UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO EM ORIENTAÇAO EDUCACIONAL “LATO SENSU”
CAMPUS NITERÓI
SÍNDROME DE “BURNOUT”: SEUS ASPECTOS E DESAFIOS
AO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO DOCENTE
Por:
Daniel Moreno Nogueira
ORIENTADO POR:
PROFº Luiz Cláudio Lopes Alves
Rio de Janeiro, Janeiro de 2005.
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO EM ORIENTAÇAO EDUCACIONAL “LATO SENSU”
CAMPUS NITERÓI
SÍNDROME DE “BURNOUT”: SEUS ASPECTOS E DESAFIOS
AO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO DOCENTE
Monografia apresentada por: Daniel
Moreno Nogueira, como requisito de
trabalho de conclusão do Curso de Pós-
Graduaçâo com habilitação em
Orientação Escolar.
Rio de Janeiro, Janeiro de 2005.
3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha família e principalmente a
minha namorada Luana, que tanto me apoiou e colaborou
para a confecção e o aperfeiçoamento desta pesquisa. Te
Amo Demais ! Também aos amigos e colegas da
faculdade, e é claro aos professores que foram pessoas
importantes que contribuíram para a construção das
minhas idéias em minha formação acadêmica.
4
RESUMO
As profundas transformações econômicas e sociais que se configuram no
cenário mundial trazem novas questões para a educação. A intenção deste
estudo foi a de pesquisar os possíveis fatores que configurariam a presença
da Síndrome de “Burnout” e um outro motivo seria a possibilidade de
verificar meios preventivos ou de reabilitação no contexto educacional
direcionados ao docente, equipe pedagógica e diretiva, e, ainda a
comunidade. Escolhi trabalhar com o termo Burnout por entender que seria
um ciclo degenerativo da eficácia docente, no qual os educadores correm
um risco de esgotamento físico ou mental sob o efeito de dificuldades
materiais e psicológicas associadas a seu trabalho dentro de uma amplitude
maior no contexto sócio-ecônomico-cultural em que está envolvido. Este
trabalho foi organizado com a intenção de instigar a reflexão entre docentes,
coordenações e direções ou até mesmo o próprio aluno oferecendo idéias e
questionamentos que estimulem o debate sobre a formação do professor.
Na pesquisa procurei trabalhar com as questões relevantes sobre o
cotidiano do docente, como : condições de trabalho (infra-estrutura, recursos
materiais) ; relações de trabalho (alunos-comunidade-direçao) e as suas
formas de gestão e clima escolar e ainda a organização social do trabalho
na escola, incluindo-se a questão cultural sobre valores. Este estudo é
resultado de uma pesquisa de campo realizada com os professores da Rede
Municipal de Ensino do Rio de Janeiro, especificamente na área norte, com
ênfase, nas séries finais do ensino fundamental, baseada na “Síndrome de
Burnout”. Assim, fui a campo realizar a pesquisa com cautela, buscando o
que pudesse vir a esclarecer algo sobre o tema. Procurei deixar claro que as
As ações propostas evidenciam que a prevenção e a erradicação do
“Burnout” em professores não é tarefa solitária destes, mas deve contemplar
uma ação conjunta entre professor, alunos, instituição de ensino e sociedade
e que não basta fazer da escola um muro de lamentações, buscando
sempre enfrentar os desafios que aparecem no cotidiano a fim de fortalecer
a auto-estima do docente no sentido de amar a si próprio e acreditar sempre
em sua capacidade de realizar um trabalho efetivo e saudável para todos.
5
SUMÁRIO
TÍTULO I - O PROJETO DE PESQUISA
TÍTULO DA PESQUISA: SÍNDROME DE “BURNOUT”: SEUS ASPECTOS E DESAFIOS AO
EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO DOCENTE 07
1.1 – Introdução 07 1.2 – Justificativa 07 1.3 – Objetivos 08 1.4 -- Delimitação 08 1.5 – Teoria de Base 08 1.6 – Metodologia 09 1.7 -- Cronograma 10 1.8 – Questões 11 Referência Bibliográfica 12
TÍTULO II
CAPÍTULO I 13
Breve Histórico da Síndrome de “Burnout” – conceitos e aspectos 13
CAPÍTULO II 22 2.1 – Fatores Associados à Síndrome de “Burnout” 22 2.1.1 – Modificações da Função Docente e dos Agentes de Socialização 23 2.1.2 – Contradições da Função do Professor 25 2.1.3 – Modificações de Apoio Social 27 2.1.4 – Sistema de Ensino e o Avanço do Conhecimento 30 2.1.5 – A Imagem do Professor 33 2.2 – Fatores Principais 36 2.2.1 – Condições de Trabalho 36 2.2.2 – Violência no Ambiente Escolar 39
CAPÍTULO III 47
PESQUISA DE CAMPO 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS 60
7
TITULO I
O PROJETO DE PESQUISA
TITULO DA PESQUISA:
SÍNDROME DE “BURNOUT”: SEUS ASPECTOS E
DESAFIOS AO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO
DOCENTE
1.1 - Introdução:
Este projeto foi organizado com a intenção de oferecer idéias, reflexões
e questionamentos que estimulem o debate sobre a formação do professor.
Tendo em vista que o professor é uma das pessoas mais “expostas”,
psicologicamente falando, no mundo profissional de nossos dias.Trabalha
sob a observação direta ou indireta dos seus alunos, diretores, supervisores,
superintendentes, pais, juntas escolares, o próprio magistério e a
comunidade em geral, sob a ótica que todos esses indivíduos sentem que
têm alguma idéia sobre a espécie de pessoa que o professor deva ser.
1.2 - Justificativa:
A importância desse estudo para área de conhecimento é a de
pesquisar os possíveis fatores que configurariam a presença da Síndrome
de “Burnout”, no nível de satisfação, que poderiam ser fatores diretos
referindo-se sobre a ação do professor em sala de aula, gerando tensões
associadas a sentimentos e emoções negativas, e, por outro lado, fatores
indiretos, referentes às condições ambientais ou infra-estrutura em que se
exerce o magistério.
8
Um outro motivo seria a possibilidade de verificar meios preventivos ou
de reabilitação do “Burnout” no contexto educacional, algumas direcionadas
diretamente ao professor, outras á equipe pedagógica e, ainda, outras à
comunidade envolvida neste processo.
1.3 - Objetivos:
O objetivo do presente trabalho é instigar principalmente a reflexão do
professor acerca da demanda que dirige ao aluno, do que espera obter de
beneficio pessoal em seu trabalho, do que pensa ser sua função, e além
disso estimular para que essa reflexão possa se estender às coordenações
e direções, como também ao aluno que talvez possa assumir um lugar mais
ativo e responsável nesta relação, compartilhando com o leitor esta
problemática.
1.4 - Delimitação:
O tema em estudo será pesquisado nas Escolas Públicas da rede de
ensino do Município do Rio de janeiro, na área norte, com ênfase, nas séries
finais do ensino fundamental, para analisar o nível de satisfação dos
docentes.
1.5 – Teoria de Base:
No livro: Educação: carinho e trabalho./ Codo,W (coord) Petrópolis,
RJ: Vozes / Brasília: Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação: Universidade de Brasília. Laboratório de Psicologia do Trabalho,
2002.
O autor Wanderley Codo no livro: “Educação: carinho e trabalho e a
Síndrome da Desistência do Educador”, busca a partir desse foco teórico,
realizar um estudo abrangente, isto é, de âmbito nacional, com inúmeras
9
variáveis, tais como condições físico-ambientais, segurança, absenteísmo de
professores, formas de interação escola-comunidade, entre outras, além de
entrevistas com os professores, em que se constataram os anseios, as
emoções, os desalentos vividos no decorrer da profissão.
Assim, Codo relata no texto:
“O ‘burnout’ foi o nome que se achou para falar de desistência no trabalho. Por um lado, a desistência não tem uma só forma, ao contrário, comparece como um monstro de mil cabeças, quando uma é cortada outra toma o seu lugar...” (2002, pág.248)
No livro: O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos
professores / ZARAGOZA, J.M. E-Bauru: Edusc, 1999.
O autor defende a idéia que existem fatores primários e fatores
secundários, que afetam à satisfação do docente, o primeiro fator são
aqueles que incidem diretamente sobre a ação do professor em sala de aula
e o segundo se refere a condições ambientais ao contexto da docência, que
embora seja indireto, ele pode promover uma diminuição da motivação do
professor no trabalho, de sua implicação e de seu esforço.
Para Zaragoza, “a crise é geral e dupla: crise da instituição escolar
cujo rendimento é dos mais medíocres; crise do ato pedagógico em si
mesmo”. (1999, pág. 28)
1.6 – Metodologia
As informações sobre o tema proposto serão verificadas por meio de:
• Pesquisa de campo nas Escolas ;
• Levantamento Bibliográfico por meio de livros, revistas e jornais relevantes
ao tema em estudo;
• Entrevistas com pessoas que tenha experiência prática e
• Aplicação de questionários de pesquisa.
10
No Título I, no Capítulo I apresento O Projeto de Pesquisa e as suas
fases de trabalho.
No Título II, no Capítulo I descrevo um Breve Histórico sobre a
Síndrome de “Burnout”: seus conceitos e seus aspectos.
No Capítulo II deste mesmo Título II sao pesquisado os fatores
associados à Síndrome de “Burnout” e os Fatores Diretos na ação do
docente.
No Capítulo III trata da pesquisa de campo, e no fim desta Monografia
é exposto as Considerações Finais e a sua possível intervenção, assim
como a referência bibliográfica e apêndice.
1.7 - Cronograma
Mês Setembro – Concluir a Introdução do trabalho e elaborar os
questionários e iniciar a sua aplicação.
Mês Outubro – Continuação da aplicação do questionário.
Até o dia 22 -- Término do Capítulo I e início da montagem do Capítulo II.
Até o dia 29 – Continuação do Capítulo II e dos seus Subtítulos.
Mês Novembro – Término do Capítulo II.
Até o dia 12 – Início do Capítulo III e continuidade da análise dos dados.
Até o dia 26 – Montagem e término do Capítulo III e início das
Considerações Finais.
Até o dia 30 – Término das Considerações Finais e Bibliografia.
Mês Dezembro:
Até o dia 11 - Revisão e Correção da Monografia.
Até o dia 18 – Digitação da Monografia e correção ortográfica.
Mês Janeiro/ 2005 :
Até o dia 20 - Leitura final, impressão e cópias.
11
1.8 - Questões:
Ɣ Quais as condições de trabalho do professor, no que se refere a infra-
estrutura e aos recursos materiais, como também verificar se na escola há
ambientes propícios para o descanso dos professores e para a sua prática
de planejamento?
Ɣ Como estão as relações de trabalho dos docentes, no que se refere aos
alunos-comunidade-direção, em suas formas de gestão na escola e quanto
ao clima escolar da instituição?
Ɣ Verificar como está a organização do trabalho da escola, diferenciando-se
a organização prescrita ( filosofia /normas) e a real ( construída) e como ela
trabalha com a questão cultural referente aos valores.
12
BIBLIOGRAFIA:
BRANDÃO.C.R(org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro:Graal,
1989.
CODO, W (coord.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes.
Brasília: CNTE/ UnB, 2002.
DEMO, Pedro. Pesquisa e Construção do Conhecimento. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro,1996.
ECO, U. Como se faz uma tese. SP: perspectiva, 1983.
ESTEVE, J.M. O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos
professores. Bauru: Ed. UFSC, 1999.
PAIVA, Edil V.de (org.).Pesquisando a Formação de Professores. Rio
de Janeiro: DP&A, 2003.
PERRENOUD, P. As dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
ZARAGOZA, J.M.E. O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde
dos professores. Bauru: Edusc, 1999.
13
TITULO II
CAPÍTULO I
BREVE HISTÓRICO SOBRE A SÍNDROME DE
“BURNOUT”: CONCEITOS E ASPECTOS
Faz-se necessário, primeiramente explicitar cientificamente o histórico
da Síndrome de “Burnout”, para posteriormente aprofundar seus conceitos e
principais aspectos, de acordo com as pesquisas feitas sobre o tema.
O termo “Burnout” é uma composição de burn = queima e out =
exterior, aludindo que a pessoa com esse tipo de estresse desequilibra-se
física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento hostil e
nervoso.
A Síndrome de “Burnout” geralmente agrupa sentimentos de
frustração. Seus principais identificadores são: cansaço físico e emocional,
apatia e falta de efetivação do eu, desmotivação, insatisfação ocupacional,
deterioração do rendimento, perda de responsabilidade. O significado de
“Burnout” (queimando para fora) é um revide ao estresse ocupacional
crônico, não devendo ser confundido com o estresse, que é uma de suas
causas. Quando se fala em “Burnout”, temos que falar de três fatores que
podem aparecer associados, mas que são independentes:
despersonalização caracterizando “não quero mais”, esgotamento emocional
envolvendo “não posso mais” e baixo envolvimento pessoal no trabalho
individualizando o “não se importar”.
A respeito da despersonalização podemos entendê-la como o
desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas em que prevalece o
cinismo ou a dissimulação afetiva em relação às pessoas com as quais se
14
trabalha. O professor começa a desenvolver atitudes negativas, criticas em
relação ao meio-ambiente (local de trabalho) e aos alunos, atribuindo-lhes o
seu próprio fracasso e tratando-os de forma fria, como se fossem objetos.
Está frieza caracteriza a perda do sentimento de empatia com um outro ser
humano.
O desgaste do vínculo afetivo leva a um sentimento de exaustão
emocional. Esse esgotamento ocorre quando a pessoa percebe nela mesma
a impressão de que não dispõe de recursos suficientes para dar aos outros.
É uma situação de esgotamento da energia física ou mental. O professor se
sente esgotado emocionalmente, devido ao desgaste diário ao qual é
submetido no relacionamento com os seus alunos.
O baixo envolvimento pessoal no trabalho, que também pode ser
entendido como a falta de realização profissional no trabalho, constitui-se
como a tendência desses profissionais a avaliar-se negativamente e, de
forma especial, essa avaliação negativa afeta na realização do trabalho e no
atendimento das pessoas. Os trabalhadores sentem-se descontentes
consigo mesmos e insatisfeitos com o seu desenvolvimento profissional,
experimentando um declínio no sentimento de competência e êxito no seu
trabalho e de sua capacidade em interagir com as pessoas, sejam elas
clientes, pacientes, alunos ou colegas de trabalho.
O conceito de “Burnout” surgiu nos Estados Unidos em meados dos
anos 70, para dar explicação ao processo de deteriorização nos cuidados e
atenção profissional aos trabalhadores das organizações encarregados e
envolvidos com pessoas.
A Síndrome de “Burnout” não surge por acaso. É uma teoria que se
dispõe a compreender as contradições dessa área de prestação de serviços.
A teoria do ser humano solitário, na época em que parece se envanecer a
solidariedade; a ênfase na despersonalização quando a ruptura dos
contratos sociais parecem ter eliminado a pessoa.
O pesquisador Codo (2002), em seus estudos, verificou que foi
Fregenbauer (1974), quem aplicou o termo “Burnout” no sentido que usamos
hoje, pois o homem que ele consultou no “seu divã”, não apresentava
sintomas de comportamentos para que Freud analisasse, mas trazia uma
15
enorme derrota, perdera a possibilidade de ação, sucumbira impotente,
sentimento de vazio.1
Esta Síndrome ataca os trabalhadores da educação juntamente com
a saúde, e a profissão do educador é uma das profissões em que a
demanda mais cresce, devido as suas características e por serem mais
vulneráveis, dele se exige muito; pouco a pouco desiste, entra em “Burnout”.
É impossível dizer desde quando o “Burnout” existe. A importância do
trabalho de Freudenberger, voltando aqui sobre a pesquisa de Codo (2002),
para ele foi exatamente nomear um sentimento que “já estava ali”, ao
nomear o que sentimos, podemos lidar com o que sentimos, podemos
enfrentá -lo, saber seus limites.
E o mesmo autor, afirma que para Freudenberger, “O ‘Burnout’
representa um estado de exaustão resultante de trabalhar exaustivamente,
deixando de lado até as próprias necessidades”.(2002, pág.239).
Não existe uma definição unânime sobre “Burnout”, o que existe é um
consenso em considerar que aparece no indivíduo como uma resposta ao
estresse laboral crônico, não devendo, contudo, ser confundido com
estresse. O primeiro se refere a uma experiência subjetiva interna que
agrupa sentimentos e atitudes e que tem um semblante negativo para o
indivíduo, dado que implica alterações e problemas com conseqüências
nocivas de ordem prática e emocional para a pessoa e a organização. O
conceito de estresse, por outro lado, não envolve tais atitudes e condutas, é
um esgotamento pessoal com interferência na vida do indivíduo e não
necessariamente na sua relação com o trabalho.
O termo estresse vem da física, o seu significado original é o de
fricção, ou desgaste provocado quando uma estrutura é submetida a um
esforço para se adaptar a uma determinada situação. 2
1 O pesquisador Wanderley Codo foi o organizador de uma ampla pesquisa de âmbito nacional, com inúmeras variáveis que serão diferenciadas de acordo com as regiões geográficas do País, e o mesmo teve o apoio da Unb e CNTE. Vide o livro: Educação: carinho e trabalho, Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. 2 França e Rodrigues, no Livro : Stress e trabalho: guia básico com abordagem psicossomática,1997 acrescenta que, ao se tomar medidas, sejam de prevenção ou tratamento, é preciso conhecer os conceitos de tais estados na sua essência, para que não
16
Fisiologicamente, o estresse é o resultado de uma reação que o
organismo tem quando estimulado por fatores externos desfavoráveis.
Em uma visão biopsicossocial, França e Rodrigues (1997) afirmam
que o estresse constitui-se de uma relação particular entre pessoa, seu
ambiente e as circunstâncias as quais está submetida, que é avaliada como
uma ameaça ou algo que exige dela mais que suas próprias habilidades ou
recursos e que põe em perigo o seu bem estar. Cabe salientar, no entanto,
que o estresse por si só não é suficiente para desencadear uma
enfermidade orgânica ou para provocar uma disfunção significativa na vida
da pessoa. Para que isso ocorra é necessário que outras condições sejam
satisfeitas, tais como a vulnerabilidade orgânica ou uma forma inadequada
de avaliar e enfrentar a situação estressante. É importante enfatizar que a
principal fonte de tensão é a condição interior.
Ao se tratar de estresse ocupacional, estes mesmos autores,
consideram-no como aquelas situações em que o indivíduo percebe seu
ambiente de trabalho como ameaçador, quando suas necessidades de
realização pessoal e profissional, e / ou sua saúde física ou mental,
prejudicam a interação desta com o trabalho e este ambiente lança
demandas excessivas a ela, ou que ela não contenha recursos adequados
para enfrentar tais situações. Logo podemos dizer que o estresse
ocupacional é decorrente das tensões associadas ao trabalho e a vida
profissional do indivíduo.
O estresse nem sempre é prejudicial, por que ele é uma das reações
do corpo a situações extremas, que em determinados momentos é
necessário e nos ajuda a superar problemas do cotidiano nos fornecendo
mais adrenalina, atenção e desempenho superior à média. E ele só é
benéfico se for em curtos períodos de tempo. Assim, o estresse pode ou não
levar a um desgaste geral do organismo dependendo da sua intensidade,
duração, vulnerabilidade do indivíduo e habilidade em administrá-lo, porém
se o estresse for prolongado pode levar à Síndrome de “Burnout”.
ocorram distorções como comumente acontece, referindo-se ao Burnout como um sinônimo de estresse, quando na verdade é uma resposta de um estresse crônico.
17
Segundo Carlotto (1987), “Burnout” é uma expressão inglesa que
designa “deixar de funcionar por exaustão de energia” e o mesmo autor
aborda que Malasch e Jackson (1986) afirmavam que “burnout” era uma
resposta inadequada a um estresse emocional crônico, cujos resultados
principais são: uma exaustão física e ou psicológica, uma atitude fria e
despersonalizada em relação aos demais e um sentimento de inadequação
às tarefas que têm de realizar. Para estes pesquisadores o mal afeta com
maior freqüência profissionais da área da educação e saúde.3
As pesquisas têm demonstrado que o “Burnout” ocorre também em
trabalhadores altamente motivados, que reagem ao estresse laboral
trabalhando além dos seus limites até que entram em colapso.
No ambiente profissional, o “Burnout” surge quando a organização
não favorece o necessário ajuste entre as necessidades dos trabalhadores e
os fins da instituição. Algumas definições atribuem o “Burnout” com o
sentimento de discrepância entre o que o trabalhador dá (o que ele investe
ao trabalho) e aquilo que ele recebe em troca (reconhecimento dos
superiores, colegas, alunos ou sociedade).
Nos estudos feitos sobre a Síndrome de “Burnout”, foram relatados
que os profissionais que mantém contato direto com outras pessoas são os
mais afetados, isto porque, possuem um ideal humanista em seu trabalho,
ou seja, geralmente são pessoas que cobram muito de si mesmas e acabam
sendo perfeccionistas e intransigentes e, com essas atitudes, não enxergam
caminhos alternativos para o profissionalismo, entrando em estresse
ocupacional, exaustão emocional, despersonalização e baixa realização
pessoal no trabalho, que poderá acarretar até mesmo em doenças.
3 Carlotto no Livro: Burnout: quando o trabalho ameaça o bem estar do trabalhador, SP: casa do psicólogo, 2002; atenta que as pesquisas sobre Burnout têm uma longa tradição na América do Norte, sendo em países europeus, com exceção da Inglaterra, as pesquisas estão em fase embrionárias. No Brasil, há alguns estudos que abordam o estresse ocupacional e poucos são os que abordam especificamente a “Síndrome de Burnout”.
18
Neste texto, podemos citar como sintomas gerados pelas três
dimensões na perspectiva organizacional, aqui descritas, as seguintes
manifestações:
Psicossomáticos
Freqüentes dores de cabeça, fadiga crônica, asma, perda de peso, problemas de sono, dores musculares (costas e pescoço), úlceras e outras desordens gastrointestinais, hipertensão e, nas mulheres alterações de ciclos menstruais.
Comportamentais
Absenteísmo profissional, aumento do comportamento violento, abuso de drogas, incapacidade de relaxar e comportamento de alto risco (jogos de azar perigosos, conduta suicida).
Emocionais
Distanciamento afetivo, impaciência, desejos de abandonar o trabalho, irritabilidade, dificuldade para concentrar-se, diminuição do rendimento no trabalho, baixa auto-estima e idéias suicidas.
Defensivos
Negação das emoções, ironia, racionalização, atenção seletiva e deslocamento de afetos.
Fonte: esta tabela foi retirada da página 45 do artigo preliminar sobre a “Síndrome de Burnout”, publicado na Revista do Professor, Porto Alegre nº 11, jul./set 1995.
Esse comportamento também é explicado por França e Rodrigues
(1997), com um “conjunto de esforços que uma pessoa desenvolve para
manejar ou lidar com as solicitações externas ou internas, que são avaliadas
por elas como excessivas ou acima de suas possibilidades”.
A Síndrome de “Burnout” é um processo que se desenvolve com o
passar do tempo. Seu surgimento é lento, cumulativo, não sendo percebido
pelo indivíduo que geralmente se recusa a acreditar que esteja acontecendo
algo errado com ele.
Em estudo sobre o tema, Codo (2002) define “Burnout” como a
“Síndrome da Desistência do Educador”. O ideal de se trabalhar e vencer na
19
vida é um projeto que reflete na identificação do professor relacionado ao
trabalho educativo, que se choca no confronto com a sociedade capitalista e
ocasiona a doença. Para o mesmo autor, o “Burnout” seria “uma desistência
de quem ainda está lá. Encalacrado em uma situação de trabalho que não
pode suportar, mas que também não pode desistir” (2002, pág.254).
O trabalhador arma, inconscientemente, uma retirada psicológica, um
modo de abandonar o trabalho, apesar de continuar no posto. Está presente
na sala de aula, mas passa a considerar cada aula, cada aluno, cada
semestre, como números que vão se somando em uma folha em branco.
Diante de tudo isso, estamos lidando com um assunto extremamente
sério e relevante. A saúde é um bem essencial, é o amor pela vida, que se
faz, presente em todos os contextos vitais: família, escola, trabalho, mídia,
etc. Se constituem em prioridades que almejamos conquistar e defender
frente aos ataques cotidianos das pressões ambientais ou contexto onde
estamos inseridos e pelo grupo social ao qual pertencemos, com suas
normas, suas crenças sobre o que é normal e patológico, seus modos de ser
e se relacionar. Na interação do sujeito com o contexto, o comportamento
humano se manifesta de forma saudável ou doentia, ou seja, o contexto
pode proteger ou destruir a função do professor.
No ambiente de trabalho, o bem-estar e a saúde dos indivíduos são
fundamentais, para que os membros de uma organização possam ser
capazes de satisfazer necessidades pessoais importantes através de sua
vivência na mesma, o que inclui, portanto, a preocupação com o efeito do
trabalho nas pessoas, com a eficácia da organização e com a idéia da
participação dos trabalhadores na solução de problemas e tomada de
decisões.
Satisfação e comprometimento são atitudes do trabalhador perante
aspectos do trabalho e da organização como, por exemplo, relacionamento
com colegas, alunos, salários, condições de trabalho e outros. Atitude é
definida por Codo como uma predisposição individual para avaliar alguns
aspectos simbólicos do seu mundo de maneira favorável. Comprometimento,
na esfera científica, pode ser considerado como uma adesão, um forte
envolvimento do indivíduo com variados aspectos do ambiente de trabalho.
20
Sendo assim, as atitudes podem ser consideradas como catalisadoras do
comportamento. 4
Além da preocupação com o atendimento às necessidades do
trabalhador por parte de algumas empresas, existem certos tipos de trabalho
que, pelas suas características, exigem uma maior atenção e desgaste
emocional, são as atividades desenvolvidas em constante interação com as
pessoas.
Hoje são muitas as empresas que incorporam as idéias de que as
boas relações sociais no trabalho contribuem para que o trabalhador esteja
bem mais satisfeito, e conseqüentemente, possa ser mais produtivo.
“A educação é uma experiência libertadora que necessita respirar liberdade para poder ocorrer. Esta foi à herança que Paulo Freire nos deixou, aqui, como em qualquer lugar, a liberdade é uma conquista coletiva de um corpo social organizado. A educação precisa do suporte social no trabalho para ser efetiva, precisa ser efetiva para ser livre, para que educadores e educandos co-participem do seu próprio destino”.(Codo, 2002, pág.277).
Sabemos que a Síndrome do Desgaste Profissional ou “Burnout” é um
problema internacional que pode ocorrer em qualquer cultura ou País.
Alguns autores, por sua vez, entendem que características do
ambiente de trabalho, conflitos afetivo-familiares, a rede de relações sociais
e hierárquicas que se estabelecem no trabalho e fora dele, a carga da tarefa
em si, os vínculos que se estabelecem e se perdem com os alunos são
fatores que podem desencadear em “Burnout”.
Assim, ao mesmo tempo, que os professores possam avaliar a
profissão como um “jogo que desafia e gratifica”, também podem qualificá-la
como profissão “desgastante, explorada e desvalorizada”, porque enxergam
que seus objetivos não estão sendo alcançados aos quais haviam se
proposto em seu trabalho e vê deteriorada sua relação com os alunos, que
já não consegue mais tratar de forma afetuosa.
4 Para Codo no Livro: Educação: carinho e trabalho, Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, ele diz que a saúde e doença não são fenômenos isolados que podem ser definidos em si mesmos, mas estão vinculados ao contexto sócio-econômico-cultural, tanto em suas produções como na percepção do saber que investiga e propõe soluções.
21
O ânimo do professor vai se corroendo de maneira vagarosa e
gradual, dia após dia, se torna mais irritante, por mais diferentes que sejam
os dias de trabalho, para ele suas atividades tornam-se banais e
insignificantes.
Assim, a Síndrome de “Burnout” tem sido considerada um problema
social de extrema relevância e vem sendo estudada em vários países, pois
se encontra vinculada a grandes custos organizacionais, devido à alta
rotatividade de pessoal e aos problemas de produtividade e qualidade.
Atualmente, o trabalho do professor tem sido objeto de estudo de vários
pesquisadores, estudando-se suas condições de trabalho, formas de
atuação profissional, histórias de vida, relato de experiências, entre outros
aspectos. A prevenção do estresse do trabalho do professor se apresenta
como um grande desafio, que deve ser contemplado com uma ação em
conjunta entre professor, aluno, instituição de ensino e sociedade.
No capítulo seguinte, veremos quais os fatores que poderiam
contribuir na ocorrência da Síndrome de “Burnout” com suas problemáticas e
desafios.
22
CAPÍTULO II
2.1 - FATORES ASSOCIADOS À SÍNDROME DE
“BURNOUT”.
O objetivo deste capítulo é abordar de forma compreensiva, os
possíveis fatores que configurariam a presença da Síndrome de “Burnout”
em professores.
Em seus estudos, Zaragoza (1999) distingue os fatores primários dos
fatores secundários (contextuais) da seguinte forma:
“(...) fatores primários, referindo-se aos que incidem diretamente sobre a ação do professor em sala de aula, gerando tensões associadas a sentimentos e emoções negativas; e por outro lado, fatores secundários, referentes às condições ambientais, ao contexto em que se exerce a docência. A ação desse segundo grupo de fatores é indireta, afetando a eficácia docente ao promover uma diminuição da motivação do professor no trabalho, de sua implicação e de seu esforço. Isolados, têm apenas significado intrínseco, mas, quando se acumulam, influem fundamentalmente sobre a imagem que o professor tem de si mesmo e de seu trabalho profissional, gerando uma crise de identidade que pode chegar, inclusive, como veremos adiante, a autodepreciação do ego”.(Zaragoza, 1999 pág.27).
Em primeiro lugar, aqui serão abordados os fatores de caráter
contextual, para posteriormente, serem verificados os fatores primários, mais
concretos e relativos à ação docente.
23
2.1.1 – Modificações da Função Docente e dos Agentes
de Socialização.
O aumento de responsabilidades e exigências sobre o professor
aparece como um importante colaborador na instalação da Síndrome de
“burnout”.
“(...) Além de saber a matéria que leciona, pede-se ao professor que acompanhe a rápida transformação do contexto do contexto social, que seja facilitador de aprendizagem, organizador do trabalho em grupo, pedagogo eficaz, e também que, para alem do ensino, cuide do equilíbrio psicológico e afetivo dos alunos, da integração social, da educação sexual, etc” (Lima, 2003, pág.69).
Os aumentos das atribuições impostas ao professor têm produzido
uma grande confusão no trabalho docente, pois ao se deparar com a real
capacitação que ele precisa e de quando e como deve aplicá-la ele se vê
com grandes dificuldades diante de uma função tão extensa e complexa, e
acaba tendo um mal estar, ou por não saber do que se trata, ou porque ele
tem sido resistente em não aceitar em se adequar às novas exigências.
A inibição educativa de outros agentes tradicionais de socialização
também colabora para a ocorrência da Síndrome de “burnout”.Na medida
em que se exige mais do professor, outros agentes se “desresponsabilizam”
pela educação.Desse processo estão incluídos o ambiente cotidiano, grupos
sociais organizados e a família.
Apoiado no trabalho de Merazzi, Zaragoza comenta, em primeiro
lugar sobre a crescente incorporação da mulher no mercado de trabalho e a
transformação da família, abandonando a convivência familiar cada vez
menos freqüente, assim como na influência menor da religião na
socialização da criança. Valores antes transmitidos por tais agentes de
socialização passam, em parte, a serem exigidos das instituições escolares,
que nem sempre são capazes de preencher o vazio que é deixado pelos
agentes tradicionais de socialização.
Em segundo lugar, o mesmo autor, acrescenta que o
desenvolvimento de fontes alternativas de informação à escola promove
24
destaque para a penetração dos meios de comunicação de massa nos lares
quanto à transmissão de informação e cultura. Para isto, nós destacamos
como principal fonte à televisão, e, posteriormente a Internet, que mesmo
ainda não atingindo uma enorme parcela da população é de extrema
importância para a distribuição da informação.
A mudança dos conteúdos a serem transmitidos é mais um fator que
ajuda na ocorrência do “burnout”. O constante avanço das ciências e a
transformação das exigências sociais exigem freqüentes mudanças
curriculares. Já não basta estar “em dia” com a matéria que se ensina. A
demanda do domínio dos conteúdos sempre novos pode acabar afetando a
confiança do professor, podendo transparecer que o mesmo está inseguro
se o que ensina são os conhecimentos mais recentes de sua área, e mais
que isso, atualmente quaisquer de suas afirmações citadas no ambiente
escolar poderão ser examinadas, quando não contestada, utilizando-se as
informações, os valores ou os posicionamentos transmitidos por esses
novos canais de socialização (televisão, Internet, etc), diferente de
antigamente em que o professor detinha, quase que exclusivamente, a
informação e a transmissão do saber. E certamente o professor que
continuar nesta postura e ignorar está nova realidade, estará mais sujeito a
sofrer este mal estar no trabalho.
A autora Lima ainda atenta que o crescimento espetacular dos meios
de comunicação de massa criou um tipo de “educação paralela, o que faz
com que o professor corra o risco de dar uma educação meramente
residual” (2003, pág.70)
E, por último, como assinala o mesmo Zaragoza, é a questão dos
conflitos nas instituições escolares que se fazem muito presentes quando
são questionadas as funções e quais os valores, dentre os que vigoram em
nossa sociedade, o professor deve transmitir, e quais, pelo bem dos alunos,
deve analisar e criticar.
Há alguns anos, a escola coincidia com a sociedade e as demais
instituições que participavam na socialização da criança nos valores
fundamentais, nos modelos que deveriam ser transmitidos, o que produzia
uma maior segurança pessoal do professor em suas ações escolares, desde
25
que não infringissem os valores socialmente aceitos. Caso contrário, este
mesmo professor seria isolado, neutralizado e desamparado pela sociedade.
Essa situação revela uma nova fonte de surgimento da Síndrome de
“burnout” que é a ruptura do consenso social sobre a educação.
Esteve (1999) comenta que por causa de suas múltiplas divergências,
não haveria mais nenhum consenso da sociedade sobre os valores que
devem ser transmitidos pela escola.Valendo-se dessa afirmação, podemos
dizer que o desamparo trazido pela falta de consenso social, ao que se
sucedeu um processo de socialização conflitivo e divergente, fez com que
todo o valor que o professor possa trazer para a sala de aula seja passível
de contestação, não somente da perspectiva individual de aluno, mas com o
apoio de diferentes correntes de opinião, em especial, a área de
comunicação de massa.
Tendo em vista, a inibição educativa de outros agentes de
socialização, os educadores consideram que é injustificável acusá-los de
que não estejam capacitados para enfrentar todos desafios que propõe um
mundo em acelerada transformação, sobretudo se eles não dispõem dos
recursos necessários desejáveis para enfrentar diferentes desafios.
2.1.2 – Contradições da Função do Professor
De maneira aproximada ainda colabora nesse sentido um aumento
das contradições no exercício da docência para a instalação da síndrome de
“burnout”, ou seja, o professor é freqüentemente confrontado com a
necessidade de protagonizar papéis contraditórios que os obrigam a manter
um equilíbrio muito instável, em vários campos. Assim, exige-se do professor
que seja um companheiro e amigo dos alunos ou, pelo menos, que se
ofereça a eles como um apoio, uma ajuda para seu desenvolvimento
pessoal incentivando a autonomia e a independência do aluno, ao contrário
da exigência de integração social, em que cada indivíduo se acomode às
regras do grupo. Exige-se também que o professor, na maioria das vezes,
26
atenda, principalmente, às necessidades individuais de seus alunos, e
outras, é lhe imposto uma política educacional que vise a solidariedade,
considerando-se as necessidades sociais, políticas, e econômicas do
momento. Todavia, ao mesmo tempo, em que se pede uma atitude de apoio
e compreensão por parte dos professores, pede-se também, que ele seja um
julgador e faça uma avaliação do resultado dos alunos ao final do curso.
Assim, Zaragoza sintetiza:
“O professor vive uma profunda ruptura com a sociedade ou com a instituição educacional em que se trabalha; enquanto, pessoalmente, pode discordar da forma com que funciona ou dos valores que promove; mas, ao mesmo tempo, o professor aparece aos olhos dos alunos como um representante da sociedade e da instituição”.(1999, pág. 32)
A rápida transformação do contexto social em um espaço
demasiadamente curto, explica a situação de muitos professores
desmotivados e desesperançados, graças a terem que se adequar às novas
mudanças do sistema escolar, que, por muitas vezes, o tiram do âmbito
cultural conhecido, no qual ele desenvolveu até então a sua existência,
colocando-o em um meio totalmente diferente do seu.
Atrelada a esta situação de contradição da função docente, a
fragmentação do trabalho do professor é mais um elemento que contribui na
ocorrência da Síndrome de “burnout”. Essa fragmentação aumenta as
responsabilidades do professor em relação à escassez de recursos em que
está imerso e torna mais abrangente seu leque de funções. São tanto os
papéis a serem desempenhados que se torna impossível dominá-los.
Esteve fornece alguns exemplos:
“devem (os professores) lutar, simultaneamente, e em frentes distintas; deve manter a disciplina suficiente, mas ser simpático e afetuoso, deve atender individualmente as crianças sobressalentes que queiram ir mais depressa, mas também aos mais lerdos, que têm de ir mais devagar; devem cuidar do ambiente da sala de aula, fazer tarefas de administração, reservar tempo para programar, avaliar, reciclar-se, orientar os alunos e atender aos pais, organizar atividades várias, (...) porventura mesmo vigiar edifícios e materiais, recreios e cantinas” (1999, pág.108).
27
Em razão do professor está sobrecarregado de trabalho, com
acúmulo de responsabilidades e de expectativas desproporcionais ao tempo
e aos meios de que dispõe, ele se vê em uma situação de esgotamento de
energia física ou mental. O docente se sente esgotado emocionalmente, em
virtude do desgaste diário ao qual é submetido em seus relacionamentos no
ambiente profissional.
2.1.3 – Modificações do Apoio Social
A modificação do apoio à educação se torna um fator que pode levar
ao “burnout”, sobretudo ao fato de que o estudo não garante mais a
ascensão social e econômica. Assim como o contexto social mudou,
igualmente, modificaram-se as expectativas, o apoio e o julgamento desse
contexto social sobre os educadores.
Há alguns anos atrás, os pais preocupavam-se em ensinar os seus
filhos os valores mínimos, como o sentido da disciplina, a cortesia e o
respeito, e até mesmo interviam dando apoio aos professores, caso
houvesse algum conflito com seus filhos. Nos dias de hoje, muitos docentes
reclamam que nem isso os pais ensinam mais, certos de que são os
professores os responsáveis diretos por toda e qualquer educação dos
alunos, e caso ocorra o fracasso do aluno, estes seriam os primeiros a
culpabilizarem dos docentes, colocando-se ao lado da criança, mesmo que,
a responsabilidade real do professor e a sua capacidade para evitá-lo seja
muito limitada. Desta forma, os professores sentem-se injustamente julgados
pelos pais como os representantes mais próximos do corpo social.
Nas palavras de Esteve, “a extensão e a massificação também não
produziram a igualdade e a promoção social esperadas. E este ‘fracasso’
acaba por se atribuído também ao professor” (1999, pág.104).
28
Uma menor valorização social do professor, aparece como uma das
fontes mais significativas no surgimento da Síndrome de “burnout”, nas
inúmeras formas de desprestígio às quais ele se encontra sujeito. Esta
desvalorização é acrescida da mudança do principal indicador, atualmente,
de valorização social: o sucesso econômico. Por isso, a desvalorização
salarial tem importância não apenas direta, que já seria significativa nos
termos da vida prática, mas traz também uma conseqüência indireta, vindo
como mais um fator a desvalorizar socialmente o professor, especialmente,
quando o mesmo o associa com o aumento de exigências e
responsabilidades que lhe pedem em seu trabalho.
Certamente, o salário dos professores constitui mais um forte
elemento da crise de identidade que os afeta, expressando claramente o
estado de espírito do professorado. Um outro ponto bastante relevante é que
o status social do professor modificou-se junto com o contexto social. No
passado, ser professor trazia à tona, uma identidade carregada de orgulho
profissional. A profissão docente gozava de amplo prestígio social, como a
conjuntura sócio-política-economica era naquele tempo, outra, assim se
estimava o saber, a dedicação e a vocação. No entanto, agora a idéia de
status social está veiculada a busca de recompensa extrínseca, diminuindo-
se o valor intrínseco do trabalho na valorização social.
Para alguns, a idéia da profissão de professor ter sido escolhida, não
está mais ligada ao sentido de uma vocação e sim ao sentido de que o
indivíduo é incapaz de dedicar-se a uma outra coisa, na qual se ganhe mais
dinheiro. Sabendo-se que com a mesma titulação poderá ter uma maior
renda salarial se for investido em uma profissão de outra área, caso não seja
a docência.
Os problemas de indisciplina dos alunos, salários inadequados e o
baixo status social são uns dos principais elementos estressores no trabalho
dos professores que podem desencadear um desejo manifesto de
abandonar o magistério (realizado ou não), ou um grande índice de
absenteísmo trabalhista e estas são umas das reações mais freqüentes para
acabar com a tensão derivada do exercício docente. Se a implicação
pessoal é cortada, costa-se a raiz das possíveis fontes de tensão. Em troca
29
disso, despersonaliza-se o magistério e as relações com os alunos tornam-
se superficiais, mas o professor se defende com a renúncia da situação,
assumindo uma postura de endurecimento afetivo.
Nas palavras de Zaragoza:
“A atuação na sala de aula torna-se mais rígida, o professor procura não implicar o que pensa ou o que sente, reduzindo sua explicação ao âmbito dos conteúdos, sem buscar relações com o que seus alunos vivem. Reduz-lhes e impõem limites ao uso da palavra para que suas perguntas não o atinjam”. (1999, pág. 61)
Existem problemas que afetam profundamente os professores no que
concerne à consideração social de seu trabalho, a crítica radical a seus
modelos de educação e o clima que rodeia a instituição de ensino, isto
porque, eles percebem que a sua capacidade de dominar o problema possa
ser muito limitada, podendo gerar uma crise de identidade na qual os
docentes questionam o sentido do seu próprio trabalho, e inclusive a si
mesmos. E esta falta de realização profissional, constitui-se como a
tendência de avaliar-se negativamente, experimentando um declínio no
sentido de competência e êxito no seu trabalho e de sua capacidade de
interagir com as pessoas, que, aliás, é uma das principais características
associadas à Síndrome de “Burnout”.
Um outro fator que pode desencadear “Burnout” nos professores é o
tipo de gestão ou administração adotada nos estabelecimentos, na medida
em que é um elemento estruturante da realidade cotidiana das escolas,
intervindo na configuração do conjunto das condições de trabalho, que
mesmo sendo por um caminho indireto, acaba influenciando na saúde
mental dos que aí trabalham.
Na pesquisa de Codo (2002), as escolas que adotaram uma gestão
de tipo tradicional foram as que tiveram maiores índices de exaustão
emocional dos professores. Nessas escolas onde os dirigentes são
indicados, onde o processo de escolha dos dirigentes não instala ou
institucionaliza um vínculo de responsabilidade e compromisso do dirigente
para com a escola e instala quase sempre uma forma de gestão
30
basicamente centralizada, em que o diretor aparece como o representante
da lei e ordem. Não necessariamente, mas muito possivelmente as relações
deste diretor com os trabalhadores possa vir a ser complicada.
Vale lembrar que as escolas caracterizadas por um tipo de gestão
democrática não estão eximidas destes problemas, mas é certo que onde a
gestão é participativa, no qual os seus dirigentes são escolhidos por via
democrática, mostra-se uma tendência à melhoria dos problemas das
escolas, ou seja, porque nela há uma maior integração entre a escola e a
comunidade, uma vez que a prática do diálogo é constante, sejam pais,
alunos, funcionários, professores, direção, equipe pedagógica, e por fim, que
seja conhecido de perto quais as expectativas da população com respeito às
escolas, seus medos e esperanças. Todavia, sabemos que a presença de
uma gestão democrática e participativa, apesar da democratização do País e
dos discursos que a rodeiam, não constitui ainda uma característica típica
das instituições de ensino brasileiras.
Tudo isso nos permite concluir que, a rede de relações da gestão,
possibilita ou limita a exaustão emocional.
Codo (2002) reforça essa afirmação:
“Trata-se de transformar a escola, para que esta deixe de ser vista como alguma coisa externa pela população, como algo que não lhes pertence, mas que pertence ao estado, visão totalmente equivocada sobre o significado do que é público”. (2002, pág. 336)
2.1.4 - Sistema de Ensino e o Avanço do Conhecimento
A mudança de expectativas em relação à educação é mais um fator a
colaborar com a Síndrome de ‘Burnout’. A expansão do sistema de ensino,
pretendendo-se mais flexível e integrado em seu objetivo de acolher também
as crianças de classes menos favorecidas, revelou uma educação muitas
vezes incapaz de adequar-se às massas; algumas vezes sequer
alcançando-as em termos de comunicação.
31
No passado, o ingresso às instituições educativas e a universidade,
de certa forma, assegurava-lhes “sucesso”, traduzido em status social e
conseqüente retorno financeiro aos formandos. Nos dias de hoje, ter
determinado grau acadêmico não garante o “sucesso” nem sequer vaga no
mercado de trabalho. Essas mudanças influem em toda valorização social
da educação, exercendo seus efeitos em um nível mais amplo.
Um sistema de ensino seletivo, baseado na competitividade, no
contexto atual, tem pouco sentido diante dos problemas sociais, sem saber
substituí-lo por outro sistema cooperativo em que o desenvolvimento
profissional se constitua no objetivo fundamental, que seja com formação
humanística e crítica, comprometido com valores éticos coletivos, com
consciência solidária dos problemas da sociedade vigente.
Entre os elementos que contribuem para Síndrome de “Burnout”,
mediante a modificação do papel do professor, está o avanço contínuo do
saber. Agora já não basta o professor estar “em dia” com os conteúdos, o
mesmo precisa atualizar-se até mesmo para evitar qualquer
constrangimento e a confiança do docente também pode ficar abalada. Aliás,
quem poderia estar segura no momento atual, de ensinar os últimos
conhecimentos em sua área? Ou pior, quem poderia estar seguro de que o
que ensina não poderia ser substituído por outros conhecimentos mais úteis
a esses alunos, a quem estamos tentando preparar para esta sociedade?
O professor tem que entender que atualizar periodicamente o que
aprendeu em seu período de formação já não é mais o suficiente. Muitos
professores vão ter de renunciar a conteúdos que vinham explicando
durante anos e terão de incorporar outros, que nem sequer se falava quando
começaram a lecionar, e estes conteúdos também precisam ser analisados
para averiguar se estão de acordo com o nosso sistema de ensino, ou mais
ainda, ver se estão adequados a realidade da nossa instituição de ensino.
Diversas outras profissões estão sem dúvida passando por este
processo de transformação de suas atividades e, não necessariamente, mas
muitos deles terão que passar por uma crise de identidade para vencer os
mecanismos de resistência à mudança e a inovação.
32
Como assinala Zaragoza:
“Concretamente, os professores que ainda pretendem manter o papel de modelo social, e de transmissor exclusivo do conhecimento e o de hierarquia possuidora do poder, tem maiores possibilidades de serem questionados. O mal-estar docente não é, entretanto, patrimônio exclusivo desses professores. (...), em seu íntimo, têm saudades dos seus bons e velhos tempos em que o professor era o rei absoluto da classe”.(1999, pág.37).
Alguns professores abrigam sentimentos de comiseração em relação
a si mesmos e ao estado atual em que se encontra a profissão docente, sem
conseguir usar sua criatividade para reinventar as suas funções em um nível
mais adequado à mudança do contexto social das instituições escolares,
sem perder as esperanças que o ensino possa ser de qualidade.
Esta situação foi muito bem pesquisada por Codo (2002), no capítulo
anterior, quando o mesmo fala do baixo envolvimento pessoal no trabalho
como uma característica do “Burnout”. Lembraremos, novamente, que isto
significa a perda do investimento afetivo, no qual o docente percebe que não
está conseguindo atingir os seus objetivos, aos quais se propôs, para
exercer sua atividade profissional. Este conflito tem como tendência levar a
pessoa a avaliar a si própria negativamente, revelando um sentimento de
impotência e incapacidade pessoal para realizar algo que sonhou,
particularmente a sua relação com o aluno fica desacreditada.
O sistema de ensino ainda continua selecionando professores que
tenham uma maior capacidade para acumular e reter conhecimento. No
entanto, sabemos que a prática cotidiana de ensino colocará a prova,
fundamentalmente, a personalidade do professor, podendo vir a ser mais
vulnerável ou não a sofrer as conseqüências negativas desta Síndrome.
Em vias do que foi falado, nos parece mais satisfatório e produtivo o
papel do educador que procura utilizar os conhecimentos e as experiências
obtidas do aluno e conhecer as novidades do avanço das ciências de forma
crítica, verificando quais seriam os benefícios e o que poderia prejudicar os
alunos, ou melhor, aquela instituição de ensino em sua respectiva realidade.
33
A mudança na relação entre professor e aluno também cumpre seu
papel nesse cenário. Longe dos tempos em que o professor era sempre o
dono da razão, autoridade inquestionável, hoje ele se encontra em lugar
bem diferente, por vezes sujeito a agressões verbais, psicológicas e até
mesmo físicas por parte do alunado, que conta com relativa impunidade no
que diz respeito a tal tipo de atitude.
Lima afirma que:
“Reflexo da mudança de todas as relações sociais e familiares, as relações na escola, enquanto se tornaram mais democráticas, tornaram-se também mais conflituosas, dando margem ao questionamento da validade de todas as regras, dos valores e, até mesmo, do próprio professor”.(2003 pág.73).
2.1.5 - A Imagem do Professor
Tomando como base o debate dos especialistas, o ensino tem sido
alvo de discussões na imprensa e nos outros meios de comunicação social.
A imagem social do professor sofre os efeitos deste debate. Naqueles
meios, a imagem do professor circula entre dois extremos: de um lado,
profissão conflitiva e de outro profissão idílica. Divulga-se na imprensa, mas,
sobretudo, no cinema e na televisão, que têm maior força de penetração
social, como uma atividade idílica centrada quase exclusivamente na relação
interpessoal com os alunos.
Títulos nos meios de comunicação social como “Demissão indevida
de um professor”, “Professor agredido por seus alunos”, “Possível
fechamento de um instituto por falta de material docente” poderiam ser
significativos dessa primeira visão conflitiva.
Os componentes das imagens contraditórias e conflitivas usualmente
veiculadas pela imprensa são encontradas nas situações de violência física,
demissões ou situações de conflito provocadas por confrontos ideológicos
ou diferença de valores, nas baixas remunerações dos professores, a falta
de meios materiais, instalações, material escolar, etc., com que se exerce a
34
docência. Observando também que o professor pode estar se alimentando
desta imagem conflitiva provocada pela publicação desse tipo de notícia,
podendo até mesmo, em algumas ocasiões, a imprensa servir de apoio a
situações conflitivas menores, aumentando-as.
Essa sensação de mal-estar causada pelos noticiários da imprensa,
muitas vezes, passa uma idéia de uma profissão marginalizada, pouco
compreendida e reconhecida pelos seus esforços em dedicar-se ao cultivo
da ciência e as relações cordiais com os educandos.
Ante a esse enfoque conflitivo, contraditoriamente, existe um enfoque
idílico dado principalmente pela teledramaturgia e pelo cinema, que
descreve a atividade do professor como se toda ela se desenvolvesse com
base nas relações pessoais.
Com este enfoque idílico, o professor, mais do que como educador,
aparece como amigo e conselheiro, geralmente fora da sala de aula, de
preferência em um lugar tranqüilo. Esta imagem atraente da profissão
docente é bem diferente da realidade das instituições de ensino.
Na mesma imprensa e nos meios de comunicação, encontramos uma
contradição. Refiro-me a idealização da profissão docente, concebida quase
sempre como uma atividade de relação individual, ao invés de mostrar as
situações grupais conflitivas já que aparece com mais freqüência na prática
docente bem diferente da visão ideal.
Esteve afirma:
“(...) nestas produções, o professor só estaria em atividade de ensino durante 10% do tempo do filme, dando margem a interpretar sua atividade como basicamente, de ajuda pessoal aos alunos, e preferencialmente fora da sala de aula. Na identificação com tais estereótipos, o mesmo autor, ainda diz que os meios de comunicação social refletem os dois pólos entre os quais evolui o conceito profissional dos educadores”.(1999, pág.41)
Em um primeiro momento, a formação inicial do docente tende a criar
uma profissão ideal de atuação, que representaria o pólo positivo da imagem
do professor. Nestas circunstâncias pode-se destacar uma enorme distância
entre o que é ou o que deveria ser seu desempenho profissional, sem que
35
ao mesmo tempo, ele seja adequadamente preparado para a prática do
magistério.
O segundo momento, passa pela situação conflitiva, quando o
professor iniciante poderá sofrer um “choque com a realidade” quando
perceber que seus esquemas ideais com os quais ele foi formado já não
correspondem à vida cotidiana em sala de aula. A identidade profissional
dos futuros educadores seria baseada, no decorrer da formação, sobre os
ideais pedagógicos. Não obstante, a prática real de ensino, pode apresentar
uma série de carências e contradições contidas no exercício profissional.
Então esses ideais obtidos na formação inicial vão confrontar-se diretamente
com a instituição educativa concreta em que se trabalha. Essa instituição já
tem seu funcionamento definido e para o novo professor o que resta é
adaptar os seus ideais com os quais se formou com a dura realidade em que
se encontra esta instituição de ensino.
A presença desses dois estereótipos, idílico e conflitivo, seriam dois
momentos sucessivos na representação que os professores fazem de sua
identidade profissional. Esse reflexo de idealização da profissão docente
pode entrar em crise quando o professor percebe que não atingiu os
objetivos aos quais se propôs com base em sua formação profissional e, em
particular, ele o compara com ele mesmo e o compara com a visão que a
sociedade têm dele.
O encontro com uma prática do magistério bastante distante dos
ideais pedagógicos assimilados durante o período de sua formação inicial
vai levar os professores a reações diversas, porque o mesmo sente-se
derrotado ao constatar que seus objetivos não estão sendo realizados e vê
deteriorada sua relação com os alunos, aos quais já não consegue mais
tratar de forma afetuosa.
Retomando, novamente os sintomas associados à Síndrome de
“Burnout” mencionados em outro Capítulo, vamos considerar os mais
freqüentes como os sentimentos de desconcerto e insatisfação perante os
problemas reais da prática do magistério com o predomínio de sentimentos
contraditórios em relação à valorização de si mesmo; desenvolvimento de
36
mecanismos de fuga, entre eles os de inibição e rotinização, como forma de
cortar a implicação do trabalho realizado; pedidos constantes de
transferências ou absenteísmo trabalhista como forma de fugir das situações
conflitivas ou cortar a tensão acumulada; desejo de abandonar o trabalho;
esgotamento; cansaço físico permanente; estresse; predomínio da
ansiedade como tração permanente, associada como causa-efeito a
diversos diagnósticos de doença mental; auto-culpabilização ante a
incapacidade para atingir o próprio objetivo pedagógico, e por fim, em
doenças reais, em neuroses reativas ou depressões.
Esses mecanismos que influenciam a imagem pública do professor
nos dão a medida da importância do contexto social, no qual se exerce a
docência para a auto-realização do magistério. E, por muitas vezes, esse
sentimento de desânimo é que domina muitos professores que têm suas
bases nesses fatores contextuais analisados até aqui, do que na situação
concreta de sala de aula, com todos obstáculos.
2.2 - FATORES PRINCIPAIS Vamos analisar agora os fatores referentes aos que incidem
diretamente sobre a ação do professor em sala de aula, gerando tensões de
caráter negativo em sua prática cotidiana.
2.2.1 – Condições de Trabalho
Todas as mudanças, as novas exigências advindas da maior
abrangência do público, dos novos objetivos da educação, e das novas
responsabilidades, não acarrretaram necessariamente à melhoria das
condições de trabalho do docente. A escassez de recursos materiais com
que os professores trabalham também contribui para a instalação da
Síndrome de “Burnout” a médio ou longo prazo. Para além das óbvias
dificuldades de se trabalhar quase sempre abaixo das condições materiais
desejáveis, a falta de recursos generalizada tem uma conseqüência indireta,
37
que é a gradual descrença nos programas que viriam a reformar e melhorar
o ensino e as condições concretas em que é realizado.
Efetivamente, professores que enfrentam com ilusão uma renovação
pedagógica de sua atuação nas aulas encontram-se, freqüentemente,
limitados pela falta de material didático necessário e pela carência de
recursos. Muitos desses docentes queixam-se da contradição que supõe,
por um lado, que as sociedades e as instâncias superiores do sistema
educacional exijam e promovam uma renovação metodológica sem, ao
mesmo tempo, dotar os professores dos recursos necessários para utilizar
em sua atividade profissional. Quando esta situação se prolonga pode
produzir uma reação de inibição no professor que acaba aceitando a velha
rotina escolar.
Em outras ocasiões, a falta de recursos não se refere ao material
didático, mas a problemas de conservação do edifício, escassez de móveis,
insuficiência de locais adequados para o trabalho ou para o descanso, etc.
Codo em sua pesquisa menciona:
“Empresas automobilísticas, por exemplo, já sofreram dezenas de reformulações, visando melhorias nas condições de trabalho e na saúde mental de seus trabalhadores. Enquanto isso, o professor entra na sala de aula e lhe falta giz, carece por vezes de um armário para guardar as suas coisas, com a diferença de que o professor é o profissional contratado para inventar o futuro das pessoas, para empolgar e desenvolver corações e mentes”.(2002, pág 94).
Nesta situação, parece que o professor acaba sendo o alvo das
estratégias políticas e cientificistas de manipulação de ensino, em nome de
uma discutível modernização da escola.
O empobrecimento progressivo e a divida crescente sedimentaram a
convicção generalizada entre os professores de que a situação não vai
mudar. O “choque do petróleo” de 1973 foi o argumento final a convencer os
mais céticos quanto à inviabilidade dos modelos do sistema educativo então
agonizantes, que se pretendia manter e o resultado desta situação foi os
38
cortes orçamentários de diversos tipos sobre as quantias destinadas à
melhoria qualitativa do sistema educativo.
Os educadores parecem ter chegado à conclusão de que não podem
esperar dos políticos, pois os mesmos estão mais preocupados com dados
estatísticos, ou seja, parece que os sistemas educacionais estão
subordinados à economia já que no novo paradigma exigem trabalhadores
mais qualificados com mais flexibilidade profissional para atender novas
demandas do mercado de trabalho e com mais espírito empreendedor para
fazer frente à competitividade econômica internacional, assim como as
reformas educacionais acopladas às reformas econômicas, desconsidera-se
as implicações sociais e humanas no desenvolvimento econômico, pela qual
pouco interessa em considerar o desemprego, a pauperização, a
degradação da qualidade de vida, a degradação dos serviços públicos.
Os professores, em particular em nossa escola pública, chegaram à
conclusão de que a maneira de melhorar o material de que dispõem, é
recorrer à associação de pais ou diretamente, pedir às crianças para que
tragam pequenas quantias para adquirir o mais necessário.
Raras são às vezes em que o educador tem a seu alcance, oferecidos
pela instituição, materiais e recursos que vão além desse mínimo, para que
possa enriquecer suas aulas, tornando o seu trabalho mais interessante e
eficiente. Mais que isso, incentiva e estimula a essa forma de trabalho, a
utilização deste tipo de recurso, muitas vezes, não fazem parte da cultura
organizacional, não havendo, portanto um ambiente propício e receptivo
para iniciativas dos profissionais nesta direção e, algumas vezes, havendo
dificuldades inclusive para incorporar propostas de programas que chegam
às escolas a partir de iniciativas governamentais.
Além da falta de recursos, cabe igualmente mencionar nesse tópico a
presença de limitações institucionais que interferem freqüentemente na
atuação prática dos professores em razão da forte dependência do âmbito
escolar.
39
Nos estudos de Codo, em relação à Síndrome de “Burnout”, ele
assinala que:
“A pesquisa mostrou que, o descaso da escola pública com os recursos que promovem melhores condições de trabalho para seus servidores como um todo, tem provocado, como forma de expressão de sofrimento gerado nos professores, a falta de envolvimento visa mais à escola do que o educando, o aluno, mas é evidente que isso pode e com certeza leva a ter reflexos na relação com os alunos”. (2002, página 330).
Esses recursos que promovem melhores condições de trabalho não
estão diretamente relacionados à atividade de ensino e aprendizagem, mas
trata-se das condições que a escola oferece no sentido de valorizar e
respeitar aquele profissional ali trabalhando. São recursos integrados na
geografia local de trabalho que dignificam o ambiente, valorizando o
trabalhador: sala de repouso para servidores, telefone público, telefone na
escola, armário para professores e servidores, sala de professores e
computador na diretoria e secretaria.
Espera-se mais do ambiente de trabalho. O conforto, por exemplo, é
algo buscado por todos os trabalhadores e a possibilidade de menor
produtividade, graças às condições desfavoráveis de trabalho, não pode ser
considerada uma conseqüência inesperada.
São muitas as referências em diversos estudos que apontam as
condições de trabalho como significativas para produzir um trabalho de
qualidade nos estabelecimentos e se apresenta como uma importante fonte
de reivindicação para se obter um resultado efetivo e eficaz.
2.2.2 - Violência no Ambiente Escolar
A questão da violência nas escolas também é causa da Síndrome de
“Burnout”, nos docentes. Sabemos que a violência é fato social que não
depende de números exatos para ser levada em consideração, por seu peso
não só no cotidiano da docência, mas pela ampla gama de conseqüências
que a convivência com situações de violência pode acarretar.
40
O fenômeno da violência é um grave problema social no Brasil, que
conquistou lugar cativo ao se discutir, em qualquer nível, a qualidade do
processo educacional. A visibilidade social da violência, particularmente a
partir dos anos 80, passou a ser objeto de preocupação, tanto por parte do
poder público e dos cientistas sociais, quanto da sociedade brasileira em
geral.
Diariamente os diferentes meios de comunicação colocam diante de
nossos olhos, mentes e corações, numerosas cenas de violência, de tal
forma, que acabamos banalizando e naturalizando a realidade de um mundo
competitivo e hostil, em que a lógica das relações sociais, as tensões e os
conflitos estão marcados fortemente por sua presença.
Outro ponto importante é que o fenômeno da violência apresenta não
só uma dimensão cultural, mas também uma dimensão estrutural deve ser
considerada e sua multicausalidade dos problemas.
A violência tem três dimensões, segundo Candau, ela não pode ser
reduzida ao plano físico, mas envolve o psíquico e moral. E o que mais
caracteriza a violência é o desrespeito, a coisificação, a negação do outro, a
violação dos direitos humanos.5
É necessário construir diferentes caminhos para a prática pedagógica
e as diversas questões que a violência coloca, conscientes dos limites de
ação escolar, assim como das redes visíveis e invisíveis que vinculam a
sociedade e as diferentes formas de violência no cotidiano das escolas.
Os professores que vivem a problemática desta violência tem que se
esforçar por realizar suas atividades em um espaço caracterizado por ser
alvo freqüente de roubo e/ou vandalismo, num território onde não são raras
as agressões entre alunos e, inclusive, aos próprios professores, existindo a
ameaça não remota destes (alunos e professores) tornarem-se vítimas da
violência.
5 Candau, V. No livro: reinventar a escola, Petrópolis: RJ: Vozes, 2000; menciona que é preciso superar toda a indiferença diante das violações dos direitos humanos que se multiplicam em nossa sociedade e que também estão presentes nas práticas educativas.Também supõe que tais violações não podem ser “naturalizadas”, mas, sim, realidades construídas historicamente, que tenhamos a coragem de questionar-nos sobre suas causas e nossa conivência.
41
Um problema muito grave é o assédio das escolas pelo narcotráfico,
particularmente nas escolas públicas situadas nas zonas periféricas das
grandes cidades. Isto é bastante complicado, porque coloca a direção das
escolas e o corpo docente em situações limite, no qual o medo, o sentido de
impotência e o desânimo imperam.
Candau (2000) assinala, com muita propriedade, que as condições de
vida (moradia, saúde, trabalho, ect) são um forte condicionamento de tal
problemática, aliada ao estresse da vida nas grandes cidades e aos conflitos
da dinâmica familiar.
É importante destacar que as formas de violência, que participam na
configuração da realidade do trabalho do professor, não são novidade nas
escolas. De fato, atos de vandalismo, agressões entre alunos e a
professores foram tradicionalmente fatos episódicos nas instituições
escolares. Que escola não foi arrombada alguma vez na sua história, ou que
escola não teve algum professor que foi alvo de agressão, física ou verbal,
por parte dos alunos, e mais que isso, que escolas não experimentaram às
vezes o problema de ter que lidar com alguns alunos briguentos?
No marco dos episódios de roubo e/ou vandalismo têm chamado
atenção de diversos meios de comunicação que, com certa freqüência,
noticiam roubos de material ou depredações das instalações que afetam
seriamente as atividades escolares. Algumas vezes, com um desses atos
destroem-se os esforços de vários anos para dotar um colégio com material
avançado para o processo de ensino e aprendizagem.
Em outras ocasiões, o roubo a centros de ensino não tem fins
lucrativos, mas somente a destruição do mobiliário ou edifícios às vezes
creditado aos próprios alunos, configura-se como vingança; assim também
com pichações e insultos aos professores nas paredes, móveis e banheiros;
os insultos verbais, freqüentemente de caráter sexual, e os atentados de
maior ou menor porte contra os carros dos professores nas proximidades da
escola.
A violência em relação aos professores nem sempre provém dos
alunos. Em muitas noticias da imprensa os pais comparecerem como
agressores, normalmente na saída do colégio.
42
Codo (2002), assinala em sua pesquisa, que cada um dos fatores que
compõem o “burnout” se correlacionam positivamente com um tipo
específico de violência que atingi de forma diferenciada o local de trabalho.
Assim, o vandalismo se correlaciona positivamente com o sentimento
emocional dos professores; as agressões aos professores têm correlação
positiva com problemas de despersonalização e, finalmente, as agressões
entre alunos têm correlação positiva com o baixo envolvimento pessoal no
trabalho.
O vandalismo nas escolas constitui um ataque ao patrimônio público,
que nos permite repensar sobre o que representa, para a sociedade, a
escola pública hoje no Brasil, na medida em que demonstra o desrespeito à
sua existência.
Uma escola que está sendo alvo freqüente de vandalismo nos remete
a pensar à perda de autoridade moral da instituição e a compreender o
sofrimento psíquico dos docentes, ao reforço de suas angústias e do
sentimento de impotência.
Do problema que supõe o aumento da violência nas instituições de
ensino, deve-se considerar o forte impacto que os professores recebem por
meio dos meios de comunicação social. A mídia mostra que o seu lugar de
trabalho está sendo profanado, quebrado, violado, etc. Os docentes sentem-
se expostos na sua intimidade, que para eles, significa a invasão da
“privacidade” duramente construí da no trabalho, então começam a
questionar os limites do dever e do sentir; a obrigação profissional faz com
que continuem agindo, mas até quando?
Para ocorrer produtividade no trabalho do docente, a relação afetiva
necessariamente tem que ser estabelecida. O trabalho de forma geral
engloba, assim esta tensão entre a objetividade do mundo real e a
subjetividade do indíviduo que o realiza, cada tipo de trabalho possui as
suas características específicas, no qual as possibilidades de expressão da
subjetividade, da afetividade humana podem variar em maior ou menor grau.
Essa personalização do ambiente de trabalho é feita para nós mesmos e
para os outros.
43
Por isso é comum que se tente dar um “toque pessoal” às salas que
acolhem as atividades de trabalho, uma planta, uma fotografia, etc. Isto
significa a necessidade, mesmo inconsciente de trazer à tona retalhos do
mundo afetivo a um espaço que por definição se opõe ao privado, porque
requer a obediência a algumas regras e princípios do âmbito educativo.
A relação afetiva, entre aluno e professor, quando não acontece é
ilusório querer acreditar que o sucesso do educar será completo. Se os
alunos não se envolverem, poderá até ocorrer algum tipo de fixação dos
conhecimentos, mas provavelmente não ocorrerá o tipo de aprendizagem
significativa revelando, futuramente, as defasagens do processo de ensino e
aprendizagem. De acordo com o contexto próprio da instituição, a energia
afetiva poderá ser reprimida ou liberada, diminuindo ou aumentando a
tensão e, conseqüentemente, o conflito.
Se o resultado obtido for o esgotamento emocional, com o
conseqüente afastamento do objeto, ou a resolução da tensão refletida em
seu próprio corpo, o professor sofre. Por ser um “sofrimento mudo”, o próprio
indivíduo não percebe e a sua energia que antes era construtiva, passa a ser
destrutiva, nesse caminho de retorno à origem, os sintomas deste sofrimento
podem ser notados, por intermédio de constantes dores de cabeça, fadiga
crônica, problemas de sono, dores musculares, asma, perda de voz,
irritabilidade, distanciamento afetivo, racionalização, etc.
Além disso, o roubo e /ou vandalismo podem deteriorar na mesma
intensidade, as relações sociais e os vínculos afetivos no trabalho, pois se
instala a sensação de insegurança no lugar de trabalho, alheada ao
sentimento de desvalorização que a mesma traz, e simultaneamente, ocorre
a quebra do vinculo de confiança e de liberdade naquele contexto, dando a
idéia de que todos devem vigiar a todos. Não somente a violência, mas
também as ações tomadas contra ela podem exercer um efeito desgastante
nas relações sociais de trabalho surgindo uma forte relação com os sintomas
associados à Síndrome de “Burnout”.
Em resumo, a instalação do vandalismo como fenômeno recorrente
nas escolas desorganiza o ambiente de trabalho como um todo, na justa
medida em que o degrada, tanto porque o desvaloriza material e
44
simbolicamente aos olhos dos professores, como porque a incorporação da
violência implica em mais trabalho, tanto para retornar o interesse em seu
programa ministrado, como para tranqüilizar a turma de alunos, em um
acontecimento deste tipo. Na mesma proporção, isto pode também propiciar
um sentimento de desconfiança, seja com uma série de boatos ou
denúncias, ou até mesmo venha a ferir a reputação dos envolvidos,
limitando, assim a liberdade desta relação social do trabalho.
Encontramos também correlação entre agressões a professores e o
fator de despersonalização. Neste cenário deveriam ser situados as
agressões verbais e insultos aos professores, muito mais freqüentes e
difíceis de quantificar do que as agressões físicas, mas com um importante
efeito sobre a constituição desse sofrimento psicológico.
Como já foi dito anteriormente, a tarefa de ensinar exige o
comprometimento emocional e afetivo do professor. A afetividade necessária
à atividade de cuidado ficará mais dificultada, quando a situação de
agressão à pessoa do professor começar a ser constante.
O professor acaba atuando no limite da obrigação. Distancia-se
afetivamente daquilo que o agride e nega as suas emoções, ocorre a
“coisificação” da relação; de outro, o sofrimento psíquico, ou seja, a
manifestação de afeto fica impedida e a sua vazão é o “Burnout” com a
despersonalização.
Segundo, a pesquisa de Codo e de outros autores, as agressões
entre os alunos, que por sua vez incide no aumento da Síndrome de
“Burnout” em docentes, tem vinculo direto com o baixo envolvimento pessoal
do professor no exercício profissional.
As agressões recorrentes entre os educandos e a urgência de se
posicionar e ter que vencer esses obstáculos para poder efetivamente
ensinar poderiam chegar ao limite de exigir dele, professor, a optar por
educar ou reprimir, entre formar um sujeito autônomo ou um sujeito
comandado. Quando recorrentes, dificilmente o mesmo se identifica como
um repressor, uma pessoa autoritária e detestável, preferencialmente, ele
acha está mais preparado a persuadir e orientar os alunos. Por essa razão,
quanto maior for a defasagem entre o “trabalho como deve ser” e a
45
“realidade do trabalho” nas instituições escolares, maior será o investimento
afetivo e cognitivo exigido ao professor, maior será o esforço realizado, e por
isso, se ocorrer este “choque com a realidade” poderá ter conseqüentemente
uma crise na sua identidade profissional, idealizada e construída nesta
relação de afeto.
O trabalho, nesta ocasião, perde o sentido.O objetivo de formar para
um mundo melhor perde a sua importância. Nessa dinâmica, diminui, pelo
mesmo motivo, o seu envolvimento com o trabalho, os professores sentem-
se descontentes consigo mesmos no exercício profissional, experimentando
um desagradável sentimento de incompetência.
Certamente os problemas de violência nas escolas podem existir, a
qualquer momento, em qualquer sociedade, sem se transforme em uma
questão pública ou desafio que invoque políticas publicas para enfrentá-lo.
No cenário escolar a violência começa a afetar a saúde mental dos
professores quando a mesma passa a se tornar recorrente e a fazer parte de
seu cotidiano, ou seja, a saúde mental dos docentes só será afetada se isto
for vivenciado em um ambiente de rotinização dos atos de violência. Esta,
por sua vez, trará a tona uma situação de perda de controle, alguns
professores vão sentir que não estão preparados para ensinar neste
ambiente de trabalho e detestam o papel que são obrigados a representar. O
descontrole, ainda, pode gerar sentimento de medo nos professores, a
profissão torna-se intolerável.
Por último, cabe relacionar o aumento da violência com o descrédito
do conceito de disciplina, que após ser criticado como uma imposição
arbitrária, imposta pelo exterior a alunos e professores, não se soube como
substituí-lo, em muitos casos por uma ordem mais justa com participação de
todos.
Analisando as manifestações de violência, Codo, afirma que:
“(...) produzem um efeito de alienação do trabalhador a respeito do seu trabalho, na medida em que agora ele foge de seu controle quase por completo. (...) Este, o sofrimento psíquico, não reflete simplesmente a situação de perda de controle no trabalho, mas manifesta paradoxalmente como uma desistência perante desafios cada vez mais agudos do cotidiano” (2002 pág.323).
46
Para enfrentar uma cultura de violência, os professores sugerem
algumas alternativas, como o “resgate do aluno” como sujeito do processo
educativo, as práticas participativas e de diálogo nas diferentes instâncias
escolares, promovendo se possível, em todos os âmbitos da vida, individual,
familiar, grupal e social uma cultura dos direitos humanos a partir do
cotidiano, influindo profundamente nas mentalidades e gerando novas
práticas sociais.
Como vimos, o termo “burnout” seria o conjunto de conseqüências
negativas que afetariam o professor, com base na ação combinada das
condições psicológicos e sociais em que se exerce a docência. No entanto,
essa evolução negativa do contexto não afeta igualmente a todos os
professores. Entre eles, um numeroso grupo é capaz de romper esse mal
estar difuso, propondo novas respostas, criativas e integradas, para fazer
frente aos novos problemas.
Consideravelmente, como assinala Esteve (1999) , as respostas que
a educação exige na sociedade contemporânea supõem para o professor
uma profunda retidão pessoal, e não no conhecimento acumulado, ainda
que este deva ser o suposto, que o professor vai conseguir uma educação
de qualidade.
Veremos, agora no Capítulo adiante a Pesquisa de Campo com o
levantamento dos dados.
47
CAPÍTULO III
PESQUISA DE CAMPO
Este capítulo é resultado de uma pesquisa de campo realizada com
os professores da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro,
especificamente na área norte, com ênfase, nas séries finais do ensino
fundamental, baseada na “Síndrome de Burnout”. Assim, fui a campo
realizar as entrevistas com cautela, buscando o que pudesse vir a esclarecer
algo sobre o tema até aqui pesquisado. O estudo pretendeu captar
elementos do perfil do professor deste nível de ensino, identificando
possíveis aproximações com o conhecimento já produzido sobre o tema.
Apresenta uma visão panorâmica da compreensão dos professores acerca
de vários aspectos de sua profissão, situando-se no campo dos estudos
sobre representações sociais, por focalizar percepções, imagens e valores
oriundos das interações sociais de sujeitos situados em um determinado
contexto histórico e social. A pesquisa foi feita com quinze professores
utilizando entrevista e questionário (vide apêndice). Os professores
entrevistados constituem uma categoria com um perfil profissional bem
delineado.Todos têm formação de nível superior e a maioria possui algum
tipo de pós-graduação. Experiência no magistério, vínculo empregatício e
muitos deles trabalham dois ou três expedientes em escolas públicas e/ou
privadas.
Devo dizer que, de fato, tanto as conseqüências da Síndrome de
“Burnout” apresentados no capítulo anterior, quanto aos fatores apontados
como colaboradores na sua ocorrência estremearam a fala dos professores
entrevistados, mesmo que algumas vezes de maneira indireta. Entretanto,
com base naquilo que foi coletado na pesquisa, percebi que o aluno era o
primeiro alvo de queixa referente à indisciplina, ao desrespeito que eles
demonstram, ao seu despreparo e outras dificuldades que trazem
48
conseqüências diretas na sala de aula. Os docentes também reclamaram
bastante dos pais, da falta de apoio desde o que envolve as atividades para
casa até à formação moral do aluno, neste contexto, parece que os pais não
se esforçam “tanto” para ensinar a seus filhos o sentido da disciplina, a
cortesia e o respeito; queixaram-se, ainda, das coordenações e direções,
porque não oferecem os recursos necessários desejáveis para enfrentar
diferentes desafios que possam vir a ocorrer no âmbito escolar. De maneira
indireta, ambos os alvos de queixa acabam por envolver os discentes.
Outro ponto de queixa bastante relevante é a mudança de relações
entre o aluno e professor, pois bem diferente de antigamente, em que os
professores detinham quase que “exclusivamente” o saber, hoje existem
diversos meios alternativos de transmissão do conhecimento que podem
facilitar muito o seu exercício profissional, ao mesmo tempo, pode prejudicar
já que os mesmos podem estar sujeitos a contestações gerando uma certa
insegurança se o que está sendo ensinado está compatível com os mais
novos avanços da ciência, e mais que isso, por vezes pode até sofrer algum
tipo de agressão por parte dos discentes.
Vejamos as falas de diferentes professores durante a entrevista:
“... eu acho que o aluno não está tendo base na família, há cada vez menos uma convivência familiar, que possa priorizar o diálogo entre os pais e filhos, muitas vezes, tenho que me colocar no lugar de irmã ou mãe, eles estão carente de afeto” “... as práticas pedagógicas têm sido priorizadas pela valorização do magistério, mas ainda existem muitos diretores ou coordenações que trabalham de forma centralizadora parece até que não nos querem como aliados, e às vezes, eles querem até impor a metodologia de ensino que deve ser trabalhada em sala de aula, sou eu que vivo aquela realidade, no meu modo de ensinar preciso ter liberdade...”
Diante dos fatores associados à Síndrome de “burnout” levantados e
debatidos, e da oportunidade que tive de escutar o professor, encontrei
alguns pontos em que me detive. Partindo desses pontos desenvolvi
discussões, a princípio, sobre a questão das condições de trabalho do
docente.
49
A transformação do contexto social com o conseqüente aumento das
novas exigências e responsabilidades, que devem ser assumidas por parte
do professorado, não ocasionaram necessariamente à melhoria das suas
condições de trabalho.
Na pesquisa feita com os docentes podemos dizer que os mesmos
esperam mais do ambiente de trabalho. Os recursos materiais nas escolas
são apontados como regulares, que poderiam ser melhores, pois existem
certos recursos que melhoram a qualidade de ensino e permitem enriquecer
o trabalho do professor, como por exemplo, biblioteca, computadores para
alunos e professores, oficinas de trabalho especiais já que são poucas,
tornando o seu trabalho mais interessante. E, além disso, incentiva e
estimula o trabalho do docente em sua aplicação metodológica em suas
aulas, aliás, isto requer uma capacitação continua do professor já que não
basta ter sem saber utilizá-los de forma produtiva e conveniente com o
conteúdo curricular que exige diferentes maneiras de apresentar o
conhecimento como um reforço do processo de ensino e aprendizagem.
Os professores que encontram-se limitados pela escassez de material
didático e sentem dificuldades em adquiri-los sofrem uma conseqüência
indireta, isto é, pode acarretar em uma descrença nos programas das
iniciativas governamentais que viriam a reformar e melhorar o ensino, como
também as condições concretas em que é realizado. Outro fator a destacar é
que às vezes por não fazer parte da cultura organizacional da instituição
escolar justifica a ausência de ambiente propício e receptivo para os
professores.
Por outro lado, foi verificado que o fato destes recursos faltarem ou
serem deficitários, não significa que o aluno vai deixar de aprender, pois o
mesmo pode aprender somente com este vínculo aluno-professor, por meio
da prática do diálogo e força de expressão, e o mais impressionante é que
isto pode até invocar a criatividade dos docentes na procura de outros
caminhos para atingir o mesmo objetivo, aposta na ação de seu saber e /ou
de sua experiência buscando dar um caráter experimental em suas
atividades.
50
Como Codo afirma:
“(...) o trabalhador que constrói suas próprias ferramentas sente orgulho desse processo, resultado de conhecimento herdado e de seu próprio conhecimento talhado na pratica cotidiana. O mesmo vale para o caso do professor”.(2002, pág.329)
Assim, logo em seguida veremos o depoimento de um dos
professores entrevistados:
“... mesmo sem o material didático o suficiente faço bons trabalhos, porque procuro usar minha criatividade, sempre procuro aprender a fazer coisas novas. Os alunos gostam e eu mais ainda”.
Referente a infra-estrutura, foi constatado as que mais afetam no
âmbito escolar são a má conservação do prédio; sala de aula e iluminação
precária; ambiente de trabalho sujo e a insuficiência de locais adequados
para a prática de planejamento, reuniões com os colegas de trabalho ou com
os pais dos alunos.
O conforto, por exemplo, é algo imprescindível para os professores,
visto que, provoca uma sensação de que as pessoas e o local de trabalho,
ambos estão sendo valorizados e respeitados em sua função especifica de
educar os alunos na apreensão dos conhecimentos e à construção da sua
própria identidade.
Em resumo, existe um paradoxo em relação às condições de trabalho,
de um lado a mesma interfere diretamente na administração desta tensão
afetiva, em virtude da sua ausência e outro, pelo contrário, a sua falta pode
vir a ser positiva, como, por exemplo, é o caso da criatividade, levando a um
crescimento qualitativo tanto pessoal como profissional.
A presença das limitações institucionais, que atrapalham a atuação
dos docentes de forma freqüente pode estimular ao surgimento de conflitos
internos, que de forma exagerada conduzem ao sofrimento psíquico e até
mesmo, nos casos mais extremos, a psicopatologias já que não têm como
canalizar esta energia para outros objetivos.
51
No depoimento abaixo o professor diz:
“(...) às vezes sinto dificuldade de fazer o planejamento de aula, porque não há o espaço apropriado na escola, então acabo fazendo em casa e para ser sincera, mesmo que eu pudesse, nem sequer dá tempo de fazer na escola. E esse trabalho fora do expediente, me cansa e estressa muito também”.
Outro aspecto abordado pela pesquisa diz respeito às relações
sociais do trabalho do professor no âmbito educacional. É importante
lembrar sobre as relações familiares dos alunos, pois o que se vê no
cotidiano escolar é que os pais não estão conseguindo impor limites, e
alguns agem até como cúmplices dos erros de seus filhos e quando o ensino
fracassa, por vezes graças ao acúmulo de circunstâncias ante as quais o
professor não pode operar com êxito, o fracasso se personaliza
imediatamente, fazendo-o responsável direto com todas as conseqüências
expressas pelo o discente que se traduz na dificuldade de se submeter a
qualquer disciplina que permita o trabalho em coletividade.
É significante o depoimento do professor sobre esta temática:
“... os alunos são o suporte de pai e de mãe, então ele traz para o professor o retorno, se ele vive em um ambiente hostil ele vai aprender a agredir ou se vive com humilhação ele vai aprender a se sentir culpado, o ideal é que possa viver um ambiente de amizade e cuidado”.
A Comunidade externa foi mencionada na pesquisa que ela é
bastante ausente referente à participação das tomadas de decisões da
escola. De fato existem diversos obstáculos que dificultam a sua efetiva
participação, referentes a fatores estruturais ligados às próprias condições
de trabalho e de vida da população, encontra-se também a resistência das
instituições escolares a essa participação.
52
Verifique o depoimento de uma professora:
“... a comunidade participa em parte, na escola que trabalho já foi feito projetos de colocar a comunidade na escola. Eles só participam da dinâmica no início, não há uma permanência dos pais, enfim, parece que normalmente este tipo de projeto não funciona”.
Observei também que está ocorrendo uma tendência de
“desfeminização” do magistério, principalmente, nas séries finais do ensino
fundamental, no qual historicamente foi sendo construída a idéia de que as
habilidades necessárias aos professores envolvem aspectos relacionados ao
cuidar que antes era mais atribuído como a função da mulher, cuja ação
deve ter como resultado o bem-estar do outro.
No levantamento de dados, os professores relataram que têm uma
relação boa com os alunos, mas, por outro lado, os mesmos lembraram dos
“velhos tempos” em que o professor era sempre o “dono” da razão,
autoridade inquestionável, convictos de que hoje se encontram em uma
posição bem diferente, às vezes sujeito a agressões variadas mais voltada
para a verbal, por parte do alunado que conta com relativa impunidade no
que diz respeito a tal atitude, os mesmos destacam que os discentes estão
sendo “superprotegidos” pelo Sistema Educacional em suas ideologias,
considerando-os sempre como “vítimas exclusivas” dos problemas da
sociedade vigente.
A situação da violência na escola foi vista como agravante muito sério
que impossibilita o trabalho do professor, principalmente, quando esta se
torna constante o docente fica mais sujeito ao esgotamento físico e mental.
Na entrevista com professores, em sua maioria, responderam que “por sorte”
não trabalham neste ambiente violento, no sentido de agressões constantes
entre alunos ou professores agredidos, vandalismo ou atentados contra
carros de docentes, mas, observando bem a conversa dos professores
sobre está temática percebi que o mais freqüente é a violência verbal ou
psicológica, especialmente, quando os alunos começam a questionar a
autoridade do professor ou em sala de aula e até mesmo na própria
53
estrutura da escola com paredes, banheiros ou móveis pichados com insulta
aos docentes ou até mesmo ameaça e também observei que os professores
procuram utilizar diferentes estratégias para enfrentar a situação para não
desistirem da profissão que escolheram, e a situação piora, mais ainda
quando o narcotráfico está presente dentro das instituições educativas. Este
desrespeito à existência da escola nos remete a refletir sobre o que é
verdadeiramente importante para a sociedade atual e de como é importante
que a escola cumpra sua função em educar para o bem e estes mesmos
professores, que foram entrevistados, declararam que se surgisse está
situação de violência constante iriam procurar emprego em outra área, a fim
de não arriscar as suas vidas só por obrigação profissional se fosse
necessário e não tivesse alternativa de certo que abandonariam o
magistério.
A instituição educativa acaba por ser tornar um reflexo da mudança
de todas as relações sociais e familiares, as relações da escola, enquanto se
tornaram mais democráticas, tornaram-se também mais conflituosas, dando
margem à contestação dos valores ou de todas as regras vigentes de nossa
sociedade, com o auxílio da distribuição das informações por meio dos
novos canais de socialização, e até mesmo da própria função do docente.
A interação professor-aluno é o suporte mais forte de vinculação
saudável do professor com o seu trabalho. Na interação com o aluno muitos
encontram o sentido do seu trabalho, junto com a liberdade que ainda existe,
do professor na sala de aula.
Veremos a seguir a fala de um dos professores:
“... até gosto de vir para o colégio, mas tem dias que me sinto sem vontade de vir por causa do cansaço, desânimo, ainda mais que, nós também somos de carne e osso e também sofremos como os alunos às conseqüências dos problemas sociais e pior ainda é quando isso é transferido para nós está grande responsabilidade de tentar mudar a realidade daquele aluno, principalmente, porque temos pouco tempo para isso...”
54
Outro aspecto que se refere às relações de trabalho é referente à
gestão ou administração das instituições escolares. Em sua maioria,
optaram pela gestão do tipo tradicional e a outra parte ficou em dúvida se
seria democrática ou não, percebi que de certa forma o próprio conceito de
democracia ocasionava uma certa confusão, porque alguns afirmavam que a
direção não era “autoritária” nem tão “rigorosa”, pois achavam que ela era
“liberal” com alunos, pais, professores, funcionários e “dão abertura”, mas
quando estes eram questionados sobre se todas as decisões da escola
tinham a participação de todos envolvidos neste processo que dizem
respeito à organização e o funcionamento da escola, ou se a prática do
diálogo era valorizada para implementar ações concretas na mudança de
uma respectiva realidade, a resposta era negativa justificada ou por falta de
interesse de algumas das partes, senão todas, ou por ter pouco tempo para
colocar isso em prática diante do extenso conteúdo programático que deve
ser cumprido durante o ano letivo.
A administração ou gestão dos estabelecimentos de ensino pode
interferir diretamente na organização, condições de trabalho e no
funcionamento da instituição. Não obstante, devemos ressaltar que mesmo
com a gestão do tipo democrática não está isenta dos problemas sociais,
mas nesta parte-se de uma premissa de que quando ela é participativa
tende à melhoria dos problemas das escolas porque nela há uma integração
entre escola e comunidade.
Veja o seguinte depoimento de um professor:
“Eu acho que aqui a gestão é democrática porque a diretora não é do tipo autoritária, ela não costuma se intrometer nas minhas atividades. O que eu decidir para ela está bom e não precisa fazer revisão, enfim há uma confiança na nossa relação”.
Percebi no discurso dos professores que a gestão da escola está
muito preocupada com as questões burocráticas no qual são submetidos,
assim são forçados a dedicar cada vez mais tempo em satisfazer as
exigências das outras instâncias superiores, fazendo com que as questões
autenticamente importantes pareçam desnecessárias. A comodidade
55
também foi outro elemento apontado, no qual muitos funcionários achavam
até natural não haver cooperatividade com o trabalho uns dos outros, pois
cada um tinha suas respectivas responsabilidades.
O clima escolar da instituição, quando é participativo e democrático,
longe de representar um perigo institucional, gera bem-estar, saúde,
compromisso, sentido de pertencimento, identidade com os objetivos da
instituição.
Veja a extrema relevância de um bom clima na escola na entrevista
de um professor:
“... dependendo do contexto escolar, algumas vezes, vejo que tem muita falsidade, não há um trabalho de equipe e nem organização, não existe esta relação de união e sim atrito entre as partes”.
A organização do trabalho prescrita ou real nos situa em uma
encruzilhada, e este foi outro tópico estudado na pesquisa. Até aqui o ideal,
o prescrito verificado, foi à idéia de formar o aluno preparado para exercer
com plenitude a sua cidadania voltada para os valores humanos com senso
crítico e responsável com os problemas de seu tempo e espaço, tornando-se
um sujeito autônomo para planejar ações concretas que venham a melhorar
a vivência consigo mesmo e com os outros na sociedade. Na prática existem
sérias dificuldades no desenvolvimento destes valores, assinalam sérias
incongruências entre os valores estabelecidos no papel e os que realmente
são praticados pela organização.
Tendo em vista a fragmentação do trabalho pedagógico como uma
estratégia original a favor da valorização do capital, pois por intermédio dele
é que são gerados o desenvolvimento cientifico e social, assim o saber
prático e o conhecimento cientifico são distribuídos desigualmente
contribuindo ainda mais para aumentar a alienação dos trabalhadores.
Desta forma, podemos afirmar que, do jeito que a escola está
organizada é constatar que ela é participante da divisão social do trabalho,
expressos por meio da complexidade de tarefas, dos conteúdos, métodos,
formas e organização e gestão.
56
Para tanto foram observados na pesquisa de campo (vide apêndice)
que quando se perguntava sobre a postura do sistema educacional em que
está mais associada, as que foram mais escolhidas foram às opções de que
está subordinada à economia ou desinteressado com a formação humana e
social do professor.
Em uma outra questão em que perguntava se as instâncias
superiores de educação estão com a razão em exigir e criticar a formação
pedagógica de docente, alguns professores responderam o seguinte:
“Não, pois para haver ele tem que estar dentro da escola, ver a realidade do aluno e do professor de perto e não basta impor simplesmente os objetivos sem conhecer as dificuldades que nos rodeiam, às vezes até por falta de base da própria família”. “Não, porque a prática não está acompanhando a teoria e, quando eles criticam, isto entra num paradoxo, já que eles mesmos não disponibilizam as condições desejáveis em relação a tempo, salário e espaço para bater de frente com estas dificuldades...”.
A organização social do trabalho do docente separa a concepção e o
planejamento da tarefa, da sua execução. Essa fragmentação pode
aumentar as responsabilidades do professor no que concerne a funções e
também um descontrole sobre o conteúdo e a forma de transmitir o
conhecimento. Em razão também da sobrecarga de trabalho ele pode
acabar freqüentemente sentindo-se esgotado emocionalmente conforme foi
verificado nas pesquisas.
O pensamento Neoliberal na sociedade atual tende a avaliar aluno e
professor sob os parâmetros do mercado, e a sua educação como
mercadoria, assim como os próprios alunos e professores. Desta forma, os
efeitos do Neoliberalismo atingem também a escola pública, e no lugar que
se consideraria contraponto do cenário da rede particular, o problema não
diminui, mostra sim uma outra face. Deixando de trazer garantia de
ascensão social e encontrando para si mesmo uma profissão desvalorizada,
revelando que o seu principal indicador seria o “sucesso econômico”. Essa
desvalorização social prejudica na vida prática e como conseqüência vêm o
57
baixo status social podendo gerar uma crise de identidade, no qual os
docentes questionam o sentido de seu próprio trabalho, e inclusive a si
mesmos. E esta falta de realização profissional pode levá-lo a avaliar-se
negativamente diante da imagem social idealizada sob a ação de suas
próprias instâncias julgadoras inconscientes, que tendem a depreciação de
sua performance como professor.
Nos depoimentos de professores que percebem a profissão como
valorizada, pode-se observar uma certa ambigüidade em relação à imagem
social sobre o magistério.
Afirma-se que:
“(...) a profissão é vista com muito respeito e dignidade, apesar do baixo poder salarial dos profissionais do magistério”. “(...) embora vivamos em um País, no qual a educação e a saúde, infelizmente, não são tratadas como prioridades pela maioria dos governantes, percebo o respeito de que os professores ainda desfrutam perante grande parte das pessoas”.
De acordo com Esteve (1999, pág.8), “a imagem atual que o professor
tem de si mesmo está condicionada pela exigência de posturas requerida
pela sociedade”
No estudo também foi observado que quando se perguntava se o
professor incentivaria o seu filho a seguir a docência, em sua maioria,
colocou a opção que não, em razão desta desvalorização da profissão,
baixos salários, muita exigência e falta de vagas no mercado de trabalho.
Para muitos pais, por exemplo, alguém que tenha escolhido ser
professor não está associado ao sentido de uma vocação, mas ao álibi de
sua incapacidade de dedicar-se a outra coisa em que se ganhe mais
dinheiro. A análise de entrevistas junto a professores pôde constatar que
persiste uma visão um tanto preconceituosa em relação àquela que
“escolhe” a atividade docente, o que de certa forma apenas reforçaria a
desvalorização pessoal e social percebida.
58
Ao estudar os motivos que fariam o docente a abandonar o magistério
percebemos que estão associados a uma série de insatisfações, em primeiro
lugar, seria uma constante situação de violência na escola, e logo em
seguida, vem o baixo salário, sobrecarga quantitativa de trabalho, baixo
reconhecimento social da profissão, mau comportamento do aluno e a
oportunidade de melhor emprego em outra área, como ilustra os
depoimentos a seguir:
“... nos momentos de frustração diante da remuneração e da falta de reconhecimento social, penso que poderia fazer outras coisas menos desgastantes”. “... o salário é razoável dá para sobreviver, mas sabemos que o nosso trabalho é uma profissão de muita responsabilidade, de muito trabalho e pouco reconhecimento”. “... me satisfaço, mas o professor em âmbito geral deveria ser bem pago, pela a importância de nossa função”.
Veja o que diz Codo:
“Não há como comparar o salário dos professores com os de trabalhadores em ocupações menos qualificadas, com o discurso que está acima da média dos padrões nacionais, já que se têm conhecimento do nível de exigência para formar professores com embasamento legal, portanto as condições oferecidas ao professor não são compensatórias em relação ao salário”.(2002, pág.86)
O salário é fator constante em grande parte das verbalizações e
aparece freqüentemente associado a outros elementos como responsável
pela desvalorização da profissão.
Os professores que afirmaram nunca terem pensado em mudar de
profissão o fizeram pela satisfação que sentem em lecionar e por sentirem-
se realizados na docência.
Veja a fala do professor:
“... nunca pensei em mudar de profissão, apesar de ser uma profissão muito árdua. Você trabalha muito, mas gosto de trabalhar com pessoas e ver o resultado de meu trabalho”.
59
A questão cultural quanto aos valores vividos e não prescritos na
instituição escolar estão inteiramente relacionados a sua organização de
trabalho. Os valores “vividos” e não prescritos dentro de uma organização
são aqueles nos quais mostra-se a essência da cultura, valores e crenças
apreendidas em conjunto, que são compartilhados e tidos como corretos à
medida que a organização consegue ter sucesso nos seus objetivos. Os
valores organizacionais e as possíveis distâncias ou incongruências entre o
“ideal” e o “real” poderão estar relacionados com o processo saúde/doença,
na relação significativa obtida entre “Burnout” e valores organizacionais,
como foi verificado na pesquisa sobre o nível de formação cultural dos
docentes.
É importante o seguinte depoimento:
“... internamente sabemos que nosso trabalho é muito importante, mas o que chega do exterior lhe diz que não é, lhe diz que o que oferece não vale tanto assim, pelo contrário vale muito menos que o trabalho de outros com o mesmo nível de exigência”. “... apesar de ser má remunerada acho que é bem vista quanto ao nível de formação cultural...”. “... hoje eu acredito que existe uma boa formação cultural, pois o meu aprimoramento profissional advém do meu conhecimento acadêmico”.
Com relação à possibilidade de adquirir cultura de certa forma
encontra dificuldades, que talvez já venha desde a sua formação básica, o
docente, muitas vezes, não consegue manter-se atualizado na área do saber
em que atua, ou seja, não há dinheiro para livros, para cursos de
aperfeiçoamento, entrada de teatros, eventos culturais, seminários, etc.
A insatisfação dos professores com relação à profissão é um fato
relevante, sobretudo, quando a motivação dos alunos, aplicação dos
conhecimentos no cotidiano, interesse pela pesquisa e por aprofundamento,
coisas fundamentais para o exercício de educar, dependem diretamente da
percepção do trabalho do professor como importante.
No próximo capitulo veremos as considerações finais sobre a temática
da “Síndrome de Burnout”.
60
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As constatações da presente investigação confirmam achados de
outros estudos que vêm sendo feitos no campo da formação de professores.
Ao mesmo tempo, apontam aspectos que possam vir a contemplar novos
focos de trabalho e posterior aprofundamento.
Embora a Síndrome tenha sido identificada inicialmente em
trabalhadores que lidam diretamente com outras pessoas e têm alguma
responsabilidade sobre a vida delas (médicos, policiais, professores, entre
outros), ela pode afetar qualquer um que esteja em uma situação crítica de
sofrimento físico e emocional.
O professor, ao deparar-se com a impossibilidade de cumprir as
exigências da função, vive um conflito estrutural entre fazer um trabalho
perfeito e as possibilidades reais de sua execução. Como este trabalhador
pode ter domínio sobre a sua própria atividade, quando precisam mudar de
enfoque e de questionamentos todos os dias de sua vida profissional? Como
pode estar por inteiro nas relações que exigem cuidados especiais? Como
pode convencer um aluno de que ele precisa de hábitos de estudos, de que
a entrada no mundo das drogas o leva a becos sem saída, de não querer
morrer porque a primeira paixão não deu certo, ou ainda, de que o
desemprego do seu pai pode ser passageiro, ou se a questão salarial é a
que mais preocupa, porque não lutar em um sindicato ou num partido
político? Isto demanda investimento de tempo e afeto. Não é possível sair
correndo, deixar os argumentos pela metade. Este profissional lida com
mudanças em si mesmo e mudanças no outro.
O conflito entre o que há por ser feito e o pouco tempo, com um
grande número de alunos, leva o docente, em muitas ocasiões, a excederem
a sua condição física e psicológica. É neste contexto que inicia a luta contra
o sofrimento e é com muita propriedade que Esteve esclarece: “o sofrimento
61
surge assim que a relação do homem com a natureza do trabalho é
permanentemente bloqueada.” (1999, pág.45)
Mesmo, vivenciando diariamente este dilema, os docentes em sua
maioria, avaliaram os seus desempenhos na função com o conceito “bom”,
declaram que se sentem competentes e preparados em seu exercício
profissional, procurando sempre meios alternativos para o enfrentamento
desses conflitos de forma efetiva, a fim de eliminar ou minimizar os efeitos
do estresse sobre a rotina do cotidiano escolar. Uma outra importante fonte
de enfrentamento que foi mencionado pelos professores é que é necessário
mapear as causas do desgaste emocional, para posteriormente, buscar
entender as suas razões em cada situação específica.
A realidade social e econômica enraizada na escola a mais de 20
séculos, fez com que os profissionais da educação se vissem encurralados
diante do desafio de construir uma escola para todos e vencer limites
impostos pela organização do trabalho.
Assim, considerando a lógica exposta, hoje, o conceito de educação
tem adotado a crença neoliberal de que tudo é mercadoria e o mercado
regula todas as relações. É evidente que os investimentos em equipamentos
sofisticados, da modernização de laboratórios, da ampliação e do conforto
em suas instalações podem facilitar muito o trabalho, mas quem responde
diretamente pela qualidade do mesmo é o professor. Está visão de
educação sob a perspectiva mercantil causa prejuízo às pessoas
diretamente envolvidas no processo: professores e alunos.
Em sintonia com toda uma retórica de valorização do professor,
emergente, sobretudo, a partir do advento da legislação recente – Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - Lei nº 9394/96) e Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério (FUNDEF – Lei nº 9424/96) – são concebidos programas de
formação inicial e continuada visando seu desenvolvimento profissional. Ao
mesmo tempo, e contraditoriamente, aguçam-se as formas de proletarização
do trabalho docente, proporcionando, na realidade, até mesmo a queda da
qualidade da formação.
62
Nos professores, graças a sua formação, seu envolvimento, a
responsabilidade social de seu trabalho, sua própria consciência e visão de
mundo tendem, portanto, a torná-los mais sensíveis e expostos à exaustão
emocional, refletindo-se, certamente, em sua prática e no desempenho de
seus alunos.
Verificou-se na pesquisa realizada com o corpo docente do Município
do Rio de Janeiro, na área norte, com ênfase nas séries finais do ensino
fundamental, que muitos desses professores apresentam indícios que se
aproximam de alguns aspectos da Síndrome de “Burnout” e são poucos
professores que se vêem vítimas deste mal estar no ambiente de trabalho.
A pesquisa faz um levantamento dos fatores que contribuem para a
desmotivação no desempenho da função do professor, são estes: má infra-
estrutura (recursos materiais e condições de trabalho), salário, situação de
violência na escola, conflito de papéis, imagem social, burocratização do
trabalho, falta de tempo para realizar bem o trabalho, invasão do espaço
privado tendo que fazer atividades de trabalho em casa, insegurança por
ausência de objetividade nas diretrizes educacionais, impossibilidade de
crescimento profissional dentro do órgão empregador pois não há um plano
de carreira, descontinuidade dos projetos implantados pela mantenedora ou
resultados insatisfatórios, sentimentos de impotência diante do sistema
estrutural, exigências da mantenedora que a escola não consegue dar conta
ou cumprir e a modificação em relação às tendências filosóficas e
metodológicas.
A Intervenção
Uma vez identificadas as possíveis fontes de “Burnout” no âmbito do
trabalho, passamos a propor formas de prevenir ou fazer frente a esta
Síndrome. Expomos algumas estratégias que privilegiam a saúde e
qualidade de vida no contexto escolar, algumas diretamente aos
professores, outras à equipe diretiva e pedagógica e, ainda, outras à
comunidade.
De um ponto de vista geral é necessário transformar a escola em um
contexto saudável, desenvolvendo as modificações necessárias no âmbito
63
das relações, das condições e da organização do trabalho; Propiciar o
fortalecimento pessoal e coletivo, desenvolvendo capacidade de lidar com o
estresse, valorização pessoal e grupal, controle das situações de conflito,
modificando o contexto e canalizando necessidades e aspirações.
Nas ações direcionadas ao professor, é importante trabalharmos no
sentido de alertá-lo, através de palestras, sobre os possíveis fatores de
estresse relacionados ao trabalho e a possibilidade de desenvolvimento
deste tipo de estresse ocupacional de caráter crônico, tendo em vista que o
mesmo só é percebido como transtorno em sua fase final, quando sintomas
psicossomáticos já se encontram consolidados. Outro ponto relevante é o
incentivo à formação de grupos de discussão para trabalhar as crenças que
o profissional têm sobre sua prática, auxiliando-o a desenvolver concepções
mais realísticas e adequadas da profissão. A ação contribuiria para o
desenvolvimento das qualidades pessoais que podem ser utilizadas para um
desempenho personalizado da prática profissional, evitando, desta forma, a
internalização e à comparação constante com um modelo idealizado, não
raras vezes estereotipado, com o qual não se identificam. Também é
importante ter uma boa qualificação das relações interpessoais, tendo em
vista que esta não é temática exaustivamente desenvolvida na formação
deste profissional. Neste espaço, torna-se importante chamar atenção para a
necessidade de mudança do estilo de atuação, tradicionalmente baseado
em um modelo prescritivo e normativo, para uma atuação fundamentada no
modelo relacional, potencializando e valorizando as características
específicas de cada profissional e possibilitando sua atuação de forma
autônoma e criativa frente às diversas situações encontradas no contexto de
trabalho. O papel do professor, neste contexto, é o de dinamizar um ensino
personalizado orientado para o desenvolvimento integral dos alunos.
Ações direcionadas à equipe diretiva e pedagógica, buscando criar
fóruns permanentes de diálogo e co-responsabilidade educativa em um
espaço institucional entre estas e os professores sobre o papel docente na
atualidade, bem como os reflexos do novo paradigma empresarial no
contexto educacional. O aluno e os pais são parceiros neste processo
educativo, que é também de construção, e não clientes de um serviço
64
avaliado segundo parâmetros empresariais. A participação dos professores
nas decisões institucionais, deve ser considerada bem como no apoio social
recebido de colegas e coordenação, através da formação de equipes de
trabalho ou de grupos de discussão entre professores e líderes institucionais
de outras instâncias. Neste sentido, torna-se necessário estimular e valorizar
a autonomia docente, permitindo ao professor manifestar sua competência e
motivação profissional.
Desenvolver reuniões com agenda positiva, onde possam ser
apresentados projetos de trabalho e experiências de sucesso desenvolvidas
pelos professores. Divulgar as experiências à comunidade, salientando os
aspectos inovadores da escola e da profissão docente, resgatando, desta
forma, a imagem social bastante desgastada, nos dias atuais, do professor
perante a sociedade.
Com relação à comunidade acreditamos ser relevante buscar apoio e
parceria da comunidade para a efetivação do processo educativo,
diminuindo a exigência social depositada no professor, visto como o principal
agente de educação, por meio de elaboração de campanhas informativas
destacando a importância da função docente.
Delimitar de forma clara e coerente às funções docentes, destacando
a educação como uma questão que diz respeito a todos, aos professores,
aos alunos, às famílias e às instituições.
Estimular a participação dos pais ou responsáveis na vida escolar,
sensibilizando-os para a valorização da escola e do trabalho do professor
junto aos seus filhos, enfatizando a importância de sincronia entre as
estratégias educativas utilizadas na escola e em casa. As reuniões com
familiares devem ser trabalhadas com agenda positiva, e não apenas para
apresentar baixos resultados escolares, elevado número de faltas ou
problemas de indisciplina dos alunos.
Cabe também Implementar recursos, pessoais e ambientais, que
propiciem melhoria na qualidade de vida dos docentes.
E, finalmente, uma das principais estratégias para prevenir a
síndrome, é a de enfatizar a promoção dos valores humanos no ambiente de
trabalho, adotando adotar valores mais orientados para a coletividade, em
65
oposição aos valores mais individualistas, com o objetivo de estimular o
docente a acreditar em sua capacidade, ter confiança em si mesmo e
preparar-se para tanto, e jamais se castigar ou deixar que lhe castiguem,
procurando sempre equilibrar o trabalho e lazer, enfim o docente precisa
amar a si próprio e ao seu trabalho.
Bem, estas são apenas sugestões. Podem parecer vagas e difíceis
para aqueles que já se deixaram envolver pela “Síndrome de Burnout”.
O quadro de “burnout” revelado pela pesquisa não pode ser
completamente solucionado, uma vez que o desgaste e o conflito são fatores
subjetivos e intrínsecos às relações humanas. Além disso, uma vez instalado
o quadro, ainda não há tratamento adequado à sua solução. Assim, o
importante é a prevenção através do combate aos fatores deflagradores da
Síndrome.
As ações propostas evidenciam que a prevenção e a erradicação do
“Burnout” em professores não é tarefa solitária destes, mas deve contemplar
uma ação conjunta entre professor, alunos, instituição de ensino e
sociedade. As reflexões e ações geradas devem visar à busca de
alternativas para possíveis modificações, não só na esfera microssocial de
seu trabalho e de suas relações interpessoais, mas também na ampla gama
de fatores macroorganizacionais que determinam aspectos constituintes da
cultura organizacional e social na qual o sujeito exerce sua atividade
profissional.
Mesmo assim, não há porque se deixar esvaziar da sua fonte de
energia vital como professor. Se precisar, procure ajuda médica para que
você deixe de perder energia nesta profissão e possa dirigir toda a sua força
para a sua própria realização profissional, assim cabe a cada um de nós
mais do que chorar e lamentar, e sim iniciar um processo de mudança
pessoal e institucional, com propostas construtivas e participativas, ou, se
os nossos ambientes são mais fechados e resistentes, administrar a própria
saúde e buscar aliados para iniciar um movimento que leve a construção de
espaços mais saudáveis no contexto de trabalho.
66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS : BRANDÃO,C.R(org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Graal, 1989. BRASIL (1996). Lei nº 9424, de 24 de dezembro de 1996 – Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, na forma prevista no art. 60, § 7°, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, e dá outras providências. ______ (1996). Lei n.º 9394, de 1996 – Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. CANDAU,V.M (org.). Escola e Violência. Rio de Janeiro : DP&A, 1999. _________, (org.). Reinventar a escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. CARLOTTO, M. S. Síndrome de Burnout e satisfação no trabalho: um estudo com professores universitários. In: Benevides-Pereira , A. M. T. (org.). Burnout: Quando o trabalho ameaça o bem estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. CARVALHO, H. T. T. K. A professora primária: amor e dor. In: Codo, W.; Sampaio, J. J. C. (orgs.). Sofrimento psíquico nas organizações: saúde mental e trabalho. Petrópolis: Vozes, 1995.
CODO, W. (coord.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes / Brasília: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação: Universidade de Brasília. Laboratório de Psicologia do Trabalho, 2002. CUNHA, M. I. O bom professor e sua prática. 7. ed. Campinas, SP: Papirus,1997. DEMO, Pedro. Pesquisa e Construção do Conhecimento. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,1996. ECO, U. Como se faz uma tese. SP: perspectiva, 1983.
67
ESTEVE, J.M. O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. Bauru: Ed. UFSC, 1999.
FRANÇA,A. C. L.; Rodrigues, A. L. Estresse e trabalho: guia básico com abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas, 1997.
FRIGOTTO, G. Educação e formação humana: ajuste neoconservador e alternativa democrática. In: Gentili, P. A. A.; Silva,T.T. (Orgs.). Neoliberalismo, qualidade total e educação. Petrópolis: Vozes, 1999. LAROSA, Marco Antonio. Como produzir uma monografia passo a passo... siga o mapa da mina. Rio de Janeiro: WAK, 2002. NÓVOA, A. O passado e o presente dos professores. In: NÓVOA, A. (org.). Profissão professor. 2. Ed. Porto: Porto Editora, 1995.
PAIVA, Edil V.de (org.).Pesquisando a Formação de Professores. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. PERRENOUD, P. As dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. REVISTA DO PROFESSOR. Artigo sobre a “Síndrome de Burnout”, Porto Alegre nº 11, jul./set 1995.
ZARAGOZA, J.M.E. O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. Bauru: Edusc, 1999.
68
Levantamento de dados:
1) Qual o seu nível de escolaridade ? ( ) ensino médio ( ) graduação ( ) pós-graduação ( ) outros ________________ 2) Como você classificaria os recursos materiais que existem em sua instituição
escolar? ( ) ótimo ( ) muito bom ( ) bom ( ) regular ( ) muito ruim 3) De nota de 1 a 5 em relação às condições ambientais
1- ótimo 2- muito bom 3- bom 4- regular 5- muito ruim ( ) conservação do edifício ( ) barulho ( ) moveis/ armário/ cadeiras/ mesas/ estantes,etc ( ) iluminação diurna e noturna ( ) limpeza do banheiro dos professores ( ) limpeza do banheiro dos alunos ( ) manutenção do equipamentos necessários à prática de ensino ( ) sala de repouso ( ) sala de professores ( ) sala de aula ( ) telefone público ( ) telefone da escola ( ) poeira ( ) umidade ( ) retroprojetor ( ) sala de leitura ( ) biblioteca ( ) material didático ( )aparelho de som /tv/ vídeo ( ) computadores para alunos ( ) computadores p/profº
4) Em qual postura na sua opinião que o sistema educacional está mais ligado ? ( ) subordinado à economia ( ) com um espírito empreendedor preocupado com as questões sociais ( ) desinteressado com a formação humana e social do professor ( )comprometido com a qualidade de ensino aplicando ações concretas com as praticas participativas dos envolvidos, obtendo na maioria das vezes “sucesso” nos resultados ( ) outros ____________________________________________________________
5) Como é a sua relação com os alunos ? ( ) muito boa ( ) boa ( ) suportável ( ) insuportável
6) Você acha que os pais dos alunos estão dando base aos seus alunos quanto aos valores mínimos ?
( ) sim, completamente ( ) às vezes, mas deixa a desejar ( ) não, de forma nenhuma ( ) outros ____________________
7) Sinto-me suficientemente preparado para atender todas as demandas e exigências das instancias superiores ?
( ) sim ( ) não ( ) outros____________________________________
8) as novas tecnologias facilitam o seu trabalho nas escolas ? ( ) sim ( ) não ( ) outros ____________________________________
9) Você já trabalhou em uma escola que tenha sido arrombada por vândalos ? ( ) sim ( ) não
69
10) Você já sofreu alguma humilhação, ou melhor, agressão de forma verbal, psicológica ou ate física em alguma escola que tenha trabalhado ou ainda trabalha ?
( ) sim ( ) não
11) Você sente vontade de ir para o trabalho? ( ) freqüentemente ( ) sempre ( ) raramente ( ) nunca ( ) outros___________
12) trabalhar com pessoas o dia todo me exige um grande esforço ?
( ) freqüentemente ( ) sempre ( ) raramente ( ) nunca ( ) outros___________
13) Sinto-me competente na realização de meu trabalho ? ( ) freqüentemente ( ) sempre ( ) raramente ( ) nunca ( ) outros___________
14) Sinto-me esgotada emocionalmente devido ao meu trabalho ? ( ) freqüentemente ( ) sempre ( ) raramente ( ) nunca ( ) outros___________ 15) Meu trabalho deixa-me exausta (o) ? ( ) freqüentemente ( ) sempre ( ) raramente ( ) nunca ( ) outros___________ 16) Tenho me tornado mais insensível com as pessoas ? ( ) freqüentemente ( ) sempre ( ) raramente ( ) nunca ( ) outros___________ 17) tenho insônia ou só consigo dormir poucas horas ? ( ) freqüentemente ( ) sempre ( ) raramente ( ) nunca ( ) outros___________ 18) Sinto-me irritado,impaciente, com desejo de abandonar o trabalho ? ( ) freqüentemente ( ) sempre ( ) raramente ( ) nunca ( ) outros___________ 19) Você tem quantos anos de magistério ? ____________________________ 20) Você incentivaria o seu filho a seguir a docência ?
____________________________ Enumere se necessário, quais os motivos que o levaria a abandonar a docência? ( ) baixos salários ( ) sobrecarga quantitativa de trabalho ( ) desvalorização da profissão do professor ( ) contexto social da escola ( ) situação de violência na escola ( ) escassez de material didático ( ) gestão administrativa incoerente e autoritária ( ) mau relacionamento com os alunos ( ) filosofia da escola incoerente com os seus objetivos ( ) desvalorização da questão cultural na educação ( ) conflito com os colegas de trabalho ( ) oportunidade de melhor emprego em outra área ( ) outros/Especifique:___________________________ 21) Como você se sente em relação ao salário que recebe ? 22) Como é a gestão ou administração da sua instituição escolar, há um trabalho
participativo? 23) Como você se sente em relação ao ambiente de trabalho ? Existe uma boa relação
entre todos envolvidos ? 24) Você acha que as instâncias superiores de educação estão com a razão em exigir
e criticar a formação pedagógica do docente ? 25) É valorizada a questão cultural referente aos valores vividos na escola?
70
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO EM ORIENTAÇAO EDUCACIONAL “LATO SENSU” CAMPUS NITERÓI Título da Monografia : SÍNDROME DE “BURNOUT”: SEUS ASPECTOS E DESAFIOS AO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO DOCENTE Data da Entrega: Avaliado por: _______________________________________________ Grau : ______________
______________________ _____ de ___________________ de _______