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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
FAMILIA X DEPRESSÃO:
O QUE FAZER DIANTE DO DIAGNOSTICO?
Por: Luciana Viana Machado de Oliveira
Orientador
Prof. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
FAMILIA X DEPRESSÃO:
O QUE FAZER DIANTE DO DIAGNOSTICO?
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada
como requisito parcial para obtenção do grau de especialista
em Terapia de Família.
Por: Luciana Viana Machado de Oliveira
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AGRADECIMENTOS
...primeiramente a Deus, através de Jesus Cristo,
seu Filho, meu Senhor e Salvador; a Thalita
Viana de Oliveira, filha amada e paciente; e a
psicóloga Cassia Maria de Souza Valentim por
seu valoroso incentivo.
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DEDICATÓRIA
....dedico este trabalho a minha amiga de longa data
Simone Christine Albuquerque de Oliveira, pela
parceria nos momentos mais difíceis.
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“Não to mandei eu? Sê forte e corajoso: não temas,
nem te espantes, porque o Senhor teu Deus é
contigo, por onde quer que andares.” (Josué 1:9 –
Bíblia Sagrada – Trad. João Ferreira de Almeida -
Ed. Revista e atualizada, 1969, Sociedade Bíblica do
Brasil)
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RESUMO
Diante dos dados alarmantes disseminados pela mídia sobre a depressão ser o
mal do século, este trabalho propõe-se a traçar um histórico da depressão com algo
pertinente ao cotidiano desde as mais antigas sociedades chegando às definições e
propostas atuais de tratamento pela psiquiatria, pela psicologia e pela psicanálise.
Também analisa os efeitos da apatia como desencadeadora do ato suicida, dos efeitos
do preconceito e de atitudes tidas como bem-intencionadas, mas que agravam o caso. E
partir deste ponto apresenta um caso onde as ações de cuidado e acompanhamento do
paciente com depressão incluem, além da medicação e psicoterapia, o envolvimento de
familiares e amigos como auxiliadores comprometidos com a promoção do acolhimento,
compreensão e reabilitação, minimizando eficazmente a apatia e anedonia, fazendo
emergir novos significados para a vida, mesmo em meio as circunstancias externas
contrárias propostas pelas sociedades capitalistas do mundo ocidental.
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METODOLOGIA
A pesquisa exploratória através de livros, revistas e sites sobre o tema trouxe a
tona a história do conceito de depressão e suas nuances atuais. Abordando o enfoque
neuropsiquiátrico através de autores como Paulo Dalgalarrondo, Ricardo Alberto Moreno
e Geraldo Jose Ballone e a perspectiva psicanalítica através Sigmund Freud, Rubens
Marcelo Volich e Darian Leader, dentre outras fontes gentilmente sugeridas pelas
professoras doutoras Ana Paula Lettieri Fulco e Marta Pires Relvas, coube apresentar um
estudo de caso de modo a exemplificar a relação dos familiares e amigos com um
paciente deprimido, bem como destacar as ações comumente praticadas que agravam o
quadro depressivo e demonstrar aquelas que contribuem terapeuticamente para sua
regressão.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - BREVE HISTÓRIA DA DEPRESSÃO 12
CAPÍTULO II - MAS O QUE É DEPRESSÃO? 19
CAPÍTULO III - APATIA E SUICÍDIO 27
CAPÍTULO IV - ACOMPANHAMENTO FAMILIAR 30
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37
ANEXOS 41
INDICE 45
FOLHA DE AVALIAÇÃO 46
INTRODUÇÃO
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Observando a história da humanidade podemos dizer que a depressão
apresentou-se muitas vezes descrita como uma tristeza profunda ou mesmo com um
estado de melancolia, de saudosismo, de desesperança. Em toda sua existência, o
homem, em meio as circunstancias à sua volta, diante das dificuldades nela contidas,
busca saídas para a vida, pelos mais diversos meios. O sentido social da vida é um
motivador fundamental. Sua capacidade de enfrentar as dificuldades e aprender com
elas, ou seja, sua capacidade resiliente, constitui-se num processo pelo qual as
mudanças nestas circunstancias ocorrem. É esta capacidade que fará surgir as saídas
para o viver. Quando as saídas não são encontradas, quer por incapacidade resiliente ou
devido a alguma dificuldade orgânica, surge a frustração e com ela outros sentimentos
como tristeza, baixa auto-estima, desesperança, apatia. Esta gama de sentimentos
dentre outros são a base do que hoje conhecemos com depressão. Em niveis mais
acentuados, o pensamento suicida surge como uma opção viável para fugir de um
sofrimento. A morte é considerada como uma outra forma de viver em um outro lugar, ou
ainda, como expressão do desejo de não existir naquelas circunstancias de sofrimento.
Segundo os canais de mídia, a depressão tem se apresentado como o mal do
século. A revista brasileira Veja publicou pesquisa da Organização Mundial de Saúde -
OMS informando que 121 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão e que o
tipo crônico (chamada Depressão Maior) já é considerada um problema de saúde pública.
Para um dos pesquisadores, Evelyn Bromet, da Universidade de Nova York, a pesquisa
demonstrou que “a depressão é uma preocupação de saúde pública e está fortemente
relacionada a condições sociais. Compreender os padrões e suas causas podem ajudar
iniciativas globais para reduzir o impacto da depressão na vida dos indivíduos e em
reduzir a carga para a sociedade.” (Veja, 2011) No Brasil, a última PNAD (pesquisa
nacional por amostra de domicílios) em 2003, aponta a depressão como doença crônica,
competindo com a hipertensão e o diabetes.(IBGE 2003 apud Portal GeoRio, 2011), A
OMS alerta que até 2020 a depressão passará de 4ª para a 2ª colocada entre as
principais causas de incapacidade para o trabalho no mundo e estima que dos 121
milhões de casos mundiais, 17 milhões delas encontram-se no Brasil (SisSaúde, 2010).
Com o crescimento do numero de suicídios em diversas faixas etárias, a sociedade
vem discutindo este fenômeno e as formas de combatê-lo. No Rio de Janeiro, a
Universidade Estadual (UERJ) promoveu o 3º seminário de prevenção ao suicídio com
objetivo de levar a discussão do tema para fora do âmbito individual numa tentativa de
ampliar a mobilização dos diversos segmentos da sociedade além dos setores públicos,
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numa proposta preventiva, já que as pesquisas sobre o tema pela OMS apontam o
suicídio entre as dez principais causas de morte no mundo em todas as faixas etárias.
No Brasil, segundo divulgação no seminário, as estatísticas do Ministério da Saúde
revelam que as mortes por suicídio entre 1980 e 2008 cresceram significativamente,
chegando a media de 196 suicídios por ano. Os transtornos psiquiátricos já representam
33,5% dos casos de afastamento do trabalho entre 2000 e 2005, e em 2008 a depressão
foi a causa mais comum de solicitação de auxílio-doença a previdência social brasileira,
segundo conhecida revista de neurociências (Mente&Cérebro,2011).
A industria farmacêutica vem crescendo na produção de psicofármacos de modo a
dar conta da demanda e ao mesmo tempo afirmar sua posição como solução para as
psicopatologias, num esforço em controlar as disfunções neuroquímicas, acreditando se
não na cura, ao menos o controle dos sintomas.
Atualmente a fluoxetina é recomendada como medicação de primeira escolha para
o tratamento da depressão. Desde a criação dos primeiros anti-depressivos sabe-se que
a fase mais arriscada para suicídio é o começo da recuperação, onde a ação dos
medicamentos diminui o nível de apatia proporcionando mais disposição física e
diminuição do sono. Se antes o individuo, sem sentido para o viver, não dispunha de
forças para um iniciativa suicida, a medida que se recupera fisicamente, os
desencadeantes psicológicos da depressão (eventos traumáticos) tornam-se
insuportáveis. É neste momento da terapêutica da depressão que emerge uma antiga
polêmica sobre a possibilidade destes medicamentos promoverem o suicídio. Até o
momento nada foi comprovado, mas devemos considerar que quem não está deprimido
não pensa tanto em suicídio como quem está. E na fase inicial do tratamento a
medicação toma ares de vilã quando há tentativa de suicídio. De qualquer forma, este é o
momento em que a intervenção psicoterápica se faz indispensável, não só no
atendimento ao paciente, mas auxiliando a familia ou os entes mais próximos a contribuir
com o tratamento, deixando de lado preconceitos, ou conceitos errôneos que muitas
vezes tornam-se obstáculos no caminho do deprimido.
Assim exposto, a proposta deste trabalho é elucidar os mecanismos
desencadeadores de depressão sob a ótica fisiológica e psicológica, atendo-se a esta
última pela abordagem psicanalítica; desmitificar a depressão como algo voluntário,
através da descrição dos sintomas; e propor medidas de preparo para familiares ou
aqueles diretamente ligados a pacientes com depressão através de um estudo de caso,
de modo a contribuir eficazmente com o tratamento da doença.
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CAPÍTULO I
BREVE HISTÓRIA DA DEPRESSÃO
Ao iniciarmos este breve relato histórico da depressão, faz-se necessário
esclarecer a origem do termo depressão. Compõe-se de duas palavras do latim: “de”
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(baixar) e “premere” (pressionar), significando literalmente “pressionar para baixo”. “O
termo depressão foi, inicialmente, usado em inglês para descrever o desânimo em 1660,
e que entrou para o uso comum em meados do século XIX”. (Solomon apud Vieira,
2008). Até então o termo utilizado era 'melancolia'.
1.1 – Antiguidade:
A Grécia antiga conhecia a melancolia através da teoria de Hipócrates (séc. V
a.C.), chamado 'pai da medicina', sobre os humores envolvendo sangue, fleuma, bile
negra e bile amarela. Estes elementos, relacionados respectivamente a um órgão em
particular: coração, cérebro, figado e baço, são considerados no desenvolvimento de
outra teoria: a teoria dos temperamentos em quatro tipos: sanguíneo, fleumático, colérico
e melancólico, definidos conforme a predominancia de um dos quatro humores de forma
inata. A relação saúde-doença num individuo era determinada pela combinação entre os
humores e os reflexos dos quatro elementos cósmicos: ar-frio, fogo-calor, água-úmido e
terra-seco. O produto da reação do organismo ao meio era responsável pelo estado de
saúde. O ideal era o equilíbrio (saúde). O desequilibro poderia ter causas diversas
internas (superabundância de humores, de preocupações ou estafa) e externas (súbita
mudança de clima, miasmas ou traumatismos). Havia considerações também à 'força de
caráter' diante das circunstancias da vida e à incapacidade para dominar-se ou a diversos
aspectos da atividade psíquica, como preocupações e emoções. No caso da depressão
(estado melancólico), esta caracterizava-se pela produção excessiva de bile negra. Para
estimular o organismo à cura, o médico então recorria a ações psíquicas, sempre com
objetivo de despertar sentimentos capazes de aumentar-lhe a vitalidade, como a
persuasão do doente a auto-sugestão por exemplo. (Muller,1978)
No Oriente os Judeus também conheciam depressão como tristeza profunda ou
alma abatida. No livro dos Salmos encontramos vários relatos de estados de tristeza,
abatimento (apatia), e o desejo pela morte. O rei Davi pergunta a Deus no Salmo 13:1 até
quando relutaria dentro de si mesmo com tanta tristeza no coração. (Biblia sagrada,
1969) O sentimento de desamparo aliado a tristeza consistia num motivo para busca do
socorro divino.
Ainda sobre os judeus, que podemos inferir de Judas Iscariotes? Autor de um dos
Evangelhos, Mateus, judeu coletor de impostos feito apóstolo por Jesus Cristo, narra que
tocado de remorso (compungido, arrependido em outras versões) “retirou-se e foi-se
enforcar”1. O impacto causado pelo arrependimento profundo de Judas ocasionou a
1 Biblia Sagrada, Novo testamento, Mateus cap.27:3 a 5.
13
perda de sentido para seu viver. Apático, a única saída vista foi o suicídio. Social e
moralmente, por sua cultura, ser-lhe-ia impossível viver.
Que dizer do cristianismo primitivo? O contexto social de pobreza, clandestinidade,
falta de perspectiva social e estresse eram fatores contundentes na época. A primeira
grande perseguição ocorreu no ano de 65 d.C., após o incêndio em Roma. O imperador
Nero atribuía aos cristãos a responsabilidade pelo ocorrido como forma de fugir a
acusação dos romanos. Alguns anos depois, outro motivo movia a perseguição: a não
aceitação da divindade do imperador Domiciano (Schneeberger, 2003). Apáticos e
desesperançosos talvez muitos cristãos tenham sido pegos e levados para serem
executados nas arenas.
Com a expansão do império de Alexandre o Grande (séc III a.C.), proporcionando
a fusão entre o pensamento grego e o oriental no surgimento da cultura helenística, a
medicina hipocrática torna-se obscurecida diante da mescla de culturas. Somente em
meados do século II d.C. é que Galeno (131-201 d.C.) resgata sua obra, onde dentre
outros enfoques, amplia a teoria dos humores ao desenvolver uma 'tipologia psicológica'
que estaria relacionada às diferentes doenças.
“Defendendo a estreita dependência entre corpo e espírito, Galeno
desenvolveu uma visão bastante normativa, insistindo na importância da
“boa constituição” e da “boa construção” do corpo, que depende do
equilíbrio entre o “bom temperamento” e da “boa proporção” das partes
orgânicas.” (Volich, 2010 p. 36).
Com a instituição do cristianismo católico, (Concílio de Nicéia em 325 d.C.), uma
outra concepção sobre a depressão foi considerada. Seus sintomas caracterizavam uma
evidencia do desfavor de Deus, estigmatizando os que sofriam como infiéis.
“A tristeza, entretanto, fruto da inspiração divina, conduziria à
salvação e seria, por esse motivo, virtuosa. A melancolia estaria longe
disso e era considerada uma doença especialmente nociva, porque o
desespero do melancólico revelaria a ausência de alegria diante do
conhecimento e da certeza do amor e da misericórdia divinos. A
melancolia, desse ponto de vista seria um distanciamento de tudo o que
era sagrado.” (Amaral, 2006)
Até a idade média esta concepção se instaura e juntamente com o pensamento
filosofico tornam-se fortes influentes na compreensão das doenças e do corpo humano.
1.2 – Idade Média:
Desde o inicio da idade média, atribuída por muitos historiadores, a partir da queda
do Império Romano Ocidental, em 476 d.C., “a história da medicina bifurca-se seguindo
14
os destinos da divisão do Império Romano” (Volich, 2010 p. 37). O Império Oriental, ou
Bizantino, conservou boa parte da história da medicina, sendo mais tarde acolhida e
traduzida pelos árabes que, dentre outras obras, deram continuidade ao pensamento
greco-romano (Schneeberger, 2003). No Ocidente, com a expansão do catolicismo, o
pensamento religioso passou a dominar as áreas científicas, filosóficas e social. O
conhecimento legado tornou-se enclausurado em monastérios, tendo sua transmissão
restrita. “A crença na imortalidade da alma e o desprezo pelo corpo levaram ao
desaparecimento do exame clinico e de praticamente todos os conhecimentos médicos
da Antiguidade.” (Volich, 2010 p.38) Assim, o comportamento melancólico de um
indivíduo poderia ser atribuído a uma ação demoníaca, tendo o Tribunal da Inquisição
para julgá-lo dentre outras heresias. O ato suicida era considerado uma auto-
condenação ao inferno, segundo os dogmas religiosos predominantes.
O período Renascentista caracterizou-se pela transição do homem medieval para
o contexto moderno e neste momento a melancolia ressurge no campo cultural, artístico e
científico como estado inspirativo, reflexivo e virtuoso. Surgem questionamentos às
formulações que vigoravam na Idade Média. O filosofo neoplatônico Marsílio Ficino
(1433-1499), tradutor de obras de filosofia grega, descreve a melancolia como uma
manifestação de busca pelo eterno. Segundo Amaral (2008), a condição de Ficino
“...talvez lhe tenha permitido ser o primeiro autor, na Renascença, a reviver a ligação
aristotélica entre melancolia e brilhantismo”. A bile negra, para ele, tornaria as pessoas
mais inteligentes. Entre os séculos XVI e XVII, seus argumentos ganharam força. O
homem melancólico surge com aquele dotado de superioridade inteligente. Mesmo
quando, mais adiante, no inicio do século XVII, Robert Burton através de uma minuciosa
investigação da melancolia, onde descreve seu lado doentio como uma espécie de...
“...dor atemporal, infinita, que se prolonga e se atualiza levando à
eliminação da possibilidade de sentir prazer na relação com o mundo
exterior e ao ódio a si mesmo. (...) considera que descontentamentos,
preocupações e infortúnios estão entre as principais causas e sintomas da
melancolia e são, na maioria das vezes, acompanhados por angústia e dor.
No entanto, a tristeza é sua companheira inseparável, tal como seriam
inseparáveis os santos Cosme e Damião. É o mais comum sintoma e
também pode ser a causa.” (Burton apud Silva, 2008 – grifo da autora)
O movimento renascentista, retirando da melancolia a condição de pecado mortal,
a coloca no homem como uma doença da imaginação, da razão e da memória. Mesmo
assim ainda lhe grande prestígio ao considerar esta uma facilitadora do pensamento e da
introspecção. O Século das Luzes teve seu esboço nesta época. O filósofo introspectivo
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Renée Descartes (1596-1650) ao elaborar uma metodologia que implicava o uso da
razão e da experiência na explicação dos fenômenos, também buscou provar a existência
do próprio eu e de Deus (Schneeberger, 2003; Ferreira&Fernandes, 2005).
Nos séculos XVIII e XIX, com a Revolução Industrial o mundo acelerou,
ocasionando novos arranjos socio-espaciais, como o intenso processo de migração do
campo para a cidade, além de mudanças de hábitos e novas relações de trabalho. As
condições de vida nas áreas industriais eram inicialmente precárias e grandemente
estressantes. Péssimas condições sanitárias, aumento populacional local e extensa carga
horária de trabalho transformavam os trabalhadores candidatos potenciais a depressão.
Frustração, excesso de trabalho (fadiga), sentimento de menos-valia, privação
econômica, e diversos outros fatores socioeconômicos constituíam-se em elementos
desencadeadores dos sintomas depressivos. Ainda hoje estes mesmos elementos
permanecem na relação homem-trabalho, tendo os estudos das psicopatologias evoluído
com os trabalhos realizados ao final do século XX pelo médico francês, com formação em
psicossomática e psicanálise, Christofe Dejours (também diretor científico do Laboratório
de Psicologia do Trabalho e da Ação no CNAM de Paris e autor de diversos livros
publicados no Brasil sobre psicopatologia do trabalho).
Com relação a cultura oriental, uma pequena observação se faz interessante
quanto a história da depressão. Muitas vezes ela é permeada de interpretações
espiritualistas, como perturbações por espíritos. Há também sua faceta psicológica na
tristeza profunda, por estar ligada a um peso de culpa. Porém o suicídio é um fenômeno
comum quando, por exemplo, há perda da honra. Ser respeitado, digno, correto, constitui-
se status social. A exclusão social torna-se angustiante se algum ato ilegal cometido vier
à tona, se fracassar em alguma área, se a humilhação sofrida for muito grande, ou ainda
se a vergonha for tão insuportável, o suicídio é aceito como opção, pois tem uma
associação com a salvação do nome ou fama da pessoa ou da família (Ueno, 2005).
Neste pequeno passeio pela história da humanidade podemos verificar que a
Depressão transitou sob várias facetas: ora como doença do corpo, ora como traço de
personalidade, ora como virtude intelectualista, ora como algo demoníaco, até ser
finalmente entendida como doença mental com os avanços da medicina no século XIX.
1.3 – Do nascimento da psiquiatria aos dias de hoje:
Alguns precursores da hoje conhecida psiquiatria deixaram seus legados para sua
estruturação conjuntamente com o pensamento humanista e o liberalismo, ambos de
forte influência Iluminista, durante a Revolução Francesa. Paracelso (1493-1541)
advogava que a doença mental era uma perturbação da substância interna do corpo, o
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qual estava intimamente ligado à alma. Deveria-se então reforçar a capacidade do corpo
para "curar a si próprio". Desta forma, Paracelso foi considerado como o primeiro
psicoterapeuta da história (Barros,2002). Johann Weyer (1515-1588), médico holandês,
acreditava que as doenças mentais não eram sobrenaturais e que as feiticeiras
precisavam ser tratadas como doentes psíquicos (pt.wikipédia.org). Porém, estas foram
manifestações racionais foram isoladas e apenas no final do século XVII notou-se maior
interesse pela interpretação científica das "doenças do espírito" através do médico
francês Philippe Pinel (1765-1826), que revolucionara a Europa com seu método de
tratamento dos doentes mentais. Para a França Revolucionária, era de profundo
interesse que seus cientistas sobressaíssem e Pinel se constituiu, na área da medicina e
da psicopatologia, em um dos seus principais expoentes. Pinel elevou à categoria dos
doentes, aqueles antes tratados como criminosos ou endemoniados. Colocou-os sob a
condição de doentes e a doença mental como o resultado de uma exposição excessiva à
estresses sociais e psicológicos, e, em certa medida, a danos hereditários, sendo que tais
enfermidades decorreriam de alterações patológicas no cérebro (Alvares in
Psicologia.org).
Através do nascimento da psiquatria os distúrbios mentais relacionados ao estado
melancólico começaram a ser estudados e sistematizados. É desta época que o nome
'depressão' vem emergindo como mais apropriado a descrição de uma das
psicopatologias classificadas .
A psicologia surge como ciência em 1879 através de Wilhelm Wundt (1832–1920),
na universidade de Leipzig, na Alemanha. Wundt criou o primeiro laboratório experimental
de psicologia utilizando-se dos mesmos métodos experimentais das ciências naturais,
particularmente as técnicas utilizadas pelos fisiologistas. Para ele os psicólogos deveriam
investigar os “processos elementares da consciência” (experiência imediata), suas
combinações e relações, da mesma forma que os químicos estudam os elementos
fundamentais da matéria . Neste momento a psicologia se separa da filosofia e se
configura enquanto ciência independente, deixa então de buscar a essência humana e
passa a adotar métodos para não só conhecer os processos mentais (motivação,
percepção, emoção, linguagem, pensamento), mas também intervir nas psicopatologias
através das psicoterapias.
Paralelamente, à mesma época, Sigmund Freud, médico neurologista austríaco,
começava a sistematizar um corpo teórico buscando compreender os fenômenos
psíquicos do desenvolvimento humano: sua estruturação, dinâmica, e distúrbios. Assim
surge a psicanálise, entendendo que a mente humana é composta de três instâncias:
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Inconsciente/Id, Consciência/Ego e Superego. Todos processos vitais que tem como
base a intensidade de dois impulsos elementares: de Vida e de Morte (Eros X Tanatos). A
dinâmica da psique situa-se entre o psíquico e o somático (corpo), estruturando nossa
personalidade, influenciando em nossa forma de entender o mundo, e dá entendimento
às neuroses, psicoses e perversões (psicopatologias). A técnica psicanalítica, chamada
“cura pela fala” é um método de tratamento no qual o a paciente discute sobre as suas
associações com cada sintoma. Nestas associações livres as memórias ocultas ou
"reprimidas" nas quais baseam-se os sintomas emergem, extravasando a energia
psíquica represada ao tornarem-se conscientes, permitindo ao paciente entender-se e
resignificar sua própria história, proporcionando a eliminação do sintoma. A psicanálise
hoje está inserida em diversas áreas do saber: no discurso médico, no entendimento da
dinâmica do trabalho, dentre as teorias de desenvolvimento infantil, na explicação dos
fenômenos sociais, etc.
Enfim, a Depressão que hoje conhecemos é caracterizada como doença mental e
encontra-se inclusa na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde, o CID-102. Esta Classificação foi aprovada pela Conferência
Internacional para a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças, convocada
pela Organização Mundial de Saúde, realizada em Genebra no ano de 1989, tendo
entrado em vigor apenas em 1993, após a necessária preparação de material de
orientação e formação. Nela a Depressão é diversificada em 'Síndromes Depressivas'.
Outro importante cadastro de psicopatologias é o DSM-IV3, Manual de Diagnóstico
e Estatística das Perturbações Mentais. Uma publicação da Associação de Psiquiatria
Americana em sua 4ª edição. Este manual fornece critérios de diagnóstico para as
perturbações mentais, incluindo componentes descritivas, de diagnóstico e de tratamento,
constituindo um instrumento de trabalho de referência para os profissionais da saúde
mental.
2 Internet: http://www.psicologia.pt/ 3 Ibid
18
CAPÍTULO II
MAS O QUE É DEPRESSÃO?
Neste capítulo o termo 'depressão' enquanto psicopatologia será abordado
segundo a ótica das neurociências e da medicina, mais especificamente pela psiquiatria,
e segundo a psicologia, através da teoria psicanalítica, de modo demonstrar que não se
caracteriza apenas por distúrbios fisiológicos, mas como um composto, onde estruturas
emocionais tem sua influencia sobre o corpo.
2.1 – para a psiquiatria:
A depressão é uma doença que tem sua origem nos distúrbios químicos no
Sistema Nervoso. Através dos neurônios (células cerebrais), os neurotransmissores
(substâncias químicas com características excitatórias ou inibitórias) são liberados nas
fendas sinápticas (espaço de contato entre os neurônios, onde se processam a emissão
e a recepção da substancia) provocando reações, “os vários transmissores
desempenham papéis especiais no pensamento no humor e na ação. Níveis
relativamente altos ou baixos dessas substancias químicas estão concretamente
relacionados com efeitos psicológicos específicos.” (Davidoff, 2001, p. 66). Os níveis e a
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sensibilidade dos receptores são influenciados pelo ritmo biológico interno (reguladores
de sono), pela experiencia (estresse, por exemplo), pela nutrição, pelas doenças e pelas
drogas. Especificamente no caso da depressão, níveis alterados de neurotransmissores
como Serotonina, Dopamina e Noradrenalina, causam reações de caráter
psicofisiológico, onde os sintomas físicos mais comuns são: letargia, alterações de sono,
alterações de apetite e gastrointestinais, diminuição da libido e da resposta sexual
(disfunção erétil, orgasmo retardado ou anorgasmia), dores na cabeça, taquicardia e
alterações psicomotoras. Os psicológicos manifestam-se como: tristeza, anedonia,
desespero, culpa, angústia, baixa auto-estima, ansiedade, apatia e ideação suicida. A
atividade mental também sofre alterações como lapsos de memória e dificuldades de
concentração que acabam por exigir uma gasto energético cerebral maior.
Para uma pessoa ser diagnosticada com depressão, ela deverá apresentar pelo
menos cinco sintomas, por período superior a duas semanas, sendo os principais que se
evidenciam são as alterações de sono, a tristeza, a anedonia (incapacidade de sentir
prazer em várias esferas da vida) e a apatia(indiferença afetiva). Grande importância é
dada a anedonia e a apatia. A apatia é um grande diferenciador da tristeza comum e
contida em todos os casos de depressão, em maior ou menor intensidade. Ela significa
falta de emoção, motivação, inclinação para a vida. Um estado de indiferença onde a
pessoa não responde a estímulos da vida emocional, social ou física. È um estado de
“desinteresse geral, de indiferença ou insensibilidade aos acontecimentos; de falta de
interesse ou de desejos” (Rey, 1999).
Dentre os fatores desencadeantes de um estado depressivo, podendo evoluir à
doença propriamente dita, podemos classifica-los em causas externas, hormonais, físicas
e genéticas. Sobre as causas externas podemos citar o falecimento de ente querido,
stress, problemas profissionais ou privados, solidão, frustração crônica. As causas
hormonais evidenciam-se na gravidez, na menopausa e nos problemas ligados à
glândula tireóide. Quanto as causas físicas, a ocorrência de depressão aparece em
comorbidade nas situações de AVC, esquizofrenia, amputações, etc. As causas
genéticas são predisposições hereditárias, condição ainda discutida pela psicologia e as
neurociências. Devemos também considerar os casos provocados pelo consumo
excessivo de substâncias tóxicas como o álcool ou a maconha (em geral no caso do
consumo há vários anos).
Mesmo com a classificação disposta nos manuais de doenças (CID-10 e DSM-IV),
hoje acessíveis via internet, são muitas as dificuldades que os psiquiatras encontram na
busca de uma terapêutica acertada. Alguns sintomas exclusos dos manuais aparecem de
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forma a confundir o diagnóstico. São distúrbios de conversão; psicossomatizações que
trazem em si uma causa subjetiva que não aparece em exames clínicos. Dores
musculares, colite ulcerativa e problemas gastrointestinais, por exemplo, são
desencadeadas devido a “ação de fatores estressógenos e, concomitantemente, a falha
dos mecanismos psicológicos adaptativos em indivíduos com distúrbios imunológicos e
possíveis alterações prévias de personalidade.” (Solomon apud Mello F°, 1986, p.75).
Desta forma o psiquiatra, mesmo após o diagnóstico de outras especialidades médicas,
estas visando contribuir com seu próprio, por vezes vê-se em experimentações de
psicofármacos e de dosagens até atender a demanda do paciente, controlando seus
benefícios e suas reações adversas.
Esta afirmação é pertinente uma vez que a psiquiatria carece de comprovações
biológicas de modo a lhe proporcionar parâmetros para enquadramento mais objetivo de
seus critérios diagnósticos. No anexo II deste trabalho encontra-se uma entrevista
concedida ao jornal Folha de São Paulo, publicada pelo site da ABMP – Associação
Brasileira de Medicina psicossomática, com o neurobiólogo e cientista Eric Kandel,
ganhador do Prêmio Nobel de Medicina de 2000, onde ele afirma que há uma crise na
psiquiatria devido a carência destes fatores. Esta carência não está na ausência de
cientistas ou pesquisas, estas podem até ser insuficientes, mas o grande obstáculo a esta
busca é a subjetividade humana. Até o momento não há como avaliar em que medida a
subjetividade atua como desencadeador de processos psicopatológicos. A medicina
psicossomática testifica que há uma correlação, porém não se pode quantificar. Assim, a
concepção teórica sobre o inconsciente contida na obra de Freud tornou os processos
psíquicos elementos a serem considerados no diagnostico das psicopatologias. De fato,
somos seres biopsicossociais por constituição: três dimensões interligadas e que se
influenciam mutuamente.
Os primeiros psicofármacos anti-depressivos, os ADTs (tricíclicos) apresentavam
boa eficácia devido à sua ação, aumentando a disponibilidade de noradrenalina e
serotonina, porém seu uso ocasionava efeitos colaterais como intolerancia e risco de
toxicidade. Uma nova tentativa com os bloqueadores da Monoaminaoxidase (MAO), a
enzima responsável pela inativação destes neurotransmissores, também não foi muito
recomendada devido ao risco de crises hipertensivas potencialmente fatais. A nova
geração de antidepressivos tem sido mais recomendada por atuarem em um único
neurotransmissor (como os inibidores seletivos de recaptação de serotonina ou de
noradrenalina), sem implicar outras áreas receptoras cerebrais não relacionados com a
21
depressão, como a histamina e a acetilcolina (Moreno et al, 1999). Os mais receitados
são: fluoxetina, paroxetina, sertralina, fluvoxamina, citalopram e escitalopram.
A serotonina é um neurotransmissor relacionado ao ciclo sono-vigília, atuando
como uma espécie de “calmante” natural indutor do sono (Davidoff, 2001. p.67). O
desequilíbrio entre a Serotonina e acetilcolina ocasiona diminuição da fase REM (rapid
eyes moviment) do sono (fase de maior latência), ocasionando queixa de cansaço e
dificuldades para dormir. Os antidepressivos recaptadores de Serotonina servem para
restabelecer a chamada arquitetura do sono dos pacientes depressivos, ansiosos e até
dos dependentes de hipnóticos. Mais disponibilizada na fenda sinaptica, proporciona
melhora no estado vigília, regula o sono e a disposição fisiológica. Há também outros
antidepressivos mais específicos, que atuam de forma diferenciada controlando a
recaptação de outros neurotransmissores, são alguns deles: bupropiona, sibutramina,
venlafaxina. Inibir seletivamente a recaptura de um neurotransmissor na sinapse é uma
forma de propor uma equilibração.
Mesmo com a ação dos antidepressivos podem ocorrer casos de insônia. Nos
casos mais severos são ministrados os benzodazepínicos de ação hipnosedativa
concomitantemente de modo a minimizar os distúrbios do sono, são alguns deles:
flunitrazepam (Rohypnol), lorazepam (Lorax) e flurazepam (Dalmadorm). Alguns BZDs
ou ansiolíticos são utilizados nos casos mais brandos produzindo leve sedação,
auxiliando desta forma a indução do sono, são os mais comuns: clonazepam (Rivotril),
alprazolam (Frontal), Bromazepam (Lexotan) e o Diazepam. (Lopez, 2009).
Uma ação eficaz na terapêutica da depressão, além da prescrição de anti-
depressivos, deve levar em conta as condições gerais de saúde do paciente, de modo a
contribuir para a regressão do quadro bem como minimizar os efeitos colaterais (reações
adversas). Além da pressão arterial adequada, o cérebro necessita, dentre outros
nutrientes, da glicose (energia) para seu funcionamento. A retenção ou disponibilização
de neurotransmissores nas vias neuronais dependerá também de infraestrutura cerebral
para que se possa ter exito quanto ao efeito desejado. Toda a movimentação cerebral
necessita de energia, como aliás todo o corpo. Desta forma os índices glicêmicos devem
estar sob controle e adequados às necessidades. Índices de colesterol (HDL e LDL)
devem estar equilibrados para que haja produção de cortisol (Acetato de hidrocortisona)
suficiente para o bom funcionamento dos níveis glicêmicos no corpo. Em situação
contrária, ou seja, baixos níveis de cortisol (devido a baixa de colesterol bom – HDL),
serão insuficientes para circulação de glicose no cérebro causando hipoglicemia. Todos
estes inconvenientes podem ser evitados com um exame clínico mais abrangente, maior
22
atenção ao relato histórico do paciente e readequações na rotina alimentar. Desta forma
fica evidente que o acompanhamento de vários segmentos da medicina se faz
necessário, como a neurologia, a cardiologia, a endocrinologia, a gastroenterologia,
dentre tantos outros oriundos da “departamentalização” do corpo humano. Sendo de
grande sorte a intercomunicação entre tais profissionais por parte do paciente.
2.2 – para a psicologia:
Diferentemente da concepção psiquiatrica onde a Depressão é vista como um
problema biofisiológico, a psicologia e a psicanálise entendem que há um sofrimento que
vai além da de uma perspectiva infecciosa ou distúrbio orgânico passivo de tratamento
medicamentoso. Este sofrimento está ligado às experiências de vida do paciente. De sua
percepção de si e do mundo que o cerca e a forma como elabora estas percepções.
Considerando o contexto social atual, podemos afirmar que a depressão está
ligada a mudanças profundas em nossa sociedade. Vivemos num mundo capitalista onde
as pessoas são consideradas segundo sua produtividade econômica, levando as a um
sentimento de vazio e solidão enquanto humanos. Segundo Leader (2011, p.52),...
“... quanto mais os sintomas forem vistos como sinais de desvio ou
de comportamento inadequado, mais o sofredor sentirá o peso da norma,
do que se espera que ele seja. Ele se tornará vítima da visão atual do ser
humano como ‘recurso’, na qual cada pessoal é apenas uma unidade de
energia, um pacote de habilidades e competências que pode ser comprado
e vendido no mercado. Se a vida humana se tornou isso, por que
deveríamos nos surpreender se tantas pessoas escolhem recusar esse
destino, perdendo sua energia e seu potencial mercadológico ao caírem na
depressão e no sofrimento?”
Ao recusar ou perceber-se incapaz de atender esta demanda social uma crise
existencial se instala em busca de raízes, do momento onde tudo começou ou de
significados para o viver.
Assim, a depressão possui outros desencadeadores psicológicos que vão além da
inadequação ao contexto social, como o luto, a perda de algo, separação de algo ou
alguém, ou ainda uma estrutura psíquica melancólica, entre os mais comuns. Um ou mais
elementos podem compor um quadro depressivo. E para entender o universo psíquico de
um paciente com depressão a psicoterapia tem apresentado resultados mais eficazes,
com destaque para as de longa duração, pois adentram este universo psíquico
proporcionando ao paciente um mergulho no complexo de sentimentos e vivencias
desencadeadoras, resignificando estes momentos e mesmo sua própria existência. As
23
psicoterapias breves ou focais são eficientes nos momentos de crise, igualando-se, sob
certa ótica, à terapia medicamentosa. Abordam os sintomas de forma a eliminá-los,
porém excluem-se da busca mais profunda por sua origem, o que ocasiona o retorno ou
modificação do sintoma.
A psicanálise, referencial neste trabalho, atribui às experiências relacionadas à
perda e à separação o que comumente é diagnosticado como depressão. Uma
experiência de afastamento de alguém, por morte ou por separação, ou de algo
significativo que já não se acessa ou possui mais são desencadeadores mais comuns de
sintomas depressivos. Há também aqueles relacionados ao questionamento de nossa
autoimagem e ainda aqueles subsequentes a conquista de objetivos, metas ou ideais.
“O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à
perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como
o país, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante. Em algumas
pessoas, as mesmas influências produzem melancolia em vez de luto;”
(Freud, Luto e Melancolia,1917)
Freud aponta diferenças entre ambos os fenômenos psíquicos relacionados a
perda. Marraccini (2010) nomeia a experiência traumática da perda como o “eu em ruína”,
onde defende que uma ”falha na constituição psíquica envolvendo a coluna de
sustentação do Eu desencadeia um afastamento do contato com a realidade e com o
mundo externo”.
De modo simples, no luto a pessoa enlutada sabe mais ou menos o que perdeu,
enquanto que na melancolia nem sempre sabe. “No luto, é o mundo que se torna pobre e
vazio; na melancolia, é o próprio ego” (Freud, 1917). São comuns os sentimentos de
desamparo, frustração e decepção, todos relacionados à medida da intensidade amor
sentido pelo objeto perdido. Porém um sentimento de raiva ‘por não existir’ encontra lugar
e torna-se conflituoso com este amor sentido. Assim as dificuldades do processo de luto
ocorrem do esforço do enlutado em lidar com tais sentimentos, podendo ser doloroso e
devastador psiquicamente, levando o paciente a uma exaustão psiquica (depressão) ou
ao pânico (fobias e paranoias). Concordando com a interpretação de Darian Leader
(2011, p.67),...
“No luto, nossas memorias e esperanças ligadas a pessoa que
perdemos são analisadas, e cada uma delas é confrontada com a idéia de
que essa pessoa não está mais lá. Esse processo de escrutínio e mistura
de pensamentos e imagens acaba por se esgotar posteriormente, e o
enlutado escolhe a vida em vez da morte. No luto patológico ou complexo,
esse processo fica paralisado, devido pincipalmente, à presença de
24
sentimentos poderosos de ódio misturados com nosso amor pelo
falecido.”
Na melancolia ocorre uma identificação com algo contido no que se perdeu. Esta
identificação é constitutiva de si mesmo, desta forma, em sua elaboração psíquica, a
ausência desse algo (objeto) nem sempre significa que uma separação ou privação real
ocorreu. A raiva pela ausência do objeto traz a autocensura e a autodepreciação, levando
a queda da autoestima e a um sentimento de merecedor de punição.
“Os traços mentais distintivos da melancolia são um desânimo
profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a
perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e
uma diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar
expressão em auto-recriminação e auto-envilecimento, culminando numa
expectativa delirante de punição.” (Freud, op cit)
Leader coloca que “o ódio inconsciente sentido pelo ente perdido surge para nos
afundar: ficamos furiosos conosco da mesma forma que ficávamos com o outro, devido a
nossa identificação inconsciente com ele.” (2011, p.67 continuação). Para ele, o
melancólico se torna aquilo de que não consegue desistir.
Percebemos que em ambas as configurações psíquicas estruturais daquilo que
chamamos depressão são permeadas pelo conflito entre o amor e o ódio ao mesmo
objeto – referindo-se a uma pessoa, a uma circunstância, a uma coisa. A ambivalência
destes sentimentos ocorre a nível inconsciente, de difícil autopercepção. Muitas vezes, os
quadros de depressão aparentemente sem motivadores, são formas de expressão de
reações emocionais reprimidas no passado e que permaneceram latentes desde então.
É notório que alguns sintomas são comuns, como o desânimo profundamente
penoso, o desinteresse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, inibição de
atividade e declínio do desejo sexual. Assim, faz-se um grande desafio ao psicoterapeuta
uma abordagem do paciente de modo a identificar que tipo de perda ou separação
ocorreu. Algum evento cotidiano pode caracterizar-se como desencadeador de conflitos
inconscientes que encontram nos sintomas da depressão sua expressão, não
necessariamente apenas eventos traumáticos de grande intensidade emocional
funcionam como a gota d’água no copo cheio.
A depressão pode manifestar-se em qualquer estrutura psíquica: histérica,
obsessiva, perversa ou psicótica, segundo a psicanalise. Freud demonstra que há uma
estreita relação entre o narcisismo e a depressão, em qualquer que seja a estrutura,
sempre que o psiquismo solicita restauração de seu narcisismo. Mas é na melancolia que
encontramos resposta ao “enigma da tendência ao suicídio”, como afirma Freud:
25
“A catexia erótica do melancólico no tocante a seu objeto sofreu
assim uma dupla vicissitude: parte dela retrocedeu à identificação, mas a
outra parte, sob a influência do conflito devido à ‘ambivalência’, foi levada
de volta à etapa de sadismo que se acha mais próxima do conflito. É
exclusivamente esse sadismo que soluciona o enigma da tendência ao
suicídio, que torna a melancolia tão interessante - e tão perigosa.” (op cit).
Este sadismo de que nos fala, assemelha-se a um desejo de libertação da
ambivalência dos sentimentos de amor e ódio. Assim, ao atentar contra si mesmo o
melancólico busca desvencilhar-se do intenso incomodo do conflito, vendo na morte uma
solução perversamente prazeirosa.
O objetivo deste capitulo foi demonstrar as diferentes nuances da depressão,
porém não necessariamente excludentes entre si devido às psicossomatizações que
comumente ocorrem (Insônia, dores, espasmos abdominais, fadiga, etc). Cabe ressaltar
que em muitos casos as duas terapias caminham juntas durante algum tempo: a
medicamentosa e a psicológica, tendendo a psicológica a estender-se por mais tempo.
26
CAPÍTULO III
APATIA E SUÍCIDIO
A apatia, dentre outros sintomas afetivos como a tristeza profunda, o tédio, a
desesperança, constitui-se no estado de maior periculosidade para o paciente sofredor
de depressão. Em níveis elevados, a apatia associada a anedonia (perda da capacidade
de sentir prazer) torna-se fomentadora inconsciente do pensamento suicida. O
desconhecimento ou ainda o conhecimento errôneo da dinâmica destes sentimentos por
parte daqueles que cercam o paciente com depressão, leva-os muitas vezes a atitudes
consideradas bem-intencionadas que podem agravar o quadro. Por outro lado, o
preconceito e a discriminação constituem-se agravadores intencionais que deixam
marcas difíceis de serem apagadas.
3.1 – Sentimento de apatia:
A Apatia é um estado de topor, de indiferença afetiva, de dessensibilização, de
perda de sentido do viver. Este estado aliado a alterações da autovaloração (baixa auto-
estima, sentimento de incapacidade, vergonha e autodepreciação) e à anedonia
constituem-se no momento mais crítico do tratamento. São fatores psicológicos que
exigem acompanhamento psicoterápico mais intensivo e paciência e compreensão
daqueles que cercam o paciente. Em casos psicóticos, tornam-se agravantes as ideias
delirantes de conteudo negativo, o delírio de culpa, a hipocondria, ou ainda mais extremo
o delirio da inexistência de si e/ou do mundo (Dalgalarrondo, 2007).
Todos estes sintomas podem ser observados não somente pelo olhar clínico de
um profissional (psicologo ou psiquiatra), mas também por aqueles que cercam seu
portador. É comum o relato de esposas sobre maridos que “penduram a chuteira' da vida
27
depois de algum acontecimento, desleixando-se ou mesmo entregando-se muitas vezes
ao alcoolismo. Também maridos que reclamam que suas esposas deixaram de se cuidar,
entregando-se a uma vida reclusa e muitas vezes “paranóicas de ciúmes”. Os mais
difíceis de observar são aqueles casos em que a pessoa que não evidencia publicamente
os sintomas, temendo críticas ou censuras pelo comportamento “desanimado e
preguiçoso”. Estes casos, uma vez que a apatia tende a agravar e eclodir o quadro
depressivo através de uma “pequena fagulha” da vida cotidiana, acabam por surpreender
parentes e amigos, dificultando-lhes a crença na instauração da psicopatologia.
3.2 – Ato Suicida:
Como já mencionado anteriormente, só pensa em suicídio quem não vê outra
saída para a viver. O paciente não consegue projetar vida para frente, ou seja, por uma
racionalidade da sua condição e de sua situação social, movida pelo pessimismo, pela
culpa, por mágoas antigas, por vergonha, entre outros sentimentos, chega a conclusão
de que é sua única saída, porém nem sempre dispõe de condições físicas para execução
do ato. Desta forma, como também já mencionado, nos primeiros dias do tratamento com
anti-depressivos o paciente pode recobrar forças para cometer o ato suicida. Ou ainda,
nos casos de depressão ansiosa, causada por uma angustia insuportável e
desesperadora com inquietação psicomotora há sério risco de ato suicida por impulso
(Dalgalarrondo, 2007).
O impulso ao ato suicida também pode estar relacionado a identificações
inconscientes. É comum ouvirmos relatos de pessoas que se ‘entregam a morte’ após a
perda de um cônjuge ou ente querido, bem como casos de pessoas que se sentem
condenadas a seguir o mesmo ‘destino’ de seus antepassados. Vicent Van Gogh se
mostra exemplo através de sua biografia: recebera este nome em homenagem ao irmão
que morrera antes de ele nascer; visitava continuamente o tumulo do irmão; foi registrado
ao nascer no mesmo dia que seu irmão (29), dente outros fatos. Cometeu suicídio no dia
29 de julho, data do nascimento do irmão. (Wikipédia)
Não cabe aqui uma abordagem sobre tipos de suicídio e de socorro a serem
prestados, bem como sobre as consequências dentre aqueles que ficaram. Outros
estudos têm sido elaborados sobre o acolhimento da família enlutada e seus cuidados.
Este trabalho detém-se no antes, nos possíveis elementos desencadeadores, de modo a
proporcionar a família e aos que cercam o paciente a capacitação necessária preventiva
ao ato.
3.3 – Senso comum e o preconceito:
28
A prática clínica evidencia que devido ao desconhecimento da doença, alguns
familiares e amigos incorrem em “erros bem intencionados” para com o paciente
depressivo. É comum tais pessoas incentivarem a reação, dizer-lhes palavras de ânimo
chegando mesmo forçar o paciente a uma reação física, sugerir-lhe eventos públicos,
festas, passeios “para animar”. Agindo assim tais pessoas desintencionalmente
desconsideram aquilo que sente o deprimido. Colocam a depressão como algo
passageiro, momentâneo, ou ainda, causado por “falta de reação” ou “de atitude”.
Segundo relato de deprimidos (em clínica ou mesmo em conversa informal), o efeito mais
comum destas atitudes bem intencionadas são: angústia, sentimento de culpa por não
conseguir reagir, sentimento de inadequação (no caso de estar em tais locais sugeridos),
e diminuição da autovaloração, dentre outros citados.
O mesmo desconhecimento da depressão enquanto doença leva alguns a terem
preconceitos como, acusar de preguiça, de “corpo-mole” diante de uma situação, como
um fraco que “foge do problema”, além dos preconceitos religiosos, talvez ainda oriundos
da epoca medieval, ao abordar o deprimido como um possesso pelo demônio.
Popularmente o sintoma mais conhecido da depressão é a tristeza profunda e a
baixa da libido ou desejo sexual. As interpretações dadas como “baixo astral”, “chato”,
“jururú” para a tristeza profunda e como frigidez ou impotência sexual para as alterações
da libido, promovem a exclusão social e a ridicularização do paciente. Se tal paciente
toma ciência de que as pessoas a sua volta o vêem desta forma, o sentimento de
menos-valia e anedonia aumenta e dependendo do valor dado anteriormente pelo
paciente ao convívio social e a vida sexual, constitui-se num agravante da apatia, levando
o paciente ao isolamento voluntário.
29
CAPÍTULO IV
ACOMPANHAMENTO FAMILIAR
De modo a exemplificar as ações pertinentes ao acompanhamento do paciente
depressivo, um caso clinico convém ser abordado sob ambas as perspectivas: médica e
psicologica. Trata-se de uma mulher de 37 anos sob o nome fictício de Helena.
4.1 – Apresentação de um caso:
Tendo reiniciado seus estudos em uma faculdade de psicologia, Helena havia
decidido 'seguir com a vida' após sua separação conjugal, ocorrida há dois anos antes.
Decidiu procurar um profissional psicólogo para já iniciar sua 'carga horária de análise'
(assim dizia no primeiro encontro). Sua queixa inicial foram seus questionamentos sobre
si mesma, em relação a alguns de seus comportamentos. Conforme decorriam as
sessões emergiam relatos de estados depressivos ao longo de sua história. Para análise
pertinente a este trabalho, nos deteremos no relato mais recente.
Após alguns anos de em psicoterapia, Helena retorna ao relacionamento com o
pai, falecido há 28 anos, emergindo o sentimento de perda que ela descreveu como estar
no velório do pai se despedindo dele. Suas palavras foram de revolta com Deus por tê-lo
levado tão cedo, ao mesmo tempo em que se conforma por não poder fazer nada contra
este Deus. Helena, em sessões anteriores, mencionava a sensação de que um dia seu
pai voltaria; de que não conseguia concebê-lo inexistente, morto. Certa vez trouxe uma
queixa sobre esbarrar em pessoas ao andar em ruas muito movimentadas, mesmo que
se esquivasse delas. Perguntada sobre como sabia que estas pessoas vinham em sua
direção, respondeu que era pelo olhar. Andava pela rua olhando os rostos das pessoas.
Durante quase uma hora, Helena chorou encolhida no sofá em posição fetal. Em
seguida lembra-se de que nos dias subsequentes ao enterro do pai não recebera nenhum
amparo ou palavra de conforto. Amargurada disse que todas as atenções foram
dedicadas a sua mãe, que todos diziam que ‘agora era viúva com uma filha adolescente
30
pra criar’, como se ela fosse uma fardo para a mãe. Nas sessões seguintes relatou ter
sentido alívio e uma sensação de adeus ao pai, chegando a conversar com amigos sobre
o que lhe acontecera e que se sentia em paz por falar do pai como morto. Os assuntos
tratados a seguir configuravam-se em torno de seu relacionamento com o pai falecido e
as elaborações dos sentimentos para com a mãe, sobre quem afirmou não ter afinidades
nem muita simpatia, num certo antagonismo desde o falecimento do pai.
Durante esta fase da psicoterapia, um fato inesperado ocorre com Helena: ter sido
assediada moralmente por seu chefe no trabalho. Os relatos de assédio foram
intercalados aos relacionados ao pai. Após ter sido verbalmente humilhada publicamente,
apresentou um quadro psicossomático. Sentindo-se 'desamparada, sozinha e injustiçada'
emergiram sintomas como diarreias no horário de sair para o trabalho, tremores quando
na proximidade do agressor, estado de alerta involuntário durante o expediente de modo
a sentir profundo cansaço após encerramento, insônia, desânimo intenso e alterações de
humor. De forma a colaborar com a psicoterapia, minimizando tais sintomas, iniciou
tratamento psiquiátrico com paroxetina. Não adaptando-se aos efeitos colaterais (extrema
excitabilidade e agravamento da insônia) e à insistência da psiquiatra em aguardar a
diminuição dos efeitos, procurou outro profissional que prestou-lhe devida escuta
modificando sua medicação. Assim novo antidepressivo lhe foi indicado: a fluoxetina, esta
inicialmente bem tolerada, conjuntamente com benzodiazepínico alprazolam, de modo a
auxiliá-la na indução do sono. Também lhe fora recomendado pelo psiquiatra continuar
sua psicoterapia dada as questões psíquicas observadas. Assim Helena procedeu, porém
após alguns meses de medicação, começou a apresentar quadros de hipoglicemia ao
amanhecer, o que a levou a relacionar ao uso da fluoxetina, sendo orientada pelo
psiquiatra a diminuir sua dose até a descontinuidade e troca de medicação, a venlafaxina,
que atua também no processamento da noradrenalina. Em conjunto, dado o quadro de
ansiedade desenvolvido pelas questões relacionadas ao trabalho, desenvolvendo fobia
ao local de trabalho e agravamento da insônia, foi-lhe prescrito o mesmo alprazolam
durante o dia e clonazepam á noite, como indutor do sono.
Durante o tempo de psicoterapia já percorrido, observou-se sua estrutura psíquica
neurótica, com dificuldades na elaboração do luto paterno, antagonismo a mãe,
sentimentos de rejeição e de desamparo, frustração com a vida, aprisionamento na
espera pelo pai, aversão a figura do chefe-agressor, fobia ao local de trabalho, dentre
outros aspectos. Todos encontraram-se num dado momento, tornando-se insuportável o
manejo da energia emocional contida em cada um. Os sintomas de depressão surgiram
31
como uma forma de estabilização, de tentativa de saúde, dando vazão a angustia da
incapacidade de elaboração.
4.2 – Ações terapeuticas:
Diante dos sintomas iniciais apresentados, ou seja, seus questionamentos sobre si
mesma e sua forma de agir no mundo, percorremos um caminho onde Helena conduzia
os passos. Ora à frente, ora recuando, foram muitas descobertas sobre si mesma e
ressignificações de vivências, permeadas pela sombra do pai ‘desaparecido’. Seus
relacionamentos, seu casamento, o nascimento de seu único filho, sua separação, seu
relacionamento com a mãe foram ao longo de tempo sendo revividos, liberando
sentimentos. Um processo de auto-descoberta que até então se mostrava aos olhos,
porém um luto não elaborado ou um estado melancólico escondia-se em seu discurso.
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do
céu”, assim nos afirma a sagrada Bíblia (Eclesiastes 3:1). Realmente havia um tempo
para que Helena estivesse em condições de vivenciar sua perda. Algum tempo em
psicoterapia proporcionou condições para este momento. E ele emergiu. Com todas as
emoções reprimidas, com toda a energia psíquica represada. Choro, desamparo, dor,
raiva, ódio, alívio foram sentimentos experimentados em turbilhão, ao se abrir uma
pequena brecha: um sonho. Em sua obra ‘A interpretação dos sonhos’, Freud (1900)
esclarece à luz de sua teoria psicanalítica que o material simbólico contido num sonho é
composto de elementos representativos daqueles que originaram a repressão da pulsão.
No caso de Helena, a cessação do prazer de ter o pai, por quem possuía grande
identificação e amor, foi-lhe insuportável. Sua estrutura psiquica neurótica propôs-lhe a
negação desta realidade, trazendo em substituição ao desprazer da ausência, a
esperança da volta do pai.
Helena relatou naquela sessão que sonhara com um barco flutuando em meio a
um rio, preso a um igarapé, onde a voz de um pescador tentava lhe mostrar que não
havia problema algum em dormir ali, pois havia travesseiro branco e um cobertor preto.
Em momento algum concebia aquilo como possível: alguém dormir num barco dentro de
um rio em correnteza. Foi em psicoterapia que encontrou os significados de cada
símbolo, levando-a inicialmente a um grande espanto, mas depois a compreensão do que
dizia a si mesma: rio=vida-sua vida, barco amarrado ao igarapé=evento aprisionado,
formato do barco com travesseiro branco e cobertor preto=um caixão, voz do
pescador=inconsciente dizendo ‘deixe-o ir’. Foi neste momento que se deu conta de que
o pai não mais voltaria, de que havia morrido. Tornara-se inexistente.
32
A partir de então distinguir entre luto e melancolia tornou-se um desafio. Helena
sofria de um luto patológico por não haver elaborado à época, alguns sinais foram
relatados, como a crença de o pai voltaria a qualquer momento, de que ele estava
presente em todos os eventos importantes de sua vida (casamento, nascimento do filho,
formatura, etc), e o sentimento de desamparo com sua partida, evidenciado pela sua
busca pelas nos rostos das pessoas de modo inconsciente. Ao deparar-se com a
realidade da perda, da inexistência do objeto amado, Helena renasceu de sua posição
fetal de choro. E como uma criança em aprendizado da vida, começou a despertar para
um mundo novo, aparentemente sem a sombra do objeto. Porém, tal objeto perdido tinha
um significado de amor, proteção, amparo, e identificação muito fortes. Helena, após o
episódio de enfrentamento, começou a relatar extremo vazio interior, perda de interesse
pelas coisas, sensação extrema de desamparo, e intolerância com a mãe. Estes relatos
persistiram nas semanas seguintes, até que ocorreram mais problemas no trabalho.
Helena relatava intensa fadiga e o desenvolvimento dos sintomas psicossomáticos
(diarreias, sudorese, mãos frias, aceleração dos batimentos cardíacos) todas as vezes
que se dirigia ao trabalho. Sentia-se humilhada e desprotegida. Sua autoestima baixou
muito, se descuidando com o próprio corpo. Anedonia e apatia tomaram conta de seus
sentimentos. Em um dado momento, a situação após uma discussão com seu chefe lhe
fora tão insuportável que tomara uma quantidade maior de alprazolam (primeira
medicação) ao chegar a casa, necessitando de auxilio emergencial para os efeitos. Disse
à época que “não queria morrer, apenas não existir em tais circunstancias”.
De acordo com as mudanças subsequentes no quadro de Helena, as
características da melancolia tornaram-se mais evidentes. A identificação de Helena com
o pai era muito intensa, evidenciada pelo desamparo sentido. Em alguns momentos
relatou que um ‘vazio interior’ dificultava tomar decisões; sentia-se sem um tapete por
debaixo dos pés. Sua autoestima foi baixando, seu olhar para o mundo perdia o
interesse. Não sabia o que queria. Por outro lado, relatava ódio sentido por ter de ficar
com “aquela mulher”, referindo-se a sua mãe. Perguntava-se porque Deus o tirara de si.
O que tinha feito para merecer tal castigo. Tais afirmações encontraram eco na definição
de melancolia, quanto a auto-censura e auto-punição, bem como dificuldade de
integração do Eu sem o objeto perdido, sendo insuportável a ponto de não ver mais
motivos nem meios para existir.
Após este evento, o psiquiatra chamou a atenção de Helena para que ela
indicasse um cuidador. Alguém que zelasse pela ministração dos remédios, para que
nova overdose fosse evitada. Porém, Helena morava sozinha com o filho, que em nada
33
desconfiava, e tinha constantes visitas da mãe, a quem não aconselhava contar devido
aos seus problemas de saúde e ao impacto emocional que causaria, gerando um apego
que para Helena seria insuportável, dada ainda as elaborações quanto ao luto do pai.
Desta forma, sem ter muita opção, ambos foram informados.
A proposta deste trabalho é destacar a necessidade de amparo e acolhimento ao
paciente com depressão, bem como orientar o cuidador escolhido. Dispensar a um filho
adolescente os significados de tal patologia e incumbí-lo de ajuda, desencadeou neste
grande preocupação e certo grau de incompreensão devido a incompatibilidade da
imagem pessoal da mãe e o que ele entendia como uma pessoa deprimida. Sua atitude
foi de vigilância extrema, evitando deixa-la sozinha quando ia a escola, recorrendo a avó
para ajudar. Esta recebeu a informação de forma curiosa, acreditando ser uma coisa
momentânea, pois para ela “Helena sempre fora meio preguiçosa e devagar para lidar
com os problemas da vida. Isso logo passa”.
Com a autorização de Helena, sua mãe e seu filho foram convidados a uma
sessão em família, de modo a prestar esclarecimentos quanto a depressão, desfazer
preconceitos e abrir espaço para escuta de todos os acompanhantes diretos. Após este
momento Helena pode sentir-se mais amparada e auxiliada na luta contra a doença.
Numa outra sessão, tembém autorizada por Helena, duas de suas amigs foram
convidadas a colaborar como a terapêutica de Helena, de modo a envolve-la em
atividades antes apreciada, procurar desenvolver novas atividades, sempre promovendo
motivação e circunstancias onde ela se perceba capaz e confiante. Ambas concordaram
e os resultados foram bastante positivos no sentido de que Helena percebeu-se não
sozinha, que havia algo mais para fazer nesta vida (dedicou-se graças ao incentivo de
uam das amigas a um curso de línguas, sonho antigo), e os sintomas de anedonia e
apatia diminuíram consideravelmente.
Mesmo com resultados positivos quanto a saída do que podemos chamar de crise
do quadro depressivo, Helena continua em psicoterapia, em busca de auto-conhecimento
para “lidar com as próximas dificuldades da vida”, frase dela.
Acompanhar um paciente com depressão requer paciência, boa escuta, e atitude
acolhedora. Com estas atitudes o cuidador pode adentrar o universo do deprimido
compreendendo seus momentos de desanimo e apatia oferecendo-lhe acolhimento. Eis
algumas medidas que auxiliam na terapêutica da depressão:
• Poderá incentivá-lo em tarefas antes consideradas prazerosas, procurando
valorizar de forma sincera sua produção.
34
• Incentivar a escrita de uma espécie de diário nos momentos em que se sentir
apático, de forma que o próprio paciente posteriormente e particularmente possa
avaliar sua progressão ou recaídas, uma forma autoanálise colaborativa a
psicoterapia.
• Deverá posicionar-se quanto ao oferecimento da alimentação adequada nos
horários certos, pois a depressão altera o mecanismo da fome. Muitos deprimidos
relatam não sentir fome, e com isso comem “qualquer coisa” quando lembram.
Desta forma problemas de subnutrição podem ocorrer.
• O acompanhamento e incentivo a atividades físicas, como uma caminhada, um
passeio ao gosto do paciente, costumam melhorar o ânimo e a disposição.
• Incentivar aos amigos e parentes queridos do paciente a que o visitem, orientando-
lhes a compreender seu estado como uma doença, evitando expressão de
preconceitos e incentivos desastrosos.
• Orientar aos visitantes a trazer a lembrança e incentivar quanto às suas
habilidades pessoais (lembrar-lhe, por exemplo, de como exercia bem uma tarefa
e situações que envolvam esta verdade).
Aqui foram repassadas algumas sugestões que foram dadas ao filho e à mãe de
Helena, assim como duas de suas amigas. O auxilio destas pessoas em torno de Helena
tem produzido resultados bastantes positivos. Houve melhoras no estado de apatia, de
auto-confiança e na sensação de desamparo por ela mencionados. Cabe aqui ressaltar
que não há um prazo estabelecido para a cura do paciente com depressão. Isto é
verificado quando os medicamentos não são mais necessários e à medida que
demonstra lidar com a vida de forma consciente e equilibrada à sua realidade. Se a cura
advém da eliminação da terapia medicamentosa ou do equilíbrio psíquico alcançado pelo
paciente, ainda não sabemos. Ainda há estudos quanto a isto. De fato, o que se pode
afirmar é que há uma interligação psicossomática originária no quadro de depressão. E
muito mais que fatores externos, de acordo com a experiência subjetiva do paciente,
possam desencadear sintomas relacionados.
35
CONCLUSÃO
Diante das estatísticas anunciadas mundialmente acerca da Depressão como mal
do século, faz-se necessário amplo debate sobre as melhores formas de abordá-la em
suas causas, uma vez que os sintomas vêm sendo combatidos pela indústria
farmacêutica. A situação de uma sociedade ocidental capitalista vê na depressão uma
grande ameaça ao consumo. Uma pessoa deprimida não está inclinada ao prazer do
consumo. Numa sociedade onde o homem também é visto como mercadoria, ou seja,
como peça de uma engrenagem de produção, a depressão caracteriza-se como defeito
nesta peça. O crescimento nas solicitações de auxilio aos programas de seguridade a
saúde vem sendo noticiados a tempos. Se antes, séculos atrás, após desconsiderada
possessão demoníaca, a depressão era apenas considerada uma situação atrelada a
uma perda, e que portanto nada havia a fazer, ou ainda associada a um estado
contemplativo útil a sociedade na produção de algum saber, com os avanços da medicina
no século XIX e a formulação da teoria psicanalítica, a depressão passou a ser
considerada uma patologia, portanto necessária investigação de suas causas.
Esta investigação das causas não coloca a medicina e seus estudos laboratoriais
como únicos nesta discussão. A subjetividade do sujeito deve também ser considerada.
Remédios apenas não curam, pois que não se trata de uma ‘lubrificação na engrenagem
chamada cérebro’. Existe um sujeito que pensa, sente e vive dentro desta máquina
chamada corpo. Fatores externos ao interpretados por este sujeito, que por sua vez
utiliza-se desde corpo para expressar tal interpretação, quer liberadamente (adrenalina
em meio ao perigo), quer repreensivamente (sintomas inexplicáveis para a medicina). A
psicossomática é a expressão desta relação entre sujeito e corpo. A psicanálise aponta
que nossa estrutura psíquica rege nosso corpo, onde este é o instrumento de expressão
da dinâmica inconsciente entre as pulsões de vida e de morte.
Nas relações de trabalho, muitos trabalhadores vem perdendo o sentido de sua
funcionalidade quando sentem-se inadequados ou incapazes quanto as demandas
exigidas. Surgem um sentimento de menos-valia, que ao encontrar eco em instancias
interiores, levam a um estado depressivo.
36
Situações familiares envolvendo perdas ou morte onde não se encontra espaço
para expressão de acordo com estas instancias psíquicas. Represados tais sentimentos
aguardam muitas vezes eventos externos que os libertem, quer pelo uso da palavra, quer
pelos sintomas. De qualquer forma, o corpo procura equilíbrio e harmonia, e segundo a
psicanalise, os sintomas são uma forma de promover este retorno a saúde, uma vez que
dão vazão àquilo que encontra-se reprimido. Os sintomas da depressão não são uma
exceção. Eles apontam para uma tentativa de vida, de sobrevivência, que em muitas
vezes significa fuga das circunstancias existentes. E se queremos que tal deprimido viva
nas circunstâncias existentes, devemos abordá-lo segundo sua ótica, de forma auxiliá-lo
a encontrar aquilo que o exclui, que o faz sentir-se excluído, inadequado.
O exemplo de psicoterapia acompanhada de medicação no caso Helena constitui-
se num exemplo do que pode ser feito quando abordagem da depressão inclui casos
moderados e severos. Onde a apatia e anedonia configuram-se como agentes perigosos
indutores do ato suicida. O envolvimento daqueles mais próximos produzem resultados
positivos quando devidamente acompanhados por um psicólogo. Este tem a missão de
orientar os envolvidos de modo a contribuir com a psicoterapia do paciente.
"O suicídio faz com que os amigos e familiares se sintam seus assassinos".
(Vicent Van Gogh)
37
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40
ANEXOS
ANEXO 1 - pessoas com diagnóstico médico de depressão
http://portalgeo.rio.rj.gov.br/indice – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios – PNAD/IBGE
SAÙDE. Pessoas com diagnóstico médico de depressão em valores absolutos e
relativos - Regiões Metropolitanas - 2003 (Gráfico Nº 1551)
A rm azém de D ados
Depres s ão, d iagnós tic o (1)
Tota l S im Não
Belém 1 915 439 40 093 1 875 346 ...
Forta lez a 3 229 224 82 910 3 146 314 ...
Rec if e 3 513 826 137 760 3 376 066 ...
Salv ador 3 240 346 65 243 3 175 103 ...
Belo Hor iz onte 4 700 646 278 830 4 421 816 X
R i o d e J a ne i r o 1 1 3 4 9 0 0 9 4 1 3 5 7 9 1 0 9 3 5 4 3 0 . . .
São Paulo 18 907 155 741 685 18 165 470 ...
Cur itiba 3 006 691 202 567 2 804 124 ...
Porto A legre 3 926 501 268 812 3 657 689 ...
F onte : Sup lem ento Es pec ia l de Saúde. Pes qu is a N ac iona l por Am os t ra de D om ic í lios - PN AD , 2003.
N ota :
Gráf ic o
F onte : Sup lem ento Es pec ia l de Saúde. Pes qu is a N ac iona l por Am os t ra de D om ic í lios - PN AD , 2003.
T a b e la 1 5 5 1 - P es soas c om diagnós tic o m édic o de depres s ão em valores absolutos e re lat ivos - Regiões M etropolitanas - 2003
Regiões Metropolitanas Sem
dec laraç ão
1 - Ex is t ênc ia de depres s ão, já d iagnos t ic ada ou, de m odo gera l, já perc eb ida. Entende-s e por depres s ão o prob lem a de d im inu iç ão da a t iv idade por c aus a de es tado em oc iona l, apa t ia , abat im en to m o ra l c om le targ ia , f a lt a de c oragem ou ân im o para en f renta r a v ida .
Pessoas com diagnóstico médico de depressão em valores absolutos e relativos - Regiões Metropolitanas - 2003
0
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
700.000
800.000
0%
1%
2%
3%
4%
5%
6%
7%
8%
Absoluto
Relativo
Absoluto 268 812 202 567 278 830 741 685 137 760 413 579 82 910 40 093 65 243
Relativo 6,8% 6,7% 5,9% 3,9% 3,9% 3,6% 2,6% 2,1% 2,0%
Porto Alegre
Curitiba Belo Horizonte
São Paulo Recife Rio de Janeiro
Fortaleza Belém Salvador
41
ANEXO 2 – Entrevista com Eric Kandel - Psiquiatra
ABMP – Associação Brasileira de Medicina psicossomatica
PRÊMIO NOBEL FALA SOBRE A DIFICULDADE DE FAZER DIAGNÓSTICOS
OBJETIVOS DE TRANSTORNOS MENTAIS
(Reportagem de RAFAEL GARCIA – WASHINGTON)
Psiquiatria está em crise por falta de provas científicas
A psiquiatria está em crise, porque falta comprovação biológica para seus
conceitos. Essa é a opinião do neurobiólogo Eric Kandel, 81,ganhador do Prêmio Nobel
de Medicina de 2000. O cientista, premiado por seus estudos com memória, desembarca
nesta semana no Rio de Janeiro para participar do Congresso Brasileiro de Psiquiatria.
Em entrevista à Folha, Kandel condenou o uso de remédios como a ritalina (droga
para tratar deficit de atenção) para melhorar a concentração de pessoas saudáveis. Ele
falou também sobre a validade da psicanálise, que pode cobrir lacunas da psiquiatria,
caso adote padrões científicos mais rígidos. O pesquisador comenta também sobre sua
nova invenção: um camundongo "esquizofrênico" para testar medicamentos.
Folha - Psiquiatras estão debatendo mudanças no manual de diagnósticos de transtornos
mentais. Muitos acham que o livro não pode tentar ser muito objetivo. O que o sr. acha?
Eric Kandel - A preocupação com a objetividade foi introduzida há uns 20 anos quando
houve uma tentativa de validar os critérios do manual para descrever transtornos. Isso foi
extremamente importante para que diferentes psiquiatras pudessem dar o mesmo
diagnóstico a um mesmo paciente. Mas não houve muitos avanços desde então. Uma
das razões para isso é que os psiquiatras não têm os chamados "marcadores biológicos"
à disposição. Se você diagnostica diabetes ou hipertensão, pode usar medições
objetivas, independentes. Não precisa se basear apenas naquilo que o paciente lhe
conta. Nós, psiquiatras, ainda temos que recorrer à história do paciente. Precisamos
desesperadamente de bons marcadores biológicos. Sem isso, podemos publicar quantas
edições quisermos do manual, que não chegaremos a lugar nenhum. A esquizofrenia
afeta capacidades mentais humanas. Como é possível usar um camundongo para
42 estudá-la? A esquizofrenia tem três classes de sintomas. Há os
"positivos"- ilusões, alucinações e loucura -, os "negativos" -reclusão, isolamento social e
falta de motivação- e os "cognitivos" –a dificuldade de organizar as ideias e trabalhar. É
difícil criar um modelo para estudar os sintomas positivos em cobaias, mas podemos
modelar os cognitivos e negativos. Criamos um camundongo cujo corpo estriado
[estrutura no núcleo do cérebro] produz em excesso uma proteína que os neurônios usam
para captar o neurotransmissor dopamina. Essa é uma lesão genética que ocorre em
parte dos pacientes com esquizofrenia. Depois, encontramos um medicamento que
supera essa deficiência e a restaura ao normal. Achamos que isso poderá ser útil para
tratamentos de depressão também.
Folha - O que o sr. acha de usar drogas, como a ritalina (receitada para deficit de
atenção) para "turbinar" a inteligência, aumentando a concentração?
Eric - Não acho que seja boa ideia para pessoas saudáveis. Esses remédios devem ser
prescritos para pessoas com problemas cognitivos. Essa drogas não devem nunca ser
vendidas sem receita. Não são vitaminas.
Folha - O sr. vem falar no Brasil, onde a psicanálise é relativamente bem aceita. Nos
EUA, não é assim. Que papel o sr. vê para as ideias de Freud hoje?
Eric - Não vejo problema em ler Freud da mesma forma que lemos Nietzche, Dostoiévski
ou Shakespeare, grandes pensadores que escreveram sobre a mente humana. Mas se
você quer que a psicanálise seja uma terapia eficaz, é preciso ter estudos que mostrem
resultado. É necessário explicar o que ocorre no cérebro. Isso seria trabalhoso, mas é
precisa ser feito. O maior problema não é com Freud, mas com aqueles que o
sucederam. Eles não desenvolveram uma tradição científica na psicanálise. O
treinamento para psicanálise deveria mudar, de forma que uma parte das pessoas
formadas se dedicasse exclusivamente à pesquisa.
Folha - Não existe hoje uma aceitação maior de que a mente descrita por Freud possui
estruturas correlatas no cérebro?
Eroc - Sim. O córtex pré-frontal está muito relacionado à moralidade e ao julgamento de
valores, por exemplo. Uma lesão nessa região do cérebro pode tornar uma pessoa
amoral, um psicopata. Mas acima disso, a ideia geral de Freud sobre processos mentais
inconscientes é muito importante para nossas vidas. Boa parte de nossa atividade mental
é inconsciente. Isso acabou se mostrando uma verdade universal.
43 Folha - O sr. passou a infância em Viena, quando Freud ainda vivia lá,
sofrendo também a perseguição nazista. Isso o influenciou em sua maior aceitação à
psicanálise?
Eric - Isso teve efeitos positivos e negativos em mim. De um lado, parte de minha vida era
superar o transtorno do estresse pós-traumático, porque foi uma experiência terrível. Mas
eu fui influenciado pela cultura de Viena, tinha muitos amigos cujos pais eram
psicanalistas, e tinha interesse nisso. Eu só desisti da psicanálise quando me apaixonei
pela neurobiologia. E eu me interessei pelos mecanismos de armazenamento de
memória, porque é um assunto central da psicanálise.
RAIO-X
ERIC KANDEL
NASCIMENTO
7 de novembro de 1929 em Viena
FORMAÇÃO
Medicina na Universidade de Nova York, com residência em psiquiatria
NOBEL
Ganhou o prêmio na categoria de medicina ou
fisiologia pelo estudo do armazenamento de memórias em neurônios
Disponivel em: http://www.psicossomatica.org.br/blog/ler.asp?cod=61
Acesso em 22/11/2011.
44
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
PENSAMENTO 05
RESUMO 06
METODOLOGIA 07
SUMÁRIO 08
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - BREVE HISTÓRIA DA DEPRESSÃO 12
1.1 - Antiguidade 12
1.2 – Idade média 14
1.3 – Do nascimento da psiquiatria aos dias de hoje 16
CAPÍTULO II - MAS O QUE É DEPRESSÃO? 19
2.1 – Para a Psiquiatria 19
2.2 – Para a psicologia 22
CAPÍTULO III - APATIA E SUICÍDIO 27
3.1 – Sentimento de Apatia 27
3.2 – Ato suicida 28
3.3 - Senso comum e preconceito 28
CAPÍTULO IV - ACOMPANHAMENTO FAMILIAR 30
4.1 – Apresentação de um caso 30
4.2 – Ações terapêuticas 31
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37
ANEXOS 41
INDICE 45
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