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    Aprendizagem colaborativa e comunicao mediada por

    computador

    1. APRESENTAOTodos sabem e no de hoje que o dilogo de suma importncia no processo de aprendizagem.

    No entanto, a insero das tecnologias como mediao das relaes entre os participantes do processo de ensino fez com que este assunto fosse ainda mais profundamente estudado.

    As tecnologias, principalmente aquelas relacionadas ao computador, exigem um redimensionamento da postura da equipe pedaggica e tambm do aluno. As atividades de aula devem estar apoiadas por uma metodologia que garanta o xito da aprendizagem.

    Tendo em vista a importncia da dialogicidade e da construo compartilhada do conhecimento no processo de ensino, neste captulo vamos abordar como a aprendizagem colaborativa pode ser ainda mais benfica, se for apoiada pelo computador.

    2. INTRODUO A Aprendizagem Colaborativa com Suporte Computacional - do ingls, Computer Supported

    Collaborative Learning (CSCL) - tem como objetivo estudar como as pessoas podem aprender em grupo, com o auxlio do computador.

    Para saber mais sobre CSCL, acesse o link http://gerrystahl.net/cscl/CSCL_Portuguese.pdf. E leia o artigo Aprendizagem colaborativa com suporte computacional: Uma perspectiva histrica.

    Muitos veem as tecnologias como entediantes e uma forma mecnica de treinamento. Mas o CSCL vem desmistificar esse entendimento e prope o desenvolvimento de novos softwares e aplicaes que propiciem a aprendizagem em grupo, oferecendo atividades criativas de explorao intelectual e interao social.

    Utilizar a tecnologia a esmo, apenas para a mera apresentao de contedo por meio de slides ou vdeos, simples. Sem planejamento e conhecimento tecnolgico prvio, porm, o resultado ser provavelmente uma experincia frustrante. Mas, se bem planejados e estruturados, os contedos podem ser apresentados de forma mais interativa e instigar a motivao dos alunos.

    O ensino colaborativo mediado pela insero do computador requer mais esforo e comprometimento dos professores, se comparado ao ensino tradicional de sala de aula. O professor, alm de preparar os contedos, precisa planejar a melhor forma de transmiti-los por meio do computador. Ele necessita ainda ser motivador dos alunos, com a interao contnua, para que eles tenham a sensao de presena.

    importante ressaltar que, na aprendizagem colaborativa, o professor no possui somente a tarefa de transmitir o conhecimento, mas tambm a de criar possibilidades para que os alunos construam suas prprias ideias. O aprendizado centrado no aluno.

    A aprendizagem colaborativa envolve metodologias pedaggicas que buscam promover a aprendizagem por meio de esforos colaborativos entre estudantes que trabalham em determinada tarefa. Nesta abordagem,

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    o aluno um ser ativo no processo. Uma das vantagens de utilizar-se a aprendizagem colaborativa poder evitar - ou pelo menos, diminuir - o nvel de desinteresse em sala de aula. Os alunos, nesta abordagem, tm um objetivo a alcanar e devem trabalhar em conjunto. Cada um deles fica responsvel no s por sua prpria aprendizagem, mas tambm pela de todos os membros do grupo.

    A aprendizagem colaborativa oferece muitas vantagens: Os alunos aprendem tambm entre si e no s com os conhecimentos apresentados pelo professor.

    Os membros do grupo aprendem a valorizar os conhecimentos dos outros e a absorver as experincias de aprendizagem de cada um.

    A maior troca de ideias e aproximao dos membros faz aumentar o compromisso do grupo. O desenvolvimento do pensamento crtico incentivado Diminui o sentimento de isolamento e de receio crtica, seja vinda do professor ou dos colegas

    de turma.

    Tabela 1 - Aprendizagem colaborativa assistida por computador

    MXIMAS SOBRE APRENDIZAGEM TRADICIONAL MXIMAS SOBRE APRENDIZAGEM COLABORATIVA

    Sala de aula Ambiente de aprendizagem

    Professor - autoridade Professor - orientador

    Centrada no Professor Centrada no Aluno

    Aluno - Uma garrafa a encher Aluno - Uma lmpada a iluminar

    Reativa, passiva Proativa, investigativa

    nfase no produto nfase no processoAprendizagem em solido Aprendizagem em grupo

    Memorizao Transformao (KENSKI, 2003)

    3. ANTES, VAMOS FALAR DE DIALOGICIDADE

    Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br

    Este um dos eixos principais e fundamentais de toda teoria freiriana. No seu livro, Pedagogia do oprimido, escrito h 40 anos, depois de justificar o ttulo e expor a educao bancria, onde inexiste o dilogo, Freire dedica os captulos 3 e 4 ao dialgica e antidialgica.

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    Para saber mais sobre as ideias de Freire leia o artigo Educao bancria: uma questo filosfica de aprendizagem, disponvel em: Leia tambm Algumas consideraes sobre a Teoria da ao Antidialgica e Dialgica e a contribuio da atuao dos professores/educadores, disponvel em: < http://cac-php.unioeste.br/projetos/gpps/midia/seminario6/arqs/Trab_completos_politicas_educacionais/Algumas_consideracoes_soteoria_acao_antidialogica.pdf>

    A dialogicidade a essncia da educao como prtica da liberdade. O dilogo tratado como um fenmeno humano em Paulo Freire.

    (...) Se nos revela como algo que j poderemos dizer ser ele mesmo: a palavra. Mas, ao encontrarmos a palavra, na anlise do dilogo, como algo mais que um meio para que ele se faa, se nos impe buscar, tambm seus elementos constitutivos (FREIRE, 2005, p.89).

    Para o autor, quando pronunciamos a palavra, estamos pronunciando e transformando o mundo. Na dialogicidade esto sempre presentes as dimenses da ao e da reflexo. Ao pronunciar o mundo, mostramos que humanamente existimos; se existimos, agimos e modificamos o mundo dado.

    Quando no h verdadeiro dilogo, no h encontro, amorosidade e respeito. Podemos sintetizar isso mostrando que:

    O dilogo este encontro dos homens, imediatizados pelo mundo, para pronunci-lo, no se esgotando, portanto, na relao eu-tu. Esta a razo por que no possvel o dilogo entre os que querem a pronncia do mundo e os que no querem; entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os que se acham negados deste direito (FREIRE, 2005, p. 91).

    Dessa forma, deduzimos que o dilogo a atividade pedaggica por excelncia, mas que j comea mesmo antes da ao pedaggica, propriamente dita. E na investigao temtica e na busca dos contedos programticos que a ao dialgica se faz presente.

    Para finalizar o assunto, apresentaremos a definio de dilogo que Paulo Freire prope em Educao como Prtica da Liberdade:

    E que o dilogo? uma relao horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crtica e gera criticidade (Jaspers). Nutre-se do amor, da humildade, da esperana, da f, da confiana. Por isso, s com o dilogo se ligam assim, com amor, com esperana, com f um no outro, se fazem crticos na busca de algo. Instala-se, ento, uma relao de simpatia entre ambos. S a h comunicao. O dilogo , portanto, o indispensvel caminho (Jaspers), no somente nas questes vitais para a nossa ordenao poltica, mas em todos os sentidos do nosso ser. Somente pela virtude da crena, contudo, tem o dilogo estmulo e significao: pela crena no homem e nas suas possibilidades, pela crena de que somente chego a ser eles mesmos (FREIRE, 2007, p.115-116).

    Ento, podemos dizer que o dilogo consiste numa relao horizontal, e no vertical, entre as pessoas implicadas e entre as pessoas em relao. Como citamos, nos pensamentos de Paulo Freire, a relao homem/mulher/mundo so indissociveis. Ns, professores e estudantes, nos educamos juntos, em solidariedade e dilogo, na transformao e modificao do mundo, onde o saber de todos valorizado.

    Sabemos que a comunicao dialgica no uma tarefa fcil, porque um nmero significativo de professores e estudantes ainda no dispe das competncias necessrias. O processo comunicacional no ensino presencial est to alicerado na aula expositiva, que muitos professores e alunos avaliam com certa descrena a utilizao de mltiplas tecnologias em contextos educativos.

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    Por isso, aquele que pretenda assumir uma postura interativa precisar desenvolver habilidades como: identificar quais tecnologias so indispensveis, levando em conta o contexto no qual sero utilizadas; dominar as ferramentas tecnolgicas envolvidas no processo de ensino e aprendizagem do qual est

    participando; fomentar estratgias que potencializem a aprendizagem com mltiplos recursos tecnolgicos (HACK,

    2009)

    4. APRENDIZAGEM COLABORATIVA E APRENDIZAGEM INDIVIDUAL: MEDINDO VANTAGENS

    Segundo Vygotsky, aprendizes individuais tm capacidade de desenvolvimento diferente em situaes colaborativas daquelas que eles teriam quando trabalham sozinhos.

    Ele prope dois nveis de desenvolvimento: o de desenvolvimento real (capacidade que o indivduo tem de resolver algo sozinho) e o nvel de desenvolvimento potencial (capacidade de resolver problemas com a ajuda dos outros). Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/

    Assim, ele amplia o conceito de zona de desenvolvimento proximal, definida como a distncia entre os nveis real e potencial, esta que compreende o conhecimento que o indivduo ainda no absorveu, mas tem potencialidade para tal. Conclui-se, portanto, que no se pode medir a aprendizagem que ocorre nas situaes colaborativas com o uso de pr e ps-testes que medem as capacidades dos indivduos quando eles esto trabalhando sozinhos. necessrio avaliar a aprendizagem em situaes colaborativas, quando os participantes esto construindo o conhecimento em conjunto, para, assim, medir seu desenvolvimento sobre aquele contedo. neste contexto que est pautada a zona de desenvolvimento proximal.

    Vygotsky (1896-1934)props:- Nvel de desenvolvimento real: Momento no qual o indivduo se apresenta apto a resolver um

    problema sozinho.- Nvel de desenvolvimento potencial: O indivduo realiza a atividade com a ajuda de algum.- Zona de desenvolvimento proximal: a distncia entre as prticas que um indivduo domina e as

    atividades nas quais ele depende de ajuda. Para Vygotsky, no caminho entre esses dois pontos que ele pode se desenvolver mentalmente por meio da interao e da troca de experincias. No basta, portanto, determinar o que um aluno j aprendeu para avaliar seu desempenho. Fio volta

    Colaborao pode ser definida como a construo de significado de forma compartilhada. Essa construo acontece por meio da interao. Promover a construo colaborativa por intermdio do computador criar atividades e ambientes que melhorem as prticas da construo de significado em grupo.

    Indicamos o documentrio, apresentado pela professora Marta Kohl, que faz uma cuidadosa anlise dos principais temas abordados por Vygotsky, que tem como fio condutor a questo do desenvolvimento e suas relaes com a aprendizagem, a partir de uma perspectiva socioeconmica:http://www.youtube.com/watch?v=pZFu_ygccOo&list=PLCCTyqKp4bbNYIaBzrBj3kY_t8xrh1OPt

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    5. FALANDO EM TECNOLOGIA...Varella et al (2002 apud Leite et al., 2005, p.4) acredita que, aliada aprendizagem colaborativa, a tecnologia

    possa potencializar as situaes em que os professores e alunos pesquisem, discutam e construam individual e coletivamente seus conhecimentos.

    O computador tem potencial para ser um recurso muito importante para a educao colaborativa no ambiente virtual de aprendizagem: (...) pois, alm de servir para a organizao das mais diversas, pode ser um meio para que os alunos colaborem uns com outros nas atividades de grupo (LEITE et al, 2005, p.4).

    Prado (2010) ressalta que o professor tem o papel de se tornar facilitador do processo de aprendizagem do aluno. O termo facilitador foi empregado para indicar que o professor ajuda a facilitar o desenvolvimento cognitivo do aluno, por meio de indagaes que desequilibram as certezas inadequadas e que propiciam a busca de alternativas para encontrar a soluo mais apropriada ao problema e ao estilo individual de pensamento.

    6. MUDANA SIGNIFICATIVA?As tecnologias, principalmente as relacionadas computao, tm sofrido um rpido avano nas ltimas

    dcadas. A internet, sem dvida, mudou a maneira de trabalharmos, de aprendermos e de nos divertirmos. Contudo, temos que pensar que nenhuma tecnologia, no importa quo avanada for, tem a capacidade

    de mudar a prtica educativa. Para que a aprendizagem torne-se significativa utilizando esses recursos, so necessrias novas formas de ensinar e aprender.

    As tecnologias relacionadas ao computador e internet tm incentivado um novo olhar sobre as prticas didtico-pedaggicas. Elas provocaram uma relao positiva de aumento de qualidade e oportunidade para quem ensina e para quem aprende. A aprendizagem colaborativa , sem dvida, uma metodologia com um grande potencial.

    Depois de todas essas consideraes, em algum momento voc refletiu sobre como essas mudanas tm alterado sua prtica docente? Voc tem estimulado a comunicao dialgica com/ entre seus alunos? A escola que voc trabalha tem colaborado para essa prtica?

    7. CONSIDERAES FINAISEste captulo buscou tratar das temticas ligadas aprendizagem colaborativa e comunicao mediada

    por computador. O objetivo no poderia ser outro, seno o de despertar nos profissionais da educao e outros interessados nesse campo de estudos e atuao prtica a necessidade de buscar aprofundar, cada vez mais, a relao entre teoria e prtica profissional. Sem dvida, o caminho percorrido abre uma seara de debates e discusses que aqui no pode ser concludo.

    Dessa forma, entendemos, desde o incio do texto, que a insero dos computadores aliados educao exige que o professor repense sua prtica docente, devendo planejar uma metodologia que mescle a tecnologia com o contedo.

    As atividades que fazem uso das tecnologias precisam ser carregadas de significado e propsito, j que a sala de aula a combinao de significados pessoais que esto inseridos num contexto social muito complexo: o mundo tecnolgico.

    A integrao de qualquer inovao na prtica docente est subordinada aos significados pessoais que os professores do a ela. Assim, a tecnologia utilizada de acordo com as impresses e as possibilidades de cada professor.

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    A aprendizagem colaborativa importante, porque traz mais benefcios ao estudante do que as metodologias de aprendizagem tradicionais. Ela possibilita que a aprendizagem torne-se mais rica e motivadora.

    As posturas do professor e do aluno so redimensionadas. As tecnologias da informao e comunicao (TICs) abrem novas possibilidades educacionais e geram novos desafios para toda equipe pedaggica, principalmente para o professor. O desafio grande, mas as vantagens no uso do computador apoiando a aprendizagem colaborativa so maiores.

    Esperamos que voc tenha atingido o objetivo de trazer uma reflexo sobre as principais possibilidades e desafios da aprendizagem voltada para a configurao colaborativa e cooperativa. Acreditamos ter trazido os subsdios bsicos necessrios para nortear sua prtica docente. Destacamos que no h receita. Existem, sim, caminhos que podemos trilhar com nossos companheiros de trabalho na busca da articulao de uma educao de qualidade.

    8. DICA DE FILMES

    Escritores da liberdadeResumo: Erin Gruwell uma jovem professora que leciona em uma pequena escola de um bairro perifrico nos EUA. Por meio de relatos de guerra, ela ensina seus alunos os valores da tolerncia e da disciplina, realizando uma reforma educacional em toda a comunidade.

    O Cu de outubro Resumo: O adolescente Homer Hickam mora em uma cidade no interior dos EUA, que vive basicamente da minerao. Ao saber que os russos lanaram o satlite Sputnik ao espao, ele comea a sonhar em colocar um foguete em rbita. Para isso, Homer convence alguns amigos a ajudarem e, com o apoio de uma professora, d incio ao projeto que ir mudar sua vida para sempre.

    9. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. Paz e terra, 42 ed. 2005. _____________.Educao como prtica da liberdade. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 30 ed. 2007. _____________. A educao na cidade. So Paulo Cortez, 6 2d. 2005.

    HACK, J. R. Afetividade em processos comunicacionais de tutoria no ensino superior a distncia. In: FORO VIRTUAL DE VIRTUAL EDUCA SANTO DOMINGO 2010. Santo Domingo: Virtual Educa, 2010a. 17 p.

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    Disponvel em: . Acesso em: 20 fev. 2014.

    LEITE, Cristiane L. K. et al. A aprendizagem colaborativa na educao a distncia on-line. Stahl, G. (2006). Group cognition: Computer support for building collaborative knowledge. Cambridge,

    MA: MIT Press. Retrieved from: http://www.cis.drexel.edu/faculty/gerry/mit/.

    REGO, Teresa Cristina Rego. Vygotsky. Uma Perspectiva Histrico-Cultural da Educao, Teresa Cristina Rego, 138 pgs., Ed. Vozes

    PETRY, P. P. & FAGUNDES L., O preparo dos professores para trabalhar no ambiente Logo. In Psicologia: Reflexo e Crtica. Porto Alegre, v.5, no 1, p- 1-130,1992.