ISSN 2176-1396
TECNOLOGIA NA ESCOLA BÁSICA PELAS REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS DOS ALUNOS DO CURSO DE PEDAGOGIA
Edina Dayane de Lara Bueno 1
- PUCPR
Carlos Alexandre Cruz 2
- PUCPR
Gilberto dos Santos Couto 3 - PUCPR
Nizandre Karine Cordeiro de Oliveira Onaka 4 - PUCPR
Grupo de Trabalho: Formação de professores e Profissionalização Docente.
Agência Financiadora: não contou com financiamento.
Resumo
Nas sociedades modernas, marcadas pela reafirmação do indivíduo e envoltas às
transformações rápidas e flexíveis, os recursos tecnológicos ganham cada vez mais espaço
nos ambientes escolares exigindo dos educadores uma formação mais aprimorada e cuidadosa
no tocante à tecnologia. Assim os futuros educadores tem o escopo de enfrentar o desafio de
trabalhar com os recursos tecnológicos no ordinário de suas aulas. A universidade passa a ser
o maior espaço para a reflexão e formação desses profissionais. Questiona-se o verdadeiro
papel das reflexões acadêmicas frente ao seu uso efetivo, tendo-a como ferramenta
pedagógica. Pretende-se neste estudo analisar pela metodologia qualitativa as Representações
Sociais dos futuros educadores através de questionários, os quais foram aplicados a alunos do
curso de Pedagogia. Para atender a este objetivo, tem-se o seguinte questionamento: Qual a
representação social dos alunos do curso de Pedagogia sobre o uso da tecnologia na escola
básica? Com base na Teoria das Representações Sociais, encontram-se algumas portas abertas
a uma reflexão mais crítica acerca dessa realidade que continua a desafiar os cientistas
educacionais a uma inovadora prática pedagógica, diante de tantos recursos tecnológicos. Os
aportes teóricos das Representações Sociais orientam a análise dos dados, ancorados em
Moscovici (2015), Sá (2010). Ao identificar através do questionário aberto, verificaram-se
conhecimentos prévios e conhecimentos adquiridos na universidade pelas alunas de
pedagogia. Há uma premente necessidade de analisar como está a formação dos profissionais
da educação. Visto que as tecnologias presentes no cotidiano social influenciam e tornam-se
importantes na educação, uma vez que professores tenham uma formação global das TIC’s.
Palavras chave: Educação. Representações Sociais. Tecnologia. Formação de Professores.
1 Graduanda do Curso de Pedagogia da PUC-PR, Iniciação Científica PIBIC, Bolsista PUC-PR. E-mail:
[email protected]. 2Licenciado em Filosofia pela Universidade de Sorocaba (UNISO). Bacharel em Teologia pelo Instituto Superior
João Paulo II de Sorocaba. Graduando em Pedagogia da PUC-PR, Iniciação Científica PIBIC. E-mail:
[email protected] 3Professor de Educação Física. Especialista em Educação Física Escolar pela UFPR. E-mail:
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Introdução
O presente estudo aborda as questões da tecnologia na educação básica pelo viés das
Representações Sociais, dos acadêmicos do curso de Pedagogia, uma vez que, vive-se em
uma sociedade tecnológica, a sociedade da informação, do conhecimento e da aprendizagem.
Desse modo é preciso que a formação docente prepare adequadamente os futuros
profissionais da educação básica para trabalharem com essas ferramentas em suas docências,
pois há diversos motivos para a utilização de recursos tecnológicos para proporcionar aos
alunos uma comunicação eficiente, promovendo a aprendizagem significativa, a apreensão
clara de conteúdos novos, os quais se solidificam na estrutura mental do educando, dando
verdadeiro significado às aprendizagens.
Dado que, os meios tecnológicos comumente despertam a curiosidade e o interesse do
educando, é primordial que o professor aproveite de tais recursos para despertar a vontade de
aprender de seu aluno, para que esse processo aguce o "verdadeiro sabor de saber"
Sapientia é conhecer a vida pela boca. É assim que a criancinha conhece o mundo, misticamente, de olhos fechados, a boca sugando o seio da mãe. Seio: primeira e
inesquecível metáfora para o mundo. O mundo tem que ser objeto de deleite.
Nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria e o máximo de sabor
possível. O sabor vive naquilo onde a visão morre: o contato. Os olhos são amantes
apolíneos: sentem-se felizes em contemplar, de longe, o objeto amado. Mas a boca é
dionisíaca: precisa comer o objeto amado (ALVES, 2002, p.58).
O uso da tecnologia em ambiente escolar torna o processo de ensino-aprendizagem
mais dinâmico, impelindo ao educando a um contato mais concreto com os múltiplos saberes,
proporcionando a experiência de um "saber com sabor".
Avançar tecnologicamente demanda instrumentalização que desafia as universidades a
formar cidadãos que respondam as necessidades da sociedade. Behrens (2007 p. 67) revela
que, “O novo desafio das universidades é instrumentalizar os alunos para um processo de
educação continuada que deverá acompanhá-lo em toda sua vida”.
A tecnologia torna-se um recurso pedagógico primordial, visto que, se adequadamente
utilizado, a escola pode visar meios mais eficazes para facilitar o processo de ensino-
aprendizagem do discente. Desta maneira buscou tecer uma reflexão sobre: Qual a
representação social dos alunos do curso de Pedagogia em relação à tecnologia na escola
básica?
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Ademais, para o bom êxito e adequada realização dessa pesquisa, definiu-se como
elemento fundante a abordagem qualitativa, descrita por Bogdan e Biklen (1994), e como
aporte teórico os estudos sobre Representações Sociais de Moscovici (1978), Sá (2010).
Representações sociais
Com o intuito de embasar teoricamente a presente pesquisa, faz-se relevante
apresentar alguns apontamentos acerca da Teoria das Representações Sociais, engendrada
pelo romeno, naturalizado francês, Serge Moscovici. Passando pela filosofia e sociologia,
Moscovici fincou suas raízes e desenvolveu sua profunda teria nos meandros da psicologia.
Seus estudos tiveram início diante de uma profunda análise das obras de Émile Durkheim,
sobre a teoria das Representações Coletivas, a qual estabelece uma separação de
representações coletivas e individuais,
a formulação feita por Durkheim do conceito de representações coletivas mostrou-se uma herança ambígua para a psicologia social. Esforço para estabelecer a sociologia
como uma ciência autônoma levou Durkheim a defender uma separação radical
entre representações individuais e coletivas e a sugerir que as primeiras deveriam ser
do campo da psicologia, enquanto as últimas formariam o objeto da sociologia
(MOSCOVICI, 2000, p. 13).
Contrariamente, para Moscovici, (2011), as representações coletivas de Durkheim se
caracterizavam por conservar as imagens, crenças e valores vigentes na sociedade e não
apresentava flexibilidade e mutabilidade.
Durkheim não estava simplesmente interessado em estabelecer o caráter sui generis
das representações coletivas como um elemento de seu esforço para manter a
sociologia como uma ciência autônoma. Toda sua sociologia é, ela própria,
insistentemente orientada àquilo que faz com que as sociedades se mantenham coesas (MOSCOVICI, 2011, p. 14).
As ideias propostas pelo fundador4 da teoria das RS se desenvolveram na década de
60, onde a sociedade moderna reconheceu como representação social o individualismo
(MOSCOVICI, 2011, p. 14). Tal cenário impeliu Moscovici a aprofundar as representações
coletivas de Durkheim, atualizando-as, por assim dizer e passando a chama-la de
Representações Sociais (RIBAS, 2013, p. 98). Como afirma Favoreto (2013, p. 61),
4 Serge Moscovici, psicólogo social romeno naturalizado francês, nasceu em 1928 e experienciou a II Guerra
Mundial. Em 1948, na França, estudou Psicologia. Investigou e divulgou a Psicanálise. Lecionou em
universidades renomadas. Em 2003, foi Prêmio “Balzan”. Diregiu o Laboratório Europeu de Psicologia Social
em Paris. Foi uma grande perda para a Psicologia Social de modo geral seu falecimento em 15 de novembro de
2014.
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“[Moscovici] aponta que a maioria dos exemplos de Durkheim sobre representações coletivas
advém das sociedades tradicionais e que se diferenciam das sociedades modernas, ou seja, se
constituem exceções.”
Enquanto Durkheim estabelece uma separação entre representações coletivas e
individuais, Moscovici aponta que universal e particular se interpenetram, ou seja, o indivíduo
age decisivamente construindo representações que serão compartilhadas e reafirmadas na
coletividade. Isso confere as representações sociais um caráter psicossocial e não somente
coletivo.
Além de conceituar as representações sociais como fenômeno que emerge
caracteristicamente nas sociedades contemporâneas, distinguindo-o dessa forma das
representações coletivas, Moscovici conferiu-lhes um caráter essencialmente
psicossocial, na medida em que as tomou como resultado de uma construção social
por grupos concretos, através da interação seus membros na vida cotidiana (SÁ, 2010, p. 589).
As RS se caracterizam, pela análise das sociedades pós-modernas, marcadas pelo
cientificismo e individualismo, portando um "descolamento" do papel do indivíduo da
coletividade. Portanto, tais sociedades apresentam forte resistência às transformações e
conhecimentos tidos como irracionais, tais como crenças, mitos e superstições (FAVORETO,
2013, p. 63). Esses conhecimentos emergem do chamado senso-comum, o qual resulta de uma
aceitação mútua de determinadas representações entre os indivíduos, propagando e
reafirmando valores e crenças. São representações que se sedimentam se cristalizam na base
da consciência coletiva e que resistem a quaisquer mudanças ou novas informações.
Havia uma preocupação em relação a questões relacionadas ao problema da ciência,
conforme revela Moscovici (2015):
Era, ao final de contas, o problema da modernidade. Nós estávamos todos
interessados em compreender de que maneiras a ciência teve impacto na mudança
histórica, no pensamento e nas perspectivas sociais. Nós estávamos muito menos interessados em como a ciência afeta nossa cultura, as ideias de cada um na vida
cotidiana, ou como essas ideias podem se tornar parte das crenças das pessoas e
assim por diante. Todas as pessoas jovens que foram atraídas pelo marxismo,
comunismo e socialismo estavam preocupadas com a questão da ciência, tecnologia
e matérias afins (MOSCOVICI, 2015, p. 309).
Com a intenção de arquitetar parâmetros à procura da verdade, o autor faz uma
permuta de um conceito teórico abstrato, como o da representação social, pela análise de um
objeto real, diferenciado, complexo. (LAGACHE, 2012, p. 9). Este conceito pode ser aplicado
em outras representações sociais; a medicina, doença, a educação, entre outros.
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Concepções tecnologias na graduação de pedagogia
A inserção de informação direcionada ao interesse em aprender motiva aos educandos
o entusiasmo e a vontade de construir conhecimentos. Já no construto interacionista de Piaget
e Vygotski, segundo os apontamentos de Castorina (2001, p.11), “Para Vygotski a interação
social e o instrumento linguístico são decisivos para compreender o desenvolvimento
cognitivo, enquanto que para Piaget, tal desenvolvimento é interpretado a partir da
experiência com o meio físico, deixando aqueles fatores em um lugar subordinado”. Castorina
(2001, p.11) ainda salienta que esse processo, entendido por Vygotski, concebe que “a
aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo sua abertura nas zonas de
desenvolvimento proximal, nas quais as interações sociais e o contexto sócio cultural são
centrais”. Já para Piaget a aprendizagem decorre de uma interação do sujeito com o meio,
como aborda a autora: “a postura construtivista centrada na produção cognitiva através das
interações com o mundo dos objetos não pode deixar de rejeitar a instrução, já que as crianças
poderiam elaborar por si mesmas esses saberes com ajuda dos seus instrumentos”
(CASTORINA, 2001, p.13). Já Oliveira (2001, p. 57), apresenta da seguinte maneira a visão
de Vygotski em relação a essa matéria: “a ideia de um processo que envolve, ao mesmo
tempo, quem ensina e quem aprende, refere necessariamente a situação em que havia um
educador fisicamente presente. A presença do outro social pode se manifestar por meio dos
objetos, da organização do ambiente, dos significados que impregnam elementos do mundo
cultural que rodeia o indivíduo”.
O uso dos recursos tecnológicos proporciona um meio para criar, recriar, explorar,
buscar dados e respostas rápidas, bem como produzir, pesquisar em vários meios e, ao mesmo
tempo, ter contato com informações variadas e em diferentes lugares. O préstimo das
tecnologias torna-se cada vez mais premente, impelindo à criação de novas nomenclaturas, as
quais designam modos mais atuais de se relacionar com tais recursos. As TIC’s (Tecnologia
da Informação e Comunicação) na sociedade pós-moderna, suscitam inovadores estudos, os
quais abordam aspectos essenciais da necessidade de uma nova dinâmica no processo de
ensino-aprendizagem. Segundo Gilleran (2006, p. 85) o
[...] desenvolvimento das TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) abriu, em especial, novos horizontes e possibilidades inimagináveis há vinte anos. As
tecnologias WAP (Wireless Apllication Protocol), GPRS (General Packet Radio
Service), as redes sem condutores e as comunicações por satélite estão tornando o
mundo menor e mais acessível.
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Este fato resulta-se do acúmulo de conhecimentos práticos ou científicos das
habilidades que o ser humano tem em criar recursos que favoreçam suprir suas necessidades
vitais, essa capacidade de criação de meios que facilitem o seu trabalho, de modo que esta
seja sua característica inata, como afirmam Medeiros e Medeiros (1993).
Kenski (2007, p. 15), salienta que “As tecnologias são tão antigas quanto à espécie
humana”. O homem através dos tempos foi ampliando seus conhecimentos dando origem as
tecnologias advindas dessas crescentes inovações. A inteligência e a necessidade de recursos
mais avançados, buscando desenvolver e aprimorar técnicas resultou nos grandes avanços
hoje utilizados por ele. Sendo assim, o consumo de tais técnicas possibilita o acesso a
recursos mais sofisticados, que facilitam o trabalho, as organizações, e forneçam informações
rápidas e precisas. Enfim, existe uma gama de meios facilitadores para a resolução das
problemáticas do tempo hodierno.
Enfatiza-se que a linguagem digital faz parte do dia-a-dia escolar de alunos e
professores, que ao buscarem na web informações complementares ou uma pesquisa sobre
determinada disciplina deparam-se com inúmeros resultados. Para Kenski (2007, p.41), essa
ampla facilidade “[...] refletem-se sobre as tradicionais formas de pensar e fazer educação.
Abrir-se para novas educações, resultantes de mudanças estruturais nas formas de ensinar e
aprender possibilitadas pela atualidade tecnológica é o desafio a ser assumindo por toda a
sociedade”.
Desse modo é necessário que a escola compreenda que a inclusão da tecnologia no
ensino é de suma importância, pois tais recursos se revelam um instrumento auxiliador no
processo de aprendizagem. Para que sua inserção ocorra de modo benéfico se faz relevante
compreender os seus modos de serem utilizados e adequá-los a realidade educacional. Apenas
disponibilizar computadores aos alunos, sem a devida mediação do professor, fará com que
tal auxílio, seja reduzido ao mero entretenimento, desprezando o adequado uso valor para o
processo de aprendizagem.
O professor deve estar preparado para os desafios que encontrará ao longo de seu
trabalho educacional, buscando sempre atualizar-se com as inovações da área tecnológica.
Utilizando como um recurso transformador que ajude na construção de conhecimentos que de
fato sejam significativos, fazendo uma leitura crítica da realidade que o cerca, sendo criativo,
pesquisador, inovando e transformando seu contexto e impelindo seus alunos a uma visão
mais panorâmica e aprofundada da própria existência.
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Sendo assim, é necessária a devida compreensão do itinerário de formação dos futuros
docentes no tocante à utilização desses recursos tecnológicos. Por conseguinte deve-se
analisar, a todo o momento, a relação que os graduandos de Pedagogia, futuros profissionais
da educação, têm ao se apropriarem e assimilarem o uso da tecnologia em sua prática
profissional. Para embasar este estudo e apresentar um quadro mais fidedigno de tal matéria,
pesquisou-se 20 alunos do primeiro período de graduação em Pedagogia e 20 alunos que se
encontram na fase final de graduação do mesmo curso, o oitavo período. Os dados obtidos
serão apresentados no próximo tópico.
Resultado e discussão
A pesquisa baseou-se na concepção que os acadêmicos do curso de Pedagogia
possuem ao ingressarem na graduação em relação ao ensino das novas tecnologias. A
primeira pergunta feita a esses alunos suscita o posicionamento acerca da necessidade da
grade curricular em dispor de uma disciplina específica para a formação em tecnologias e se é
necessário uma formação contínua para atuar neste segmento. Ressalta-se que esse mesmo
questionário foi aplicado aos alunos do último período da graduação em Pedagogia.
Solicitou-se, que os discentes justificassem suas respostas, tendo em vista, o caráter
qualitativo assumido na metodologia desse trabalho. Tal postura metodológica se dirige
prioritariamente às ações coletivas de indivíduos, conforme destaca Ens (2006, p. 38), “[...]
abordagem qualitativa de pesquisa se volta para o sentido e as finalidades da ação humana e
dos fenômenos sociais”. Tendo como suporte a abordagem qualitativa, na qual parte do
pressuposto que o objeto de pesquisa investigado, leva em conta o contexto no qual está
inserido, com base em análise e observação de vários ângulos para Bogdan e Biklen (1994, p.
47 -51) são:
- A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o
pesquisador como seu principal instrumento [...];
- Os dados coletados são predominantemente descritivos [...];
- A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. O interesse
do pesquisador ao estudar um determinado problema é verificar como ele se
manifesta nas atividades, nos procedimentos e nas interações[...]; - O ‘significado’ que as pessoas dão as coisas e a sua vida são focos de atenção
especial por parte pesquisador [...];
- Análise dos dados tende a seguir um processo indutivo – processo em que parte-se
do particular para o geral [...];
O estudo sedimentado nas Representações Sociais forjadas por Moscovici, e a
aplicação do mesmo à realidade acadêmica dos estudantes das ciências educacionais em
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matéria da formação, possibilita indagações pertencentes sobre suas percepções, as quais se
revelam essenciais para a compreensão e interpretação da problemática que apontamos.
Ilustrando todo o supracitado, apresentamos 3 gráficos, que revelam as ideias e
percepções majoritárias dos entrevistados. O gráfico 1 retrata, em percentual, as respostas
apresentadas pelos acadêmicos do primeiro período do curso em questão. Lembra-se ao leitor,
que citada turma está composta por 37 acadêmicos, no entanto, apenas 11 participaram da
pesquisa. Na data da aplicação do questionário muitos graduandos faltaram por motivos
particulares, o que resultou em uma defasagem dos dados. Contudo, mesmo com um número
reduzido de pesquisados é possível estabelecer uma estimativa das respostas sobre o assunto
aqui abordado.
Gráfico 1: Disciplina específica 1º período
Fonte: os autores,2015
Com base nos dados recolhidos pode-se notar que os alunos compreendem a
necessidade de uma disciplina específica na formação docente (64%), porém em uma das
justificativas, o acadêmico A1 destaca que já possui tal disciplina, apesar que, na matriz
curricular do curso de Pedagogia, as disciplinas relacionadas à formação em tecnologias são
pouco valorizadas pela própria universidade, enquanto instituição que visa preparar
adequadamente profissionais em ciências educacionais.
Já o gráfico 2 revela o percentual de respostas às mesmas perguntas, as quais, relatadas
pelos acadêmicos do sétimo período, composta por 32 alunos, e contou com 21 partícipes
desta investigação. São 11 os alunos que não estavam em sala no momento da aplicação do
questionário. Tal número evidencia um melhor aproveitamento na composição da atual
pesquisa, em relação à turma do primeiro período do curso.
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Gráfico 2: Disciplina específica 7º período
Fonte: aos autores, 2015.
Nota-se que os alunos perceberam a relevância deste tema, tendo em vista que, a visão
da tecnologia é parecida com a visão dos alunos que ingressaram a pouco na carreira. Já 81%
das respostas de ambos os grupos apontam que há a necessidade de uma disciplina específica
que dialogue com as demais (matéria transversal), sendo um meio de agregar conhecimento.
Ou seja, a percepção de ambos os períodos são evidentemente semelhantes, deixando claro
que mesmo os alunos que estão finalizando o curso expressam uma forte carência quanto à
formação de professores com o uso da tecnologia na escola básica. Como destaca a aluna B1
“Sim. Acredito que seria necessário trabalhar com esta disciplina em todos os anos do curso
relacionando-as com as necessidades de atuação, na educação básica”.
Pela leitura do gráfico 3 temos que as alunas não estão preparadas para aturarem com
as tecnologias, como exposto pela aluna C3 “Ainda falta aprender como planejar as aulas”. É
compreensível e coerente a resposta, visto que ainda estão no início da graduação. Demonstra-
se, portanto, no entendimento revelado pelo gráfico e na escrita das alunas que elas
consideram importante a aprendizagem deste recurso para o futuro professor.
81%
19%
Sente necessidade de uma disciplina específica para a formação
em tecnologias, o que falta? Sente necessidade de uma formação
contínua para atuar nessa área?
Sim
Não
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Gráfico 3: Preparação na utilização das TIC’s 1º período
Fonte: aos autores, 2015
Porém no gráfico 4 constata-se que as graduandas que perpassaram por 3 anos,
sentem-se menos preparadas que as alunas que estão ingressando na universidade. Destaca-se
a fala da aluna D4 “Não. Acredito que não tive durante a graduação aulas efetivas para
aprender a trabalhar com as tecnologias”. E na fala da aluna E5 “Não. A graduação não nos
prepara para trabalhar com as tecnologias em sala de aula”. Analisando as duas falas
denotam-se nas respostas que a formação na graduação do curso de pedagogia não tem
subsidiado uma formação necessária para usufruir das TIC’s na educação básica.
Gráfico 4: Preparação na utilização das TIC’s 7º período
Fonte: aos autores, 2015.
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Considerações Finais
A tecnologia continua a desafiar os educadores, afinal, os alunos estão cada vez mais
submersos nos meios de comunicação em massa, nas redes sociais e nos aparelhos de última
geração. Se os professores que desenvolvem seus trabalhos com os discentes há alguns anos
já sentem a responsabilidade de formação e atualização, que se dirá dos novos educadores?
Será que a universidade continua sendo um espaço de reflexão e criticidade diante de tal
problemática?
A atual pesquisa se mostra aberta às novas coletas de dados e a futuros ensaios que
possam continuar fornecendo informações sobre as mudanças tão abruptas que sofremos em
uma sociedade que transforma suas representações sociais com uma velocidade alucinógena.
A teoria das representações sociais de Serge Moscovici se revela como preciosa
contribuição para o aprofundamento das ideias emergidas pela presente pesquisa, tendo em
vista, que o psicólogo social considera que a sociedade se apropria de determinados valores,
propagando-os e reafirmando-os, através dos movimentos produzidos pelo próprio indivíduo.
Assim, conclui-se que o particular age decisivamente nas transformações de uma
representação social determinada para outra. Para a coletividade as representações são
estáticas e inflexíveis, mas com a atitude ativa, os indivíduos impelem transformações
significativas em tais representações, pois estes têm caráter e abertura, flexibilidade e
mutabilidade.
Um caminho que poderá ser seguido, em busca de uma reflexão mais sistemática
frente a tal problemática é o investimento mais concreto na formação dos professores em
matéria tecnológica. O convite está aberto ao leitor: refletir sobre a formação em tecnologia
nas universidades.
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