Universidade do MinhoInstituto de Cincias Sociais
Vtor Jos Andrade Lopes da Cunha
Dezembro de 2010
A aprendizagem ao longo da vida como processo contnuo e global A emergncia da educao e formao de adultos
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Trabalho efectuado sob a orientao doProfessor Doutor Joel Augusto Felizes
Universidade do MinhoInstituto de Cincias Sociais
Vtor Jos Andrade Lopes da Cunha
Dezembro de 2010
A aprendizagem ao longo da vida como processo contnuo e global A emergncia da educao e formao de adultos
Dissertao de Mestrado em Sociologia rea de Especializao em Desenvolvimento e Polticas Sociais
Dedicatria
Aos meus filhos, Z Miguel e Ivo Andr, por me terem ensinado a ser um pai
orgulhoso e feliz, desculpando-me empaticamente por vezes, alguma falta de ateno
e alguma ausncia.
A quem mais me apoiou, no s durante a realizao da presente tese, mas durante
todo o percurso acadmico e grande parte da minha vida, nos momentos bons e nos
momentos maus. Maria Jos. Esposa, amiga e companheira de todas as horas.
iv
Agradecimentos
Ao Professor Doutor Joel Augusto Barbosa de Almeida Felizes, meu orientador, pelo
apoio e ajuda disponibilizado, fundamental para que nos momentos de desnimo as
dificuldades fossem ultrapassadas.
Um obrigado especial ao Dr. Augusto Castro pela ajuda e facilidades concedidas a
nvel profissional para a realizao desta tese.
Aos meus colegas formadores, pela disponibilidade evidenciada para colaborarem,
sabendo que o objecto da sua colaborao iria ser analisado e criticado. Obrigado por
terem ultrapassado a dificuldade de emitirem opinio eventualmente contra o seu
empregador. Apesar de os seus nomes serem fictcios na apresentao deste
trabalho, eles so bem reais e sabem o quanto lhes estou grato pela colaborao.
Ao Rui, Natlia, ao Manuel, Susana, ao Joo, Isabel, ao Ricardo, Ftima, ao
Mendes, ao Paulo, ao Jos e ao Agostinho, pela colaborao prestada o meu muito
obrigado.
v
Resumo
O tema da educao e formao de adultos ao longo da vida desperta interesse, numa
altura em que muitos tericos defendem a ruptura com os modelos tradicionais de
ensino a nvel metodolgico e curricular, defendendo uma nova forma de encarar o
ensino e a formao.
Na Unio Europeia, nos ltimos anos, os documentos emanados das estruturas
directivas revelam uma crescente preocupao e por isso se tm discutido e definido
linhas condutoras das polticas ligadas ao emprego e formao profissional. A
necessidade de harmonizar conceitos, prticas, medidas, com vista a poder-se
responder eficazmente baixa escolarizao de grande parte da populao adulta no
espao da Unio Europeia, tem um percurso j longo traduzido em medidas que nos
ltimos anos tm sido consistentemente mantidas.
Em Portugal, a emergncia de novas profisses com caractersticas distintas das
actividades tradicionais veio permitir alargar o tipo de entendimentos bem como de
ofertas que se criaram em funo das novas necessidades, constatado que foi o
desfasamento entre as necessidades da sociedade portuguesa e o cenrio das
competncias possudas por grande parte da sua populao. A experincia de pases
como Inglaterra, Irlanda e Frana foi aproveitada por Portugal e pelos seus tcnicos,
para a construo de um referencial de competncias-chave para a educao e
formao ao longo da vida, que se cr adaptado s exigncias do mundo actual.
A presente investigao procura, mediante a realizao de uma anlise documental e
de um conjunto de entrevistas a um grupo de formadores e de formandos, aferir
indirectamente a validade deste tipo de cursos e conhecer um pouco melhor os seus
efeitos na vida dos seus frequentadores.
vi
Abstract
The subject of lifelong education and training for adults regains significance as
nowadays many theorists sustain the rupture with traditional models of teaching both at
the methodological and curricular levels, defending a new way of facing education and
training.
The European Unions recent initiatives on this subject show a growing concern with
the promotion of more qualified human resources and therefore there has been some
discussion and there are new guidelines for policies related to employment and
vocational training. The need to harmonize concepts, practices and measures in order
to be able to give an efficient answer to the inadequate qualification of most of the adult
population within the European Union has indeed an already long tradition, which in
recent years has been consistently maintained.
In Portugal, the emergence of new professions with distinct characteristics of traditional
activities has allowed the creation of a wide consensus around the creation of new
education and training programs that could fill the gap between the needs of the
economic structure and the framework of qualifications possessed by most of the
population. The experience of countries like England, Ireland and France was used in
Portugal for the creation of a new referential system of key competencies within lifelong
education and training, one that is believed to be adapted to the demands of todays
world.
This research, conducted empirically through a documentary review and a series of
interviews with a group of trainers and trainees, seeks to measure indirectly the validity
of such courses and aims especially at a greater understanding of the effects of these
courses on the lives of its receivers.
ndice
INTRODUO ................................................................................................... 1
1. PANO DE FUNDO: O PROBLEMA E A METODOLOGIA DE ANLISE ....... 5
1.1. O PROBLEMA ........................................................................................................5 1.2. OBSERVAR O QU, QUEM E COMO METODOLOGIA .................................................7
2. ENQUADRAMENTO INSTITUCIONAL DA EDUCAO E FORMAO DE
ADULTOS .......................................................................................................... 9
2.1. BREVE HISTORIAL DO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAO E FORMAO DE ADULTOS EM PORTUGAL .............................................................................................................9 2.2. DESENVOLVIMENTOS NO ESPAO EUROPEU ......................................................... 13
2.2.1. O Memorando de Outubro de 2000 .......................................................................... 16 2.2.2. O Documento Tornar o espao europeu de aprendizagem ao longo da vida uma realidade ............................................................................................................................ 19 2.2.3. Resoluo de 2002 do conselho sobre a aprendizagem ao longo da vida .............. 21 2.2.4. O relatrio portugus sobre Os sistemas de qualificao ao longo da vida ............. 23 2.2.5. Relatrio de 2003 sobre a implementao da Aprendizagem ao Longo da vida em Portugal ............................................................................................................................... 24 2.2.6. Relatrio de avaliao ex-ante do Programa Operacional Temtico para o Potencial Humano ............................................................................................................................... 29
2.3. A CONSTRUO DE UM REFERENCIAL DE COMPETNCIAS-CHAVE E A CERTIFICAO DE COMPETNCIAS .................................................................................................... 33
3. TEORIAS EXPLICATIVAS ............................................................................37
3.1. O MODELO CONDUTIVISTA / BEHAVIORISTA ........................................................... 37 3.2. O MODELO FUNCIONALISTA .................................................................................. 40 3.3. TEORIA GERAL DOS SISTEMAS ............................................................................ 41 3.4. TEORIA DO CONFLITO .......................................................................................... 43 3.5. O INTERACCIONISMO SIMBLICO .......................................................................... 44 3.6. O MODELO CONSTRUTIVISTA ............................................................................... 46
3.6.1. A corrente construtivista / interaccionista.................................................................. 47 3.7. TEORIA DA ESTRUTURAO ................................................................................. 49 3.8. O MODELO CRTICO E EMANCIPATRIO ................................................................. 54 3.9. AS CONCEPES DE EDUCAO E FORMAO BASEADAS NO MODELO DE COMPETNCIAS ......................................................................................................... 57
3.9.1. Competncias profissionais ...................................................................................... 59 3.9.2. Competncias individuais ......................................................................................... 61 3.9.3. Competncias colectivas .......................................................................................... 62 3.9.4. Implicaes do modelo de competncias na educao e formao de adultos ...... 63
3.10. BALANO FINAL DAS TEORIAS APRESENTADAS .................................................... 66
viii
4. ANLISE DAS ENTREVISTAS .....................................................................71
4.1. ENTREVISTAS COM OS FORMANDOS ..................................................................... 72 4.2. SMULA DAS ENTREVISTAS AOS FORMANDOS ....................................................... 79 4.3. ENTREVISTAS COM OS FORMADORES ................................................................... 80 4.4. SMULA DAS ENTREVISTAS AOS FORMADORES ..................................................... 86
CONCLUSO ...................................................................................................89
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................95
ANEXOS ...........................................................................................................99
ANEXO I - GUIES DE ENTREVISTA ............................................................................ 99 A) ENTREVISTAS A EX-FORMANDOS............................................................................. 99 B) ENTREVISTAS A FORMADORES ................................................................................ 99 ANEXO II -TRANSCRIO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS AOS EX-FORMANDOS ....................................................................................................... 100 ANEXO III - TRANSCRIO DAS ENTREVISTAS REALIZADAS AOS FORMADORES ..................................................................................................... 112 ANEXO IV - EXEMPLO DE UM REFERENCIAL DE FORMAO EM VIGOR DURANTE A REALIZAO DOS CURSOS FREQUENTADOS PELOS EX-FORMANDOS ENTREVISTADOS ......................................................................... 120
INTRODUO
Os temas da aprendizagem ao longo da vida e, mais tradicionalmente, da educao e
formao de adultos revestem-se de grande interesse social, poltico e cientfico,
sobretudo a partir do momento em que a transformao da sociedade e da economia
parece ganhar mais velocidade, adquirindo um ritmo e um nvel de exigncia
incompatveis com as antigas prticas de escolarizao bsica e de aprendizagem de
uma nica profisso para toda a vida, julgadas suficientes para a grande maioria da
populao.
A situao vivida em Portugal ainda actualmente, mas sobretudo no passado
recente, preocupante quanto ao analfabetismo e s necessidades educativas e de
formao profissional: uma realidade que nos distancia ainda muito dos pases mais
desenvolvidos do continente europeu. Em 1990, Augusto Santos Silva no seu livro
Educao de Adultos (Silva, 1990) apresentou um pequeno retrato da realidade
portuguesa nesta matria, bem como uma projeco da evoluo destes indicadores,
em funo dos dados existentes e com possibilidade de tratamento ao tempo
reportando ao estudo de Maria Esteves (Esteves, 1987) sobre a situao dos vrios
tipos de analfabetismo em Portugal.
Segundo Silva, as taxas de analfabetismo teriam uma descida previsvel, gradual e
contnua, a um ritmo mais acelerado desde 1981, altura em que milho e meio de
pessoas tinham declarado, atravs dos censos realizados, no saber ler nem
escrever. Esse ritmo, atingindo os 17,1% em 1985, levar sucessivamente a valores
de 13,2% em 1990, 9,3% em 1995, 5,4% em 2000 (Silva, 1990: 56). Segundo estas
estimativas, em 2001, deveriam ser cerca de 560000 o nmero de pessoas
analfabetas. Os dados publicados no Relatrio do Desenvolvimento Humano de 2008
do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento1 revelaram que em 2005 o
nmero de analfabetos em Portugal se situava volta de 650000 (pessoas com 15 e
mais anos que no sabiam ler nem escrever). No obstante a eventual falha da
previso do autor citado, possivelmente devida a razes tcnicas, verifica-se que a
divergncia pouco significativa, sendo em todo o caso o nmero de analfabetos
1 Disponvel em: http://hdr.undp.org/en/media/HDR_20072008_PT_complete.pdf
Introduo
2
ainda muito elevado. Se colocarmos o enfoque no nmero de analfabetos funcionais,
ento a surpresa maior, pois segundo o relatrio, reportando-se a dados de 2005,
48% dos portugueses so analfabetos funcionais.
Maria Filomena Mnica, sociloga e escritora, citada pela jornalista Alexandra
Marques, do Jornal de Notcias2 afirma que o analfabetismo portugus s se resolve
com a morte, pois os 9% de portugueses que no sabem ler nem escrever so
sobretudo idosos e mulheres com mais de 65 anos. Referindo-se ao quotidiano de
muitas destas pessoas, a autora diz que os homens vo para os jardins pblicos
conversar e jogar. E as mulheres? Fazem renda, tarefas repetitivas, porque lhes foi
negada a possibilidade de usufruir de uma vida mais digna.
Este cenrio leva-nos tambm a questionar sobre o sucesso dos vrios programas
de educao de adultos que foram sendo aplicados em Portugal e em particular sobre
os que esto hoje no terreno, como no nosso caso, referente aos cursos EFA
(educao e formao de adultos).
Peter Jarvis, fala de dois tipos de educao de adultos, uma que ele chama de
liberal e outra que chama de radical. (Jarvis, 1989). Este autor refere que no fenmeno
da educao de adultos podem encaixar vrias teorias, que reflectem diferenas
tambm de carcter ideolgico. Na nossa pesquisa procuramos dar conta desta
diversidade de interpretaes, embora tambm possamos concordar que essas
diferentes perspectivas podem em parte ser entendidas a partir de uma diviso em
duas grandes correntes: a educao de cima para baixo, muito hierarquizada e
tradicional, de cariz funcionalista, de currculo clssico (Jarvis, 1989: 79), e a
educao entre iguais, partindo de uma viso curricular de partilha, questionamento
e descoberta, onde o formador, mais do que transmitir conhecimentos, medeia e
orienta a formao, partindo das contribuies e ideias dos prprios formandos (Jarvis,
1989: 56-63).3
No plano do debate terico muitos autores (e.g. Morin, 2002) tm efectivamente
defendido a ruptura, a nvel metodolgico e curricular, com os modelos educativos e
2 Portugal tem mais de 650 mil analfabetos (edio de 8 de Setembro de 2010): disponvel em:
.
3 No entanto estas formas diferentes de ver e fazer formao, ainda que estejam em oposio e sejam
incompatveis entre si, podem ser empiricamente equivalentes, ou seja, podem obter resultados
similares, embora com tonalidades diferentes (Jarvis, 1989: 62): no devem pois existir dogmas em
educao/formao.
Introduo
3
formativos tradicionais, havendo mesmo quem defenda uma nova forma de encarar o
ensino e a formao, podendo encontrar-se nesta senda especialistas da rea da
educao, socilogos, filsofos, pedagogos, entre outros. Neste ponto, tentaremos
ento mostrar um pouco mais de um debate que tem mesmo extravasado
pontualmente o campo acadmico ou da fundamentao tcnico-cientfica das
decises polticas, motivando na opinio pblica crticas das mais diversas, com
defensores apaixonados dos dois lados.
Por um lado tem efectivamente circulado a ideia de que toda a poltica educativa,
incluindo-se naturalmente a educao de adultos, promove o chamado facilitismo,
isto , de que o seu grau de exigncia e rigor na avaliao muito baixo. Por outro,
tambm tem ganho notoriedade a posio que encara estas polticas, especialmente
no domnio da educao de adultos, como promotoras de uma segunda oportunidade,
que inclui a capitalizao dos conhecimentos adquiridos ao longo da vida, podendo e
devendo estes conhecimentos ser valorizados e, mais do que isso, certificados. No
surpreende pois que alguns dos protagonistas mais interessados no tema sejam
apelidados pelos seus crticos de retrgrados, idealistas ou acomodados, consoante
as posies defendidas. Estas atitudes foram por ns observadas com frequncia
sobretudo no decurso da nossa experincia profissional no domnio da educao e
formao de adultos. As opinies registadas em conversas informais no decurso dos
momentos de descanso e depois de terminada a formao, ou antes do seu incio a
meio da manh, foram importantes para percebermos as divises entre os defensores
deste modelo de novas oportunidades de educao e formao e os que o
condenam liminarmente.
No nosso trabalho de pesquisa no terreno, realizado com recurso a entrevistas,
procuramos tambm dar voz viso dos formandos, baseada na sua percepo da
realidade que experimentam, bem como perspectiva dos formadores, por vezes mais
atenta ao quadro geral das polticas e s insuficincias do sistema.
Esperamos assim poder dar um pequeno contributo para que esta problemtica
possa ser um pouco melhor entendida. Se o conseguirmos, mesmo que de forma
limitada, ficaremos satisfeitos, na medida em que encarmos este trabalho com
humildade, reconhecendo desde logo as muitas limitaes que enfrentmos na
realizao do mesmo.
1. PANO DE FUNDO: O PROBLEMA E A METODOLOGIA DE ANLISE
1.1. O PROBLEMA
O dfice dos nveis de escolarizao e de qualificao na populao adulta
portuguesa, sobretudo quando comparados com os dos restantes pases
desenvolvidos, evidente, como de resto tm demonstrado numerosos estudos e
relatrios. Podemos mesmo perceber que, apesar de terem sido tomadas algumas
iniciativas ao longo dos tempos para minorar este problema, o problema parece
persistir.
Assim, se verdade que o investimento nas reas da educao, do ensino, da
formao e da cincia subiu, especialmente nas duas dcadas aps a adeso de
Portugal s Comunidades Europeias, os resultados obtidos em certos indicadores so
tidos todavia como insuficientes. Estes resultados parecem pois justificar a polmica
que se tem vindo a registar, com defensores e detractores do desenho de algumas
das polticas educativas levadas a cabo no nosso pas. Defendem uns que se deve dar
mais rigor ao ensino, com provas e testes exigentes, deixando perceber nas
entrelinhas que, por exemplo, os cursos EFA (Educao e Formao de Adultos) so
desprovidos de exigncia pedaggica, estando em causa o sucesso das aces
levadas a cabo. Outros defendem que a educao ter de ser mais inclusiva,
andraggica, mais integradora, e no o contrrio. Este tambm um assunto que
parece dividir os discursos polticos, pois a primeira posio mais frequente entre os
apoiantes de modelos conservadores, por isso mais prximos da chamada direita, e
a segunda mais frequente entre os apoiantes das polticas educativas de esquerda.
Na nossa problematizao, que se prope algo neutra quanto a esta polmica,
vale a pena reter o que atrs mencionmos: h efectivamente uma presso crescente
para a maior qualificao e escolarizao das pessoas, o que nas palavras de Licnio
Lima, se traduz por exemplo, no apelo sistemtico para a frequncia de aces de
formao ao longo da vida, onde se promove a adaptabilidade, a empregabilidade e a
produo de vantagens competitivas no mercado global, num quadro de crise do
Estado de bem-estar e de esbatimento do seu papel na educao, a que corresponde
uma passagem da responsabilidade da educao e da formao ao longo da vida da
esfera do Estado para a esfera individual dos cidados, numa tentativa de aquisio
Problema e Metodologia de Anlise
6
de saberes e de competncias para competir (Lima, 2007: 14). A mesma noo de
resto partilhada por Almerindo Afonso, que nos alerta para a emergncia de um novo
modelo de polticas educativas, onde est presente o risco do regresso das velhas
frmulas de induo discriminatria e classista, que atribuem responsabilidade
individual dos sujeitos as supostas escolhas e opes relativas aos seus percursos de
escolarizao e formao (Afonso, 2003: 44).
Lima tambm anota que existem muitas resistncias formao com dupla
certificao, por vezes no se reconhecendo ora as competncias que ela pode
promover, ora a prpria adaptao a um paradigma que aponta para a contnua
formao ao longo da vida das pessoas. Noutros casos essas competncias so
reconhecidas como importantes, mas muito sobrevalorizadas, num processo que
deveria incluir tambm outro tipo de contedos para um objectivo final mais completo,
no plano da educao/ formao oferecida.
Lima, na linha do que no texto introdutrio apontmos a propsito da perspectiva
de Jarvis (1989), refere igualmente os confrontos entre modelos distintos de
educao/formao, uns de caractersticas funcionalistas, radicalmente realistas, e
outros de matriz crtica e emancipatria, podendo este confronto todavia dar lugar a
modalidades hbridas, fazendo emergir novas exigncias e parcerias que urge discutir
(Lima, 2007: 18). Por um lado, o modelo liberal, ou neo-liberal, de orientao
funcionalista e procurando respostas utilitaristas, corre o risco de no valorizar a
pessoa, denegando-se a substantividade da vida ao longo da aprendizagem,
abandonando objectivos de transformao da vida, individual e colectiva, em todas as
suas dimenses (Lima. 2007: 19). J a educao de segunda oportunidade, no caso
portugus, depois de um passado marcado pela ditadura, com todas as
consequncias ao nvel cultural, social, educativo e formativo, econmico que ainda
hoje produzem forte influncia, marcando de certa forma um modo de estar, vista por
muitos como algo de fundamental para a incluso, para o desenvolvimento pessoal e
social, mas tambm para uma resposta a novas necessidades. O tempo das geraes
que nasciam, cresciam e morriam trabalhando numa qualquer actividade do sector
secundrio, e quantas vezes numa mesma empresa, profundamente diferente das
exigncias da sociedade actual.
Devemos ter tambm em conta que a resistncia introduo de novas prticas
em organizaes um fenmeno frequente. Desta realidade resulta uma dificuldade
natural em aferir se uma dada prtica, nova ou recentemente implantada, pode ou no
servir melhor os objectivos que levaram sua introduo. A relativa novidade dos
Problema e Metodologia de Anlise
7
moldes actuais dos cursos de educao e formao de adultos levam pois ao
aparecimento de resistncias e crticas.
Ser ento pertinente, pelo que acabmos de expor, colocar a questo de saber
se efectivamente as pessoas envolvidas nestas aces de formao, formandos e
formadores, sentem como positivo e til o processo que vivenciaram, e se os meios
disponveis (materiais, humanos, logsticos e outros) so os mais adequados para que
se processe uma efectiva formao de qualidade. Esta foi a questo central que nos
motivou a realizar este estudo. Para lhe podermos dar uma resposta adequada foi
necessrio enquadr-la num plano mais institucional, com referncia s vrias
instituies e polticas que tm actuado no terreno, bem como num plano mais terico,
de confronto de perspectivas acerca da problemtica da educao e, enfim, com
recurso a uma pesquisa emprica, embora esta se possa encarar como tendo um
alcance relativamente limitado.
1.2. OBSERVAR O QU, QUEM E COMO METODOLOGIA
Conforme j foi dado a entender, foi a nossa experincia enquanto formador em
cursos de educao e formao de adultos que motivou a escolha deste tema. Uma
escolha que podemos tomar como natural e que a pesquisa bibliogrfica e documental
que fomos realizando ajudou a contextualizar.
Assim, para alm da pesquisa de base mais terica, tambm demos ateno a
alguns registos oficiais das organizaes que desenvolvem aces de formao e que
dispem de um acervo documental relevante, nomeadamente o Instituto de Emprego e
Formao Profissional (IEFP). Depois, tambm analismos alguma da documentao
de tipo mais orientador de polticas que tem emanado do governo portugus e da
Unio Europeia. Desta documentao mais institucional damos de resto conta em
captulo separado neste texto. Enfim, com algum suporte da nossa experincia no
terreno, tambm realizmos uma pesquisa no terreno, onde recorremos sobretudo a
um conjunto de entrevistas.
Na fase inicial do projecto de investigao, as entrevistas foram pensadas com o
objectivo de verificar qual o grau de satisfao das pessoas que frequentaram
formao nos cursos de Educao e Formao de Adultos (EFA) e que implicaes
ela lhes trouxe para as suas vidas, ao nvel social, cultural, profissional, econmico,
afectivo, relacional, ou outro. Dadas as limitaes deste tipo de anlise, alargmos
Problema e Metodologia de Anlise
8
seguidamente a nossa anlise questo da percepo que os entrevistados tinham
dos meios que foram colocados ao dispor para a realizao das aces de formao:
se so os mais adequados, se satisfazem, se sero excedentrios ou deficitrios, face
aos objectivos do processo formativo, que no apenas se limitam satisfao dos
formandos, mas tambm ao nvel da empregabilidade, da aquisio de novas
competncias profissionais, de novos conhecimentos ao nvel cientfico, cultural, social
e humano.
O nosso universo de entrevistados constitudo por pessoas que tenham
frequentado cursos EFA enquanto formandos e formadores que leccionaram nos
mesmos cursos. Foi construdo um guio para a realizao de entrevistas semi-
directivas (ver anexo), para que os entrevistados pudessem ter alguma
direccionalidade e objectividade no desenvolvimento das suas respostas, mas que
permitiu tambm a abordagem livre de pontos de vista dos entrevistados, retirando
da, esperamos, uma maior riqueza da transmisso das suas vivncias empricas e
das suas percepes quanto ao processo em que so participantes fundamentais: o
processo formativo. Estas entrevistas foram realizadas a um nmero mais restrito de
pessoas que saram de um universo maior de formandos e de formadores com quem
fomos sempre mantendo um contacto regular e de tipo informal, no mbito da nossa
experincia profissional. Este conhecimento prvio revelou-se importante na presente
investigao, pois o contacto directo com os intervenientes , para ns, condio
imprescindvel para que melhor se possam aferir alguns aspectos desta problemtica.
Do universo de pesquisa fizeram parte tambm alguns formandos que entretanto
terminaram aces de formao de cursos EFA, mas que j tinham sido observados
em contexto formativo na fase inicial da investigao. Procurou-se que as entrevistas
fossem heterogneas, dentro do possvel no que se refere s caractersticas
sociogrficas dos entrevistados, tendo em conta o objectivo de uma maior
representatividade.
2. ENQUADRAMENTO INSTITUCIONAL DA EDUCAO E FORMAO DE
ADULTOS
2.1. BREVE HISTORIAL DO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAO E FORMAO
DE ADULTOS EM PORTUGAL
A emergncia do actual modelo de educao e formao de adultos, bem como de
outras modalidades similares vocacionadas para certificar e formar competncias para
serem validadas depois de reconhecidas, tem j um relativamente longo percurso que
remonta aos anos 30 do sc. XX no nosso pas. A origem das primeiras iniciativas de
formao para adultos est pois ligada a necessidades concretas que decorreram da
crise da dcada de 30 do sculo passado, que originaram um aumento do
desemprego, tendo por conseguinte surgido a necessidade de se fazer algo que
respondesse situao nova de haver pessoas sem trabalho. O nmero de pessoas
desempregadas era baixo, mas no entanto eram bastante mais do que habitualmente.
Por outro lado, em toda a Europa assistia-se ao aumento do desemprego e surgiam
medidas para o debelar por parte dos respectivos governos. Isto mesmo se pode ler
no prembulo do Decreto 21699 de 19324.
A evoluo desde ento at ao momento presente foi-se realizando com ajustes
quer na organizao dos servios, quer na prpria estrutura organizativa das
entidades reguladoras e gestoras de todo este processo de formao em sentido lato,
tambm por isso atravessado diferentes realidades polticas e organizativas at aos
nossos dias. Nasce num perodo ditatorial, em pleno Estado Novo, adapta-se a novas
realidades com o advento da Democracia, a partir de 1974, e mais recentemente j a
Unio Europeia a ditar as linhas estratgicas a seguir para uma educao e formao
4 Disponvel em: http://portal.iefp.pt entrada histria.
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
10
que se quer uniformizada, de forma a poder ser validada e reconhecida em todo o
espao da Unio Europeia, promovendo assim tambm a mobilidade (Benhamou,
2005).
Este percurso longo de mais de 75 anos pode ser brevemente apresentado a partir
das datas em que foram criadas e modificadas as estruturas e organismos que
procuraram responder a problemas concretos no domnio do emprego e da formao
profissional:
1931 Realizao de um inqurito populao, com vista a apurar o nmero de desempregados (41000, segundo dados do referido inqurito)
1932 Criao do Comissariado do Desemprego (CD)
1932 Criao do Fundo de Desemprego (FD).
1962 Criao do Fundo de Desenvolvimento da Mo-de-obra (FDMO).
1962 Criao do Instituto de Formao Profissional Acelerada (IFPA).
1963 Entra em funcionamento o primeiro Centro de Formao Acelerada (CFA)
1965 Criao do Centro Nacional de Formao de Monitores (CNFM)
1965 Criao do Servio Nacional de Emprego (SNE).
1966 Criao do Servio de Reabilitao Profissional (SRP).
1968 Criao do Servio de Formao Profissional (SFP).
1974 Redefinio estrutural dos servios com a alterao de regime poltico.
1975 Adopo da Formao Modular como metodologia mais adequada (FM)
1979 Criao do Instituto do Emprego e Formao profissional (IEFP)
Informao sintetizada em 2009 a partir do stio: http://portal.iefp.pt entrada histria
Se o problema do desemprego despertou a partir de 1931, no deixa de ser
tambm verdade que era encarado como um problema que fora criado na Europa por
outros pases e por isso a tutela entendeu que as medidas para atacar o desemprego
no deveriam ser idnticas s tomadas pelos pases de elevada cultura, que foram
quem tambm viu primeiro o desemprego nascer (IEFP, 2009). Surgem as primeiras
medidas de apoio s empresas na forma de comparticipao no salrio entre o estado
e as empresas que empregassem trabalhadores desempregados. A comparticipao
do estado nestes casos era de 50% at trs dias na semana. Estes encargos eram
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
11
sustentados pelo Fundo de Desemprego, criado em 1932 pelo Decreto 21699. O
financiamento para este fundo era obtido a partir de 3% do valor das remuneraes
dos trabalhadores, sendo que 2% seria contribuio dos trabalhadores e 1% dos
empregadores (Idem).
O modelo de Formao Acelerada foi importado de Frana, pas onde se comeou
a apoiar este tipo de formao, no contexto do ps-guerra, com a necessidade de se
criarem profissionais em muito pouco tempo, em regra cerca de 6 meses, mas que
fossem capacitados para dar resposta s necessidades de reconstruo do pas, que
vinha de uma quase completa destruio do seu aparelho produtivo pelas implicaes
resultantes da II Guerra Mundial. Durante a dcada de 60 do sculo passado as
alteraes orgnicas foram vrias, criaram-se sete organismos para melhorar a
resposta ao problema da formao profissional. No entanto, na dcada de setenta
que se comea a caminhar para um modelo que se aproxima bastante do modelo
presente. Desde logo, a importncia da metodologia modular como norma que
permitia dotar os formandos de competncias concretas que eram pensadas para o
desempenho de determinada profisso, conferindo uma competncia prtica,
enquadrada num contexto formativo que previa a integrao dos trs saberes que se
mantm como estrutura basilar da formao profissional: saber-saber; saber-fazer e
saber-ser (Pereira e Lopes, 2006).
De uma necessidade de profissionais para desempenharem tarefas que eram
importantes, para as quais havia falta de profissionais e onde o conceito de formao
profissional incidia nesta necessidade concreta, passa-se para um entendimento mais
abrangente, com uma definio mais humanizante, como a que resultou da
Conferncia Geral das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura, realizada
em Nairobi em 1976 e que definiu o conceito de educao de adultos como o conjunto
de todos os processos organizados de educao formal e no formal que prolonguem
ou substituam a educao inicial, graas aos quais a pessoa considerada adulta pela
sociedade possa desenvolver as suas aptides, enriquecer os seus conhecimentos,
melhorar as suas qualificaes tcnicas e profissionais, fazendo evoluir as suas
atitudes e os seus comportamentos na dupla perspectiva de um desenvolvimento
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
12
humano e integral e de uma participao equilibrada e independente no
desenvolvimento social, econmico e cultural (cit. in Pereira e Lopes, 2006: 19).
Em 10 de Janeiro de 1979 foi aprovada a Lei n 3/79 que previa a criao de um
Plano Nacional de Alfabetizao e Educao de Base de Adultos (PNAEBA), que seria
monitorizado pela Direco Geral de Educao Permanente (DGEP), departamento do
Ministrio da Educao e Investigao Cientfica, estrutura criada em 1971 (Lima,
Afonso e Estvo, 1999: 21). Foram inventariadas num Relatrio de Sntese sobre
este PNAEBA uma srie de medidas polticas, onde sobressaa a criao de um
Instituto Nacional de Educao de Adultos. Era apontada a criao de alguns
departamentos como forma fundamental de organizao da estrutura do Plano:
departamento de formao; concepo e produo de material pedaggico; ensino por
correspondncia; meios audiovisuais; sntese e planificao (Idem: 21-23). Apesar de
Licnio Lima considerar que esta estrutura seria o grmen de uma estrutura especfica
e autnoma de desenvolvimento da educao de adultos em Portugal, foi no entanto
mais uma das muitas metas que foram apontadas pelo PNAEBA que ficaram por
cumprir (Lima, Afonso e Estevo, 1999: 23).
A Direco Geral de Educao Permanente (DGEP) veria ainda em Dezembro de
1979, a sua designao alterada para Direco Geral de Educao de Adultos
(DGEA), a quem caberia a partir de 31 de Dezembro a execuo do PNAEBA, bem
como a criao do Instituto nele previsto e que nunca viria a ser criado. Sete anos
depois, foi extinta a DGEA e as competncias respeitantes Educao de Adultos
foram-se dispersando. De certa forma, o caminho seguido como refere Licnio Lima, foi
o da desinstitucionalizao da Educao de Adultos (cf. Lima, 1994: 16-18).
De facto, apesar dos muitos estudos realizados, a educao de adultos parece um
parente pobre no espectro do ensino em Portugal, onde com frequncia faltam meios
para realizar uma efectiva formao, de qualidade, por falta de uma adequada
disponibilizao de meios humanos e financeiros, mas, mais importante ainda, por
falta de uma concertao que abranja no s as exigncias do mercado de trabalho,
mas tambm as exigncias de uma formao mais holstica em termos humanos para
os aprendentes neste tipo de ensino. Licnio Lima sugere assim que esta
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
13
secundarizao da educao de adultos o que na realidade criticvel: sendo uma
necessidade fundamental, precisa de alocao de recursos a vrios nveis que
possam tornar os adultos mais competentes, mas tambm mais conhecedores de
matrias estruturantes ao nvel do conhecimento. Como refere este autor: pouco
importa que a criao de uma dada instituio ou estrutura orgnica seja
consensualmente considerada imprescindvel ao desenvolvimento de uma poltica de
Educao de Adultos, insistentemente proposta e reiteradamente defendida, se
desde logo essa mesma poltica que no reconhecida como imprescindvel ou
prioritria pelos governos e por sectores da administrao da educao, ou se, ainda
mais radicalmente, sobre esse prprio sector educativo que se constri e se faz
abater uma crise de legitimidade; a ponto de a Educao de Adultos poder vir a no
ser mais reconhecvel como categoria poltico-administrativa da educao, a ser
fortemente amputada na sua globalidade e diversidade, ou a ser evacuada da esfera
poltica e remetida para interesses exclusivamente privados, lgicas de mercado,
paradigmas educativos de tipo gerencialista e contbil (Lima, 1996).
2.2. DESENVOLVIMENTOS NO ESPAO EUROPEU
Na Unio Europeia, os documentos emanados das suas estruturas directivas revelam
uma crescente preocupao com os problemas do (des)emprego e da formao
profissional, tendo por isso havido lugar a algum debate sobre as linhas condutoras
das polticas a adoptar. O cenrio da concretizao destas polticas evidentemente
muito diversificado no espao europeu, subsistindo mesmo algumas divergncias de
fundo quanto prioridade a conceder educao e formao de adultos.
sabido que a educao um direito humano, comportando no entanto
caractersticas especficas, j que existem limites normativos, tico-polticos e morais
que so incompatveis com os fenmenos de adestramento, endoutrinamento ou
condicionamento dos seres humanos, segundo Licnio Lima (2010: 43). H por isso
que ter cuidado com a forma como se pensa e concretiza a implementao das
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
14
polticas de educao de adultos. Estes alertas para os apologticos discursos da
aprendizagem ao longo da vida que so reproduzidos profusamente em inmeros
documentos emanados da Unio Europeia, visam chamar a ateno para uma
orientao unidireccional, visando a aquisio de qualificaes e habilidades, de
carcter meramente economicista, ficando a educao na sua globalidade colocada
em segundo plano. Esta viso de um excesso de economicismo na poltica de
educao ao longo da vida, onde se inclui a educao de adultos, tem sido partilhada
por vrios autores, entre os quais Licnio Lima. Continuam pois a ouvir-se discursos
polticos de cariz extensionista apesar de a educao no ser, nas palavras de Paulo
Freire, a aco pela qual um sujeito criador d forma, estilo ou alma a um corpo
indeciso e acomodado (cit. in Lima, 2010: 43).
Neste cenrio, as propostas da Unio Europeia tm caminhado no sentido de uma
maior prioridade educao e formao de adultos. Assim, o documento de 2004
referente ao Projecto de concluses do Conselho e dos Representantes dos
Governos dos Estados-Membros reunidos no Conselho sobre princpios comuns
europeus de identificao e de validao da aprendizagem no formal e informal,
descreve os parmetros que levaram a uma efectiva certificao e validao com
validade na Unio, pretendendo assim criar uma medida para todos os estados, com o
objectivo de se poder caminhar para uma certificao por todos promovida e por todos
reconhecida e respeitada5.
Presentemente, muitos estudos esto a ser realizados para avaliar o sucesso da
formao profissional. Em Frana foi publicado recentemente um relatrio sobre a
Validation des Acquis de Lexperience (VAE) sob orientao do Professor Albert-
Claude Benhamou (2005). Uma vez que a formao profissional em Portugal seguiu
em grande parte os passos na dcada de 60 do modelo francs, justifica-se o
interesse na consulta deste relatrio. A lei francesa que regulamenta a VAE segundo
o autor do relatrio, uma lei positiva e republicana. Refere que o vocabulrio sobre a
VAE ainda no est estabilizado, havendo muita confuso com termos como
5 Disponvel em: http://ec.europa.eu/education/policies/2010/doc/validation2004_pt.pdf
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
15
educao e formao no formais, ensino e formao no formais, aprendizagem
formal e no formal, etc. A primeira vez que surge a expresso validar, de forma
oficial pela Comisso Europeia, segundo Benhamou, em 2002, numa resoluo de
3/6/2002, relativa s competncias e mobilidade, enquadradas na poltica social e de
emprego6.
necessrio continuar a apostar e se possvel reforar o cumprimento dos passos
de uma tetralogia: Identificao, Avaliao, Validao e Certificao. Seguindo estes
passos possvel uma uniformizao de procedimentos e uma efectiva validao dos
conhecimentos baseados na experincia (Idem).
Resultante da Declarao de Copenhaga em Novembro e mais tarde em
Dezembro de 2002 relanado o modelo de cooperao reforada em matria de
educao e formao ao longo da vida. O Conselho da Unio Europeia inicia assim
uma nova fase que est tambm a afectar Portugal. neste contexto e inserido no
QCA III (terceiro quadro comunitrio de apoio) que surgem projectos como o PRODEP
III, que apoiam e co-financiam aces de formao, nomeadamente na Medida 4
(Educao e formao ao longo da vida) e na Aco 4.1 (Certificao de
conhecimentos/competncias adquiridas ao longo da vida).
Mas j anteriormente outras iniciativas haviam sido tomadas. Por exemplo, em
2000 a Comisso das Comunidades Europeias publicou um documento de trabalho
com o ttulo Memorando sobre a aprendizagem ao longo da vida (CCE, 2000). Em
2001 a Comisso faz uma comunicao intitulada Tornar o espao europeu de
aprendizagem ao longo da vida uma realidade (CCE, 2001). Em 2002, o Conselho da
Unio Europeia publica uma resoluo sobe a aprendizagem ao longo da vida (JOCE,
2002).
Mais recentemente, em Junho de 2003 o Estado Portugus atravs da tutela da
educao torna pblico o Relatrio Base de Portugal, sob o ttulo: Os sistemas de
qualificao e o seu impacto na aprendizagem ao longo da vida (OCDE; ME;MSSFC,
2003). Em Dezembro de 2003 a Comisso elabora um questionrio para todos os
6 Disponvel em: http://ec.europa.eu/prelex/detail_dossier_real.cfm?CL=pt&DosId=171760
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
16
Estados-membros, intitulado: Realizao das estratgias de educao e de formao
ao longo da vida na Europa: Relatrio sobre o seguimento dado resoluo do
Conselho de 2002. Respostas ao questionrio da Comisso. (DGEC-CE, 2003).
2.2.1. O MEMORANDO DE OUTUBRO DE 2000
Este documento na sua introduo releva a importncia do Conselho de Lisboa
realizado em Maro de 2000, como tendo sido um momento decisivo na orientao
das polticas e aces a adoptar na Unio Europeia sobre esta matria, afirmando que
a Era do Conhecimento obrigava a assumir mudanas nas vertentes culturais,
sociais e econmicas reconhecendo que os modelos de aprendizagem, vida,
trabalho, esto a alterar-se (CCE, 2000: 3). A promoo de uma cidadania activa e
o incremento da empregabilidade so mencionados como objectivos prioritrios para a
Europa onde os Estados-Membros sobre este ponto esto de acordo, mas as aces
para a prossecuo destes objectivos tm originado resultados muito fracos do ponto
de vista da aplicabilidade de medidas tendentes sua efectivao (idem: 4).
A argumentao da necessidade de dimensionar medidas face s mudanas
atrs referidas surge no captulo trs do documento onde se compara o momento
presente com o tempo da revoluo industrial, na medida em que a velocidade da
inovao cientfica e tecnolgica obriga a uma mudana de atitudes face educao,
formao, aprendizagem constante, como necessidade decorrente da prpria
sociedade, onde a transio para uma sociedade do conhecimento em que a
economia ser crescentemente baseada na criao de bens e servios incorpreos
ser uma realidade. Defende-se um contnuo de aprendizagem ao longo da vida, onde
fundamental ser as pessoas aprenderem a aprender (Ibidem: 8).
A concluso de Benhamou sobre uma certa confuso de alguns conceitos
relativos aprendizagem na educao e formao atrs mencionada, no
confirmada neste documento, onde se esclarece claramente trs tipos de
aprendizagens a saber:
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
17
i. A aprendizagem formal, decorrente do ensino e formao em instituies e que
d origem obteno de diplomas e certificados reconhecidos formalmente.
ii. A aprendizagem no formal, que decorre em paralelo com o ensino e formao
e no conduz necessariamente obteno de certificados formais. Este tipo de
aprendizagem ocorre em diferentes contextos e situaes tais como no local de
trabalho e atravs de grupos da sociedade civil (organizaes de juventude, sindicatos
e partidos polticos) (...) atravs de organizaes ou servios criados em complemento
aos sistemas convencionais (aulas de arte, msica e desporto ou ensino privado de
preparao para exames).
iii. A aprendizagem informal, decorrente do decurso natural do quotidiano nas
vrias experincias vividas. Este tipo de aprendizagem pode no ser percepcionado
pelos prprios actores, visto decorrer de uma forma no necessariamente intencional
(Ibidem: 9).
Neste ltimo caso surge a necessidade do reconhecimento efectivo das
competncias adquiridas e no certificadas formalmente, a que se procura dar
resposta atravs do processo de reconhecimento, validao e certificao de
competncias (RVCC) j anteriormente abordado como ponto de anlise central nesta
temtica. O ponto 4 do memorando aborda seis mensagens-chave com vista
realizao de aces de aprendizagem ao longo da vida, que aqui tambm
sintetizamos:
a) A primeira mensagem refere-se s novas competncias bsicas para todos e
tem como objectivo garantir acesso universal e contnuo aprendizagem, com vista
aquisio e renovao das competncias necessrias participao sustentada na
sociedade do conhecimento. Para alm deste objectivo faz-se referncia tambm
importncia do desenvolvimento e apreenso de competncias na literacia digital e
em competncias sociais, tais como auto-confiana, a auto-orientao e a assuno
de riscos () em que se espera das pessoas que sejam capazes de comportamentos
mais autnomos do que no passado. A importncia de aprender a aprender de
novo mencionada como necessidade bsica de adaptao mudana (CCE, 2000:
12).
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
18
b) A segunda mensagem refere-se a mais investimento em recursos humanos
e tem como objectivo aumentar de forma clara o investimento em recursos humanos
de modo a valorizar o mais importante trunfo da Europa os seus cidados (Idem:
13).
c) A terceira mensagem, sobre a inovao no ensino e na aprendizagem, visa
desenvolver mtodos de ensino e de aprendizagem eficazes para uma oferta
contnua da aprendizagem ao longo e em todos os domnios da vida. O enfoque
principal desta mensagem vai no sentido da incrementao atravs da valorizao da
utilizao das novas e inovadoras tecnologias de informao e comunicao (TIC)
(Ibidem: 15-16). Os professores e formadores devem ser mais orientadores no
processo de educao/formao, proporcionando ao aluno/formando um contacto
mais directo na gesto da sua prpria aprendizagem, promovendo uma aprendizagem
activa por parte do aprendente seja em contexto formal, seja em contexto no formal.
(Idem: 15-17).
d) A quarta mensagem, valorizar as aprendizagens, visa a melhoria da avaliao
dos resultados da aprendizagem em especial das aces no formais e informais.
Para isso devero criar-se mecanismos que respondam de forma idnea e interessada
atravs dos agentes certificadores. Estes agentes podero estar ligados a uma ONG,
ou a uma associao, sendo estas consideradas em importncia semelhante s
instituies de ensino oficiais. Para este objectivo dever-se-ia criar atravs de peritos
qualificados os mecanismos capazes de garantirem a necessria qualidade neste
processo (Ibidem: 18).
e) A quinta mensagem, intitulada repensar as aces de orientao e
consultadoria, tem como objectivo assegurar durante toda a vida o acesso a
informao de qualidade aos vrios agentes que integram os novos processos de
aprendizagem, seja na ptica do aprendente, seja na do formador ou ainda na das
instituies dinamizadoras sejam pblicas ou privadas, no ensino oficial ou atravs dos
parceiros sociais. No entanto deve continuar a incumbir ao sector pblico a fixao
das normas mnimas comuns de qualidade e a definio dos direitos de cada um
(Ibidem: 18-19).
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
19
f) Enfim a sexta mensagem, aproximar a aprendizagem dos indivduos, procura
providenciar oportunidades de aprendizagem ao longo da vida to prximas quanto
possvel dos aprendentes, nas suas prprias comunidades apoiadas se necessrio em
estruturas TIC. Esta aposta nas novas tecnologias de informao e comunicao
destina-se muito em especial s comunidades mais dispersas e distantes dos centros
urbanos que podero assim aceder a plataformas de aprendizagem que anulam a
desvantagem, pelo menos em parte, da situao geogrfica obstrutiva, de muitas
populaes. (Idem: 23-24).
Continuando na anlise do documento chegamos ao ltimo ponto que tem como
ttulo: Mobilizar recursos para a aprendizagem ao longo da vida. O memorando no
indica parmetros e indicadores de referncia para uma comparao e que sejam
referncias comuns aos vrios membros da Unio, pois estes, no modo como o
documento propem as formas de execuo de um plano para a aprendizagem ao
longo da vida, no existem ainda sistematizados. No entanto o debate que se pretende
criar na sequncia deste documento ir ter continuidade nessa como noutras
questes. No documento refere-se tambm que foram realizadas no entanto iniciativas
a nvel da Unio para executar aces resultantes das concluses do Conselho
Europeu de Lisboa. (CCE, 2000: 23-26).
2.2.2. O DOCUMENTO TORNAR O ESPAO EUROPEU DE APRENDIZAGEM
AO LONGO DA VIDA UMA REALIDADE
Este documento da Comisso decorre de trabalhos realizados no Conselho
Europeu de Santa Maria da Feira em Junho de 2000, onde se pediu com insistncia
aos representantes dos Estados-membros, Conselho Europeu e Comisso que se
promovessem estratgias e se tomassem medidas prticas no sentido de tornar a
aprendizagem ao longo da vida uma realidade para todos os cidados europeus (CCE,
2001: 4). Este documento resulta da anlise de um estudo realizado sobre o tema
onde se inquiriram mais de 12000 cidados, que por sua vez decorreu da
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
20
apresentao do Memorando de 2000. As polticas esto cada vez menos aptas
para preparar os cidados () para as consequncias da globalizao, evoluo
demogrfica, e degradao ambiental Por esta razo se entende que preciso
alterar a viso e as prticas sobre a aprendizagem ao longo da vida, pois os cidados
so a chave para a alterao das competncias, que por sua vez sero mais eficazes
para melhores respostas aos desafios de uma sociedade em mudana acelerada
(Idem).
A ideia de criar um espao de aprendizagem ao longo da vida na Unio exige,
pois, um quadro global de aprendizagem ao longo da vida que seja comum aos vrios
estados, onde a educao e a formao possa ajudar concretizao de polticas de
promoo do emprego, entre outros benefcios bvios para a vida das pessoas. Os
princpios reguladores, da aprendizagem ao longo da vida, focalizam a aco no
aprendente, na igualdade de oportunidades e na qualidade e pertinncia da
aprendizagem (Ibidem: 5).
A mensagem sobre as estratgias pois clara. Os sistemas educativos e
formativos devem flexibilizar-se para evitarem a reproduo das desigualdades
existentes e permitir um percurso ao aprendente em funo dos seus interesses e
necessidades e onde factores com a idade no sejam bice prtico aos desejos,
ambies e sonhos das pessoas, pois dessa forma se pode potenciar a qualidade dos
cidados em dimenses como o trabalho, participao cvica, entre outras. Estes
objectivos exigem que se promova uma cultura de aprendizagem por um lado,
acompanhada de um sistema que valorize o empenho e as competncias adquiridas
mesmo que em situao de aprendizagem informal ou no formal (idem).
Entre as aces prioritrias para a prossecuo desses objectivos, devem incluir-
se propostas pedaggicas inovadoras decorrentes da transferncia do modelo de
aquisio de conhecimentos para o modelo de desenvolvimento de competncias
onde os papis de aprendentes e facultadores da aprendizagem, no so mais os
mesmos na sociedade actual (Ibidem: 6).
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
21
2.2.3. RESOLUO DE 2002 DO CONSELHO SOBRE A APRENDIZAGEM AO
LONGO DA VIDA
Esta resoluo faz um levantamento das medidas desenvolvidas pelas instncias
europeias sobre a temtica da aprendizagem ao longo da vida at data da sua
publicao, bem como reafirma alguns princpios fundamentais que devem ser
promovidos, reconhece que a formao ao longo da vida deve ser uma prioridade,
convida os Estados-membros a assumirem as suas responsabilidades e convida a
comisso a coordenar as aces decorrentes da comunicao da comisso sob o
ttulo, Tornar o espao europeu de aprendizagem ao longo da vida uma realidade,
no sentido de se imprimir uma dinmica de envolvimento em aces concretas (JOCE,
2002: 1-3).
O texto da resoluo comea reconhecendo e reafirmando que a educao e a
formao constituem um meio indispensvel para promover a coeso social, a
cidadania activa, a realizao pessoal e profissional, bem como a adaptabilidade e a
empregabilidade. Remete para iniciativas anteriores consideraes importantes que
levaram presente declarao tais como a Carta Europeia dos Direitos Fundamentais,
que no artigo 14 refere o direito de todos educao e formao profissional e
contnua, bem como as concluses do Conselho no final de 1996, Ano Europeu da
Aprendizagem ao Longo da Vida, tendo clarificado um conjunto de princpios de base
para uma estratgia de aprendizagem ao longo da vida. Ainda na dcada de 90, mais
precisamente durante o extraordinrio Conselho Europeu do Luxemburgo em
Novembro de 1997 onde se discutem as directrizes sobre a Aprendizagem ao Longo
da Vida, para fomentar a formao profissional, bem como promover a
empregabilidade. O assumir da passagem prtica destes princpios foi considerado
de prioridade mxima (Idem).
O Conselho Europeu de Lisboa realizado 2000, Maro, considerou fundamental e
estrategicamente prioritrio avanar para a promoo de uma sociedade baseada no
conhecimento, tendo como objectivo para a Unio Europeia a mdio prazo, a liderana
ao nvel global neste sector. Trs meses mais tarde, em Santa Maria da Feira, o
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
22
Conselho Europeu convida os Estados-membros e a Comisso a definir estratgias
coerentes e medidas prticas concertadas. Foi referida a importncia dos parceiros
sociais como parte fundamental na estratgia de desenvolvimento e aplicao prtica
de medidas concretas. Em Maro de 2001 no Conselho de Estocolmo, volta a ser
referida a importncia da aplicao e desenvolvimento de medidas de polticas sociais
para criar respostas s necessidades de aprendizagem como estratgia global da
Unio com vista incluso e adaptao dos cidados na sociedade do conhecimento7
(Ibidem).
Em Junho de 2001, apresentado aos ministros da educao dos Estados-
membros durante o Conselho de Riga o relatrio sobre a matria abrangendo o
espao geogrfico da Unio. decidida tambm a realizao de um relatrio de
acompanhamento dos Indicadores de qualidade da aprendizagem ao longo da vida,
para ser apresentado na reunio de Bratislava dos ministros da educao dos
Estados-membros prevista para Junho de 2002. Sob o ttulo Os objectivos concretos
dos sistemas de educao e formao, aprovado um relatrio do Conselho em
Fevereiro de 2001. No mesmo ms do ano seguinte, aprovado o programa de
trabalho para a actual dcada para seguimento do relatrio atrs citado, dando-se
assim um enorme passo para a efectivao de um projecto comum com vista a uma
mudana de paradigma nas prticas educativas e formativas, com a concertao de
polticas comuns em matria de formao e educao ao longo da vida, numa clara
aposta de inverso do centro focalizador das atenes, passando a considerar-se
fundamental no o ensino, mas a aprendizagem. Ou seja, O centro focalizador
colocado no aprendente e no no docente (Idem). Na mesma Resoluo referem-se
as concluses aprovadas pelo Conselho de Educao e Juventude de 14 de Fevereiro
de 2002 sobre as propostas do livro branco da comisso8 Um novo impulso
juventude europeia onde se considera que tida em conta a dimenso especfica
da juventude nesta matria (JOCE, 2002).
7 In JOCE 7 de 10.01.1997, p.6
8 In JOCE 119 de 22.5.2002, p.6
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
23
No documento em anlise ainda mencionada a inteno de continuar a
desenvolver a efectivao da estratgia consubstanciada nas medidas tomadas e
sugerem-se novos desenvolvimentos para futuros Conselhos. Salienta ainda que a
aprendizagem ao longo da vida se deve processar desde a idade pr-escolar at
ps-aposentao (Idem).
2.2.4. O RELATRIO PORTUGUS SOBRE OS SISTEMAS DE QUALIFICAO
AO LONGO DA VIDA
Este documento teve como principal consultor o Professor Roberto Carneiro da
Universidade Catlica Portuguesa e integrou um estudo mais lato sobre os sistemas de qualificao e o seu impacto ao longo da vida desenvolvido no mbito da OCDE.
um levantamento de todo o sistema de ensino nacional, desde o pr-primrio ao
universitrio, passando pelos restantes nveis de ensino e pelos vrios modelos de
funcionamento de ensino/formao.
As concluses referem uma evoluo a vrios ttulos notvel nos ltimos 30
anos no sistema de ensino portugus. Foi uma das matrias que perpassou governos
de ideologias diversas em conjunturas econmicas e ciclos polticos diferenciados.
referida como talvez a mais notria alterao estrutural de poltica pblica
democrtica a partir de 25 de Abril de 1974. (OCDE, 2003: 60). Ressalta deste
documento um conjunto de medidas a adoptar tendo em conta a transio para uma
sociedade educativa onde a Aprendizagem ao Longo da Vida seja uma realidade para
todos:
Desenvolvimento de um plano de Educao e Formao ao Longo da Vida
que permita requalificar o stock de portugueses adultos e activos de forma a
atingirem um nvel mdio de saberes certificados semelhantes aos dos seus
pares nos pases europeus mais avanados;
Continuao e reforo das medidas qualitativas que incidem sobre o fluxo
escolar, no mbito da educao formal, designadamente nas vertentes de
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
24
avaliao, das novas competncias, da formao para a cidadania activa e da
generalizao do uso das novas tecnologias;
Fortalecimento do ensino secundrio qualificante que integre novas
competncias;
Diversificao das instituies de ensino superior tornando-as porosas a
novos pblicos;
Lanamento de estmulos gesto profissional das instituies de educao
e de formao;
Estabelecimento claro de padres educativos para os vrios ciclos de estudo
e subsistemas de formao, susceptveis de fundamentar a avaliao
independente das instituies escolares e profissionais conducentes a um
fluxo de informao regular ao pblico interessado;
Criao de um sistema unificado de certificao de competncias que permita
uma mobilidade acrescida da populao activa, quer a nvel nacional, quer
internacional;
Reforo da utilizao das tecnologias de informao e da comunicao como
catalisador da reconverso necessria do sistema de educao/formao;
Estmulos criao de ncleos/centros de excelncia. (Idem).
Este documento sugere um conjunto de aces concretas que visam, segundo os
seus mentores, criar um novo ciclo de qualificaes e requalificaes para todos os
cidados.
2.2.5. RELATRIO DE 2003 SOBRE A IMPLEMENTAO DA APRENDIZAGEM
AO LONGO DA VIDA EM PORTUGAL
Sob o ttulo: Realizao das estratgias de educao e formao ao longo da
vida na Europa: Relatrio sobre o seguimento dado resoluo do Conselho de
2002, foi elaborado o relatrio Resposta ao questionrio da Comisso PORTUGAL
que aqui comentamos.
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
25
Trata-se de um questionrio exaustivo sobre as medidas implementadas para dar
seguimento estratgia mencionada na resoluo de 2002 atrs analisada e que a
Comisso Europeia atravs da Direco Geral de Educao e Cultura ps no terreno.
O documento contm as respostas ao questionrio que por sua vez esto contidas no
texto do prprio relatrio. O questionrio ia de encontro a todos os pontos assumidos
como fundamentais para a implementao da resoluo de 2000 e dividiu-se em
vrias reas como a seguir mencionamos numa anlise curta ao documento (cf. CE-
DGEC, 2003).
Quanto ao chamado Quadro Geral, solicitao para descrio do quadro
legislativo e financeiro no qual as estratgias para a Aprendizagem ao Longo da Vida
se desenvolvem em Portugal, tendo em conta diversos nveis de descentralizao e
caractersticas prprias de cada regio, com a correspondente distribuio de
responsabilidades, Portugal menciona um conjunto de medidas j tomadas e outras
em desenvolvimento de que se destacam:
- O Plano Nacional de Emprego para 2002, que emerge da resoluo do Conselho
de Ministros n 137/2002 de 30 de Novembro.
- A Lei de Bases da educao de 2003, como tendo um sentido estratgico para o
pas e em que a viso curricular assenta na valorizao da aprendizagem como um
continuum ao longo da vida. O Ministrio da Educao vinha implementando desde
Agosto de 2002 um conjunto de estruturas para dar resposta a esta viso de
Educao ao Longo da Vida. assim que surge a DGFV, - Direco Geral de
Educao Vocacional, a DGIDC - Direco Geral de Inovao e Desenvolvimento
Curricular, com vista a uma operacionalizao das estratgias polticas para a rea de
Aprendizagem ao Longo da Vida.
- A Lei n 32-A/2002 de 30 de Dezembro que consubstancia as prioridades
definidas onde se articulam as medidas necessrias num quadro de articulao entre
estruturas sociais e econmicas diversas.
- O Plano de Desenvolvimento Regional 2000-2006, onde estava j claramente
assumida como prioridade a Educao ao Longo da Vida
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- O programa de Desenvolvimento Educativo para Portugal 2000-2006 PRODEP -
III, onde se articulam esforos em torno de quatro principais objectivos com
financiamento nacional e comunitrio: melhorar a qualidade da educao bsica,
promovendo uma cultura de cidadania activa; aumentar e diversificar a educao
inicial dos jovens apostando na empregabilidade; promover a Aprendizagem ao
Longo da Vida e melhorar a empregabilidade da populao activa; promover o
desenvolvimento da Sociedade da Informao e do Conhecimento (Idem).
- O Programa Operacional Emprego, Formao e Desenvolvimento Social cujos
principais objectivos estratgicos so a insero de jovens na vida activa, a promoo
da empregabilidade na ptica da formao ao longo da vida e a insero social e
profissional de grupos desfavorecidos. Estes objectivos seguem por sua vez cinco
eixos prioritrios de interveno:
1. Promoo da formao qualificante e da transio para a vida activa
2. Formao ao longo da vida e adaptabilidade.
3. Qualificar para modernizar a administrao pblica.
4. Promoo da eficcia e da equidade das polticas de emprego e formao
5. Promoo do desenvolvimento social
O eixo 1 visa fundamentalmente construir ofertas que sejam facilitadoras da
incluso dos jovens na vida activa. O eixo 2 visa a promoo da formao contnua em
contexto empresarial para activos. O eixo 3 procura dar resposta ao deficit de
operacionalidade em matria de novas tecnologias que os actuais funcionrios em
muitos casos ainda demonstram. O eixo 4 visa um reforo da rede de equipamentos e
servios no apoio ao emprego e formao, requalificando os seus agentes. No
quinto eixo pretende-se promover o desenvolvimento social de comunidades e grupos
sujeitos a fenmenos agravados de excluso.
O relatrio menciona ainda o Programa Operacional para a Sociedade da
Informao (POSI). A generalidade dos programas do III Quadro Comunitrio de Apoio
(QCA-III), tm este objectivo de modernizao presente. Entre muitas outras aces
passveis de comparticipao quer a empresas quer a associaes, escolas, entre
outros agentes sociais, destacam-se as seguintes: generalizao do uso da Internet;
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criao de espaos pblicos de acesso Internet em todas as freguesias do pas;
generalizao a todas as escolas pblicas da Rede Cincia Tecnologia e Sociedade
(RCTS) que ainda tinha escolas excludas; operacionalizao de um programa que
leve multiplicao por mil dos contedos presentes na Internet; formao e
certificao de competncias bsicas em TIC (tecnologias de informao e
comunicao); criao de um diploma de competncias bsicas em TIC associadas
concluso do ensino obrigatrio para todos os alunos.
O relatrio prossegue com as respostas exaustivas s questes apresentadas. Da
leitura deste documento facilmente se depreende que em matria de Educao ao
Longo da Vida, muito se fez e muito haver para fazer. Se as aces empreendidas
deram cabal resposta s necessidades, devidamente elencadas que no ser fcil
obter resposta to evidente, uma vez que a complexidade do problema tal que se
afigura como muito difcil uma explicao generalizada sobre resultados efectivos num
domnio que, tambm ele pode ser considerado como perfeitamente subjectivo. no
entanto o principal objectivo desta dissertao clarificar um pouco a questo, mesmo
que a resposta possa ser limitada.
Voltando ao relatrio, resumidamente mencionaremos as reas em que outras
questes foram colocadas pelo mesmo. Assim, depois do quadro geral, a segunda
rea de inquirio prendeu-se com o desenvolvimento de parcerias, desde os
parceiros locais aos parceiros sociais, formais e informais, escolas e universidades.
Onde se pergunta que medidas foram tomadas para incluir os vrios parceiros neste
objectivo geral de elevar as qualificaes e promover a aprendizagem.
Outra rea mencionada prende-se com os meios de procura de educao e
formao. Pergunta-se como v o governo portugus a acesso s competncias
bsicas por todos, se disponibiliza esse acesso tendo em conta esse pressuposto de
acesso s competncias bsicas como fundamento necessrio para a aprendizagem
futura. Tambm nesta questo a resposta longa e mostra bastante trabalho na
promoo das TIC j realizado com mltiplas parcerias quer em escolas, quer em
associaes, em empresas de formao, em fundaes enfim, muito trabalho se fez
tambm neste domnio.
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Uma nova rea questionada reporta aos recursos necessrios, pedindo que
fossem dados exemplos de parcerias nos sectores privado e pblico no domnio da
educao e formao ao longo da vida. As respostas a esta questo focaram-se nas
escolas profissionais privadas e pblicas existentes e a funcionar com ofertas de
cursos e de formaes modulares. Os centros de Reconhecimento, Validao e
Certificao de Competncias (centros RVCC). Estes so pblicos e privados e
operam em locais prprios, mas tambm em instalaes das empresas que a eles
recorram numa ptica de formao contnua para os seus trabalhadores.
Outra rea questionada tem que ver com o acesso s oportunidades de
aprendizagem. Pede-se esclarecimentos sobre a forma como se acede formao e
que mecanismos esto propostos ou a funcionar para pblicos diferenciados de modo
a que todos possam ser includos. Nesta rea, o relatrio menciona uma grande
quantidade de programas em curso que visam pblicos diversos com caractersticas
sociogrficas muito diferentes mas com respostas direccionadas para todo o tipo de
pblico-alvo. Destacam-se deste conjunto de iniciativas as aces [email protected] + e os
cursos de Educao e Formao de Adultos - EFA. Estes so apresentados como
uma oferta integrada de educao e formao, com dupla certificao, escolar e
profissional, destinam-se a maiores de 18 anos que no possuem a escolaridade de 9
anos, sem qualificao profissional, empregados e desempregados, inscritos nos
Centros de Emprego do Instituto de Emprego e Formao Profissional ou indicados
por outras entidades como empresas, ministrios, sindicatos ou outros.
As aces [email protected]+ destinam-se tambm populao adulta: segundo os dados
recolhidos do relatrio, pretendem dar uma resposta adequada e flexvel em reas
especficas, profissionais ou escolares, so promovidas por entidades pblicas e
privadas e apresentam solues capitalizveis e certificveis com resposta para
vrios nveis de proficincia: iniciao, aprofundamento e consolidao.
Por fim o questionrio inquire sobre a criao de uma cultura de aprendizagem.
Na resposta a esta rea de questes remete-se para os programas operacionais
PRODEP III, POSI e POEFDS, cujos objectivos e metas consubstanciam a promoo
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
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de uma efectiva cultura de aprendizagem, com iniciativas no terreno, promoo da
informao, levando efectivao do acto de aprender activamente.
Uma ltima nota para registar a necessidade de pesquisa de excelncia. A
necessidade de monitorizar em tempo real e posteriormente as aces realizadas
para, dentro de uma lgica sistmica, se melhorar e readequar as aces futuras (cf.
CE-DGEC-, 2003).
2.2.6. RELATRIO DE AVALIAO EX-ANTE DO PROGRAMA OPERACIONAL
TEMTICO PARA O POTENCIAL HUMANO
O relatrio realizado por Roberto Carneiro e outros sobre o POPH revela um
conjunto de preocupaes e de dificuldades com que a aplicao no terreno se
deparar, tendo em conta a avaliao ex-ante produzida por ele e pela equipa que
coordenou de que fazem parte Antnio Figueiredo, Carlos Liz, Joaquim Azevedo,
Maria do Carmo Gomes e Paulo Pedroso.
A principal preocupao revelada pelo governo ao elaborar este plano situa-se na
preocupao em responder a um pblico que perdeu por variadas razes a
oportunidade de se qualificar escolar e profissionalmente. Os cursos de dupla
certificao so uma resposta para este pblico, funcionando como uma oportunidade
de recuperao das deficincias provocadas por um abandono escolar precoce entre
outras razes esprias em relao a este facto central.
A formao de activos, a vertente da educao formal e no formal a formao
vocacional, a integrao social, so tambm preocupaes que resultam de uma
ordem estabelecida que obriga a que se promova uma integrao dos adultos em
idade activa. A integrao, desenvolvimento e incluso social so marcadamente
entendidos como questes centrais no programa apresentado. Nota-se uma
preocupao no esbatimento de assimetrias ao nvel social, como a desigualdade de
gnero, discriminao social, participao cvica e cidad, conciliao entre famlia e
trabalho, proteco de grupos sociais vulnerveis atravs de uma abordagem de
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
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aculturao tendo como princpios fundamentais a promoo dos direitos de
cidadania, dos deveres cvicos, numa perspectiva de mudana atitudinal como
principal estratgia para o combate das desigualdades de vria ordem de que uma
grande parte da populao portuguesa, de forma consensual, a acreditar nos vrios
estudos e investigaes desenvolvidos nesta rea parecem demonstrar.
Inequivocamente, estas preocupaes percebem-se das medidas dos eixos 1 e 2 do
programa referido.
O programa Novas Oportunidades resulta como plano de aco fundamental
para a estratgia de combate ao dfice de qualificaes de um grande nmero de
pessoas. Por outro lado, o Plano Operacional para Desenvolvimento do Potencial
Humano, (POPH), torna-se o motor desta estratgia, tornando possvel a sua
realizao. A inovao, a qualificao, a integrao social e o esbatimento das
desigualdades de acesso educao/formao e de gnero so tambm apostas
fortes para o cumprimento do programa Novas Oportunidades, encaradas como
estruturantes para os desafios da sociedade competitiva em que vivemos actualmente,
com acrescidos desafios face velocidade com que se processa a mudana de
paradigmas produtivos, onde a qualificao e a capacidade de aprendizagem contnua
funcionam como requisitos fundamentais para o sucesso nos vrios ramos da
economia, desde o sector primrio at ao sector do comrcio e servios, passando
pelo sector secundrio e no esquecendo o chamado Terceiro Sector que se ergue
como fundamental numa sociedade que se torna cada vez mais envelhecida e onde a
solidariedade geracional vai quebrando os laos devido a vrios factores, mas onde a
mobilidade social tem tambm uma grande responsabilidade, resultante das contnuas
reconfiguraes quer do figurino familiar, quer do figurino profissional, onde se encaixa
tambm um conjunto de novos valores que emergem como incompatveis
funcionalmente com as prticas tradicionais de solidariedade geracional, como por
exemplo dimenso em nmero de elementos cada vez menores dos agregados
familiares.
A concentrao crescente da populao nas zonas urbanas com habitaes
diferentes das rurais, onde no ltimo caso se vive uma complementaridade de
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
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proventos para as famlias entre o campo e a horta e o emprego, por oposio a uma
vida urbana que no tem espao para estas realizaes agrcolas de ajuda
sustentao dos agregados familiares, logo, esto mais sujeitos aos efeitos nefastos
do desemprego aqueles que perdendo o vnculo laboral ficam grandemente
desprotegidos. deste grupo de pessoas que vem um grande nmero de possveis
candidatos s medidas previstas no programa Novas Oportunidades. Apesar de
poder ter crticas negativas por parte de alguns crticos, estudiosos e cientistas sociais,
h no entanto um mrito que parece ser objectivamente consensual: a urgncia de
respostas concretas para estes casos que acabamos de citar e que no so nmeros,
mas pessoas. A regio norte de Portugal tem sido mencionada como a que mais tem
sofrido com o aumento do desemprego, devido ao encerramento contnuo de unidades
de produo industrial, forte implantao de indstrias tradicionais que se
encontravam concentradas nesta regio, particularmente e ao encerramento contnuo
de unidades de produo industrial.
No entanto da leitura do relatrio sobre a avaliao ex-ante, parece resultar uma
crtica a muitas das medidas propostas no POPH, que poderiam ser mais transversais,
como aparece enquadrado nos eixos 6 e 7, onde existe uma certa compartimentao
que poder no servir to bem a vertente da coeso social e integrao. De um modo
geral, no entanto a avaliao positiva indo de encontro s necessidades de uma
populao que carece de ajuda e de ferramentas para vencer as dificuldades e os
desafios da sociedade presente (cf. Carneiro e Outros, 2007).
O relatrio que temos vindo a citar contm ainda alguma reflexo mais de fundo
acerca do problema da educao/formao enquanto promotoras da coeso nacional,
partindo do estudo realizado para o Observatrio do QCA III A Opinio Pblica e os
Fundos Estruturais (APEME, 2006).
Os autores sustentam que Um dos pilares de interveno do POPH 2007-2013
o que diz respeito coeso, incluso e desenvolvimento social, entendendo-se este
de modo bastante amplo, integrando as questes da pobreza e excluso social, da
cidadania e participao cvica, da discriminao social de grupos particularmente
vulnerveis, e ainda, da igualdade de gnero e da conciliao entre vida profissional e
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vida familiar. E continua o relatrio dizendo: , por isso, uma rea na qual o
diagnstico (para uma adequada actuao) deveria cobrir todas as componentes atrs
enunciadas. As opes da selectividade e da concentrao dos investimentos esto
aqui bem espelhadas, para alm, de no conjunto do POPH, ser esta a rea de
interveno com uma dotao menor de recursos financeiros. Mais adiante faz-se
uma anlise s condies de partida, por assim dizer, do arranque para o programa
visado entre o perodo de 2007 a 2013: Destacam-se destes dois contributos
essenciais para a interveno no domnio da coeso e da incluso social, alguns
dados empricos (constantes no PNAI 2006-2008, POPH, estudo prvio e outros
estudos de especial interesse e enfoque nestas temticas) que nos permitem
compreender a extenso, profundidade e especificidades dos fenmenos que
concorrem neste campo e que so utilizados para o mapeamento do contexto
nacional. Estes fenmenos so sistematizados do seguinte modo (Carneiro e Outros,
2007: 42-44):
Os rendimentos das famlias portuguesas tm vindo a registar evolues positivas,
principalmente, a partir da segunda metade da dcada de 90.
21 % da populao portuguesa vivia, em 2004, abaixo do limiar da pobreza, no
obstante os progressos verificados entre 1994 e 2001, mas ainda acima da mdia da Unio
Europeia a 25 pases (16%).
15% da populao portuguesa vivia abaixo do limiar da pobreza em 2001, e em pelo
menos 2 dos 3 anos precedentes, demonstrando o carcter persistente da pobreza em
Portugal, que atinge em particular, os idosos (24% esto expostos a este tipo de situaes
de pobreza) e as crianas (22%). Estas ltimas assistiram, de 1995 a 2001, a um ligeiro
agravamento da sua situao, enquanto os primeiros obtiveram uma ligeira melhoria das
suas condies sociais. 23% Das crianas portuguesas, em 2004, eram pobres, e 29% dos
idosos estavam inseridos tambm nesta categoria, que atinge principalmente as
extremidades do ciclo de vida. A condio de reformado refora tambm a insero nas
categorias de pobreza, essencialmente, para os que auferem penses de valor muito baixo
e em situaes de grande vulnerabilidade social.
18,7% Das famlias portuguesas encontravam-se, em 2001, em situao de privao, ou
seja, no conseguiam aceder a um nvel mnimo de bem-estar assente em mltiplos
aspectos do bem-estar dos indivduos e das famlias.
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
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Portugal apresenta o grau mais elevado de desigualdade na distribuio dos
rendimentos. Em 2004, enquanto em Portugal a proporo do rendimento recebido pelos
20% de maiores rendimentos da populao face aos 20% de menores rendimentos, era 7,2
vezes superior; na UE era de 4,8.
As desigualdades de gnero so evidentes: as mulheres esto mais expostas a
situaes de pobreza (22%) em comparao com os homens (20%); as diferenas de
rendimento e a posio face linha de baixo salrio em funo do gnero so significativas
(16% das mulheres esto abaixo desta linha, enquanto que apenas 7,5% dos homens
enfrentam esta situao);
As mulheres auferem salrios menores desempenhando as mesmas funes que os
homens; trabalham diariamente mais horas, se conjugado o trabalho pago e no pago; tm
maiores dificuldades em conseguir cargos de direco e de chefia nas suas carreiras
profissionais; encontram-se sobrecarregadas com a realizao e responsabilidade pelas
tarefas domsticas; so as principais prestadoras de cuidados s crianas e aos idosos nas
suas famlias, bem como a outros dependentes (Torres e outros, 2004). Todas estas
tendncias so bastante mais acentuadas nas classes sociais mais baixas e nas mulheres
com menores qualificaes;
Existe uma forte ligao entre pobreza e nveis de qualificao e isso determinante para o acesso ao emprego e ao mercado de trabalho, bem como para neles permanecer. A
situao actual est fortemente dependente dos ciclos macroeconmicos de
desenvolvimento, e nos ltimos anos, a tendncia de estagnao e baixo crescimento no
tem auxiliado a tarefa da coeso e incluso social.
2.3. A CONSTRUO DE UM REFERENCIAL DE COMPETNCIAS-CHAVE E A
CERTIFICAO DE COMPETNCIAS
A experincia de outros pases como Inglaterra, Irlanda e Frana foi aproveitada por
Portugal para a construo de um referencial de competncias-chave para a educao
e formao ao longo da vida, tendo sido tambm discutida e estudada por tcnicos,
grupos de estudo, atravs de seminrios e de outros tipos de debate como refere
Alonso, numa entrevista concedida a Lopes (2006: 125): Foi pensado para adultos
pouco escolarizados. Fundamentalmente. No sentido de conseguir que os adultos
tivessem o diploma do ensino bsico e simultaneamente, ao mesmo tempo em que
adquiriam o diploma de ensino bsico, adquirissem uma formao profissional que os
Enquadramento Institucional da Educao e Formao de Adultos
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permitissem se desenvolver como pessoas competentes. Mas foi pensado
especialmente para um determinado pblico-alvo de populao adulta, adulta maiores
de dezoito anos, pouco escolarizados e com muitas deficincias ao nvel de formao,
geral e formao profissional. E foi pensado especialmente para fazer o
reconhecimento das competncias de vida desses adultos, que apesar de serem
poucos escolarizados, tm uma experincia de vida, tm aprendizagens muito
diversificadas e que podem ser reconhecidas e em funo do reconhecimento que se
faz tentar orientar seu percurso profissional e seu percurso de vida.
O referencial de competncias-chave (RCC) vai nortear todo o processo formativo,
quer sendo o documento-base de trabalho, no reconhecimento validao e certificao
de competncias, quer no posicionamento dos formandos nos cursos EFA, servindo
neste caso como referencial para se adequar um desenho curricular em funo das
competncias-chave e para que se construa um currculo que v ao encontro da
complementaridade necessria para que os formandos obtenham as competncias
consideradas fundamentais. No final das formaes nos cursos EFA, os formandos
disporo de uma dupla certificao: escolar e profissional (idem: 126-127).
Assim, podemos sintetizar o modelo de formao proposto para os cursos de
Educao e Formao de Adultos nos seguintes termos: i) Assentam numa
perspectiva de formao ao longo da vida; ii) Decorrem dentro de um modelo de mdia
temporalidade, organizado em unidades de competncia (referencial de competncias
chave); por intermdio deste RCC, reconhecem-se e validam-se as competncias
adquiridas pelos formandos ao logo da vida pessoal e profissional.
A abordagem heterognea de assuntos, culturas diferentes, concorre para uma
formao para a cidadania que transversal em todo o processo e integra as reas de
competncias fundamentais de linguagem e comunicao matemtica para a vida e
tecnologias e informao. Os nveis B1, B2 e B3, correspondem, grosso modo ao 1,
2 e 3 ciclos do ensino bsico actual. Os dois primeiros nveis permitem a obteno
de um certificado profissional de nvel I e o nvel B3 a obteno de um certificado
profissional de nvel II.
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O nvel profissional I requer a competnc
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