamentos, sorrisos e reflexões sobre o que está desenhado.

Pichação x GraffitiApesar de reconhecido como arte, o graffiti

ainda causa polêmica, pois algumas pessoas o confundem com pichação. Saiba que os dois possuem diferenças, sim. O objetivo principal de um pichador é colocar seu nome no local mais alto ou de difícil acesso, sem nenhum

objetivo comercial ou social. Trata-se de uma competição urbana sem muitas regras onde há apenas o “respeito” e o “reconhecimento” de alguns praticantes do mesmo ato.

Já o graffiti, apesar de ter nascido na rua como uma forma de protesto e de expressão, tem uma maior preocupação estética e social, envolvendo com sua pintura uma mensagem ou recado a ser passado e todo um contexto social e até mesmo profissional. O grafite é re-alizado em espaços autorizados.

Fotos: Lícia Mendonça

Talento_ano XII_ Novembro_Dezembro_2012 - 11

Desafio movimenta UVVARTE E CULTURA

Por Isis Drumond

“Trabalhadores Invisíveis”, do estudante de Jornalismo Rafael Laghi, foi o vencedor na categoria Ensaio da 7ª edição do Desafio Fo-tográfico e-dita Foto, que teve solenidade de premiação realizada no dia 8 de novembro, no Cineteatro da UVV, no Campus Boa Vista, em Vila Velha. No trabalho, Rafael deu visibilida-de a trabalhadores que fazem parte do nosso dia a dia e que não são vistos, como operários da construção civil e garis. O vencedor no Júri Popular foi o ensaio “A cidade viva e seus di-álogos”, produção dos alunos de Jornalismo e Fotografia, Patrick Lurentt e Juliano Koscky.

Além disso, quatro trabalhos foram contem-plados com Menção Honrosa. Na categoria Ensaio, Fabrício Saiter foi homenageado pelo trabalho “Zé da Adega”; Patrick Lurentt e Ju-liano Koscky receberam menção por “A cidade viva e seus diálogos”; Gisele Ribeiro e Samara Mattoso foram contempladas com “Cidade Porto”. Já na categoria Stop Motion, o home-nageado foi o trabalho “Uma delícia de recei-ta”, de Felipe Chiesa, estudante de Publicidade e Propaganda.

Este ano, o Desafio premiou pela primeira vez a categoria Edição, nas modalidades Ensaio e Stop Motion. “A cidade viva e seus diálogos”, ganhador do júri profissional, e “Vitória Rush Hour”, de Gustavo Vial Martins, estudante de Fotografia, foram os ganhadores.

Após a exibição dos trabalhos, os convidados participaram de um bate-papo com o publici-tário Paulo Silva e o fotógrafo Hid Saib Neto, ex-alunos da UVV. A discussão girou em tor-no da importância de não deixar os trabalhos guardados no computador. “É preciso expor tudo o que você faz”, disse Hid. O bate-papo foi mediado pelo coordenador do curso de Jor-nalismo, Rodrigo Cerqueira.

O Desafio Fotográfico é produzido des-de 2006 sob a coordenação da professora de Fotografia e Fotojornalismo Elizabeth Nader. O objetivo da mostra competitiva é motivar a produção de audivisuais entre os alunos da universidade que tenham em sua grade curri-cular pelo menos uma disciplina de Fotogra-fia. Neste ano, foi feito um concurso entre os alunos dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Fotografia para a escolha do nome do evento.

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Os vencedores do Desafio Patrick Lurentt e Juliano Koscky (1) e Rafael Laghi (3) ao lado da professora coordenadora Elizabeth Nader. Todos os participantes contemplados no Desafio e-dita Foto 2012 (2).

12 - Talento_ano XII_ Novembro_Dezembro_2012

ESPORTE

Esquiva e Yamaguchi: eles conquistaram o Brasil

Filhos do consagrado Adegard Câmara Flo-rentino, conhecido como Touro Moreno, Es-quiva e Yamaguchi Falcão desde a infância já demostravam interesse pelo esporte, muito embora se espelhassem no pai. Os lutadores, quando criança, treinavam na academia im-provisada no quintal de casa, onde esmurra-vam uma bananeira para aprimorar socos, dando seus primeiros passos em busca de suas consagrações como atletas de alto nível.

Não demorou muito para que eles se tor-nassem referência no esporte. Mesmo vindos de uma família humilde, os irmãos Falcão conquistaram resultados expressivos no decor-rer de suas carreiras. Esquiva foi medalista de bronze nos Jogos Sul-Americanos de 2010, em Medellín, e mais uma vez medalha de bronze no Mundial Amador de 2011.

Já Yamaguchi classificou-se em 1º lugar no Campeonato Brasileiro de Boxe; foi 3º coloca-do no Campeonato Mundial Juvenil de Mar-

rocos; 1º colocado na Copa Olímpica de Porto Rico; 2º colocado no Torneio Pré-Olímpico das Américas; e alcançou a medalha de pra-ta nos Jogos Pan-Americanos em Guadalajara onde enfrentou Julio La Cruz Peraza e venceu.

Após não obter sucesso em competir nos Jo-gos Olímpicos de Pequim, Yamaguchi Falcão planejava abandonar o boxe e se dedicar ao MMA, caso não competisse nos Jogos de Lon-dres, deste ano. Mas, para felicidade da família Falcão, dos capixabas e do Brasil, Yamaguchi não apenas lutou, mas fez história no boxe brasileiro juntamente com seu irmão, imorta-lizando o Clã Falcão.

Os pugilistas roubaram a cena nas Olim-píadas de Londres. Esquiva participando da categoria peso médio (até 76 kg), vencendo seus adversários nas oitavas de final e quartas de final, e Yamaguchi na categoria dos meio pesados (-81kg) vencendo seus adversários até

as quartas de final. Com isso, ele garantiu uma medalha olímpica, a de bronze, feito que um brasileiro não conseguia desde 1968, com Ser-vílio de Oliveira.

Diferente de Ymaguchi, Esquiva chegou na semifinal, onde disputou a medalha de ouro com o japonês Ryota Murata. Em uma luta complicada e com lances polêmicos, Esquiva ficou com a prata e foi prejudicado pela arbi-tragem, que puniu o atleta no último round com a perda de dois pontos que lhe dariam a vitória. Mesmo assim, o capixaba garantiu a melhor campanha do boxe brasileiro nos jogos olímpicos de todos os tempos.

Mas a prata não lhe tirou o brilho dourado. Além de melhor campanha olímpica da his-tória, o lutador teve a honra de ser o porta--bandeira do Brasil durante a cerimônia de en-cerramento dos Jogos Olímpicos de Londres.

Leis de incentivo ao Esporte

O esporte é uma das grandes paixões nacio-nais. Ultimamente, está em constante cresci-mento e tem despertado um enorme interes-se por alguns segmentos da nossa sociedade. A maciça exposição na mídia, com aumento dos programas esportivos e grande divulgação de campeonatos - como as Olimpíadas -, têm atraído grande interesse dos estados e de em-presas, através das leis de incentivo ao esporte, em patrocinar e investir nos atletas e nas futu-ras revelações do esporte.

O Estado do Espírito Santo oferece algumas

bolsas que auxiliam o desenvolvimento dos atletas capixabas. A Secretaria de Estado de Es-portes e Lazer (Sesport) atua em parceria com a iniciativa pública e privada, desenvolvendo políticas públicas de inclusão ao esporte e qua-lidade de vida, além de qualificar o esporte capixaba, incentivando os atletas de base e de alto rendimento a levarem o nome do Estado ao topo dos pódios, em competições nacionais e internacionais.

O secretário de Esportes do Estado, Van-derson Alonso Leite, acredita que é possível o crescimento do esporte capixaba, desde que haja profissionalismo na organização e admi-nistração de nossas competições, clubes, fede-rações e de nossos atletas.

Dentre os incentivos oferecidos pelo Esta-do, pode-se destacar o “Bolsa Atleta”, que tem como finalidade incentivar atletas de alto ren-dimento para representar o Espírito Santo em competições oficiais e que estejam em plena

atividade esportiva, com reconhecidos índices e classificações em campeonatos nacionais e internacionais.

Outro importante incentivo é o programa “Compete Espírito Santo”, que fornece pas-sagens aéreas nacionais e internacionais aos atletas capixabas de alto rendimento. Outros projetos também têm grande importância, pois são oferecidos para crianças e adolescente, incentivando a descoberta de novos talentos, formando futuros atletas e dando oportuni-dade aos alunos a prática esportiva aliada à educação. “Esporte pela Paz” e “Campeões de Futuro” são alguns desses projetos oferecidos em todo o Estado do Espírito Santo.

Apesar das várias formas de incentivos no Estado, ainda é preciso melhor divulgação. O Espírito Santo tem sido considerado celeiro de atletas, que, muitas vezes, não conseguem me-lhor visibilidade por falta de conhecimento e de investimentos das empresas.

“... é possível o crescimento do esporte capixaba, desde que haja profissionalismo na organização e administração de nossas competi-

ções, clubes, federações e também de nossos atletas”

Há alguns anos, os irmãos Falcão tinham como sparring uma bananeira no quintal. Hoje, fazem parte da história das Olímpiadas de Londres

Por Bruno Monteiro, Mariana Scardua, Matheus Bolognini e Vitor Moreno

ESPORTE

Lutar e criar são as vocações de Touro Moreno

Touro Moreno nasceu com duas vocações: lutar e fazer filhos. Esta última vocação, cum-priu com muita criatividade na hora de nome-ar os 18 rebentos, fruto de três casamentos, sendo a metade com Maria Olinda, com quem vive há mais de 30 anos.

Nos últimos meses, o pugilista contou para o Brasil inteiro a sua história de superação: ca-sou-se com Maria Olinda para que ela lhe des-se 11 filhos. Os dois primeiros morreram e dos nove que restaram, criou os seis homens para as lutas. Sem apoio e vivendo das aulas e lutas de exibição, passou a vida carregando os filhos de um lugar a outro, no entorno de Vitória, sendo sempre despejado por atraso de aluguel.

Em 2001, ganhou de um fã a casa de cinco cômodos onde vive, no fundo de um terreno

de mais de 500 metros quadrados em um bair-ro afastado da costa na Praia de Jacaraípe, na Serra, região metropolitana da Grande Vitória. A casa, que era de tijolo à vista, ganhou reboco e piso na cozinha no ano passado, com o pou-co dinheiro que Esquiva e Yamaguchi ganha-ram lutando no México, na liga semiprofissio-nal World Series of Boxing (WSB).

“Tive que passar fome para criar meus filhos, mas hoje a minha sensação é de muita felici-dade. Sabe a sensação de tirar uma roupa suja? Parece que hoje eu a troquei por uma roupa limpinha, passadinha”. Essa afirmação resume o sentimento de Touro Moreno ao ser pergun-tado como se sente agora que seus dois filhos se tornaram uma lenda do boxe brasileiro, se-guindo com orgulho o caminho do pai.

No dia 16 de agosto, Esquiva e Yamaguchi Falcão realizaram outro sonho do paizão Tou-ro Moreno. Em agradecimento às duas meda-lhas conquistadas nas Olimpíadas de Londres deste ano, o “Clã Falcão” desfilou pelas ruas da Grande Vitória em um carro do Corpo de Bombeiros. Falcão diz que sonhava com esse momento desde os anos de 1950.

Logo depois desse passeio pela cidade, os ir-mãos Falcão foram recebidos pelo governador do Estado, Renato Casagrande, para mais uma homenagem. “É um orgulho para nós e um agradecimento ao desempenho deles, porque colocaram o Espírito Santo no pódio, em um dos lugares mais desejados pelos esportistas do mundo todo. Eles têm nosso reconhecimento, nosso orgulho, nosso carinho e, principalmen-te, nosso apoio, através do Bolsa Atleta Olím-pico”, disse o governador do Estado ao receber os medalhistas olímpicos no Palácio Anchieta.

Medalha Olímpica, passeio no carro do Corpo de Bombeiros, ser recebido pelo go-vernador do Estado são apenas algumas das inúmeras conquistas de Touro Moreno. Mas quem disse que ele quer parar por ai?! Para as Olimpíadas no Brasil, ele diz já ter uma nova safra de lutadores. “Já tenho o Luciano, o Es-tivan e o Esquiva. Acho que o Yamaguchi, nas próximas Olimpíadas estará no profissional ou no MMA.” Resta agora esperar para ver o que o Sr. Falcão vai aprontar nos ringues de 2016.

Não me lembro bem quando, acho que foi em 1950, eu vi um carro do Corpo de Bombeiros desfilando em Santo Antônio com dois atletas, Arry e Arruela, e até hoje eu tinha vontade de que isso acontecesse comigo. Para minha felicidade, está acontecendo em dose dupla, com meus dois filhos. Eu apenas espero que a cidade os receba com muita alegria,

que é o que eu sinto nesse momento.

Adegard Câmara Florentino, pugilista de 75 anos, mais conhecido como Touro Moreno, é um veterano e lendário personagem do boxe brasileiro que “lutou” para fazer com que seus filhos Esquiva e Yamaguchi Falcão

realizassem o sonho de disputar uma Olimpíada

Talento_ano XII_ Novembro_Dezembro_2012 - 13

Ilustração: Saturnino de Oliveira

14 - Talento_ano XII_ Novembro_Dezembro_2012

Por Alan Thomy, Bárbara Treickel e Jaime Mota

ESTILO DE VIDA

Alternativo sim, por que não?

A realidade do brasileiro, nos dias de hoje, é trabalhar nas mais variadas atividades para manter o funcionamento do País. Mas existe um grupo de indivíduos, um tanto irreverente, que foge dessa realidade e adere a um estilo de vida diferente. Muitas vezes confundidos com os hippies dos anos 60, eles estão nos grandes centros sobrevivendo da venda de artesanato.

Vindos de várias partes do País, a maioria de Minas Gerais, os alternativos se concentram em locais como o Campus da Universidade Federal do Espírito Santo, o Calçadão da Praia da Costa e a Feira de Artesanato da Praça dos Namorados. Com dificuldades em criar raízes, eles são considerados nômades do século XXI e têm no artesanato sua única fonte de renda.

Ana, uma mineira que vive no ES e tem seu filho matriculado e frequentando a 2ª série do ensino fundamental, diz que nunca trabalhou regularmente e que, apesar de ter completado o ensino médio, não se imagina presa a um emprego fixo. Filha de uma mãe que aceita mas não compreende suas escolhas, Ana acredita que a liberdade é a essência da vida e afirma: “Se as pessoas fossem para o trabalho fazendo o que gostam iriam se divertir de verdade”.

Já o casal Nino e Grazi, ele pernambucano e ela mineira, está há um ano na Grande Vitória e não vê a hora de partir e continuar desbra-vando o Brasil. Eles já estiveram em 22 estados

e consideram Manaus a melhor cidade para vi-ver. Em busca de conhecimento e cultura, eles dizem tentar fugir do sistema. O casal optou por essa vida à margem da sociedade e diz se incomodar muito com o preconceito.

As peças artesanais de Nino e Grazi são fei-tas, segundo eles, com matéria-prima de cada região do País, como as pedras de Minas e os dentes de tubarão do Nordeste. Grazi, grávida do segundo filho, se diz inconformada com o modo com que as pessoas olham para o estilo de vida que eles levam. “A galera não admira o artesanato; a galera vê a gente como mendigo. Tá faltando cultura na mente da galera”.

A maioria dos alternativos tem residência fixa. Embora sejam comparados com morado-res de rua, eles são indivíduos como quaisquer outros e, apesar da irreverência das roupas, das tatuagens e dos dreads, demonstram conheci-mento, cultura e sabedoria.

Muitas vezes confundidos com os hippies dos anos

60, eles estão nos grandes centros sobrevivendo da

venda de artesanato

Foto: Bárbara Treickel

Talento_ano XX_ Março-Julho_2012 - 13

Por Gisele Ribeiro e Samara Mattoso

ENSAIO

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Um olhar sobre o Porto de Vitória

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