UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A CONTRIBUIÇÃO DA TERAPIA DE FAMÍLIA
DIANTE DOS CONFLITOS FAMILIARES
SUELI DE OLIVEIRA RODRIGUES
ORIENTADOR PROF. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO
RIO DE JANEIRO-RJ Julho/2005
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A CONTRIBUIÇÃO DA TERAPIA DE FAMÍLIA
DIANTE DOS CONFLITOS FAMILIARES
Trabalho apresentado ao Projeto A
Vez do Mestre como requisito básico
para a conclusão do curso de Pós-
graduação de Terapia de Família.
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AGRADECIMENTOS
Ao corpo docente do Projeto “A Vez do Mestre, em
especial ao Prof. Vilson Sérgio pela atenção e revisão
dos textos. Aos colegas e pessoas, que direta ou
indiretamente contribuíram para a confecção desse
trabalho acadêmico e sua constante atualização.
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DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho à minha mãe Josefa, que mesmo
estando enferma, me incentivou a confeccionar este
trabalho. Ao meu filho Rodrigo que soube entender a
minha ausência. A outras pessoas que indiretamente
contribuem para o meu bem-estar.
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RESUMO
O presente trabalho examina a ação do terapeuta de família, sua contribuição e importância diante dos conflitos familiares e apoio terapêutico. O trabalho foi desenvolvido em dois capítulos com o objetivo de abordar questões familiares como: O que é a família, afinal? Sua origem, conceituação sobre Terapia de Família, sua contribuição diante dos conflitos familiares. Perpassando pelo Genograma, na qual é utilizado pelo terapeuta como um dos instrumentos de como olhar a família. Com o resultado deste estudo, pretendo contribuir para a reflexão sobre as ações profissionais do terapeuta no atendimento à família.
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METODOLOGIA
O trabalho apresentado desenvolveu-se através de pesquisa
bibliográfica, tendo em vista que o conteúdo refere-se à família, sua origem.
Tendo como apoio a Terapia enquanto contribuição diante dos conflitos
familiares, finalizando com o genograma que é utilizado pelo terapeuta com a
finalidade de apoio e complementação do acompanhamento familiar.
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SUMÁRIO
RESUMO 05
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I 10
O QUE É A FAMÍLIA AFINAL? 10
1.1. Origens da família: a família como grupo primordial 19
1.2. Terapia de Família, o que é? 26
CAPÍTULO II 28
A CONTRIBUIÇÃO DA TERAPIA DE FAMÍLIA DIANTE
DOS CONFLITOS FAMILIARES 28
2.1. A terapia como forma de ajuda para a família 33
2.2. Os genogramas, um dos instrumentos utilizados
pelo terapeuta de como olhar a família 41
CONCLUSÃO 45
BIIBLIOGRAFIA 46
WEBGRAFIA 47
8
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo destacar a importância e
contribuição do terapeuta de família diante dos conflitos familiares.
Tomou-se como referencial a pesquisa bibliográfica destacando-se como
tema principal a família.
Este estudo foi importante tanto para minha formação acadêmica quanto
para o meu conhecimento pessoal no sentido de não só conhecer, mas estar
aprofundando este trabalho que tem como propósito abordar a família em suas
diferentes concepções e a terapia como uma forma de alívio para aqueles (as)
que necessitam de apoio terapêutico.
O interesse do autor por este tema, surgiu mediante observações, leitura
e por entender que a mesma, tendo passado por modificações, ainda hoje
mantém a sua autenticidade. Tendo em vista que há todo um contexto social
onde a mesma está inserida. Sendo esta considerada como o primeiro agente
socializador do ser humano.
A estrutura da monografia dividiu-se em dois capítulos.
No primeiro capítulo, enfatiza-se o que é a família afinal? Onde foi
realizado um breve relato sobre o contexto histórico. Destacando-se a
importância de se conhecer as variáveis sociais, econômicas, culturais e
políticas ou religiosas que determinam as distintas concepções das famílias
vistas pelos autores. Sua origem, visualização como grupo primordial e a
conceituação de terapia de família que finaliza a discussão deste capítulo.
No segundo capítulo abordamos a contribuição da Terapia de Família,
diante dos conflitos familiares, articulando-se a terapia como forma de ajuda e
9 o enfoque do genograma, como sendo um dos instrumentos utilizados pelo
terapeuta de como olhar a família.
Mediante ao exposto, vejo que o tema referente à família, muito
contribuiu para o conhecimento mas aprofundado sobre este marco histórico
que é visto por muitos como algo a ser observado, estudado, procurando
acompanhar as suas modificações existentes através de séculos com seu
pleno significado.
É fato que a família enquanto o primeiro agente socializador do ser
humano, terá sempre uma função, um papel social a ser cumprido.
Durante a leitura observa-se que existe uma breve relação entre a
espécie humana e os animais, encontrando-se distintas formas de organização
familiar onde o genitor ou genitora desenvolvem papel importante para
reprodução e criação da espécie.
Baseando-se no fato de que existem vários tipos de família, torna-se
necessário aprofundar os estudos sobre as mesmas e sua evolução social
como um todo.
10
CAPÍTULO I
O QUE É A FAMÍLIA, AFINAL?
Família não é um conceito unívoco. Pede-se até afirmar, radicalizando,
que a família é uma expressão passível de conceituação, mas tão-somente de
descrições, ou seja, é possível descrever as várias estruturas ou modalidades
assumidas pela família através dos tempos, mas não defini-los ou encontrar
algum elemento comum a todas as formas com que se apresenta este
agrupamento humano. A família é considerada como o primeiro agente
socializador do ser humano. A falta de afeto e de amor da família agravará para
sempre seu futuro.
Mesmo se a considerarmos apenas num dado momento evolutivo do
processo civilizatório, teremos dificuldades em integrar o proteimorfismo de
suas configurações numa pauta conceitual. O que terá em comum nos dias
atuais, por exemplo, uma família de uma metrópole norte americana com a de
um vilarejo rural na China ou a de um Kibbutz israelense com a de um
latifundiário australiano? São tantas as variáveis sociais, econômicas, culturais,
políticas ou religiosas que determinam as distintas composições das famílias
até hoje que o simples pensar alcança num enunciado integrado já nos paralisa
o ânimo e tolhe o propósito.
Não obstante, como não podemos prescindir de uma definição, ainda
que precária e limitada, que nos facilite a comunicação e nos ajude a
discriminar o fundamental do superficial, vamos a procura de um conceito que
possa ser operativo para as finalidades deste ensaio, valendo-nos para tanto
das contribuições de outros autores que se debruçaram sobre a desmedida
tarefa de encontrar uma noção de família suficientemente abrangente para
servir-nos de parâmetro aqui e agora.
11 Dizer-se que a família é a unidade básica de interação social talvez seja
a forma mais genérica e sintética de enunciá-la; mas obviamente não basta
para situá-la como agrupamento humano no contexto histórico-evolutivo do
processo civilizatório.
“A palavra família não designa uma instituição padrão fixa e invariável. Através dos tempos a família adota formas e mecanismos sumamente diversos e na atualidade coexistem no gênero humano tipos de família constituídos sobre princípios morais e psicológicos diferentes e ainda contraditórios e inconciliáveis”. (Escardo; 1955:15)
A estrutura familiar varia, portanto, enormemente, conforme a latitude, as
distintas épocas históricas e os fatores sócio-políticos, econômicos ou
religiosos prevalentes num dado momento da evolução de determinada cultura.
“A família proporciona o marco adequado para a definição e conservação das diferenças humanas, dando forma objetiva aos papéis distintos, mas mutuamente vinculados, de pai, da mãe e dos filhos, que constituem os papéis básicos em todas as culturas”. (Pichon-Riviére; 1981:15)
Segundo Lévi-Strauss, são três tipos de relações pessoais que
configuram a família: aliança (casal), filiação (pais e filhos) e consangüinidade
(irmão).
Isso nos conduz a outro referencial intimamente vinculado a noção de
família: “o parentesco” (Levi-Strauss, 1958:15).
O parentesco consiste numa relação entre pessoas que se vinculam
pelo casamento ou cujas uniões sexuais geram filhos ou ainda que possuam
ancestrais comuns.
12 Nessa concepção, marido e mulher são parentes, independentemente
de gerarem filhos, assim como o são os pais de uma criança, embora não
sejam legalmente casados, já dois indivíduos que viviam maritalmente sem que
esta relação seja oficializada legalmente ou que dela resultem filhos, não são
parentes (Idi, 1958).
De acordo com Freud, em Totem e Tabu, assinala:
“parentesco é algo mais antigo do que a vida familiar e, na maioria das sociedades primitivas que nos são conhecidas, a família continha membros de mais de um parentesco. Como veremos mais adiante, por não se conhecer o papel do pai na reprodução nos povos primitivos o parentesco era restrito a linhagem materna.” (Freud, 1974:15).
Não obstante, a noção da família repouse sobre a existência do casal
que lhe dá origem, considera-se que sua essência esteja representada na
relação pais-filhos, já que a origem e o destino deste agrupamento humano
conscidam no objetivo de gerar e criar filhos. (idi; 1974)
A condição nestêmica da espécie humana, ou seja, a impossibilidade de
sua descendência sobreviver sem cuidados ao longo dos primeiros anos de
vida foi, sem dúvida, responsável pelo surgimento do núcleo familiar como
agente de perpetuação da vida humana, o que igualmente ocorre com outras
espécies animais, cuja prole também necessita a previsão de alimentos e
proteção por parte dos indivíduos adultos enquanto não pode fazê-lo por seus
próprios meios.
A família torna-se, assim tanto no homem como em outras categorias
zoológicas, o modelo natural para assegurar a sobrevivência biológica da
espécie, a par desta função básica propícia simultaneamente a matriz para o
desenvolvimento psíquico dos descendentes e a aprendizagem da interação
social.
13 Em realidade, não podemos dissociar a função biológica da função psi-
social da família, se é fato que finalidade biológica de conservar a espécie está
na origem da formação da família, é igualmente pertinente dizer-se que a
família é um grupo especializado na produção de pessoas com vínculos
peculiares e que se constitui na célula primordial de toda e qualquer cultura.
Com estes elementos introdutórios, já estamos em condições de
formular uma definição ad hoc, de cunho operativo,para os propósitos deste
ensaio:
“A família é uma unidade grupal onde se desenvolvem três tipos de relações pessoais: aliança (casal), filiação (pais-filhos) e consangüinidade (irmãos), e que a partir dos objetivos genéricos de preservar a espécie, nutrir e proteger a descendência e fornecer-lhe condições para a aquisição de suas identidades pessoais, desenvolver através dos tempos funções diversificadas de transmissão de valores éticos, estéticos, religiosos e culturais.” (Freud; 1974:16)
Consideraremos, ainda que a família pode se apresentar, a grosso
modo, sobre três formatos básicos: a nuclear (conjugal), a extensa
(consangüínea) e a abrangente.
Por família nuclear entenda-se a constituída pelo tripé pai-mãe-filhos,
por família extensa a que se componha também por outros membros que
tenham quaisquer laços de parentesco e a abrangente a que inclua mesmo os
não parentes que coabitem.
Convencionaremos que doravante sempre que nos referirmos a família,
a menos que se particularize a modalidade de agrupamento familiar
considerada, o estaremos fazendo tendo em mente seu formato nuclear,
prevalente na moderna civilização ocidental daqueles a que se destina. (Ibdi;
1974)
14 O que chamamos de papéis familiares?
Para Exardó, denominam funções familiares, termo que preferimos
reservar para designar as atribuições da família como uma entidade, conforme
as abordaremos a seguir. (escardó; 1955:17)
Quais seriam os papéis familiares?
Num casal sem filhos, os papéis familiares seriam tão-somente os de
marido e mulher. Em se tratando da família nuclear seriam os de mãe-pai-
irmãos e filhos. Porém, na família extensa teríamos que incluir o papel dos
avós, tios e demais parentes de pessoas que coabitam na mesma casa.
Os papéis familiares nem sempre correspondem aos indivíduos que
convencionalmente designamos como seus depositários. Assim o papel
nutrício de uma mãe eventualmente poderá ser desempenhado por uma avó ou
mesmo pelo pai, o papel paterno poderá estar ligado ao papel do avô que
circunstancialmente desempenha funções de confidente ou companheiro de
um neto que é filho único, o papel filial poderá estar depositado num dos
cônjuges, cuja maturidade emocional o torne carente de proteção e cuidados
habitualmente requeridas por uma criança, e assim por diante.
Os papéis também são referidos a determinadas pontes culturais as
atribuições do tio materno (papel avuncular), em certas tribos da Polinésia,
herança cultural do desconhecido primevo (relativo aos tempos antigos) de
papel de pai no mecanismo reprodutor, são simples às do pai na moderna
cultura ocidental. Em suma, há que discriminar-se, para os propósitos, como
por exemplo, a designação mão para identificar a mulher que concebeu e pariu
um filho e o papel materno no contexto familiar, que configurado por uma
função continente, nutrícia e protetora nem sempre exercida pela mãe
reprodutora.
15 O mesmo sucede com os demais papéis familiares, que embora
identificados por termos sem qualquer os demais papéis familiares, que
embora identificados por termos qualquer ambigüidade semântica não obstante
demandam revisão em sua acepção funcional, sobretudo face às mutações na
disposição dos aludidos papéis na estrutura das famílias de nossos tempos. A
seguir, resenharemos brevemente que elementos definem os papéis familiares,
recordando que nem sempre haverá correspondência entre o personagem
designado e o papel que supostamente lhe cabe representar na novela familiar.
(Escardó; 1955:17)
Funções de família
Poderíamos dividir as funções de família em biológicas, psicológicas e
sociais, tais funções, no entanto, dificilmente podem ser estudados
separadamente, já que estão intimamente relacionados e confundem-se umas
com as outras, tanto nas origens como no destino das estruturas familiares ao
longo do processo civilizatório. (Escardó; 1955:19)
Existem certas peculiaridades dessas funções que merecem ser
destacadas para caracterizar com maior clareza e precisão o lócus da família
como matriz responsável pela manutenção da espécie e com o agente
processador das mudanças inerentes à evolução humana, tanto no âmbito
individual como coletivo.
Segundo o ponto de vista biológico, não é a função reprodutiva como
uma primeira e apressada vista poder-se-ia pensar, a tarefa primordial da
família. Para gerar-se um novo ser basta o intercurso sexual entre macho e
fêmea, o que pode ocorrer, como freqüentemente ocorre fora do contexto
familiar. Por outro lado, como os recentes progressos tecnológicos na área da
reprodução humana, bem como pela iminente viabilização da clonagem de
seres humanos através da engenharia genética corre-se até o risco de tornar
ultrapassado qualquer raciocínio alicerçado no pressuposto da relação sexual
16 como condição para a reprodução da espécie. Portanto, não é aí que reside a
função biológica da família e sim para assegurar a sobrevivência dos novos
seres através dos cuidados requeridos pela já assinalada condição neotênica
da espécie humana. Em um futuro não muito distante, até esta situação dos
seres humanos nos seus primeiros meses de vida extra-uterina possa ser
alterada pelos incríveis avanços da ciência, mas provavelmente ainda por um
considerável período de tempo assegurar a sobrevivência dos recém-nascidos
será uma insubstituível função biológica da família (estamos considerando latu-
sensu, isto é, no sentido de quem provê nutrição e condições ambientais
adequadas aos neonatos, ainda que não sejam seus pais biológicos).
Mediante ao exposto, diz-se que a função biológica da família é a de
garantir não a reprodução, mas a sobrevivência da espécie através dos
cuidados ministrados aos recém-nascidos.
Já as funções psicossociais, sabe-se que o alimento afetivo é tão
indispensável para a sobrevivência do ser humano quanto o são o oxigênio que
respira ou a água e os nutrientes orgânicos que ingere. Pois sem o afeto
ministrado pelos pais de seus sub-rogados, o ser humano não desabrocha,
permanecendo fechada em uma espécie de concha psíquica, caracterizando
um estado de enquistamento emocional, na qual denominados autismo.
De acordo com Spitz, a partir de 1935, em Viena, o mesmo observou e
registrou em filmes as reações dos recém-nascidos a situações de privação
afetiva. (Spitz; 1935:20)
Portanto, uma primeira e fundamental função psíquica é prover o
alimento indispensável à sobrevivência emocional dos recém-nascidos.
Esse alimento contudo, é igualmente indispensável para a manutenção
da homeostasia psíquica dos demais componentes da família e não apenas
dos bebês, razão pela qual deverão seus membros dele prover-se
17 reciprocamente através de mecanismos de interação afetiva dos quais nos
ocuparemos logo adiante. (Spitz; 1935:21)
Outra função psíquica da família é servir de continente para as
ansiedades existenciais dos seres humanos durante seu processo evolutivo.
Considerando-se a esfera pedagógica, enfatiza outras funções
psicológicas da família que é proporcionar o ambiente adequado para a
aprendizagem empírica que indica o processo cognitivo do ser humano, bem
como facilitar o intercâmbio de informações com o universo de pessoas que
estão presentes. (Idi; 1935:21)
Entre as funções sociais da família, por sua relevância ao longo do
processo civilizatório, está a transmissão das pautas culturais dos
agrupamentos étnicos. Outra das importantes funções sociais da família, e que
a ela é delegada pela sociedade, é a preparação para o exercício da cidadania.
Essas considerações que estamos a fazer sobre as funções da família
ainda situam-se sob o amparo do enfoque linear, que por tanto tempo
influenciou o pensamento científico e que vincula-se à idéia de que a
determinada causa corresponde certo efeito. Assim sendo, as funções de
família estariam sendo esboçados segundo o pressuposto de que o ambiente
familiar depende de certo tipo de evolução do indivíduo e que aos pais (ou
seus substitutos) cabe preencher os requisitos necessários ao bom
desempenho físico e emocional de seus filhos. Segundo essa ótica, a dinâmica
familiar repousa em quem exerce os papéis parentais e que seriam os
responsáveis pela formação biopsicossial da descendência, de acordo com um
modelo, que por sua vez provém das gerações anteriores e que só seria
modificado a partir das alterações nele introduzidas pelos executores da ação
parental.
18 O enfoque circular, sob o qual recentemente a ciência passou a
considerar os fenômenos que da área física quanto da psicossocial, nos aponta
a necessidade de levar em conta o mecanismo de feedback ou realimentação,
onde os efeitos não são mera conseqüência passiva de supostas causas, mas
eles próprios constituem-se em agentes de mudança que alteram o
comportamento dos fatores etiológicos que os determinaram. (Spitz; 1935:21)
Assim, se os pais influenciam e em certa medida determinam o
comportamento dos filhos, a conduta destes igualmente modifica e condiciona
a atitude dos pais. Portanto, as funções na família não são compartimentos
estanques ou de atribuições exclusiva dos papéis familiares aos quais
costumamos atribuir ao outro seu exercício. Há por exemplo, uma
reciprocidade provedora entre pais e filhos, de tal sorte que aos cuidados
ministrados aos filhos em seus primeiros anos de vida para assegurar-lhes a
sobrevivência. Correspondem os cuidados ministrados pelos filhos aos pais em
sua velhice para prolongar-lhes a vida, mesmo após terem cumprido as
funções reprodutoras que designam a manutenção da espécie.
Há quem possa objetivar que esta é uma peculiaridade de certos
segmentos culturais contemporâneos, já que em tempos passados os velhos
eram habitualmente entregues a sua própria sorte e mesmo nos dias que
ocorrem, em determinados grupos raciais, os filhos antecipam o término do
ciclo vital de seus pais anciãos com a morte induzida. Isso não invalida,
contudo, a noção de que os papéis familiares possam ser recíproco, o exercício
das funções familiares não é uma via de mão única e sim um constante
processo de trocas, mutualidades e interações afetivas. Aliás, é nesse caráter
interativo que reside a matriz na qual configura a natureza intrínseca do ente
familiar. (Spitz; 1935:21:22)
À família cabe permitir o crescimento individual e facilitar os processos
de individualização e diferenciação em seu seio, ensejando com isso a
adequação de seus membros, as exigências da realidade vivencial e o
19 preenchimento das condições mínimas requeridas para um satisfatório convívio
social. Este seria o objetivo precípuo de núcleo familiar como célula-mater da
sociedade.
1.1. Origens da família: A família como grupo primordial
A família é considerada uma instituição cujas origens buscam aos
ancestrais da espécie humana e confunde-se com a própria trajetória
filogenética.
Mas a organização familiar não é exclusiva do homem, iremos encontrá-
la em outras espécies animais, quer entre os vertebrados, como também, entre
os invertebrados.
Portanto, na espécie humana e entre os animais encontramos distintas
formas de organização familiar. Existem famílias nas quais, após o
acasalamento a prole fica aos cuidados de um só dos genitores, geralmente a
fêmea, mas também poderá ser o macho que se encarrega dos cuidados com
as descendentes como em certas espécies de peixes. Algumas espécies entre
as aves vivem em família durante a época de reprodução e em bandos durante
as demais épocas do ano. Os pais podem permanecer junto aos filhotes pela
vida toda, porém estes geralmente deixam os pais antes que nasçam outras
ninhadas. Existem entre os animais famílias ampliadas (ou extensas), onde os
jovens ajudam a criar os irmãos. As abelhas operárias, que são filhas estéreis
das abelhas rainhas, constituem entre si uma comunidade de irmãs com
funções de desempenharem cuidados, proteção e alimentação.
Mediante ao exposto, observa-se como os animais se relacionam e
como eles têm o cuidado de perpetuar a espécie.
Essa referência aos comportamentos familiares de certos animais
enfatizam o caráter universal dos agrupamentos familiares e chama a atenção
20 para presença em todos os lugares ao mesmo tempo, não somente ao longo
da evolução da espécie humana como também na de outros seres do reino
animal.
A origem da família, nos remete ao vocabulário latino famulus, que
significa servo ou escravo, na qual primitivamente considerava-se a família
como sendo o conjunto de escravos ou criados de uma mesma pessoa. A
noção de posse e a questão do poder estão, portanto, intrinsecamente
vinculados a origem e evolução do grupo familiar.
Há vários teorias sobre a origem familiar. Umas a fundamentam em suas
funções biológicas, outras em suas funções psicossociais. Formularam-se as
mais diversas hipóteses, tendo como ponto de partida questões referentes a
parentalidade, ou seja, os papéis paterno e materno como estruturadores do
grupo familiar.
Considerando-se que a família, tal qual os seres que a compõe,
necessita passar por etapas sucessivas no curso de seu desenvolvimento, tem
sido a pedra de toque na fundamentação das diversas teorias que tentam
explicar a origem e estruturação do grupo familiar como o encontramos ao
longo do processo civilizatório e nas distintas culturas.
As famílias geralmente organizam-se sob a forma matriarcal, ao que
parece pelo desconhecimento do papel do pai na reprodução.
Para esta explicação não existe acordo entre os antropólogos. Porém é
o que nos parece ocorrer em certas sociedades, ditas matrilineares, ainda
encontrados atualmente, tais como os melanésios estudados por Malinovsky,
na qual a autoridade paterna recai sobre a figura do tio materno (avunculo),
que entre outras atribuições, têm a de “conceder a mão” das sobreinhas aos
eventuais pretendentes que irá com eles casarem. Essa transferência ao tio
materno dos direitos e deveres habitualmente atribuídos ao pai provém, ao que
21 tudo indica, do referido desconhecimento do papel do homem na reprodução
em tempos atrás. Tais hábitos milenários teriam subsistido mesmo após a
revelação da função reprodutora paterna. (Malinovsky; 1971:25)
O matriarcado, segundo outras fontes, seria uma decorrência natural da
vida nômade dos povos primitivos, pois enquanto os homens, desconhecendo
ainda as técnicas próprias ao cultivo da terra, tinham que sair à procura de
alimento, as mulheres ficavam nos acampamentos cuidando dos filhos, na qual
cresciam praticamente sob a influência exclusiva das mães, a quem cabia
fornecer um mínimo de estabilidade social a estes núcleos familiares. Onde a
família matrilinear tem cuidados com a prole (filhos) (Idi; 1971)
Em virtude da preponderância da figura materna, em certas sociedades
matriarcais as mulheres tinham o direito de propriedade e certas prerrogativas
políticas, como entre os iraqueses canadenses estudados por Morgan no
século passado. Tendo em vista que entre eles as mulheres possuíam terras
cultiváveis e as habitações, sendo dado a ela o direito de voltar a eleição de um
chefe, embora não ocupe um cargo no Conselho Supremo. (Morgan; 1949)
Em fins do século passado e princípios deste, houve estudos
antropológicos sobre populações primitivas, sustentando a emergência de
múltiplas teses sobre o comportamento dos grupos familiares. No entanto é
algo precipitado tirar-se conclusões sobre a origem da família a partir da
observação das tribos primitivas, pois a noção de evolução cultural linear não é
mais aceita entre os antropólogos. Portanto, os povos ditos primitivos que nos
são contemporâneos não necessariamente estão reproduzindo formas de
agrupamento familiar encontradas no passado distante. Assim,a constatação
de que certos padrões são reiteradamente encontrados em tempos e lugares
diferentes permite que se tome como válidas muitas das afirmações feitas com
base nesses estudos. (Idi; 1949)
22 Ao debater-se a origem da família, há uma pergunta inicial que
insistentemente nos ocorre é a instituição familiar é universal.
No ano de 1949, o antropólogo norte-americano G.P. Murdock publicou
seu estudo transcultural sobre parentesco, confirmando a hipótese da
universalidade da família. Segundo Murdock não apenas a família em geral,
mas a família nuclear em particular, é universal concluindo que nenhuma
cultura ou sociedade pode encontrar um substituto adequado para a família
nuclear.
Para este autor, a família nuclear apresenta quatro funções elementares:
a sexual, a reprodutiva, a econômica e a educativa. Tais funções seriam pré-
requisitos para a sobrevivência de qualquer sociedade. O autor baseia-se
nesse fato na qual afirma ser a família nuclear universal. (Murdock; 1949:26)
Há quem possa objetivar com a observação de que temos em nossos
tempos estruturas sociais que não incluem a família, como por exemplo os
kibbutz de Israel. Porém, como observa Spiro, essa sociedade essencialmente
voltada para a criança, embora de ponto de vista estrutural pareça constituir-se
numa exceção à idéia da universalidade da família, serve para conformá-la do
ponto de vista funcional e psicológico. No Kibbutz a comunidade inteira passa a
ser uma grande família extensa. Somente numa grande sociedade familiar
como Kibbutz, afirma Spire, seria possível não haver a família nuclear
desempenhando suas funções indispensáveis. (Spiro; 1949:26)
A origem da família conduz-nos naturalmente à discussão das questões
relativas ao parentesco, as relações entre o tabu de união carnal entre
parentes e a exogamia e a instituição do casamento. (Idi; 1949:26)
Para L.H. Morgan, advogado norte-americano que na segunda metade
do século passado interessou-se vivamente pela observação da vida das
aborígenes que viviam na fronteira dos E.U.A e Canadá, tornou-se o fundador
23 da moderna antropologia com seus estudos pioneiros sobre as relações de
parentesco. Embora seu enfoque evolucionista passa ser contestado pelos
avanços ulteriores da investigação antropológica, sua tipologia familiar
permanece como ponto de referência para o estudo das estruturas familiares e
das teorias sociológicas sobre a família.
Segundo Morgan, havia originalmente uma promiscuidade absoluta sem
qualquer interdição para o intercurso sexual entre os seres humanos.
Este teria sido o período da família consangüínea, estruturada a partir
dos acasalamentos dentro de um mesmo grupo. (Morgan; 1949:27)
Como bem enfatiza Morgan, na família sindesmática ou de casal o
casamento ocorre entre casais que se constituem respeitando o tabu do
incesto, mas sem condicionar sua ligação à obrigatoriedade do casamento
intergrupos. Essas famílias, encontradas entre os primitivos povos nômades,
caracterizam-se pela coabitação de vários casais sob a autoridade matriarcal
responsável pela coesão comunal através da economia doméstica comportada.
(Morgan; 1949)
A repartição de tarefas advindas do desenvolvimento da agricultura teria
dado origem à família patriarcal, fundada sobre a autoridade absoluta do
patriarca ou “chefe de família”, que geralmente vivia num regime poligâmico,
com as mulheres habitualmente isoladas ou confinadas em determinados
locais, parte da casa destinada às mulheres.
Finalmente temos a família monogâmica, paradigmática da civilização do
ocidente, cujas origens vinculam-se ao desenvolvimento da idéia de
propriedade ao longo de processo civilizatório. A fidelidade conjugal, como
condição para o reconhecimento de filhos legítimos e a transmissão hereditária
da propriedade, bem como o estabelecimento da coabitação exclusiva
24 demarcando o território da paternidade, são os elementos emblemáticos desta
que, ainda hoje, e o tipo de família prevalente no mundo ocidental (Idi; 1949)
De acordo com Engels, 1971, o colaborador de Marx na elaboração das
bases pragmáticas do movimento comunista, apoiando-se nas idéias de
Morgan, sustentou sua tese de que a família monogâmica teria sido a primeira
família fundada não mais sobre as condições naturais e sim sociais, já que a
monogamia para ele não seria uma decorrência do amor sexual e sim do
triunfo da propriedade individual sobre o primitivo comunismo espontâneo. A
monogamia é visualizada sob a ótica do materialismo histórico, não como uma
forma mais evoluída de estrutura familiar e sim como a sujeição de um sexo ao
outro a serviço do poder econômico. Como a alienação natural do homem seria
a liberdade de intercâmbio sexual, a monogamia teria sido responsável pelo
incremento da prostituição e pela falência deste sistema familiar nos dias
atuais. (Engels; 1971:27)
Ao abordarmos sobre as relações de parentesco, podemos considerá-
los sob duas apresentações: a consangüinidade em linha direta, que ocorre
entre pessoas que sejam uma descendente direta da outra e a
consangüinidade em linha colateral, que ocorre entre pessoas na qual
descendem de antepassados comuns, mas não descendem uma da outra.
Considerando que essas relações de parentesco seriam as
determinadas pela natureza, aquelas baseadas no casamento seriam as
estabelecidas pelas convenções sociais, onde marido e mulher são parentes
em função do contrato social que os uniu.
As relações de parentesco tidas como primárias ou fundantes das
estruturas familiares seriam as seguintes: marido e mulher, pais e filhos e
irmãos. (Engels; 1971)
25 Lévi-Strauss, antropólogo contemporâneo formado na escola sociológica
francesa, aplicou a perspectiva estruturalista à antropologia, descrevendo o
que chama “as estruturas elementares do parentesco”. Partindo da noção de
que a estrutura é um sistema de leis que rege as transformações possíveis
num dado conjunto.
No entanto, Lévi-Strauss procurou estabelecer as relações constantes
na estrutura familiar na qual determinam não só sua aparência fenomêmica em
determinado instante histórico, como suas possíveis modificações ao longo dos
tempos. (Strauss;1958:28)
Lévi-Strauss afirma que com o tabu do incesto, a família marca a
passagem da natureza à cultura. (Idi; 1958)
A instituição matrimonial nasceu vinculada aos ritos de iniciação que
marcavam a passagem da infância para a idade adulta. Nos povos primitivos
tais ritos geralmente chegavam com a cerimônia do casamento.
A compra de uma noiva foi, portanto, a forma mais primitiva de contrato
matrimonial. Essa modalidade de matrimônio, onde a mulher é tratada como
mercadoria, prevaleceu sobretudo nas famílias de organização patriarcal
referidas anteriormente. Culturalmente a mulher é tida como um consórcio,
como propriedade do marido, está no costume ocidental de a mulher trocar o
nome do pai pelo marido (ou prender ao do pai o deste) por ocasião do
contrato matrimonial. Nos países de língua espanhola, essa condição é
explicitada pela partícula de entre o nome próprio da mulher (seguido ou não
do sobrenome de solteira) e o sobrenome do marido, como a indicar a quem
pertence de agora em diante a nubente (aquele que contrai núpcias). (Lévi-
Strauss; 1958)
O dote é tido como outro subproduto dessa concepção do casamento
como uma transação comercial: sua instituição obedece ao propósito original
26 de ressarcir o noivo (ou a família deste) pelos custos posteriores com a
manutenção da esposa. E ainda hoje a aspiração, largamente divulgada entre
os pais, de um “bom partido” para seus filhos ou filhas mostram a persistência
deste referencial econômico para marcar limites quanto à instituição do
matrimônio. (Idi; 1958)
1.2. Terapia de Família – O que é?
Etimologicamente, o termo Terapia vem do grego Thaerapia que
significa “servir à Deus”. A prática terapêutica é antiga e concilia a ligação do
homem com a natureza. Os primeiros terapeutas surgiram entre os egípcios,
onde a prática d cura era dirigida através da força de suas divindades.
Podemos incluir também os ritos xamãs que se difundiram pela antiga
Europa. A ordem dos Essênios possuía manuscritos que hoje ainda estão
sendo traduzidos com o título de “Thaerapeia”, que fornece técnicas de banho
de imersão, a utilização da energia solar, a prática com minerais etc.
Os antigos gregos manifestavam grande interesse por trabalhos de cura
utilizando os recursos naturais.
Naturalmente, existia toda uma mística que envolvia essa prática, já que
essa civilização dava muita importância aos sonhos, fenomenologias naturais,
energia cósmica, cores e sons, animais, minerais, plantas, etc. O termo hoje é
empregado pela medicina ortodoxa para designar algum tipo de tratamento e
acompanhamento médico. Muitos foram os mitos que suscitaram-nos uma
grande imaginação quanto as práticas terapêuticas da época: nesse aspecto,
posso citar dois de interesse e um tanto populares: o mito de Asctépios e de
Quiron. Aparentemente Asctépios (ou Esculápio, na versão romana), seria o
patrono da medicina ortodoxa, se não fosse o fato desse personagem sair
“ressuscitando os mortos” após adquirir o caduceu de Hermes e ser a seguir
castigado pelos deuses por isso. Asctépios, seria assim considerado o primeiro
27 terapeuta que simbolicamente “tira o estado mortificado que está em nós”. Já
Quiron, sábio centauro, instruía os heróis em suas jornadas e era uma espécie
de psicoterapeuta e conselheiro mitológico; dentre alguns “discípulos” de
Quiron, posso citar: Heracles (Hércules), Jasão, Seseu, Perseu, etc. Conta com
o mito que Quiron, ao juntar-se com Heracles na luta contra outro centauros,
acaba por ser atingido por uma flecha envenenada na coxa, e como ele era um
ser meio divino, passou a sofrer com a ferida que se formava e que nunca
sarava. Parece que suas qualidades de curador, aumentaram a partir deste
momento, significando que entendia melhor a dor por sua própria ferida. Pelo
sofrimento impingido à ele, os deuses se consideravam e transformavam-no na
constelação do centauro. Assim é o terapeuta: cura a “ferida” dos outros por ter
sua própria “ferida”. A terapia é toda forma de “cura da alma”, utilizando-se da
palavra, energia, toque, movimento ou qualquer direcionamento e
encaminhamento interior. (www.psiqweb.com.br)
A terapia de família visa ajudar seus membros a alcançar insight sobre
suas dificuldades, em relacionamentos de todos os tipos, permitindo o alívio de
suas ansiedades neuróticas.
28
CAPÍTULO II
A CONTRIBUIÇÃO DA TERAPIA DE FAMÍLIA
DIANTE DOS CONFLITOS FAMILIARES
A contribuição da terapia de família é de grande importância, mediante
aos fatores existenciais no seio familiar, no qual acaba por conduzir a pessoa
ou membros da família ao consultório para uma consulta terapêutica. Visando
obter ajuda, o alívio para os seus problemas.
Segundo Bateson (1950), a terapia de família era vista como uma nova
forma de entender as relações humanas, no qual ganhou notoriedade a partir
da década de 50 em várias partes dos Estados Unidos. Psiquiatras, grupos e
instituições desenvolveram pesquisas e modelos de atendimentos
psicoterápicos para a família, mediante ao fato de que a terapia de família teve
início nos hospitais psiquiátricos quando os familiares iam visitar os pacientes.
(Bateson; 1950)
Estes, recebiam orientações psicoterápicas basicamente individuais,
tendo em vista que no trabalho com esquizofrênicos, os terapeutas se
conscientizaram de como a família influencia no tratamento do paciente.
Durante o acompanhamento observa-se que quando o paciente obtém
melhora, outra pessoa da família adoece.
O terapeuta, enquanto profissional deve conhecer a si próprio e ter
conhecimento da própria família, tendo em vista que deverá ajudar a mesma a
descobrir quais são os seus limites. Na qual terá um olhar diferenciado para
cada família diante dos conflitos, perceber qual é a função desse sintoma em
uma problemática familiar.
Para Bateson, entender a família como um sistema significa entender o
sintoma como produto das interrelações. Pois a visão sistêmica transcende a
29 noção de que a família pe a soma de indivíduos, na qual a leitura de dinâmica
familiar revela uma identidade grupal. (Idi; 1950)
Como bem enfatiza Bateson e seus colegas, estes formularam a
hipótese de que a estabilidade familiar é adquirida através de uma
retroalimentação, na qual controla o comportamento da família e de seus
membros.
Na proporção em que o sistema familiar sente-se ameaçado, ele
movimenta-se em direção ao equilíbrio ou homeostase (sintoma). De maneira
que a homeostase familiar apresenta-se de forma importante nos primeiros
movimentos da terapia sistêmica familiar, sendo atualmente conhecido como
primeira cibernética. (Idi; 1950)
Diante deste modelo, cabe ao terapeuta observar e entender os padrões
de relação da família em que as mesmas mantinham o sistema numa
homeostase disfuncional, sendo priorizada qual seria a função do sintoma e
não com o comportamento em si. Na qual esta ótica direciona para a
manutenção estável, manteve domínio no campo da terapia de família até
meados dos anos 70. (Bateson; 1970)
Em meados dos anos 70, é criado o Instituto de Terapia Familiar
(Roma), por Maurício Andolf que utilizava uma técnica própria, sendo
fortemente influenciada pela teoria estrutural de Minuchin e por Carl Whitaker.
Partindo da premissa essencial de que a família é um sistema sendo
essencial a exploração das relações interpessoais e das normas que regulam a
vida dos grupos significativos a que o indivíduo pertence. (Andolf; 1970)
Na qual o objetivo terapêutico é analisar as relações que existem aqui e
agora na sessão entre o indivíduo e o sistema interativo. Transferindo-se o
sintoma para o plano de relação. Portanto, o comportamento sintomático que
30 habitualmente é vista com um problema individual, acaba por envolver todos os
membros da família.
Diante do contexto, o terapeuta em uma problemática familiar deve
reestruturar os elementos que constituem o problema e então arranjá-los em
uma dimensão diferente. (Andolf; 1970)
Com o modelo de família nuclear e a inclusão de geração de avós,
permitiu-se reunir presenças físicas na sessão e entender melhor o indivíduo.
De acordo com suas modalidades específicas de relacionamento, a família
trigeneracional oferece ao observador elementos de compreensão entre
comportamentos e necessidades insatisfeitas no passado.
Como bem enfatiza Andolf, de acordo com a construção deste sistema
terapêutico, o terapeuta torna-se parte integrante de família, como esta da
equipe terapêutica. (Idi; 1970)
Já no ano de 1980, surge o construtivismo, na qual houve um impacto
no campo da terapia familiar. Que na visão dos teóricos construtivistas como
Paul Watzlawick, Humberto Maturana, Heinz Von Fobister e Ernest Von
Gloserfeld. Estes assumiram a posição de que a imagem do mundo que temos
em nossa mente não é uma réplica direta do mundo exterior.
Tendo em vista que o construtivismo centra-se em como os indivíduos
criam suas próprias realidades.
No qual o trabalho do terapeuta é co-criar novas realidades com as
famílias e não dirigi-las e aconselhá-las. (Maturana; 1980)
Os terapeutas pós-modernistas ficam interessados na diversidade e no
pluralismo (variedade das formas de família criadas pela etnicidade, raça,
classe social e preferência sexual).
31 Diante deste enfoque, cabe ressaltar que foi delineado um novo perfil na
prática da terapia familiar que passou a ter como objetivo terapêutico a criação
de um contexto no qual as pessoas podem expressar mais claramente quem
são e o que estão fazendo. (Idi; 1980)
Para Maturana, o terapeuta familiar como co-criador de histórias
reconhce-se como fazendo parte do sistema terapêutico e como tal, precisa ter
a liberdade de não ficar preso a um único modelo, não ficar subjulgado às
técnicas, não ficar aderindo a nenhuma verdade e utilizar sua curiosidade e
criatividade para mobilizar os recursos que acredita que o sistema tem.
Portanto, cada uma das escolas de terapia familiar proclamou sua maneira
própria de compreender e tratar as famílias. Nesse sentido, a tendência para a
convergência é a história da terapia familiar na década de 1980. (Ibid; 1980)
Portanto, a terapia de família é um campo relativamente novo, no qual
existe um movimento consistente e uma inevitável evolução.
Segundo Maturana, um dos termos mais complexos em terapia familiar é
definir o que faz com que uma família busque terapia. Geralmente, o pedido de
ajuda vem por intermédio do paciente identificado, o portador da patologia.
Porém, o porta-voz do pedido de ajuda não é, em geral, o identificado, é sim
alguém solicitando ajuda para um filho, pai, mãe ou irmão. Em alguns casos, o
pedido de socorro é feito através de um telefonema por um membro de um
casal, solicitando ajuda para o marido ou para a mulher “doentes”.
Enfim, sempre é solicitada a ajuda para a parte “doente” da família ou do
casal. Porém os enviantes de uma família, muitas vezes, não esclarecem que o
encaminhamento é feito por entenderem que todos da família necessitam de
ajuda.
“Cada um se define não apenas pelo que diz, mas também por suas ações, nos objetivos e instrumentos
32 que utiliza, na maneira com os utiliza, nas significações que lhe são atribuídas” (Andolf; 1970)
Tendo em vista que todos estes elementos concorrem para a criação de
um contexto na qual se desenrolam as interações. Contribuindo para
determinar as significações de tudo o que é dito e mostrado.
“Para um problema existir, alguém precisa especificá-lo e alguém precisa aceitá-lo... Na verdade, o fato de que uma pessoa deva ser ouvida e que um problema deva ser emergir através da afirmação: “há um problema” revela uma concordância e um consenso explícitos e implícitos ... Através de uma forma peculiar, cada sistema social autoriza certas pessoas a definirem normalidade e anormalidade, saúde e doença. Em nosso sistema social, esse poder é concedido a algumas pessoas, porém antes de um problema ser definido e enunciado por alguém, ele não é um problema.” (Maturana; 1980)
Definindo-se o problema, define-se as relações e o contexto. Ao
comunicar o que o problema significa e causa para si e para os outros, os
membros da família distinguem um espaço perspectivo que vem ao encontro
das perguntas do terapeuta. Portanto, fazer perguntas não significa apenas
colher informações, porém trilhar domínios territoriais que fazem parte da
história do novo contexto que se inicia, do qual a história do terapeuta também
já é parte. Sendo assim, o problema define-se no conjunto das relações e do
contexto. (Andolf; 1970)
Redefinir o problema, as relações e o contexto é preparar o terreno para
mudança desde a primeira sessão:
A redefinição de um problema no contexto terapêutico cria uma nova
história, onde estão presentes, não só as relações familiares, mas também a
relação entre a família e o terapeuta e vice-versa. Embora o problema seja
considerado como pertencente a um indivíduo, o comportamento sintomático
33 do paciente passa a pertencer ao novo contexto, cuja realidade relacional mais
complexa é regida por causalidade circular. Redefinir um problema é permitir
que o mesmo seja visto sob novo ângulo, desconhecido para a família. Sendo
redefinido o problema o envolvemos nas relações familiares, de tal forma que
cada um possa definir dentro de si seus compromissos e responsabilidades na
maneira da família organizar-se em torno do sintoma. (Idi; 1970)
Investigar os recursos da família é uma tarefa que exige do terapeuta
treino e formação. Em geral, os terapeutas apresentam dificuldades em livrar-
se dos preconceitos das crenças. Em alguns momentos tendemos a não
discriminar o que de fato é patológico para a família ou para nós, não
observando os recursos a mesma possui e desconhece. Em outros momentos,
deixamos de conhecer aspectos significativos do comportamento sintomático,
por não conversarmos com a família sobre determinados assuntos.
Observar nos observando é um difícil aprendizado em nossa formação
como terapeutas familiares. Ao recebermos um telefonema de alguém nos
solicitando ajuda porque um membro da família envolveu-se com drogas, tudo
o que foi dito até o presente momento faz-se presente. (Andolf; 1970)
2.1. A terapia como forma de ajuda para a família
Nesse contexto, observa-se um exemplo de excessiva permeabilidade
das fronteiras intersistêmicas é a Família Mendes:
Trata-se de um casal, ambos de nível universitário, na faixa dos 40 anos,
com um filho único de 18 anos. A indicação de terapia de família conjunta foi
feita pelo terapeuta a quem procuraram para atender o rapaz, e prontamente
aceita por todos. Deste nosso primeiro encontro, o tema comum era a
drogadição do rapaz, motivo da procura.
34 A partir dos 14 anos ele vinha fazendo uso continuado de tóxicos. As
doses foram sendo gradativamente aumentadas, até que ocorreu um episódio
de dose excessiva quando, então, os pais “descobriram perplexos” que seu
filho não estava bem.
O pai foi acusado pelo filho e pela mão de “ser um alcoólatra e, viver no
mundo dos sonhos” (sic), ao que não desmentiu. A mãe foi acusada pelos dois
homens de “viver a sua vida” (sic), ao que reagiu de forma bastante agressiva.
Sentaram-se lado a lado, o rapaz entre os pais, e em momento algum se
olharam; todas as comunicações eram dirigidas a mim.
A mulher se referia sempre a “ele”, não tendo nenhuma vez pronunciado
o nome do marido ou do filho.
Ficaram muito surpresos quando, a certa altura, eu disse que o
problema de tóxico não me parecia causa e sim conseqüência e, que nesse
momento, o tóxico era também algo que os unia, algo que os mantinha ligados.
No final da sessão, ao explicar os objetivos e funcionamento da terapia,
propus que conversassem para decidir se queriam ou não fazer tal
investimento. Tratava-se, inclusive de uma família que morava em outra
cidade.
Na sessão seguinte se sentam nos mesmos lugares e permanecem
calados. Finalmente a sra. Mendes diz que nesses quinze dias (intervalo das
sessões) não conversaram: “acho que vamos ter mesmo é que conversar
aqui”.
A história familiar aparece: os pais estavam separados há dois meses;
eram amigos; a decisão fora tomada pela mulher.
35 O último ano de casamento, coincidiram com a saída de casa do filho,
que fora estudar em outra cidade. No decorrer desse ano letivo, o rapaz
morava em quatro cidades; numa busca de “me sentir numa legal” (sic). Mãe e
filho estavam juntos provisoriamente; o pai estava se mudando para outra
cidade.
A terapia familiar conjunta era vista por todos como uma forma de
“Conseguirmos nos separar de uma vez, sem entrarmos naquele esquema de
um ter que ficar controlando o outro a distância.”
O excesso de permeabilidade das fronteiras intersistêmicas pode levar
uma exagerada dependência do sistema terapêutico, principalmente quando se
trata de famílias multiprolemáticas. A perda da totalidade torna o sistema
familiar indiscriminado em relação ao meio circundante; em conseqüência, sua
identidade e seu funcionamento se tornam intensamente determinados pelas
condições externas. Quando o sistema institucional se torna provedor quase
que exclusivo de suas necessidades passa a estimular sua dependência. Não
significa que tais famílias não devam ser ajudadas e sim que cada situação
deve ser avaliada individualmente, levando-se em conta os aspectos
característicos de seus limites. Não se podem esquecer tais aspectos, pois,
sob a forma de uma ajuda para favorecer um funcionamento mais adequado,
pode-se estar facilitando o agravamento de uma problemática profunda e muito
antiga.
O subsistema decisório
Em todos os conceitos vistos está implícita a necessidade de uma ordem
nas trocas que se efetuam entre as partes do sistema, assim entre ele e o
ambiente. Essa ordem possibilita a existência deste universo, e só nos
percebemos de sua importância quando ela é transgredida. Uma visão
sistêmica do universo mostra que o funcionamento das partes deve estar
voltado ao bem-estar de todos, sendo imprescindível que uma das partes seja
36 capaz de ordenar os demais, organizá-los, tendo sempre em vista o que será
mais adequado ao todo. Esta parte denomina-se SUBSISTEMA DECISÓRIO.
Voltando ao exemplo do homem - sistema vivo, pode-se dizer que, em
termos de seu funcionamento orgânico, o cérebro é o seu subsistema
decisório. O homem é considerado morto ou sem condições normais de vida, a
partir da inatividade cerebral por determinado espaço de tempo.
A ineficiência ou inadequação do subsistema decisório da família gera
padrões de funcionamento inadequados. Todos nós experimentamos a
sensação de confusão do tipo “ninguém se entende nesta casa”, decorrente da
ausência, ainda que momentânea, de um subsistema decisório funcionando
adequadamente. Cabe lembrar aquela família em que as decisões são
permanentemente transferidas a um de seus membros, aquele que parece
desempenhar o papel de subsistema decisório. O subsistema decisório deverá
ser flexível, ora se mostrando rígida, para logo adiante se deixar levar por
influências externas, como também poderá ser exercido em diferentes
momentos por pessoas diversas.
A visão da família como sistema vivo facilita a compreensão de seus
mecanismos de funcionamento nem sempre claras ao observador, assim como
permite um planejamento das mudanças. Por isso, torna-se importante a
colocação aqui de outros conceitos de Teoria Geral dos Sistemas.
São eles: totalidade, auto-organização, homeostase, causalidade,
finalidade e os princípios básicos da teoria da comunicação.
“ Totalidade: o sistema não é uma soma das partes, e sim uma organização independente, na qual o comportamento e a expressão de cada uma destas partes influencia e é influenciada por todos os demais. O sistema transcende a soma, e como tal, possui características próprias. Seu conhecimento e compreensão, a partir da observação isolada das partes,
37 é inviável. O todo para ser compreendido tem que ser observado através da globalidade.” (Skinner; 1972:72)
Segundo Walrond Skynner (1972; 72) o mesmo faz uma analogia muito
feliz entre o sistema e o jogo de xadrez: a compreensão de ambos é impossível
se restringir ao exame das peças. O jogo deve ser observado como um todo
para que se possa compreender de que maneira o movimento de uma de suas
peças afeta a posição e a compreensão de cada um das outras.
Transpondo para o sistema familiar, significa que, para conhecer e
avaliar a família não é possível se restringir ao conhecimento isolado de cada
um e, a partir daí, inferir o funcionamento provável do todo. Quanto Antônio e
Maria estão juntos, interagindo, tal processo têm características próprias e
diversas de sua atuação isolada.
Ao encontrá-los juntos, também será diferente de quando sozinhos. Não
significa que, por estarem juntos, adquiriram características inexistentes
anteriormente, e sim que o todo é diferente dos somatórios das partes.
Entretanto na família, os subsistemas também devem ser vistos como uma
totalidade, o subsistema parental, o subsistema filial e outros. É a partir daí que
se têm condições para entender alguns dos conflitos intergeracionais.
(Skynner; 1972)
“Princípio da auto-organização: a estrutura e a função do organismo vivo são estabelecidos pelo próprio sistema. O princípio da auto-organização determina algumas características deste sistema: a) um grau de autonomia na determinação de seu tamanho, conforme aos princípios internos de sua organização (supõe-se que o casal decide livremente o número de filhos); b) interação constante entre o sistema e o meio circundante (a família é incapaz de se autoprover, por exemplo), em termos de alimentação; necessita dos recursos fornecidos pelo meio)”. (Ibid; 1972:72)
Os fenômenos dinâmicos da auto-organização são: - Auto-renovação:
capacidade de reciclar continuamente seus componentes sem perda da
38 estrutura global. Os filhos crescem, mudam e nem por isso perdem sua filiação;
auto-transcendência: envolve os processos de aprendizagem, desenvolvimento
e evolução. A família ultrapassa suas fronteiras físicas.
É importante sinalizar que, como se observa na família, há sempre um
alto grau de não equilíbrio simultâneo com um alto grau de estabilidade.
Não significa rigidez e, sim, a manutenção da mesma estrutura global a
respeito das mudanças contínuas em seus componentes e nas condições
ambientais. Ou seja, a família muda mas permanece a mesma.
“Homeostase: trata-se de conceito anterior a Teoria Geral dos Sistemas, que o incorporou. Homeostase significa “mesmo estado”, mecanismo regulador que garante a estabilidade do sistema. A ampliação do conceito de homeostase às ciências sociais é discutido, pois, ao significar a preservação de que existe, deixaria de explicar o crescimento e a mudança, processos inerentes a todos os sistemas sociais. De acordo com Walrond – Skynner). A homeostase é um mecanismo autoprotetor capaz, portanto, de manter o sistema em estado relativamente constante, o que não implica imobilidade. A imobilidade e a estagnação seriam muito mais conseqüências de um funcionamento excessivo dos mecanismos homeostáticos. Um exemplo é a família rural citada anteriormente por suas fronteiras excessivamente impermeáveis. Para compreender sua intensa necessidade de evitar a mudança, é necessário conhecer as causas de seu medo das influências externas, mecanismos homeostáticos rígidos. Não é pura e simplesmente obrigando-a a moldar os filhos à escola que se estará alterando seus padrões rígidos e esteriotipados.” (Skynner; 1972:73)
O conceito de homeostase torna-se fundamental na avaliação das
possibilidades de mudança do sistema familiar, bem como das estratégias mais
adequados para sua obtenção. É ainda Walrond-Skynner (p.15) quem
denomina o paciente indicado de “regulador familiar”, o que explica o caos
39 familiar decorrente das melhoras individuais. Este fenômeno se explica pela
ruptura da homeostase, mudanças determinadas pelas alterações no
funcionamento individual. Porém todos nós já atendemos aquela família que ao
mesmo tempo em que fala em seu desejo do paciente melhorar, faz esforços
enormes para que isso não aconteça; parece que a família “sabota” retarda o
processo terapêutico. (Skynner; 1972)
A homeostase é essencial ao funcionamento do sistema familiar, quer
seja ela adequada ou inadequada, e sua interrupção conduz ao caos. Sendo a
mesma essencial aos mecanismos interpessoais como também não pode ser
excluída dos mecanismos intrapsíquicos e intra-orgânicos.
“Causalidade: para a Teoria Geral dos Sistemas, a causalidade é sempre circular, sem princípio ou fim. A causalidade circular opõe-se à linear, compreensão da causa de um efeito, a partir da alteração das variáveis, uma de cada vez. Para a causalidade linear, a etiologia (estudo das origens das coisas) de um fenômeno se move do passado para o presente, o conhecimento do ponto inicial desta linha torna-se imprescindível.” (Ibid; 1972:74)
O conceito de causalidade circular destaca o “aqui e agora” em que o
presente reedita o passado, tornando claros os limites do sistema. A
observação do funcionamento sistêmico “aqui e agora” permite o conhecimento
de todo o processo. Desnecessário enfatizar a importância deste conceito para
a terapia familiar; todo a maneira, característica de encarar um acontecimento
se apóia na existência de uma causalidade circular.
“Finalidade: todos os sistemas orgânicos e sociais se direcionam sempre a um objetivo, têm um propósito que determina sua forma de atuação. A existência da família se orienta por tais propósitos, que embora mudem no decorrer de seu ciclo vital, nem por isso deixam de existir. Há uma tendência natural do sistema em lutar para permanecer no que é, mesmo quando está sendo disfuncional; esta é uma garantia de que continuará existindo e não irá se desintegrar. A família luta para
40 permanecer nesse “mesmo estado”. Uma das tarefas do terapeuta familiar é, exatamente, a de ajudar a família a se redirecionar no sentido de alcançar seus propósitos.” (Idi; 1972) “Teoria da Comunicação: seu reconhecimento facilita uma compreensão mais clara dos conceitos de Teoria Geral dos Sistemas. É através do estudo de como as partes do sistema interagem (comunicação) que se poderá perceber as interrelações entre os subsistemas, os sistemas e os supra-sistemas. O conhecimento da comunicação proporciona a avaliação dos processos de troca de informações. A avaliação dos processos interfamiliares tem a troca de informação como ponto de partida. O comportamento humano é resultado da interação entre forças intrapsíquicas e externas ou ambientais. O conhecimento da interdependência entre o individual e seu meio se inicia pela compreensão da família, meio de origem.” (Jackson; 1967)
Dentre os vários princípios da teoria da comunicação estudados por
Watzlawick, Blavin e Jackson (1967) parece-me que o da retroalimentação –
feedback – é um dos que se relacionam mais diretamente com a terapia
familiar. Há momentos, no decorrer da terapia em que um dos membros da
família faz algum comentário ou proposta nova e nela o profissional reconhece
uma informação que lhes havia transmitido anteriormente. (Watzlawick;
1967:75)
O terapeuta familiar corre um grande risco de errar ao traduzir conforme
suas vivências pessoais, mas que não correspondem à mensagem transmitida
pela família. A escuta de sua contratransferência é que lhe permitirá se
aproximar do significado real da comunicação no “aqui e agora” (Idi; 1967)
Segundo Bateson, “o relacionamento de um casal ajustado deverá se
caracterizar sempre por uma alternativa de interações simétricas e
complementares.” (Bateson); 1971:55)
41
2.2. Os Genogramas: Como um dos instrumentos que você tem
como olhar a família
O genograma é uma forma para ampliar o olhar familiar na qual registra
informações sobre os membros de uma família e suas relações durante pelo
menos três gerações. Os genogramas apresentam a informação de uma forma
gráfica, de maneira tal que proporciona um rápido gestalt de complexas normas
familiares e uma rica fonte de hipóteses sobre como um problema clínico pode
estar relacionado com o contexto familiar e a evolução, tanto do problema
como do contexto através do tempo.
Os médicos clínicos se interessam pelos genogramas porque são
representações gráficas de uma família. Estas lhes permitem explorar a
estrutura familiar em forma clara e observar, pondo em dia o “quadro” familiar a
medida que vai surgindo. Para uma história clínica, o genograma resulta um
eficiente resumo clínico, permitindo assim ao terapeuta que desconhece o caso
adquirir de forma rápida, uma grande quantidade de informação sobre uma
família, tendo uma visão de todos os problemas potenciais.
Os genogramas facilitam ao médico ter em mente os membros da
família, assim como também certas normas, o sucesso que pode ter
importância no tratamento da família. Os genogramas familiares que exploram
as relações e normas de funcionamento podem ajudar ao médico a pensar de
maneira sistemática, tendo em vista que os sucessos e as relações na vida de
seus pacientes estão relacionadas em normas de saúde e doença.
A informação de um genograma se estende melhor desde uma
perspectiva sistemática. A entrevista do genograma deve ser considerada
como parte de uma evolução compreensiva, sistemática e clínica. Não existe
uma escola de medição quantitativa para que o médico utilize o genograma
como se fosse um livro de cozinha em suas prescrições clínicas.
42 O genograma é uma forma interpretativa subjetiva, com a qual o médico
pode gerar hipóteses tentativas para outras evoluções sistemáticas.
Mediante informação, o genograma se constrói durante a primeira
sessão e logo se revira, a medida que se obtém mais informações. Portanto, a
evolução inicial constitui a base para o tratamento. É importante notificar que
os terapeutas familiares não separam a evolução do tratamento.
Cada interação do terapeuta com a família, proporciona informações e a
evolução portanto exerce uma influência na seguinte intervenção.
Os genogramas podem ajudar os membros de uma família a vencer a si
mesmo, de uma maneira distinta; por conseguinte, só há uma maneira
importante para unir as famílias na terapia. Estas permitem ao entrevistador
voltar a formular, promover e normalizar questões carregadas de emoções,
criando uma perspectiva sistemática que ajuda a rastrear problemas familiares
através do tempo e do espaço. A entrevista do genograma proporciona um
veículo para o interrogatório sistemático, na qual parte da informação do
médico começar a orientar a família. O genograma ajuda o médico e a família a
ver um “quadro maior” desde o ponto de vista atual histórico, e decidir que a
informação estrutural sobre uma família que aparece no genograma pode
interpretar-se da forma horizontal, através do contexto familiar e vertical através
das gerações.
Ao estudar a extensão do atual contexto familiar, o clínico pode avaliar a
relação dos atores imediatos entre si e um drama familiar, assim como sua
relação com o sistema maior, e avaliar a fuga e vulnerabilidade de uma família,
com respeito a uma situação global.
Como conseqüência do elo, em um genograma incluímos todo o elenco
de atores (membros nucleares de uma família, assim como membros que não
pertencem a mesmo pelo que viveram com ela e tiveram um papel importante
43 na vida familiar) é um resumo de uma situação familiar atual, incluindo
problemas e pontos relevantes. Logo se pede falar na conduta e nos problemas
atuais dos membros da família sobre o genograma, desde muitas perspectivas.
A pessoa com o problema e o sistema pode ser considerada dentro de um
contexto de vários subsistemas, tais como os irmãos, triângulos, relações
recíprocas complementares e harmônicas em relação ao metasistema, tal
como a comunidade, das instituições sociais (escolas, etc) e o contexto
sociocultural mais amplo.
Ao estudar o sistema familiar desde o ponto de vista histórico e avaliar
prévias transições do ciclo vial, se pode situar as questões em um contexto e
as normas evolutivas da família.
Tendo em vista que os genogramas incluem pelo menos três gerações
de familiares, assim como sucessões e críticas na história da família, em
particular os relacionados com o ciclo vital.
Quando se interroga os membros da família sobre a situação atual com
respeito aos temas, mitos, regras e questões com cargas emocionais de
gerações anteriores. Os genogramas “permitem que fale do calendário”
sugerindo possíveis ligações entre os sucessos familiares.
Junto com os genogramas, podemos incluir uma cronologia familiar que
mostra a história familiar em ordem cronológica.
Estes se associam ao genograma com a teoria dos sistemas familiares
(Bowen, 1978; Carter & McGoldrinck Orfanidis, 1976; Querin & Pendagast,
1976; McGoldrinck, 1977; Pendagast & Sherman, 1977; Bradt, 1980) os
médicos também utilizam outras orientações como (Hartman, 1978; Silberman,
1979, Paul & Paul, 1974; Smoyak, 1982; Wachiel, 1982).
44 Na terapia familiar, as aplicações de genogramas vem desde o
planejamento multigeracional do sistema emocional da família, utilizando a
estrutura de Bowen, a formulação de hipóteses sistemáticas para as
intervenções.
Os teóricos de terapia familiar estrutural e estratégica (Hayley, 1976;
Madanes, 1981; Minuchin, 1974) não utilizam genogramas em seus
acontecimentos, preferindo concentrar-se nas relações emocionais da família.
Os médicos de família têm utilizado os genogramas para registar a
história clínica familiar de forma eficiente e segura (Jolly, Fromm & Rosen,
1980; Medalie, 1978; Mullins Christic – Seely, 1984; Rakel, 1977).
É evidente que os genogramas estão limitados a quantidade de
informações que podem mostrar. Os médicos reúnem muitas informações
sobre a vida das pessoas, do que pode aparecer em um genograma.
Por outro lado, nunca se deve utilizar os genogramas clinicamente fora
do contexto, tal como achamos aqui com fins didáticos. O genograma é só uma
parte de uma contínua investigação clínica e deve estar integrada na evolução
total da família.
O genograma fala da árvore genealógica, pois através dele consegue-se
ver tudo aquilo que está acontecendo nessa família, ampliando o olhar e
organizando.
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CONCLUSÃO
Este tema despertou a atenção por entender que, sendo a família o
primeiro agente socializador do ser humano e mediante aos conflitos familiares,
deve ser acompanhada por um profissional qualificado diante da problemática,
na qual a mesma está inserida. Tendo em vista que o homeostase que é o
sintoma é motivo pelo qual a família ou componente da mesma buscam no
apoio terapêutico, o alívio para os seus males.
Diante ao exposto pude observar a família da forma mais ampla,
enfatizando a terapia como contribuição para o entendimento e fortalecimento
das relações familiares.
Com a utilização desta monografia obtive informações para melhor
compreender e valorizar o trabalho acadêmico enquanto profissional.
O conteúdo deste estudo está baseado em fatores muito importantes: as
vivências dos autores ao exporem os seus pensamentos de forma clara e
objetiva, permitindo a familiarização dos conteúdos apresentados.
Portanto, cabe informar que através de pesquisa bibliográfica desenvolvi
este estudo baseando-me na família e seus conflitos. Tendo como objetivo
repensar a relação entre a família e o terapeuta.
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BIBLIOGRAFIA
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WEBGRAFIA
www.psiqweb.com.br
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ANEXO
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