Uma reflexão teórica sobre a viabilidade das práticas pluriativas na
agricultura familiar diante do agronegócio: estudos voltados para os
municípios de Jataí (GO) e Rio verde (GO)
Juliana Abadia do Prado Soares
Universidade Federal de Goiás
Edna Maria Ferreira de Almeida
Universidade Federal de Goiás
Área Geral: 01
RESUMO
A agricultura comercial, especialmente a voltada para a produção de commodity, cresceu em
nosso país, fazendo do Brasil um dos maiores produtores de grãos do mundo. Baseada em
subsídios cada vez maiores, facilitados especialmente para o grande agricultor, a expansão
agrícola aumenta a demanda por terras para os grandes projetos e, muitas vezes, leva a expulsão
do pequeno agricultor de suas propriedades. Neste cenário de crescimento constante das grandes
lavouras e criação de gado, o agricultor familiar, quase sempre, não tem um rendimento
suficiente decorrente da produção, perfaz necessário outros rendimentos. Diante dessa realidade
a pluriatividade (mescla de atividades agrícolas e não agrícolas em uma mesma propriedade)
ocorre. Pretende-se promover uma reflexão teórica sobre a questão agrária á partir da
Microrregião Sudoeste de Goiás, voltado para os municípios de Rio Verde (GO) e Jataí (GO),
que se destacam no agronegócio, principalmente nas culturas de soja e milho, que recebem
incentivos das políticas governamentais, articuladas com as grandes tradings que atuam nos
mercados globais. A questão norteadora dessa pesquisa é debater a viabilidade da pluriatividade
na agricultura familiar e qual a sua importância para a permanência do agricultor familiar no
campo, em terras dominadas pelo agronegócio. A pesquisa possui cunho estritamente teórico
com bibliografias nacionais e internacionais ligadas a sociologia rural e a geografia agrária,
com destaque para: CARNEIRO (1996,1999,2012), FULLER (1990), KAGEYAMA (1999),
SCHNEIDER (2003), CANDIOTTO (2007), ANJOS (2003), CALAÇA (2010),
ABRAMOVAY (1992), ALENTEJANO (1999), JUNIOR (1979 ), KAUSTKY (1980),
LAMARCHE (1998), WANDERLEY (2011), GRAZIANO DA SILVA (1981, 1987), VEIGA
(1991), MARTINS (1975). Diante das leituras percebe-se que as práticas pluriativas podem ser
um importante meio de permanência do pequeno agricultor no campo e sobrevivência diante da
força que o Agronegócio exerce na Microrregião Sudoeste de Goiás.
Palavras-chaves: Pluriatividade, Agricultura Familiar, Agronegócio
INTRODUÇÃO
O cenário agrário passou por mudanças marcantes nas últimas quatro décadas,
novos atores sociais passaram a compor o campo brasileiro, a agricultura comercial
sobrepôs a agricultura dita de “subsistência”. O capitalismo invadiu o campo, dando
lugar a grandes latifúndios. O agronegócio ocupou o espaço antes destinado a
Agricultura Familiar, no entanto, não conseguiu eliminar sua importância.
A agricultura comercial, especialmente a voltada para a produção de commodity,
cresceu em nosso país, fazendo do Brasil um dos maiores produtores de grãos do
mundo. Baseada em subsídios cada vez maiores, facilitados especialmente para o
grande agricultor, a expansão agrícola aumenta a demanda por terra para os grandes
projetos e, muitas vezes, leva a expulsão do pequeno agricultor de suas propriedades.
Nas áreas do Cerrado como, por exemplo, no Sudoeste de Goiás, com destaque
para os municípios de Rio Verde-GO e Jataí-GO o agronegócio ganha visibilidade,
baseado nos cultivos das culturas de soja, milho e na criação de gado, atividades
desenvolvidas em médias e grandes propriedades, normalmente com incentivos das
políticas governamentais e articuladas com as grandes tradings que atuam nos mercados
globais. Nessas mesmas regiões, existem os pequenos produtores (proprietários ou não),
e mesmo que assistidos por políticas públicas têm muitas dificuldades para manterem
como produtores, fazendo com que busquem diversas formas para sobreviverem no
campo, dentre essas, as práticas pluriativas tornam-se realidade.
O termo pluriatividade vem sendo muito utilizado por pesquisadores para
explicar a diversidade de atividades que envolvem os moradores rurais, atividades essas
que nem sempre estão relacionadas a trabalhos agrícolas. A prática de atividades
agrícolas, relacionadas à criação de animais e plantações, e práticas não agrícolas em
uma mesma propriedade, consiste na pluriatividade, seja como complemento de renda
ou mesmo opcional.
No Estado de Goiás as terras voltadas para agricultura de exportação ocupam
87% da área cultivável em nosso Estado, os outros 13% são destinados a Agricultura
Familiar, mas em número de estabelecimentos é o contrário, 35% e 55%
respectivamente.
Com uma área ínfima diante da intensidade de terras destinadas a grande
agricultura o agricultor familiar deve procurar uma nova forma de permanência e
sobrevivência no campo. No entanto, não apenas o agronegócio interfere nas mudanças
sofridas pela Agricultura Familiar, a nova relação campo/cidade metamorfoseou uma
mudança muito grande. O que nos leva a refletir em um “novo rural”, aquele que
pretende buscar meios para permanecer no campo, mesmo que para isso estreite a
relação rural/urbano.
Há uma mudança no cenário rural com o surgimento dos agricultores
familiares pluriativos e surgi novos “atores sociais”, como: desempregados,
pensionistas, aposentados, comerciantes, empregados das indústrias, dentre outros, que
vivem no campo, mas sobrevivem de diversas atividades e nem todas estão ligadas ao
campo.
A Agricultura familiar é importante por fornecer grande parte dos alimentos
presentes na mesa do goiano, o Agronegócio dinamiza a sociedade, gerando empregos e
aumentando o PIB a nível nacional, por isso é importante que ambos continuem
dinamizando a economia do Estado de Goiás.
PLURIATIVIDADE – Um debate teórico
A discussão acerca da pluriatividade foi inaugurada na França com o colóquio
organizado pela Association Ruraliste Française (ARF), cujos trabalhos foram
publicados sob o título La pluriactivité dans les familles agricoles, Paris, ARF, 1984;
destaca-se também o colóquio organizado pela Arkketon Research, Inra & IAM (1987),
uma importante revisão do debate francês é trazida para Brasil através de Carneiro
(1996).
Um intenso e amplo debate ocupou o meio intelectual e sindical
francês (e europeu) no decorrer da década de 80 (ARF, 1984, e
Arkleton Research et al., 1988), motivado pela problematização
acerca do status teórico e profissional das novas formas de inserção
econômica da população rural, sobretudo da originariamente ocupada
em pequenas unidades familiares de produção. As atividades
complementares ou suplementares à produção agrícola exercida por
um ou por vários membros de um grupo doméstico são reconhecidas
tanto por aqueles que estudam a questão agrária quanto pelos agentes
sociais aí implicados (agricultores e técnicos agrícolas) com a noção
de “pluriatividade”. Motivados para compreender e (sobretudo
prever) a dinâmica das mudanças que têm ocorrido no campo francês
nas últimas décadas e apreender a natureza das relações entre o mundo
rural e a sociedade industrial, os pesquisadores elegem a
pluriatividade como objeto privilegiado de análise. (CARNEIRO,
1996 p. 89 )
Sobre a força do debate pluriativo na França é válido lembra que na década de
1970, começa um movimento de resistência, que ganha força nos anos 1980, “quando a
crise da agricultura europeia (crise de superprodução) levou muitos agricultores a
inverterem o processo de especialização, buscando diversificar não apenas culturas, mas
também atividades”. (Alentejano, 1999, p.153). Sobre essas práticas Carneiro (1996)
afirma que:
Nesse período, a prática de atividades não agrícolas era função dos seguintes
fatores: o tamanho da propriedade, a composição do grupo doméstico e o
capital cultural acumulado pela família. Assim, o filho de um artesão ou de
um tropeiro dificilmente se tornaria um agricultor em tempo integral. Mas,
como essas variáveis não são estáveis nem dentro do mesmo grupo
doméstico, uma unidade familiar podia se tornar pluriativa em certa fase de
desenvolvimento do ciclo doméstico - quando os filhos adultos ainda
residiam com os pais - e retornar a uma situação exclusivamente agrícola em
outra fase - quando só o sucessor permanecia residindo na casa paterna.
(CARNEIRO, 1996 p.95)
A pluriatividade passa a ser discutida em nosso país a partir da década de 1990,
segundo Schneider (2003) no Brasil, malgrado alguns esforços, o debate sobre
pluriatividade ainda é embrionário. Há certa dificuldade para a caracterização de uma
unidade agrícola pluriativa, Candiotto (2007) afirma que para ser considerada pluriativa,
uma unidade de exploração familiar deve ter algum membro da família envolvido em
atividades não agrícolas, e ao mesmo tempo, manter o trabalho agrícola.
Apesar de ser um conceito integrado as grandes propriedades rurais, a
Pluriatividade também pode ser utilizada nas propriedades que se enquadram na
agricultura familiar.
A pluriatividade se estabelece como uma prática social, decorrente da busca
de formas alternativas para garantir a reprodução das famílias de agricultores,
um dos mecanismos de reprodução, ou mesmo de ampliação de fontes
alternativas de renda; com o alcance econômico, social e cultural da
pluriatividade as famílias que residem no espaço rural, integram-se em outras
atividades ocupacionais, além da agricultura. (BAUMEL ; BASSO, 2004, p.
139).
Apesar de polêmica, a noção de pluriatividade, vem sendo utilizada para
descrever o processo de diversificação que ocorre dentro e fora da propriedade, bem
como para apontar a emergência de um conjunto de novas atividades que tomam lugar
no meio rural.
[..] A pluriatividade permite separar a alocação do trabalho dos membros da
família de suas atividades principais, assim como permite separar o trabalho
efetivo das rendas. Muitas propriedades possuem mais fontes de renda do que
locais de trabalho, obtendo diferentes tipos de remuneração. A pluriatividade,
portanto, refere-se a uma unidade produtiva multidimensional, onde se
pratica a agricultura e outras atividades, tanto dentro como fora da
propriedade, pelas quais são recebidos diferentes tipos de remuneração e
receitas (rendimentos, rendas em espécie e transferências). (FULLER, 1990.
p.367)
Ainda sobre a viabilidade da pluriatividade da agricultura familiar, Carneiro
(1999) coloca que:
As unidades pluriativas, por sua vez, também podem vivenciar situações de
sucesso ou de insucesso econômicos associados a padrões diferenciados de
bem estar social e de integração aos mercados (agrícolas e não agrícolas). Da
mesma maneira que as de outro tipo, nessas formas pluriativas a atividade
agrícola pode se aproximar tanto da monocultura como da policultura. O que
é importante reconhecer, nesses casos, é que, seja por razões de ordem
econômica, cultural ou ambas, a reprodução social incorpora atividade de
setores distintos da economia, conformando o que alguns de nós temos
denominado de “nova ruralidade” ou de “novo rural”. (CARNEIRO, 1999,
340)
O contexto em que a pluriatividade está inserida é de fundamental importância
para compreensão da diversificação das atividades agrícolas e não agrícolas tão
presentes no meio rural na atualidade. Kageyama (1998) e Anjos (2003) afirmam que a
pluriatividade pode assumir diferentes significados dependendo do nível analítico da
investigação (micro, meso, macro), do estágio do desenvolvimento da economia
agrícola familiar e seu contexto em determinado território.
Assim, a pluriatividade seria um fenômeno resultante de um amplo processo
de transformação agrícola inteiramente ligado à dinâmica geral da economia
(divisão do trabalho), mas que guarda certas especificidades de acordo com
as condições geográficas existentes e os contextos político e econômico nos
quais as unidades familiares estão inseridas. (SILVA, 2015. p.24)
Apesar da grande ubiquidade de posições que envolvem a definição da
pluriatividade, ela se torna fundamental para compreensão da grande diversidade de
atividades desenvolvidas pela agricultura familiar no que tange a mescla de atividades
agrícolas e não agrícolas em um mesmo sítio.
Desse modo, a noção de pluriatividade, apesar de polêmica, vem sendo
utilizada para descrever o processo de diversificação que ocorre dentro e fora
da propriedade, bem como para apontar a emergência de um conjunto de
novas atividades que tomam lugar no meio rural. (SCHNEIDER 2003, p.79).
Haja vista que o rural passa a ser visualizado como um local onde as relações
com o urbano estão presente em seu cotidiano, seja através de suas atividades
multifuncionais, não agrícolas, pluriativas ou agrícola, para Silva (2015) o rural deixa
de ser visto apenas como um espaço de produção agrícola e passa a ser visto como um
macro-organismo social, complexo e fortemente imbricado ao território por meio de
suas relações de trabalho produção e consumo.
“EM NOSSA MESA” – a importância da agricultura familiar
A agricultura familiar é uma forma de produção onde predomina a interação
entre gestão e trabalho, são os que dirigem o processo produtivo, dando ênfase na
diversificação e utilizando o trabalho familiar, eventualmente complementado pelo
trabalho assalariado. Esse termo começou a ser utilizado tardiamente no Brasil, para
Schneider (2003), a expressão da agricultura familiar surge no contexto brasileiro a
partir de meados da década de 1990. O que seria para o autor um surgimento tardio,
visto que já havia estudos sobre esse tema nos países desenvolvidos.
O governo brasileiro por meio da Lei nº 11.326 de 24 de Julho de 2006,
conhecida como Lei da Agricultura Familiar, estabeleceu os conceitos que definem o (a)
agricultor (a) familiar e ou o empreendedor (a) familiar deve atender simultaneamente
os requisitos de:
a) “não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro)
módulos fiscais;
b) “utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas
atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento”;
c) “tenha renda familiar predominante originada de atividades
econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou
empreendimento”;
d) “dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família”.
Santos (2008) considera que o pequeno produtor é o segmento que mais sofre
com a modernização. A tendência é o fortalecimento do grande produtor com a
incorporação das inovações tecnológicas na produção agropecuária. A concentração das
terras é uma realidade, pois o pequeno produtor, em meio às dificuldades, vende suas
terras e migram para as cidades, ou até mesmo torna-se trabalhador temporário da
grande propriedade.
Dessa forma, não estão diante da expropriação inevitável pelo avanço das
relações capitalistas de produção no campo, mas sim no seio de um processo
contraditório. Assim, ao mesmo tempo em que o subordina promove o seu
deslocamento territorial, abrindo espaço no assim, para a continuidade e
possibilidade da concentração de terras para uma fração de camponeses que
têm acumulado riquezas neste processo, e, consequentemente, vêm abrindo
no espaço distante a possibilidade de acumulação (OLIVEIRA, 2001, p.72).
A expressividade da Agricultura Familiar no Brasil deve ser respeitada, mesmo
diante da distribuição desigual das terras no país e a presença de grandes latifúndios, ela
consegue ter um número grande de estabelecimentos, como segue tabela 1 abaixo:
Tabela 1 : Número de estabelecimentos e áreas ocupadas pela Agricultura Familiar e
Agricultura Não Familiar
CLASSIFICAÇÃO NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS ÁREA TOTAL
(ha)
Total 5.175.489 329.941.393
Agricultura Familiar - Lei
nº11.326 4.367.902 80.250.453
Agricultura Não Familiar 807.587 249.690.940
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006.
No Estado de Goiás essa importância também é marcante, o desenvolvimento
da agricultura no Estado de Goiás nos remete a contradições provenientes do modo
capitalista no campo. Segundo Calaça (2010), os fortes vão acumulando e os fracos
sendo expropriados. A agricultura familiar está evadindo para o agronegócio. Esta é a
lógica da inserção do capital no campo, pois cada vez mais, os camponeses deixam de
serem trabalhadores para si para serem proletariados no campo.
A agricultura familiar do Estado de Goiás, mesmo com todos os desmandos
atuais, continua sendo responsável por uma grande parte da alimentação em nossas
mesas, mesmo ocupando 13% de área é responsável por 55% dos estabelecimentos,
como, conforme gráfico 1:
Gráfico 1: Goiás: número e área dos estabelecimentos rurais, 2006 (em %)
Fonte: Censo Agropecuário, 2006. Org. Manoel Calaça, 2009.
Quanto à produção de alimento a agricultura familiar é responsável por uma
importante parte do que os goianos consomem conforme gráfico 2:
Gráfico 2 - Goiás: Quantidade produzida alimentos, segundo o tipo de produto, 2006 (em %).
Fonte: Censo Agropecuário, 2006. Org. Manoel Calaça, 2009.
O agronegócio, na atualidade, é a principal atividade econômica da região
Sudoeste de Goiás, no entanto, a importância da Agricultura familiar ainda é visível,
pois, além de colocar alimento em nossa mesa nos garante uma alimentação mais
saudável com uso nulo ou moderado de agrotóxicos.
DINÂMICA SOCIOECONÔMICA DO AGRONEGÓCIO NA MICRORREGIÃO
SUDOESTE DE GOIÁS.
A microrregião Sudoeste de Goiás é composta por dezoito municípios que são:
Rio Verde, Jataí, Mineiros, Santa Helena de Goiás, Caiapônia, Maurilândia, Montividiu,
Doverlândia, Serranópolis, Chapadão do Céu, Santa Rita do Araguaia, Santo Antônio da
Barra, Portelândia, Aporé, Castelândia, Palestina de Goiás, Perolândia e Aparecida do
Rio Doce. Com uma área de 27.473 milhões de ha, o que representa 16,34% da área
total do Estado, a principal atividade econômica é o agronegócio, uma importante união
entre a agricultura, pecuária e indústria, em consequência desses três setores o setor de
serviços também se destaca nessa microrregião.
Com uma produção de 4,126 milhões de toneladas anuais de milho e soja numa
área cultivada de 1.227.118 ha, o Sudoeste de Goiás é a maior região produtora destes
grãos, com 38,4% e 51,6%, respectivamente, da produção total do estado (IBGE, 2008),
sendo os municípios de Rio Verde e Jataí os de maiores expressão, recebendo destaque
a nível nacional, onde o primeiro é considerado um pólo de desenvolvimento do
agronegócio nacional, enfatizando o Sudoeste de Goiás como destaque regional e
consequentemente a região Centro-oeste. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) o PIB e PIB per capita em 2010 da microrregião sudoeste de
Goiás foram os seguintes, conforme tabela 1:
Tabela 1: PIB e PIB per capita Microrregião sudoeste de Goiás
PIB e PIB per capita da Microrregião Sudoeste de Goiás
PIB PIB per capita
R$10.300.749.812,00 R$26.049,60
Fonte: IBGE 2010
A participação dos municípios de Rio Verde e Jataí tem um destaque
importante na composição do PIB, sendo os de maiores expressão da microrregião, 44%
e 20% respectivamente, dado a dinâmica do agronegócio, nesses locais.
Tal magnitude fortalece o elo da cadeia produtiva, além de bovinos e grãos, o
mercado de suínos e aves, tem aproveitado essa eficiência produtiva levando a
microrregião a inserir-se no comércio internacional com produtos de maior valor
agregado. A instalação no ano de 1998 de uma unidade do Frigorífico Perdigão no
município de Rio Verde ampliou o espaço de atuação das culturas de soja e milho para a
criação de suínos e aves, atividades que podem ser desenvolvidas por pequenos
agricultores sob o sistema de integração.
A participação da cana-de-açúcar tem crescido nos últimos dez anos e com isso
o setor sucroalcooleiro tem gerado empregos, transformando o campo do Sudoeste de
Goiás (antes somente milho, soja, pecuária), deixando a microrregião mais competitiva,
os munícipios que mais se destacam no cultivo desse produto são: Chapadão do Céu,
Jataí, Maurilândia, Mineiros, Rio Verde e Santa Helena de Goiás.
Além de colocar a microrregião Sudoeste de Goiás em destaque a nível
regional, nacional e internacional, o agronegócio, altera o cenário dos municípios,
estreitando a relação campo/cidade ou rural/urbano, pois, a cidade torna-se loccus do
que se faz no campo, as indústrias têm acesso mais rápido e a um menor custo a
matéria-prima, há uma geração de emprego maior, onde, não apenas os moradores das
cidades tem acesso a essas vagas de emprego, mas também a família do pequeno
agricultor que residem nas redondezas das cidades, com carteira assinada e uma renda
extra, para garantir a sua permanência no campo.
A PLURIATIVIDADE NA AGRICULTURA FAMILIAR E O AGRONEGÓCIO
NA MICRORREGIÃO SUDOESTE DE GOIÁS
A partir da Revolução Verde e o advento da modernidade na agricultura, aliada
ao seu caráter excludente, como a expulsão de pequenos agricultores e interferência no
seu modo de vida, muitos agricultores não conseguiram acompanhar o progresso
técnico inserido no campo, não adequando às economias de escala, tendo que inserir a
produção rural outras atividades não agrícolas. As atividades não agrícolas vinculadas a
uma ou mais atividade agrícola é denominada pluriatividade.
Tendo em vista que diante a força do agronegócio no sudoeste de Goiás os
grandes latifúndios ganham mais visibilidade, enquanto aquelas propriedades que
sobrevivem da agricultura familiar se remetem a novas formas de prover renda para
permanência no campo e buscar modos de sobrevivência em uma sociedade totalmente
capitalista.
Nesse contexto, Anjos (2003) destaca que a pluriatividade apresenta-se como
um fenômeno no qual os componentes de uma unidade familiar executam diversas
atividades com o objetivo de obter uma remuneração pelas mesmas, que tanto podem
desenvolver-se no interior como no exterior da própria exploração, através da venda da
força de trabalho familiar, da prestação de serviços a outros agricultores ou de
iniciativas centrados na própria exploração que impliquem no aproveitamento de todas
as potencialidades existentes na propriedade e/ ou seu entorno.
Essa nova forma de trabalho desagrega os membros da família em atividades
agrícolas e não agrícolas, não necessariamente sendo executadas no interior da
propriedade, possibilitando a ampliação da renda familiar, estreitando os laços entre o
rural e o urbano, em muitos casos, o morador rural trabalha na cidade. Como enfatiza
Silva ( 2007)
A maior expressão destas transformações em cursos em nossas áreas rurais é
evidenciada pelo crescimento de pessoas residentes em áreas rurais, mas
dedicadas a atividades não agrícolas, quer no próprio meio rural, quer no
centro-urbano próximo. Em outros termos, são evidências de uma nova
ruralidade emergente no Brasil. (SILVA, 2007, p. 6)
As famílias pluriativas através da combinação trabalho agrícola e não agrícola
favoreceu a divisão do trabalho familiar entre as atividades executadas dentro e fora da
propriedade. Esse novo processo proporciona uma articulação, na maioria das vezes
bem sucedida entre as estratégias da industrialização propalada ou descentralização
industrial, com um ambiente social e econômico local referente ao uso do solo, emprego
de tecnologias e melhores condições de moradia na propriedade como meios de
comunicação, disseminação de energia elétrica, informática, etc.
As atividades extra-agrícolas surgiram para permitir melhor qualidade de vida
aos pequenos produtores, seja na industrialização de produtos vegetais ou animais, seja
no trabalho em indústrias, sendo assalariado, prestador de serviços a terceiros no campo
ou mesmo na cidade, renda advinda de pensões ou aposentadorias, serviços públicos em
escolas rurais, transporte escolar, autônomos com vendas em geral, comerciantes nas
áreas rurais, ou seja, atividades desenvolvidas no interior dos estabelecimentos ou não,
usada como complemento de renda, a pluriatividade destaca-se, atualmente, através da
multiplicidade de formas, em situações de tempo e espaço distintas, compreendendo a
forma de produção e as relações de trabalho fundamentado sobre o modo de vida e o
sistema produtivo de pequena unidade familiar.
Há nesse processo uma alteração na dinâmica sócioespacial rural, que passa ter
uma vida mais urbana, estreitando a ligação rural/urbano, modificando a vida rural
tradicional. Nesse momento o rural passa a ser visualizado não somente através de suas
propriedades físicas, mas como forma de classificação social, onde os atores sociais
concebem marcações rurais ou urbanas em situações distintas. De acordo com Carneiro
(2012) a novidade do rural contemporâneo estaria na combinação, nos mesmos espaços,
de atividades tidas até então como “típicas” do meio urbano, tais como as do setor de
serviço, com as ocupações “características” do meio rural, ou seja, agrícolas.
Isso nos remete a Pires (2007) que afirma ser preciso ter em mente, todavia,
que a relação entre espaço e identidade social não envolve apenas o pertencimento a um
único espaço, mas múltiplas identidades e múltiplos espaços que se combinam e se
distanciam de acordo com situações específicas. Nesse contexto as alterações no rural
vão variar de acordo com os momentos históricos, não deixando de lado a inovação
tecnológica, a presença da globalização e o interesse maior por moradores do rural por
estilos de vidas antes vivido somente no “urbano”.
As práticas pluriativas passam a serem praticadas como estratégia de
reprodução social tanto por pressões internas quanto a pressões externas, conforme
esquema 1:
Esquema 1 : Pressões internas e externas para práticas pluriativas
Fonte: SOARES, J .A. P 2016
A prática da pluriatividade na agricultura familiar vai ocorrer em momentos
distintos, onde grandes acontecimentos contribuíram para sua permanência, ora por
pressões internas como ciclo vital, para que o pequeno agricultor consiga realmente
continuar no campo tendo em vista que há um aumento significativo nas demandas
sócias de consumo, fruto de uma sociedade capitalista, repleta de tecnologia e pela
facilidade na relação campo/cidade, ora por fatores externos como elevação de custos de
produção e quedas nos preços agrícolas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo promove um debate teórico sobre a viabilidade das práticas
pluriativas na agricultura familiar como estratégia para sobrevivência no campo diante
do agronegócio na microrregião Sudoeste de Goiás, nos municípios de Rio Verde e
Jataí, haja vista que ambas se destacam no estado de Goiás, o agronegócio por promover
a produção de commodities e a visualização do estado em níveis nacionais e
internacionais, além, de gerar empregos, dinamizar as cidades, aumentar o PIB dentre
outros, já a Agricultura Familiar coloca na mesa da maioria dos goianos um produto de
melhor qualidade, saudável e de forma mais sustentável e a pluriatividade que é uma
estratégia de reprodução social, auxilia o trabalhador para permanecer no campo, diante
a perca de espaço da agricultura familiar para o agronegócio.
Ocupando apenas 13% da área destinada a estabelecimentos rurais e
representando 55% em número de estabelecimentos rurais no estado de Goiás a
Agricultura Familiar tem acesso a políticas públicas nem sempre suficientes para sua
sobrevivência, pois deparam com pressões externas como aumento do custo de
produção, aumento do custo de vida, áreas cada vez menores e burocracias para
comercializar seus produtos. Diante dessa realidade o agricultor familiar tende a buscar
formas alternativas para manterem no campo, dentre essas atividades se destaca a
pluriatividade (práticas agrícolas e práticas não agrícolas em um mesmo
estabelecimento rural).
Com a modernização da agricultura, o uso intenso de agrotóxicos, uso
incessante dos solos com viés capitalista, novos atores surgem, como organizações não
governamentais e órgãos voltados para preservação ambiental passando a competir com
o modelo agrícola voltado para o agronegócio. Contribuindo para que a agricultura
familiar aumente sua produção, para suprir as necessidades imediatas de alimentação,
sem prejudicar tanto a saúde humana e o meio ambiente.
A pluriatividade estreita o laço do rural com o urbano, sendo que muitos
trabalhadores rurais desenvolvem atividades nas cidades e residem no campo, há uma
mudança significativa no modo de vida. Devemos repensar o rural como espaço de
outras agriculturas e também como espaço de vida, de trabalho e de lazer, um rural de
pluriatividades, que se forma próximo a pequenas cidades, mas que não perde sua
essência.
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