UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
PEDAGOGIA ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
RAFAELA FERREIRA FRANCO
A CONTRIBUIÇÃO SOCIAL DO ESPORTE NA VIDA DA PESSOA
COM SÍNDROME DE DOW: UM ESTUDO DE CASO
Salvador
2010
RAFAELA FERREIRA FRANCO
A CONTRIBUIÇÃO SOCIAL DO ESPORTE NA VIDA DA PESSOA
COM SÍNDROME DE DOW: UM ESTUDO DE CASO
Monografia apresentado como requisito parcial
para obtenção da graduação em Pedagogia Anos-
Iniciais do Ensino Fundamental do Departamento
de Educação da Universidade do Estado da
Bahia,sob orientação da Profª. Ana Portela.
Salvador
2010
RAFAELA FERREIRA FRANCO
A CONTRIBUIÇÃO SOCIAL DO ESPORTE NA VIDA DA PESSOA
COM SÍNDROME DE DOW: UM ESTUDO DE CASO
Monografia apresentado como requisito
parcial para obtenção da graduação em
Pedagogia Anos- Iniciais do Ensino
Fundamental do Departamento de Educação
da Universidade do Estado da Bahia,sob
orientação da Profª. Ana Portela.
Salvador _____ de _______________de 20____.
Profª. Ana Portela
_____________________________________________________________________
Profª. Juliana Santana Moura
______________________________________________________________________
Profª. Luciene Maria
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Rita de cássia Ferreira Franco e Ubiraci Braga Franco ,que sempre
estiveram ao meu lado, desde o inicio dessa cansativa e prazerosa, jornada acadêmica;
À minha irmã Juliete e a minha prima Graziela que por muitos e muitos momentos
estiveram ao meu lado, me ajudando sempre que possível na efetivação de alguns
projetos e oficinas pedagógicas;
Aos envolvidos no processo da minha pesquisa de campo, pela atenção e paciência
durante todo meu período de observação;
Aos amigos e companheiros da turma 2006.1 de Pedagogia dos Anos Inicias do Ensino
Fundamental;
Meus cordiais agradecimentos a minha orientadora Ana Portela;
Ao meu onipresente Deus, por ter atendido aos meus inúmeros pedidos de sabedoria e
paciência.
É PRECISO SABER VIVER!
Quem espera que a vida
Seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco
Ou viver na solidão
É preciso ter cuidado
Prá mais tarde não sofrer
É preciso saber viver...
Toda pedra no caminho
Você pode retirar
Numa flor que tem espinhos
Você pode se arranhar
Se o bem e o mau existem
Você pode escolher
É preciso saber viver...
É preciso saber viver!
É preciso saber viver!
É preciso saber viver!
Saber viver!...
Roberto Carlos / Erasmo Carlos.
RESUMO
O presente trabalho visa analisar o papel da prática esportiva no processo de
desenvolvimento social e de inclusão de pessoas com síndrome de Down. Partindo-se
do Partindo-se do pressuposto de que o esporte é um instrumento de inclusão social para
pessoas com necessidades especiais e que por meio dele, capacidades podem ser
potencializadas e “limitações” minimizadas, colaborando assim para que essas pessoas
possam atuar de forma mais independentes nas mais diversas áreas da sociedade, surge
a seguinte questão que norteia esta pesquisa: De que maneira a prática esportiva pode
contribuir para a inclusão social da pessoa com Síndrome de Down? O caminho
metodológico escolhido para subsidiar esse trabalho segue a linha qualitativa, tendo
como estratégia de pesquisa o estudo de caso, de uma adolescente com Síndrome de
Down, e os envolvidos diretamente no processo da prática esportiva, realizada numa
Instituição Esportiva de Salvador. Apontamos como conclusões preliminares que o
esporte é uma prática privilegiada no processo de inclusão sócio-interativo para crianças
e adolescentes com Síndrome de Down, por se constituir num agente socializador de
dimensões sociais que corroboram para a interação e inclusão dessa parcela da
sociedade.
Palavras chaves: Esporte. Síndrome de Down. Inclusão Social
.
ABSTRATC
This study aims to examine the role of sports activities in the process of social
development and inclusion of individuals with Down syndrome. Starting from the
assumption that sport is an instrument of social inclusion for people with special needs
and that through him, capabilities can be leveraged and "limitations" minimized,
thereby contributing to these people can act in a more independent in most various areas
of society, there is the question that guides this research: How does the practice of
sports can contribute to social inclusion of people with Down syndrome? The
methodological approach chosen to support this work follows the line quality, with the
research strategy the case study of a teenager with Down syndrome, and those involved
directly in the process of sports practice, at a sporting institution of Salvador. We point
out the findings that the sport is a practice location in the process of including socio-
interactive for children and adolescents with Down syndrome, as it constitutes a
socializing agent of social dimensions that support for interaction and inclusion of this
portion of society.
Key words: Sports. Down syndrome. Social Inclusion.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES E TABELAS
Figura 1- Piscina do SESC de Aquidabã- Salvador- BA, Autoria do pesquisador.................51
Figura 2 -Flor praticando natação no SESC de Aquidabã- Salvador- BA, Autoria do
pesquisador...................................................................................................................................51
Figura 3- Flor fazendo natação do SESC de Aquidabã- Salvador- BA, Autoria do
pesquisador...................................................................................................................................54
Figura 4- Flor na aula de natação, no SESC do Aquidabã, Autoria do pesquisador..............54
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................9
2 . CAPITULO I- O ESPORTE E SEU ASPECTO SOCIAL................14
2.1 O ESPORTE E SEU ASPECTO SOCIAL................................................................17
2.2O ESPORTE COMO AGENTE DE INCLUSÃO SOCIAL: CENÁRIO DAS
POLÍTICAS PÚBLICAS................................................................................................20
2.3O ESPORTE ADAPTADO........................................................................................25
3. CAPÍTULO II- A SÍNDROME DE DOW.......................................30
3.1 ASPECTOS FÍSICOS E COGNITIVOS DA SÍNDROME DE DOWN...............31
3.1.2 Contextualização Histórica....................................................................................34
3.1.3 Paradigmas da Inclusão Social..............................................................................38
3.2 A RELEVÂNCIA DA FAMÍLIA ...........................................................................41
3.3 O ESPORTE PARA AS PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN.....................42
3.4 O PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA........................................46
4. CAPÍTULO III -ANÁLISE DE DADOS..........................................49
4.1 METODOLOGIA....................................................................................................49
4.2 ESPAÇO DA PESQUISA.......................................................................................50
4.3 SUJEITOS DA PESQUISA.....................................................................................52
4.3 COLETAS DE DADOS...........................................................................................54
4.4 ANÁLISE DOS DADOS .......................................................................................56
5. CONLUSÃO ........................................................................................................63
6. REFERÊNCIAS...................................................................................65
7. ANEXOS...............................................................................................68
INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa demonstrar a importância e a viabilidade do esporte na vida das
crianças e adolescentes com Síndrome de Down (SD), suas contribuições e benefícios na
formação e desenvolvimento dessas pessoas, a relevância do professor de educação
física como agente orientador dessa prática esportiva, esclarecendo também a Síndrome
de Down em suas considerações anatómo-fisiológicas.
Temos como propósito analisar o papel desempenhado pela prática esportiva no
desenvolvimento social de crianças e adolescentes com Síndrome de Down,
especialmente no processo de interação e de inclusão social.
Enfatizar este objetivo ainda se constitui um grande desafio, na medida em que o
conceito de esporte, até os dias hoje, está muito mais associado à competição e a uma
boa compleição física (TUBINO, 1992) do que a desenvolvimento cognitivo e social.
Deste problema, surge a questão que guia este trabalho: De que maneira a prática
esportiva contribui para o desenvolvimento e inclusão social da pessoa com Síndrome
de Down?
Por conta da relação esporte-competição (concepção advinda do contexto da Revolução
Industrial), ainda presente no conceito do esporte contemporâneo (TUBINO, 1992), é
que muitos desacreditam na possibilidade de crianças e adolescentes com SD não só se
envolverem prática esportiva como, fundamentalmente, se integrarem socialmente
através dela. (ROSADAS, 1986).
Segundo Vayer e Roncim (1989, p.59), para haver integração a criança precisa ser capaz
de exercer atividades necessárias, às quais resultam em saber fazer como os outros. Há,
evidentemente, habilidades que dependem diretamente do fator genético para se
desenvolver. Essa herança genética é determinante em qualquer processo de
aprendizagem, mas este também pode sofrer influências de fatores exógenos e de
variadas experiências. Na medida em que o esporte é acompanhado de uma proposta
pedagógica se fundamenta e se estrutura como um fenômeno sócio-cultural dotado de
caráter socializador, ele assume significância não só na aprimoração da esfera física e
psíquica, como no estabelecimento de oportunidade dessas crianças e adolescentes
testarem seus limites e potencialidades (WERNECK, 1995).
Mas dificuldades não se restringem apenas a essa visão do esporte, existe também a
necessidade de se ter a frente dessa atividade esportiva, profissionais capacitados para a
realização desse trabalho no segmento da Educação Física Adaptada, que vai exigir do
profissional, entre outras coisas, dedicação e conhecimento especifico no que se refere
aos métodos e as atividades desenvolvidas durante essa prática esportiva os quais são
determinados de acordo com as particularidades físicas e psicológicas que envolvem e
caracterizam a Síndrome de Down. (BOMFIM ,1996).
Em 1958, o geneticista Jérome Lejume observou que a criança com Síndrome de Dwon
contava com 47 cromossomos, ao invés dos 46 cromossomos (23 da mãe e 23 do pai),
indentificou o cromossomo extra e percebeu que o mesmo se ligava ao par 21, por essa
razão costuma-se utilizar o termo trissomia 21. (PUESCHEL, 1995). Atualmente são
inúmeras as características que são evidenciadas em pessoas com a Síndrome de Down.
Faz-se indispensável o conhecimento e a importância dessas informações, para que a
criança e o adolescente com Síndrome de Down, não sejam exposto à práticas que
colocaram em risco a sua integridade física e social.
Para o desenvolvimento da prática esportiva com essas pessoas, por exemplo, faz-se
extremamente necessário o entendimento e conhecimento do orientador sobre as
especificidades não só da Síndrome de Down, bem como dos anseios e limites do seu
aluno, no sentido de garantir a aplicabilidade de metodologias e atividades significativas.
Pois a prática esportiva tem que ser prazerosa, e, ao mesmo tempo, possibilitar a relação
entre o fazer e o compreender, não dando à criança apenas a incumbência de expectadora
de uma ação, desprovida de qualquer criatividade. ( BOMFIM, 1996).
Apesar de ser uma prática recente e, portanto, pouco explorada, já existem dados
concretos sobre a dimensão social da prática esportiva sobre a vida não só dos
deficientes, como também a das crianças e adolescentes em situação de risco sociais. Os
cenários das políticas públicas convergem no sentido de fortalecer a dimensão social do
esporte, na medida em que através das ações do Ministério do Esporte propõe, formula e
executam programas voltados para as áreas ligadas as esferas sócio- educativas,
econômica e da saúde.
No caminho de promover a disseminação das múltiplas facetas do esporte, o Esporte
Adaptado torna-se, cada vez mais, foco de atenção de profissionais que atuam nos mais
variados segmentos da sociedade. Inúmeros programas de abrangência internacional,
nacional e local, têm contribuído para o incentivo da prática esportiva com pessoas
deficientes e de como a nessa prática pode influir de maneira positiva no fenômeno da
inclusão social dessa parcela da sociedade.
Autores como: Sassaki (1999); Werneck(1997); Mantoan(1992); Dacosta(1980) ;
defendem a participação dos deficientes, nos mais variados segmentos sociais, tais como:
esporte, lazer, turismo, educação e mercado de trabalho, mas segundo os autores a idéia
da inserção nesses segmentos não esta somente em promover a participação dessas
pessoas nessas áreas, e sim promover a inserção e a permanência, galgada no sucesso,
dos deficientes nesses segmentos sociais.
No caminho do paradigma da Sociedade Inclusiva, Werneck suscita a idéia de que nessa
sociedade não será admitida dispensar aos “diferentes “o tratamento de como os
coitados, merecedores da solidariedade dos ditos „normais‟, pois na sociedade inclusiva
não haverá espaço para os “bonzinhos”. A consciência que permeia a noção da
“Sociedade para Todos” (SASSAKI,1999) é a de que como cidadãos devemos pensar e
agir voltando nosso olhar para o próximo, sendo este, „portador” ou não de alguma
necessidade especial.
A escolha pelo tema se constitui em realizar desejos de cunho pessoal e profissional.
Acredito que se nos atentarmos somente para evidenciar características, dificuldades e
enfermidades secundárias à Síndrome de Dow, “em nada “se irá contribuir para que
essas pessoas sejam encaradas como ser humano dotado de potencialidades e
habilidades.
Partindo-se do pressuposto de que, a cada vez que demonstramos casos de superação
envolvendo pessoas com Síndrome de Down, deslocamos o foco de atenção da
deficiência para a suficiência dessas pessoas. Diante desta idéia, e o interesse pela área
de educação especial, surgiu a vontade de evidenciar, neste estudo, algum exemplo que
pudesse demonstrar que as pessoas com Síndrome de Down são capazes de realizar
inúmeras atividades, principalmente as atividades mais voltadas para as pessoas sem
deficiência, como é o caso da prática esportiva.
Dentro do meu contexto familiar, pude ser testemunha de como o esporte pode
transformar para melhor a vida de alguém. Constatei como esta prática contribuiu de
forma significativa para a ascensão e inclusão social. Dessa forma, nasceu o desejo de
evidenciar um caso bem sucedido de uma pessoa com Síndrome de Dow, inserida em
alguma prática esportiva, mais voltada para a inclusão social do desenvolvimento de
atividades terapêuticas. Buscando-se elencar proposições teóricas que reportem os
benefícios físicos e psicossociais do esporte, a partir de uma abordagem pedagógica da
prática esportiva, busca-se evidenciar a importância da interlocução de autores e
profissionais das ciências humanas, das ciências sociais e das ciências da vida, durante o
delineamento da pesquisa. O diálogo com esses autores visa fomentar a idéia de que a
inclusão social pode ser percebida em diversas áreas, tirando um pouco o enfoque para a
inclusão mediada pela escola, para a inclusão a partir de outros segmentos sociais.
O presente estudo está dividido em quatro capítulos. O primeiro aborda o caráter
socializador do esporte. Parte-se do cenário das políticas públicas, voltada para
disseminar as múltiplas facetas do esporte (TUBINO, 1992) para uma breve
retrospectiva do papel do esporte durante alguns principais momentos de transformações
econômica e sociais para, enfim, tratarmos sobre a prática do Esporte Adaptado
(BOMFIM, 1996).
No segundo capítulo da pesquisa é feito um breve delineamento acerca das
considerações anato- fisiológica da Síndrome de Down, juntamente a uma retrospectiva
sobre os tratamentos dispensados aos deficientes em alguns momentos marcantes da
história do homem na sociedade.( BARTALOTTI,2006; ROSADAS,1986) O
paradigma da inclusão também se faz presente nesse capítulo, visto que as diretrizes da
“sociedade para todos” permeará, a todo momento, o discurso teórico que norteia essa
pesquisa (SASSAKI, 1999). Aspectos relacionados ao papel da família e do professor
de Educação Física no campo da dimensão social do esporte serão também, abordados
nessa parte da pesquisa.
No terceiro e último capítulo, apresentamos a metodologia qualitativa, baseada no
estudo de caso, de cunho exploratório-descritivo de um sujeito único, a partir da escolha
intencional. Na coleta de dados será utilizado como instrumento a entrevista estruturada
e não estruturada. Para análise de dados iremos descrever os fenômenos concernentes à
problemática da pesquisa, baseando-se no método das categorias de análises. Na
conclusão pontuamos as mudanças que vem sendo delineadas para a disseminação e
valorização das práticas esportivas realizadas por pessoas com Síndrome de Down,
como ponte ligação para a inclusão social dessas pessoas. Apontando a pesquisa para a
relevância da participação de todos para a promoção do Esporte como agente
socializador das pessoas com e sem deficiência.
2. CAPÍTULO II - O ESPORTE E SUAS DIMENSÕES
No presente capitulo iremos pontuar como se deu o processo de transformação do
esporte ao longo do tempo, até os dias de hoje. Demonstraremos como o cenário atual
das políticas públicas está corroborando para fortalecer a dimensão social do esporte, no
contexto da “sociedade para todos” (SASSAKI, 1999).
O esporte sofreu e vem sofrendo mudanças ao longo do tempo. Marcos histórico, além
do contexto social contribui para o processo evolutivo da prática esportiva frente às
transformações sociais e econômicas de cada período. Assim como a educação e outras
áreas da sociedade, o esporte tem suas ações voltadas para atender determinadas
exigências do contexto social no qual esta inserido, e para que se possa atender à essas
necessidades ,imposta, pelo meio social, faz-se necessário um certo grau de adaptação,
ligada à produção e a reprodução da vida social. Segundo Singer, (1997) devemos
pensar o esporte “como algo real, que sofre influência dos fatores históricos e das
pessoas que o praticam, visando a cada momento atender as exigências do contexto
histórico social, que vêm se delineando no momento”. (SINGER, 1997)
Assistimos a passagem do esporte, como agente representativo das manifestações
simbólicas e culturais de algumas determinadas civilizações, para o esporte de
rendimento, oriundo da burguesia inglesa do século XIX, e deste para o esporte
moderno. Sendo que, esse delineamento, as características da prática esportiva
elencadas em cada contexto histórico, foram somadas, e nos dias de hoje ,algumas
dessas especificidades podem ser evidenciadas na prática do esporte contemporâneo.
(TUBINO, 1992).
De acordo com Dacosta, (1980), denominamos de esporte “O conjunto de todas as
atividades esportivo-recreativas que visem, em graus diferentes, a socialização e a
forma física dos praticantes”. Utilizaremos esse conceito de esporte, por considerar que
o mesmo engloba não só os aspectos, nos quais o esporte pode ser desmembrado, ao
mesmo tempo que evidencia a multiplicidade de intenções que cercam o discurso
ideológico da prática esportiva contemporânea. As atividades esportivas podem ser
realizadas de forma individual ou coletivas. E de acordo com o seu propósito, essas
atividades, poderão englobar todas as facetas do esporte. Essas facetas, também
denominada de dimensões serão, logo mais adiante, analisadas levando-se em
considerações as abordagens de Turbino( 1992).
A caça, a pesca, os jogos olímpicos, as competição, foram, dentro das antigas culturas,
considerados como prática esportiva. Em algumas civilizações antigas, (a civilização
grega, por exemplo) o esporte visava a melhoria das aptidões físicas, do próprio corpo,
valorizava-se a forma física, enquanto a beleza do corpo era enaltecida. Havia também
a necessidade de potencializar habilidades que exigiam força, agilidade e coragem para
ser realizadas, como forma de garantir a própria sobrevivência. Na sociedade espartana,
por exemplo, a prática das atividades físicas tais como: corrida, natação, salto, visavam
o desenvolvimento de cidadãos “soldados”, a própria educação era voltada a formação
de cidadãos guerreiros.
Em meados do século XVII, com o advento da Revolução Industrial, e o conseqüente
aumento da produção, que agora passa ser de larga escala, os trabalhadores vivenciam
uma carga de trabalho intensa, baseada na exploração da mão de obra, com longas
jornadas de trabalho, sem direito a descanso, entre outras coisas, surge em meio ao
contexto da exploração dessa parcela da sociedade, à necessidade da realização de
algumas atividades ao ar livre na tentativa de se valorizar o tempo do lazer, o tempo
livre. Essas necessidades também são evidenciadas nos dias de hoje, por conta da
pressão e dos desgastes físicos e emocionais, proveniente das sociedades industriais e
urbanas. (DACOSTA, 1980).
Sendo assim a característica principal do esporte advindo da Revolução industrial, faz-
se presente na prática esportiva da atualidade. o esporte-recreativo, ou melhor o
esporte voltado para manter o individuo ocupado no seu tempo livre, atende à uma das
dimensões sociais do esporte, que somada com suas outras facetas, contribuem para o
fortalecimento da prática esportiva multifacetada.
No inicio do século XIX, como conseqüência das transformações sociais advindas da
Revolução Industrial, uma nova dimensão do esporte começa a ser delineada. O aspecto
econômico do esporte passa a ser valorizado. No lugar do esporte-recreativo, passou-se
a evidenciarmos o esporte voltado para a competição e rendimento com a criação e
normatização das regras e normas e técnicas. O chamado esporte moderno se expande
por todo o mundo, bem como a padronização das regras e o desenvolvimento de
técnicas para aprimorar o rendimento dos atletas.
Segundo Tubino(1992), durante um grande período, somente a dimensão econômica do
esporte era valorizada, ou seja, o foco das atenções estava voltado para o esporte de
rendimento, o esporte que gerava lucro. Na tentativa de ampliar a dimensão social do
esporte, surgiram movimentos que visavam reverter este quadro, em defesa do esporte
como “Direito de Todos”, no qual todas as pessoas poderiam desfrutar dos benefícios
físicos e sociais da prática esportiva.
A dimensão competitiva do esporte foi valorizada de forma bem significativa até o final
do século XX. Porém, influenciado pelas transformações e mudanças no meio social ao
longo da história, o esporte moderno e o esporte de rendimento foram dando o lugar ao
que hoje denominamos de esporte contemporâneo (TUBINO,1992)
Visando a não atender tão somente o lado competitivo do esporte as atividades
esportivas são direcionadas também para necessidades mercadológicas. Começam a
figurar no cenário da prática esportiva fornecedores de marcas e materiais de bens de
consumo relativos ao esporte. A chamada mercantilização da prática esportiva foi o
principal elemento de mudança no processo de transição do esporte moderno para o
esporte contemporâneo. É também nesse processo de transição que surge a criação de
políticas públicas para incentivar as dimensões sociais do esporte: o sócio- educativa; a
sócio- recreativa e a voltada para a saúde( CAVALCANTI,1984)
De acordo com Tubino(1992) atualmente todas as dimensões do esporte são elencadas
na prática esportiva. As dimensões econômicas voltadas para atender as necessidades do
mercado; As sócio- recreativas voltadas para a promoção do “Esporte para Todos”; as
de caráter sócio- educacionais, voltadas para o atendimento das crianças e adolescentes
exposto aos riscos sociais, permeiam o esporte contemporâneo.
Contudo, para podermos compreender o esporte como agente socializador, faz-se
necessário, considerar a sua dimensão multifacetada e as adaptações sofridas pelas
influências, econômicas, sociais e políticas, do meio.
Segundo Tubino (1992) “temos que compreender o esporte como um agente global sem
procurar restringir sua dimensão social em apenas um tipo de abordagem,”. O próprio
autor defende a ideia de que às vezes não é possível estudar de forma isolada essas
dimensões, pois as particularidades dessas características vão se somando, se
completando ao longo do delineamento da prática esportiva, porém se faz necessário
para a contribuição do aporte teórico desse trabalho, aprofundar os aspectos sócio-
educativos e recreativo da prática esportiva, haja vista a sua relevância no processo da
inclusão social dos deficientes, em especial, as pessoas com Síndrome de Dow”( grifos
meus).
2.1. O ESPORTE E SEU ASPECTO SOCIAL
Devido a sua crescente relevância social, o esporte tornou-se um dos mais importantes
fenômenos do século XXI. Uma das características que dão ao esporte um aspecto
social, abrangente e universal é a soma das perspectivas de rendimento às perspectivas
de participação e formação do individuo de qualquer classe, raça, sexo, faixa etária
e.t.c.
Segundo Sassaki (1999) a partir da década de 80, as Nações Unidas proclamaram a
Declaração universal dos direitos Humanos. No ano de 1975, a resolução da Assembleia
Geral das Nações Unidas( ONU, 1975)1, proclamaram o ano de 1981, como o Ano
Internacional das Pessoas Deficientes”. Diante dessa mobilização mundial, em torno
do lema “Participação Plena e Igualdade”, as atividades esportivas, turísticas, de lazer e
recreativas, aqui no Brasil, começaram a caminhar no sentido da inclusão social de
deficientes e pessoas em situação de risco social.
Segundo Cavalcanti (1984), a prática esportiva deve ter por finalidade a socialização e a
forma física, pois assim alcança-se seus inúmeros benefícios. O autor ainda defende a
idéia de que o esporte pode ser evidenciado como um elemento indispensável para que o
indivíduo possa atingir a dimensão total da reinserção social, contribuindo para a
1 Resolução aprovada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 09/12/1975.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dec_def.pdf
inclusão social de qualquer pessoa, independente de raça, sexo, faixa etária e condição
social, além de ser um instrumento simples, eficiente.
Por meio da prática esportiva, as pessoas com algum tipo de deficiência podem
caminhar no sentido da reinserção social. Alguns dos benefícios da inserção da prática
esportiva favorecem o desenvolvimento das áreas que envolvem a psicomotrocidade
(autonomia na locomoção) a afetividade (saber lidar com sensações de perda, de
frustração, agressividade) e a cognição. Para o deficiente o desenvolvimento
significativo dessas áreas, contribui para a busca da inserção do mercado de trabalho, do
lazer e do esporte, do turismo, em fim, a melhoria da suficiência são pontes para o
fortalecimento da proposição defendidas por muitos autores de que essas pessoas
conseguem desenvolver quase todas as atividades que um indivíduo sem nenhum tipo
de deficiência consegue, porém de maneira mais lenta. (MANTOAN, 1997).
O esporte precisa ser entendido dentro e fora das consciências individuais, no cotidiano
da família, da comunidade e sociedade, capaz de influenciar hábitos e costumes. Nesse
sentido Dacosta( 1980, p. 10) evidencia que a faceta referente a dimensão cultural do
esporte, para o autor o esporte é considerado “ mais cultura do que educação, uma vez
que se apóia nos usos e costumes populares". As modalidades esportivas que são
desdobradas por meio do esporte são consideradas como conseqüência dos valores
culturais imersos em determinado meio social.
No entanto, ainda hoje, a cultura que permeia a prática esportiva enaltece o caráter
competitivo e lucrativo, envolvido numa atmosfera de vitórias e derrotas. (TURBINO,
1992)
Entretanto, mesmo no contexto da política neo liberal e das influências mercadológica
sob o esporte, seu papel social, pode ser evidenciado através de trabalhos que
estimulam o sentimento cooperativista, coletivo, de respeito às regras, de respeito ao
próximo e assim por diante, a disseminação desses valores, resultam em estímulos que
contribuem para a formação de indivíduos mais solidários, mais confiantes em relação a
sua auto-estima, além de fortalecer o nível das interações sociais. (TURBINO, 1992).
De acordo com o Ministério do Esporte, e as diretrizes da Política Nacional do Esporte,2
podemos pressupor que a prática esportiva pode ser um grande instrumento de
reinvenção dos quadros de injustiças e exclusão social. Todos têm direito ao acesso dos
benefícios sociais, culturais, físicos, econômicos e educacionais que é proporcionado
pela prática esportiva, na qual são admitidas todas as pessoas sem descriminação de cor,
condição social, gênero e e.t.c.
No Brasil, temos grandes exemplos de pessoas que se encontraram em condições
sociais desfavorecidas, e através do esporte conseguiram mudar não só a sua historia,
mas as histórias de muitos outros, que os têm como exemplo de garra, perseverança e
determinação.
Ainda existe evidentemente, a necessidade de se criar muitos programas e projetos que
corroborem para a efetivação do esporte como agente socializador. Faltam ainda a
participação e a mobilização da sociedade, das instituições, ou melhor, faz-se necessário
o envolvimento de todos para que a prática esportiva seja, cada vez mais, solidária, que
os programas de fomento ao esporte centrem suas ações para as dimensões sócio-
educativa e sócio-recreativa da prática esportiva, para que desse forma ,todas as pessoas
possam alcançar os benefícios físico e psicossociais por meio da inserção na prática
esportiva.
2 MINISTÉRIO DO ESPORTE. (2004). 1ª Conferência Nacional do Esporte: Documento Final. Brasília,
17 a 20 de junho. MINISTÉRIO DO ESPORTE (2005). Política Nacional do Esporte. Brasília
2.2 O ESPORTE COMO AGENTE DE INCLUSÃO SOCIAL: CENÁRIO DAS
POLÍTICAS PÚBLICAS
Quais as principais medidas governamentais que dão subsídios para a promoção do
esporte como agente de inclusão social? Será que o esporte é tratado como um direito
social? Em caso afirmativo, quais são os órgãos governamentais, responsáveis pela
elaboração e execução de políticas destinadas ao esporte.
Um dos objetivos previstos no artigo 3º, item I da Constituição Federal de 1988, dentro
do Titulo sobre os Direitos Fundamentais, assegura aos cidadãos o acesso aos direitos
sociais na busca de uma sociedade mais justa e igualitária. Já no artigo 6º, evidencia-se
quais seriam esses direitos : “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Concernete a
questão do esporte como um direito social, no § do referido artigo encontramos a
garantia ao lazer e à atividades que permitam a promoção social e o desenvolvimento
sadio e harmonioso de cada indivíduo.
No artigo 217°, capítulo III que afirma ser “ dever do Estado fomentar práticas
desportivas formais e não-formais, como direito de cada um (...)” Sendo assim a
referida Constituição contempla também alguns dos princípios que contribuíram para o
desenvolvimento de ações voltadas para a promoção da política do esporte e lazer.
A criação do Ministério do Esporte e Turismo, em 1999, trouxe um relevante
significado ao esporte como agente social, caracterizando-o como um importante
instrumento de políticas sociais, que visa refletir não só na melhoria da saúde, como
também na integração dos indivíduos, para fortalecer a construção da cidadania plena.
Para evidenciar o entendimento de que o esporte, como uma prática social,
historicamente construída e culturalmente desenvolvida, é um fenômeno bastante
consolidado no mundo contemporâneo, o Ministério do Esporte3, durante a I
3 Criado em 2003 por ato do Presidente Luís Ignácio Lula da Silva.
Conferencia Nacional de Esporte, realizada no ano de 2003, deu inicio a uma gama de
ações voltadas para a democratização e acesso ao esporte, com o objetivo de disseminar
a cultura da prática esportiva mais abrangente e voltada para as pessoas expostas aos
riscos sociais. O conjunto dessas ações desenvolvidas pelo ME seguem a Política
Nacional do Esporte, que prevê dentro do seu quadro de diretrizes: a participação da
sociedade no Conselho Nacional do Esporte, na Conferencia Nacional do Esporte e na
ouvidoria, além de elencar e valorizar a criação de projetos voltados para atender as
dimensões sociais do esporte ( TUBINO, 1992), já citado de forma breve nas
considerações do início desse capítulo. A seguir iremos às atividades e projetos
existentes em casa uma dessas dimensões.
Na esfera sócio- recreativa do esporte, são desenvolvidas ações voltadas para a
integração social, tendo o esporte como instrumento fundamental no auxilio do
desenvolvimento físico e psicológico de idosos, portadores de necessidades especiais,
crianças e jovens que vivem a margem da sociedade. Temos como exemplo o Programa
“Esporte Direito de Todos”, criado pelo Ministério do Esporte e Turismo, em 1999, e o
Programa “Esporte e Lazer da Cidade” implantado pela Secretaria Nacional de
Desenvolvimento do Esporte e do Lazer do ME. O Plano Plurianual 2004/2007 do
Governo Lula, “Brasil: um país de todos”, aborda as normas constitucionais da política
do esporte recreativo e lazer como assunto do Estado.
A dimensão sócio educativa – “Esporte Educacional” tem como público-alvo as
crianças e adolescentes expostos aos riscos sociais. Em 2003, o Ministério do Esporte
cria o “Programa Segundo Tempo” que procura estimular nas aulas de educação física,
não só o desenvolvimento das habilidades esportivas, das crianças e adolescentes, como
também o senso cooperativista, comunitário e solidário, promovendo a valorização das
diferenças, através do respeito à individualidade do próximo e a tolerância, fortalece
com essas ações o caráter social formativo e inclusivo do esporte.
A faceta, digamos que econômica do esporte, denominado de - “Esporte para
Competição” tem o objetivo de detectar e avaliar o desempenho de futuros talentos
esportivos, além de apoiar esses jovens em competições dentro e fora do país. Temos
como exemplo nesse segmento o Programa Brasil Potência Esportiva, que visa o lado
mais profissional e lucrativo do esporte. Segundo os idealizadores do programa os bons
resultados alcançados pelos atletas de alto rendimento estimulam a prática desportiva
pela comunidade, principalmente pelos jovens, que passam a ter referências saudáveis e
de sucesso.
O „Esporte como qualidade de vida” procura enfatizar o conjuntos dos inúmeros
benéficos advindos da inserção diária nas atividades físicas pelos seus praticantes.
No que concernem as políticas de esporte e lazer, em relação ao papel do Município é,
o Estatuto da Cidade, lei nº 10.257/014, que dentre algumas das disposições estabelece
normas de ordem pública e interesse social, instrumentalizando o Município para
garantir o uso da propriedade urbana e o pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade, bem como a garantia da participação da população nas decisões de interesse
público, em prol da gestão democrática.
Visando a promoção do esporte e lazer, na esfera local, o Ministério do Esporte pontua
que:
[...] os Ministérios, Secretarias Estaduais e Municipais de Esporte,
Saúde, Cultura, Educação, Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia e Turismo, formulem, executem e apóiem ações intersetoriais.E que
estas sejam ações de promoção do esporte e do lazer, articuladas ao
princípio da inclusão social, direcionadas à população, especialmente
aquelas em situação de vulnerabilidade ou exclusão social. Estas ações, portanto, devem valorizar as práticas do esporte e do lazer, da
educação ambiental, da promoção da saúde, da educação para a
formação cidadã e da qualidade de vida (2004, p. 28).
De acordo com o exposto acima, as ações e programas a serem desenvolvidos, devem
considerar políticas que sejam intersetoriais, ou seja, um conjunto de medidas que
viabilizem um diálogo com outros órgãos do governo, com outras esferas
administrativas, como os projetos de caráter mais direcionados para as necessidade da
realidade local
.
4 Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/101340/estatuto-da-cidade-lei-10257-01
Aqui na Bahia, por exemplo, a lei Estadual nº 7539, de 24 de novembro de 19995,
estabeleceu a criação do Programa Estadual de Incentivo ao Esporte Amador Olímpico
e Para- olímpico- FAZATLETA. Esse esporte tem como um dos seus principais
objetivos o incentivo do esporte amador, bem como o de fomentar o uso da prática
esportiva voltada ao atendimento de pessoas com algum tipo de deficiência , crianças e
adolescentes exposto aos riscos sociais, além da preocupação em capacitar os
profissionais da área de Educação Física para atuar com propostas com caráter
pedagógico.
Existem também alguns órgãos e entidades responsáveis por promover o
desenvolvimento de atividades esportivas e recreativas aqui na Bahia, como por
exemplo, a SUDESB- Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia.
Em Salvador iniciativas lideradas por entidades , propõem a manutenção da SME-
Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, além da criação da Secult - Secretaria de
Educação Cultura, Esporte e Lazer, para que essas Secretaria, formulem e
implementem políticas públicas inclusivas e de afirmação para o esporte e o lazer, sob
responsabilidade do estado.
Embora se perceba um considerável avanço em relação ao início de uma discussão no
âmbito das legislações, que privilegia o esporte como fator de inclusão social, há ainda
uma carência de programas e ações governamentais que visem formular e implementar
políticas públicas inclusivas na área do esporte e do lazer como direitos sociais dos
cidadãos(Ministério do Esporte(2004). Se levarmos em consideração a dimensão
continental do nosso país e as condições de abandono sociais, nas quais estão expostas
uma considerável parcela da sociedade, percebermos, o quanto ainda temos que
caminhar.
Tal carência, se é que se pode assim chamar, refere-se ao grau de
importância que as temáticas têm em relação à definição de políticas públicas na esfera federal. Isto porque parece claro para o governo que
o estabelecimento de políticas para setores como trabalho e saúde são
mais urgentes do que para o esporte e ou lazer. (SUASSUNA, 2007, p.
34)
5 Disponível em http://www.fazatleta.ba.gov.br/cartilha.htm.
Ainda segundo Suassuna (2007) a pouca relevância dada à necessidade de definir
políticas para o esporte e o lazer, colabora para a adoção de medidas locais, ou setoriais,
de pouca visibilidade e de experiências convenientes e vantajosas, contribuindo assim,
para que o Estado brasileiro assuma uma política parcial e estanque.
Elencamos aqui, algumas das principais legislações que permeiam as esferas
administrativas, em áreas que convergem à promoção do esporte como instrumento de
socialização e inclusão social.
Embora alguns programas e ações caminhem para contribuir com uma política no foco
da inclusão social, no que se refere ao esporte para os deficientes, a grande maioria dos
programas, ainda são voltados para os aspectos terapêuticos e para o aprimoramento das
habilidades dessas pessoas, em detrimento da participação ativa dos deficientes no
segmento social, educacional e de rendimento, que engloba a dimensão social do
esporte.
2.3 O ESPORTE ADAPTADO
Para alguns autores faz-se necessário adaptar as práticas esportivas, para que estas
venham de fato contribuir na melhoria dos aspectos físicos e sociais das pessoas com
deficiência( ROSADAS, 1986; JUNKEN,1987; DAMASCENO,1997), porém a ideia de
que, quanto menos adaptações existirem nessas práticas, menos os deficientes se
sentirão diferentes, também se faz presente no âmbito do esporte adaptado( BOMFIM,
1996).
De acordo com Bonfim, (1997), o esporte adaptado ou a educação física adaptada se
constitui no:
[...]ramo da educação universal que contempla os mesmos objetivos
da educação física humanista crítica. Ela se destina a prestar atendimento integral a todas as pessoas que apresentam necessidades
físicas, sensoriais, mentais e múltiplas, procurando respeitar sempre
suas deficiências, ao mesmo tempo em que promove suas suficiências. (P.26)
Desde a antiguidade, sempre se procurou valorizar as práticas esportivas como um
elemento indispensável à manutenção da saúde de indivíduos “normais”. (ROSADAS,
1986, p.4). Porém com o advento dos progressos dos conhecimentos na área da
fisiologia do exercício e do principio da inclusão, visando construir uma “Sociedade
para Todos” 6 (SASSAKI, 1999) os deficientes começaram a galgar a participação em
áreas como o esporte, turismo e lazer, até então, essa inserção parecia fazer parte de
uma realidade distante. Segundo Gândara, 1997, p.308 apud Sassaki,1999, p. 22)
[...] tem assegurado e garantido o esporte à pessoa portadora de
deficiência aumentando a probabilidade de realizações pessoais e
ampliando o repertório de atitudes sociáveis. (...) É dada a todos a chance de descobrir as suas potencialidades proporcionando
incremento da auto-estima, autoconfiança e, sobretudo a integração
social. (GÂNDARA, 1997, p. 308)
Ainda segundo Sassaki( 1999), a pouca participação no passado dos deficientes nas
prática esportivas, se dava por conta da escassez de espaços específicos para a
realização dessa prática, além da falta de equipamentos adequados. Diante dessa
6 Proposta liderada pela ONU, (resolução 45/91 da Assembléia Geral de 1990).
proposição, pode se apresentar o pressuposto de que no passado à prática esportiva,
considerava( assim como as clínicas e espaços “especializados‟)somente o
desenvolvimento de atividades terapêuticas, visavam-se “tratar “as limitações causadas
pela deficiência. Há existência da necessidade de “equipamentos e espaços
especializados”, caracteriza o caráter de reabilitação da prática esportiva dessa época.
Haviam poucos casos de atividades ,de caráter realmente esportivo, realizadas fora das
instituições pelos deficientes, a grande maioria deficientes físicos, que possuíam
habilidades atléticas. ( SASSAKI, 1999)
Os programas de atividades físicas voltados para as pessoas com deficiência mental,
historicamente, também foram estruturados para o atendimento dos aspectos
terapêutico do exercício do que para o aprimoramento de atividades motoras e
cognitivas. Atualmente , já existem programas que visam atender as especificidades
dessa deficiência, atentando-se para o caráter global da deficiência mental( TEIXEIRA,
2008).
Segundo Sassaki (1999), foi somente a partir da década de 60 e seguintes, que o esporte
e também a educação física ganharam reconhecimento e desenvolvimento de caráter
pedagógico. E na década de 80 sob a influência da mobilização mundial em torno do
lema “Participação Plena e Igualdade”, que as atividades voltadas para o atendimento de
todas as deficiências começaram a se desenvolver. Segundo Sassaki (1999), o direito a
essa participação foi conquistado através de muito sacrificio, porém já podemos contar
com algumas conquistas e exemplos de superação, no segmento do esporte adaptado.
Houve nos últimos 20 anos muitas conquistas individuais e coletivas
importantes: medalhas, reconhecimento à coragem e tenacidade, maior espaço na mídia, maior contato social, adaptações
arquitetônicas, melhoria na qualidade de vida etc. (SASSAKI,
1999,p.30)
Em contrapartida, a realidade de grande parte das pessoas com algum tipo de deficiência
no Brasil e no mundo revela poucas oportunidades para engajamento em atividades
esportivas, seja com objetivo de movimentar-se, ou praticar um esporte e atividade
física regular. (ROSADAS, 1986)
Os inúmeros benéficos evidenciados por conta da inserção da prática esportiva para os
deficientes , visual, auditivo, mental ou físico, podem proporcionar a oportunidade de
testar limites e desenvolver as potencialidades dessas pessoas, que irão contribuir de
forma significativa em áreas que promovem o desenvolvimento da autonomia e
independência para os deficientes, além de atuar na prevenção de enfermidades
secundárias à sua deficiência.
A autonomia em questão refere-se a “condição de domínio no ambiente físico e social,
preservando ao máximo a privacidade e a dignidade da pessoa que a exerce. (
MANTOAN, 1997 p. 147). E o conceito de independência, segundo Sassaki, refere-se :
Faculdade de decidir sem depender de outras pessoas, tais como:
membros da família ou profissionais especializados. Uma pessoa com deficiência pode ser mais independente ou menos independente em
decorrência não só da quantidade e qualidade de informações que lhe
estiverem disponíveis para tomar a melhor decisão, mas também da sua autodeterminação e/ou prontidão para tomar decisões numa
determinada situação.(1997,p.45)
No Brasil, existem algumas ações que atuam no segmento do esporte adaptado, como
exemplo: as Olimpíadas Especiais, os Campeonatos de Atletismo, Campeonatos de
Natação, Campeonato de Tênis de Mesa, Jogos Regionais e Festivais Esportivos.
Muitos dessas Competições são organizadas pela Federação Nacional das Apaes (
Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais).
Um dos poucos programas mais conceituados na área da prática esportiva voltada para
o deficiente intelectual, visam demonstrar para a sociedade, que as crianças, jovens e
adultos com deficiência mental são capazes de vencer limites, de superar dificuldades e
de, fundamentalmente, se integrarem socialmente através da prática esportiva é o
SPECIAL OLYMPICS”. Criado, em 1968, pela Sra. Eunice Kennedy Srhiver com o
apoio da Joseph P; Kennedy Jr. Foundation, este evento tem como missão oferecer
treinamentos e competições esportivas para as pessoas com deficiência mental. Sua
filosofia de ação está baseada no princípio de que todos devem ter as mesmas
oportunidades de aprender, de mostrar seu valor e de se integrar socialmente.
Atualmente com a participação de mais de 140 países, o programa é considerado um
dos maiores movimentos esportivos mundiais. Cerca de 1.500.000 deficientes mentais
com idade cronológica a partir de 8 anos são beneficiados com a prática de 23
modalidades esportivas dirigidas por mais de 500.000 voluntários.
Em nosso país, desde 1990, quando este programa passou a ter sua estrutura própria,
mais de 15.000 atletas especiais já foram beneficiados com a oportunidade de treinar e
competir. Com a ajuda inestimável de todos os familiares envolvidos e de mais de 4.000
voluntários, estas pessoas, pela primeira vez em suas vidas, puderam desfrutar da
alegria da prática do esporte, foram reconhecidos e valorizados, venceram seus limites.
Todos eles mostraram que são vencedores e conforme definido no tema das Olimpíadas
Especiais, foram treinados para a vida.
O esporte adaptado exerce um papel fundamental no desenvolvimento somático dos
deficientes. Baseado em métodos que respeitam as capacidades e limitações de cada um,
esse tipo de atividade contribui também para o desenvolvimento sócio afetivo dessas
pessoas. Estimula o senso de liderança, gera sensações de liberdade e prazer,
proporciona trabalhos coletivos, além de proporcionar a liberação de sentimentos como
a agressividade, medo, frustração e repressão. Esse conjunto de benéficos relativos a
prática esportiva, converge no processo de relação social dos ditos “diferentes” com
as outras pessoas “normais”. A segurança e confiança em realizar diversos tipos de
atividades, proporciona uma sensação conforto, também em ambientes socializados.
Através do esporte o comportamento dos deficientes torna-se mais seguro e motivado
devido a uma condição física mais satisfatória (JUNCKEN, 1987)
Porém, segundo Bomfim (1996) não existem muitas diferenças entre o esporte para os
ditos normais daquele outro, para os deficientes. Para o autor quanto menos fizermos
adaptações nas aulas e práticas esportivas, mais os alunos se sentirão capazes de realizar
procedimentos iguais aos seus pares considerados normais. Bonfim(1996) segue em
defesa da sua idéia quando nos coloca frente a uma questão: O esporte e a educação
física são em sua essência adaptados:
[...] quando aplicamos o conteúdo vôlei, por exemplo, para as crianças
do ensino regular, fazemos algumas adaptações no que se refere ao
jogo institucionalizado propriamente dito. Podemos aumentar o
número de jogadores, diminuir o tamanho da quadra, abaixar a rede, entre outros. Esse exemplo, respeitando suas particularidades, serve
também para o futebol, o handball, a natação, etc.(1996, p.87)
Se analisarmos mais precisamente as proposições do autor, perceberemos que nós
adaptamos um determinado ambiente, para que ele possa acolher de forma mais
confortável um amigo, um parente, em fim, adaptamos móveis, objetos, métodos,
atividades, sem que estas visem somente atender as necessidades dos ditos” diferentes”,
essas modificações, ou melhorias, podem e são feitas em prol de qualquer pessoa para
atender aos mais variados propósitos.
É bem verdade que os deficientes necessitam de uma prática sócio-esportiva coerente
com as suas “necessidades especiais‟, ou melhor, atividades desenvolvidas para atender
à especificidade de cada pessoa e, por conseguinte, de cada deficiência. Entretanto, à
atenção não deve ser direcionada a deficiência, como sinônimo de inutilidade, ou
doença, e sim ao deficiente, que deve ser encarado com um ser humano dotado de
habilidades e capacitadas, que precisam ser estimuladas, por todos, e em todos os
segmentos da sociedade. Segundo Teixeira:
É preciso que a sociedade como um todo se conscientize de que deficiência não é sinônimo de inutilidade , e que pessoas com essa
condição podem, se bem orientadas, obter desempenhos
impressionantes no âmbito social, afetivo motor e esportivo. (2008,p.30)
O cuidado e atenção no desenvolvimento e execução das práticas esportivas são
direcionados também as gestantes, os idosos, as crianças, os obesos, os diabéticos, em
fim, essa parcela da sociedade também recebe um atendimento especial, com relação a
prática de atividades físicas, entretanto, não é comum utilizarmos os termos: Educação
física adaptada ou Esporte Adaptado no trabalho com essas pessoas. Sendo assim,
podemos caminhar no sentido de desmistificar o conceito de que o esporte “especial” ou
"adaptado" se constitui em uma prática bem diferente, porque atende a pessoas muito
diferentes. Pensando assim, quanto mais se adaptar o esporte para atender as pessoas
consideradas "deficientes", mais iremos promover e, assim, consagrar a deficiência e a
segregação social. (BOMFIM, 1996)
3. CAPÍTULO II- A SÍNDROME DE DOW
No presente capítulo iremos elucidar, de maneira breve, as particularidades físicas e
psicológicas que envolvem e caracterizam a SD. Faremos também uma análise
histórica do tratamento dispensado aos deficiente ao longo dos tempos até chegarmos ao
paradigma contemporâneo da sociedade inclusiva. Pontuaremos a relevância da família
no desenvolvimento da criança e do adolescente com SD, para só então, podermos
adentrar no universo dos benéficos terapêuticos, psicossociais e cognitivos da prática
esportiva para individuo com Síndrome de Dow, evidenciando o papel e a
responsabilidade do profissional de Educação Física que atua nesse segmento esportivo.
A Síndrome de Dow se constitui em decorrência de um arranjo cromossômico, que
ocorre naturalmente e que sempre fez parte da condição humana, sua ocorrência é
universal entre todas as raças e gêneros, ocorre aproximadamente entre 1 a 800
nascimentos (BATISTA, 1989).
Nosso corpo é formado por varias células, cada célula possui 46 cromossomos, 23 da
mãe e 23 do pai. Quando, por algum motivo, a célula ganha mais 1 cromossomo, já
temos aí uma anomalia. Em 1958, o geneticista Jérome Lejume conseguiu identificar o
cromossomo excedente e percebeu que o mesmo se ligava ao par 21, daí o termo
trissomia 21. Até então, os portadores de trissonomia 21 eram conhecidos por
mongolóides. Essa denominação passou a ser usada a partir de 1866, quando o médico
John Long Down, descreveu as características da trissomia 21 (BATISTA,1989). Segue
algumas das principais características evidenciadas em pessoas com a Síndrome de
Down:
Olhos com pálpebras estreitas e levemente oblíquas, boca pequena, com língua
protusa (maior do que o normal);
Hipotonia muscular generalizada (musculatura mais flácida)
Pouca coordenação motora;
Cardiopatias
Desequilíbrio Hormonal e imunológico
Deficiência mental geralmente moderada;
Atualmente, sabe-se que além da trissomia simples há, ainda, duas outras alterações
genéticas que são responsáveis por causar a Síndrome: a translocação (quando o
cromossomo 21 extra apresenta-se aderido a outro cromossomo, geralmente o 14) e o
mosaicismo (quando a pessoa possui tanto células normais quanto células trissômicas).
Cerca de 95% dos casos diagnosticados são causados pela trissomia simples, 3% pela
translocação e apenas 2% pelo mosaicismo ( PUESCHEL, 1995, p. 53).
Algumas das características supracitadas merecem um pouco mais de atenção, visto que
as melhorias em relação a essas particularidades influenciam de maneira significativa o
desenvolvimento cognitivo e físico das crianças e adolescente com SD.
3.1 ASPECTOS FÍSICOS E COGNITIVOS DA SÍNDROME DE DOWN
Devido à hipotonia muscular e a hiper-flexibilidade, as pessoas com síndrome de Down
apresentam algumas dificuldades em relação ao aspecto da motricidade. Geralmente
possuem dificuldade de locomoção, de coordenação e falta de equilíbrio, movimentos
mais lentos e menos preciso.
Já a flacidez muscular, provoca um desequilíbrio de força nos músculos da boca e da
face, ocasionado alterações na arcada dentaria, atraso na aquisição da fala e da
linguagem, constituindo-se num grande problema para os pais, os quais precisam estar
sempre estimulando e contribuindo com o fonoaudiólogo na realização de atividades.
O atraso no desenvolvimento cognitivo das crianças e adolescentes com Síndrome de
Down pode ser percebido devido às dificuldades e à lentidão do aprendizado, além da
dificuldade em se adaptar a novos ambientes. Sendo estas umas das principais razões
que corroboram para o atraso no desenvolvimento das interações sociais e a participação
mais ativa na sociedade.
Parte-se do pressuposto de que, de modo geral, as pessoas com síndrome de Dow, por
conta da deficiência mental moderada, percorrem no nível do desenvolvimento
cognitivo, as mesmas fases percorridas pelas pessoas sem nenhum comprometimento na
área da cognição, porém de maneira mais lenta.
Alguns dos aspectos que mais influenciam na disparidade entre o desenvolvimento
cognitivo dessas crianças e adolescentes em relação aos demais são: Os problemas de
atenção, problemas associados à linguagem e a comunicação, dificuldades de abstração
e de compreensão de normas e limites, além da dificuldade no aprendizado escolar.
As crianças com Síndrome de Down apresentam idade cronológica diferente da sua
idade mental, desta forma, esperar uma resposta idêntica à resposta das crianças que não
apresentam alterações de aprendizagem, não seria um procedimento recomendável.
Segundo Schwartzman:
O fato da criança não ter desenvolvido uma habilidade ou demonstrar
conduta imatura em determinada idade, comparativamente a outras com idêntica condição genética, não significa impedimento para
adquirir-las mais tarde, pois é possível que madure lentamente. (1999,
p.246)
Ainda, Segundo Werneck (1997, p. 164): "[...] os portadores de SD têm capacidade
de aprender, dependendo da estimulação recebida e da maturação de cada um”. Nesse
tocante faz-se extremamente necessária a participação não só da família, mas também
da atuação de outros segmentos (educacionais, esportivos, de lazer, etc) nos quais
essas crianças e adolescentes estão inserido.
A relação entre individuo e sociedade faz com que com o indivíduo se adéqüe ao
ambiente em que se encontra. Para que haja desenvolvimento e aprendizagem
significativa é de grande importância a inserção no contexto histórico social.
De acordo com Teixeira (2008), não existem graus de Síndrome de Down, as diferenças
de desenvolvimento decorrem das características individuais de cada um (herança
genética, educação, meio ambiente etc.). Há, evidentemente, habilidades que dependem
diretamente do fator genético para se desenvolver, essa herança genética é determinante
em qualquer processo de aprendizagem, mas este também pode sofrer influências de
fatores exógenos e de variadas experiências.
Segundo Luchasson et al, 1992, citado em Correia( 1997), a depender das influências
recebidas , essas crianças e adolescentes podem desenvolver certas habilidades
essenciais e necessárias para interagir com o ambiente no qual está inserido. Essas
capacidades são adquiridas através do comportamento adaptativo e englobam as áreas
da: Comunicação; Cuidados pessoais; Competências sociais; Comportamentos
comunitários; Saúde e Segurança; Lazer, Emprego e Funcionamentos acadêmicos.
De acordo com o cognitivismo piagetiano, a fonte do conhecimento se da pela
construção que a criança faz entre ela e o mundo ao seu redor. Descobertas são
construídas, através da ação do sujeito frente ao ambiente no qual ele está inserido.
De acordo com Vygotsky é importante que o indivíduo se relacione com o meio para
assim formular suas próprias hipóteses na tentativa de solucionar problemas e
conflitos de ordem pessoal e social.
O desenvolvimento de algumas habilidades se dá por meio da aquisição da
experiência cultural. Evolve comparação, indagação, diálogo, resiginificação do que
já se sabe e do que ainda não se sabe. Esse processo requer uma aprendizagem
continua, que acontece de forma natural e aleatória. Conhecer é um processo
histórico e social, é construído coletivamente. Daí a importância da convivência, do
estimulo, da troca de experiências. (SCHWARTZMAN, 1999).
As pessoas “especiais” precisam ser estimuladas pela família, pela sociedade, não
adianta só motivá-las é preciso acreditar em suas potencialidades e capacidades
(WERNECK, 1997)7. Ainda segundo Werneck:
[...] as pessoas portadoras de diferenças querem ser levados a sério.
Assumirão sua condição com cada vez mais dignidade. Se nós, portadores de diferenças menores, permitirmos [...]. Como diz o
personagem do livro Um amigo diferente: "Você está preocupado
comigo? Obrigado. Mas eu vou em frente. Essa é a minha vida.
(WERNECK, 1997, p. 35)
Essas crianças e adolescentes precisam de uma adequada atenção afetiva e sócia
educativa aplicada, desde os primeiros anos de vida. Propostas tanto nas áreas
educacionais, esportivas e sociais volltadas para atender as diversidades que são
inerentes ao ser humano. Ações que procuram priorizar as particularidades e
estimulem as habilidades de cada um, reconhecendo e aceitando as diferenças, buscando
7 Cláudia Verneck, jornalista e escritora, autora de mais de dez livros sobre inclusão, entre eles Ninguém
mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva (WVA Editora), o primeiro livro lançado no Brasil sobre o
conceito de sociedade inclusiva da ONU.
voltar o olhar para as limitações causadas pela Sindrome de Down, não compreendida
como sinômino de fraqueza, inabilidade e sim como escada para ser utilizada na
superação e no desenvimento das potencialidades.
Vivenciamos um momento de sensíveis mudanças e melhorias, no tocante a questão dos
direitos das pessoas com SD. Muitas perspectivas, entre elas a medico-cientifica, vêm
contribuindo cada vez mais para a melhoria na qualidade de vida dessas pessoas.
A aplicação de bons programas de saúde tem conseguido aumentar a esperança de vida
dessa parcela da sociedade (estima-se uma média de expectativa de vida até os 60 anos).
Ao mesmo tempo, a esmerada atenção a intervenção precoce, através de programas
planejados para atender as necessidades especiais do bebê com SD, englobando uma
variedade de serviços e profissionais envolvidos8, vem permitindo a descoberta de
múltiplas capacidades que as pessoas com Síndrome de Down possuem em distintas
áreas da atividade humana. Segundo Sassaki(1999):
Pessoas que enfrentam obstáculos para tomar parte ativa na sociedade
com oportunidades iguais às da maioria da população. Além de necessidades especiais, estas pessoas têm, é claro, necessidades comuns
a todo ser humano. Lazer, esporte, educação, saúde etc.( P. 22)
Atualmente são capazes de alcançar a plena integração em todos os segmentos sociais,
exigindo, cada vez mais, serem vistas e respeitadas como indivíduos dotados de direitos,
e significância dentro da sua cultura.
Caminharemos aqui no sentido de não ressaltar as “limitações” e atrasos, causados pela
Síndrome de Dow. Buscaremos, sim, elencar as potencialidades e as conquistas dessa
parcela da população, “já tão estigmatizadas e julgadas por muitos como incapaz de ser
educada” (Mantoan,1992). Priorizando o discurso teórico da valorização das
“diferenças”, enfoque social, oposto ao modelo médico da deficiência, que evidencia o
lado passivo e paciente, das pessoas com necessidades especiais. (SITIL, 1990, p.30.
apud SASSAKI 1999).
8 Ver STRAY- GUNDERSEN, Karen (Org.). Crianças com Síndrome de Down:guia para Pais e
Educadores.Capitulo 7- Educando seu filho com Síndrome de Down: uma introdução á intervenção
precoce.
3.1.2 Aspectos Históricos
Segundo Weber ( 2004 )9a realidade é o encontro entre homens e os valores que o
cercam, porque os homens vêem o mundo que os cerca a partir dos valores que estão
imersos na sua vida cultural. As formas de segregação e de discriminação social
permeiam a da historia dos deficientes, desde os tempos mais remotos. As “diferenças”
não eram aceitas em diversas épocas e, mesmo nos dias de hoje, a não aceitação “do
outro‟, do “diferente‟ ainda se faz presente( WERNECK, 1997)
A sociedade, em todas as culturas, atravessou diversas fases no que se refere às práticas
sociais. Começou praticando a exclusão social das pessoas por causa das “diferenças”.
Em seguida, desenvolveu o atendimento segregado dentro de instituições, na tentativa de
“minimizar” as diferenças passou para a prática da integração social e recentemente
adotou o paradigma da inclusão social.
Desde a Grécia antiga, que já se formaram conceitos acerca da deficiência física e
mental. Os gregos cultuavam e valorizavam a beleza da forma humana e, através de
suas atividades artísticas e atléticas, buscavam desenvolver um corpo que fosse
perfeitamente proporcionado e gracioso em movimento, equilíbrio e estado de energia.
A visão harmônica do corpo era valorizada, em detrimento de algum tipo de
deformidade ou “diferença” que aparecesse na sociedade.
Em Esparta, a criança era tida como propriedade do Estado. Cabia o Estado influir sobre
a sua vida ou a morte da criança. Esparta era um país voltado para manutenção da força
da valorização do treinamento militar, não havia na sociedade espartana espaço para os
deficientes, sendo assim, caso fosse descoberto algum tipo de “anomalia‟, o Estado
decidiria pela morte desses indivíduos.
Já em Atenas, quem fazia o papel do “Estado espartano” eram os próprios pais. Havia
uma espécie de ritual, no qual a criança era deixada aos cuidados da família paterna.
Para significar que a criança estava merecia integrar a sociedade, o pai deveria carregar
e levantar a criança caso o contrário, ele estaria decretando o fim dessa criança.
9 Ver:RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: DPRA, 2004.Capítulo IV:
Sociedade, educação e desencantamento.
Na sociedade Romana o ato repulsivo frente aos deficientes era legalizado, sob a forma
da lei das 12 tábuas, que permitia a morte das pessoas consideradas” diferentes”.
Na idade média, a partir da cristianização dos países mediterrâneos, a igreja começa a
cuidar de forma mais intensa dos ditos diferentes. Passa-se a aceitar o diferente, como
forma de propagar a igualdade entre os homens dada pela criação divina. Surgem, as
primeiras instituições dedicadas ao tratamento dessas pessoas, os chamados espaços
“especializados”. Dessa forma os deficientes não eram mais “eliminados” da sociedade
e, sim segregados e confinados em locais voltados para o atendimento terapêutico das
deficiências. (ROSADAS, 1986, p.3)
No período renascentista, um novo olhar é lançado para os “diferentes”. Inicia-se as
chamadas concepções científicas sobre a deficiência, que passa a não ser mais encarada
como fruto advindo de espíritos do mal, bruxaria e demônios, agora passa a ser vista
como doença e não mais como possessão.
Com o advento da Revolução Industrial, uma nova concepção de individuo é delineada,
por conta das transformações econômicas que estavam ocorrendo nesse período,
caracterizado pelo processo produtivo. As pessoas passam a ser classificadas de modo a
atender as exigências do mercado de trabalho, em indivíduos: eficientes e indivíduos
deficientes (SASSAKI, 1999).
A preocupação em preparar e capacitar esses indivíduos para atuar de forma produtiva
no mercado de trabalho, começa a ser intensificada. Segundo Rosadas( 1986):
Só modernamente, sobretudo com o “boom‟ científico que dominou o mundo, a partir das duas guerras mundiais, a necessidades das
modernas sociedades em aumentar o rendimento com a diminuição do
investimento e sustentar elementos não produtivos, houve uma
preocupação, um delineamento sob os métodos e práticas que visassem a integração social do deficiente e, na medida do possível
torná-lo um fator de produção para a sociedade.( P.3)
Para atender à essas necessidades, as chamadas “residências” atuavam na habilitação,
reabilitação, educação e profissionalização dos deficientes.
Somente no final do século XIX e início do século XX percebe-se uma preocupação
maior em relação aos cuidados com essa parcela da sociedade. Há um considerável
crescimento dos métodos de intervenção, surgem as instituições especializadas para
atuar no tratamento dessa parcela da sociedade. (BARTALOTTI, 2006, p 43). Este
processo que se dava geralmente pelo método da segregação tinha como base as
técnicas terapêuticas, que investiam na “transformação” do sujeito, para que este
pudesse, depois de “modificado”, se adequar as exigências da sociedade. Essas ideais
permearam os preceitos do enfoque médico da deficiência. A busca pelo diagnóstico e
pela classificação da deficiência passa a ser intensificada, bem como os tratamentos
especializados. A deficiência é vista como doença, defeito, e as diferenças apresentadas
pelos deficientes são concebidas como características que precisam ser minimizadas, ou
até mesmo modificadas, na tentativa da normalização.
O principio da normalização permeia o conceito de integração social, que é considerado
por muitos autores (BARTALOTTI, 2006; MANTOAN, 1998; WERNECK, 1997;
SASSAKI 1998), como um processo de mão única. Nele as mudanças e modificações
só ocorrem de um lado: espera-se que os “diferentes” se modifiquem, se transformem,
para ingressar na sociedade, sem que esta, nada faça.
Diante dos avanços nas áreas sócios educativas, uma nova visão da deficiência começa
a ser delineada. Chega-se a conclusão de que mesmo que os fatores genéticos sejam
determinantes para o desenvolvimento de algumas habilidades, as pessoas com
deficiência poderiam potencializar algumas das suas capacidades, por meio de medidas
sócio educativas. A partir daí a deficiência começa a deixar de ser vista como uma
doença e passa a ser encarada como uma condição, resultante também das interações
desse sujeito com o meio no qual esta inserido. (BARTALOTTI, 2006, p 43).
A partir da década de 80, em 1981, quando a Organização das Nações Unidas- ONU
realiza o Ano Internacional das pessoas Deficientes, deu-se inicio ao movimento pela
inclusão social das pessoas com deficiência. Movimento este que se constitui, nos dias
de hoje, em um desafio da sociedade, da família, do educador e da própria pessoa com
deficiência mental na busca do direito de ser “diferente”.
Ao longo do tempo, o conhecimento da deficiência seja ela física ou mental, vem sendo
uma constante. Desde os tempos da Antiguidade, até os dias de hoje o desafio da
sociedade, da família, do educador e da própria pessoa com deficiência mental encontra-
se na busca do direito de ser diferente. Estamos, portanto, caminhando no sentido da
valorização das diferenças. Na busca pela sociedade plural a “Sociedade para Todos”.
3.1.3 Paradigma da Inclusão Social
A idéia de inclusão é uma construção social bastante contemporânea que vem sendo
defendida e difundida entre os mais variados setores da sociedade. Contudo, esta busca
ainda tem se configurado em ações reparadoras, e minimizadoras das desigualdades que
pouco contribui para a efetiva transformação da condição social dos deficientes.
De acordo com Claudia Grabois Dischon, autora do artigo Um Olhar para Inclusão10
, a
inclusão envolve um olhar diferenciado sob o outro, e sobretudo, um olhar para nós
mesmo. Incluir não significa “adicionar‟ e, sim somar, é a soma de culturas, respeitando
à diversidade.
De acordo com o relatório da Organização Mundial da Saúde, 10% da população de
países em desenvolvimento, apresentam algum tipo de deficiência, sendo que metade
destes são indivíduos com Deficiência Mental (OMS, 2001).
A sociedade comtemporânea rotula, tudo aquilo que para ela é considerada diferente.
“A diferença é considerada ameaçadora porque fere nossa propria identidade cultural”
(ROCHA,1984, p. 9). É a media em que nos aproximamos de alguma forma de
“diferença”, seja ela, referente ao comportamneto, ao pensamento, ou a forma física,
tendemos a classificar essa diferença de forma hieráquica, caminhando-se para uma
forma de exclusão( MATA,1986). É o que podemos denominar da chamada lógica
binária, o outro, sempre será o anormal, o absurdo. O grupo do “eu” faz dos seus
valores, da sua visão a única possível, a mais natural, a melhor. (ROCHA,1984, p. 9).
Tudo que é diferente causa estranheza e quando isso acontece com o ser humano
geralmente vem acompanhado de preconceito e discriminação. Segundo Crochik (1970)
apud Bartalotti(2006, p. 24):“O preconceito diz respeito a um mecanismo desenvolvido
pelo indivíduo para poder se defender de ameaças imaginárias, e assim é um
falseamento da realidade, a qual o indivíduo foi impedido de enxergar.” Diante da
10 Disponível em: http://www.cjb.org.br/hod/inclusao/textos/inclusaonadiversidade.htm
exposição do autor, as pessoas procuram se defender de algo ameaçador, de algo que
fuja aos padrões evidenciado na maioria da população, algum tipo de “anormalidade”.
Segundo Antunes (2008) qualquer definição de alteração, como„anormalidade‟ terá
sempre limitações impostas pelo contexto sócio cultural em vigência e, dessa forma, nos
deparamos com os parâmetros socialmente construídos, que definem o que pode ou não
ser aceitável.
Os deficientes, ainda nos dias atuais, sofrem inúmeras formas de preconceitos, por conta
das características físicas e mentais que fogem ao padrão da normalidade, do construto
social do que é considerado ou não aceitável. Ainda hoje nos deparamos com ações que
visam a “normalização” das pessoas deficientes, ou seja, eles precisam se modificar,
para só então, ingressar na sociedade.
Segundo Sassaki (1999), apesar do movimento da inclusão social ter se iniciado na
metade dos anos 80, foi apenas na década de 90 que essas ideais tomaram impulso. Nos
Estados Unidos e alguns países da Europa, foram realizadas Conferências e reuniões
,declarações e documentos foram produzidos para garantir os direitos das pessoas com
deficiência. A partir dessas iniciativas deu-se inicio o modelo da “Sociedade para
todos”, instituída pela Assembléia Geral da ONU, ocorrida em Dezembro de 1990. O
conceito dessa sociedade determina, entre outras coisas, que inclusão seja uma proposta
de construção de cidadania, que a sociedade inclusiva englobe todas as esferas da
sociedade, no sentido de transformar o agir, o pensar o modo de ser das pessoas para
com o próximo. É um processo de mão dupla, no qual tanto a sociedade quanto os
deficientes sofrem algum tipo de mudança de transformação, no intuito de se construir
uma sociedade justa e igualitária.(BARTALOTTI, 2006, p. 24).
Através do Decreto Nº 3.956, de 8 de outubro de 2001, o Presidente da República
promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, visando assim, convergir
com as ações para a promoção da “Sociedade pra Todos.”
Embora longe do que seria o ideal, os programas especiais de ordem política e social
como de reabilitação, moradia, assistência jurídica dentre outras formas de apoio sócio
econômico têm evoluído no sentido de priorizar o desenvolvimento das habilidades
motoras e orgânicas do indivíduo com deficiência. (ONU, 1975).
No entanto, garantir que a inclusão, não seja somente evidenciada no âmbito da
legislação e sim algo concreto, construído com a participação efetiva de todos, não é e,
nem será uma tarefa fácil. Segundo Bartalloti( 2006) para que esse desejo, se torne de
fato uma realidade possível:
[...] é preciso reafirmar que inclusão não se limita a acesso, não é uma
simples questão de colocar junto. A garantia do direito de estar junto, de partilhar dos recursos e oportunidade que a sociedade oferece, é um
passo essencial.(P. 47)
Os deficientes querem, cada vez mais, conquistar seus espaços, não basta somente ter
acesso a eles, é preciso neles permanecer. Ainda de acordo com Bartaloni (2006, p.48) o
caminho para a sociedade inclusiva se dará pela união da convivência e do
conhecimento. As pessoas precisam ter conhecimentos das particularidades de cada ser
humano e por meio da convivência nos mais diversos espaços da sociedade, realizar
trocas de experiência e sentimento de empatia.
Para Werneck( 1997) na sociedade inclusiva, não há espaço para atitudes reparadoras,
atitude que visam à aceitação como um favor, ou gesto de solidariedade, não há espaços
para sermos os bonzinhos. Devemos assumir uma atitude de cidadão, responsável pela
qualidade de vida do próximo, por mais diferente que ele seja ou possa parecer.
No contexto da inclusão, é de fundamental importância, que a consciência coletiva seja
encarada como condição necessária para que essa prática seja cada vez mais
disseminada e praticada. Nesse processo, faz-se necessário o envolvimento de todos,
sendo que a família das pessoas com necessidades especiais pode contribuir de forma
significativa para que os deficientes sejam de fato encarados como indivíduos que
possui “diferenças”, capacidades e habilidades que podem ser cada vez mais,
potencializadas à medida em que essas pessoas encontram todo apoio necessário para o
global desenvolvimento.
3.2 A RELEVÂNCIA DA FAMÍLIA
As interações estabelecidas no microssistema familiar são as que trazem implicações
mais significativas para o desenvolvimento da criança e do adolescente com Síndrome
de Down, embora outros sistemas sociais tais como: a escola, os clubes, as praças,
também contribuam para seu desenvolvimento.
O papel da família é de fundamental importância para o desenvolvimento da criança
com Síndrome de Down. Sendo que essas contribuições podem ocorrer de forma
positiva e negativa.
Deve-se trabalhar com essas crianças e adolescentes com SD, do jeito mais próximo que
trabalhamos com as crianças e adolescentes sem nenhum tipo de deficiência, para que
elas desenvolvam uma boa autoconfiança e consigam ser mais
independente.(PUESCHEL, 1995).
Desde os primeiros anos de vida, essas crianças, devem ser vistas sem preconceito.
Uma educação domestica adequada, possibilita ampliar as possibilidades dessa parcela
da população, no sentido de promover condições para que elas possam atuar de forma
mais independente, nos mais variados segmentos sociais. (MANTOAM, 1997). A
família se constitui na primeira esfera da sociedade a colaborar para que as pessoas com
SD possam enfrentar as diversas barreiras encontradas na sociedade.
As crianças precisam do adulto para conseguir resolver os problemas da vida em
comum com outras pessoas, com a sociedade, precisam contar com a autoridade do
adulto. O papel dos pais como agente socializador é de fundamental importância, pois
são neles que as crianças se espelham, determinando seu desenvolvimento social(
MANTOAM, 1997).
Segundo Bettelheim ( 1988 ) a criança precisa da solidariedade dos pais para saber
lidar com situações emocionais que provavelmente terão na vida.
Sejam quais forem as particularidades da situação, seja qual for a idade do menino ou da menina, a empatia dos pais com relação à
difícil luta do filho pela individualidade e sua solidariedade pelas
tentativas deste para descobrir, afirmar, e, finalmente, definir e testar a
si próprio. são de suprema importância para a criança.( P.149)
As crianças e adolescentes com Síndrome de Down possuem uma espontânea
capacidade para aprender coisas novas, pois assim como qualquer pessoa da sua idade,
elas se sentem muito estimuladas quando encontram na sua vida, pessoas que acreditam
em suas potencialidades. Professores, amigos e, principalmente, sua família, pois o
papel dos pais como agente socializador é de fundamental importância, pois são neles
que as crianças se espelham, no processo do seu desenvolvimento social. (VAYER,
1989).
Nas atividades esportivas, por exemplo, o papel da família é de extrema importância
não só para as crianças e adolescentes que se sentem valorizadas, como também o
professor, que encontra nos pais um grande aliado para a prática das atividades físicas,
que podem e devem ser praticadas pela pessoa com SD dentro da sua própria casa,
auxiliadas, é claro, pelos pais.
A família contribui de forma muito positiva e muito proveitosa na formação da criança
com Síndrome de Down, pois um simples estímulo como, por exemplo, o de pegar
objetos, brinquedos, fortalece e muito o desenvolvimento psicofísico dessa criança,
principalmente quando são encorajadas, elogiadas, estimuladas a não desistirem nos
primeiros erros e fracassos.
A valorização da auto estima e a confiança, alcançadas pela inserção na prática
esportiva proposição evidenciada no capítulo anterior) contribui para o fenômeno da
socialização dessas crianças, em ambientes propícios ao desenvolvimento de interações
sociais, tais como: praças, mercados, cinemas , teatros. Na medida em que estas
pessoas, vêem seus movimentos ganharem mais precisão, mais velocidade, bem como,
algumas das suas habilidades ganharem mais precisão, sentimentos como medo e
insegurança, começam a ser deixados de lado. (BOMFIM, 1996).
Através do esporte , elas também podem se familiarizar com os esquemas do
comportamento social presentes nas atividades esportivas, tais como: conhecimento e
aceitação de regras, trabalho em grupo, vivencia da perda, da sensação de tristeza ,entre
outras, aptidões que depois elas podem fazer uso no seu cotidiano( TUBINO, 1992)
Os familiares das crianças e adolescentes com SD, também podem contribuir de forma
negativa para o desenvolvimento dessas pessoas. Atitudes que não favorecem a
execução de tarefas simples como: de se vestir, comer sozinho, escrever e ler, essas
atitudes provocadas pelos pais, incitam a dependência dessas crianças. É a partir da
realização das simples tarefas, que essas crianças poderão desenvolver a sua
autoconfiança.
A superproteção também prejudica essas crianças, desde quando, “além de trazer
dependência de ordem motora, traz ainda a dependência de ordem afetiva, social e
intelectual” O que contribuindo de forma negativa para o processo de interação e
inclusão social. (PUESCHE,1995)
Essa situação suscita a importância da questão da superproteção da criança com SD.
Nessa relação o mais importante não é somente proteger dos perigos, mas sim fazer com
que a criança não vivencie a sensação de ser abandonada, de ter medo, de se sentir
perdida. Os pais precisam estar junto, deixar que as crianças participem das atividades
cotidianas que fazem parte da rotina familiar, permitindo que essas crianças explorem
ao seu modo, as coisas simples da vida, isto é, arriscar, cair, correr, tarefas e estripulias
que é peculiar a qualquer criança.
O processo de inclusão começa no ambiente familiar, no qual todos devem respeitar as
dificuldades dessa síndrome, mas acima de tudo, proporcionar para essas crianças e
adolescentes um tratamento normal e em algumas situações iguais aos tratamentos
dispensados aos seus irmãos, primos, e.t.c.
Todas as medidas acima são importantes e necessárias para o pleno desenvolvimento
das pessoas com Síndrome de Down, pois ajudam, de forma significativa, no processo
de inclusão social, na medida em que à aceitação das regras, normas e valores referente
ao contexto social, no qual elas estão inseridas, são assimilados de forma consciente e
autônoma.
3.3 PRÁTICA ESPORTIVA DA PESSOA COM SÍNDROME DE DOWN
São inúmeros os benefícios elencados pela prática esportiva, na vida de qualquer
pessoa. Quando se trata de crianças e adolescentes com Síndrome de Down, essa prática
se reverte de caráter físico, social, recreativo e educacional, ou seja, todas as dimensões
sociais do esporte podem ser também evidenciadas na vida da pessoa com SD. Apesar
de ser uma prática recente e pouco explorada, o esporte com crianças com Síndrome de
Down, já desempenha um atuante papel na sociedade.
Sabemos que á possibilidade de incluir as crianças e adolescentes com SD em
atividades diversificadas como o esporte, já parte de uma realidade possível e cada vez
mais disseminada. É claro que a individualidade e o tempo de resposta devem ser
respeitados a todo o momento, por conta principalmente das dificuldades relacionadas
ao aspecto cognitivo, que contribui para o desenvolvimento de uma aprendizagem mais
lenta, mas de que, nada interfere, na execução das atividades esportivas (TEIXEIRA,
2008).
Na vida dessas crianças e adolescente o esporte se apresenta como um forte aliado no
processo físico, à medida que contribui para a melhoria da resistência, da força
muscular, da coordenação motora e do equilíbrio ( DASMECENO,1997).
Os benefícios desse segmento esportivo podem ser sentidos em vários domínios, entre
eles estão os cognitivos e afetivos. Quando conseguem perceber as mudanças em
qualquer dos domínios (seja ele da esfera social, cognitiva, psicomotora) comemoram
como uma grande conquista uma verdadeira vitória.
As crianças e adolescente com Síndrome de Down precisam ser estimulados pela
família, pela sociedade, não adianta só motivá-las é preciso acreditar em suas
potencialidades e capacidades. Para essas crianças, uma simples partida de futebol, pode
ser entendida como um forte componente no enfoque socializador, pois quando a
criança começa a jogar, ela esquece dos próprios defeitos e se iguala aos amigos, é esse
o sentido da socialização.
Atividades coletivas e cooperativas diminuem a relação de diferença, rejeição, injustiça.
Cria-se um espaço onde há tolerância e respeito à individualidade do próximo
caminhando no sentido de que as diferenças possam ser o alicerce na construção da
cidadania.
A inclusão social é à base de uma sociedade mais igualitária e consciente. Diante dos
inúmeros benefícios que o esporte pode proporcionar para as crianças e adolescentes
com Síndrome de Down, essa prática deve ser mais estimulada e encarada pela
sociedade, governo e instituições como sendo um direito garantido por lei, dessas
crianças e adolescentes, que podem e querem desfrutar de todos os benefícios que o
esporte pode proporcionar para sua vida.
3.4 O PAPEL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA: O CUIDADO COM A
PRÁTICA ESPORTIVA
Nenhum tipo de formação profissional se desenvolver de maneira neutra em relação à
estrutura das desigualdades sociais. Entretanto, não se pode afirmar que tais
desigualdades sejam reproduzidas ou que até mesmo influenciem na formação
profissional. Cada profissão lida com o estudo e as limitações de um corpo de
conhecimento exclusivo, de onde deriva os princípios, teorias e metodologias que
fornecem a base para a formação acadêmica. Ser um bom profissional implica na
produção de novas práticas, de uso mais amplo para um maior numero de praticantes.
(KROLL apud ADEMIR, 1993).
Diante do exposto, podemos perceber que não é nada fácil desenvolver metodologias e
projetos numa área, na qual a bibliografia nacional é recente e escassa. O segmento que
realiza trabalho esportivo com pessoas com Síndrome de Down, é novo e pouco
explorado, assim como o interesse da sociedade por esse tipo de projeto. (ROSADAS,
1997).
É notório a ocorrência de acontecimentos, principalmente no âmbito legislativo, os
quais vem produzindo mudanças gradativas e significativas na maneira de encarar e
tratar o deficiente.Autores que atuam no segmento da educação física e do esporte para
pessoas com Síndrome de Down( ROSADAS, 1997; DAMASCENO,1997; JUNKEN
1987) afirmam que o olhar do profissional de Educação Física mudou em relação aos
deficientes, principalmente, o deficiente mental, ou seja, há uma atenção especial
voltada para a necessidade de uma prática profissional cada vez mais engajada em
projetos de integração e inclusão social.
A Educação Física vem aos poucos despertando para a importância de atividades
físicas e esportivas na vida do deficiente. Alguns estudiosos se arriscam a dizer que
aqui no Brasil existe muito conhecimento empírico e pouco científico. Até 1999, só 23
cursos das faculdades federais, tratavam da Educação Física adaptada em seus
currículos. A partir dessa realidade, o Governo Federal conclamou as mais de 100
faculdades para fomentar a matéria em suas grades curriculares. Atualmente quase
todas as faculdades, tanto as particulares quanto as públicas, oferecem a matéria
Educação Física Adaptada, por volta do 4º e do 5º semestre do curso de Educação
Física.
Aqui na Bahia, os cursos de graduação estão começando a fomentar as bases teóricas
para um maior aprofundamento na área da pratica esportiva para as pessoas com SD.
No entanto à nível de Pós- Graduação podemos encontrar especializações voltadas
para a Educação Física Adaptada. São evidenciados nesses cursos, não só os aspectos
anato – fisiológicos da Síndrome de Down, como também, os aspectos de ordem
cognitiva, afetiva, e sócio educacional. A dimensão pedagógica do esporte se faz
necessária, para que o profissional dessa especialização na formação do profissional,
capaz de desenvolver uma prática esportiva ampla, englobando as diversas dimensões
do esporte.
Trabalhar com crianças exige cuidado e experiência, habilidades estas que requerem
atenção dobrada quando lidamos com crianças com Síndrome de Down, envolvidas em
atividades tão dinâmicas como, as esportivas.
Os profissionais que desenvolvem um trabalho esportivo com crianças e adolescentes
com Síndrome de Down, precisam não só conhecer o tipo de deficiência de cada aluno(
para poder saber quais são as atividades que podem ou não ser realizadas,)bem como
desenvolver uma relação de diálogo constante com os pais, e os demais profissionais
dessas pessoas.
Estamos falando de crianças que possuem capacidade para aprender e desenvolver
qualquer atividade, porém não se pode deixar de lado algumas considerações sobre a
Síndrome de Down, as quais influenciam muito nas escolhas dos métodos e na
intensidade das atividades.
Tomemos com exemplo a natação com crianças e adolescentes com SD, essa prática
vai exiger do orientador muito conhecimento fisiológico e biológico do corpo e do tipo
de Síndrome de Down do seu aluno, pois eles apresentam uma frouxidão ligamentar na
primeira e na segunda vértebra que caracteriza uma mobilidade maior que a normal
nessa região. Essa característica não impede que eles pratiquem a natação mais exige
um acompanhamento mais cuidadoso do seu orientador. As pessoas com Síndrome de
Down, também possuem um grau de hipotonia muscular que diminui ao decorrer do
desenvolvimento motor, dificultando a sustentação da cabeça e dos membros. Há
também uma predisposição para a cardiopatia congênita, que exige uma redução na
intensidade das atividades esportivas. São esses tipos de considerações que exigem
desses profissionais um pouco mais de dedicação, e conhecimento acadêmico
(DAMASCENO 1997).
O profissional de Educação Física precisa elaborar seus planos e atividades com muita
atenção, evitando exercícios que comprometam a integridade da criança, estando
sempre atento a todos os movimentos executados por elas, auxiliando a criança sempre
que necessário, aumentando ou reduzindo a intensidade e o tempo das suas atividades.
Deve-se exigir dessas crianças somente o que estiver dentro das suas possibilidades, a
fim de que ela mesma possa se sentir mais segura, tanto individualmente quanto
socialmente. Deve-se priorizar os estímulos, escolher recursos facilitadores e acolher
sempre as sugestões não só do aluno, mais principalmente as sugestões dos pais. É
importante não apenas conhecer as características físicas da pessoa com Síndrome de
Down faz-se necessário o entendimento das suas relações com os demais participantes;
com as atividades físicas e desportivas e, principalmente do significado e da dimensão
que assuem essas atividades, na vida da criança e adolescente com SD. (ADEMIR,
1993).
Faz-se necessário também o conhecimento dos princípios pedagógicos e psicológicos
do esporte, bem como o da inclusão social. É preciso que esse profissional compreenda
e reconheça as diferenças, para que ele também possa, durante a realização da sua
prática esportiva, disseminar e estimular entre seus alunos, com ou sem deficiência, os
princípios da „Sociedade para Todos “(SASSAKI, 1999).
Assim como a família, os professores, e a sociedade em geral, precisam acreditar e
elencar as eficiências, dessa parcela da população, que muitas vezes superam as
expectativas. Devemos acreditar tanto a prática esportiva com pessoas com SD, como a
prática esportiva voltada para atender qualquer parcela da sociedade que se encontra
marginalizada, ganhará cada vez mais, um lugar de destaque não só no cenário das
políticas públicas, mas também em todos os espaços da sociedade.
4. CAPÍTULO III - ANÁLISE DE DADOS
4.1 METODOLOGIA
O caminho metodológico escolhido para subsidiar a pesquisa segue a linha da
abordagem qualitativa, e esta escolha deu-se principalmente pelo fato do ambiente
natural escolhido para pesquisa ser o local direto da fonte dos dados, além do interesse
em considerar a dimensão subjetiva dos fenômenos observados, por meio de
depoimentos que se transformaram em dados relevantes (DEMO, 2000, p. 152).
A estratégia de pesquisa utilizada foi a do estudo de caso de cunho exploratório-
descritivo. Tendo como unidade de análise um sujeito único, de escolha intencional uma
adolescente com Síndrome de Down do tipo Mosaicismo de 19 anos inserida em
práticas esportivas. A escolha por este estudo de caso11
caracteriza-se pelas
particularidades encontradas na unidade de análise: o histórico de inserção da jovem na
prática esportiva de muitos anos e as significativas alterações nas relações sociais
percebidas pelos familiares , por conta do esporte.
Visto que o fenômeno da inclusão social por meio da inserção da prática esportiva será
analisado sob a ótica dos pais e responsáveis do sujeito em questão, o pesquisador
procurou presenciar, durante a observação participante, realizadas nas aulas de natação ,
o maior número de situações relacionadas ao fenômeno em questão, ocupando-se em se
retratar a perspectiva dos entrevistados envolvidos na pesquisa, ou seja, da jovem, dos
familiares e dos professores de natação. (BOGDAN e BIKLEN (apud Ludke e André,
1986). Ainda segundo Demo (2000).
[...] é mister sempre perguntar o que o entrevistado “quer dizer” com
seu discurso(sobretudo apesar de seu discurso), correspondendo,
assim, ao pano de fundo hermenêutico. Contam também os silêncios, as reticências, os atos falhos, as não respostas. A dificuldade de falar
sobre algo pode indicar sua importância, porque- diz a psicanálise-
reprimimos o que é importante (P.157).
4.2 O ESPAÇO DA PESQUISA
Conhecido como organização social em benefício dos empregados no comércio de bens
e serviços e seus respectivos familiares, o SESC- Serviço Social do Comércio começou
a ser implantado no Estado da Bahia em 1947, a partir de um ano após o ato da sua
criação, visando atender ao propósito do Artigo 180 da Constituição Federal que versa
sobre a responsabilidade da União, Estado, Distrito Federal e Município na promoção
do turismo como fator de desenvolvimento social e econômico, a Confederação
Nacional do Comércio assumiu a tarefa de criar e organizar o Serviço Social da Bahia,
com o propósito máximo de planejar e desenvolver ações de cunho assistencialistas nas
esferas educacionais, culturais de lazer e saúde.
O SESC Bahia12
conta com 11 unidades distribuídas pelos municípios de Salvador,
Feira de Santana, Vitória da Conquista, Jequié e Paulo Afonso. A unidade na qual foram
realizadas as observações está localizada em Salvador na Avenida Marechal Castelo
Branco, s/n- Aquidabã- Salvador. A unidade dispõe de salas de artes marciais, ginásio
esportivo, piscina, quadras de vôlei, basquete e futsal, além da biblioteca, cyber café e
auditório. Atualmente esta unidade desenvolve além dos programas na área
assistencialista, projetos nas áreas da Educação Infantil e Complementar; Cursos que
promovem a inserção e valorização social das pessoas que estão fora do mercado de
trabalho; Apresentações Artísticas, e Programa de Educação e Saúde.
O local no qual ocorre as aulas de natação, observadas durante a pesquisa, conta com
uma piscina coberta, um local para que os pais/ alunos pudessem ficar aguardando, com
mesas e cadeiras, nesse mesmo espaço ficavam expostos os materiais da natação
(macarrão, peças de tapete prancha etc). Essa parte da estrutura física do SESC muito
se aproxima aos espaços que conhecemos dos clubes.
A pesquisa foi realizada durante os meses de outubro até o inicio de Janeiro de 2009.
Durante as visitas eram observadas as aulas de natação das terças e quinta, com duração
de 1 hora. No local das aulas havia uma piscina coberta, um local para que os pais e
alunos pudessem ficar aguardando, com mesas e cadeiras e, nesse mesmo espaço,
12 Disponível no site: http://www.sesc.com.br
ficavam expostos os materiais da natação (macarrão, peças de tapete, prancha etc.). Essa
parte da estrutura física do SESC assemelha-se aos espaços que já conhecemos dos
clubes de Salvador ( Antiga Sede de Praia do Bahia, Clube do Vitória, Clube Espanhol
etc).
Figura 1- Piscina do SESC de Aquidabã- Salvador- BA, Autoria do pesquisador
Figura 2- Flor praticando natação no SESC de Aquidabã- Salvador- BA, Autoria do pesquisador
4.3 SUJEITOS DA PESQUISA
Para a realização da pesquisa, além do sujeito, objeto do estudo de caso ,esteviveram
presentes durantes as observações os responsáveis, a mãe a irmã, da com Síndrome de
Down, além do atual professor de natação. Fora do espaço da observação, o antigo
professor natação da jovem também foi entrevistado. A seguir segue algumas
informações relevantes sobre as pessoas envolvidas na pesquisa, utilizaremos nomes
fictícios para preservar a indenidade dos sujeitos envolvidos na pesquisa.13
ENTREVISTADOS FORMAÇÃO PÓS- GRADUAÇÃO
Mãe- Rosa 2º Grau completo xxxxxxxx
Irmã- Margarida Enfermagem xxxxxxxxx
Professor atual- Alan Educação Física Fisiologia do Exercício
Professor antigo- André Educação Física Educação Física Infantil;
Desvio do
Desenvolvimento
Conhecendo a adolescente em Estudo
Daremos o nome de “Flor” a jovem esportista, que é centro desse estudo de caso. Flor é
uma adolescente de 19 anos que tem Síndrome de Down e já prática esporte há 15 anos.
Ela é a caçula da família de três irmãos, tem uma condição financeira boa, mora no
bairro da Federação com sua mãe e sua irmã mais velha.
Desde muito nova Flor é acompanhada por psicólogos, fonoaudiólogos,
endocrinologista, pediatra e cardiologista, que juntamente com a família procuram
promover atividades que ajudem no seu desenvolvimento físico, cognitivo e social.
Ela começou a dar os primeiros passos e a balbuciar as primeiras palavras aos 2 anos de
idade. No ambiente familiar ela nunca foi tratada como pessoa incapaz, tem atribuições
domestica regulares e, se necessário, é repreendida quando comete algum erro . O canto
que mais gosta na casa é o seu quarto, que ninguém ousa adentrar ou mexer em suas
13 A utilização das informações , bem como a exposição das fotos, que se encontram nessa pesquisa,
foram previamente autorizadas pelos responsáveis legais da adolescente com Síndrome de Down.
coisas, sem a sua devida permissão. Durante a realização da pesquisa percebemos que
ela já estava envolta de outra atividade; sua nova paixão agora era a informática.
Segundo seus familiares, Flor tem um temperamento muito forte, às vezes é tida como
mandona e respondona. A vizinhança gosta muito dela, há uma troca recíproca de
carinho, com amizades bastante sinceras.
Flor estudou apenas em uma escola inclusiva até os quatro anos de idade, depois teve a
oportunidade de vivenciar ao mesmo tempo os dois espaços de aprendizagem. Pela
manhã estudava na escola regular e, pela tarde, na escola inclusiva, além de ter também
um reforço particular em casa.
Aos quatro anos de idade Flor começou a participar de atividades na APAE- Associação
de Pais e Amigo dos Excepcionais. Atividades como a capoeira, a dança e a natação
foram algumas das práticas das responsáveis por visíveis melhorias no desenvolvimento
físico e cognitivo dela, além de contribuir significativamente para melhorar das
relações sociais com familiares e colegas de escola.
Flor pratica capoeira há mais de 10 anos, no CEFAP- APAE Centro de Formação e
Acompanhamento Profissional, localizada no Bairro da Calçada em Salvador. Já
participou de campeonatos em Angola, no Rio de Janeiro e em Porto Seguro, por meio
das competições das APES.
A inserção na natação seu deu assim que ela entrou no CEDUC- APAE- Centro
Educacional Especializado, localizado no Bairro da Pituba, em Salvador, com apenas 4
anos de idade, permanecendo até os seus 16 anos, pois as atividades oferecidas os
alunos no CEDUC, engloba somente a faixa etária que vai dos 2 aos 16. Até o presente
momento, ela faz aulas de natação toda as terças e quinta, no SESC, sendo a única
aluna, na sua turma que tem Síndrome de Dow.
Figura 3- Flor fazendo natação do SESC de Aquidabã- Salvador- BA, Autoria do pesquisador
Figura 4- Flor na aula de natação, no SESC do Aquidabã, Autoria do pesquisador
4.4 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados segundo múltiplas fontes de evidência, o que permite o
desenvolvimento da investigação em várias frentes, em diferentes momentos, e com
variados tipos de informantes, além da possibilidade de englobar na coleta, todos os
dados presentes nas situações estudadas. (MARLÍ, p. 19).
Utilizamos a técnica do diário de campo (registro sistematizado das ocorrências nas
aulas de natação observadas) depoimentos; entrevistas (estruturada e não estruturada)
fotografias de alguns momentos que julgamos ser relevantes para a pesquisa.
O diário de bordo foi usado para sistematizar as observações, bem como as entrevistas
realizadas com os familiares e os professores de Educação Física de Flor.De acordo com
Marconi e Lakatos (2002, p.88) “a observação é uma técnica de coleta de dos para
conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da
realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou
fenômeno que se deseja estudar”.
As observações foram realizadas no local onde ocorreu o evento. Foram observadas às
aulas de natação de Flor, entre os meses de outubro e janeiro. As aulas eram feitas duas
vezes na semana e tinha duração de 1hora. Durante as observações contamos em
algumas aulas com a participação da mãe e a irmã de Flor, além do seu antigo e do seu
atual professor de natação.
Optamos pelo uso da entrevista não estruturada, alternando entre a entrevista não
dirigida e a focalizada14
. Somente para os professores de Educação Física de Flor
fizemos uso do questionário (vide anexo I).
Nos primeiros dias de entrevistas, utilizamos a focalizada, para que os entrevistados
(familiares e professores) pudessem expressar suas opiniões e sentimentos,
incentivando-o a falar sobre os mais variados assuntos, de maneira descontraída e
relaxada ( Demo, 2002, p.154).
Num segundo momento da pesquisa, utilizamos a entrevista focalizada, com perguntas
abertas, “no intuito de captar as opiniões, e os depoimentos dos entrevistados” (grifos
meus). Nessa entrevista utiliza-se um roteiro contendo os tópicos relativos ao problema
estudado, sem que precise necessariamente obedecer a uma estrutura formal.
(MARCONI; LAKATOS, 2002, p.94).
O uso desse tipo de entrevista é segundo Demo (2000):
14 Ver MARCONI, Mariana de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: planejamento e
execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados.
- 5 ª ed. - São Paulo: Atlas, 2002.
[...] preferível quando se quer ir a fundo do fenômeno estudado,
porque o que se pretende é captar a intensidade e não apenas a
extensão do fenômeno. “O pesquisador não só pergunta e observa, mas também participa ativamente, pelo menos no sentido de testar as
respostas, cavar mais fundo, revolver as entranhas, sentira
subjetividade, fazer aparecer à emoção( P.152).
Sendo uma das características da pesquisa qualitativa, a abertura das perguntas, busca o
aprofundamento por familiaridade, convivência e comunicação com os entrevistados,
procura proporcionar uma situação confortável, para que o mesmo possa discorrer sobre
determinados assuntos. Pois passado o momento inicial , “quebrado o gelo‟ os
depoimentos e respostas saltam , emergem, diante da entrevista.
De acordo com Selltiz (1965:286-295) apud Marconi e Lakatos, 2002, p.94), os
conteúdos das entrevistas podem ser classificados de acordo com seis tipo de objetivos,
dentre os quais destacamos dois, por considerar os objetivos mais relevantes
elencados, durante a realização das entrevistas. São eles:
Determinação das opiniões sobre os „fatos “- Visa averiguar o que os
entrevistados pensam ou acreditam que os fatos sejam como, por exemplo, as
causas da Síndrome de Down;
Determinação de sentimentos- Tentar compreender a conduta dos familiares por
meio de seus sentimentos e anseios, ex: O sentimento de repulsa e de culpa da
mãe ao saber que seu bebê tinha Síndrome de Down;
Materiais Utilizados durante a coleta de dados da pesquisa:
Diário de Bordo
Câmera Digital
Questionário
Roteiro
Gravador
4.5 ANÁLISE DOS DADOS
Para análise das evidencias, iremos fazer uso das proposições teóricas (referencial
teórico que norteou toda a pesquisa), juntamente com a descrição das situações,
discussões e depoimentos coletados na fase exploratória da pesquisa. Dessa forma
elencamos na análise de dados os pontos conflitantes, bem como as congruências e
divergências, além das proposições do investigador frente ao contexto observado.
A seguir faremos uso de algumas categorias de análise para facilitar a descrição dos
dados, e o encadeamento acerca das idéias mais relevantes em relação ao fenômeno em
questão: Como o esporte pode contribuir para a inclusão social da pessoa com Síndrome
de Down?
A convivência com o Down
Geralmente as crianças e adolescentes com Síndrome de Down se desenvolvem de
maneira semelhante as pessoas da mesma faixa etária, porém em um ritmo um pouco
mais lento (PUESCHEL, 1995,p.20). A presença de um individuo com Síndrome de
Down desperta uma gama de sensações que variam entre o medo, e a estranheza, frente
ao desconhecido, à sensações de amor, empatia, evidenciadas pela convivência. De
acordo com Bartaloni (2006) esse é o caminho para a convivência a união do
conhecimento e a convivência:
É preciso estar junto para que se possa construir um sentimento de
empatia, de solidariedade e, principalmente, de respeito pelo
outro[...]é fundamental que se respeite as diferenças, e para respeitar é preciso conhecer de verdade, e não a partir de estereótipos[...]( P.48).
O principio da convivência com „o outro‟ e no do conhecimento à respeito das suas
particularidades, são evidenciadas durante dois relevantes momentos da pesquisa
momentos: Durante as considerações acerca da adolescente e a família, e a presença
dela , em um espaço não especializado.
A relação com a família:
Segundo WERNECK( 1997) famílias inteiras baixam imediatamente suas expectativas
em relação aos recém-nascidos “diferentes” por não conseguirem adequá-los a seu
modelo de recém-nascido normal. O que segunda a autora é uma lastima, pois o futuro
de qualquer pessoa é inimaginável, pois todo filho, sem exceção, quando chega é um
enigma, que nos encanta. Diante do depoimento de rosa, mãe de Flor, podemos
evidenciar, que para essa família, a chegada de uma pessoa com Síndrome de Down, foi
bastante complicada
Quando a enfermeira me disse: Mãe, você agora vai ser mãe,
enfermeira e babá, por toda a vida. Sua filha tem Síndrome de
Dow. Meu mundo desabou.( Rosa)
Não tive apoio de ninguém dentro do Hospital. Sai de lá me
perguntando o que fazer com aquela criança. Eu não sabia o que
era a Síndrome de Dow. Não queria cuidar dela, estava disposta
a abandoná-la.
Foi amor à primeira vista, assim que mainha a trouxe para casa ,
eu me apaixonei. Ela hoje é o xodó da família, eu a amo como
se ela fosse minha filha, cada conquista dela, é comemorada por
todos nós (Margarida).
A inabilidade de alguns profissionais diante do recém nascido corroboram com o
sentimento de estranheza, medo e decepção dos pais. Muitas vezes por falta de
informação sobre a relevância do seu papel nesse momento, muitos ficam constrangidos
com a situação e acabam “dando àquele bebê o lugar do "doente", do "diferente", do
'deslize da natureza", como se a humanidade fosse absolutamente homogênea,
previsível, imutável” ( WERNECK, 1997).
Diante da fala de Rosa, mãe da adolescente com SD, um dos fatores decisivos para a sua
sensação de impotência e medo, foram o desconhecimento acerca do que era essa
Síndrome. Flor não encontrou logo de inicio o carinho e atenção da mãe, porém
encontrou na sua irmã mais velha, Margarida todo carinho e apoio necessário para o seu
desenvolvimento.
Passado o momento inicial do susto, da estranheza e com o apoio de profissionais das
mais diversas áreas, por meio da inserção na APAE, a família passou a perceber que
Flor se desenvolvia de maneira um pouco mais lenta, porém bem semelhante ao que
ocorre com outras crianças. Realizava tarefas escolares e domésticas, com bastante
responsabilidade, apreciava músicas, adorava viajar, praticar esportes, fazer amizades
entre outras coisas.
Percebe-se no exposto acima, como o conhecimento acerca das particularidades da
Síndrome de Dow, influência no processo de “aceitação‟. Faz parte da característica do
ser humano, negar o desconhecido, tememos aquilo que causa estranheza. Se algo foge
aos padrões encontrados na maioria da população, prontamente será rotulado como
diferente, e essa diferença é para nós encarada como algo ameaçadora, porque fere, os
padrões estabelecidos e aceitos pela grande maioria da sociedade. (ROCHA,1984, p. 9)
O espaço Especializado X o espaço não Especializado:
Muitos são os autores que defedem a ideia da inclusão, como sendo um processo de
mão dupla, no qual sociedade e os deficientes precisam caminhar juntos no sentido de
cada um, tem a sua função dentro do processo inclusivista.(BARTALLOTI, 2006;
SASSAKI;1999;MANTOAN 1997; WERNECK 1997).
Há também o concenso de que não basta “incluir “o deficiente em algum espaço, em
algum atividade, ele precisa encontrar nesse espaço mecanismo que possam contribuir
para o seu desenvolvimento.
A família de Flor, qual ao proporcionar a adolescente o contato com outras pessos que
não tenha nehuma deficiencia, contribui de forma siginificativa no seu
desenvolvimento. Elas não negam a relevancia da Instituição Especializada na vida da
jovem, porém em certos momentos da entrevista deixam trasnparecer que o lugar não é
o mais indicado no sentido de colaborar para o fênomemo da inclusão:
Parece que as crianças não são preparadas para não viver a realidade
de fato. Ao meu ver parece que eles estão preparando as crianças como se elas fossem viver o tempo todo ao lado de outros casos com
Síndrome de Dow. Integração , a meu ver, é fazer com que as crinças
se misturem.( Margarida)
Aqui , no SESC, ela interage mais, brinca, aprende palavras novas,
palvrões, músicas novas, chega em casa sempre contando novidade
das aulas. Lá ela não tinha como conversar, eles nem sabiam falar
direito, como ela iria aprender essas coisas? ( Rosa)
Diante dos depoimentos, percebe-se a relação dicotômica e ao mesmo tempo
complementar sobre a permanência da adolescente em uma Instituição Especializada e
outra não Especializada. A relação de inclusão e exclusão, permeia essa problemática
que segundo Sawai( 1999) apud Bartalloli (2006 ) inclusão e exclusão não são
categoria separadas, especificas:
mas são da mesma substância e formam um par indissociável, que se
constitui na própria relação. A dinâmica entre elas demonstra a
capacidade de uma sociedade existe como um sistema (P. 105)
A existência concomitante dessas categorias permeia todo o processo de inclusão social,
segundo a autora, quando falamos em incluir, incluímos alguém e em algum lugar,
dessa forma, estamos excluindo essa pessoa de outro espaço. Sendo assim quando
incluímos alguém estamos proporcionando que ele tenha acesso a determinadas
atividades e vivencias, porém ao mesmo tempo em que estamos lhe torando o acesso à
outras vivencias e experiências.
Para alguns autores da área de Educação Física, nos espaços especializados, a prática
esportiva ainda detém um caráter de reabilitação. As atividades normalmente são de
cunho terapêutico e versam apenas sobre alguns aspectos da Síndrome de Down
(BOMFIM,1996)
Perguntando sobre qual o tipo de atividade que ele, André (antigo professor de natação
) desenvolvia com Flor na APAE, obtivemos a resposta de que ele desenvolvia um
trabalho de atividades lúdicas recreativas no meio- líquido. Não podemos negar que as
atividades lúdicas têm sua relevância e que o caráter recreativo faz parte da dimensão
social do esporte. De acordo com Friedmann (1996, p.14) as relações estabelecidas pelo
desenvolvimento de atividades lúdicas permite que a criança faça ligações entre a visão
do real e o distanciamento dele.
Entretanto um dos argumentos que mais se fez presente nos depoimentos e nas
observações acerca da contribuição das aulas de natação ao desenvolvimento mais
global de Flor, refere-se ao fato de que no SESC, Flor poderia:
Brincar e ao mesmo tempo aprender;
Desenvolver a linguagem, melhorar a verbalização;
Melhorar as aptidões físicas relacionadas às áreas motoras.
Elementos importantes tais como os desenvolvimentos: afetivo, lingüístico, físico-
motor e moral foram observados durantes as aulas de natação. Sendo que a os
depoimentos dos responsáveis confirmam as proposições acerca dos fatores observados.
Ela fala com todo mundo da turma, toda vez que chega em casa , ela
conta alguma novidade de alguém, de vez aparece com umas manias,
fica imitando as meninas em algumas coisas.( Rosa)
Ela participa de todas as festinhas de confraternização do SESC. Todos aqui gostam muito dela. Ela interage normalmente, com os
outros alunos, conversa, se deixar não quer mais ir embora. Não falta
à nenhum aula. (Margarida).
A interação com as crianças ditas normais é baseada na imitação, no tentar fazer como o
outro, na tentativa de saber fazer como o outro, pois em todas as aulas de natação
observadas, os exercício foram exatamente os mesmos, Segundo Mazzoni( 2009 ) a
busca pela resolução do conflito indica que a criança está exercitando seus processos
mentais, ao tentar repedida vezes vencer o que para ele naquele momento se constituí
como um grande obstáculo,o esforço , o tentar e o desafio são condições que fazem
parte da busca do prazer.
A prática Esportiva e a Inclusão social:
Os benefícios da prática esportiva que mais contribuem para a melhoria aspectos que
são significativos para o processo de inclusão social da pessoa com Síndrome de Down,
estão relacionados as áreas da psicomotrocidade, da linguagem e da cognição(
DAMASCENO, 1997). As melhorias mais percebidas pelos responsáveis de Flor, por
conta da sua inserção da prática esportiva são as seguintes:
Melhoras na postura e no equilíbrio ao andar e correr;
Ajuda no controle do peso;
Fortalecimento do sistema imunológico;
Melhorias na dicção, na verbalização de modo geral;
Alterações significativas em relação as interações interpessoais e intrapessoais;
Maior disposição para a realização das tarefas escolares;
Autonomia e independência na realização das tarefas do dia a dia;
Melhoria na auto-estima;
Pela exposição acima, percebe-se que em quase todas às áreas foram sentidas melhorias
bem significativas. Um dos fatos que mais contribui para isso, é que de fato, Flor têm
acesso a procedimentos e atividade que visam ensiná-la a nadar. Durante a entrevista,
Alan, relatou que não desenvolve nenhum tipo de atividade “diferenciada” para Flor:
Não a vejo como diferente, para mim, ela é uma aluna normal, como
todas as outros. É claro que algumas atividades exige dela, mais
esforço, do que das outras crianças, aí eu procuro dar mais atenção para ela. Geralmente todos fazem a mesma atividade( Alan).
O fato de Flor ter aprendido a nadar torna-se relevante não só por conta do caráter
pessoal de superação e conquista, deve- se ao fato de que esse progresso influência de
maneira bem significativa outras áreas que envolvem a questão da aprendizagem e
desenvolvimento. A importância desse aspecto é tanta que Piaget considera a ação
psicomotora como a percussora do pensamento cognitivo, e afirma que a interação da
criança em ações motoras, visuais, táteis e auditivas é essencial para o desenvolvimento
integral dela. Desenvolve além de conceitos espaciais, a liberdade de ação, seria uma
busca pela abundancia de espaço para experimentar idéias, novas para mover não só o
corpo, mas também a mente.
5. CONCLUSÃO
O sujeito demonstrou ser participativo, divertido , carinhoso, alegre , educado,
cooperativo, apresentando raros momentos de teimosia, e desobediência Possuí
problemas de dicção, o que não o impediu de conversar com alguma pessoas na aulas
observadas. As observações realizadas durante as aulas atenderam ao propósito da
pesquisa, na medida em que elementos que favoreciam o processo de inclusão social
eram elencados.
A participação dos responsáveis foi de fundamental importância para o
desenvolvimento desse trabalho. Os dados alcançados a partir das entrevistas, e dos
depoimentos foram de extrema importância para o delineamento do referencial teórico.
O contato com profissionais que atuam no mesmo campo de atividade, porém em
contextos bem distintos, colaborou para suscitar a problemática da inclusão e da
exclusão.
Evidenciar as dimensões do esporte, bem como, o seu desenvolvimento ao longo da
história, serviu de base para que o esporte possa ser encarado como uma atividade
prática-intencional, voltada tanto para atender as exigências do contexto social no qual
esta inserido, quanto as necessidades dos seus participantes. Os conhecimentos acerca
das políticas públicas na área do desporto, tanto a nível nacional, quanto no nível das
esferas Estaduais e Municipais, foi devido a tentativa de evidenciar que apesar de
estarmos avançando legalmente, ainda muito se tem para fazer, em relação a promoção
do esporte voltado para a inclusão social.
As questões relacionadas aos aspectos anátomo-fisiológicos, característica da Síndrome
de Down, serviram apenas para compor o referencial teórico, visto que o propósito por
trás desse trabalho consiste em evidenciar a possibilidade da inserção das pessoas com
Síndrome de Down, não só na prática esportiva, mas em todas as esferas da sociedade,
além de procurar potencializar as suficiências dessas pessoas em detrimento da sua
deficiência.
Procuramos ao evidenciar o papel do professor de Educação Física a relação que pode
ser feita entre educação e educação física, educação especial e educação física”
adaptada”, no sentido de demonstrar a importância do diálogos de profissionais de
diversas áreas, no sentido de corroborar com o conceito da Sociedade Inclusiva, que
entre outras, denota a relevância da participação de todos durante o fenômeno da
inclusão social.
As observações e as proposições suscitadas durante as entrevistas e depoimentos,
fortalecem a ideia de que as crianças e adolescentes precisam ser estimulados, não
somente pela família, como também, pelos professores, amigos, enfim, por todos os
envolvidos direta ou indiretamente no processo de inclusão social.
A convivência e o conhecimento devem fazer parte do fenômeno da inclusão. Conviver
com o “diferente” proporciona benefícios para ambas as partes, e o conhecimento nos
da mais segurança para lhe dar com o que antes, se apresentava como desconhecido. À
medida que proporcionamos vivências diferenciadas para as pessoas com Síndrome de
Down, estamos também, promovendo a convivência, dela com os diferentes (pessoas
sem deficiência) e dela com os semelhantes (pessoas com SD), ao mesmo tempo em que
disseminamos o conhecimento acerca das particularidades da Síndrome, oferecemos a
essas pessoas uma gama de experiência, oral, corporal, motora entre outras.
Durante todo referencial teórico procuramos elencar os benefícios motores e
psicossociais alcançados pelas pessoas com Síndrome de Dow, por meio da prática
esportiva, no intuito de suscitar a relação entre a prática esportiva e a inclusão social.
Através do estudo de caso, procuramos demonstrar exemplos de uma adolescente que
vêm potencializando habilidades e capacidades, por conta da prática esportiva, e como
esses benefícios contribuem para o processo de inclusão social dessa parcela da
população.
Dessa forma tentamos responder a questão norteadora da pesquisa: De que maneira a
prática esportiva pode contribuir para a inclusão social da pessoa com Síndrome de
Down? À medida que essas as crianças e adolescentes com Síndrome de Down
conseguem potencializar suas capacidades, interagindo com pessoas sem nenhum tipo
de deficiência de maneira similar, suas suficiências passam a ser valorizadas. O
sentimento de independência e autonomia, estimulados pelo desenvolvimento nas áreas
motores e psicossociais por conta da inserção na prática esportiva, corrroboram para a
inclusão social das pessoas com Síndrome de Down.
Apontamos os aspectos físicos e sociais que o esporte pode proporcionar para as
pessoas com Síndrome de Down, no intuito de fortalecer o conceito de que o esporte
pode ser um instrumento socializador e que, por meio dele, os indivíduos com SD
demonstram que podem cada vez mais, surpreender a todos, com sua motivação e força
de vontade, frente as barreiras físicas( causadas pela Síndrome) e as sociais por meio do
preconceito e da discriminação.
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ANEXO
Questionário
1. Nome completo
2. Formação Acadêmica?
3. Possui alguma especialização, cursos na área de inclusão?
4. Quais são as atividades que você esta inserido no momento?( relacionadas a
prática esportiva com pessoas com necessidades especiais?
5. Qual a sua opinião sobre o Esporte Adaptado?
6. A nível de Bahia, como você enxerga o desenvolvimento da prática esportiva
para pessoas com necessidades especiais? Vem crescendo?
7. Existem políticas que favorecem esse tipo de prática esportiva?
8. A partir de qual idade os pais devem incentivar seus filhos a praticar esportes?
9. Qual a importância do esporte para o desenvolvimento de uma criança com
Síndrome de Down?
10. Há algum esporte que seja mais adequado aos portadores de SD?
11. O profissional que vai cuidar da criança deve ser especializado em SD?
12. Há crianças com Síndrome de Down que são menos capazes de praticar esportes
do que outras com a mesma doença?
13. Como você definiria o caráter sociabilizador do esporte?
14. Você acredita na inclusão social através do esporte?
15. Será que podemos falar em inclusão social das crianças com síndrome de down,
por meio da prática esportiva?
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