UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA – GEA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
Influências da pavimentação de rodovias em índices de atropelamento de fauna:
o caso da rodovia GO-239 em Alto Paraíso de Goiás.
Tatiana Rolim Soares Ribeiro
Brasília, DF 2016
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA – GEA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
Influências da pavimentação de rodovias em índices de atropelamento de fauna:
o caso da rodovia GO-239 em Alto Paraíso de Goiás.
Tatiana Rolim Soares Ribeiro
Dissertação de mestrado submetida ao Departamento de Geografia da Universidade
de Brasília, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de mestre
em Geografia, Área de Concentração Análise de Sistemas Naturais.
Aprovado por:
_________________________________________
Profª. Drª. Ruth Elias de Paula Laranja
(Orientadora) UNB
_________________________________________
Profª. Drª. Adriani Hass
(Examinadora) UFMA
_________________________________________
Profª. Drª. Vivian Silva Braz
(Examinadora externa) Centro Universitário de Anápolis/Unievangélica
Brasília, DF
FICHA CATALOGRÁFICA
CESSÃO DE DIREITOS
AUTORIA: Tatiana Rolim Soares Ribeiro
TÍTULO: Influências da pavimentação de rodovias em índices de atropelamentos de
fauna: o caso da rodovia GO-239 em Alto Paraíso de Goiás.
GRAU – ANO: Mestrado em Geografia – 2017.
Qualquer parte dessa dissertação pode ser reproduzida, desde que citada à fonte.
RIBEIRO, Tatiana Rolim Soares
Influências da pavimentação de rodovias em índices de atropelamentos de
fauna: o caso da rodovia GO-239 em Alto Paraíso de Goiás.
Distrito Federal, Brasília 20 de fevereiro de 2017. X p. (PPGGEA - IH - UnB,
Mestrado em Geografia, 2017)
Dissertação (Mestrado). Universidade de Brasília. Departamento de Geografia.
Programa de Pós-graduação em Geografia.
/IH/PPGGEA/UnB
I. Ecologia de Estradas. II. Fauna Silvestre Atropelada. III. Impacto de
Rodovias. IV. Unidades de Conservação. V. Cerrado Brasileiro.
EPÍGRAFE
[…] The next moment all the rabbits leaped up in panic…
Hazel looked down at the road in astonishment.
For a moment he thought that he was looking at another
river – black, smooth and straight between its banks…
“But that's not natural,” he said sniffing the strange,
strong smells of tar and oil. “What is it? How did it come
here?” “It's a man thing,” said Bigwig. “They put that stuff
there and then the hrududil [cars] run on it – faster than we
can...”
“It's dangerous, then? They can catch us?” “No, that's
what's so odd. They don't take any notice of us at all… As
a matter of fact, I don't think they are alive at all.
But I must admit I can't altogether make it out.”
- Richard Addams, Wathership Down, 1972
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer à minha orientadora, Profª. Drª. Ruth Laranja, que
durante a elaboração deste trabalho, se fez presente e transformou todas as
dificuldades encontradas em soluções. Agradeço à Professora Adriani Hass, minha
co-orientadora, pela confiança e por me incentivar a estudar rodovias. Aos voluntários
Ana Cristina, Ana Danielle, Guanair Júnior, Hugo Garcês, Lucas Lira e Yanka Bastos
pela paciência e prestatividade no auxílio em campo.
Ao Thiago Furtado pelo auxílio na identificação dos animais encontrados. À
Professora Dra. Vivian Braz, pela confiança, sugestões e conselhos valiosos.
Ao meu amado pai, Ademir Ribeiro, que apesar das adversidades, se permitiu
acreditar em mim e me ensinou a importância do estudo, do esforço e da dedicação.
À minha querida mãe, Mariuska Nogueira, e às minhas amadas irmãs, Maya
Vallejo e Victória Vallejo, que mesmo distante, me deram apoio e forças, quando achei
que estas já tinham se esgotado.
Ao Rodrigo Alves, meu amigo e companheiro, por ser amoroso, compreensivo,
presente e me acompanhar nesta jornada sem olhar para trás.
Ao meu querido avô, Ari Nunes Nogueira, de quem sinto tantas saudades.
Aos meus tão amados irmãos, Arthur Ribeiro e Clarisse Ribeiro, pela paciência
e por compreenderem a minha ausência durante a elaboração do trabalho.
Aos meus amigos, que entenderam a minha ausência e me deram o apoio que
precisava.
À Amanda Dorresteijn, pela amizade. Por ser minha confidente e me fazer sorrir
em momentos difíceis.
i
LISTA DE FIGURAS
Figuras Descrição Páginas
1 Localização do trecho da rodovia GO-239.
30
2 Trecho da rodovia GO-239 onde ocorreram as campanhas
de amostragem.
32
3 Recorte e delimitação da área de estudo.
34
4 Classificação da área delimitada.
35
5 Análise K Ripley 2D para as classes de vertebrados
amostradas.
48
6 Hotspots de atropelamentos identificados na rodovia GO-239
nos dois diferentes períodos de coleta realizados.
51
7 Classificação da paisagem.
54
8 Registros de atropelamentos. 58
ii
LISTA DE TABELAS
Tabelas Descrição Páginas
I Relação de espécies e indivíduos atropelados na rodovia
GO-239 entre os anos de 2007 e 2008.
40
II Relação de espécies e indivíduos atropelados na rodovia
GO-239 entre os anos de 2007 e 2008.
42
III Frequências de atropelamentos (N/Km) para registros
obtidos antes e após as obras na rodovia GO-239.
45
IV Relação de número de fragmentos (N) e porcentagem da
área delimitada (%) para as parcelas que segmentam a área
de estudo.
56
V Resultados do teste U de Mann-Whitney para cada e para
todas as classes amostradas.
59
VI Coeficientes de regressão padronizados e as respectivas
variáveis explicativas para as informações levantadas antes
e após as obras na rodovia.
63
iii
LISTA DE ABREVIATURAS
CNT Confederação Nacional do Transporte
DF Distrito Federal
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMBIO Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
UC Unidade de Conservação
PNCV Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
CTB Código de Trânsito Brasileiro
3
SUMÁRIO
Lista de Figuras ................................................................................................
I
Lista de Tabelas .................................................................................................. II
Lista de Abreviaturas .......................................................................................... III
1. Resumo ………………………...……..………………….……………..…………. 06
2. Abstract ……..….....……...………...….……..…....……....………..……………. 07
3. Introdução ....................................................................................................... 08
3.1. Justificativa: Turismo ecológico e investimentos em infraestrutura rodoviária na Chapada dos Veadeiros – GO …………..…...…..………….
10
3.2. Objetivo Geral ................................................................................... 14
3.3. Objetivos Específicos ........................................................................ 14
3.4. Pergunta de Pesquisa ....................................................................... 15
4. Revisão Teórica ..........................................................................................… 15
4.1. Os Riscos das Rodovias para a Biodiversidade ............................... 15
4.2. Fauna Atropelada: histórico de estudos e avanço do conhecimento
sobre o tema ............................................................................................ 19
4.3. Conceitos Relevantes ....................................................................... 21
4.4. O papel da biogeografia no estudo de animais silvestres
atropelados .............................................................................................. 24
4.5. A fauna atropelada no Brasil ............................................................. 26
4.6. A fauna atropelada em diferentes superfícies ................................... 29
5. Passos Metodológicos .................................................................................... 30
5.1. Área de Estudo ................................................................................. 30
5.2. Métodos de coleta ............................................................................. 32
5.3. Análise das características espaciais................................................ 33
5.4. Análise dos dados.............................................................................. 35
5.4.1. Frequência de atropelamentos ............................................ 35
4
5.4.2. Análise da distribuição de eventos em relação aos dados auferidos …………..…….………….………………….………..……..
36
5.4.3. Distribuição espacial de eventos.......……..…………………. 36
5.4.4. Relação entre os registros de atropelamentos e a paisagem que compõe as margens da rodovia ………….………..
37
5.4.5. Discussão sobre as medidas a serem tomadas para a mitigação dos impactos ..………...…..……..….…………………….
38
5.5. Organograma ................................................................…….. 39
6. Resultados e Discussão ................................................................................. 39
6.1. Índices de atropelamentos de fauna.............................................…. 39
6.1.1. Relação de espécies encontradas.............................…... 39
6.1.2. Frequência de atropelamentos.............................………. 45
6.2. Distribuição espacial de eventos ..………………..…...………………. 47
6.2.1. Hotspots de atropelamentos ……….…....…..………….... 50
6.3. Classificação da paisagem que compõe as margens da rodovia …. 53
6.4. Análise dos dados ..…...…………...…...……….……..……………….. 57
6.4.1. Diferenças nas amostragens realizadas antes e após as obras na rodovia ..…………..……...….………….………………. 57
6.4.2. Relações entre os pontos registrados e os atributos da paisagem adjacente aos hotspots de atropelamentos identificados ……………..……………..…..…………....…….…... 60
6.5. Possíveis influências da Rodovia GO-239 à diversidade de espécies ……..…...….…..………….……………....……..…………..……... 64
7. Possíveis alternativas para a mitigação dos impactos …………………..……. 71
7.1. Passagens de Fauna ……..….……………………………....….……… 72
7.2. Cercamento alternado ..….…....……..…………………………………. 74
7.3. Placas e sinalização ……………………...………....………………….. 76
7.4. Redutores de velocidade …..…...……...……..….………..…………... 77
7.5. Rodovia GO-239: o cenário atual e a medida indicada para a redução dos impactos observados ..……….……………….....…………… 80
8. Considerações Finais ..…….……...…...………………….……..………………. 83
9. Bibliografia ..….…………………………….……….……………………………... 86
5
10. Apêndices ..…………….……....…….………...……..………………………….. 98
6
1. RESUMO
Rodovias são empreendimentos lineares de grande importância econômica em nações emergentes. No Brasil, país mundialmente conhecido pela sua megadiversidade de espécies, é comum a expansão de autoestradas sem o devido planejamento. É importante, portanto, compreender quais os efeitos das mudanças no pavimento de estradas para fauna silvestre em áreas especialmente protegidas. O presente estudo analisou dados auferidos antes e após a pavimentação da rodovia GO-239 no trecho que liga a cidade de Alto Paraíso de Goiás ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Os resultados evidenciam um aumento nas frequências de atropelamentos quando comparados os dois períodos trabalhados (0,029 antes e 0,043 após a pavimentação). Ademais, apenas na porção dos dados que foi colhida após a conclusão das obras, foram identificadas aglomerações de atropelamentos nas proximidades da cidade. Os hotspots de atropelamentos de anfíbios e de todas as classes de vertebrados amostradas entre os anos de 2015 e 2016 foram positivamente relacionadas ao número de fragmentos urbanos (0,874 ± 0,35; 0,640 ± 0,93), relação não observada nas amostras obtidas antes das intervenções na via. Os dados levantados indicam que a fauna habitante das áreas próximas à autopista está suscetível aos impactos negativos da perda na conectividade de manchas de vegetação natural (efeito de barreira) e à redução na qualidade dos hábitats locais, possivelmente, devido ao aumento na velocidade empregada por condutores de veículos após o asfaltamento do trecho viário. As alterações observadas nas distribuições de incidentes foram mais relacionadas às possíveis mudanças no comportamento de motoristas do que à modificação da superfície rodoviária. Propõe-se, de pronto, a instalação de redutores de velocidade, físicos ou eletrônicos, nos pontos críticos identificados e a realização de estudos que busquem avaliar a composição e a ecologia da fauna afetada pelo empreendimento. Mais adiante, indica-se a implementação e um sistema de proteção à fauna.
PALAVRAS-CHAVE: Ecologia de estradas; Fauna Silvestre Atropelada; Impacto de Rodovias; Unidades de Conservação; Cerrado Brasileiro.
7
2. ABSTRACT
Linear enterprises such as highways are of extreme economic value in emerging nations. In Brazil, a country worldly known by its megadiversity, roads expansion without considering the proper planning is a common issue. The comprehension of the effects of roads paving to the wild fauna in specially protected areas are, then, of great importance. This paper analyzes the measured data before and after the paving of highway GO-239 on the portion that connects the city of Alto Paraíso de Goiás to the Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. The results show an increase on roadkill rates when comparing both periods analyzed (0,029 before and 0,043 after the paving). Furthermore, agglomerations of roadkills near the city were identified when considering the fraction of the data measured after the paving. Anphibian and vertebrates roadkill hotspots sampled between 2015 and 2016 were positively related to the number of urban fragments (0,874 ± 0,35; 0,640 ± 0,93). Samples dated before the paving does not show the same pattern. The measured data indicates that fauna near the highway is more susceptible to the negative impact of connectivity loss of natural vegetation spots (Barrier Effect) and susceptible to the reduction on quality of local habitats. The changes observed on incident distribution were more related to changes on drivers behaviour than to modification on road's surface. Its suggested the implementation of speed reducers (physical or eletronic ones) on the critical points identified and further research on composition and ecology of the fauna affected by the pavement. A fauna protection system is also recommended to be implemented.
KEYWORDS: Road ecology; Wildlife roadkills; Impacts of roads; Protected Areas; Brazilian's Cerrado.
8
3. INTRODUÇÃO
O início da utilização de veículos automotores para a locomoção é visto
como um marco na economia mundial. Os automóveis diminuíram drasticamente o
tempo e os esforços atrelados à locomoção, beneficiando não apenas a mobilidade
urbana, como também a acessibilidade, o transporte de produtos e mercadorias.
Dessa forma, as rodovias foram relacionadas ao crescimento econômico e social
de vários países, sendo, portanto, tomadas como estruturas necessárias ao
desenvolvimento. Hoje, grande parte do território mundial está encoberto por faixas
de rodagem de veículos (BISSONETE; ADAIR, 2008; VAN DER REE et al., 2011).
Apesar da importância econômica, as infraestruturas de transporte
rodoviário também alteram os ambientes naturais de diversas formas. Na
construção de uma rodovia, por exemplo, a supressão da vegetação e a
pavimentação alteram as características físicas do ambiente – como a intensidade
de luz na área afetada e a capacidade de infiltração de água no solo. A depender
da fitofisionomia dominante e da capacidade de adaptação da biota local, estas
perturbações podem ser suficientes para afetar a composição e a distribuição de
organismos nas proximidades da via (COFFIN, 2007; DA ROSA, 2012; NELBOLD
et al., 2015).
Além das influências nas características do ambiente que as cercam, as
rodovias representam também um risco aos animais que passam a habitar as áreas
próximas a esses empreendimentos lineares. Para as espécies que não foram
afugentadas ou impactadas pelas alterações das regiões influenciadas pelas faixas
de rodagem, principalmente as com áreas de vida que vão além da fragmentação
gerada pela construção (BISSONETE; ADAIR, 2008), os efeitos negativos diretos
incluem a colisão com veículos (BAGATINI, 2006; PRADO; FERREIRA;
GUIMARÃES, 2006; CUNHA; MOREIRA; SILVA, 2010). Estes incidentes são o
resultado de um conflito característico de estradas e rodovias: a exposição de
ambientes autóctones e da vida selvagem ao fluxo de automóveis e à presença
humana.
9
Quando nos referimos ao Brasil, um país megadiverso cujo principal
meio de transporte utilizado é o rodoviário (VASCONCELOS, 2000), as
interferências de rodovias em ambiência nativa devem ser bem analisadas.
O bioma Cerrado destaca-se por ser um dos principais conjuntos
ecossistêmicos do Brasil (FRANÇOSO et al., 2014; HUNKE et al.,2015). É o
segundo maior bioma do país, ocupando cerca de 21% de sua extensão territorial
(KLINK; MACHADO, 2005). O avanço do agronegócio e a expansão urbana
desordenada, porém, modificaram suas áreas naturais a tal ponto que, hoje, correm
o risco de desaparecer. Se nada for feito a respeito, previsão é de que o bioma seja
extinto em 13 anos (MACHADO, 2005; MARRIS, 2005).
A criação de áreas protegidas é uma das principais estratégias adotadas
para a conservação de ambientes naturais no Brasil (BRASIL, 1981; BRASIL, 2000).
Dentre as 320 áreas federais delimitadas com o intuito de proteger e garantir o
funcionamento de ecossistemas nativos, 55 estão inseridas no Cerrado brasileiro
(ICMBIO, 2016). Todavia, a expansão urbana e o escoamento de produtos em vias
rodoviárias fizeram com que grande parte dessas áreas ficassem circunscritas a
faixas de rodagem de veículos automotores (BAGATINI, 2006; CÁCERES et al.,
2010; PRADO; FERREIRA; GUIMARÃES, 2006). Portanto, apesar de ser uma
estratégia que já demonstra efetividade, a demarcação com o objetivo de proteger
espaços nativos não impede a exposição da fauna e da flora silvestres aos impactos
das rodovias.
Segundo os dados do Centro Brasileiro de Ecologia de Estradas (CBEE;
2016), cerca de 475 milhões de animais são atropelados nas estradas brasileiras a
cada ano. Tal dado é preocupante, principalmente no que diz respeito aos
ambientes naturais resguardados.
Áreas autóctones com importantes conjuntos ecossistêmicos, como o
Cerrado, e que são influenciadas pelo estabelecimento de estradas ou rodovias,
ainda que protegidas, devem ser monitoradas de forma a conhecer as variáveis do
10
impacto relativo à perda de espécimes representantes da fauna silvestre. Os dados
obtidos devem ser analisados e utilizados na mitigação dos danos para garantir que
tais ambientes sejam minimamente afetados por este tipo de empreendimento, tão
comum no território brasileiro.
3.1. Justificativa: Turismo ecológico e investimentos em infraestrutura
rodoviária na Chapada dos Veadeiros – GO
Localizado no centro do Brasil, o Goiás é um dos estados que
apresentam em suas paisagens naturais as características do Cerrado. O
histórico de colonização e desenvolvimento do estado está diretamente
relacionado ao uso dos recursos ambientais que compõem o bioma. O solo,
o clima e a hidrografia do planalto goiano possibilitaram o desenvolvimento de
atividades produtivas como, por exemplo, a mineração, as produções agrícola
e pecuária, que, ainda hoje, são relevantes para a economia do estado e do
país (IBGE, 2011).
No centro de Goiás, o Distrito Federal sedia Brasília: a capital do Brasil.
Trata-se de uma metrópole com importância não apenas econômica e social,
mas também política, cujas influências ultrapassam as fronteiras do Distrito
Federal e chegam a todos os estados do país (QUEIROZ, 2006). Tal
importância fez com que, no subsistema rodoviário federal brasileiro, fossem
construídas vias pavimentadas para ligar Brasília aos demais centros urbanos
do país, expondo novas áreas e viabilizando a ocupação das regiões que
margeiam o DF.
Os residentes da capital federal e de polos urbanos goianos costumam
optar por práticas de lazer em cidades próximas com grande apelo turístico.
Nos limites goianos, recebem destaque os municípios que compõem a
microrregião da Chapada dos Veadeiros. A área concentra as maiores
riquezas naturais ainda conservadas do Cerrado brasileiro (ICMBIO, 2009) e
11
é composta por oito municípios. Dentre esses, Alto Paraíso de Goiás e
Cavalcante são os que recebem a maior afluência de atividades turísticas da
região (ICMBIO, 2009). A prática do turismo proporcionou aos entes
federativos a possibilidade de se desenvolverem economicamente. Porém,
deslocamentos de visitantes intensificam o fluxo de veículos nas vias que
cortam as áreas de grande diversidade biológica como os fragmentos que
compõem os remanescentes do Cerrado, o que pode influenciar a frequência
de atropelamentos de animais silvestres e afetar a permeabilidade do
ambiente em questão.
As unidades de conservação (UC) da chapada sofrem influência direta
da movimentação de veículos nas rodovias próximas (BRAZ; FRANÇA, 2016).
Nessas vias, podem ocorrer colisões entre veículos e os animais que
transitam entre as reservas. Portanto, o contato entre as áreas naturais
protegidas e as rodovias caracteriza um cenário de conflitos entre a
intensidade do fluxo de automotores e a travessia de animais silvestres por
entre os fragmentos remanescentes.
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros é um exemplo de área
autóctone protegida, exposta às influências de faixas de rodagem de veículos.
Ocorre que a principal via de acesso ao parque, a rodovia GO-239, passa por
uma vila formada por ex-garimpeiros – a Vila São Jorge. Desde a inauguração
do parque, em 1961, os habitantes da vila passaram a receber os visitantes,
oferecendo as estruturas turísticas de apoio à visitação (ICMBIO, 2015). Cabe
ressaltar que a região onde o parque se insere conta com cerca de 15
Reservas Particulares do Patrimônio Natural, três Parques Municipais, e uma
Área de Proteção Ambiental estadual (DE LIMA; FRANCO, 2014). As
unidades de conservação, dispõem de grande beleza cênica e riquezas
naturais que servem de atrativo aos turistas. O mosaico de UC por si só
demonstra a importância ecológica da região.
Como já citado acima, Alto Paraíso de Goiás e Cavalcante são os
12
municípios que recebem a maior concentração de turistas e a economia
desses municípios é voltada a essas atividades. Observa-se, assim, a
relevância da implantação de infraestruturas de transporte de boa qualidade,
que viabilizem o fluxo de veículos e atraiam novos visitantes à região.
Tendo em vista a concentração de atividades relacionadas ao turismo
na Chapada dos Veadeiros, estas podem ser tidas como um dos fatores que
levaram o estado de Goiás a investir em obras de infraestrutura rodoviária
(ICMBIO, 2009; SALGADO; VIANA; ARAGÃO, 2014). Em agosto de 2015, a
primeira etapa da obra de pavimentação e construção de ciclovia na GO-239
foi inaugurada no trecho de 36 quilômetros entre o município de Alto Paraíso
de Goiás e a vila São Jorge. Antes, o segmento da rodovia que dá acesso a
vila contava com um trecho de aproximadamente 36 quilômetros (cerca de 12
de via pavimentada e 24 quilômetros de estrada de terra). O projeto ainda
prevê a pavimentação de toda a via, dividindo a obra em duas etapas. A
primeira etapa, já concluída, cobriu o trecho entre Alto Paraíso de Goiás e a
vila São Jorge. A segunda etapa ainda será realizada e contará com a
pavimentação do trecho que liga a vila ao município de Colinas do Sul.
Os efeitos da pavimentação da rodovia já vinham sendo discutidos antes
mesmo do início das obras. Da Silva e Nunes (2006) avaliaram os efeitos
socioeconômicos da infraestrutura de transportes nas localidades turísticas,
em específico, a pavimentação da estrada GO-239 na vila de São Jorge. Os
impactos positivos encontrados pelos autores do estudo são indicados pelos
aspectos operacionais e, os negativos, pelas ocupações do solo influenciadas
pela implantação de novos serviços. Os autores destacaram a importância da
atividade de ecoturismo na região e sugeriram a implantação de planos e
projetos relacionados ao turismo na vila São Jorge.
Os índices de atropelamentos de fauna também foram estudados na
rodovia GO-239 antes do início das obras de pavimentação. Braz e França
(2016) relacionaram as características da paisagem que compunha as
13
margens da rodovia com os grupos de vertebrados atropelados. Anfíbios
foram relacionados a áreas de floresta nas margens da rodovia (matas de
galeria); aves foram relacionadas às áreas de pasto; mamíferos foram
relacionados às estradas não pavimentadas; e, répteis e pequenos mamíferos
foram relacionados às áreas abertas.
Sabe-se, porém, que as obras de pavimentação modificaram não
apenas as características da rodovia, como também o ambiente que a cerca.
Os mecanismos que influenciam os índices de atropelamento de fauna podem
também ter sofrido alterações com a variação do espaço.
Como já citado anteriormente, espécies endêmicas e com pequenas
áreas de vida são as mais suscetíveis aos efeitos da fragmentação (PRIMACK;
RODRIGUES, 2006), porém, animais cujas áreas de vida ultrapassam as
fronteiras artificialmente criadas pela diminuição e descaracterização de
hábitats e tolerantes às alterações do ambiente também estão expostos aos
riscos de colisão com veículos. Isto porque existe uma tendência a se
deslocarem por entre os fragmentos de vegetação natural – em busca de
alimentação, reprodução etc. - e, se as áreas modificadas forem cortadas por
rodovias, haverá na travessia, o risco de colisão com veículos (PRADO;
FERREIRA; GUIMARÃES, 2006). Além disso, a pavimentação do trecho de
terra da GO-239 proporcionou aos motoristas a possibilidade de transitarem
com maior velocidade, diminuindo assim, o tempo de resposta na ocorrência
de um encontro com um animal silvestre. O risco da presença de rodovias
nestes ambientes está também associado às barreiras formadas pela possível
intensificação no fluxo de veículos (DA ROSA, 2012).
Espera-se, portanto, que a taxa de atropelamentos de animais seja
influenciada pela proximidade de um fragmento extenso de vegetação natural
como o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e pelas características
dos remanescentes de vegetação que compõem a paisagem das margens da
via, como tamanho, fitofisionomia dominante, presença de corpos d'água, etc.
14
De posse das medições brutas de atropelamentos obtidas antes da
pavimentação da via e que foram disponibilizadas pelos pesquisadores que
levantaram os dados, o presente estudo buscará avaliar as influências da
recente pavimentação e das mudanças estruturais do trecho da rodovia GO-
239 nas frequências de vertebrados silvestres atropelados, com base na
comparação dos dados auferidos antes e depois das obras no trecho de cerca
de 36 quilômetros de via asfaltada que dá acesso aos portões principais do
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
3.2. Objetivo geral:
O presente trabalho tem como objetivo principal realizar o diagnóstico
de atropelamentos em um trecho da rodovia GO-239 que foi modificado por
obras de reestruturação e avaliar de que forma a pavimentação e a mudança
estrutural de estradas podem influenciar a frequência de colisões entre
veículos e a fauna silvestre do Cerrado.
3.3. Objetivos Específicos
1. Identificar os animais mortos encontrados ao longo do trecho da rodovia
GO-239, que dá acesso ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em
Goiás, antes e depois da pavimentação e das intervenções na infraestrutura
rodoviária;
2. Comparar os índices de atropelamentos antes e depois das obras na
GO-239;
3. Identificar quais foram os efeitos das mudanças estruturais da GO-239
nos atropelamentos de fauna silvestre e quais foram as influências para a fauna
que habita as imediações do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
15
3.4. Pergunta de pesquisa
Qual a influência da pavimentação e da alteração na infraestrutura de
estradas no índice de animais silvestres atropelados?
4. REVISÃO TEÓRICA
4.1. Os Riscos das Rodovias para a Biodiversidade
A construção de rodovias foi, durante anos, relacionada ao
desenvolvimento econômico e social de diversos países (BECKER, 1977).
Esta visão foi justificada pelos benefícios associados ao processo de
industrialização, à mobilidade urbana, à rapidez na exportação e importação
de produtos, à acessibilidade etc. (PEREIRA; LENDZION, 2013).
A importância de rodovias na economia, principalmente nos países que
ainda estão em processo de desenvolvimento, é inegável. É através das
malhas rodoviárias que grande parte das mercadorias chega ao consumidor.
Além disso, o custo de deslocamento dos produtos é internalizado nos seus
preços de venda, com influências diretas no funcionamento do mercado e,
consequentemente, no PIB de um país (ERHART; PALMEIRA, 2006).
As etapas necessárias para a construção e para o estabelecimento de
uma rodovia envolvem o planejamento prévio, a delimitação de sua área, a
supressão da vegetação, a compactação e o nivelamento do solo, o
asfaltamento e a pintura, além da construção de estruturas necessárias ao
seu estabelecimento como descidas d’água, meio-fio, iluminação, pintura etc.
(DNER, 1995).
16
Assim como em toda a construção, as pistas sofrem danos ao longo do
tempo e necessitam de manutenções periódicas para o seu pleno
funcionamento. Dessa forma, a infraestrutura de transporte rodoviário
modifica ambientes naturais e influência os microhábitats que a cerca durante
todas as etapas do seu estabelecimento, e quando já estabelecida, durante
as práticas de manutenção.
Em uma revisão sobre os efeitos ecológicos de estradas sobre
comunidades aquáticas e terrestres, Trombulak e Frissell (2000) afirmam que
estradas e rodovias afetam os ecossistemas de sete formas gerais: (1)
aumento na mortalidade durante a construção; (2) aumento da mortalidade
por colisão com veículos; (3) mudanças no comportamento das espécies
afetadas; (4) alteração do ambiente físico; (5) alteração no ambiente químico;
(6) vias de dispersão de espécies exóticas; e (7) uso de hábitats e o aumento
de ambientes alterados por seres humanos.
As perturbações ambientais geradas pela implantação de infraestruturas
rodoviárias podem ser suficientes para afetar a distribuição e a composição
de organismos nas proximidades da rodovia (DA ROSA, 2012). Para a fauna,
por exemplo, a exposição às mudanças na iluminação do ambiente e aos
ruídos provenientes do fluxo de veículos faz com que algumas espécies
evitem habitar ou até mesmo transitar pelas proximidades das vias (DA ROSA
2012; BAGER, 2013).
Estas alterações afetam não apenas os indivíduos e suas populações,
nos riscos da adaptação às novas áreas, mas também as comunidades, haja
vista que, as relações ecológicas que antes estavam estabelecidas neste
ambiente foram afetadas pela diminuição na variedade de espécies, a
depender dos nichos que estas ocupavam (PRIMACK; RODRIGUES, 2006).
Isso também pode ser observado na perda de estoque de fauna por
atropelamentos (PRADO; FERREIRA; GUIMARÃES, 2006).
17
Outro efeito relacionado à presença de rodovias é a exposição de áreas
preservadas à exploração e à pressão antrópica (BAGATINI, 2006; BARRI,
2010; PRADO; FERREIRA; GUIMARÃES, 2006; RODRIGUES et al., 2002).
A construção de vias vicinais é comum no estabelecimento de rodovias
(NUNES, 2006). Além disso, o acesso a estas áreas facilita as práticas de
caça, a supressão da vegetação e a habitação de novas áreas que darão
origem às vilas e pequenas cidades (PEREIRA; LESSA, 2011; PRIMACK;
RODRIGUES, 2002).
O fluxo contínuo de veículos contribui também com a dispersão de
espécies invasoras, cujos propágulos podem se fixar nas rodas ou nas latarias
dos automotores e percorrer longas distâncias antes de encontrar, nas
margens da pista, o ambiente ideal para o seu crescimento (VAN DER REE
et al., 2011). A grande capacidade de adaptação e dispersão dessas plantas
faz com que ganhem vantagem ao competir por nutrientes com espécies
nativas e, portanto, uma única população passará a ocupar nichos que antes
eram ocupados por várias outras espécies (DA ROSA, 2012).
O mesmo ocorre com a fauna. Animais domésticos costumam fazer o
uso de acostamentos como vias facilitadoras de acesso a novas áreas e,
nesse percurso, são comuns os encontros com espécies nativas que são
expostas a doenças, pragas ou até mesmo à predação (LACERDA, 2002).
Segundo os autores Primack e Rodrigues (2006, p. 82), as maiores
ameaças à diversidade biológica estão diretamente relacionadas às
perturbações geradas ao meio ambiente pelo avanço das atividades
antrópicas:
[...] perturbações em massa causadas pelo homem têm alterado,
degradado, destruído a paisagem em larga escala, levando espécies e
mesmo comunidades inteiras ao ponto de extinção. As maiores ameaças
à biodiversidade que resultam da atividade humana são:
18
• destruição;
• fragmentação;
• degradação do habitat (incluindo poluição);
• superexploração das espécies para uso humano;
• aumento de ocorrência de doenças.
Cabe ressaltar que todas as ameaças citadas pelos autores podem ser
relacionadas aos efeitos negativos causados pela implantação de vias de
transporte rodoviário às espécies. Portanto, os impactos gerados por rodovias
são diversos e contemplam as principais ameaças à biodiversidade
(PRIMACK; RODRIGUES, 2006).
Assim, os esforços para a conservação de ambientes vulneráveis devem
levar em consideração os impactos gerados por rodovias, que interferem de
forma negativa no estabelecimento de populações, comunidades e
ecossistemas (PRIMACK; RODRIGUES, 2006; VAN DER REE et al., 2011).
Spillerberg (1998) chama atenção, em seu trabalho, para a importância do
levantamento de dados referentes à biologia e à ecologia das espécies em
relatórios e avaliações de impacto ambiental antes mesmo da construção das
rodovias.
No Brasil, a legislação ambiental atual define a necessidade de estudos
prévios para a análise dos danos ambientais que serão causados pela
implantação de empreendimentos lineares, a depender das características da
própria rodovia e do local onde esta será construída (CONAMA, 1986;
CONAMA, 1997; BRASIL, 1981; BRASIL, 2004).
Porém, mesmo que haja esforços para a mitigação de impactos, as
pistas caracterizam uma constante fonte de mortalidade para muitas espécies
19
(TROMBULAK; FRISSELL, 2000) e os efeitos sobre a fauna e os ambientes
expostos a este risco devem ser acompanhados ao longo do tempo.
Temos, portanto, que a diversidade biológica é diretamente influenciada
pela implantação de estradas e rodovias e que os efeitos ecológicos desses
empreendimentos devem ser monitorados buscando esclarecer, em longo
prazo, os danos gerados às populações e comunidades da fauna silvestre.
Ainda que as influências de rodovias possam ser positivas ou negativas
a depender das características e capacidades de adaptação de cada espécie
afetada e de fatores atrelados à própria rodovia (BAUTISTA et al., 2003; VAN
DER REE et al., 2011; SPELLERBERG, 1998; DA ROSA; BAGER, 2013), o
conhecimento destes efeitos têm muito a contribuir com a efetividade das
medidas mitigadoras aplicadas e às práticas de conservação, na busca pela
minimização dos danos gerados à fauna pela utilização e o avanço na
construção de infraestruturas de transporte rodoviário.
4.2. Fauna atropelada: histórico de estudos e o avanço do conhecimento
sobre o tema
Os efeitos dos incidentes ocorridos entre animais silvestres e veículos
em rodovias já são amplamente estudados no mundo (SPEELEMBERG, 1998;
FORMAN, et al., 2003; COFFIN, 2007; VAN DER REE et al., 2011; GUNSON;
MOUNTRAKIS; QUACKENBUSH, 2011; KROLL, 2015).
Um dos primeiros estudos que trata especificamente dos possíveis
efeitos relacionados à taxa crescente de atropelamentos da fauna foi
publicado em meados do século XX. Stoner (1925) chamou a atenção, em
seu estudo, para o grande número de mamíferos, pássaros e outras classes
de animais atropelados que foram observados pelo próprio autor durante uma
viagem de rotina, partindo da Cidade de Iowa em direção ao Condado de
20
Dickinson, no mesmo estado. No artigo, o autor fez uma pequena coleta de
dados, em que registrava os animais vítimas de atropelamento no trajeto de
ida e de volta do condado.
Nas décadas seguintes, os impactos diretos gerados pelas rodovias
passaram a chamar a atenção de autores que concentraram seus esforços no
levantamento de dados sobre atropelamentos de fauna, assim como os seus
efeitos para a biodiversidade local (SCOTT, 1938; DICKERSON, 1939).
Observa-se, nesses estudos, uma abordagem ecológica pouco
conservacionista. Scott (1938), por exemplo, fez um levantamento de animais
atropelados encontrados em áreas de caça esportiva e explanou sobre os
efeitos dessas ocorrências para a regulação das populações, além dos riscos
para a continuidade da prática do esporte.
A questão ambiental passa a ter maior atenção da comunidade científica
entre as décadas de 60 e 70, ainda no século XX (COFFIN, 2007), e essa
mudança também pôde ser observada em estudos sobre atropelamentos de
fauna. Um exemplo é o trabalho realizado por Case (1978), que correlacionou
a frequência de animais atropelados com os dados de volume de tráfego e de
velocidade média de veículos, obtidos pelo departamento de estradas de
Nebraska ao longo de sete anos. No trabalho, o autor explana sobre os efeitos
da rodovia no comportamento e no ciclo reprodutivo de algumas espécies de
animais silvestres, além de propor a utilização dos dados coletados por ele
como uma guia na aplicação de medidas mitigadoras de atropelamentos.
Foi no início da década de 90 que o número de estudos sobre os efeitos
das rodovias cresceu rapidamente, com destaque na América do Norte,
Austrália e Europa (VAN DER REE et al., 2011). Os avanços no conhecimento
sobre os efeitos das rodovias expandiram os horizontes de estudiosos do
tema e abriram novas vertentes para a análise dos impactos indiretos
atrelados à presença de rodovias em áreas naturais.
21
Mais adiante, em 2003, Forman et al. criaram uma equipe de estudos
para pesquisar as diversas influências das estradas e publicaram o livro Road
Ecology: Science and Solutions. A publicação é conhecida como um marco, já
que difundiu o conceito de ecologia de estradas.
Ainda que o título do livro pareça simplificar o tema com uma abordagem
puramente ecológica, o autor frisa que essa é uma vertente multidisciplinar e
que trabalha com várias áreas do conhecimento (FORMAN et al., 2003;
COFFIN, 2007). A exemplo disso pode-se citar os diversos temas abordados
no livro, como: os desafios entre o crescente processo de urbanização e a
conservação do meio ambiente; a estabilidade dos solos; a liberação de gases
provenientes da queima de combustíveis; os desafios no planejamento de
novas rodovias diante da crescente demanda de veículos automotores, etc.
4.3. Conceitos relevantes
Além do conhecimento das diversas influências das rodovias em si, o
estudo sobre as ocorrências de colisões entre animais silvestres e veículos
abarca o entendimento das relações existentes entre os ambientes naturais e
o sistema rodoviário.
A compreensão dos mecanismos envolvidos nos esforços para a
conservação de populações e comunidades em paisagens fragmentadas por
rodovias consideram algumas abordagens teóricas como a fragmentação de
hábitats, o objeto de estudo da biogeografia, a teoria da biogeografia de ilhas
e a teoria das metapopulações (MACARTUR; WILSON, 1967; HANSKI;
GILPIN, 1991; MORIÁNS, 2005; PRIMACK; RODRIGUES, 2006; MACIEL,
LIMA, 2011).
A ruptura na distribuição de espécies nativas da flora e nas condições
ambientais causadas pela implantação de rodovias faz com que os
22
remanescentes de vegetação natural sejam desconectados, e essa
separação é o que contribui com o processo chamado de fragmentação de
hábitats (UNDERHILL; ANGOLD, 2000). Quando um hábitat dentro de uma
área contínua é dividido em dois ou mais fragmentos menores, o tamanho das
populações que vivem neste ambiente em particular é também afetado pelo
seu isolamento e pela degradação das áreas que o margeiam (DA ROSA,
2012). Portanto, ambientes fragmentados alteram a distribuição de espécies
no espaço.
As variações espaciais e as alterações na distribuição de seres vivos
geradas pela implantação de empreendimentos lineares fazem parte do
campo de estudo da Biogeografia. Segundo Camargo (2000), a biogeografia
é uma ciência complexa, ampla e comum a várias áreas do conhecimento. O
autor deixa claro, porém, que esse não é um campo exclusivo de nenhuma
área e que, para a geografia, a abordagem espacial é a mais importante.
Tendo em vista que a construção de rodovias modifica a distribuição espacial
da cobertura vegetal, a ciência biogeográfica tem contribuído com o
entendimento das influências e as causas que regem essa distribuição
(LACOSTE; SALANON, 1973 apud. CAMARGO, 2000).
A teoria da Biogeografia de Ilhas é um exemplo da contribuição do
conceito biogeográfico no campo do conhecimento. Proposta por MacArtur e
Wilson, em 1967, a teoria vem sendo relacionada às comunidades cujos
hábitats foram fragmentados, graças à semelhança que estes ambientes
apresentam com as ilhas oceânicas. Isso porque, a perda de área no habitat
e o isolamento gerado pela fragmentação formam uma paisagem de mosaicos
compostos de ilhas de vegetação silvestre, isoladas por uma matriz de áreas
modificadas. Nessa teoria, fatores como o tamanho e a proximidade entre os
remanescentes de vegetação natural influenciam a diversidade de espécies
em fragmentos.
Mais tarde, em 1991, Hanski e Gilpin apresentaram outra abordagem
23
importante: o conceito de metapopulações. Populações estabelecidas em
áreas fragmentadas movimentam-se entre os fragmentos próximos. À medida
que uma população é extinta em ilhas de vegetação inalteradas, o fluxo
contínuo de indivíduos da mesma população entre os fragmentos faz com que
estas áreas logo sejam repopuladas.
Sendo assim, partindo do pressuposto que remanescentes maiores são
mais diversos e garantem menor vulnerabilidade às populações que neles
habitam (PRIMACK; RODRIGUES, 2006), os fragmentos que ocupam maior
área de extensão agem como fonte para a repopulação das ilhas de
vegetação menores e próximas. Porém, quando as ilhas de vegetação natural
são separadas por rodovias, a intensidade de fluxo de veículos pode impedir
a travessia de animais silvestres, que se isolam no fragmento ou se tornam
vítimas de colisão com veículos (UNDERHILL; ANGOLD, 2000). Esse
isolamento é causado por um dos principais impactos observados em eixos
rodoviários e estradas: o efeito barreira (DA ROSA, 2012; LESBARRERES;
FAHRIG, 2012; ABRA, 2012; FORMAN et al., 2003; PRIMACK; RODRIGUES,
2006). Ocorre que, indiretamente, o efeito interfere na permeabilidade de
ambientes autóctones e intensifica os efeitos da fragmentação, impedindo o
fluxo e a reocupação das manchas remanescentes de vegetação inalterada
pela fauna.
Neste caso, levando em consideração a dinâmica das metapopulações,
os conceitos relacionados à biogeografia de ilhas e as consequências do
isolamento de populações em remanescentes autóctones, fatores como a
proximidade e o tamanho de fragmentos podem ser relacionados com a taxa
de atropelamentos de fauna silvestre em empreendimentos lineares e a taxa
de extinção de espécies nos fragmentos.
Portanto, rodovias e estradas são agentes fragmentadores, contribuem
com o isolamento das espécies e são meios de retirada de estoque de fauna,
na ocorrência de atropelamentos (PRADO; FERREIRA; GUIMARÃES, 2006).
24
4.4. O Papel da Biogeografia no estudo de animais silvestres atropelados
A geografia é uma área do conhecimento ainda pouco atuante na
ecologia de estradas. Ainda que tenha muito a contribuir com o objeto de
estudo aqui apresentado, a atuação da geografia segue uma linha que,
basicamente, se restringe à avaliação estrutural de redes de transporte
rodoviário e de seus efeitos no uso do território (COFFIN, 2007).
Segundo Luís Henrique Ramos de Camargo (2005) a análise geográfica
tem uma base conceitual que permite avaliar o sentido sistêmico dos
problemas ambientais a partir do conceito de espaço geográfico. Para o autor,
tal análise reflete a maneira como o meio técnico científico intermedeia a
relação da sociedade com a natureza.
O simples levantamento de taxas de atropelamentos de animais
silvestres nas proximidades de áreas especialmente protegidas não será
eficaz se não levar em consideração a importância da alteração do espaço
para a sociedade.
No caso, avaliamos aqui a obra de pavimentação de uma rodovia antiga
que a princípio, foi construída com o intuito de facilitar o deslocamento de uma
cidade a outra para o transporte de produtos advindos da extração de minerais
na região (ICMBIO, 2009). Hoje, o trecho rodoviário tem o papel de facilitar o
acesso às áreas naturais preservadas que servem de atrativos turísticos e que
movimentam a economia local. Temos, portanto, que esses aspectos também
deverão ser considerados junto à avaliação dos impactos gerados pelo uso
da rodovia, uma vez que a nova estrutura rodoviária facilitará o fluxo de
moradores e visitantes da região.
Outra concepção importante e que também compõe as áreas de atuação
da geografia está relacionada ao estudo da biogeografia. Por se tratar de uma
25
ciência multidisciplinar, a biogeografia recebeu várias definições e abordagens
vindas de diferentes áreas de estudo (CAMARGO, 2000). Para Brown e
Lomolino (1998), a biogeografia pode ser definida como a ciência que busca
documentar e compreender os padrões espaciais da biodiversidade. Já
Quintanilla (1977), com um olhar geográfico, definiu a biogeografia como uma
disciplina da geografia que tem o objetivo de determinar as causas que
influenciam a distribuição espacial de animais e plantas no globo terrestre com
relação a outros elementos do mundo físico e humano. Apesar de amplo e
comum a várias ciências, como a biologia, ecologia e a geografia, o campo da
biogeografia não é exclusivo de nenhuma delas (CAMARGO, 2000).
Os efeitos relacionados à presença rodovias na distribuição de espécies
que vivem nas áreas influenciadas pelo empreendimento já foram discutidos
acima. Faixas de rodagem de veículos são estruturas que promovem a
fragmentação de áreas naturais contínuas e retiram, desse ambiente,
espécimes da fauna na ocorrência de atropelamentos.
Para diminuir os danos provocados pela presença de rodovias nas
proximidades de unidades conservação é importante monitorar a taxa de
atropelamentos e conhecer a distribuição geográfica desse tipo de incidente.
Além disso, é importante conhecer a influência da variação nas características
espaciais do ambiente estudado ao longo do tempo.
Temos, portanto, que os conceitos geográficos são aplicáveis não só ao
estudo da distribuição espacial de eventos que afetam a composição de
espécies em unidades de conservação, como os atropelamentos de fauna,
mas também à avaliação dos aspectos sociais e econômicos que podem ser
considerados na tomada de decisões para promover o bem-estar social,
econômico e ambiental nas áreas influenciadas pelas rodovias.
26
4.5. A Fauna Atropelada no Brasil
O Brasil é conhecido mundialmente pela sua megadiversidade
(PRIMACK;RODRIGUES, 2006). Hoje, o país ainda dispõe de áreas
contínuas de ambientes naturais com grande diversidade biológica e cultural.
Porém, o avanço da agropecuária e a expansão urbana vêm modificando
esses ambientes em ritmo acelerado (KLINK;MACHADO, 2005; FRANÇOSO
et al., 2015; HUNKE et al.,2015). O uso do modal rodoviário como o principal
meio de transporte faz com que tais atividades estejam também relacionadas
à construção de estradas e rodovias. Tal relação faz com que as vias de
transporte rodoviário estejam entre os principais agentes de fragmentação de
habitats no país (BAGER, 2007).
Segundo os dados do CNT (2015) e do IBGE (2015), os 8,5 milhões de
quilômetros quadrados de extensão do território nacional são separados por
cerca de 1,7 milhão de quilômetros de vias de transporte rodoviário. Ainda que
os trechos rodoviários estejam concentrados nos principais polos urbanos do
país (IBGE, 2014), sabe-se que suas linhas seccionam áreas autóctones
contínuas por todo o Brasil. Tal fato demonstra a dimensão dos impactos de
rodovias no território nacional.
Além disso, até a metade do ano vigente, no governo Dilma, os
investimentos no crescimento econômico do país direcionavam recursos às
construções de novos segmentos rodoviários (RODRIGUES; SALVADOR,
2011), com o intuito de diminuir os custos de transporte para as principais
atividades econômicas atuais. Os impactos atrelados à construção de novas
vias assim como a relação com as maiores ameaças à biodiversidade já foram
discutidos acima (PRIMACK; RODRIGUES,2006).
Para tentar frear o avanço da perda na biodiversidade brasileira, uma
das principais estratégias de conservação adotadas no Brasil é a criação de
áreas protegidas. Dentre essas, as Unidades de Conservação (UC) têm como
27
objetivo principal a conservação de espaços territoriais e seus recursos
ambientais com características naturais relevantes (BRASIL, 2000).
Ainda que as UC disponham de um regime especial de administração e
garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000), grande parte das áreas
protegidas brasileiras estão expostas às influências negativas diretas de vias
de transporte rodoviário, o que inclui os atropelamentos de animais silvestres
(BAGATINI, 2006; CÁCERES et al., 2010; PRADO; FERREIRA; GUIMARÃES,
2006). Nas áreas delimitadas por UC, ocorrem espécies endêmicas e de
pequenas populações que são as mais suscetíveis aos efeitos da
fragmentação.
Ambientes fragmentados provocam o isolamento de suas populações
em remanescentes de vegetação natural, fator este que facilita a ocorrência
de acasalamentos consanguíneos, tornando-as suscetíveis aos problemas
associados às pequenas populações, como, por exemplo, a depressão
endogâmica (PRIMACK; RODRIGUES, 2006; DIXO et al., 2009). Esta perda
de variabilidade genética compromete a capacidade que cada população
possui de se adaptar a um ambiente sob transformação, tornando-a mais
vulnerável à extinção (PRIMACK; RODRIGUES, 2006; JACKSON; FAHRING,
2011; RYTWINSKI; FAHRIG, 2012). Portanto, em UC, a perda de animais por
colisões com veículos geram danos significantes às populações vulneráveis
cuja delimitação da área visa proteger (CÁCERES et al., 2010).
Sendo assim, é importante que os esforços para a conservação de
ambientes vulneráveis levem em consideração os impactos gerados pela
retirada de estoque de fauna em decorrência de atropelamentos, que
interferem de forma negativa no estabelecimento de populações e
comunidades silvestres.
Tendo em vista esta preocupação, estudos buscaram esclarecer os
efeitos negativos gerados às áreas protegidas. Bagatini (2006) apresentou em
28
sua tese de mestrado um estudo feito nas quatro rodovias que circundam a
Estação Ecológica de Águas Emendadas – DF junto de uma análise de
eficácia das medidas mitigadoras utilizadas no local. A autora chegou a
conclusão de que o atropelamento de animais tem um efeito significativo para
populações de espécies ameaçadas no local.
Prado, Ferreira e Guimarães (2006) obtiveram resultados similares em
seu estudo. Os autores realizaram levantamentos de animais atropelados na
BR-153/GO-060, que corta o Parque Ecológico Altamiro de Moura Pacheco,
e concluíram que a presença de rodovias é um dos agentes de fragmentação
do parque e que os atropelamentos ocorridos na estrada são fatores de
retirada do estoque de fauna do local.
Os mecanismos que influenciam a ocorrência de colisões entre
veículos e animais silvestres costumam ser estudados e comparados em
busca de esclarecimentos a respeito dos efeitos do atropelamento de fauna
nas populações para a conservação, assim como a aplicação de medidas
mitigadoras efetivas para evitar os efeitos negativos da perda de fauna por
atropelamentos.
Estas influências são citadas por Da Rosa e Bager (2013) que revisaram
os fatores subjacentes aos mecanismos e efeitos de rodovias em vertebrados.
Nesse trabalho, os autores citam alguns mecanismos que variam os índices
de atropelamento de fauna em rodovias: a colisão entre veículos e animais
silvestres, a aversão à superfície da via, ao barulho e aos veículos e a atração
às rodovias são alguns exemplos de mecanismos que, atrelados às
características das rodovias, foram relacionados, pelos autores, aos efeitos
ecológicos de estradas na vida silvestre.
29
4.6. A fauna atropelada em diferentes superfícies
Os efeitos de atropelamentos de animais silvestres em diferentes
superfícies ainda são pouco estudados. Segundo os dados do CNT (2015),
cerca de 76% das vias brasileiras de transporte rodoviário são de estradas
ainda não pavimentadas. Portanto, a maior parte das vias que influenciam os
ambientes naturais brasileiros ainda não recebeu pavimentação.
Figueiredo, Lima e Soares (2014) analisaram a taxa e a distribuição de
atropelamentos de fauna em diferentes tipos de vias para cada classe de
vertebrados. O estudo foi conduzido em quatro rodovias adjacentes a 11 UC
localizadas no DF e no entorno. Os resultados indicaram que as rodovias com
duas faixas e as rodovias pavimentadas foram os tipos de empreendimentos
que apresentaram as maiores taxas de atropelamentos.
Braz e França (2016), incluíram o tipo de superfície como um dos
atributos relacionados às quatro classes de vertebrados atropelados na
rodovia GO-239, objeto de estudo do presente trabalho. Os autores
correlacionaram a classe de mamíferos ao trecho onde a estrada ainda não
possuía a cobertura de asfalto.
Portanto, ao se implementar novas infraestruturas de transporte
rodoviário nas proximidades de áreas de grande importância ecológica, como
UC, deve-se acompanhar e avaliar quais os efeitos para a diversidade de
espécies silvestres que habitam o local.
30
Figura 1: Localização do trecho da rodovia GO-239. Dados sobrepostos à área de
extensão do PNCV (ICMBIO, 2015), aos limites municipais e aos perímetros urbanos
ligados pelo trecho amostrado.
5. PASSOS METODOLÓGICOS
5.1. Área de estudo
O presente estudo foi conduzido na rodovia GO-239, no trecho que liga
o município de Alto Paraíso de Goiás ao distrito de São Jorge. Ambos os
perímetros urbanos são conectados pela via e estão localizados no estado de
Goiás, aproximadamente, 260 quilômetros de Brasília (figura1).
Elaborado por: Tatiana Ribeiro, 2016 Datum: WGS 1984
31
A microrregião da Chapada dos Veadeiros compreende uma área de
21.475,60 quilômetros quadrados de extensão (DE LIMA; FRANCO, 2014) e
está localizada na região central do país, ao nordeste do estado de Goiás. A
Chapada dos Veadeiros está inserida na bacia do rio Tocantins e é
caracterizada por um clima tropical com estação seca bem definida (entre os
meses de maio e agosto) e um período chuvoso com precipitações mensais
acima dos 100 mm (BRAZ; FRANÇA, 2016).
Os ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e a beleza da
microrregião foram importantes para a delimitação de uma área para a criação
do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV; BRASIL, 2000).
Desde a sua inauguração, em 1961, a extensão do parque sofreu uma série
de modificações até chegar aos 65.514 ha atuais (ICMBIO, 2009).
Por estar próximo à Brasília, o PNCV está exposto às influências de uma
rede viária relativamente densa (ICMBIO, 2009). Dentre as rotas que
compõem essa rede, as rodovias GO-239 e GO-118 são as principais vias
estaduais que margeiam o PNCV (ICMBIO, 2009). A GO-239 é uma rodovia
transversal extensa que percorre cerca de 12 municípios (AGETOP-GO,
2015b) e é a principal via de acesso aos portões do PNCV. A rota de acesso
à unidade de conservação tem cerca de 36 quilômetros de extensão. O trecho
utilizado como objeto de estudo é recém-pavimentado e está compreendido
entre o perímetro urbano de Alto Paraíso de Goiás e o distrito de São Jorge.
As obras de asfaltamento ocorreram em leito já existente, com o
recapeamento de um trecho de cerca de 24 quilômetros e a pavimentação dos
12 quilômetros restantes até a entrada da vila São Jorge.
Os pontos A e B, delimitados no trecho da rodovia que liga a cidade à
vila, conforme a figura 2, indicam o trecho de terra que recebeu nova
pavimentação.
32
Figura 2: Trecho da rodovia GO-239 onde ocorreram as campanhas de amostragem. O trecho que não tinha pavimentação
está compreendido entre os pontos A (lat: -14.134247; long: -47.710010) e B (lat: -14.178066; long.: -47.813017) da rodovia.
Os dados foram sobrepostos à área de extensão do PNCV (ICMBIO, 2015).
5.2. Métodos de coleta
As amostragens foram realizadas no trecho da rodovia estadual GO-239 onde
ocorreram as obras da primeira etapa da pavimentação (entre Alto Paraíso de
Goiás e a vila São Jorge).
Campanhas diurnas e noturnas ocorreram ao longo de 14 meses (de uma a
sete coletas realizadas em intervalos de quinze dias). O trecho foi percorrido
em um veículo com velocidade fixa pré-definida de 50 km/h. No percurso,
quatro pessoas ficaram responsáveis pela visualização de carcaças na
rodovia. Cada vez que uma carcaça era avistada, registros fotográficos dos
animais mortos foram obtidos para a posterior identificação e o local foi
georreferenciado em aparelho GPS (Garmin – 62s; Garmin - etrex H).
33
Tendo em vista que a identificação de animais mortos depende do
estado de conservação das carcaças encontradas e que esta pode ser
comprometida pelo estado avançado de decomposição, pela desfiguração ou
ausência de partes importantes para a avaliação, a identificação dos animais
foi realizada no menor nível taxonômico possível.
Os indivíduos identificados em nível de espécie foram classificados em
relação ao seu status de conservação no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada
de Extinção, publicado pelo Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2008), e
no Atlas da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção em Unidades de
Conservação Federais (ICMBIO, 2011).
5.3. Análise das características espaciais
Algumas características da área que compõe as margens do trecho
estudado (áreas de mata/floresta; pasto; perímetro urbano ou solo exposto;
campo, cerrado e corpos d’água) foram identificadas e relacionadas às
ocorrências de atropelamentos visando a avaliação dos efeitos da
implantação da infraestrutura rodoviária e os efeitos sobre os hábitats no
PNCV.
Para a delimitação e segmentação da área de estudo, o trecho em
análise foi percorrido em veículo automotor. A cada quilômetro, um ponto foi
marcado em aparelho GPS (Garmin - etrex H). Os pontos georreferenciados
foram plotados em mapa de formato vetorial e sobrepostos à camada em linha
do trecho estudado utilizando o software ArcGis v.10.3. Circunscrita ao vetor
do trecho rodoviário, foi calculada uma área, com origem no segmento da via
e raio de 2000 metros com o auxílio da ferramenta buffer. Os pontos obtidos
nortearam o recorte da área produzida. Destaca-se que, para análise da
paisagem, foram considerados os pontos inicial e final do eixo rodoviário
estudado. Para possibilitar a análise das qualidades espaciais que podem
34
Figura 3: Recorte e delimitação da área de estudo. Os dados foram sobrepostos à extensão do PNCV
(ICMBIO, 2015) e aos limites municipais (BRASIL, 2014b).
influenciar a ocorrência de atropelamentos nos segmentos que iniciam e
finalizam o trecho analisado da rodovia, foram definidas 39 parcelas (figura 3).
Para a definição dos atributos da paisagem, as características físicas
observadas nas margens do trecho da rodovia amostrada foram classificadas
na área delimitada. Os atributos das margens consideraram todas as 39
parcelas e seguiram a seguinte classificação: vegetação nativa predominante
na mancha (Campo/Cerrado/Mata/Floresta), cursos d'água (Rios/Córregos),
áreas modificadas (Solo exposto/Perímetro urbano) e predominância de
vegetação antrópica (Pastagem).
Figura 3: Recorte e delimitação da área de estudo. Os dados foram sobrepostos à extensão do PNCV (ICMBIO, 2015) e aos limites municipais (BRASIL, 2014b).
Elaborado por: Tatiana Ribeiro, 2016 Datum: WGS 1984
35
Após a análise da imagem, o dado de saída foi recortado e restringido à
área de 2000 metros circunscrita ao traçado da rodovia e segmentada em 39
parcelas (Figura 4).
5.4. Análise dos dados
5.4.1. Frequência de atropelamentos
A frequência de atropelamentos foi calculada pela razão entre o
número de amostras coletadas e os quilômetros percorridos durante o
estudo.
5.4.2. Análise das distribuições de eventos em relação aos dados
Figura 4: Delimitação da área classificada. Dados sobrepostos às camadas da área de extensão do PNCV e
aos limites municipais.
Elaborado por: Tatiana Ribeiro, 2016 Datum: WGS 1984
36
auferidos
Para verificar se há diferenças nas distribuições espaciais de
eventos o teste Mann-Whitney U foi realizado no software SPSS v.24 em
dois conjuntos de dados: um antes (fração de dados brutos utilizados em
BRAZ;FRANÇA, 2016) e outro após a implementação de nova estrutura
rodoviária no trecho estudado.
Os autores Vivian da Silva Braz e Frederico França realizaram
levantamentos de dados de atropelamentos em segmentos das rodovias
GO-118 e GO-239 entre os anos de 2006 e 2009. Parte da base de dados
gerada pelo levantamento foi analisada e publicada em estudo posterior
(BRAZ;FRANÇA, 2016). Os dados brutos foram disponibilizados pelos
autores para a realização do presente trabalho. Para as análises, apenas
parte do banco de dados levantado no trecho de interesse da GO-239 foi
utilizada. Ademais, para garantir a comparação de espaços amostrais
semelhantes ao presente estudo, somente os levantamentos auferidos
entre os meses de julho de 2007 e setembro de 2008 foram utilizados.
5.4.3. Distribuição espacial de eventos
As ocorrências de atropelamentos podem estar distribuídas de
forma não-aleatória no trecho amostrado. Nesse caso, poderão existir
segmentos da rodovia onde os registros de atropelamentos estarão mais
próximos uns dos outros. Essa aglomeração de eventos indica a existência
de trechos que podem representar o risco maior de ocorrência de
incidentes. No presente estudo, a avaliação da significância de
agrupamentos foi realizada a partir da estatística K de Ripley 2D (COELHO;
KINDEL; COELHO, 2008).
Tal técnica cria circunferências de raios crescentes centralizados
37
em cada evento e avalia as distâncias entre eles somando a ocorrência de
encontros nas áreas criadas. Assim, é possível verificar a intensidade de
agregação dos eventos amostrados em diversas escalas (COELHO et al.,
2014).
O método utilizado não lineariza o traçado da rodovia. Dessa
forma, as distâncias calculadas refletem as influências do traçado do trecho,
da composição e da estrutura da paisagem que será analisada mais a
frente.
Feito isso, é possível identificar os trechos onde os eventos
seguem uma distribuição não-aleatória significativa e onde ocorrem
aglomerações.
Os segmentos da rodovia que apresentam uma concentração
significativa de incidentes registrados são conhecidos na literatura como
pontos quentes ou hotspots de atropelamentos (COELHO; KINDEL;
COELHO, 2008; COELHO et al., 2014). No presente estudo, os trechos
da rodovia GO-239 com significativa aglomeração de registros também
foram identificados com as ferramentas disponíveis no software Siriema
versão 2.0.
5.4.4. Relação entre os registros de atropelamentos e a paisagem que
compõe as margens da rodovia
Os dados levantados no estudo foram sobrepostos às
características que compõem as margens dos trechos com ocorrências de
atropelamentos. As características avaliadas nas parcelas adjacentes à
rodovia GO-239 foram: atributos da paisagem, distância do fragmento mais
próximo e área total das manchas que compõem a paisagem das parcelas
que envolvem o segmento em questão.
38
As qualidades espaciais das margens das rodovias e os registros
de atropelamentos foram correlacionados utilizando a técnica de correlação
de Pearson. A relação entre as variáveis foi avaliada com a realização de
análises de regressão linear múltipla (stepwise). Todos os métodos
aplicados foram realizados no software SSPS v.24.
5.4.5. Discussão sobre as medidas a serem tomadas para a mitigação
dos impactos
Com base nos dados obtidos, medidas mitigadoras que podem
contribuir de maneira efetiva com a diminuição de atropelamentos de
animais silvestres na rodovia estudada foram discutidas, com o intuito de
embasar possíveis alternativas que, se aplicadas, poderão contribuir com
a diminuição das taxas de perda de fauna no trecho estudado.
5.5. Organograma
39
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1. Índices de atropelamentos de fauna
6.1.1. Relação de espécies encontradas
Conforme as informações obtidas da base de dados
disponibilizada pelos autores do estudo realizado na GO-239 antes das
intervenções no traçado (BRAZ;FRANÇA, 2016), foram percorridos 5112
quilômetros e realizadas 71 coletas entre os meses de julho de 2007 e
setembro de 2008. Desta forma, foram cumpridas 143 amostragens pelos
autores, nas quais: 134 registros foram identificados em nível taxonômico
de espécie, 2 de gênero e 4 em nível de família. Três indivíduos não foram
identificados. Os dados obtidos estão descritos na tabela I.
40
Tabela I: Relação de espécies e indivíduos atropelados na rodovia GO-239 em amostragens realizadas entre julho de 2007 e setembro de 2008 (adaptado: BRAZ; FRANÇA, 2016).
41
Nos levantamentos executados no presente trabalho, foram
percorridos 6.912 quilômetros, entre os meses de julho de 2015 e setembro
de 2016, realizadas 96 coletas com 295 amostragens, das quais: 188
registros foram identificados em nível taxonômico de espécie, 42 de gênero,
20 de família, 18 entre ordens e subordens, e 27 em nível de classe. Os
dados obtidos estão descritos na tabela II.
42
Tabela II: Relação de espécies e indivíduos atropelados na rodovia GO-239 em amostragens realizadas entre julho de 2015 e setembro de 2016.
43
44
As amostragens executadas pelos autores de Braz e França
(2016) e que geraram a base de dados utilizada no presente estudo foram
realizadas antes que as obras na GO-239 fossem iniciadas. Portanto, a via
que dá acesso ao PNCV não havia sofrido as intervenções e as mudanças
estruturais em todo o segmento que dá acesso à vila São Jorge. Além disso,
o traçado ainda contava com um trecho de 12 quilômetros de estrada de
terra. Nos dados obtidos pelos autores (Tabela I), a classe mais abundante
é a dos répteis, com 54 registros pertencentes a 22 espécies diferentes.
Porém, a classe das aves apresentou a maior riqueza, com 46 ocorrências
referentes a 26 espécies distintas. A classe dos anfíbios abarcou o menor
número de marcações, com 15 indivíduos registrados alusivos a sete
espécies.
A base de dados disponibilizada conta com amostragens em
diferentes segmentos das rodovias GO-239 e GO-118. Dentre os dados
obtidos nos dois traçados e em dois anos de amostragens, é possível
observar registros de indivíduos classificados no livro vermelho de espécies
brasileiras ameaçadas de extinção (BRASIL, 2014), como o Lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus) e a Anta brasileira (Tapirus terrestris). Destas
informações, o espaço amostral selecionado para a realização do presente
estudo conta apenas com os registros colhidos no trecho de interesse da
rodovia GO-239 entre os anos de 2007 e 2008. Nas informações
selecionadas, observa-se o registro de um Tamanduá-bandeira
(Myrmecophaga tridactyla), classificado como vulnerável na lista oficial
vigente de espécies ameaçadas de extinção (BRASIL, 2014).
Para os levantamentos realizados entre os anos de 2015 e 2016
(Tabela II), após as obras na rodovia, a classe das aves é a mais diversa e
a mais abundante, com 37 espécies identificadas e 124 espécimes, seguida
da classe dos répteis, com 69 indivíduos pertencentes à 22 espécies. A
classe dos mamíferos, com 34 ocorrências alusivas a 15 espécies,
apresentou o menor número de registros. Porém, nessa classe, destaca-se
45
Tabela III: Frequências de atropelamentos (N/Km) para registros obtidos na rodovia GO-239 entre os anos de 2007 e 2008 (BRAZ; FRANÇA, 2016); e entre os anos de 2015 e 2016.
o registro de um Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus; Apêndice 23),
classificado como vulnerável na lista nacional de espécies ameaçadas de
extinção (BRASIL, 2014).
Ainda, os dados levantados antes das intervenções no eixo
rodoviário apresentam riqueza relativa superior aos dados auferidos após
a implantação do novo pavimento. Os 143 indivíduos encontrados entre os
anos de 2007 e 2008, pertencem a 65 diferentes níveis taxonômicos (0,46
espécies por registro). Quanto aos levantamentos realizados entre 2015 e
2016, foram registrados 295 atropelamentos, identificados em 86 diferentes
táxons (0,29 espécies por registro). Destaca-se, porém, que 15,5% das
amostras obtidas após a pavimentação não foram identificadas em nível de
espécie e que a riqueza relativa auferida no presente trabalho deve ser
avaliada com cautela, já que parte das identificações foi realizada apenas
com a análise de chaves de identificação e baseada na literatura disponível.
6.1.2. Frequências de atropelamentos
As frequências de atropelamentos foram confrontadas aos
mesmos índices obtidos por Braz e França (2016; tabela III).
Vertebrados
2007-2008 (5112 km) 2015-2016 (6192 km)
N
Frequência (N/km)
Intervalo de incidência (1/f)
N Frequência
(N/km) Intervalo de
incidência (1/f)
Todos 143 0,028 35,75 295 0,043 23,43 Anfíbios 15 0,003 340,08 68 0,010 101,65 Aves 46 0,009 111,13 124 0,018 55,74 Mamíferos 25 0,005 204,48 34 0,005 203,29
Répteis 54 0,011 94,67 69 0,010 100,17
46
Destaca-se que as frequências de atropelamentos são obtidas a
partir da razão entre as marcações registradas e o número de vezes que o
trecho estudado foi percorrido. Portanto, refletem quantos registros foram
obtidos a cada quilômetro amostrado.
Nas informações descritas na tabela III observa-se que as
frequências de atropelamentos ocorridos antes da obra de pavimentação
na rodovia são inferiores aos mesmos índices auferidos após a instalação
da nova infraestrutura rodoviária. Todavia, a classe dos répteis apresenta
valores muito próximos nos dois períodos de coleta, com intervalos de
incidência de 94,67 km/evento para os dados obtidos antes da
implementação do novo trecho, e 100,7 km/evento para as informações
coletadas após a conclusão das obras. Ademais, as frequências de
incidentes envolvendo mamíferos é a mesma nos dois períodos analisados
(0,005).
Conforme os dados apresentados na tabela III, observa-se que
foram auferidos mais registros de atropelamentos por quilômetro percorrido
após as obras de pavimentação na GO-239. Ademais, a depender da
acurácia nas identificações, os registros obtidos entre os anos de 2015 e
2016 apresentam menor riqueza e maior abundância de espécies (Tabelas
I e II). É importante destacar que a realização do presente trabalho em
diferentes períodos, as distinções na superfície rodoviária e o fato de os
levantamentos terem sido realizados por pesquisadores diferentes podem
gerar variações nos levantamentos de dados. Além disso, as mudanças nas
frequências de atropelamentos observadas também podem ser
influenciadas por eventos sazonais, como períodos de reprodução de
determinadas espécies ou queimadas durante a estação seca.
Ainda assim, a frequência de atropelamentos é uma grandeza
47
que auxilia no entendimento dos efeitos das alterações no eixo rodoviário
em conjunto com as demais análises a serem feitas. Por hora, verifica-se
que os valores apresentados no período mais recente trabalhado (0,043
animais/km) corresponde a 44,7% do índice obtido em 2 anos de
amostragens no traçado completo da mesma rodovia (0,096 animais/km;
BRAZ;FRANÇA, 2016). Tal fato pode indicar que as variações no
levantamento de dados são discretas e que as distinções observadas
podem estar também relacionadas às transformações ambientais geradas
pela construção na autoestrada.
6.2. Distribuição espacial de eventos
Para avaliar os pontos críticos de atropelamentos é necessário verificar
de que forma os incidentes estão distribuídos no trecho estudado. As análises
de distribuição de eventos com a estatística K de Ripley, para cada classe
taxonômica e em levantamentos realizados antes e depois da pavimentação
completa do trecho amostrado podem ser observadas nos gráficos
apresentados na figura 5. Esta análise considera que as probabilidades de
ocorrências de atropelamentos são as mesmas em todo o segmento
rodoviário onde os levantamentos de dados foram realizados.
48
Figura 5: Análise K Ripley 2D para as classes dos mamíferos, aves, anfíbios e répteis antes e depois das obras na rodovia GO-239. Em que L(r) é a diferença entre as estatísticas K esperada e observada para a escala de raio (r) em metros. Os limites de confiança superior e inferior estão representados em linhas cinzas e as linhas em azul representam a função L(r) (COELHO et al., 2014).
Figura 4: Análise K Ripley 2D para as classes dos mamíferos, aves, anfíbios e répteis antes e depois das obras de pavimentação da GO-239. Em que L(r) é a diferença da estatística K observado para a escala do raio (r) em metros. Os limites de confiança superior e inferior estão representados em linhas acinzentadas e as linhas em azul escuro representam a função L(r) (COELHO et al., 2014).
49
Os resultados gerados pela análise dos dados coletados entre os anos
de 2007 e 2008, descrevem aglomerações significativas em todos os grupos
analisados. Os gráficos ilustram máximas de agrupamentos entre 15 e 20
quilômetros de raio. Os elementos apresentados não apresentam dispersões
significativas em nenhum dos grupos analisados.
Nos dados obtidos após a obra de pavimentação, observa-se que as
classes dos mamíferos e dos répteis não apresentaram aglomerações
significativas de eventos. Nessas classes, os conjuntos de dados
apresentaram aglomerações pequenas e que vão pouco além do intervalo de
confiança estipulado (95%), indicativos de agrupamentos ou dispersões
discretas e pouco representativas. Nas demais classes, os conjuntos de
dados apresentaram agrupamentos significantes entre zero e 35 quilômetros
de tamanho de raio, sem dispersões importantes.
Ainda que não tenha havido evidências estatísticas suficientes para se
diferenciar os conjuntos de dados coletados nos grupos dos mamíferos e dos
répteis, entre os anos de 2015 e 2016, é possível verificar que existem
diferenças nas distribuições espaciais dos eventos registrados em diferentes
espaços temporais. Ou seja, tem-se que nas informações auferidas antes da
pavimentação de todo o trecho amostrado, o gráfico gerado pelo teste K de
Ripley 2D apresenta picos de aglomerações significativas entre os
quilômetros três e cinco e os quilômetros 22 e 25 do segmento amostrado. Já
nos dados levantados após a conclusão das obras, as duas funções
encontram-se dentro do intervalo de confiança definido (95%) e, portanto, não
apresentaram resultados significativos. Desta forma, as aglomerações que
antes eram observadas nos dois grupos amostrados são, no período atual,
discretas e podem ser atribuídas às distribuições aleatórias de eventos.
50
6.2.1. Hotspots de atropelamentos
Para as análises de hotspots de atropelamentos foram avaliados
apenas os conjuntos de dados que apresentaram aglomerações
significativas de registros. Nas coletas realizadas após as obras na rodovia,
apenas as classes das aves e dos anfíbios auferiram resultados
representativos na análise estatística K de Ripley 2D, isso indica que as
distribuições de registros auferidas após as obras de pavimentação da
rodovia não apresentaram agrupamentos representativos para os dados
referentes às classes dos mamíferos e dos répteis. Desta forma, para o
conjunto de informações levantadas no presente trabalho, não é possível
identificar os pontos quentes de atropelamentos nas duas classes
taxonômicas em questão.
A escala de avaliação da análise foi definida considerando o
resultado da distribuição espacial de atropelamentos com raios iniciais de
35 m. A área que margeia os hotspots identificados foi segmentada a cada
quilômetro percorrido na rodovia. As parcelas adjacentes aos pontos
quentes foram selecionadas e destacadas para a posterior avaliação das
relações existentes entre os atributos da paisagem e os trechos críticos
produzidos na análise. Os resultados obtidos estão discriminados na figura
6.
51
Os trechos críticos gerados pela análise estão distribuídos entre
os primeiros 22 quilômetros da rodovia (figura 6). É possível identificar
mudanças na distribuição das aglomerações em todas as classes
taxonômicas avaliadas. Nos anfíbios, as alterações nos trechos críticos são
facilmente observadas. Para essa classe, as ocorrências de
atropelamentos registradas antes das obras de pavimentação estão
concentradas nos quadrantes 15 e 16. As margens dos segmentos críticos
são próximas à ponte do rio das Cobras e são irrigadas por corpos d´água
Elaborado por: Tatiana Ribeiro, 2016 Datum: WGS 1984
Elaborado por: Tatiana Ribeiro, 2016 Datum: WGS 1984
Figura 6: Pontos quentes de atropelamentos identificados na rodovia GO-239 nos dois diferentes períodos de coleta realizados. Os dados estão sobrepostos à área de estudo. As parcelas adjacentes aos trechos críticos estão destacadas em vermelho. As classes dos mamíferos e répteis referem-se apenas aos dados auferidos por Braz e França (2016) entre os anos de 2007 e 2008.
52
e afluentes do rio. Já as marcações geradas pela análise dos dados
levantados após a pavimentação estão localizadas entre os primeiros cinco
quilômetros da rodovia, área próxima ao perímetro urbano da cidade de
Alto Paraíso Goiás.
Ainda na figura 5 é possível observar que os pontos quentes
identificados ante e pós-pavimentação para a classe das aves apresentam
semelhanças nas parcelas 6, 12, 13 e 15. As áreas adjacentes aos
segmentos identificados possuem fragmentos extensos de vegetação
antrópica (pastagem), mata ciliar nativa e cerrado, irrigadas por córregos
afluentes do rio das Cobras e zonas de alagamento intermitente. Porém,
apenas os dados auferidos após as obras na rodovia apresentaram pontos
quentes nos primeiros quilômetros do traçado.
Quanto às análises realizadas em todas as amostragens, sem a
distinção das classes taxonômicas amostradas, os resultados obtidos estão
localizados nas parcelas 22 e 23, semelhantes às áreas adjacentes aos
hotspots identificados nas classes dos anfíbios e das aves antes das
intervenções na rodovia. Porém, observam-se diferenças entre os trechos
críticos gerados nas parcelas próximas à área urbana de Alto Paraíso de
Goiás. Os dados levantados entre os anos de 2007 e 2008 geraram
hotspots de mortalidade distribuídos nas parcelas 6, 7 e 14. Já as
informações coletadas entre os anos de 2015 e 2016 produziram um
segmento de 3 quilômetros com altas taxas de atropelamentos centrado no
início da rodovia.
Ainda que, para as classes dos mamíferos e dos répteis, a
distribuição dos dados auferidos após a obra de pavimentação não tenha
apresentado aglomerações importantes, os levantamentos realizados
antes das modificações no trecho geraram resultados. Quanto aos
mamíferos, os pontos quentes de mortalidade podem ser observados nas
parcelas 14, 15, 22 e 23. As parcelas adjacentes são as mesmas áreas que
53
margeiam os trechos críticos obtidos na análise que não diferenciou os
táxons amostrados e na análise das aves, ao se trabalhar com as
informações amostradas antes do curso das obras no traçado.
Para os répteis, os dados obtidos são muito semelhantes aos
hotspots gerados na análise de registros de aves atropeladas após a
intervenção na rodovia, com exceção do segmento que marca o início do
trecho rodoviário.
Em suma, os trechos críticos de atropelamentos detectados
apresentam semelhanças quando sobrepostos (figura 6). Porém, todos os
pontos quentes auferidos entre os anos de 2015 e 2016 possuem
segmentos marcados como críticos para mortalidade muito próximos ao
perímetro urbano de Alto Paraíso de Goiás, indicativo de que a mudança
na infraestrutura de transporte pode ter afetado o modo com que as
espécies pertencentes às classes de vertebrados analisadas utilizam
rodovia. Tal observação será retomada mais adiante, e será discutida junto
aos resultados obtidos nas relações encontradas entre os aglomerados de
atropelamentos e os atributos da paisagem adjacente à rodovia.
6.3. Classificação da paisagem que compõe as margens da rodovia
A classificação da paisagem que integra a área de estudo foi realizada
por meio da interpretação e do processamento de imagem Landsat TM (2008).
A imagem foi trabalhada no software ArcGis v.10.3 com a ferramenta de
análise de máxima verossimilhança, classificando o dado de entrada em seis
atributos distintos: mata, pastagem, solo exposto/perímetro urbano, campo,
cerrado e corpos d'água (Figura 7).
54
As obras de pavimentação de uma rodovia alteram as áreas adjacentes
ao traçado da pista (FORMAN et al., 2003; DA ROSA, 2012). No trecho onde
a rodovia ainda não era pavimentada, é possível observar áreas de solo
exposto em suas margens (Apêndices 33 a 37). Porém, as imagens obtidas
por satélite Landsat TM, mesmo sendo indicadas para a avaliação dos
atributos da paisagem que compõe a área de estudo, não são ideais para a
análise de modificações espaciais em pequenas escalas. Portanto, em
concordância com os objetivos principal e específicos do trabalho, que
buscam avaliar as possíveis mudanças nos índices de atropelamentos de
fauna na rodovia, considerou-se uma composição fixa da paisagem. Ainda
que haja alterações com o passar dos anos, a composição média geral da
Figura 7: Classificação da paisagem na área trabalhada. Para a localização, as camadas do segmento
rodoviário trabalhado e a área de extensão do PNCV foram sobrepostos à imagem dos resultados.
Elaborado por: Tatiana Ribeiro, 2016 Datum: WGS 1984
55
paisagem, em grandes escalas e no período trabalhado (8 anos), não
apresenta grandes flutuações (PORTO; LINHERAS; NETO, 2011).
As informações referentes ao número de fragmentos e porcentagem da
área delimitada em cada uma das 39 parcelas e para cada classe da
paisagem estão descritos na Tabela IV. Mais adiante, os dados de ocorrência
de atropelamentos, antes e depois das obras de pavimentação da via, para
cada e para todas as classes taxonômicas, serão sobrepostos às parcelas
classificadas das margens adjacentes e correlacionados aos atributos da
paisagem.
56
Tabela IV: Relação de número de fragmentos (N) e porcentagem da área delimitada (%) para cada uma das 39 parcelas que segmentam a área de estudo. Os valores totais referem-se aos fragmentos e porcentagens de toda a área delimitada desconsiderando a divisão em parcelas.
57
6.4. Análise dos dados
6.4.1. Diferenças nas amostragens realizadas antes e após as obras na
rodovia
Os dados obtidos em levantamentos realizados antes e depois das
obras de pavimentação da rodovia foram plotados em mapa vetorial,
sobrepostos aos limites estaduais e aos limites do PNCV (Figura 8). O
mapa permite visualizar a distribuição de atropelamentos em cada e em
todas as classes taxonômicas, nos diferentes períodos de execução das
amostragens.
58
Tabela I: Relação de espécies e indivíduos atropelados na rodovia GO-239 em amostragens realizadas entre julho de 2007 e setembro de 2008 (adaptado: BRAZ; FRANÇA, 2016).
Figura 8: Registros de atropelamentos obtidos antes (à esquerda) e após (à direita) as obras na rodovia. Dados sobrepostos à extensão do PNCV.
Para verificar se existem diferenças significantes nos
levantamentos realizados, o teste não paramétrico de Mann-Whitney U foi
realizado nas distribuições de eventos registrados apenas nas 36 parcelas
que cobrem o traçado da rodovia. Os testes foram efetuados por classe
taxonômica amostrada e em todos os eventos juntos, divididos em dois
grupos: um antes e outro após as intervenções estruturais no trecho de 36
quilômetros. O teste é baseado no ranqueamento de dados e é utilizado para
Elaborado por: Tatiana Ribeiro, 2016 Datum: WGS 1984
59
testar a hipótese nula, que afirma que as médias populacionais são as
mesmas para os dois grupos independentes testados.
O resultado auferido em todos os registros obtidos (sem distinção
de classes; Tabela V) indica que a estatística teste Mann-Whitney U =
452.000 e tem significância (P-valor) de 0,027. Portanto, a hipótese nula é
rejeitada e conclui-se que há evidência estatística de diferenças entre os
grupos de dados de ocorrências de atropelamentos e que os dois grupos
não foram extraídos de uma mesma população.
O mesmo teste foi realizado par a par, em vias de identificar
possíveis diferenças entre as classes taxonômicas dos registros obtidos
antes e depois das mudanças no espaço estudado. A estatística teste de
Mann-Whitney U para as classes das aves e dos anfíbios foram,
respectivamente, de 361.000 e 452.000 e apresentaram P-valores de 0.013
e 0.01 de significância. A hipótese nula é rejeitada nos dois casos,
indicando a existência distinções significantes entre os registros obtidos
antes e depois das obras na rodovia.
Estatísticas de teste U de Mann-Whitney
Mamíferos Aves Anfíbios Répteis Todos
U de Mann-Whitney 564.500 361.000 452.000 627.000 452.000 Wilcoxon W 1230.500 1027.000 1118.000 1293.000 1118.000 Z -1.023 -3.285 -2.492 -.239 -2.212 Significância Assint. (Bilateral) .307 .001 .013 .811 .027
Nas classes dos mamíferos e dos répteis, porém, os resultados
obtidos (tabela V) apontam significâncias assintóticas bilaterais superiores
ao α=0,05. Portanto, a hipótese nula é aceita, não havendo evidências
estatísticas que indiquem diferenças entre os conjuntos de dados testados.
Tabela V: Resultados do teste U de Mann-Whitney para cada e para todas as classes amostradas .
60
A rejeição da hipótese nula no teste indica a possibilidade de
existirem dessemelhanças entre as medianas das populações de onde as
amostras foram extraídas. Portanto, em suma, os resultados gerados
indicam que os conjuntos de dados levantados antes e após as mudanças
e a pavimentação do traçado apresentam distinções significativas quando
analisados por inteiro e, quando segmentados por classe taxonômica
amostrada, apresentam diferenças significantes nas classes das aves e
dos anfíbios.
6.4.2. Relações entre os pontos registrados e os atributos da paisagem
adjacente aos hotspots de atropelamentos identificados
O atropelamento não é apenas consequência da presença
concomitante de um espécime silvestre e de um veículo em trânsito no
mesmo local. Existem fatores que influenciaram de forma significativa a
ocorrência desse incidente. Esses fatores podem estar relacionados às
características do ambiente próximo, da fauna atropelada e da rodovia. A
soma desses fatores resulta em mecanismos capazes de atrair ou espantar
os animais dos locais que representam alto risco de colisão com veículos
(DA ROSA; BAGER, 2013). Para a avaliação de medidas mitigadoras
eficientes e que vão de encontro com as características do local, esses
mecanismos devem ser avaliados.
Quando nos referimos às características do ambiente adjacente,
ou seja, às margens das rodovias, consideramos as fitofisionomias
dominantes, se esse ambiente dificulta a visibilidade ou a locomoção do
animal ou se proporciona algum recurso ambiental importante. Quanto às
características do animal, considera-se a área de vida, o comportamento,
a capacidade de dispersão, a abundância da espécie, etc.
As rodovias possuem também algumas características que
61
podem ser relacionadas à fauna atropelada. Dentre essas, pode-se citar o
número de faixas, o tipo de pavimentação, a presença ou ausência de
infraestruturas de transporte rodoviário (como as estruturas de drenagem e
de iluminação), a presença de curvas, taludes nas margens, o limite de
velocidade no trecho, o fluxo médio de veículos, etc.
Portanto, quando um evento de aglomeração de atropelamentos
é identificado em um trecho de rodovia, deve-se avaliar os fatores que os
influenciam e verificar de que forma o fluxo de animais nessa área pode
ocorrer sem que hajam incidentes.
Para avaliar as possíveis influências da pavimentação, os
registros de atropelamentos de animais silvestres, antes e depois das obras
na rodovia, foram correlacionados às características da paisagem
adjacente à pista, visando assim, identificar possíveis diferenças. O espaço
estudado foi delimitado por uma área de 2000 m que circunscreve o traçado
da rodovia (vide métodos). As variáveis espaciais avaliadas foram: atributos
da paisagem (mata, pastagem, área urbana/solo exposto, campo, cerrado
e corpos d´água), número de fragmentos por parcela, soma das áreas totais
de fragmentos, distância do fragmento mais próximo e altitude do local
registrado.
O estudo das inter-relações existentes entre as variáveis
escolhidas foi desenvolvido pela aplicação da correlação de Pearson. No
método utilizado, apenas os valores com coeficientes de correlação linear
significantes (P<0,05) foram selecionados para o estudo das variáveis
identificadas na classificação das margens da rodovia.
Na estatística, métodos de análises multivariadas como a
regressão são amplamente utilizados. Quando as relações entre as
variáveis de um determinado fenômeno são conhecidas, é possível
estabelecer um modelo matemático de predição, em que uma variável
62
dependente é linearmente explicada por uma ou um conjunto de variáveis
independentes. O estudo das relações entre as variáveis também pode
auxiliar na identificação de fatores que afetariam a distribuição ou
ocorrência do fenômeno estudado. No presente estudo, busca-se avaliar
quais variáveis podem ser relacionadas aos índices de atropelados nos
trechos identificados com altas concentrações de eventos e em todo o
segmento trabalhado.
Na análise, os registros de atropelamentos auferidos antes e após
as obras de pavimentação da rodovia foram definidos como as variáveis a
serem explicadas pelas características do espaço classificadas. Na
primeira verificação, apenas os dados registrados nas parcelas adjacentes
aos trechos de hotspots foram utilizados nas regressões. Depois, as
informações de todas as parcelas adjacentes ao traçado foram avaliadas.
Os resultados das análises nas áreas onde foram localizados
hotspots geraram 13 modelos distintos: dois para a classe dos mamíferos,
quatro para as aves, quatro para os anfíbios, um para os répteis e quatro
para todos os registros identificados. Após a verificação da normalidade e
da análise dos resíduos extraídos, seis modelos foram selecionados. Além
disso, para cada grupo de variáveis explicadas, apenas os modelos com os
maiores coeficientes de correlação foram avaliados.
As modelagens escolhidas relacionam-se às ocorrências de
atropelamentos nas parcelas críticas identificadas apenas quando
analisadas as classes dos mamíferos (R²=0,837 F=20,59 p=0,001) e todas
as ocorrências auferidas antes da pavimentação da rodovia (R²=0,800;
F=15,990; p=0,002). Após a conclusão das obras, os modelos explicam os
incidentes envolvendo a classe dos anfíbios (R²=0,763; F=29,043; p ≈ 0,000)
e a todas as classes (R²=0,409; F=6,235; p=0,034). Os coeficientes
padronizados de regressão para cada um dos modelos escolhidos e suas
respectivas variáveis explicativas para as parcelas adjacentes às
63
aglomerações de eventos identificadas estão descritos na tabela VI.
Hotspots Mamíferos Anfíbios Todos
2007-2008 2015-2016 2007-2008 2015-2016
Variáveis βi (SE) βi (SE) βi (SE) βi (SE)
Área
Perímetro urbano/SE
-0,588 (0,37)
cerrado
0,396 (0,11)
N
Floresta
0,645 (0,19)
Perímetro urbano/SE
0,874 (0,35) 0,640 (0,93)
Distância
cerrado
-0,521 (0,0)
Nos resultados produzidos pela análise das qualidades espaciais
de parcelas que contornam os trechos de hotspots identificados (tabela VI),
observa-se que o número de fragmentos de área urbana ou alterada
possuem relação positiva com os índices de atropelamentos de anfíbios
(0,874 ± 0,35) e com todos os registros amostrados (0,640 ± 0,93) após o
término das obras de pavimentação da rodovia GO-239. Porém, quando
avaliadas as informações auferidas por Braz e França (2016), nota-se uma
relação inversa entre a soma das áreas de extensão dos fragmentos de
perímetro urbano ou de solo exposto e todos os dados de atropelamentos
levantados (-0,588 ± 0,37). Ademais, os índices de incidentes amostrados
Tabela VI: Coeficientes de regressão padronizados e as respectivas variáveis explicativas para as informações
levantadas antes e após a pavimentação da rodovia.
64
entre os anos de 2007 e 2008 apresentam correlações harmônicas com os
ambientes naturais. Verifica-se que os registros referentes à classe dos
mamíferos apresentaram relações positivas com a extensão das áreas de
cerrado (0,396 ± 0,11) e de ambientes florestais (0,645 ± 0,19). No mesmo
período, observa-se uma correlação positiva entre a proximidade de
fragmentos de cerrado e todos os registros de atropelamentos obtidos (-
0,521 ± 0,00). De acordo com esse resultado, pode-se dizer, portanto, que
os registros de incidentes ficaram mais frequentes em ambientes cujas
distâncias entre o trecho rodoviário e o fragmento de vegetação nativa
foram menores.
Em suma, nos resultados produzidos, nota-se que os índices de
atropelamentos de fauna auferidos após as obras de pavimentação da
rodovia e o perímetro urbano de Alto Paraíso de Goiás, quando avaliados
todos os dados amostrados e a classe dos anfíbios, estão positivamente
relacionados. Tal relação não é observada quando verificadas as
informações levantadas entre os anos de 2007 e 2008.
6.5. Possíveis influências da Rodovia GO-239 à diversidade de espécies
Os dados adquiridos nas análises realizadas evidenciam semelhanças
entre as aglomerações de eventos nos dois períodos trabalhados. Porém,
quando observadas as amostragens feitas entre os anos de 2015 e 2016,
observa-se que os hotspots de atropelamentos estão localizados em áreas
próximas ao perímetro urbano de Alto Paraíso de Goiás. Para mais, os
resultados demonstram correlações positivas entre as qualidades estruturais
de fragmentos urbanos e os índices de atropelamentos de anfíbios e todos os
registros apurados no eixo rodoviário trabalhado após a conclusão das obras.
Perturbações no espaço podem interferir na relação estabelecida entre
65
a fauna e o ambiente modificado (FORMAN et al., 2003; JACKSON; SAX,
2010; HUNKE et al., 2015). Sabe-se que a construção de uma rodovia altera
de forma direta a superfície do empreendimento. Porém, indiretamente, a
forma como a rodovia é utilizada, tanto pela fauna quanto pela população
humana também é alterada.
Na literatura, a aversão às áreas antrópicas por parte da fauna é
amplamente discutida (CUNHA; MOREIRA; SILVA, 2010; PRADO;
FERREIRA; GUIMARÃES, 2006). Prado, Ferreira e Guimarães (2006), ao
avaliarem os efeitos da implantação de rodovias no Cerrado brasileiro,
encontraram a redução na frequência de atropelamentos da fauna silvestre
em ambientes menos preservados e relacionaram seus resultados à potencial
aversão destes animais às regiões antropizadas. Cunha, Moreira e Silva
(2010) também identificaram incidências maiores de atropelamentos de fauna
em regiões não urbanizadas, mas relacionaram este resultado à
fragmentação da paisagem. Segundo os autores, áreas com menor influência
humana são também menos fragmentadas, e portanto, nestes locais, o
trânsito de animais silvestres é maior.
A concentração de atropelamentos observada em segmentos
rodoviários próximos ao perímetro urbano não é esperada, pois a fauna
silvestre costuma evitar ambientes modificados e com grande presença
humana (BAGATINI, 2006; BAUTISTA et al. 2003, PRADO; FERREIRA;
GUIMARÃES, 2006; CUNHA; MOREIRA; SILVA, 2010). Todavia, no presente
estudo, foi observado que os registros levantados por Braz e França (2016)
podem apresentar riqueza relativa de espécies atropeladas superior aos
registros levantados no presente trabalho (tabelas I e II). Portanto, existem
indicativos de que os hotspots de atropelamentos identificados na rodovia
após as obras de pavimentação foram obtidos a partir de um conjunto de
dados com maior abundância e menor diversidade de espécies. Fato este que
indica uma possível redução na diversidade biológica amostrada.
66
Quanto às mudanças no leito rodoviário, é importante destacar que o
trecho inicial do segmento trabalhado já era pavimentado e que, após as obras
na GO-239, não houve modificações significativas nesse espaço. Porém, a
implantação do novo pavimento permitiu que os motoristas empregassem
altas velocidades em todo o percurso que liga a cidade de Alto Paraíso de
Goiás à vila São Jorge. Além disso, o acostamento da rodovia GO-239 é
também uma ciclovia que foi ampliada e melhorada na primeira etapa de
construção da rodovia e, agora, se estende por toda a via estudada. Hoje, a
ciclofaixa é comumente usada por moradores e visitantes da região.
Sabe-se que mecanismo de aversão ao ambiente rodoviário por parte
de algumas espécies pode também ser relacionado ao fluxo de veículos em
alta velocidade e à presença humana na faixa de rodagem (DA ROSA;
BAGER, 2013; FORMAN, et al., 2003; COELHO et al., 2012). Estudos indicam
que fluxos intensos de veículos podem alterar o comportamento de algumas
espécies que vivem em hábitats próximos às estradas (DA ROSA; BAGER,
2013; BAUTISTA et al. 2003; UNDERHILL; ANGOLD, 2000; CASE, 1978;
TROMBULAK; FRISSELL, 2000). Bautista et al. (2003), analisaram os efeitos
da variação no fluxo de tráfego de veículos no comportamento de aves de
rapina durante os finais de semana, em uma rodovia amplamente utilizada,
em Madri, na Espanha, em viagens curtas para cidades próximas. Os autores
identificaram três espécies de aves que evitaram as regiões próximas às
rodovias durante os finais de semana, quando o tráfego de veículos era quase
o dobro do observado em dias úteis. Underhill e Angold (2000), revisaram os
efeitos das rodovias na vida silvestre em paisagens extremamente
fragmentadas e afirmaram que rodovias com fluxo intenso de veículos
restringem a movimentação de algumas espécies de animais silvestres e que,
mesmo em níveis diferentes, todas as rodovias agem como barreiras na
travessia entre fragmentos separados por empreendimentos lineares. Ainda
segundo os autores, a intensidade do tráfego e a largura das vias, além da
ecologia das espécies influenciadas pela faixa de rodagem de veículos, foram
67
relacionados à intensidade do efeito de barreira exercido pela rodovia (VAN
DER REE et al., 2011; UNDERHILL; ALGOLD, 2000).
O efeito barreira é um dos impactos mais preocupantes na implantação
de uma estrutura rodoviária, pois afeta a permeabilidade das áreas naturais
(FORMAN et al., 2003; DA ROSA, 2012). Se espécies autóctones passam a
evitar o ambiente rodoviário em questão, elas podem ficar isoladas em
fragmentos menores de áreas nativas. O isolamento por sua vez propiciaria a
ocorrência de acasalamentos consanguíneos e a geração de genes deletérios
(PRIMACK; RODRIGUES, 2006), fatores que afetam negativamente a
população e a manutenção da espécie no local. Além disso, as mudanças no
comportamento das espécies em áreas próximas às rodovias poderiam afetar
de forma negativa os períodos reprodutivos. O som de veículos transitando
pode gerar interferências na comunicação entre algumas espécies de aves e
anuros, cujos cantos têm papel importante nas épocas de reprodução. Como
a interferência sonora é maior em fluxos intensos de veículos, variações na
intensidade de tráfego podem interferir e ainda influenciar na escolha de
parceiros (UNDERHILL; ALGOLD, 2000; VAN DER REE et al.; 2011).
As alterações observadas nos registros de atropelamentos que
antecedem e procedem as obras na GO-239 podem, portanto, estar
relacionadas às mudanças no uso do espaço como consequência do
resultado das obras na rodovia. É possível que as alterações na estrutura
rodoviária e a alteração na velocidade empregada por motoristas na via
tenham interferido no comportamento de espécies que habitam as áreas
adjacentes ao traçado e afetado a permanência de indivíduos menos
tolerantes às mudanças nas proximidades da faixa de rolamento (JAEGER et
al., 2005). No caso, o novo modo com que o ambiente rodoviário vem sendo
utilizado por motoristas e pedestres poderia influenciar o uso da rodovia por
parte da fauna, fazendo com que apenas espécies mais tolerantes à presença
humana habitassem as imediações do trecho rodoviário. Desse modo, mais
espécies resistentes às perturbações antrópicas podem ter sido auferidas nas
68
proximidades do perímetro urbano de Alto Paraíso de Goiás nos
levantamentos realizados entre os anos de 2015 e 2016.
Para espécies menos afetadas pela presença humana, a proximidade
dos trechos críticos ao ambiente urbano pode ser justificada pela maior
disponibilidade de recursos nessas áreas (PERRY et al., 2008; COELHO et
al., 2012). Ao estudarem as taxas de atropelamentos de anuros nas
proximidades de uma reserva ambiental da mata atlântica brasileira, Coelho
et al. (2012), argumentam sobre a disponibilidade de recursos alimentares em
rodovias para espécies tolerantes ao ambiente rodoviário. Segundo os
autores, as luzes artificiais do empreendimento atraem insetos, fator que
promove a concentração de algumas espécies de anfíbios nesses locais.
O trecho rodoviário da GO-239 não possui iluminação artificial em todo
o traçado. Porém, as áreas próximas ao perímetro urbano de Alto Paraíso de
Goiás são indiretamente iluminadas pelas luzes da cidade. Ademais, das 68
carcaças de anfíbios encontradas no estudo atual, 40 estavam localizadas nos
cinco primeiros quilômetros da rodovia. Além das influências da infraestrutura
rodoviária e a iluminação da cidade, os hábitats das imediações dos
quilômetros iniciais da via são propícios à presença de anfíbios, já que, nesses
locais, foram verificados córregos e áreas alagadas durante a estação
chuvosa (Apêndice 26). Nas amostras, Rhinella schneideri (Apêndice 18) foi
a espécie mais abundante. Ela é comumente encontrada no Cerrado brasileiro
e é bem-adaptada a distúrbios antrópicos (AQUINO et al., 2004). Destaca-se,
porém, que a classe dos anfíbios costuma ser subamostrada em
levantamentos de fauna atropelada, já que, suas características físicas
(tamanho e estrutura corporal) dificultam a visibilidade do observador na
coleta de dados e interferem na durabilidade das carcaças na rodovia (BRAZ;
FRANÇA, 2016). Desta forma, é esperado que os indivíduos pertencentes à
família Bufonidae sejam mais facilmente amostrados, pois são maiores e suas
carcaças são pouco consumidas, graças à presença de glândulas excretoras
de veneno na região cutânea de parte das espécies pertencentes a esse
69
grupo. De outra forma, é notável que Rhinella schneideri foi também a espécie
mais amostrada no trabalho de Braz e França (2016), mas que a aglomeração
de eventos referente aos anfíbios antes das obras na rodovia ficou próxima à
ponte do rio das Cobras, localizada a cerca de 16 quilômetros de Alto Paraíso
de Goiás.
As concentrações de atropelamentos nos trechos iniciais da rodovia
foram também observadas em todos os registros auferidos após as
intervenções no traçado (figura 5). Muitas espécies generalistas e menos
sensíveis à presença humana foram amostradas nesse segmento. A exemplo
disso, pode-se citar indivíduos de Anu Branco (Guira guira; Apêndice 6),
Carcará (Caracara plancus), Papa-vento (Polychrus acutirostris; Apêndice 15),
Beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura), Cururu-vermelho (Rhinella
rubescens; Apêndice 17), etc.
É sabido que a implantação de estruturas rodoviárias alteram os hábitats
próximos (FORMAN et al., 2003; NEWBOLD et al., 2015). Porém, a
infraestrutura pode surtir efeitos positivos ou negativos a depender das
populações afetadas pela implantação do empreendimento (UNDERHILL;
ANGOLD, 2000). Quanto à diversidade de espécies, os principais impactos
negativos de rodovias são a remoção de estoques de fauna por
atropelamentos e o efeito barreira (JACKSON; FAHRIG, 2011; DA ROSA,
2012). A rodovia GO-239 apresenta características paisagísticas singulares
no trecho trabalhado e os resultados apresentados no estudo demonstram
uma possível mudança nos índices de atropelamentos e na composição de
espécies atropeladas com relação à recente obra na rodovia. Porém, as
alterações foram observadas em áreas onde as qualidades estruturais do
empreendimento rodoviário e das áreas que o envolvem foram mantidas sem
alterações significativas. Portanto, é possível que os resultados observados
estejam mais relacionados às modificações no uso da rodovia por parte da
fauna e de motoristas que transitam no local. Tal entendimento corrobora com
Figueiredo, Lima e Soares, que, ao analisarem a taxa e a distribuição de
70
atropelamentos de vertebrados em diferentes tipos de rodovias,
argumentaram que as diferenças nas superfícies das vias estudadas por si só
poderiam não explicar os índices encontrados no trabalho, mas sim, outros
fatores que são gerados pela pavimentação como, por exemplo, o aumento
das velocidades empregadas na rodovia.
Ademais, os resultados observados evidenciam que os dados auferidos
após as obras no empreendimento podem apresentar menor riqueza e maior
abundância de espécies resistentes aos distúrbios antrópicos (tabelas I e II).
Sendo assim, é provável que os hábitats das imediações da rodovia vêm
sendo evitados por indivíduos menos tolerantes às alterações no ambiente. É
possível, portanto, que a fauna habitante de áreas próximas esteja suscetível
aos impactos negativos da perda na conectividade de manchas de vegetação
natural (efeito de barreira) e à redução na qualidade dos hábitats locais.
Destaca-se, porém, que as mudanças nas atividades de animais em
ambientes rodoviários não estão sujeitas apenas ao fluxo ou à velocidade de
veículos, mas também a alterações sazonais no ambiente como temperatura,
chuvas, fases da lua, etc.
É importante salientar, como ressalva, que as conclusões apresentadas
no presente estudo devem ser avaliadas com cautela, pois estão
condicionadas à acurácia na identificação das carcaças e às dificuldades
atreladas à subamostragem na metodologia de coleta utilizada, já que os
levantamentos dependem das limitações que o observador possui para
visualizar as carcaças na rodovia. Além disso, os métodos utilizados não
contabilizam os animais feridos por veículos e que, posteriormente, morrem
em decorrência dos ferimentos fora da área amostrada.
71
7. POSSÍVEIS ALTERNATIVAS PARA A MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS
O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros é uma das principais
unidades de conservação do Cerrado brasileiro. Sua área tem grande
importância na preservação da biodiversidade do bioma. Segundo os dados
do Plano de Manejo da UC (2009), no parque, foram registradas 80 espécies
de mamíferos, 389 de aves, 81 de répteis e 57 de anfíbios. Ademais, ainda
segundo o plano, a UC é representativa no que se refere às espécies
endêmicas do Cerrado. Outrossim, nas imediações do parque, já foram
registrados indivíduos de espécies já classificadas em níveis de ameaça de
extinção como o Mergus octosetaceus (pato mergulhão), Panthera onca (onça
pintada) e Lonchophyla dekeyseri (morcego-beija-flor).
Em 2001, suas riquezas naturais e a sua elevada importância ecológica
fizeram com que o PNCV fosse reconhecido como patrimônio mundial da
humanidade (ICMBIO, 2009). Além disso, a UC é uma das áreas-núcleo da
reserva da biosfera do Cerrado Fase II, sendo uma porção importante dos
ecossitemas da região onde se insere (BRASIL, 2017).
A exposição da fauna aos impactos negativos das rodovias que
influenciam o parque, ao longo dos anos, poderá interferir na efetividade dos
esforços para a conservação de espécies sensíveis ao empreendimento.
Portanto, é importante avaliar meios de se prevenir os danos atrelados à
instalação de novas estruturas de transporte rodoviário nas imediações da UC.
Como já foi afirmado acima, a ecologia de estradas é ainda um ramo
pouco atuante no Brasil (FORMAN et al., 2003; BAGER et al., 2007). Grande
parte das rodovias brasileiras foram construídas sem o planejamento prévio
(CNT, 2016) e o impacto negativo das estruturas rodoviárias na biodiversidade
nativa é ainda difícil de ser dimensionado. Apesar dessa adversidade, já
existem estudos em curso que buscam avaliar os danos de rodovias à fauna
72
em todo o país e, quando nos referimos impactos diretos, os estudos mais
atuais buscam avaliar os efeitos ecológicos das malhas rodoviárias em
grandes escalas (CBEE, 2016).
Mesmo diante das dificuldades comumente encontradas, propostas de
mitigação dos impactos de rodovias são comuns em estudos com escalas
menores de atuação. Dentre as propostas mais citadas, verificam-se a criação
de cercas intercaladas, passagens de fauna e a instalação sistemas de
controle de velocidade (CLEVENGER; CHRUSZCZ; GUNSON, 2003; MALO;
SUAREZ; DÍEZ, 2004; BISSONETE; ADAIR, 2008).
Com base no levantamento de estudos, propostas e diagnósticos das
medidas que visam mitigar os incidentes envolvendo veículos e animais
silvestres encontradas na literatura e as avaliações de eficácia das estruturas
já implantadas no Brasil, busca-se analisar as alternativas disponíveis e
eficazes para a diminuição de atropelamentos na rodovia GO-239.
7.1. Passagens de Fauna
Popularmente, as medidas mitigadoras de atropelamentos de animais
silvestres mais conhecidas são as passagens de fauna (FORMAN et al., 2003).
Houve um tempo em que essas estruturas de travessia eram vistas como a
opção mais eficaz para evitar as colisões entre animais e veículos. Porém,
nesse período, as avaliações de sucesso na instalação dos passadouros
estariam pouco relacionadas aos estudos de eficácia, mas sim, às opiniões
pessoais de gestores públicos (ROMIM; BISSONETTE, 1996). Hoje, sabe-se
que, para promover a travessia de diversas espécies, a instalação desta
infraestrutura não pode ocorrer sem o devido planejamento prévio. Cada
ambiente tem a sua particularidade e é sabido que a composição da fauna
73
que faz a travessia e o uso da rodovia é um dos determinantes para a
instalação de passagens (BAGER, 2003). Existem tipos diferentes de acessos
e cada modelo é indicado para grupos específicos de animais (BISSONETTE;
CRAMER, 2008). Ademais, a preferência por moldes diferentes de estruturas
seguras de ligação, por exemplo, é uma das questões a serem avaliadas junto
ao estudo da ecologia das espécies mais afetadas pelo empreendimento
rodoviário. ABRA (2012), por exemplo, ao avaliar passagens subterrâneas de
fauna instaladas na rodovia SP-225, em Brotas, no estado de São Paulo,
verificou que em espécies de mamíferos de grande e médio porte existem
diferentes preferências de travessia por ligações subterrâneas a depender da
presença ou ausência de água.
Portanto, considerando a realidade do ambiente rodoviário em questão,
a instalação de passagens de fauna em caráter de urgência não é adequada,
pois a eficácia deste tipo de estrutura está condicionada a estudos prévios da
composição e da ecologia da fauna que corre o maior risco ao cruzar a via.
Um dos estudos que diagnosticaram a eficácia de passagens de fauna
nas imediações de UC brasileiras foi realizado por Bager (2003). O autor
examinou um conjunto de estruturas instaladas na Estação Ecológica de Taim
(RS) que visavam mitigar os impactos da rodovia à fauna silvestre. Na sua
análise, os túneis de travessia de fauna foram instalados de forma equivocada.
No caso, haviam passagens muito próximas e trechos muito longos sem a
alternativa de travessia. Fato que corrobora com a necessidade da realização
antecipada de pesquisas que identifiquem a composição da fauna afetada
para a instalação efetiva desses dispositivos.
Além do mais, é importante lembrar que a construção de acessos é uma
opção interessante, mas não garante o seu uso contínuo pela fauna. Sendo
assim, mesmo com a instalação de passagens adaptadas ainda haverá, na
rodovia, a presença de animais silvestres. A GO-239 é um exemplo
interessante: temos ali espécies que não apenas realizam a travessia, mas
74
também fazem o uso do ambiente rodoviário nas suas atividades diárias. O
carcará (Caracara plancus) costuma forragear a rodovia em busca de insetos
e pequenos vertebrados atropelados. Além dele, o lobo guará faz o uso de
tachões e do meio-fio da rodovia para a marcação de território, utilizando
essas estruturas para destacar as suas fezes e urina (Apêndices 28 a 30).
De outra forma, salienta-se que, com o devido planejamento prévio, a
instalação de passagens na GO-239 não deixa de ser uma alternativa válida
para garantir um meio de conexão segura entre os ambientes naturais das
áreas adjacentes (LESBARRERES; FAHRIG, 2012). Muito se fala sobre o alto
custo na instalação passadouros (MCGUIRE; MORRALL, 2011), porém, o
aproveitamento e a adaptação de galerias fluviais são exemplos de
alternativas que podem ser utilizadas para diminuir despesas com a
construção dos acessos, quando subterrâneos.
7.2. Cercamento alternado
Como já argumentado acima, o simples cercamento da rodovia não é
uma alternativa indicada para prevenir atropelamentos de animais silvestres,
pois o gradeamento intensificaria o efeito barreira da autoestrada. Porém, a
colocação de cercas ou tapumes pode ser uma boa opção quando combinada
a passagens e/ou instaladas apenas em locais estratégicos. As grades
podem, por exemplo, guiar a fauna transeunte a possíveis passagens
instaladas na rodovia.
As barreiras combinadas aos acessos para travessia são medidas de
precaução amplamente utilizadas em países da Europa. Na Hungria, por
exemplo, a maioria das estradas é construída entre grades de contenção e
possuem passagens de fauna para permitir o fluxo de animais. O fato é que,
mesmo com a aplicação dessas medidas, ainda é possível verificar animais
atropelados na extensão das vias. Visto isso, Czerkézs et al. (2013) buscaram
75
verificar os hotspots de atropelamentos em rodovias gradeadas e analisar os
fatores que explicam os aglomerados de animais mortos nessas áreas,
mesmo com a presença de barreiras físicas. Depois, propuseram
aperfeiçoamentos para essa medida mitigadora amplamente usada no país.
No caso, os autores concluíram que os animais costumam passar em espaços
criados pelas falhas na construção das grades, mas quando chegam ao outro
lado da pista, não encontram saída, acabam se perdendo e são atropelados.
Diante dos resultados obtidos, os autores propuseram a manutenção das
cercas da via e a instalação de avisos sonoros nas margens. Nota-se aqui, a
necessidade de manutenção contínua na estrutura para manter a sua eficácia.
Como as estruturas compostas por barreiras e passagens de fauna são
relativamente novas, é difícil encontrar os resultados das instalações de
medidas mitigadoras em longo prazo. A solução encontrada por alguns
pesquisadores foi o uso de modelos de predição dos efeitos das passagens e
barreiras sobre populações de espécies silvestres ao longo do tempo. No
trabalho realizado por Ascenção et al. (2013), os autores buscaram avaliar a
efetividade da implantação de passagens e barreiras para a fauna. Para isso,
desenvolveram um modelo que simula os efeitos das estradas na persistência
de populações em um ambiente hipotético. No caso, os efeitos para uma
espécie de furão foram avaliados com o auxílio de um simulador. A utilização
do programa permitiu a previsão do desempenho na aplicação desse método
amplamente utilizado para a mitigação de danos, na restauração do fluxo
gênico da espécie e na diminuição de espécimes atropelados. Os resultados
indicaram que, a depender do risco de atropelamento do local, as barreiras
pareceram ser mais eficientes do que as passagens implantadas.
No Brasil, Bager (2003) avaliou também as cercas instaladas na estação
ecológica de Taim. O autor argumentou que o tipo de grade utilizada não foi
adequada, pois pequenos vertebrados foram encontrados mortos nas treliças
do barramento. Outro argumento utilizado, foi que animais abriam buracos
escavando a base das grades para ter acesso à rodovia.
76
Reitera-se que rodovias são locais que disponibilizam recursos
alimentares e ambientais para espécies tolerantes e generalistas. Portanto,
estruturas que apenas inibam a travessia pela pista não serão suficientes para
mitigar os impactos diretos do segmento rodoviário.
De outra forma, a instalação de grades alternadas e combinadas com
estruturas que permitam a passagem segura de animais, continua sendo uma
alternativa que não apenas previne os atropelamentos, mas que também pode
tolher, mesmo que em parte, os impactos do efeito barreira e a instalação
desses dispositivos costuma ser proposta na conclusão de trabalhos. Snow et
al., (2011), por exemplo, ao avaliarem as características espaciais dos pontos
onde raposas foram encontradas atropeladas em segmentos rodoviários da
ilha de San Clemente, na Califórnia, sugeriram a implantação de cercas
intercaladas em trechos críticos de incidentes.
Todavia, a escolha dessas estruturas podem se dar em médio e longo
prazo, após a conclusão de trabalhos e estudos sobre a composição da fauna
que transita e que habita as imediações da rodovia.
7.3. Placas e sinalização
A sinalização que alerta os motoristas sobre a presença de animais na
pista é uma medida de precaução amplamente utilizada no Brasil. Porém, a
instalação de avisos têm sido questionada quanto a sua efetividade na
prevenção de atropelamentos de espécimes silvestres (BAGATINI, 2006;
RODRIGUES, et al., 2002; BECKMANN et al., 2010; LAUXEN, 2012).
BAGATINI (2006), em sua tese de mestrado, levanta a questão e afirma que
a falta de manutenção na via (como o corte contínuo da vegetação das
margens) é um dos principais fatores que interfere na efetividade da medida.
Já Lauxen (2012), argumenta que a habituação de motoristas aos avisos é
outro empecilho que torna a estrutura ineficaz.
77
Aliás, a sinalização vertical era o único método preventivo implantado na
rodovia GO-239 durante o levantamento de dados. Os altos índices de
atropelamentos amostrados no presente trabalho já demonstram que apenas
essa medida não é suficiente para coibir os incidentes entre veículos e animais
silvestres. Ressalta-se ainda que apenas a sinalização de alerta sobre a
presença de animais na pista foi instalada e que, durante as amostragens
realizadas neste estudo, ainda não havia sinalização que definisse a
velocidade máxima do trecho rodoviário.
Existem, porém, opções que podem auxiliar a promover mudanças no
comportamento dos condutores. Sonorizadores são dispositivos horizontais
geram ruídos sonoros quando transpassadas por veículos. Ainda que o
método também seja questionado na literatura, principalmente pela
intensificação da poluição sonora na rodovia e no consequente efeito de
aversão ao ambiente rodoviário (BAUTISTA et al, 2003), este é também uma
alternativa que acarretaria na diminuição da velocidade de automotores.
Além disso, a instalação desse dispositivo foi incluída no primeiro
volume do projeto das obras de pavimentação da GO-239 (AGETOP-GO,
2013) e nas condicionantes da licença de instalação da construção (GOIÁS,
2013). Ainda assim, até a finalização da coleta de dados deste trabalho, a
medida ainda não havia sido implementada na rodovia.
7.4. Redutores de velocidade
A redução da velocidade empregada por motoristas tem a prerrogativa
de aumentar o tempo de resposta na ocorrência de qualquer incidente
rodoviário. Esta é uma alternativa que, a princípio, promoveria tanto a redução
nas taxas de atropelamentos de animais silvestres quanto a segurança de
motoristas e pedestres que transitam na rodovia. Porém, a efetividade dos
redutores está condicionada ao tipo de rodovia, à geometria do traçado e à
78
sua combinação com estruturas físicas ou medidas coercitivas (LAUXEN,
2012). Com relação às medidas físicas disponíveis, existem ainda algumas
restrições na legislação que podem gerar conflitos e interferir na celeridade na
instalação destes aparatos (BRASIL, 1997; CONTRAN, 1998).
A rodovia GO-239 é uma via rural de pista simples (BRASIL, 1997).
Ocorre que, no CTB, o parágrafo único do artigo 94 proíbe a utilização de
ondulações transversais e sonorizadores em vias rurais, salvo em casos
especiais definidos pelo órgão ou pela entidade competente. A resolução do
CONTRAN no 39/1998 permite a instalação de lombadas físicas em vias rurais
pavimentadas apenas em segmentos que atravessam aglomerados urbanos
com edificações lindeiras, além das seguintes observações relacionadas às
características da via onde as ondulações serão instaladas:
[…] “Art. 8º Para a colocação de ondulações transversais do TIPO I e
do TIPO II deverão ser observadas, simultaneamente, as seguintes
características relativas à via e ao tráfego local:
I - índice de acidentes significativo ou risco potencial de acidentes;
II - ausência de rampas em rodovias com declividade superior a 4% ao
longo do trecho;
III - ausência de rampas em vias urbanas com declividade superior a
6% ao longo do trecho;
IV - ausência de curvas ou interferências visuais que impossibilitem
boa visibilidade do dispositivo;
V - volume de tráfego inferior a 600 veículos por hora durante os
períodos de pico, podendo a autoridade de trânsito com circunscrição
sobre a via admitir volumes mais elevados, em locais com grande
movimentação de pedestres, devendo ser justificados por estudos de
79
engenharia de tráfego no local de implantação do dispositivo;
VI - existência de pavimentos rígidos, semi-rígidos ou flexíveis em bom
estado de conservação.”
Quanto aos sonorizadores, a resolução expressa a seguinte restrição:
[…] Art. 6º Os sonorizadores só poderão ser instalados em vias
urbanas, sem edificações lindeiras, e em rodovias, em caráter
temporário, quando houver obras na pista, visando alertar o condutor
quanto à necessidade de redução de velocidade, sempre devidamente
acompanhados da sinalização vertical de regulamentação de
velocidade.
A princípio, a instalação de sonorizadores, acordado no projeto da
rodovia, seria inconsistente com as normas vigentes relacionadas. Porém, já
que rodovia está inserida na zona de amortecimento do PNCV, trata-se de um
ambiente complexo. Portanto, as decisões sobre a instalação de redutores de
velocidade são também amparadas pelas normas ambientais (BRASIL, 1981;
BRASIL, 2011; BRASIL, 2000; CONAMA, 1986; CONAMA, 1997).
Os dispositivos eletrônicos, como barreiras e radares, costumam fazer
parte das proposições de mitigação de atropelamentos em rodovias
brasileiras. Prado, Ferreira e Guimarães (2006), por exemplo, propuseram,
entre outros, a instalação de barreiras eletrônicas para prevenir a ocorrência
de incidentes entre veículos e animais silvestres no Parque Ecológico Altamiro
de Moura Pacheco em Goiás. Bager (2003), argumenta que o fator coercitivo
desses aparatos faz com que sejam a opção mais eficaz na redução das taxas
de atropelamentos de animais silvestres.
Todavia, aparelhos eletrônicos têm alto custo e, para produzirem
resultados, exigem a manutenção contínua. Por isso, os locais de instalação
devem ser bem analisados.
80
Ainda que a instalação de redutores eletrônicos e físicos de velocidade
dependam da atuação direta, conjunta e contínua das autoridades
responsáveis, esta é vista como uma opção que, em curto prazo, poderia
contribuir positivamente com a redução de atropelamentos de fauna e de
acidentes na rodovia estudada.
7.5. Rodovia GO-239: o cenário atual e a medida indicada para redução
dos impactos observados
As lacunas que ainda existem no estudo dos efeitos de rodovias na
biodiversidade são amplamente utilizadas para embasar a prerrogativa de que
não há evidências suficientes de danos significativos à vida silvestre na
implementação de empreendimentos rodoviários (VAN DER REE et al., 2011).
O argumento é também amplamente utilizado na necessidade de instalação
de estruturas que busquem prevenir atropelamentos. A realidade do trecho
estudado no presente trabalho não é exceção.
A rodovia que liga a cidade de Alto Paraíso de Goiás à Colinas do Sul é
antiga. O traçado tem origem nas atividades minerárias que existiam no local
que atualmente é protegido pelos limites do PNCV. Mais adiante, a
autoestrada fez parte do conjunto de aparelhos urbanos instalados na região
em um projeto de incentivo implantado pelo governo do estado de Goiás em
1979. Seu planejamento não considerou a preservação da riqueza ecológica
das imediações (ICMBIO, 2009). A via já estava estabelecida e estruturada
em boa parte do traçado que dá acesso à vila São jorge e apenas cerca de
12 quilômetros do segmento ainda não possuía pavimentação quando a
primeira etapa das obras de reestruturação se iniciaram. Hoje, a GO-239 é
uma rodovia com deficiências que tornam propício o seu uso indevido por
parte dos motoristas que nela transitam. O trecho conta com ampla
sinalização para alertar transeuntes sobre a travessia de fauna silvestre
81
(Apêndices 31 a 33). Porém, até a finalização do presente trabalho, não
haviam avisos que definissem a velocidade máxima na pista. O Código
Nacional de Trânsito brasileiro (CTB), determina que, onde não existe
indicação dos limites de velocidade, para as características do trecho em
questão, deve-se considerar a marca máxima de 100 km/h para automóveis,
camionetas e motocicletas; e de 90 km/h para os demais veículos.
Ocorre que, em 1999, foi promulgada a lei estadual nº 13.467 que
denomina e especifica o trecho rodoviário da GO-239 como Estrada Parque
Sulivan Silvestre (GOIÁS, 1999). O conceito de estrada-parque ainda é vago
no Brasil (OLIVEIRA et al., 2012; SORIANO, 2006). Muitas vezes, estas vias
são consideradas áreas especiais de interesse turístico (AEIT) ou apenas
recebem essa denominação quando cortam áreas de grande relevância
ecológica em UC (SORIANO, 2006). Nota-se, porém, que o reconhecimento
legal da importância dos ecossistemas cortados pelo eixo rodoviário e a
velocidade máxima ainda não definida na rodovia são fatos inconsistentes.
Outra questão que deve ser considerada é a segurança de motoristas e
pedestres na via. A falta de fiscalização e a brecha que permite o fluxo de
veículos em alta velocidade propiciaram a ocorrência de acidentes sérios de
trânsito no local. No período de um ano, durante o levantamento de dados do
presente estudo, ocorreram dois sinistros com vítimas fatais no trecho
trabalhado. Ademais, a ocorrência de incidentes envolvendo mamíferos de
grande porte, já encontrados na rodovia (BRAZ; FRANÇA, 2016), podem
acarretar ferimentos sérios aos motoristas envolvidos, além dos alusivos
danos materiais (BISSONETE; ADAIR, 2008; LANGLEY; HIGGINS; HERRIN,
2006; ROWDEN et al., 2008; MRTKA; BORKOVCOVÁ, 2012).
Portanto, a relevância da instalação de estruturas que mitiguem os
impactos observados na rodovia vai além da importância ecológica e atinge
também a segurança e o bem-estar de moradores e visitantes da região.
82
Ademais, a legislação ambiental brasileira é robusta e abarca todas as
situações conflituosas observadas. Com relação à segunda etapa da obra de
pavimentação da rodovia, os argumentos embasados na ausência de estudos
necessários para a confirmação dos danos e para a indispensabilidade da
aplicação de medidas preventivas de atropelamentos estão amparados pelo
princípio da precaução. O princípio 15, proclamado na declaração do Rio
sobre meio ambiente e desenvolvimento (ONU, 1992) refere-se à precaução
da seguinte forma:
“(…) Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a
ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão
para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir
a degradação ambiental.”
Já na etapa concluída e cujas condicionantes da licença de instalação
ainda não haviam sido cumpridas, observa-se a oportunidade de um
ajustamento de conduta por parte da construtora. A aplicação das medidas
propostas no presente trabalho proverão uma análise de efetividade na
redução de velocidade de veículos que, se positiva, poderá ser repetida na
próxima etapa de intervenção no traçado.
É importante salientar, porém, que mesmo com a implantação de
estruturas visando a mitigação dos danos, ainda será possível verificar
animais atropelados na extensão do eixo rodoviário. Todavia, a prevenção dos
impactos tem o objetivo impedir que a redução de densidades populacionais
cheguem a níveis críticos e, assim, garantir a permanência de espécies
suscetíveis às influências negativas da rodovia em locais especialmente
protegidos. Tendo em vista que a perda na biodiversidade é um dos principais
fatores que provocam alterações em processos ecossistêmicos relevantes
(HOOPER et al., 2012), é imprescindível o controle e acompanhamento dos
efeitos da GO-239 nas imediações do PNCV.
83
No tocante aos resultados do presente trabalho, a situação atual da
rodovia, de seus ambientes lindeiros e da importância de se preservar os
mecanismos ecológicos nas áreas de grande relevância que, dentre outras
coisas, são atrativos turísticos e norteiam a principal atividade econômica das
cidades inseridas na microrregião da Chapada dos Veadeiros (ICMBIO, 2009),
recomenda-se a instalação de redutores de velocidade na rodovia GO-239,
sejam estes físicos ou eletrônicos. Quanto aos locais indicados para a
instalação dos mecanismos preventivos, orienta-se a avaliação da viabilidade
dos trechos identificados neste estudo como hotspots de atropelamentos.
Como os resultados produzidos são referentes às amostragens
realizadas ao longo de um ano, período que não permite a identificação de
eventos sazonais, é importante que se dê preferência aos trechos
coincidentes no que se refere aos dados auferidos antes e após as obras na
rodovia.
Ademais, é essencial que as informações de atropelamentos de animais
silvestres na GO-239 sejam monitoradas continuamente, em vias de se
identificar padrões em ocorrências de eventos ao longo dos anos, suas
possíveis causas e soluções. Além de acompanhar a resposta da fauna às
mudanças que já ocorreram e que ainda ocorrerão no segmento rodoviário
trabalhado.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos no presente estudo evidenciam que os índices de
atropelamentos de animais silvestres na rodovia GO-239 são significantes,
com 0,043 eventos registrados para cada quilômetro percorrido. Índice
superior ao obtido nos dados levantados antes das intervenções no traçado
84
do eixo rodoviário (0,029).
Após as obras na rodovia, foram identificadas aglomerações de
atropelamentos nas proximidades do perímetro urbano de Alto Paraíso de
Goiás, quando analisados os dados referentes às classes das aves, dos
anfíbios e, também, todos os registros auferidos. Ademais, os hotspots de
atropelamentos de anfíbios e de todas as classes de vertebrados amostradas
entre os anos de 2015 e 2016 foram positivamente relacionadas ao número
de fragmentos urbanos, tal relação não foi observada nas amostras obtidas
entre os anos de 2007 e 2008. Outrossim, as informações levantadas após a
pavimentação apresentam riquezas relativas inferiores quando comparadas
aos levantamentos anteriores à instalação da nova estrutura rodoviária,
indicativo de que os hábitats das imediações da rodovia vêm sendo evitados
por indivíduos menos tolerantes às alterações no ambiente. É possível,
portanto, que a fauna habitante de áreas próximas à autopista esteja
suscetível aos impactos negativos da perda na conectividade de manchas de
vegetação natural (efeito de barreira) e à redução na qualidade dos hábitats
locais.
Os trechos onde foram identificadas aglomerações de eventos não
sofreram alterações significantes com a inserção do novo pavimento. Mas, foi
notado que a instalação da nova estrutura de transporte automotivo tornou
comum o tráfego de veículos em alta velocidade em todo o segmento
pavimentado. Desta forma, as alterações observadas nas distribuições de
incidentes foram mais relacionadas às mudanças no comportamento de
motoristas do que à modificação da superfície rodoviária.
Os ambientes naturais são diversos e mutáveis. Portanto, as influências
desta rodovia devem ser trabalhadas em diferentes escalas temporais e de
forma contínua. Recomenda-se assim, que seja adotado o monitoramento
continuado do traçado com o objetivo de se identificar padrões, eventos
sazonais e a resposta da fauna às perturbações ambientais.
85
Considerando a situação atual e a importância da boa funcionalidade e
a seguridade da via para os moradores e visitantes da região, a instalação de
redutores de velocidade, físicos ou eletrônicos, parece ser a melhor alternativa
como medida mitigadora de danos, cuja aplicação apresentará resultados em
curto prazo.
Porém, considerando a relevância ecológica do local, mais adiante, de
posse de mais estudos que demonstrem qual a composição e a ecologia da
fauna que faz o uso da rodovia, a instalação de passagens poderá ser incluída
em um sistema de proteção. O sistema é composto por um conjunto de
medidas que visem diminuir as taxas de atropelamentos na rodovia
(passagens, cercas direcionadas, placas e redutores de velocidade). Este sim,
pode garantir a diminuição de atropelamentos de animais silvestres de forma
eficaz. Por hora, a diminuição da velocidade empregada por motoristas na
rodovia é o meio mais rápido de garantir o aumento no tempo de resposta na
travessia de animais silvestres.
86
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98
10. APÊNDICES
Apêndice 1: Registro da Maria-preta-de-penacho (Knipolegus lophotes) realizado em 24/04/2016.
Apêndice 2: Registro do Choca-de-Asa-Vermelha fêmea (Thamnophilus torquatus) realizado em 07/08/2016.
99
Apêndice 4: Registro do Rabo-branco-acanelado (Phaethornis pretrei ) realizado em 17/09/2016.
Apêndice 3: Registro do Choca-de-Asa-Vermelha macho (Thamnophilus torquatus) realizado em 17/07/2016.
100
Apêndice 6: Registro do Anu-branco (Guira guira) realizado em 05/06/2016.
Apêndice 5: Registro do Pia-cobra macho (Geothlypis aequinoctialis) realizado em 18/09/2016.
101
Apêndice 7: Registro do João-bobo (Nystalus chacuru) realizado em 30/07/2016.
Apêndice 8: Registro da Cobra-de-vidro (Ophiodes striatus) realizado em 07/05/2016.
102
Apêndice 9: Registro da Falsa-coral (Oxyrhopus trigeminus) realizado em 07/05/2016.
Apêndice 10: Registro da Falsa-coral (Oxyrhopus trigeminus) realizado em 08/05/2016.
103
Apêndice 11: Registro da Jiboia arco-íris (Epicrates cenchria) realizado em 08/05/2016.
Apêndice 12: Registro da Olho-de-gato (Leptodeira annulata) realizado em 21/05/2016.
104
Apêndice 13: Registro da Jararaca-dormideira (Sibynomorphus mikanii) realizado em 08//05/2016.
Apêndice 14: Registro da Cascavél (Crotalus durissus) realizado em 21/05/2016.
105
Apêndice 15: Registro do Lagarto-preguiça (Polychrus acutirostris) realizado em 30/07/2016.
Apêndice 16: Registro do Calango verde (Ameiva ameiva) realizado em 17/04/2016.
106
Apêndice 17: Registro do Cururu-vermelho (Rhinella rubescens) realizado em 07/05/2016.
Apêndice 18: Registro do Sapo-cururu (Rhinella schneideri ) realizado em 01/11/2015.
107
Apêndice 19: Registro do Ouriço-cacheiro (Coendou prehensilis) realizado em 22/05/2016.
Apêndice 20: Registro de morcego (Stenodermatinae) realizado em 20/08/2016.
108
Apêndice 21: Exemplo de identificação à nível de Classe taxonômica devido à presença de fragmentos de penas na mancha. Registro realizado 04/06/2016.
Apêndice 22: Registro da Cuíca (Gracilinanus agilis) realizado em 04/06/2016.
109
Apêndice 23: Registro do Lobo guará (Chrysocyon brachyurus) realizado em 14/08/2016 (Foto: João Di Trindade).
110
Apêndice 24: Registro do Quati (Nasua nasua) realizado em 22/08/2015.
Apêndice 25: Exemplo de corpos d’água próximos ao traçado rodoviário. Destaque para o registro de atropelamento realizado em 22/08/2015 (apêndice 24).
111
Apêndice 26: Exemplo de espelho d’água próximo ao traçado rodoviário. Segmento próximo ao perímetro urbano de Alto Paraíso de Goiás. Registro em 06/09/2015.
Apêndice 27: Grãos de milho espalhados pela rodovia em decorrência do tombamento de veículo de carga. Segmento próximo ao morro da Baleia. Registro em 18/06/2016.
112
Apêndice 29: Fezes de Lobo guará (Chrysocyon brachyurus) em tachão. Registrado em 09/08/2015.
Apêndice 28: Carcará (Caracara plancus) forrageando a rodovia. Registrado em 08/05/2016.
113
Apêndice 31: Sinalização vertical informativa instalada na rodovia. Registrado em 28/09/2016.
Apêndice 30: Fezes e urina de Lobo guará (Chrysocyon brachyurus) em tachão. Registrado em 06/09/2015.
114
Apêndice 32: Sinalização vertical que alerta sobre a presença de animais silvestres na rodovia. Registrado em 18/10/2015.
Apêndice 33: Sinalização vertical que alerta sobre a presença de animais silvestres na rodovia. Solo exposto ao fundo. Registrado em 03/10/2015.
115
Apêndice 35: Solo exposto às margens do trecho que não possuía pavimentação. Registrado em 23/07/2015.
Apêndice 34: Solo exposto e formação de sulcos no talude de corte às margens do trecho que não possuía pavimentação. Registrado em 18/09/2016.
116
Apêndice 37: Solo exposto à margem do trecho que não possuía pavimentação. Registrado em 18/10/2015.
Apêndice 36: Solo exposto às margens do trecho que não possuía pavimentação. Registrado em 09/08/2016.
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