CienteFico. Ano III, v. I, Salvador, janeiro-junho 2003
Um Olhar Sobre a Loucura de Foucault
Sabrina Camargo
Resumo O presente trabalho tem por objetivo apresentar o conceito de loucura desenvolvido por Michel Foucault em seu livro História da Loucura. Descreve-se o fenômeno da loucura desde o Renascimento até a modernidade, mostrando que a maneira de o homem tratá-la foi mudando através dos séculos. Com o advento da Psiquiatria, houve algumas transformações no tratamento fornecido à loucura: o louco não tinha chão, não era dono de seu pensamento, de sua cidadania, de sua identidade, nem tampouco de seu comportamento. A metodologia escolhida foi a epistemológica, realizando-se, dessa forma, uma leitura detalhada das idéias do autor. Considera-se uma pesquisa de suma importância devido ao valor que se tem dado à loucura e aos inúmeros estudos acerca de suas manifestações. Palavras-chave Loucura, epistemologia, Renascimento, modernidade, Psiquiatria, exclusão. Este trabalho tem por objetivo apresentar o conceito de loucura desenvolvido por Michel
Foucault em seu livro História da Loucura. O tema escolhido surgiu de uma coincidência a
partir de visitas em hospitais psiquiátricos e da leitura da obra de Foucault. A metodologia
escolhida foi a epistemológica, realizando-se, dessa forma, uma leitura detalhada das idéias
do autor. Cabe ressaltar que, além da leitura de História da Loucura, ainda foi utilizado um
fragmento do autor Isaías Pessotti extraído de seu livro O Século dos Manicômios,* por
apresentar uma forte relação com o tema abordado.
Por ser uma pesquisa epistemológica, não houve o desenvolvimento empírico, bem como
trabalhos de campo e de laboratório. Considera-se uma pesquisa de suma importância
devido ao valor que se tem dado à loucura e aos inúmeros estudos acerca de suas
manifestações, sobretudo porque demonstra que loucura não é categoria científica neutra.
Um estudo epistemológico sobre o conceito de loucura, segundo Michel Foucault
Em seu livro História da Loucura, Foucault apresenta o fenômeno da loucura desde o
Renascimento até o seu total estabelecimento na sociedade. Sendo que, não só a maneira de
o homem lidar com a loucura sofreu transformações com o passar dos séculos, mas também
o modo pelo qual esta foi encarada pela razão.
Toda a narrativa de Foucault começa com a disseminação da lepra através das Cruzadas.
Estas, por motivos diversos, iam até o Oriente, principal foco de contaminação da
enfermidade, e de lá traziam a doença, que começou a se espalhar rapidamente por toda a
Europa, atingindo muitas pessoas. Inúmeros estabelecimentos precisaram ser construídos
para abrigar tanta gente.
De início, o poder real mantinha e assumia o controle e a reorganização dos bens dos
leprosários. No entanto, as rendas obtidas por estes bens eram empregadas não só no
tratamento de soldados, como também na alimentação de homens pobres.
Em 1672, dois leprosários na França – Saint Lazare e Mont Carmel – assumem a função do
poder real e passam a administrar os outros leprosários. Em 1695, os bens passam a ser
administrados por outros hospitais e estabelecimentos de assistência. No entanto, a lepra já
começa a desaparecer (pelo fim das Cruzadas), e os bens e as rendas destinados a ela são
direcionados com bem mais freqüência aos pobres.
O personagem do leproso é como um ser que já carrega consigo uma marca, um
estereótipo, com inúmeras atitudes já predeterminadas pela população, por isso excluído
desta. Há realmente uma contradição a respeito do tratamento dos leprosos pela Igreja e
pela população porque, segundo a Igreja, a existência dos leprosos é uma manifestação de
Deus – ainda que os leprosos sejam retirados da sociedade e da “comunidade visível da
Igreja” (Foucault, 1972, p. 6). É uma manifestação de Deus, no sentido de que foi este que
criou os leprosos e ordenou que estes viessem ao mundo.
Com falsas idéias e muita hipocrisia, a Igreja afirma que, embora afastados da Igreja e das
outras pessoas, os leprosos não estão afastados de Deus. Assim, é preciso que tenham
paciência, para que, assim, o lugar no reino dos céus lhes seja garantido.
Com o fim da lepra, a estrutura onde o leproso era mantido permanece. Contudo, este lugar
será para sempre um local de exclusão, onde outros excluídos serão encaminhados e
esperarão a ‘salvação’. No lugar da lepra surgem as doenças venéreas, que se disseminam
rapidamente. Primeiramente, os doentes são colocados nos antigos hospitais dos leprosos.
Porém, à medida que se multiplicam, é necessário que se construam outras estruturas em
lugares ‘espaçosos’ e longe das pessoas. Mas estas doenças não terão tanta importância,
assim como a lepra teve e a loucura terá, e acabarão por se enquadrar junto às outras
doenças costumeiras.
Por ter se tornado “de âmbito do médico” (Foucault, 1972, p. 8), as doenças venéreas
exigiam tratamento. Pelo fato de ser preciso internar o doente para tratá-lo, elas se
integraram juntamente com a loucura, num espaço moral de exclusão.
Dessa forma, pode-se concluir que as pessoas acometidas de lepra, doenças venéreas e
loucura representam os excluídos da sociedade (Foucault, 1972, p. 6), que necessitam com
urgência desaparecer da visibilidade das pessoas. Assim, hão de carregar sempre com eles
este estigma – a marca da discriminação e exclusão.
Na Renascença, os loucos eram colocados em barcos e navios e carregados para cidades
longe das suas em busca da razão. Havia partidas de navios especialmente para levar os
loucos. Quando estes chegavam nas cidades, eram enxotados pelos moradores. No entanto,
havia locais destinados a colocar os loucos, existindo, assim, a possibilidade de que os que
fossem enxotados fossem aqueles provenientes de outras cidades, enquanto que os que
ficavam eram oriundos delas.
Hospitais e cidades faziam peregrinações dos loucos, e, às vezes, um grande número deles
estava concentrado em lugares que não eram seus de origem. Em algumas cidades, os
insanos chegavam a receber donativos da população.
Marinheiros atracavam em lugares comerciais e ali deixavam os loucos. Estes, quando
acolhidos e mantidos pela cidade, eram levados para a prisão. Alguns insanos eram
chicoteados publicamente e enxotados. Apesar de o louco não poder freqüentar a Igreja,
podia receber a comunhão.
O fato de o louco ser levado para outros lugares através da água mostrava o efeito
purificador que esta tem. “A navegação entrega o homem à incerteza da sorte.” (Foucault,
1972, p. 12) O mar é traiçoeiro, inesperado, incerto, ‘prega peças’.
Segundo Foucault (1972, p. 12), o louco era “prisioneiro da mais aberta das estradas”,
comparando, assim, a pequenez duma prisão à imensidão do mar. O lugar para onde o
insano estava indo não era a sua terra, muito menos era aquela que ficou para trás. A terra
do louco se limita à distância entre ambas as terras, a que foi sua e a que nunca será. Dessa
forma, a água simboliza esta aterritorialidade com a qual a loucura será presenteada pelo
Ocidente. Literalmente, o louco não tinha chão. Ou tinha água em volta de si, ou tinha
grades (Foucault, 1972, p. 12).
A loucura passa a ser tema principal da literatura, do teatro, enfim, das artes como um todo.
Neste espaço, o louco não é visto mais como uma figura boba, e sim como o detentor da
verdade (Foucault, 1972, p. 14).
Na segunda metade do século XV, com as guerras e as pestes assolando as cidades sem
controle, o tema da morte reina e ninguém escapa. Entretanto, nos últimos anos do século, a
loucura substitui a morte, e é esta ascensão que indicará que o mundo está mais próximo do
que se pensa do seu desastre.
Inúmeras imagens, telas, quadros, com faces enigmáticas de difíceis compreensões,
surgem. A imagem dá margem a diferentes interpretações. Daí o fato de ela e a palavra
expressarem diferentes significados. Essas imagens surgem através dos sonhos, e por isso
exercem tanto fascínio através dos tempos. A loucura representada é vista como um saber
obscuro, que esconde segredos e que por isso mesmo precisam ser desvendados.
Na Idade Média, a loucura divide sua soberania com mais doze fraquezas da alma humana,
como luxúria, discórdia e outras. No entanto, na Renascença, a loucura passa a dominar
todas as fraquezas humanas. Isso porque a loucura é visível, não esconde nada, não
obscurece; ela atrai as pessoas pelo fato de conseguir manter uma dominação sobre as
coisas.
A loucura faz um sarcasmo do saber. Segundo Erasmo de Rottterdam (apud Foucault, 1972,
p. 24), pelo fato de a loucura ser uma fraqueza humana, “ela é um sutil relacionamento que
o homem mantém consigo mesmo”. A partir do momento que o homem se apega a si
mesmo, ele se ilude, surgindo, então, o primeiro sinal da loucura. A loucura aparece como
uma suposição para esta ignorância humana. Ela não diz respeito à realidade do mundo,
mas sim à realidade que o homem acredita existir.
No século XV, a loucura aparece como sátira moral na Literatura e Filosofia. O mundo é
facilmente dominado pela loucura. Tanto Bosh quanto Brueghel (apud Foucault, 1972, p.
25) tinham uma visão muito próxima da loucura – levando-os a fazer uma reflexão moral a
seu respeito, isto porque ela estaria ligada ao homem, com suas fraquezas, sonhos e
ambições (Foucault, 1972, p. 24). Já Erasmo (apud Foucault, 1972, p. 26) via a loucura
estabelecendo uma certa distância, distância esta que permitia uma visão mais crítica.
(Foucault, 1972, p. 26) As pinturas de Bosh (apud Foucault, 1972, p. 26) são pinturas que
mostram e revelam a essência dos homens, o homem visto através do seu interior. Com o
silêncio das imagens, a loucura desenvolve seus poderes.
Erasmo, com sua tradição humanista, afirma a existência da loucura através do discurso.
Este discurso seria expresso através da consciência crítica dos homens. Com isso, “o
homem era confrontado com a sua verdade moral, com as regras próprias à sua natureza e à
sua verdade”. (Foucault, 1972, p. 27)
Por conseqüência, enquanto esta visão crítica ia fortalecendo-se, a visão trágica ia
enfraquecendo-se, embora nunca tenha deixado de existir – como se pode comprovar nas
obras de Sade, Goya e Freud. Esta visão crítica ganhava força através da racionalidade, ao
passo que a visão trágica se enfraquecia devido à carga emocional empregada. Dessa
forma, a razão se tornou predominante sobre a emoção.
A loucura, até o final do século XVIII, teve existência relacionada com a razão. Elas
estavam extremamente implicadas. Esta se integrava na razão podendo até ser uma forma
de sua manifestação. A loucura levava à sabedoria, e a razão toma consciência da loucura.
A loucura é a “força viva e secreta da razão” para os renascentistas, por exemplo.
(Foucault, 1972, p. 31)
No século XVII, em Cervantes e Shakespeare (apud Foucault, 1972, p. 39), a loucura
sempre ocupa um lugar extremo no sentido de que ela não tem recurso. É uma loucura que
opera sobre a morte, que precisa da “misericórdia divina” (Foucault, 1972, p. 39). No
entanto, a loucura ainda triunfará, pois a morte não trouxe a paz.
Após abandonar estas regiões em que estava situada, a loucura passa a ser relacionada com
a aparência de um crime. Sua seriedade dramática só existe na medida em que se trata de
um falso drama. “A partir dela, a ilusão se desfaz” (Foucault, 1972, p. 40). Esta é a troca do
real pelo ilusório.
A loucura é capaz de levar as pessoas a desenvolver uma falsa percepção dos sentidos,
levando a crer que determinadas partes do corpo não fazem parte do corpo do insano.
Assim, é importante ter consciência do conceito de loucura e se o indivíduo é ou não louco,
não bastando ter um pensamento lógico e coerente se ele não acredita que é são.
Descartes, através da sua dúvida metódica e de seu subjetivismo transcendental, mostra a
razão pura como meio de se chegar à verdade, alocando a loucura ao lado do sonho e de
todas as formas de erro (Foucault, 1972, p. 45). Para ele, um ser que cogita (pensa) não
pode estar louco. Dessa forma, para ele, que submete tudo à dúvida, até mesmo os próprios
sentidos, chega à conclusão de que não é possível duvidar do pensamento: “Penso, logo
existo”. Assim, se duvido, não posso estar louco, pois duvidaria de minha própria loucura.
Esta dúvida metódica fez com que na dialética razão-não-razão (século XVII) a vencedora
fosse a razão.
A partir do século XVIII, a loucura está fora da interlocução com a razão. Por isso, o
homem da contemporaneidade deixou de se comunicar com o louco. Assim, a ciência a
transformou numa patologia. Para ela, quem percebia o verdadeiro, a essência das coisas,
estava longe de ser um insensato. E o louco
era desprovido destes atributos. A exclusão topográfica foi substituída pela exclusão lógica.
Para exercer sua cidadania no seu território, só há duas alternativas ao louco: zanzar pelos
rios e mares ou ser confinado sob grade. E agora, de explosão expressiva na Literatura,
passa a ser silenciado na sua voz inefável. Não tem o que dizer.
O século XVII chega com a criação de uma quantidade bastante razoável de casas de
internamento. Muitas pessoas são enviadas para estas instituições. Assim, a loucura podia
ser mais bem percebida através da quantidade de internamentos. Nestes locais, os insanos
tinham péssimas condições de vida, viviam em condições subumanas, em locais sujos,
frios, lotados de gente e sem comida. Para que fosse internado, o insano não dependia da
idade, nem do sexo, nem se seu caso fosse curável ou não.
Era dever dos hospitais dar não apenas atendimento médico aos insanos, mas também ter o
direito de decidir por eles e julgá-los, quando necessário. Logo no início, a instância da
ordem era ligada ao poder real. Aos poucos, este poder foi concedido à burguesia.
Pode-se então concluir que, para o louco, há exclusão topográfica, exclusão lógica e
exclusão política. Sem chão, sem razão e sem cidadania. Na Inglaterra, para manter as casas
de correção, a população ajudava com donativos, embora estes não surtissem efeito.
Algumas empresas privadas passaram então a ter o domínio sem ter de pedir permissão
para abrir mais casas.
No fim do século XVIII há um total de 126 (cento e vinte e seis) casas de correção na
Inglaterra. Anos depois espalham-se por toda a Europa. A própria população ajuda a isolar
os insanos, segregando-os e atribuindo-os uma nova pátria. O internamento aparece como
algo desumano, onde revela que os insanos não podiam responder por si mesmos – já que,
por serem loucos, não tinham consciência dos seus atos; eram predestinados.
Segundo o Protestantismo de Lutero, as obras de caridade levavam à salvação porque com
elas todos os pecados podiam ser redimidos. As instituições que recebiam estas doações
(porque elas não iam para o clero) tinham administradores que geravam as finanças. Estas
instituições representavam um castigo moral da miséria, porque esta era considerada como
uma desordem quanto à ordem estabelecida. Esta filosofia protestante tinha a intenção de
colocar o trabalho num local rivilegiado: o trabalho como sendo fundamentado e
comprovado pela fé.
Esta concepção foi tão disseminada que a Igreja Católica logo se viu impelida a aplicar os
conceitos protestantes a sua religião. Assim, esta adotou uma percepção da miséria já
desenvolvida pelo Protestantismo, dividindo os miseráveis em dois grupos:
– Região do bem e da pobreza submissa, que aceita o internamento e encontra o seu
descanso.
– Região do mal e pobreza insubmissa, que recusa o internamento.
“Uns seriam filhos de Deus enquanto outros do demônio” (Foucault, 1972, p. 61).
Esta oposição entre bons e maus vai levar a uma divisão da loucura, segundo esta
dicotomia. A miséria perde o sentido místico porque ela não remete mais à presença de
Deus. Enquanto o louco da Idade Média era considerado como sagrado, no século XVII ele
foi dessacralizado. Assim, a loucura, antes de natureza religiosa, passa a ser puramente
moral, confrontando os costumes e ultrapassando os limites do que se considerava normal.
No século XVII, o internamento aparece não com a intenção da cura, mas com o sentido de
disciplinar a mendicância e a vagabundagem. Isto é, os loucos, por ficarem na ociosidade e
mendigando, eram internados para que exercessem atividades. Este louco nasce de uma
sensibilidade moral; ele é excluído porque seu lugar é entre os miseráveis; ele perturba a
ordem social. Com isso, o louco passa a ser propriedade do Estado. E, ironicamente, em
tempos de crise o Hospital Geral tinha o direito de dar trabalho aos desempregados, e
quando não havia crise o trabalho era oferecido aos presos com o intuito de obter mão-de-
obra barata e/ou reabsorver os ociosos. Duas críticas podem ser extraídas: além de esta
concepção seguir totalmente a ética burguesa, o hospital geral não possuía um caráter
médico, mas meramente normal. Neste contexto havia também uma outra exclusão: o louco
não era dono de seu chão, de seu pensamento e de sua cidadania, nem tampouco de seu
comportamento. A direção de suas ações era declinada por um tutor.
Ainda no século XVII, o parlamento de Paris (1606) decide, através da força, punir aqueles
que não retomaram o lugar na sociedade. Estes seriam “chicoteados em praça pública,
marcados nos ombros e expulsos da cidade” (Foucault, 1972, p. 64). Isto quando não
recebiam a forca ou a guilhotina, que serviam de espetáculo para as multidões, com o
propósito de ser exemplo de constrangimento para as repetições.
No entanto, com os efeitos da renascença econômica, aumenta o desemprego e os mendigos
se multiplicam. As medidas de exclusão não são as mesmas de antes e a sociedade passa a
cuidar dos desocupados. Em troca, “ele precisa aceitar a coação física e moral do
internamento” (Foucault, 1972, p. 64).
Em toda a Europa o internamento surge pelos mesmos motivos: diminuição do salário,
escassez de moeda, desempregos e outros problemas econômicos. A Inglaterra, mesmo
sendo a mais independente entre todas as nações, também está infestada de mendigos. Pelo
fato de estar fora do continente, os mendigos são mandados em comboios para as terras
recém-descobertas no lado oriental. [1]
Sempre que surgia uma crise econômica, as casas de internamento se enchiam e retomavam
a sua significação original. O século XVIII estava em crise, inúmeras manufaturas se
fecharam e muitos desempregados surgiram. Fora da crise, o internamento era uma forma
de dar trabalho àqueles que estavam presos, e no período da crise o internamento protegia a
sociedade contra a agitação decorrente do desemprego.
Isso justifica o fato de que as primeiras casas de internamento foram construídas em regiões
industriais como Worcester, na Inglaterra. É importante ressaltar que o trabalho não servia
apenas como ocupação, mas também como um meio de produção.[2] Alguns empresários
faziam acordos com as casas de internamento fornecendo a matéria-prima e sendo depois
devolvido a eles o produto já pronto e feito pelos internos.
As casas de internamento desaparecem no começo do século XIX, quando o seu real
objetivo ficou mais visível: o de “recepção de indigentes e prisão da miséria” (Foucault,
1972, p. 70).
É no século XIX que os loucos irão ocupar os lugares antes ocupados pelos vagabundos e
miseráveis, sendo também submetidos aos trabalhos obrigatórios. No entanto, distinguem-
se dos outros pela incapacidade de seguir os ritmos da vida coletiva.
Os hospitais gerais tinham o poder de autoridade, direção, administração, correção e
punição. Nas cidades onde o Protestantismo predominou, as instituições ensinaram, além da
religião, o necessário para o descanso das cidades (Foucault, 1972, p. 76).
No século XVII “a loucura é percebida no horizonte social da pobreza, da incapacidade
para o trabalho, da impossibilidade de integrar-se no grupo” (Foucault, 1972, p. 77).
O internamento “é a eliminação espontânea dos a-sociais” (Foucault, 1972, p. 78).
Na era clássica, a loucura era apreendida como desorganização familiar, desordem social e
perigo para o estado. Aos poucos, este conceito evoluiu e chegou-se à conclusão de que a
loucura era uma doença de natureza médica. Algumas práticas de profanação e de formas
de sexualidade mantinham um arentesco com a loucura, segundo era evidenciado no final
do século XVIII.
Os doentes venéreos eram tratados no hospital geral, e cabia a este indicar o melhor
tratamento. Homens e mulheres eram mantidos separados e a assistência que recebiam era
precária. Isto segue a crença de que estes doentes estavam internados para pagar as dívidas,
e devia-se prepará-los para o castigo e a penitência. Assim, só eram recebidos aqueles que
queriam se corrigir, e, para isso, precisavam ser chicoteados.
Logo no início, os doentes venéreos recebiam o mesmo tratamento que as pessoas atingidas
pela fome, pelas pragas. Sua doença não tinha relação com a imoralidade e não eram vistos
como pessoas diferentes. Porém, é ao final da Renascença que esta visão muda. A doença é
vista como punição e vingança pela luxúria cometida. Era uma resposta à vida libidinosa
dos homens.
Passam a ser excluídos e são exilados dentro dos hospitais gerais. É dentro destas
instituições que eles se agrupam com “intenção purificadora” (Foucault, 1972, p. 85)
mediante as chicotadas, os medicamentos e as penitências. O flagelo designa a culpa. No
entanto, estes ritos eram assimilados ao pecado, isto é, estas medidas só valiam para quem
contraísse a doença antes do casamento.
Assim, homens e mulheres eram amontoados nos hospitais; recebiam no máximo seis
semanas de cuidados e os casos mais graves eram deixados isolados para que morressem.
Fazia-se sangrias, dava-lhes banhos, aplicava-lhes mercúrios.
Era preciso que cuidassem do corpo, pois ele levava ao pecado. Era preciso “deixar marcas
dolosas no corpo, castigá-lo porque é a saúde que nos leva ao pecado” (Foucault, 1972, p.
86). Neste ponto, verifica-se que o louco não era proprietário do seu próprio corpo.
Durante alguns séculos, os doentes venéreos viveram lado a lado com os insanos. Isso
levou para o mundo moderno um “obscuro parentesco que destinou a ambos o mesmo lugar
no sistema de punição” (Foucault, 1972, p. 87).
O espaço do internamento seria, então, um ponto comum entre “os pecados contra a carne e
as faltas contra a razão” (Foucault, 1972, p. 87). O pecado começa a rondar a loucura e aí se
estabelece o parentesco entre a culpa e a falta de razão.
Em 1726, um homem foi condenado a ser queimado vivo por ter cometido crimes de
sodomia. A sodomia era condenada por razões morais, ao lado da homossexualidade. O que
para a Renascença era liberdade de expressão, para a Era Moderna vai ser o lado proibido
desta liberdade.
A homossexualidade sempre foi vista como não pertencente ao amor racional e sim ao
desatino. Com isso, aos poucos ela se encaixou nas subdivisões da loucura. A Psicanálise
afirma que toda loucura se origina na sexualidade perturbada. (Foucault, 1972, p. 90)
O internamento e toda estrutura social que o envolve serviu para controlar e dar ordem não
só à estrutura familiar, mas também à sociedade. Um outro motivo para o internamento
surgiu com a blasfêmia. Penas como incisão nos lábios com ferro em brasa, fogueira,
pelourinho eram dadas aos que cometiam este crime. No entanto, com o passar dos anos,
diminuiu-se a punição aos blasfemadores devido ao fato de as casas de internamento
estarem cheias deles.
Também as pessoas que usavam de procedimentos mágicos, receitas de feitiçaria eram
vistas como pessoas sem moral e que podiam manter uma desordem social. Estas pessoas
eram punidas, internadas, podiam ser expulsas da cidade e em casos extremos condenadas à
morte.
Ritos de magia, blasfêmia, libertinagens deslizavam de um domínio onde tinham sentido
para um sem sentido: o insano. Gestos e condutas profanatórias tinham o sentido patológico
da obsessão a partir do momento que sua eficácia não era reconhecida.[3]
É durante o século XV que as pessoas mais cultas começam a renegar as idéias da
existência de demônios, bruxas, feitiçarias por achá-las absurdas, sem nexo. Ao invés de
uma possessão de espíritos malignos, passa-se a pensar em alienação, perda da função
mental. Assim, é nesta época que a loucura passou a ser concebida como um processo
mental, podendo ser vista através de comportamentos ou modos de pensamento.
Com o movimento renascentista, entra em vigor o pensamento científico (descoberta da
circulação do sangue e nervos), que trouxe como conseqüência uma maior instrução das
pessoas, além também de ser um período de lutas pela conquista dos direitos humanos.
Assim, passa a fazer sentido conceber que a doença mental surgia por causa de um mau
funcionamento do cérebro e da circulação do sangue.
É durante o século XVII que a doença mental é encarada como sofrimento do homem
enquanto ser humano. Se trata de um déficit, aquele mais cruel com o homem: o da razão.
A loucura é o seu lado negativo.
A criação dos hospitais gerais assemelhava-se às prisões. Os hospitais destinavam-se aos
insanos e aos homens desatinados. Foucault retrata que a loucura foi tratada de uma forma
‘ignorante’, que os homens fecharam os olhos para ela não dando tratamento nem
internação adequada.
Uma palavra simbolizou a loucura: furioso. Durante séculos ela esteve presente nos livros
de internamento, “alcançando as mais diversas formas de violência, desde desordens da
conduta até desordens dos hábitos e costumes” (Foucault, 1972, p. 112).
Porém, agindo desta maneira, a era clássica falhou ao tratar doente e criminoso da mesma
maneira, sem fazer distinção e sem dar tratamento diferenciado. Isso mostra que o “mundo
da loucura não é totalmente uniforme” (Foucault, 1972, p. 112). Alguns insanos tinham
tratamento especial, uma espécie de pré-internamento antes do internamento propriamente
dito. Algumas instituições tinham tratamentos mais específicos, só que mesmo assim era
muito grande o número de loucos nos leitos, e estes se amontoavam lá dentro.[4]
Nos hospitais gerais, os médicos visitavam os doentes duas vezes por semana, e esta falta
de atenção aos insanos deixava o hospital no mesmo patamar da prisão, inclusive quanto à
imposição das regras. Assim, a única utilidade dos médicos era não deixar que as doenças
infecciosas e contagiosas contaminassem os outros internos, nem suas famílias.
O objetivo do internamento era a correção. O internamento era “um tempo para que o
castigo cumprisse o seu efeito” (Foucault, 1972, p. 116).
Na França, no século XVIII, os loucos eram encontrados nas prisões misturados aos
criminosos e vice-versa.[5] Havia algumas instituições que só recebiam as pessoas cuja
doença podia ser curada; outras as recebiam para tentar livrá-las da sociedade.
Assim, as duas formas de enxergar a loucura na era clássica (como doença e como crime)
explicam a percepção que se tinha da loucura naquela época. Alguns loucos[6] receberam o
estatuto de doente (no sentido de sua loucura ser uma doença), enquanto os do hospital
geral ainda recebiam tratamentos homogêneos e indiferenciados.
No mundo árabe, os hospitais para loucos surgiram bem antes do que na Europa. Há
registros de que desde o século VII, em Fez, os loucos já eram internados. Os médicos
voltavam-se totalmente para a cura e só davam alta ao doente quando este estivesse curado.
Em Bagdá, “o primeiro hospital foi fundado no fim do século XII” (Foucault, 1972, p.
120). Na Europa, o primeiro país a construir hospitais foi a Espanha,[7] espalhando-se,
depois, por outros países.
O fato é que na Idade Média o louco estava presente na vida diária das pessoas, era visto e
se agrupava na sociedade. Na Renascença ele é reagrupado de uma maneira que o isola de
todos, tornando-se um objeto desumanizado. O louco internado com outras pessoas
(homossexuais, libertinos, doentes venéreos) perdeu sua individualidade. Dentro dos
hospitais ficava difícil diferenciar o louco, que se perdia no meio de muitos tipos de
aberrações.
Na era clássica surgiram os hospitais de internamento, as casas de correção – instituições
diferentes, que separavam o louco do criminoso. Nesta época, a loucura era de âmbito
médico, isto é, só era reconhecida pelo médico. Este, através de todos os sinais e sintomas
visíveis, bem como ciente da história de vida da pessoa, podia determinar a natureza da
doença e verificar quais áreas psíquicas haviam sido atingidas. Somente ele podia
“distinguir o normal do insano, o criminoso do alienado irresponsável” (Foucault, 1972, p.
127).
Porém, não era assim em todos os países. Enquanto na França era o médico quem dava a
última palavra, na Inglaterra era o juiz de paz que decidia sobre o internamento. Em 1692
surge a carta régia, um procedimento em que a família do insano fazia o pedido ao rei, que
lhe concedia o internamento após a assinatura do ministro. Até mesmo os vizinhos ou a
paróquia local podiam tentar conseguir internamento, caso a família não quisesse e o doente
não estivesse obedecendo às leis sociais.
Enquanto o insano libertava-se das responsabilidades e deveres por ser louco, ele
comprometia sua vizinhança e toda a sociedade. Nesse ponto, a Medicina deixava de ser a
única a ‘dar as cartas’, fazendo com que surgisse uma análise jurídica de extrema
importância. A Medicina atribuiu a doença mental como objeto, e o homem insano será
“juridicamente incapaz de pertencer ao grupo” (Foucault, 1972, p. 131) por perturbá-lo
moral e politicamente.
Apesar de os asilos terem surgido antes da Revolução Francesa (1778), o manicômio só
surgiu após a obra de Pinel (1745-1826), que rompe com a tradição demoníaca da loucura e
passa a considerá-la como doença mental. Segundo Pinel, o louco necessitava de cuidados,
remédios e, principalmente, do apoio de outras pessoas.
É nesse sentido que surge a primeira “revolução” psiquiátrica, fazendo com que o século
XIX fosse considerado o século dos manicômios em decorrência da enorme quantidade de
hospitais que foram construídos e destinados aos doentes mentais. Para justificar a
quantidade de internações, surgiu uma variedade de diagnósticos para a loucura. Toda essa
revolução fez a medicina psiquiátrica florescer, tornando o manicômio o seu núcleo
gerador. Dentro deste, a loucura era tomada como um objeto bem discriminado e delineado.
Pinel sustentou a concepção de que a causa da alienação era de origem moral e sua
“essência era o desarranjo das funções mentais” (Pessoti, 1999). O manicômio, ao invés de
um lugar de enclausuramento de loucos, passou a ser instrumento de cura.
Na Idade Clássica, o louco perde o valor mágico adquirido na Idade Média e passa a ocupar
o lugar dos vagabundos e pobres. Nessa época, ainda era muito difícil determinar o motivo
pelo qual as pessoas eram internadas,[8] bem como para descobrir as doenças que elas
tinham. As fórmulas de internamento não falavam de análises patológicas ou doenças, mas
de uma “experiência da loucura” (Foucault, 1972, p. 135) que nunca poderia ser avaliada na
totalidade.
Internava-se o louco quando este não tinha ‘consciência’ de que sua loucura poderia
perturbar moralmente uma sociedade e não sentia remorso pelo crime feito. Para este
insano, a sua moral era intransferível, diferente de todas as outras. Assim, a “loucura na era
clássica torna-se perceptível na forma da ética” (Foucault, 1972, p. 136).
Durante a Idade Média e parte da Renascença, a loucura esteve ligada a causas malignas.
No entanto, no século XIX (Idade Clássica), ela se repousava sobre a moral, a ética, sendo
por isso chamada de “loucura moral” (Foucault, 1972, p. 137).
Percebe-se, com clareza, a oposição da idade clássica quanto à divisão alienação x maldade.
Neste caso, a loucura e o crime não se confundem, nem tampouco se excluem, mas são
tratados com a mesma racionalidade.
Existem dois tipos de loucuras: a involuntária (que se apodera do homem sem seu
consentimento) e a intencional (que é fingida pelos homens lúcidos). Para a Medicina, elas
se inter-relacionam, e as pessoas são internadas com ou sem intenção pelo fato de ambas as
loucuras terem a mesma origem perversa. Mas, para o Direito, a loucura só é crime se o
indivíduo tem ‘consciência’ de seus atos.[9] Quem fora atingido pela loucura involuntária
não seria punido.
Esta afirmação deve-se ao fato de que a loucura atinge a razão, alterando assim a sua
vontade e indo de encontro com seus desejos. Quanto mais grave, maior será a inocência.
Contudo, como já foi dito, a Medicina não diferencia o tratamento dado à loucura real da
intencional. O internamento vale para ambas, e é a forma mais eficaz de evitar escândalos.
Enquanto na Renascença a loucura era exibida publicamente, com o internamento ela se
torna menos visível, porém presente. Mesmo assim, em alguns hospitais como Bethleem e
Bicêtre, os insanos são exibidos aos domingos para a população, sendo paga uma taxa pela
visita, aumentando a renda institucional.
“A loucura era o teatro do mundo” (Foucault, 1972, p. 147). Com risadas maldosas,
atitudes inconseqüentes, os insanos eram objeto de curiosidade das pessoas da sociedade,
que os viam por detrás das grades.
Tanto os alojamentos de Bicêtre quanto os de Salpetrière tinham péssimas condições de
higiene; algumas pessoas ficavam próximas a esgotos que, com as chuvas, traziam ratos e
outros tipos de sujeiras.
Estes alojamentos eram destinados aos mais agitados, enquanto os mais calmos ficavam em
celas mais amplas. Alguns eram acorrentados nas camas. Os hospitais pareciam mais
zoológicos, e a quantidade de fechaduras e barras de ferro na frente das portas das celas era
notória. Dentro das celas, homens e mulheres não conseguiam ficar em pé. Comiam,
dormiam e faziam suas necessidades lá dentro, com os outros.
O fato é que os loucos eram internados em condições subumanas por representarem um
perigo para a sociedade. O internamento, então, surgiu não como uma prática médica, mas
como medida de exclusão. Eram tratados como animais não só por suportar fome, frio, dor
e calor, mas por serem expostos ao público e substituírem bestas de carga na lavoura. “Esta
animalidade da loucura era tratada com a domesticação a que eram expostos” (Foucault,
1972, p. 152).
E isso foi suficiente para que na era clássica houvesse uma divisão entre a loucura e as
outras formas de desatino antes confundidas entre si. Porque com a animalidade, a loucura
era símbolo não apenas de exclusão, mas de humilhação. Segundo Foucault (1972, p. 76),
“ser internado como os loucos significava receber uma punição adicional”.
Na loucura, todas as formas de liberdade eram banidas para que o louco não ameaçasse a
sociedade. Dentro das instituições ele era vigiado em todas as suas ações.
Como o próprio Foucault (1972) diz: “o conceito de loucura não existiu sempre, mas sim
começou a se estruturar a partir do momento em que se criou a distância entre razão e não-
razão”.
Com a Psiquiatria, o coroamento do internamento é realizado sem território, sem lógica,
sem cidadania, sem corporeidade. O louco agora também passa a ser desprovido de classe.
Então, qual o significado do louco, qual a sua essência entre os “homens de razão”
(Foucault, 1972, p. 177)? A Filosofia e a Medicina contribuíram com duas diferentes
direções: a filosófica distinguiu a razão do desatino e a médica se referiu ao que existe de
racional e irracional na natureza.
Mas se para o anatomista diferenças cerebrais podem distinguir o louco do não-louco, para
os psicopatologos, o louco é reconhecido pelo seu delírio particular. Assim, a loucura
diverge muito da forma como ela era percebida na Renascença. Ela está presente em toda
parte, mas nunca se manifesta da mesma maneira: é absorvida de uma forma muito difusa.
Boissier de Sauvages (apud Foucault, 1972, p. 181) afirma que quando um homem utiliza a
sua razão, através dos gestos, movimentos, ele pode descobrir a ligação entre estas ações.
Assim, isto remete ao fato da facilidade com que o louco é reconhecido, exatamente pelas
inúmeras manifestações da loucura, que exibem o quanto é incapaz de síntese, atribuição
máxima de um ser racional.
Este ponto é paradoxal. Como distinguir um louco, se a loucura é confusa e imperceptível
para os olhos humanos? O perfil do louco se destaca se comparado a outros perfis no
espaço exterior. Seu jeito extravagante e diferenciado leva sujeitos normais a perceberem a
distinção entre eles e o louco. “A loucura só existe em relação à razão” (Foucault, 1972, p.
184).
Para Foucault, a loucura não está apenas do outro lado da razão (diferença, negatividade e
ausência de razão), mas sob seu olhar (individualidade através da linguagem, dos gestos e
da conduta). Assim, a Idade Clássica percebe o louco (através da razão e da não-razão) e
deduz a loucura. E esta é deduzida a partir de uma análise da doença, através de fenômenos
observáveis e manifestos.
Do lado do homem, a doença tem sinônimo de desordem, pecado; do lado de Deus as
“doenças são umas vegetações racionais” (Foucault, 1972, p. 191). Para Platero (1609), as
doenças se definem por suas causas (internas e externas), pelo contexto patológico e pelos
sintomas. Para Jonston (1644), as doenças cerebrais fazem parte das doenças orgânicas.
Para Sauvages (1763), as doenças dividem-se em duas classes (vícios e doenças que
perturbam a razão) e quatro ordens (alucinação, bizarrias, delírios e loucuras anormais).
Linné (1763) divide as doenças em ideais, imaginativas e patéticas. E, finalmente,
Weickhard (1790) fala em doenças do espírito e doenças do sentimento.
No entanto, no século XIX esta divisão é abandonada e pressupõe, porém, “não mais uma
tentativa de cobrir em sua totalidade o espaço patológico” (Foucault, 1972, p. 196). Assim,
as doenças serão definidas através da “afinidade dos sintomas, identidade das causas,
sucessão no tempo, evolução progressiva” (Foucault, 1972, p. 196) e outras categorias que
agruparão as diferentes manifestações da doença.
As classificações da loucura multiplicaram-se porque elas eram feitas mediante as imagens,
isto é, por meio das manifestações da loucura. E isto nem sempre se constituía uma
verdade, já que importava também a origem e significação destas manifestações.
Segundo Foucault (1972, p. 197), uma classificação deveria interrogar apenas as doenças
do espírito. Remetendo-se a isso, Arnould (apud Foucault, p. 198) fala de uma loucura que
incide sobre as idéias e seu conteúdo e uma outra que incide sobre o trabalho reflexivo que
elaborou as idéias. Desta forma, a classificação de Arnould parte de poderes do espírito
para chegar às “caracterizações morais”. “No momento em que quer alcançar o homem
concreto, a experiência da loucura encontra a moral” (Foucault, 1972, p. 197).
As classificações que pretendiam encontrar as formas da loucura identificaram apenas
deformações da vida moral. Assim, a noção patológica de doença se altera para uma noção
crítica.
Até o começo do século XIX nota-se que as formas da loucura não se modificaram. O que
mudava era o seu nome e suas divisões. É a partir do século XX, portanto, que as neuroses
serão separadas das psicoses, a paranóia da demência precoce, etc.
Os loucos que cometiam crimes eram internados, porém não perdiam seus direitos civis. O
internamento seria apenas uma medida, cuja finalidade seria a médico-terapêutica. A
loucura atingia apenas os limites do corpo, a alma do louco, mas permanecia pura. Era com
esta explicação que juízes e advogados inocentavam loucos que cometiam crimes.
O mundo exterior também podia provocar a loucura através do “tipo de clima, da vida em
sociedade, de espetáculos de teatro...” (Foucault, 1972, p. 222). Paixões profundas,
tristezas, cólera, amores não-correspondidos também eram eventos da alma, e quer sejam
poucos, quer sejam muito intensos, não escaparam do círculo das causas distantes da
loucura. Tudo isto mostra a heterogeneidade das causas na origem da loucura.
As causas distantes da loucura não pararam de aumentar, e no século XVIII elas foram
catalogadas sem organização. Até mesmo as fases da lua foram confirmadas como sendo
influentes sobre o sistema nervoso, alterando assim a agitação e a fase maníaca dos doentes.
A paixão, além de fazer parte das causas distantes da loucura, também estava bem próxima
do corpo e da alma por ser a “superfície de contato entre ambas” (Foucault, 1972, p. 226).
“A paixão predispõe os espíritos e sob o efeito desta eles circulam” (Foucault, 1972, p.
227).
Algumas emoções podiam provocar loucura. Histórias, peças teatrais, cólera ocasionavam
alterações nervosas, chegando, às vezes, a ser violenta. Agitações, “recaídas histéricas”
(Foucault, 1972, p. 230), crises, quando se multiplicavam, podiam levar ao delírio.
Sauvages (apud Foucault, 1972, p. 230) define o delírio como:
“Uma certa impressão de temor está ligada ao ingurgimento ou à pressão de tal fibra
medular; esse temor se limita a um objeto, assim como é estritamente localizado esse
ingurgimento. À medida que esse temor persiste, a alma atribui-lhe mais atenção, isolando-
o e destacando-o cada vez mais de tudo aquilo que não é ela”.
Havia na loucura clássica duas formas de delírio. “Uma particular, própria das doenças do
espírito” (Foucault, 1972, p. 236). Neste caso, o delírio é sempre manifesto. E o outro
delírio “que não aparece, não é formulado pelo doente, mas que não deixa de existir”
(Foucault, 1972, p. 236). Ele aparece nos gestos silenciosos e comportamentos estranhos.
A definição que se pode dar à loucura clássica é a mesma de delírio:
“Esta palavra deriva de lira, sulco, de modo que delírio significa exatamente afastar-se do
sulco, do caminho reto da razão”.[10]
A linguagem e o discurso eram e são muito importantes para a loucura. A linguagem é a
principal fonte para detectar todos as perturbações e alterações (delírios) provocados pela
loucura, sendo precisa para o psicólogo, que tem na escuta o meio mais eficiente de
detectar algum problema no discurso do paciente.
No século XVIII, a parte prática da Medicina não está nas mãos dos médicos, mas sim de
curandeiros, charlatões, monges, religiosos, vendedores de ervas que não possuíam o
conhecimento teórico das doenças. Se por um lado, ao ser internado, o louco escapava dos
médicos, por outro corria perigo estando nas mãos dos empíricos.
Seguindo a influência do pensamento de Descartes, a idade clássica separa o corpo da alma.
A concepção que está em voga é que a essência da alma é o pensar e a do corpo ser um
objeto no espaço.
O funcionamento do corpo assemelha-se a uma máquina, onde é possível explicar as
funções fisiológicas através de mecanismos semelhantes aos que movem as máquinas. E as
máquinas são movidas por “espíritos”. Para cada tipo de loucura um espírito age em
determinada parte do corpo, entupindo veias, obstruindo poros e vísceras, trazendo
fraquezas e furores até chegar no ponto de aplicação da alma ao corpo.
Assim, a loucura seria a agitação irregular dos espíritos, movimento desordenado das fibras
e idéias, entupimento do corpo e da alma, estagnação dos humores, imobilização e rigidez
das fibras, fixação das idéias (Foucault, 1972, p. 318).
Algumas drogas surgem com o intuito de “acalmar os espíritos” como o ferro que fortifica
as membranas (Foucault, 1972, p. 309), a transfusão sangüínea como remédio para a
melancolia, a quinina para quem sofre dos nervos, a música para casos de frenesi, atuando
sobre a totalidade do ser (corpo + alma), etc. “O objetivo principal consiste em dissolver as
fermentações que, formadas no corpo, determinam a loucura (Foucault, 1972, p. 311)”.
Outro importante remédio era a água. Na Idade Média, costumava-se mergulhar os insanos,
principalmente os maníacos, várias vezes na água, para que eles perdessem a força e a
agitação. Com isso, é a partir do século XVII que a cura pelos banhos toma lugar entre as
terapêuticas da loucura. Na verdade, a cura através da água retoma um lugar que era seu
desde antes do século XV, na época em que os navios levavam os excluídos pelo mar para
terras distantes e a água simbolizava o sentido purificador – o de arrastar as impurezas
deixadas pela loucura (Foucault, 1972, p. 317).
Considerando o homem enquanto espírito unido a um corpo, é importante levar em conta as
paixões, isto é, a afetividade em sentido amplo. Através da concepção de Descartes
(Foucault, 1972, p. 327), paixão é tudo que o corpo determina na alma. O bom
funcionamento do corpo, as ligações harmoniosas entre os espíritos animais e os
pensamentos humanos são altamente desejáveis. A moral surge, então, como uma técnica
de felicidade. Isto para a loucura é a retomada ao mundo, da ordem geral e do esquecimento
da loucura.
“É devolver ao indivíduo a sua pureza inicial, iniciá-lo no mundo e aniquilar o não-ser que
o aliena de si mesmo e reabri-lo para a plenitude do mundo exterior...” (Foucault 1972, p.
320).
Assim, uma medicina puramente psicológica só aconteceu no dia em que a loucura se viu
alienada na culpabilidade. Seria preciso ignorá-la e procurar um lugar na atividade dos
seres naturais e assim conseguir a cura. Portanto, é interessante notar como a recusa de um
princípio ético pode modificar o curso dos processos históricos e reverter aquilo que
parecia impossível: obter a cura por seu domínio técnico em seu campo específico.
Dessa forma, o sentido da exclusão e do internamento começa a alterar-se. A distância entre
a razão e o desatino não é suprimida, mas deixa transparecer poderes naturais (Foucault,
1972, p. 336).
Assim, o louco passa a fazer parte de um cenário social. O desatinado, aos poucos, retoma
um lugar na “familiaridade da paisagem social” (Foucault, 1972, p. 351). Pelo fato de ser a
época do Iluminismo, a racionalidade deste tinha um olhar diferente para com os loucos,
ressaltando o aspecto inofensivo que estes possuíam. Desta forma, a Idade Clássica admite
um relacionamento bem estreito entre as figuras do desatino e as figuras racionais.
Porém, o medo e a angústia que a loucura trazia não haviam sumido. No século XVIII, a
notícia de que um mal ameaçava as cidades espalhava-se pelas cidades, causando bastante
temor nas pessoas. Devido ao fato de as casas de internamento terem sido construídas onde
antigamente estavam os leprosários, a lepra tinha, através dos séculos, contagiado a todos
com o seu mal. Este contágio se acreditava ocorrer pelo ar, e que por todos respirarem este
mesmo ar, todas as cidades estavam ameaçadas, carregadas de vapores maléficos, e os
habitantes todos estariam contaminados. Com esta contextualização, pode-se entender o
lugar em que a loucura viria mais tarde a ocupar na Idade Moderna, onde o papel do
médico seria, nada mais nada menos, o de proteger as pessoas que estavam livres do
internamento.
Devido a todo este mal que vinha das casas de internamento e assombrava as pessoas, seria
necessário que se fizesse uma reforma. Esta arrumação e purificação agiam no sentido de
reduzir as contaminações, destruir as impurezas e impedir que o mal se espalhasse pelas
cidades. Assim, por trás das fortalezas do internamento a segregação e a discriminação
social aumentavam cada vez mais. Apesar de os loucos se confundirem entre si, traziam
consigo, na sua essência, aquilo que os fazia diferir dos outros.
Segundo Foucault (1972, p. 359), na época clássica, a consciência da loucura e a
consciência do desatino não se haviam separado uma da outra. Mas na segunda metade do
século XVIII, o medo da loucura cresce ao mesmo tempo em que o pavor diante do
desatino, e desta forma ambas apóiam-se uma na outra.
O pensamento médico do século XVII e XVIII relacionava a loucura como um efeito do
mundo exterior. Assim, a lua, o clima, exerciam uma influência sobre o homem pondo em
risco seu sistema nervoso e suas paixões.
Segundo Cheyne (apud Foucault, 1972, p. 363), a riqueza, a alimentação fina, a abundância
de que se beneficiam todos os habitantes, a vida de lazeres e preguiças que tornam a
sociedade cada vez mais rica são causas das perturbações nervosas. Assim, a loucura na
Inglaterra, mais do que qualquer outro lugar, é apenas o preço da liberdade e da riqueza que
ali reina (Foucault, 1972, p. 363). A liberdade, ao invés de aproximar o homem da sua
essência, estaria afastando-o cada vez mais.
Outro fator que podia ter implicação diretamente na loucura seriam as crenças religiosas.
Elas trariam uma falsa imagem, com idéias ilusórias e pensamentos irreais, sendo,
inclusive, proibida ao doente mais devoto a leitura de livros sacros.
A civilização também seria um mal e o meio mais favorável para o desenvolvimento da
loucura. A vida dentro dos escritórios, sem respirar ar puro, trabalhos freqüentes e em
excesso, contribuiria para isso. A miséria também propagaria a loucura, através de
profissões perigosas, moradias em lugares populosos ou sem higiene, e tornar-se-ia o
estigma de uma classe que abandonou as formas da ética burguesa. Na economia
mercantilista, o pobre, não exercendo papel nem de produtor, nem de consumidor, não
tinha lugar, sendo exilado e abstraído da sociedade.
Assim, para Foucault, “a loucura se tornou possível em virtude de tudo aquilo que o meio
pode reprimir, no homem, que dependia da existência animal (Foucault, 1972, p. 371)”.
Dessa forma, vemos como a relação que o homem estabelece com a loucura evolui através
dos tempos. Enquanto na Idade Clássica o homem relacionava-se com ela pelo caminho da
falta, onde a consciência da loucura implicava uma experiência da verdade, no século
XVIII o homem não perde a verdade na loucura, mas a sua própria verdade, que é a razão e
o seu domínio ético.
Assim, pode-se perceber que muita coisa mudou na loucura no século XVIII. Os
internamentos apresentaram bastantes flutuações e mostravam que o aumento do número de
internos decorria da miséria e do rigor da repressão e a diminuição dos internamentos
provinha de momentos de recuperação econômica. A partir do início da Revolução
Francesa, em 1789, houve uma queda brutal nos internamentos. Um outro aspecto
importante que exerceu influência quanto à diminuição do número de internamentos foi a
abertura de casas destinadas a receber apenas os insensatos. Antes eles se misturavam com
criminosos, prostitutas e inúmeros outros marginais. Porém, estas novas casas não diferiam
das anteriores quanto à estrutura.
Segundo Foucault (1972, p. 388), o internamento é que distingue na loucura os perigos de
morte que ela comporta. Assim, foi neste contexto que a loucura conquistou uma
linguagem própria, cada vez mais se instalando como objeto de percepção diferentemente
do poder de fascinação que o desatino trazia consigo.
Ao longo do século XVIII foram feitos protestos em prol dos alienados e suas condições de
vida dentro das casas de internamento. Estes eram jogados “como criminosos de estado, em
subterrâneos, em celas onde o olhar da humanidade nunca penetrava” (Foucault, 1972, p.
394).
Isto mostra a individualização da loucura, extremamente ligada ao crime, porém por razões
ainda não esclarecidas. Quando a loucura começa a ser separada do crime, e de outras
formas de desatino, uma imagem bastante conhecida volta a habitar o ambiente social. Os
loucos que não eram encaminhados às novas casas de internamento eram mandados para as
ilhas. Novamente a imagem da nau se fazia presente, e este louco era obrigado a habitar e
explorar os territórios coloniais. O internamento se ligava cada vez mais aos aspectos
complexos.
O espaço social no qual situava a doença também estava renovado. Entre a Idade Média e a
Clássica todo homem pobre e doente tinha o direito a receber cuidados. No século XVIII,
pensa-se em dar assistência também, mas de uma forma diferente da que era dada. Um
auxílio às famílias seria suficiente para que o doente tivesse apoio sentimental (vendo a
família todos os dias), médico e menos gasto econômico (já que o internamento seria dentro
de sua casa). Então, a imagem que se tinha do internamento como sendo criador de pobreza
e o hospital como criador de doenças é eliminada.
A prática do internamento é reduzida. Não se interna mais pelas faltas morais, nem por
conflitos familiares, mas agora o espaço asilar era reservado aos loucos. Porém, as
dificuldades eram muitas, já que os hospitais não eram suficientes para tratar sequer dos
insanos.
Dessa forma, a família passa a ser responsável pela vigilância do alienado, impedindo que
este cometesse desordens. Assim, o louco continua sem liberdade, só que desta vez mais
disfarçada, porque, ao
invés de estar sob as garras do internamento, ele se encontra sob as ordens da família.
Para os insanos que continuam internados, a melhor forma de pagar pelos erros que
cometeram é a dedicação ao trabalho. O controle dentro das casas gera lucro econômico,
fundamento da ética burguesa. Aquilo que o insano produz “cabe inteiramente à
administração e à sociedade e por outro lado, o trabalhador recebe o certificado de
moralidade” (Foucault, 1972, p. 427).
Ao receber os cuidados médicos dentro das casas, o internamento recebe uma outra
imagem: já não carrega aquele peso como sendo um lugar de exclusão social, de correção, e
recebe o título de curador, isto é, os loucos lá dentro são tratados e curados, a despeito de
sofrerem restrição da liberdade.
Segundo Foucault (1972, p. 464), a Medicina não participa da mudança do internamento
para o asilo; apenas herda essa mudança. Sua concepção estrutura-se sobre uma rede de
significações ainda existentes nas fases anteriores de internamento, tais como a humilhação,
o erro, a animalidade. Por isso, para Foucault, Pinel e Tuke não libertaram a loucura, mas
“abriram o asilo ao conhecimento médico” (Foucault, 1972, p. 498).
O asilo, após a “libertação”, começa a simbolizar a família que o louco nunca poderá ter. A
grande tarefa do asilo seria homogeneizar a sociedade, em nome da verdade. Com o tempo,
a própria coerção corporal e verbal é amenizada, pois o próprio louco passa a pertencer a
uma rede estigmatizada. É como se o conceito de loucura fosse aos poucos se
internalizando nos indivíduos.
A objetividade do médico (em detrimento ao desprezo, e a coerção, antes necessários) é
adquirida com a própria incorporação da ‘condenação’ do próprio louco, de seu próprio
estado. O discurso do médico é aceito a priori como verdadeiro.
O modo de classificação da loucura é retirado da botânica. Assim, da mesma forma que um
sintoma na medicina orgânica é resultado de uma disfunção fisiológica que atrapalha a
homeostase do corpo, o sintoma da mente indica que é uma doença do espírito.
Foucault (1972, p. 511) estabelece que saber é poder. A Psiquiatria delimitou a sua origem
estruturada sobre um saber em relação à loucura. Assim, pode-se concluir que o poder, para
Foucault, não é coercitivo, mas é fundamentalmente produtivo. Dessa forma, mesmo que a
coerção física e os maus-tratos contra a loucura sejam camuflados, ou até diminuídos, o
conceito social que trouxe uma relação de dominação à loucura permanece e permeia a
nossa sociedade até os dias atuais.
Com o advento da Psiquiatria, houve algumas transformações no tratamento fornecido à
loucura exemplificado da seguinte forma: O louco não era dono de seu chão
(desterritorialidade), de seu pensamento (exclusão lógica), de sua cidadania (exclusão
política), de sua identidade, nem tampouco de seu comportamento. Isso perpassa alguns
períodos, como a Renascença, o racionalismo, as medidas políticas mercantis, a
moralização e a psiquiatrização.
Segundo Foucault, ao contrário de um resgate e de uma devolução da dignidade humana, o
que a Psiquiatria operou foi o último gesto de esvaziamento da humanidade do homem:
seus processos psíquicos agora não mais lhe pertencem. Nem isto de mais íntimo agora
priva o louco, maltratado que foi pela história em todos os seus conteúdos concretos.
O papel a que se destinavam os hospitais também foi se alterando. Enquanto que na Idade
Média não era visto como meio de cura, em 1780 ele assumia a responsabilidade de uma
instituição destinada a promover a cura. É no século XVIII que o hospital se apresenta
como um meio de exclusão social, onde se internavam loucos, prostitutas, leprosos,
criminosos, etc. Lá dentro estas pessoas eram docilizadas e disciplinadas, controladas
constantemente. Apesar de a coerção física e os maus-tratos contra a loucura estarem mais
camuflados e maquiados, o conceito social que trouxe uma relação de dominação à loucura
permanece e permeia a nossa sociedade até os dias atuais.
Referências Bibliográficas: FOUCAULT, Michel. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Editora Perspectiva, 6ạ edição – reimpressão (1972), 2000. PESSOTTI, Isaías. O século dos manicômios. São Paulo: Editora 34, 1996. -------------------------------------------------------------------------------- * PESSOTTI, Isaías. O século dos manicômios. São Paulo: Editora 34, 1996.
[1] Isso mostra o porquê da vergonha existente entre os orientais, principalmente os australianos, a respeito de suas origens. Deve-se ao fato de que muitos loucos e criminosos, não só da Inglaterra como também de outros países, foram mandados para o lado oriental porque as terras eram despovoadas e isoladas do resto do mundo. [2] Na casa de internamento em Berlim a fiação era a especialidade. [3] Isso pode ser mais bem percebido no texto de Sigmund Freud “Atos obsessivos e práticas religiosas” in Edição Standard das Obras completas de Sigmund Freud, volume IX, (1907), 1996. [4] Como exemplo pode-se citar Bethleem em Londres – que tratava os doentes lunáticos – e Paris – que tratava os pobres que perderam a razão. [5] Prisões como Amiens, Angers, Caen, Poitiers, na casa de força de Rennes, etc. [6] Aqueles internados no Hôtel-Dieu e em Bethleem. [7] Provavelmente por causa da influência árabe neste país, oriunda das invasões e da troca comercial. [8] Algumas pessoas internadas eram blasfemadores, obstinados, espíritos inquietos e ríspidos, etc. [9] Houve casos nos quais as pessoas foram mandadas para a bastilha devido ao seu fingimento, por não estar acometido da loucura ‘real’. [10] JAMES, Dictionnaire (apud Foucault, 1972, p. 237).
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