Em Guiné-Bissau, a pequena Abi Tako aguarda calmamente, amarrada às costas de sua mãe, enquanto esta cuida dos preparativos para a longa jornada rumo à capital, em busca de tratamento médico.
Neste país africano, aproximadamente 50% da população vive abaixo da linha de pobreza.
Muitas são as mães nos países
subdesenvolvidos que carregam,
juntamente com os pequenos
filhos, o indescritível sofrimento
de se verem à mercê do acaso
num mundo impiedoso...
Segundo dados da FAO, a cada hora morrem mil seres
humanos em decorrência da desnutrição.
Três quartos destas mortes são de crianças com menos de
cinco anos de idade.
Segundo dados da FAO, a cada hora morrem mil seres
humanos em decorrência da desnutrição.
Três quartos destas mortes são de crianças com menos de
cinco anos de idade.
Pequeninos corações que amanhã
já não mais baterão,
pequeninos últimos suspiros que selarão
uma existência que não passará
dos cinco anos,
por falta dos nutrientes básicos que
poderiam mantê-los vivos: vitaminas,
proteínas, amor, bondade, compaixão...
Quão triste a imagem de um
prato vazio.
(de solidariedade, de compaixão)
Nos últimos cem anos, a humanidade
aprendeu a produzir o suficiente para
alimentar a todos os habitantes do
planeta. De fato, se o alimento
atualmente disponível fosse repartido
eqüitativamente, cada habitante
excederia em cem calorias a dieta
diária recomendada.
A Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação, FAO, assegura
que o planeta produz alimentos suficientes
para 11 bilhões de pessoas, quase o dobro
da população atual.
Portanto, a principal causa do triste cenário
atual é a falta de justiça, de partilha dos bens
da Terra e dos frutos do trabalho humano.
Quanta falta, para tantos,
não faz a
justiça...
O modelo neoliberal de globalização, - patrocinado
por governos e grandes corporações transnacionais
que ostentam a bandeira do livre comércio -, que
impera no mundo esqueceu de vez o discurso inicial
de acabar com a pobreza gerando riqueza.
As riquezas e os avanços tecnológicos
promovidos pela globalização só têm beneficiado
uma parcela mínima da humanidade.
De uma forma ou outra, neste atual
modelo neoliberal, tudo se resume a uma
única questão: dinheiro.
Um sistema capaz de abandonar 1,3
bilhão de pessoas à própria sorte,
sofrendo de fome crônica, e sobrevivendo
em situação permanente de insegurança
alimentar e nutricional.
Recente relatório do Banco Mundial declara:
“A globalização parece aumentar a pobreza
e a desigualdade... Os custos de
ajustamento para maior abertura são
suportados exclusivamente pelo pobre.”
A Agência Central de Inteligência norte-americana, CIA, ainda em 2000, também abordou a questão:
“A economia global vai espalhar conflitos e
estabelecer uma diferença maior entre
vencedores e perdedores. Grupos excluídos
enfrentarão profunda estagnação econômica...”
A Organização das Nações Unidas, ONU, também dizia no mesmo ano:
“O processo (globalização) está
concentrando poder e
marginalizando o pobre.”
Relatório das Nações Unidas destaca, ainda, as gritantes desigualdades atualmente observadas:
“A fortuna pessoal das três pessoas mais ricas do mundo é
maior do que o PIB dos 48 países mais pobres juntos.”
“...o número de bilionários no mundo tem aumentado em
25 por cento nos últimos dois anos.”
“O quinto mais rico das pessoas do mundo consome 86
por cento de todos os bens e serviços, enquanto o quinto
mais pobre consome apenas 1 por cento.”
O quinto mais rico consome 86 por cento de todos os bens e serviços;
o quinto mais pobre consome apenas 1 por cento...
Um recente levantamento do Banco Mundial diz que 54,7 por cento da humanidade vive em estado de miséria ou pobreza extrema.
Ainda segundo o Banco Mundial, “a
expectativa de vida tem declinado em
33 países desde 1990.”
Há no mundo atual quatro causas de morte precoce, a saber:
1. Doenças
2. Acidentes (de trânsito, de trabalho, naturais)
3. Violência (homicídios, suicídios, terrorismo e guerra)
4. e a Fome
Esta última é a que causa mais vítimas e, no entanto, a que provoca menos interesse na grande mídia, menos mobilidade dos governantes e da sociedade para que seja erradicada.
A única resposta que esclarece esta pergunta é um tanto cínica:
- Dos quatro fatores, a fome é o único que faz distinção de classe. Jamais ameaça a nós, os bem nutridos. Só os miseráveis morrem de fome.
E por que somos indiferentes à verdadeira arma de destruição em massa, a fome?
Como a vida é frágil, se a abandonam...
Leia, a seguir, trecho de uma recente entrevista
concedida pelo economista americano Jeffrey
Sachs, Diretor do Instituto Terra da Universidade
Columbia, e do Projeto Milênio das Nações
Unidas, na qual comenta sua visita a Malauí, país
localizado no sudeste africano:
“Visitei uma mulher em Malauí, após uma forte seca que tinha destruído sua lavoura.
Perguntei o que ela estava comendo no lugar. Ela respondeu que pegava palhas de milho
desprezadas pelo moinho, fervia e dava às crianças.
Fiquei chocado e pedi para ver. Ela me respondeu:
‘Desculpe senhor, mas hoje é domingo. Hoje a gente não tem nada para comer, pois o
moinho está fechado.’
Não há desculpas para isso acontecer em pleno século XXI, com tanta tecnologia disponível. É
absurdo alguém morrer por ser pobre.”
‘O único milagre que podemos fazer será o de continuar a viver, amparar a fragilidade
da vida um dia após o outro dia...’
Quanto tempo ainda levará até que
entendamos que o ‘comércio livre’ é
sinônimo de concentração de riquezas,
de exclusão e sofrimento, e resolvamos
adotar no seu lugar o ‘comércio justo’ ?
Quanto tempo ainda levará até que
percebamos que toda vida é preciosa, que
toda vida é sagrada;
até que entendamos que todos
pertencemos a uma única família: a
família humana?
Até que entendamos que juntamente com
as vinte mil vidas ceifadas a cada dia pela
fome enterramos também uma parte da
nossa condição humana...?
Pequena menina africana, debilitada pela fome, recebe alimentação terapêutica, enquanto é acalentada por mãos maternas...
Por quanto tempo ela ainda resistirá...?
Por quanto tempo o mundo, passivamente, apenas observará...?
No continente africano, três quartos da população apresenta-se desnutrida. É o único continente onde a produção de alimentos está em decréscimo (embora metade da população
se dedique à agricultura).
O clima severo, a escassez de água, e a abundância de pragas são apenas uma parte
dos problemas enfrentados.
A infra-estrutura deficitária não ajuda: metade da safra produzida se deteriora devido a
armazenamento inapropriado.
Outra principal razão são as guerras. Uma das táticas de guerra preferidas é queimar as
plantações nas terras disputadas. Os conflitos impossibilitam, ainda, que os pastores levem junto
os seus rebanhos, de modo a permitir a mínima subsistência das populações que migram, que
passam a depender exclusivamente de ações de ajuda humanitária.
Além dos problemas elencados, a
África encontra-se infestada, ainda,
daquele que talvez seja dos males
dos tempos modernos o maior:
políticos e governantes corruptos.
No lugar de projetos sociais, falcatruas;
no lugar da luta de idéias, movimentos sempre nas sombras;
no lugar da verdade, marketing, dissimulação e engodo;
no lugar de saúde, educação e saneamento, roubalheira;
no lugar da decência, negociatas;
no lugar de compromisso ético com a sociedade, corrupção;
no lugar de justiça, impunidade.
Pobres irmãos africanos.
Além da fome e da miséria
material, outras formas de
miséria se manifestam nos dias
desleais em que vivemos...
‘O Grito’Noruega, 1893Autor: Edvard Munch
‘O Grito’Iraque, tempos atuais
Autor: Os Senhores da Guerra, com sua sede por sangue, poder e petróleo
Crianças iraquianas, vítimas de uma ocupação fracassada e desumana.Cruel retrato de um país destroçado,Triste retrato de um mundo que perdeu seu rumo.
Embora o tema desta apresentação
seja a miséria material, - a fome por
comida e por meios mínimos de
sobrevivência -, acaba-se por abordar
a miséria moral e espiritual que reina
nos dias atuais, que conduz à guerra
e à destruição, pois é esta miséria
que fomenta a outra...
As profundas desigualdades que marcam o mundo atual impedem
a tão almejada paz.
Como se pode obter paz e bem-estar
quando 80 por cento das riquezas estão
nas mãos de 20 por cento da população,
quando a ideologia do dinheiro prega
que a ambição econômica tem mais
valor do que a ética?
A paz jamais será fruto da imposição
das armas e do equilíbrio de forças,
como alguns erroneamente acreditam,
e sim da promoção da justiça.
A promoção da justiça, seja nas relações
entre as nações, seja nas relações
sociais que regem as nossas vidas.
Promova a paz, exercite bondade,
semeie justiça.
Não deixe que as preciosas horas
dos preciosos anos da tua vida
passem em branco.
Que reflitamos sobre que uso fazemos do nosso tempo livre, se não o estamos jogando ao vento quando o gastamos em demasia com:
- As intermináveis novelas e minisséries que nada acrescentam;
- os campeonatos de futebol e as patéticas mesas redondas que os seguem;
- todos os enlatados, seriados e filmes caça-níqueis americanos;
- os programas de auditório e humorísticos que são uma afronta à inteligência...
Desligue a televisão; leia mais.
Passe menos tempo em frente do computador;
olhe para os lados.
Não se faz preciso ir tão longe quanto
a África para ajudar o próximo.
Nas periferias de todas as grandes
cidades existem pessoas que
necessitam de ajuda.
Existem entidades sérias, - ONGs, movimentos de ação social, associações
filantrópicas, grupos religiosos, etc. -, que promovem belos trabalhos em prol do próximo, e que necessitam de apoio.
Contribua na medida dos teus recursos, dos teus conhecimentos e dos teus talentos na nobre
senda da ajuda aos mais necessitados.
Procure se informar a respeito.
Não permita que as preciosas
horas dos preciosos anos da tua
vida passem em branco.
O que será que a menina
de tanto destituída responderá
no dia em que lhe for dirigida
a seguinte pergunta:
...“Acaso encontraste neste vasto
mundo alguém disposto a tentar
amenizar a tua dor?”
Cultive o hábito de dedicar parte
do teu tempo livre em atividades
de serviço ao próximo.
A tua alma agradecerá.
Que tua alma dê ouvidos a todo grito de dor,
Tal como o lótus abre o seu coração para
sorver o sol matutino.
- A Voz do Silêncio
antigo texto budista
Um outro mundo é
possível.Um mundo melhor depende
de cada um de nós.
Um mundo onde é respeitado o direito básico à felicidade e a
uma existência digna.
Para a nossa avareza, o muito é pouco;
para a nossa necessidade, o pouco é muito.
- Sêneca
Música tema: Prologue, Loreena McKennitt
Alguns trechos foram adaptados do artigo:
“Os movimentos sociais na luta contra a pobreza”, de Frei Betto,
Revista Carta Capital, Dez. 2006
Entrevista com Jeffrey Sachs: Revista Isto É, Dez. 2006
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