Título original: The last Kids on EarthAutor do texto: Max Brallier
Ilustrações da capa e miolo: Douglas HolgateTexto © 2015 by Max Brallier
Ilustrações © 2015 by Douglas HolgateTradução © Editorial Presença, Lisboa, 2018
Tradução: Catarina GândaraRevisão: Sérgio Fernandes/Editorial Presença
Composição: Ana SeromenhoImpressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda.
Depósito legal n.º 445248/181.ª edição, Lisboa, outubro, 2018
Reservados todos os direitos para a língua portuguesa, exceto Brasil, à
EDITORIAL PRESENÇAEstrada das Palmeiras, 59
Queluz de Baixo2730-132 [email protected]
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capítulo 1Aquele sou eu.
Não, não sou o monstro gigantesco.
Por baixo do monstro gigantesco. Sou o miúdo que está
caído de costas, com o taco de basebol feito em pedaços. Sou
o miúdo giro que está prestes a ser devorado.
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Há quarenta e dois dias eu era um miúdo normalíssimo: com
treze anos, a viver uma vida sem sobressaltos na desinteressante
cidade de Wakefield. Não era, de maneira nenhuma, um herói,
não era, de maneira nenhuma, um durão, não andava, de
maneira nenhuma, a lutar contra monstros gigantescos.
Mas olhem para mim agora. A combater com um monstro
colossal no telhado da loja de conveniência do meu bairro.
A vida é assim, tem destas coisas completamente doidas.
Neste momento, o mundo inteiro está assim, completamente
doido. Vejam as janelas estilhaçadas. Vejam as videiras bravias
a trepar pelas paredes laterais do edifício.
Nenhuma destas coisas é normal.
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(não é
normal)
(não é normal)
(não é normal)
E eu? Bem, eu nunca fui normal. Sempre fui diferente. É que,
estão a ver, sou órfão — andei de casa em casa e de família em
família pelo país inteiro, até que aterrei nesta pequena cidade
de Wakefield em dezembro.
Mas todas essas mudanças tornam-nos mais duros: tornam-
-nos fixes, tornam-nos confiantes, tornam-nos bons com as
raparigas — tornam-nos no JACK SULLIVAN.
Oh, bolas!
PUNHO DE MONSTRO A VIR DIREITO A MIM!!!
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ESCAPEI POR UMA UNHA NEGRA!
Credo.
Quase levei com o punho de um monstro na cabeça.
Estou na loja de conveniência porque precisava de um con-
junto de reparação para os óculos — aqueles pequenos conjun-
tos de ferramentas que os pais compram para quando os
óculos deles se partem. Eu sei que é uma coisa foleira para
se precisar. Mas eu tenho um walkie-talkie que está avariado,
e, para arranjá-lo, preciso de uma chave de parafusos mesmo,
mesmo, mesmo minúscula, e a única coisa que tem uma chave
de parafusos mesmo, mesmo, mesmo minúscula é um con-junto de reparação para óculos.
Era suposto isto ter sido uma ida rápida e fácil à loja de
conveniência. Mas houve uma coisa que eu aprendi sobre a
vida depois do Apocalipse dos Monstros: nada é rápido e
nada é fácil.
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Este monstro aqui é a coisa mais terrível, mais feroz e sim-
plesmente horrível com que alguma vez me deparei até hoje.
Ele é simplesmente —
Credo! O gigantesco punho do monstro bate no telhado até
este estalar como se fosse feito de gelo fino. Tropeço, caio para
trás e aterro com toda a força em cima do meu rabo ossudo.
Já é altura de deixar de ser o saco de pancada deste monstro.
É que, estão a ver, há já algum tempo que sou o saco de
pancada de toda a gente e, vocês sabem, isso não tem lá muita
piada.
Portanto, vou dar-lhe luta.
Levanto-me.
Sacudo a poeira da roupa.
Aperto o taco na mão. Nem com demasiada força, nem de
maneira demasiado frouxa — exatamente como nos ensinam
a fazer na Liga Júnior de Basebol.
Só que eu não estou a tentar acertar na miserável bola atirada
por um miúdo qualquer... estou a tentar matar um monstro.
KA-BOOM!
1 4 1 5
1 5
DueloMortal!
QUEM IRA VENCER?!
,
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Bem, basicamente, ele vence.
A enormíssima pata do monstro agarra-me a meio do salto,
em pleno ar. Sou do tamanho de um dedal naquela mão
colossal.
Tento agarrar na lâmina do meu taco de basebol (também
conhecida pelo nome de Cortador de Louisville), mas o aperto
esmagador do monstro está a prender-me os braços contra o
tronco.
O monstro puxa-me para perto da cara dele. Uma saliva
espessa, que parece lodo, escorre-lhe dos lábios. Os olhos dele
examinam-me atentamente e as narinas abanam quando inala o
meu odor. Sinto-me como se fosse aquela miúda loira do filme
King Kong. Só que acho que este monstro não quer dar-me
chi-corações nem mimos...
Fareja-me mais um bocado, e atira-me o cabelo para trás
quando expira. Eu viro a cara. O hálito dele é simplesmente...
uau, este meu amigo precisa de lavar os dentes!
Já tinha encontrado outros monstros assustadores ao longo
dos últimos quarenta e dois dias, mas nenhum que se asse-
melhasse a este. Nenhum que me examinasse atentamente:
a olhar para mim, a farejar-me, a estudar-me.
Nenhum que me parecesse tão aterradoramente inteligente
como este. Tenho uma má sensação no estômago — um pres-
sentimento —, algo me diz que este monstro é 100% pura
maldade, para lá, para lá de MALDOSO.
Um sorriso parece rasgar-se na cara do monstro. Um sorrisi-
nho sinistro que diz: «Não sou simplesmente um brutamontes
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primitivo qualquer. Sou um vilão monstruoso, um ser extrema-
mente maldoso, e vou ter imenso prazer em provocar dor no
teu minúsculo corpo humano».
Com um gemido de fazer arrepiar a espinha, a boca do
monstro abre-se ao máximo, revelando um exército de pre-
sas sujas, com pedaços de carne entre cada uma delas. Dou
pontapés. Contorço-me. E, enfrentando a morte iminente por
devoração, por fim acabo por MORDER. Os meus dentes
enterram-se na carne do monstro e a pata dele abre-se ligei-
ramente — apenas o suficiente para eu conseguir enrolar os
dedos em volta da pega da minha lâmina, libertá-la e…
Larga-me,
monstro idiota!
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