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Texto de apresentação da disciplina
Por meio deste texto introdutório viemos apresentar o material instrucional de Teorias Linguísticas.
Seguimos a lógica dos professores Fabrício Possebon e Janaina Peixoto da disciplina de Introdução aos
estudos literários (2010). Acreditamos que este material didático deve atender às necessidades especiais
de nossos estudantes sem comprometer a qualidade do conteúdo.
O estudo das teorias linguísticas é um desafio para todos que de alguma maneira precisam
entender os acontecimentos da linguagem. Para quaisquer áreas das ciências humanas este estudo é
muito importante. No caso dos alunos de letras/libras ou qualquer outra língua inglês, espanhol, francês,
dentre outros, o envolvimento com este conteúdo se faz necessário.
Pensar sobre questões da linguagem, pesquisar situações lingüísticas na prática, aceitando o
histórico-teórico dos estudos lingüísticos são as partes mais importantes da disciplina Teorias Lingüísticas.
Apresentamos alguns dos conceitos e reflexões decisivos para o entendimento da língua/linguagem diante
do falante potencial, dos alunos de letras e do professor de língua portuguesa e libras. Assim, as abordagens que
serão feitas sobre o estruturalismo, gerativismo, teorias do texto e do discurso visam, não apenas o desencadear
teórico, mas à reflexão sobre a importância destes estudos para o profissional das línguas.
Enfim, o desejo da equipe desta disciplina (professor & tutora/intérprete) é estimular o estudante a
pensar sobre a língua de maneira crítica, específica, bem como de forma metodologicamente orientada.
Unidade I: Conceitos fundamentais
Introdução
Retomando
Unidade II: Estudos Linguísticos: tendências
Unidade III: Saussure: Pensamento dicotômico
Unidade IV: Saussure: Arbitrariedade e signo linguístico
Unidade V: Saussure: Linearidade/mutabilidade e imutabilidade
CLP
Chomsky
Sociolingüística
Análise do discurso
Gêneros textuais
Funcionalismo
TEORIAS LINGUÍSTICAS
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UNIDADE I
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Introdução
Esta é a última disciplina de nosso curso que vai tratar pontualmente das questões teóricas desta
importante ciência que é a Lingüística. Importante àqueles que trabalham ou pesquisam sobre as ciências
humanas e indispensável para os que lidam e estudam a língua, seja ela qual for, inclusive a Libras.
Assim, nosso convite é de que você procure estudar nosso material, nossas indicações e assistir
nossas aulas, entendendo que o nosso principal objetivo é possibilitar que você reflita a língua, inclusive, a
LIBRAS.
Figura 1: (Fonte: Dicionário de Libras.Capovilla e Raphael)
O desafio em estudar sobre tais conteúdos, não é tarefa simples para qualquer estudante, e, ás
vezes, para nós professores também o é, no entanto, o desafio - tenham certeza - é nosso (professor e
tutora), pois queremos fazer deste curso uma possibilidade concreta de que vocês possam pensar a língua
sob uma ótica científica e teórica.
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A cada passo, avanço, na direção do aprofundamento do conteúdo tentaremos trabalhar com
exemplos da língua portuguesa e da Libras. Neste sentido, ainda que o exemplo possa parecer simplório, a
primeira vista, o interesse é poder tornar esta nossa trajetória desafiante, o mais compensadora, prazerosa
e válida possível.
Sintam-se acompanhados pela gente. Estaremos juntos, neste percurso, descobrindo juntos o que a
Lingüística pode fazer e esclarecer, quando o assunto é estudar a língua portuguesa e a Libras. Não se
sintam sozinhos, estamos aqui, através destas linhas, destas páginas, através das conexões, sejam elas
efetivas ou mentais. Vamos, vamos então!!
Figura 2: (Fonte: www.assistech.com/images/holdinghands.gif)
Retomando
Como dissemos na introdução, esta é a segunda disciplina que trataremos sobre os estudos
lingüísticos, por isto vamos retomar alguns conceitos já apresentados na disciplina Fundamentos de
Lingüística com o professor Jan Edson R. Leite, a partir de agora citado como: LEITE, 2010.
Figura 3: (Fonte: Dicionário de Libras.Capovilla e Raphael)
Nesta direção, eis as leituras obrigatórias para podermos seguir:
Teorias e práticas Vol. I - Instrucional de Fundamentos de Lingüística.
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Unidades/conteúdos:
II - A linguagem verbal e não verbais
III- A linguagem gestual
As línguas de sinais
É muito importante que as leituras anteriormente mencionadas sejam (re)feitas, pois serão ponto
de partida para nossos estudos.
Após terem feito tais (re)leituras, sugiro que reflitam sobre a situação seguinte. Imagine que você
está em uma entrevista de emprego para trabalhar com o ensino de língua (português ou Libras).
Figura 4: (Fonte: Dicionário de Libras.Capovilla e Raphael)
Agora responda as perguntas:
1- A língua que utilizo, diariamente, em minhas relações sociais, é principalmente a Língua
portuguesa ou a Libras?
2- Para um falante de português é mais fácil aprender a libras? Por quê?
3- Aprender uma segunda língua é mais fácil se esta segunda língua for uma língua estrangeira,
como inglês?
4- Qual a principal diferença entre português e libras, no que diz respeito ao seu uso?
As perguntas são pessoais, por isso, podem ter qualquer resposta. O importante é que consiga
relacionar suas respostas aos seus conhecimentos sobre as línguas. Se você fez isto, começou, então, a
refletir a língua e a perceber que em termos de conhecimentos lingüísticos, aquisição de língua e tudo que
se relaciona a tais questionamentos, nem tudo é tão pacífico e simples de se responder.
Nesta direção, realize a atividade proposta a seguir.
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Atividade:
1- Procure três colegas de sua turma (pessoal ou virtualmente) e pergunte-lhes quais as respostas
que eles deram às perguntas propostas em 1, 2, 3 e 4 sobre a entrevista de emprego.
Observem que as perguntas podem ser bem diferentes e, se não o forem, ainda podem sugerir
posturas diferentes diante de um mesmo questionamento, isto é, para as reflexões sobre os estudos da
linguagem é preciso considerar que não basta a opinião de quem fala, escreve, gesticula ou lê a língua, é
necessário que se compreenda como as coisas de fato são e não como deveriam ser. Por exemplo, será que
todas as vezes que você se expressa, por meio da libras, "- Estou com muita fome", o sinal é o mesmo ? E se
quem diz, estiver sem comer há pelo menos 3 dias (como ocorre com vários países miseráveis espalhados
pela África , por exemplo) ? Ou se for dito por alguém que acabou de comer um hamburger e quer uma
sobremesa?
Figura 5 e 6 (Fonte: midia.iplay.com.br/Imagens/Fotos/000362.jpg)
Esta é a diferença daqueles que apenas utilizam a língua para aqueles que sobre ela refletem.
Enfim, este é nosso convite:
Refletir sobre a língua, considerando os estudos teóricos da ciência Lingüística.
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UNIDADE II
Estudos lingüísticos: tendências
Seguindo a lógica proposta na unidade I: “refletir sobre a língua, considerando os estudos teóricos
da ciência Lingüística”, pretende-se, nesta etapa de nosso material, indicar duas tendências que costumam
motivar, direcionar e estimular as reflexões sobre a língua/linguagem: o formalismo e o funcionalismo.
Vale ressaltar que as prerrogativas aqui sugeridas não vão tratar das correntes lingüísticas, mas das
possibilidades de estudos que podem ocorrer, sob a influência de tais tendências. Sugiro a seguir uma
definição geral, conforme Castilho (2002, p.23-25):
Formalismo: A língua é um conjunto de orações, cujo correlato psicológico é a competência, isto é, a capacidade de produzir, interpretar e julgar a gramaticalidade das orações. Segue-se que as orações devem ser descritas independentemente de sua localização contextual, e a Sintaxe é autônoma com respeito à Semântica e à Pragmática. Diferentes graus de idealização dos dados podem ser considerados, sendo indispensável seguir considerando uma Língua I, distinta de uma Língua E. Funcionalismo: A língua é um instrumento de interação social, cujo correlato psicológico é a competência comunicativa, isto é, a capacidade de manter a interação por meio da linguagem. Segue-se que as descrições das expressões lingüísticas devem proporcionar pontos de contacto com seu funcionamento em dadas situações. A Pragmática é um marco globalizador, dentro do qual se deve estudar a Semântica e a Sintaxe.
A título de reforço, apresentamos a posição de Martelota & Areas (2003, p. 20) no que se refere ao
mesmo par: formalismo e funcionalismo:
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Na perspectiva formalista, “a língua é analisada como um objeto autônomo, cuja estrutura, independe de seu uso”. Esta visão contrapõe-se à funcionalista que concebe a língua como um instrumento de comunicação, e como tal, “deve ser analisada como uma estrutura maleável sujeita às pressões oriundas das diferentes situações comunicativas que ajudam a determinar sua estrutura.
Objetivando solidificar conceitos, esclarecer a postura filosófico-linguistica de cada tendência, a
partir de Dillinger (1991), afirma-se que os formalistas, estudam a língua como objeto descontextualizado,
sem relação com o meio, de modo a equiparar a língua à sua gramática cuja função precípua é a expressão
do pensamento,
preocupando-se com características internas – seus constituintes e as relações entre eles , mas não com as relações entre os constituintes e seus significados, ou entre a língua e seu meio; chegam-se, então, à concepção de língua como um ‘conjunto de frases’, ‘um sistema de sons’, ‘um sistema de signos’, equiparando, desse modo, a língua à sua gramática (NEVES, 2001, p. 41).
Por outro lado, conforme, Nepomuceno & Muniz (2009) os funcionalistas se detém nas relações
entre a língua como um todo e as diversas modalidades de interação social, destacando a relevância do
contexto social na compreensão da natureza das línguas. Por isso,
ao contextualizar os fatos gramaticais na situação de fala que os gerou, toma como ponto de partida as significações das expressões linguísticas, indagando como elas se codificam gramaticalmente (CASTILHO, 1994, p.76).
A partir do exposto, como passo seguinte, pode-se associar a noção de FORMA e FUNÇÃO,
respectivamente, ao formalismo e ao funcionalismo. Nesta ótica, verificando-se forma e função como
pontos de partida para cada tendência, serão feitas as considerações sobre o assunto.
De fato, o fenômeno da língua pode ser o mesmo, o que realmente muda é a abordagem e a
proeminência que se pode ou se quer atribuir a este fenômeno, conforme os interesses de cada tendência.
Por exemplo, pensemos numa situação prática. Criemos uma situação hipotética, na tentava de
possibilitar melhor visualização do debate.
dois professores vão trabalhar em seus programas de aula, o seguinte conteúdo, previsto no
programa da disciplina: ortografia
Vejamos o que propõe cada Professor (01 e 02):
Professor 01: refletir sobre o porquê de palavras como "SUCESSO", terem três grafias para
representar um mesmo som/fonema: "s", "c" e "ss", fonema /s/.
(em libras ou língua portuguesa). Cada um tem suas
estratégias para chegar aos seus objetivos, porém um tem uma linha de pesquisa mais
formalista e o outro mais funcionalista, forma é mais valorizada por um e a função por outro.
Na libras, não será o fonema, mas a configuração de mãos. Por Exemplo: com a configuração de
mão “s” faço três sinais diferentes.
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Cor: laranja - Sábado - Suco
Professor 02: refletir sobre quais efeitos podem ocorrer numa entrevista de emprego, se um
candidato escrever a palavra SUCESSO, da seguinte maneira: "çuceso". Ou em Libras ao invés de entender
sábado entender suco de laranja.
Diante das duas situações, qual dos professores tem uma postura mais formalista? Quais motivos
fazem com que você pense desta maneira?
Vou responder, posso? Mais um minuto.
Primeiramente, é importante que se observe que nos dois casos, ambos os professores estão
trabalhando com o mesmo elemento, numa mesma língua. O que de fato muda são as prerrogativas de
cada professor, seus anseios e suas preocupações, enquanto professor de língua portuguesa ou libras.
Esta reflexão traz à tona a questão de que cada um de vocês, enquanto estudiosos da língua, hão
de assumir uma posição mais ou menos formalista. Isto acontecerá não por imposição, mas por
preferência, identificação com cada tendência. Consequentemente, isto vai espelhar-se em suas práticas
como professor, suas avaliações e seus objetivos.
Enfim, a partir desta unidade, é preciso que você possa ter uma opinião mais clara do que representam
os estudos de ótica formalista e os de ótica funcionalista, compreendendo que, conforme a abordagem, os
resultados obtidos da análise do fenômeno lingüístico podem se apresentar distintas entre si.
A partir das próximas unidades, toda vez que vocês encontrarem os termos: formalismo,
funcionalismo, forma e função lingüística saberão, ao menos, em que consiste, em seu bojo, o estudo que
está sendo proposto.
Referencias
L Seminário do Grupo de Estudos Lingüísticos do Estado de São Paulo. FFLCH / USP, 23-25 de maio de 2002. Ataliba de Castilho.LINGÜÍSTICA COGNITIVA E TRADIÇÃO FUNCIONALISTA
CUNHA, Maria Angélica Furtado da; Mariangela Rios de Oliveira & Mário Eduardo Martelotta (orgs.). Lingüística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A/ Faperj, 2003
DILLINGER, Mike. Forma e função na Linguística, In: DELTA, vol.7, n.1, 1991, p. 395-407. NEPOMUCENO, A. R. ; MUNIZ, Maria Iêda Almeida . Formalismo e Funcionalismo. Interletras (Dourados), v. 2, p. 10, 2009.
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UNIDADE III
Saussure: pensamento dicotômico
Saussure é considerado por muitos o pai a Lingüística. Aquele que trouxe para o ambiente dos
estudos lingüísticos o status de ciência, em pleno século XX. Vários motivos colaboraram para que esta
constatação se confirmasse e, dentre outros motivos, podem-se citar a definição do objeto de estudo da
Linguística e seus métodos e princípios. Efetivamente esclarecidos e demonstrados, mais precisamente, na
obra Curso de Linguística Geral, conforme já sinalizado em nosso instrucional de Fundamentos de
lingüística (LEITE, p. 227-229).
Neste sentido, compreender o pensamento saussuriano talvez seja o primeiro passo importante
para que sejam entendidos os caminhos traçados e os que se percorreram a partir do estabelecimento da
ciência lingüística.
O pensamento de Saussure, na fase do desenvolvimento das idéias contidas na obra Curso de
Linguística geral5
5 Considerada, por muitos, obra escrita postumamente, por seus discípulos.
, é predominantemente dicotômico. Este pensamento sustentou e explicou vários dos
princípios propostos por Saussure por vezes aparentemente contraditórios.
Em minhas aulas sobre teorias lingüísticas, encontros presenciais e etc., sobre Saussure, costumo
reforçar e ratificar a compreensão do pensamento dicotômico, pois isto facilita a compreensão da lógica da
lingüística do início do século XX. Relembrada, por exemplo, pelo Círculo Linguístico de Praga – CLP e
outros teóricos dos estudos da linguagem que vieram depois de Saussure.
Vamos então a lógica do pensamento dicotômico. Ressalto, no entanto, que o objetivo desta
unidade não é ainda trabalhar efetivamente com os princípios saussurianos, como por exemplo, de
arbitrariedade, de linearidade dentre outros, mas explicitar o máximo possível em que consiste esta
perspectiva.
Pensemos numa moeda de R$1,00 ou qualquer outra moeda que lhe venha a cabeça:
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Cara Coroa
É sabido que cada lado da moeda tem seu valor. E aqui não se está atribuindo valor ao que este
termo possa ter com quantidade, mas que cada lado da moeda vale algo. Vejamos:
Nesta imagem vemos o movimento que se faz para se decidir quem começa uma partida de
futebol, por exemplo. Cada um escolhe um lado. E defini-se antecipadamente, por exemplo: “coroa”
campo; “cara” bola.
Diante do exposto até aqui, faço uma pergunta simples:
Quantos lados têm uma moeda?
Dois? Correto. Se decidirmos, numa disputa, que quem tirar “cara” escolhe um lado do campo e
“coroa” fica com a bola, pode-se afirmar que cada lado significa algo, define uma atitude, uma seleção. Isto
quer dizer que embora tenhamos uma mesma moeda, cada lado desta moeda representa ou significa algo.
Do mesmo modo, embora cada lado seja diferente entre si, só existem a partir de uma mesma moeda.
Eis a dicotomia: coisas distintas (não necessariamente opostas), mas que constituem uma mesma
coisa.
Vejamos outro exemplo:
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Uma folha de papel, escrita dos dois lados.
Falemos sobre a imagem anterior, seguindo o mesmo raciocínio. É a mesma folha, constituída de
duas páginas diferentes. Cada página sobre um assunto/imagem. Cada página com suas próprias
características informativas, no entanto, inseparáveis, já que constituem uma mesma folha. Duas páginas
diferentes, mas que só existem numa mesma folha.
Para finalizar, abaixo apresentamos o poema “falsa dicotomia”, para ilustrar a dicotomia que há no
ser humano e em suas crenças.
FALSA DICOTOMIA (António Carvalho/2008)
Se Deus ajuda aqueles que se ajudam a si próprios, rezar é inútil: passe à ação e resolva os seus
problemas.
Pode refutar que a mão invisível o tenha ajudado. Nunca conseguirá provar que houve (ou não) influência
superior. Mas nunca poderá recusar que você deu a mão para resolver o seu próprio problema.
E desta falsa dicotomia, o duelo entre Homem e Deus, se alimenta a religião e o ateísmo.
(http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=58350#ixzz0o75sxWcC
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives)
Não se pretende uma análise interpretativa do texto, muito menos literária, mas é possível deduzir-
se duas faces de uma mesma moeda
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Glossário
Dicotomia: divisão em duas partes. Todavia não é apenas uma divisão em partes opostas, mas em
partes que, embora diferente, compõem um mesmo elemento.
Referencias
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. 12ª ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. Trad de A. Chelini , José P. Paes e I. Blikstein. São Paulo: Cultrix;
USP, 1969.
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UNIDADE IV
Saussure: princípio da arbitrariedade
O princípio da arbitrariedade é uma das posições mais determinantes da teoria saussuriana.
Relembrado por pesquisadores de diversas épocas, é princípio retomado e criticado, conforme a linha a
que o estudo pertence. Marco na discussão de abordagem da língua, aproximando-se daqueles que
seguem uma postura mais formalista.
Vamos, então, entender este importante princípio da teoria saussuriana.
Considerando a imagem, pergunto: O que é?
Você disse... é uma MÃO. Eu respondo:
- Isto não é uma mão!! Você diz:
- Como!?! Eu respondo:
- Isto é a imagem, a representação de uma mão. (parte do corpo, muito importante para a
eficiência da libras, por exemplo). Mas não é uma mão.
Isto significa dizer que uma pintura, uma imagem, uma gravura, não são a “coisa”, mas a
representação da “coisa”. Um signo.
Vamos em frente:
Mesma pergunta: o que é?
praia
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Nós respondemos: é um signo, pois representa “praia”. Neste caso, não temos uma imagem, uma
figura. Temos um elemento lingüístico. Um signo lingüístico. Uma “coisa” representada linguisticamente
por um signo.
Mesma pergunta: o que é?
Nós respondemos: é um signo, pois representa “mãe”. Também é um elemento lingüístico. Um
signo lingüístico. Uma “coisa” representada linguisticamente por um signo.
Assim, conforme Vilela & Koch( 2001):
(...) signos são entidades em que sons ou seqüências de sons – ou as correspondências gráficas – estão ligados com significados ou conteúdos. (...) os signos são assim instrumentos de comunicação e representação, na medida em que, com eles, configuramos linguisticamente a realidade e distinguimos os objetos entre si.
Entendido os fundamentos do signo lingüístico, já podemos apresentar o princípio da
arbitrariedade. Vale ressaltar que nosso objetivo é trazer os resultados de algumas discussões e reflexões
realizadas desde a proposta de arbitrariedade do signo lingüístico saussuriano.
O signo lingüístico é constituído de significante (Se) / significado (So).
Se
So
Assim, nos signos lingüísticos abaixo:
a) bola
b)
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A noção de significado admitida fica próxima da noção de conceito. Neste caso, nos
exemplos “a” e “b” ocorrem dois signos lingüísticos diferentes (representações diferentes) com conceitos
(So) iguais. Porém, o que dizer sobre o significante? Compreendido o significado, falta tratar do significante.
O significado dos dois signos lingüísticos é igual, porém os significantes são diferentes. Por quê?
No caso do signo “bola”, leva-se em conta a corrente acústica que constitui a relação entre
os fonemas que se combinam para formarem o significado:
Fonema /b/ + fonema /o/ + fonema /l/ + fonema /a/
Da mesma forma, na libras, o significado também se relaciona a um
tipo de significante que por conta das características inerentes da libras são um
pouco distintas do português, isto é, ao invés de fonemas, tratamos de
gramemas / quirema. Símbolos mórficos que se combinam para suscitarem o
significado de um signo lingüístico. Assim, os gramemas do signo lingüístico
possuem uma relação arbitrária com o conceito de bola (inglês: ball): s. f.
Qualquer corpo esférico. Objeto esférico de couro, plástico ou borracha, e inflado de ar comprimido, serve
para ser jogado, batido ou chutado em jogos ou esportes. Ex.: A bola está muito murcha para futebol. É
preciso inflá-la.
Mãos verticais abertas, palma a palma , dedos separados e ligeiramente curvados.
É neste sentido que se opta, na atualidade, pela noção de arbitrariedade da relação entre (Se) e
(So) e não do signo lingüístico em si. Por exemplo, tomando-se como base os seguintes signos lingüísticos:
c) pedra
d)
Imagine que a partir do exemplo “c” e “d”, eu criasse o signo “pedreira”. Pergunto. O signo
lingüístico “pedreira” é arbitrário ou foi motivado pelo signo pedra? Motivado.
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É por isto que é preferível optar pela noção de arbitrariedade entre o significante e o significado,
pois esta relação, realmente é arbitrária.
Veja o exemplo em Libras no vídeo:
Para finalizar esta unidade, é importante que se ratifique nossa afirmação presente na unidade III.
O pensamento de Saussure é dicotômico (Matos, 2010, p. 12-15). No caso da noção de signo lingüístico,
podemos afirmar que a dicotomia se instaura:
(Unidade III, p.14)
Duas coisas distintas (significante e significado), mas que constituem uma mesma coisa (o signo
lingüístico). Significante não é significado, significado não é significante, mas só há signo lingüístico se
houver significante e significado.
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure. 12ª ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. Trad de A. Chelini , José P. Paes e I. Blikstein. São Paulo:
Cultrix; USP, 1969.
VILELA, M. & KOCH, I. V. Gramática da língua portuguesa. Coimbra: Almeida, 2001.
Eis a dicotomia: duas coisas distintas (não necessariamente opostas), mas que constituem uma mesma coisa.
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UNIDADE V
Saussure: Linearidade/mutabilidade e imutabilidade
Seguindo a lógica das unidades III e IV, faremos uma abordagem de outros dois princípios da teoria
saussuriana:
A) O princípio da Linearidade;
B) O princípio da Mutabilidade e imutabilidade do signo lingüístico.
Vejamos, inicialmente, o conceito de linearidade. O que é algo linear?
Resposta:
Assim, no que se refere ao signo lingüístico, nenhum fonema pode ocorrer ao mesmo tempo que
outro. Cada um deve ocorrer em tempo e espaço distintos, ainda que numa mesma linha. O mesmo ocorre
com o quirema. Se pretendo representar o signo lingüístico mãe, posso executar quiremas diferentes ao
mesmo tempo?
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Não podemos. Isto mostra que o signo lingüístico nasce de uma combinação e seleção de dois
eixos:
O sintagma: a linha horizontal
E o paradigma: a linha vertical.
Eixo: Paradigma
Sintagma
Neste exemplo, fica clara a diferença que há entre o eixo sintagmático (horizontal) e o
paradigmático) vertical. As trocas no sintagma geram mudanças no paradigma por questões lingüísticas.
Cada elemento da língua sugere uma relação com outros elementos e assim por diante. Quando
substituímos “comer” por “beber”, é preciso trocar os outros elementos para que na língua portuguesa, por
exemplo, tudo continue linguisticamente possível.
O mesmo pode ser exemplificado com a libras. Vejamos:
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Eixo: Paradigma
Sintagma
Se houver alteração no eixo paradigmático, isto vai provocar trocas no eixo sintagmático, afinal se
eu deixo de “beber” e passo a “comer”, não posso beber um pedaço de bolo (pelo menos no sentido
denotativo e não-poético da língua). Isto significa dizer que ao trocar o verbo ou qualquer outra estrutura,
pode ser que seja necessário fazerem-se trocas no eixo sintagmático por questões de combinações
paradigmáticas e vice-versa. Afinal, ainda que sejam paradigma e sintagma conceitos distintos, dizem
respeito ao mesmo fenômeno da língua (dicotomia).
Mutabilidade e imutabilidade:
Mais uma vez a noção dicotômica saussuriana. O signo lingüístico é arbitrário (a relação entre Se e
So), consequentemente, a língua é imutável, pois são as convenções e não os usos que determinam este ou
aquele signo. No entanto, por questões de ordem temporal, geográfica e estilística é possível que haja
mudança no signo linguístico, seja no significante(Se) seja no significado (So). Logo, a língua é mutável.
Exemplos:
Fator tempo: “persona” tinha um significado diferente do que tem hoje a palavra que dela derivou:
“pessoa”. Veja no link abaixo nas primeiras páginas do trabalho;
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http://filosofia.galrinho.com/ai_pessoa_etimologia.pdf
Como ilustração valeria as leituras das crônicas do link a seguir:
http://mutuca.wordpress.com/?s=etimologia
Fator espaço (geográfico):
No Rio Grande do Sul, provavelmente, os nativos desta região falam: /nacional/, enquanto os do
Rio de janeiro falam /nacionau/. Esta diferença é provocada por questões de ordem espacial.
Ela é uma gata
Estilístico:
Vejamos o exemplo:
Ela é uma gata (felina)
Neste caso a mutabilidade na língua é provocada por questões de estilo. Ocorrência comum no
universo da literatura.
Para fixar os estudos aqui levantados, é importante a leitura da obra:
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. Trad de A. Chelini , José P. Paes e I. Blikstein.
São Paulo: Cultrix; USP, 1969. (qualquer edição).
Do mesmo modo, vale a leitura do texto presente no link a seguir, que é parte do material dos
encontros de filologia que ocorrem no Rio de janeiro, anualmente.
http://www.filologia.org.br/viisenefil/09.htm
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UNIDADE VI
Círculo Linguístico de Praga (CLP)
O CLP ou Estruturalismo Tcheco ou Escola de Praga é considerado por muitos a concretização da
tendência estruturalista da linguagem, pós-Saussure. O ano de 1926 é considerado marco oficial do início
deste movimento. Além de todas as características pertinentes a um movimento de estudos lingüísticos,
pode-se citar como peculiar a participação de membros não tchecos, como o russo R. Jakobson.
A essência deste movimento é bastante interessante, pois a imaginar que não se tinham os
aparatos tecnológicos de hoje, as trocas de informação, de material e de pesquisas eram feitos via
correspondência. O que por um lado atrapalhava e tornava lento o movimento, por outro, possibilitava o
acesso aos mais diversos tipos de estudos, tanto na literatura quanto na Linguística (esta última já com
status de ciência).
Os membros da Escola de Praga partilham com os formalistas russos a assunção de que a literatura é um fenómeno específico de linguagem. Contudo, a sua consideração dos fenómenos linguísticos não apresenta esses fenómenos como aspectos isolados, mas como partes de um sistema. Este, por sua vez, deveria ser estudado no âmbito de um contexto temporal, espacial e social mais vasto. A insistência na dependência mútua de todos os elementos da linguagem, ou na ideia de que nenhum fenómeno numa estrutura de linguagem pode ser devidamente avaliado se for isolado dessa mesma estrutura de que fazem parte, traça o perfil estrutural do movimento. (Frias, acesso 27.05.10, http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/E/estruturalismo_checo.htm)
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Dentre os nomes a serem lembrados, neste período, destacam-se R. Jakobson,
N. Trubetzkoi, além de V. Mathesius, B. Havránek, J. Mukarovský e B. Trnka.
Outra observação importante é o fato de haver na lógica estrutural do CLP, uma tendência a se
completar esta lógica com uma abordagem funcional. Sem dúvida este ponto sinaliza algumas das
impressões mais fortemente marcadas em períodos posteriores em que a separação ou distanciamento dos
conceitos de forma e função ou de formalismo e funcionalismo vai ficando cada vez mais complicado. Ou
em outros termos cada vez mais desafiador. Como exemplo desta postura funcional em pleno movimento
estruturalista, pode-se citar a noção de “funções da linguagem” proposta por Jakobson. Nesta proposta,
observam-se os elementos da comunicação – emissor, receptor e mensagem, por exemplo-, como meta. A
linguagem vai assumir posturas diversificadas, conforme o elemento comunicacional a que se pretende
atingir. Assim, se o emissor é o foco do texto (oral ou escrito), a função da linguagem deve espelhar este
foco. Se for o receptor, há que se ter um texto que atenda às aspirações funcionais do centro daquela
comunicação: no caso o receptor.
Neste caso um texto “X” é construído para fazer com o receptor compre o produto, logo, a função
da linguagem está centrada no receptor.
No entanto, foi na FONOLOGIA que se debruçaram os principais avanços dos estudos lingüísticos
deste período. Para o CLP a fonologia é o alicerce para os estudos das línguas e sua delimitação foi de
grande valia para a ciência lingüística.
Referencias
MARTINS, Manuel Frias (1995). Uma Teoria da Literatura e da Crítica Literária”, 2ª Edição Revista. Lisboa: Edições Cosmos. VACHEK, Josef, (a) A Prague School Reader in Linguistics, Bloomington, 1964; (b) The Linguistic School of Prague: An Introduction to its Theory and Practice, Bloomington, 1966. JOHNSON, Marta K. (org.), Recycling the Prague Linguistic Circle, Ann Arbor, 1978. JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. São Paulo, Cultrix, 2005.
Para entender um pouco mais a relevância dos estudos lingüísticos propostos pelos Círculos Linguísticos (o CLP é um deles), sugerimos acessarem ao LINK abaixo: http://recantodasletras.uol.com.br/resenhasdelivros/15705
52 , acesso 20.05.2010.
Funções da Linguagem para R. Jakobson http://acd.ufrj.br/~pead/tema01/lingfuncoes.html, acesso
20.05.2010.
Leitura complementar
LETRAS LIBRAS | 137
UNIDADE VII
Chomsky: Hipótese do inatismo/ aquisição da linguagem.
Depois de Saussure e Jakobson, Chomsky foi o principal expoente na lingüística do Sec. XX. Nasceu
em 1928 e sua obra "Syntatic Structure" e tantos outros trabalhos voltaram-se principalmente para as
propriedades da sentença que falantes e ouvintes normais conhecem de forma intuitiva.
Embora Chomsky não tenha sido o primeiro a sugerir que humanos teriam uma gramática interna -
Lewis Carrol (1832) e Edward Sapir (1884) já haviam proposto algo semelhante -, Chomsky mergulhou
fundo no assunto e trouxe a tona uma das hipóteses mais importantes para os estudos lingüísticos,
especialmente, para aqueles na direção da aquisição da linguagem.
Incontestavelmente aceita no meio acadêmico para maioria dos estudiosos, esta hipótese sugere
que os seres humanos possuem regras que lhes permitem distinguir frases gramaticais das frases
agramaticais. Por exemplo: ainda que uma criança jamais tenha ido a uma escola, dificilmente fará
combinações lingüísticas que tornem o texto incompreensível (agramatical). Convém explicar que o
conceito de “agramatical” aqui em nada tem a ver com regras da gramática normativa, mas a
incompreensão provocada por combinações lingüísticas que desrespeitam regras básicas de uma
determinada língua. Por exemplo, no português não se combinaria uma frase assim:
“bola a gosto eu muito de”.
Artigo antes do substantivo, por exemplo. Ou frase terminada em preposição.
Veja o exemplo agramatical em Libras no vídeo:
“Ir gostar Conceição praia”.
LETRAS LIBRAS| 138
Para Chomsky não é possível chegar às regularidades próprias de cada língua por meio de
observações empíricas, indutivamente. Ao contrário, seria necessário trabalhar dedutivamente, tentando
entender que tipo de sistema é a linguagem e expondo as conclusões em termos de um sistema formal. Tal
análise levaria à postulação de regras que possam explicar a produção de qualquer sentença gramatical
concebível sem, contudo, gerar sentenças incorretas ou agramaticais (MUSSALIN & BENTES, 2001).
Este movimento, procedimento e lógica, deram origem ao conceito de gramática transformacional.
Constituída de uma série de regras pelas quais as frases se relacionam e onde a representação abstrata de
uma frase pode ser convertida ou transformada em outra. Deste modo, uma transformação possibilita que
se converta, por exemplo, uma frase passiva em ativa, uma expressão interrogativa em uma negativa ou
afirmativa.
Vale ressaltar o conflito da proposta inativa de Chomsky com a
teoria behaviorista de Skinner6
“a teoria dos Princípios e Parâmetros são uma releitura da Gramática Universal, devido a novas descobertas na área e também por causa de vários questionamentos a respeito. Então se postula que a gramática é regida por Princípios ou Leis” invariantes, presentes em todas as línguas, e parâmetros que são leis que variam entre as línguas o que explica tanto as diferenças entre as línguas como as mudanças numa mesma língua.”
(ênfase no comportamento - em termos das
mesmas cadeias de estímulos-respostas e leis de esforço). Esta posição de
Skinner vai contra as complexas propriedades estruturais da linguagem que
faziam Chomsky fascinar-se. Skinner ignorava solenemente aspectos criativos
da linguagem o que se opõem de forma categórica ao infinito potencial
expressivo da linguagem, concebido por Chomsky.
O texto a seguir (2007), orientado pelo professor Vicente Martins, da Universidade Estadual
Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Estado do Ceará, que contou com a participação dos alunos do curso de
Letras, Bezerra & Paiva, traz de forma sucinta e objetiva algumas das propostas Chomskyanas. A idéia, da
escolha deste material, é aproximar o texto dos estudantes que escrevem aos estudantes que lêem para
provar que assim como eles, vocês também podem refletir sobre o tema aparentemente complicado:
“Segundo Chomsky adepto do gerativismo, a criança possui um Dispositivo de Aquisição da Linguagem, DAL, que é acionado através de frases ou falas, IMPUT, dos adultos, gerando assim a gramática a qual a criança está contextualizada. Mas neste sistema somente algumas regras serão ativadas, pois a criança escolhe quais regras serão usadas para uso da língua nativa, descartando as que não se adéquam.”
“outro assunto abordado é a Gramática Universal (GU): a criança já nasce com uma gramática em sua cabeça - onde estão as regras de todas as línguas. Mas a criança transforma esta gramática, na gramática de sua língua, retirando só o que é necessário para o uso e aprendizagem da mesma, descartando o restante.”
6 Burrhus Frederic Skinner, eminente psicólogo contemporâneo nascido nos Estados Unidos em 1904. Lecionou nas Universidades de Harvard, Indiana e Minnesota.
LETRAS LIBRAS | 139
Finalmente, após tais exposições sobre a teoria de Chomsky e, consequentemente, a reflexão sobre
a aquisição da linguagem, fica uma pergunta: como pensar a teoria de Chomsky (gerativa) para os
processos de aquisição da linguagem
Referencias bibliográficas
CHOMSKY, Noam. Linguagem e mente. Brasília: Universidade de Brasília, 1998.
FARACO, Carlos Alberto. Lingüística Histórica. 2.ed. São Paulo:Ática, 1998.
em crianças surdas?
Embora haja uma diferença básica no tipo de imersão que se faz para uma criança ouvinte em
relação à criança surda, é preciso não perder de vista que estamos tratando da possibilidade de aquisição
da primeira língua do surdo - que deveria ser a Libras-, pois se por lado a oralidade predomina na aquisição
da criança ouvinte, no caso da criança surda deveria ser garantida uma aquisição através de uma linguagem
visual-espacial (QUADROS, 1997). Isto significa dizer que enquanto ser humano, constituído por uma
gramática interna, intuitiva, basta fazerem-se as associações necessárias, as escolhas, transformações das
regras internas para as regras de sua própria língua, no caso a Libras. Isto confirma que enquanto Língua I, a
Libras não precisa ser traduzida para o português para ser língua. Enquanto língua é suscetível a reflexões,
inclusive, da teoria gerativa de Chomsky.
FARIA, Núbia Rabelo Bakker. Buscando os limites do dado na aquisição da linguagem. Disponível em
<http://sw.npd.ufc.br/abralin/anais_con2nac_tema014.pdf>. Acessado em 18 ago. 2002.
GARDNER, Howard. A nova ciência da mente. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996.
LOPES, Edward. Fundamentos da linguistica comtemporânea. São Paulo: Cultrix, 1995.
MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Ana Cristina. Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo:
Cortez, 2001. v.1.
QUADROS, R. M. Educação de Surdos. A aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
apresento a seguir a obra de Quadros (1997) que discute, exatamente, esta questão da aquisição da linguagem da criança surda:
http://hendrix.sj.cefetsc.edu.br/~nepes/docs/midiateca_artigos/a_escrita_l2/aquiscao_L1_L2.pdf
Leitura complementar
LETRAS LIBRAS| 140
UNIDADE VIII
Sociolingüística
A percepção de que o social é preponderante para análise das questões de ordem lingüística
sustenta a linha teórica denominada sociolingüística. Nesta vertente não apenas o que está dentro da
língua, propriamente dita, deve ser considerado – uma posição mais formal - mas o que é externo a língua
também pode influenciar os processos da língua e na língua.
Desta forma, se por um lado, na língua portuguesa, devemos evitar construções do tipo:
“A GENTE VAMOS”.
“ARRENTE TEM QUE SAI MERMO”
Por outro, estas ocorrências demonstram que estes usos podem sinalizar informações,
também, muito importantes se considerarmos que a língua é fato social e como tal deve ser entendida
dentro deste espaço: a sociedade.
Imaginemos um professor de língua que apenas se preocupe com as regras da gramática
normativa de sua língua? Como ficam os registros e usos que cada aluno/indivíduo trás consigo? Como
saber lidar com os espaços lingüísticos que diferem daqueles apresentados na escola? Sobre isto o exemplo
apresentado a seguir pode auxiliar (MATOS, 2007,p. 14):
Minha pergunta, partir deste exemplo:
Quem será atendido, auxiliado mais prontamente, na queda dentro do buraco? Provavelmente,
a resposta será o segundo. E por quê?
Dois amigos, andando pela rua, conversando, distraídos.
A poucos metros, dois buracos da CEDAE (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) de aproximadamente 2 metros, sem tampa. Cada buraco na direção de cada um dos amigos. Como estão distraídos, não percebem os buracos e caem dentro deles. O primeiro, grita:
- Alguém poder-me-ia salvar!!!!
O segundo grita:
- Socorro!!!!!
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Vejamos agora um exemplo em Libras:
Encontro de um intérprete com dois tipos de alunos distintos.
Um aluno de turma mais formal outro de uma turma de jovens surfistas.
Minha pergunta:
Haverá diferença entre os sinais feitos para o primeiro aluno e o segundo, no que diz respeito a
libras? Provavelmente, Sim.
Assim, tudo depende do momento, devemos estar prontos para fazer o uso lingüístico adequado a
cada situação social. Afinal, qual a utilidade da mesóclise (exemplo em língua portuguesa), numa situação
como esta e se a situação (cair no buraco) não pede isto?
Por outro lado, numa entrevista para emprego ou algo parecido, talvez a mesóclise dê mais certo.
Certas situações esperam um tipo de registro lingüístico mais formal.
Neste sentido, a proposta Sociolinguistica abre o debate para que se verifique o que realmente
importa, quando importa e por qual motivo importa. Assume-se uma lógica que se afasta do classificatório
“certo” e “errado” e se aproxima do “adequado” e “inadequado”.
Discussões a cerca do preconceito lingüístico (BAGNO, 1999), por exemplo, são, ao menos,
inspiradas pelos princípios da teoria da variação.
Um fato bastante interessante a este respeito é a postura de Evanildo Bechara, gramático
renomado que nas últimas edições de sua gramática de língua portuguesa afirma o seguinte:
Há de distinguir-se cuidadosamente o exemplar do correto, porque pertencem a planos conceituais diferentes. Quando se fala do exemplar, fala-se de uma forma eleita entre as várias formas de falar que constitui a língua histórica, razão por que o eleito não é nem correto nem incorreto.(...) modo exemplar pertence à arquitetura da língua histórica, enquanto o correto (ou incorreto) se situa no plano da estrutura da língua funcional. Cada língua funcional tem sua própria correção à medida que se trata de um modo de falar que existe historicamente. (BECHARA,1999, p. 51 e 52.)
Assim, se um gramático admite que não haja correto ou incorreto, nós, enquanto
professores de língua, devemos modalizar nossas manifestações quando estivermos diante de usos que
talvez não estejam de acordo com as concepções da tradição gramatical, mas que se aplicam perfeitamente
ao momento, ao contexto, aos participantes. Afinal, é possível que estejamos apenas diante de variações
de um mesmo elemento da língua: variantes.
Sobre as variantes, há uma proposta de distinção entre os seus diversos tipos, que
explicam, de certa forma, que situações motivaram tais variações. São elas, conforme Coseriu (1982):
Diatópica:
Variação geográfica. As variações resultantes das características regionais, ou diatópicas, são
representadas pelos distintos sotaques, evidenciados, por exemplo, pela diferente pronúncia em regiões
LETRAS LIBRAS| 142
paulistas, sulistas – principalmente as de colonização italiana - e regiões nordestinas. Além dessas, as
variações diatópicas também se evidenciam em outros níveis, como o lexical, por exemplo, com os variados
nomes existentes para um mesmo objeto; ou o morfossintático, como a distribuição regional do emprego
do pronome “tu/você”.
Diafásicas:
Modalidade expressiva. Dizem respeito ao estilo.
Diastráticas:
Sociocultural. Há também as alterações na linguagem resultantes dos diferentes estratos sócio-
culturais, denominadas diastráticas e que podem ser comprovadas com estudos comparativos entre
falantes alfabetizados e analfabetos, por exemplo.
Agora, com algum conhecimento sobre os temas relacionados à Sociolinguística e seguindo a
mesma lógica proposta desde o início deste material, pergunto:
1. Se a Libras é uma língua, estabelecida socialmente, é possível a existência de variantes
também?
Há pouco tempo (abril, 2010), participando de uma banca de qualificação de mestrado, houve a
defesa de um trabalho que discutia o motivo pelo qual usuários de libras de uma determinada capital
brasileira não conseguiam aprovação na prova de proficiência do MEC (Prolibras). Isto é bem intrigante,
pois se são usuários eficientes da libras, em suas cidades e em seus ambientes sociais, por qual motivo o
resultado é tão ruim ?
Seria por uma questão sociolingüística ?
Será que todos os usuários da Língua brasileira de sinais, em todos os estados brasileiros, a utilizam
da mesma maneira?
Será que todos os sinais são reproduzidos exatamente como foram concebidos ?
Enfim, para concluir nossa abordagem, propomos a leitura do trecho a seguir de Matos (2010):
Cada aluno que chega, por exemplo, a um colégio, a uma escola, a um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) traz consigo a sua realidade linguística. Os docentes precisam entender que cada um tem a sua própria gramática, sua própria competência lingüística, a sua própria maneira de se comunicar. Além disso, a presença da gíria ou da concordância equivocada, por exemplo, não fazem com que ele deixe de ser um falante eficiente na sua língua. Não se pode perder de vista que, conforme Bechara (1999), devemos ser poliglotas em nossa própria língua, ou seja, devemos ser capazes de lidar com as realidades lingüísticas, sejam elas quais forem, conforme o momento social, o contexto social.
LETRAS LIBRAS | 143
Referencias bibliograficas
BAGNO, M. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
BECHARA, E. (1999). Moderna Gramática da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna.
COSERIU, Eugenio. Sentido y tareas de la dialectologia. Cadernos de Lingüística, México, A.L.F.A.L., n. 8, 1982.
LABOV, William. The social motivation of a sound change. Word, 1964.
MATOS, Denilson P. de. Letramento: reflexões e possibilidades. In: Pesquisa em discurso pedagógico, Rio de Janeiro: PUC-RJ, 2010 (no prelo).
MATOS, Denilson P. de. História da Linguística. In: Instrucional UCB. Rio de Janeiro: UCB, 2007.
SENNA, Luiz A.G. Pequeno manual de lingüística geral e aplicada. Rio de Janeiro: Editora do autor. 1991.
TARALLO, F. A pesquisa sociolingüística. 2. ed. São Paulo: Ática, 1986.
LETRAS LIBRAS| 144
UNIDADE IX
Estudos linguísticos sobre o texto.
Nesta unidade, vamos tratar da questão do texto. A década de 60, do século XX, costuma
ser associada ao período em que os estudos linguísticos passam a dar algum grau de importância ao texto,
enquanto unidade comunicacional constituída. Inicialmente, ainda com muita influência da postura
formalista da linguagem, a partir da Linguística Textual: as análises transfrásticas e a Gramática de Texto e,
numa terceira fase, a concepção de que a Linguística deveria observar a possibilidade de criação de uma
teoria do texto. Neste sentido, o texto passa a ser compreendido a partir do uso em uma situação real de
interação.
Além da Linguística Textual, a Análise do Discurso (AD), representa um grande passo na
direção da compreensão do texto. Todavia, no caso da AD, a observação do texto não é mais sob a lógica
do texto, tradicionalmente estabelecido, mas visto como uma unidade tridimensional. Neste caso, este
texto é admitido exclusivamente dentro de uma situação real e comunicativa, recebendo por muitos o
nome de discurso, posto que sua produção constrói-se na história, por meio da linguagem, que é uma das
instâncias por onde a ideologia se concretiza.
Em minha opinião, reside neste ponto – o debate sobre o que é texto – uma das principais
dificuldades para a efetivação da proposta neste instrucional: língua portuguesa e Libras num mesmo nível
de análise. E a dificuldade não reside apenas no fato de se ter várias definições para texto, que vão da
noção mais geral, que sugere que tudo que comunica é texto (oral ou escrito), até as mais tradicionais que
entendem o texto como algo que se concretiza numa oração, parágrafo ou frase nominal.
Nosso principal desafio está na concepção admitida para texto que inclui o texto oralizado e
escrito sob a ótica da língua portuguesa, por exemplo. A estruturação sintática do português, como se fosse
obrigatório que a LIBRAS se “encaixasse” aos moldes estruturais da língua “inspiradora”. Penso que,
enquanto aluno do curso de Letras/Libras, vocês têm, como meta e quase obrigação, que refletir, discutir,
pesquisar e apresentar propostas a este respeito, de sorte que textos como o abaixo apresentado, não
LETRAS LIBRAS | 145
sejam discriminados, pelos falantes da língua portuguesa. O texto é uma carta de contexto religioso
enviada a uma intérprete de LIBRAS (OLIVEIRA, 2002):
Oi tudo bom L. Eu sou muito feliz você. Espírito Santo visitar sua vida. Deus dar sua dons própria surdo mundo. Quando L. chegou igreja. Você viu dois surdo B.-D. Verdade. Passado muito difícil para mim Por causas. Não tem interpretas. Agora Deus prepara já começou Graça Deus. Eu te amo L. realidade. Eu nunca esqueça Você Por que amo Verdade. Toque Silêncio amo você Abaçou pra L. Beijo Boca.
Convém esclarecer que as dificuldades apresentadas não são preocupação apenas nossas, há
interpretações variadas sobre o bilinguismo, quando isto diz respeito ao surdo. Conforme Oliveira (2002,
Apud GOLDFELD, 1998), há duas formas distintas de definição da filosofia bilíngüe. A primeira acredita que
a criança surda deve adquirir a língua de sinais e a modalidade oral da língua de seu país, sendo que
posteriormente esta deverá ser alfabetizada na língua oficial de seu país. Por outro lado, existem aqueles
que acreditam que os sujeitos com surdez devam aprender a língua de sinais e a língua oficial de seu país
apenas na modalidade escrita e não na oral (opinião da qual compartilho, conforme sinalizado na unidade
VII, deste instrucional).
Neste sentido, quaisquer discussões sobre texto, num curso de Letras/Libras, que não passe
primeiro pela decisão de qual caminho se pretende seguir sobre a filosofia bilíngüe, estão fadadas a nada
acrescentar em termos da concepção do texto, tanto para o ouvinte quanto para o surdo, afinal, não basta
que o surdo construa e entenda o que é texto, mas que o ouvinte compreenda o que é texto para o surdo.
A LINGÜÍSTICA TEXTUAL E SEUS MAIS RECENTES AVANÇOS de Galembeck (UEL), a partir do link a seguir: http://www.filologia.org.br/ixcnlf/5/06.htm
E a leitura do artigo de Oliveira (2002), da UFJF:A Escrita do surdo: Relação texto e concepção: http://www.educacaoonline.pro.br/index.php?option=com_content&view=article&id=39:a-escrita-do-surdo-relacao-texto-e-concepcao&catid=5:educacao-especial&Itemid=16
Leitura complementar
LETRAS LIBRAS| 146
Referencias Bibliográficas:
BEAUGRANDE, Robert-Alain de e DRESSLER, Wolfgang U. Introduction to Text Linguistics. London: Longman, 1981. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. CHAROLLES, Michel. Coherence as a principle of Interpretability of Discourse. Text, 3 (1) , 1983, p. 71-98. FERNANDES, Cleudemar Alves. Análise do discurso: reflexões introdutórias. 2. ed. São Carlos: Claraluz, 2007. ___________________. Análise do Discurso: reflexões introdutórias. Goiânia: Trilhas Urbanas: 2005. FERNANDES, Cleudemar A. SANTOS, João B. C. (Orgs.). Análise do Discurso: unidade e dispersão. São Paulo: EntreMeios, 2004. FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. 8 ed. Re v. atual. São Paulo: Ática, 2006. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Introdução à lingüística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2004. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Aspectos lingüísticos, sociais e cognitivos da produção de sentido. 1998, (mimeo). ORLANDI, Eni Pucinelli. Análise de Discurso: princípios e fundamentos. 3.ed., Campinas, SP: Pontes, 2001. OLIVEIRA, Luciana A. A Escrita do surdo: Relação texto e concepção. In: revista on-line. 2002 (www.educacaoonline.pro.br). SPERBER, Dan e WILSON, Deidre. Relevance. Communication and Cognition. Oxford: Blackwell, 1986.
LETRAS LIBRAS | 147
UNIDADE X
Linguística Funcionalista
Conforme mencionado, na Unidade II, há duas grandes tendências de pesquisa na área dos estudos
da linguagem: O formalismo e o funcionalismo. Na Unidade X, trataremos um pouco mais sobre o
funcionalismo, mais precisamente da corrente funcionalista da linguagem. Esta corrente que abrange
diversos estudos dos mais radicais aos mais brandos, no que se refere à postura funcionalista, traz em seu
bojo alguns pontos básicos: a função é considerada ponto de partida - em proeminência, se comparada à
estrutura; o uso e os discursos são elementos fundamentais para a observação da língua/linguagem num
processo comunicativo; também é chamada de lingüística sistêmica.
Conforme Matos (2008), desde Jakobson e Martinet (nas primeiras décadas do século XX, via CLP7)
que a qualificação “funcional” vem se mantendo através dos tempos, embora vez por outra assuma perfis
diversificados. Estas mudanças são estimuladas pelas várias pesquisas e teorias em torno da corrente de
estudos da linguagem denominada de funcionalismo. Por isto, nem sempre há unanimidade na definição
dos limites destes estudos. Neves (1997, p.55), cita Elizabeth Bates8
7 Circulo Lingüístico de Praga 8 Neves 1987; apud Van Valin, 1990, p.171
que propõe analogia do funcionalismo
ao protestantismo: “é um grupo de seitas em conflito, que concordam somente na rejeição da autoridade
do papa. Cita também, Bechara (1991) que “considera complexa a tarefa de definir a disciplina a que se vai
aplicar a denominação ‘funcionalista’, uma vez que esse nome vem servindo para rotular várias
modalidades de descrição lingüística e de aplicação pedagógica no estudo das línguas. Na mesma direção,
Pezatti (2004, p.167) afirma que: “o termo ‘funcional’ tem sido vinculado a uma variedade tão grande de
modelos teóricos, que se torna impossível a existência de uma teoria monolítica que seja compartilhada
por todos os que se identificam com a corrente funcionalista”.
Não obstante, é possível propor três grandes tendências funcionalistas que explicitam as linhas
gerais e também as escolhas teóricas feitas por cada grupo de estudiosos e pesquisas que compõem tais
tendências. Propõe-se a sugestão de Macedo (1998, p.75), sobre tais nuanças do funcionalismo:
LETRAS LIBRAS| 148
Funcionalismo formalista: a linguagem é constituída de gramática e retórica. A gramática é definida como um sistema abstrato de regras para produzir e interpretar mensagens, enquanto a retórica como um conjunto de máximas que vão propiciar o sucesso na comunicação. A gramática pode-se adaptar `as suas funções na medida em que ela possui propriedades que facilitam a operação das máximas retóricas.
Funcionalismo moderado: A linguagem é basicamente um sistema de interação social; o seu estudo como sistema formal não é relevante, mas deve ser encarado em bases funcionais.
Funcionalismo extremado: A linguagem é um sistema de interação social; considerações formais são periféricas ou irrelevantes para a sua compreensão.
Dos pressupostos básicos da teoria funcionalista, parte-se da noção de protótipo9
b- distribuição de freqüência: a estrutura marcada tende a ser menos freqüente do que a
estrutura não-marcada correspondente;
(Taylor, 1995),
concebido como uma espécie de modelo que representa uma determinada categoria, e “dentro de cada
categoria há o membro que ostenta o maior número de propriedades características, e é segundo a
semelhança com essa configuração que os demais devem ser classificados” (conf. Neves, 2002, p.166).
Neste sentido, há uma função sintática exercida pelo pronome lhe que é mais prototípica que as outras.
Acrescente-se que o padrão de protótipo escolhido está associado, inicialmente, à freqüência.
Assim, a freqüência é um dos parâmetros para a identificação de uma estrutura prototípica, pois,
conforme Cunha, Oliveira e Votre (1999, p.91), “a hipótese básica do funcionalismo é que, sobretudo, o uso
da língua molda a gramática, a repetição ou freqüência de ocorrência de um item ou construção é o
mecanismo por meio do qual esse processo de modelagem da língua ocorre”, afinal, o “exemplar da
categoria” (Neves, 2006, p.22) é o mais freqüente. “Termos repetidos em determinados ambientes textuais
motivam certa padronização de uso (Cunha, Oliveira e Votre,1999,p.95)”. E, opostamente, as que forem
menos recorrentes são interpretadas como menos prototípicas ou marginais.
Para a análise da recorrência dessas estruturas, além da noção de a prototipicidade, mencionamos
o princípio da marcação. Conforme Neves (2002, p.117):
O conceito de marcado é formulado em termos de familiaridade e, por extensão de freqüência de ocorrência. É marcado tudo aquilo que é mais complexo, menos comum, menos previsível na estrutura da língua.
O princípio da marcação, de acordo com Cunha, Costa e Cesario (2003, p.29), é herdado da
lingüística estrutural, desenvolvida pela Escola de Praga e estabelece três critérios principais para a
distinção entre categorias marcadas e não-marcadas, em um contraste gramatical binário:
a- complexidade estrutural: a estrutura marcada tende a ser mais complexa (maior) que a
estrutura não-marcada correspondente;
9 A teoria do protótipo propiciou um novo modo de se estudar a língua, possibilitando o surgimento da lingüística cognitiva (Bonini, 2001).
LETRAS LIBRAS | 149
c- complexidade cognitiva: a estrutura marcada tende a ser cognitivamente mais complexa do
que a estrutura não-marcada correspondente. Incluem-se, aqui, fatores como esforço mental,
demanda de atenção e tempo de processamento.
Assim, do mesmo modo que tais pressupostos se aplicam à língua portuguesa, pode ser pensado
para Libras. O que acham?
Esta e tantas outras perguntas que fizemos e refletimos ao longo destas 10 unidades, sinalizam a
importância de nossa disciplina para vocês, estudiosos de língua portuguesa e principalmente de Libras,
uma língua nova, pronta para ser estudada, por nós que decidimos fazer do estudo da língua/linguagem
nossa profissão. Até breve!!
Referencias bibliograficas
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37 ed. ver. Ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 2000 FERREIRA, L. et alii. Uma abordagem pancrônica da sintaxe portuguesa. Gragoatá. V. 9. Niterói: EDUFF, 2000. FURTADO DA CUNHA, Maia Angélica, OLIVEIRA, Mariangela Rios e VOTRE, Sebastião. “A interação sincronia/diacronia no estudo da sintaxe”. In: Delta, vol. 15, n1. São Paulo: Fev/jul, 1999. FURTADO da cunha M., M., OLIVEIRA, M. e MARTELOTTA, M. (org.). Lingüística Funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DpeA, 2003. FURTADO DA CUNHA, Maria Angélica, COSTA, Marcos Antonio e CEZARIO, Maria Maura. “Pressupostos teóricos fundamentais”. In: Lingüística funcional teoria e prática.Rio de Janeiro, DP&A editora – FAPERJ, 2003, p.29. FURTADO da Cunha M., SOUZA, Maria Madianeira de. Transitividade e seus contextos de uso. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.
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LIBRAS I
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