UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA – UNEB
GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS –
SEMARH CENTRO DE RECURSOS AMBIENTAIS – CRA
NÚCLEO DE ESTUDOS AVANÇADOS DO MEIO AMBIENTE – NEAMA
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI
CARLOS RANGEL GOMES PEREIRA
LUZINALDO CORREIA COSTA
AVALIAÇÃO DO PAPEL DA CAATINGA ALUVIONAR NA PROTEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO SEMI-ÁRIDO: Estudo de caso do Riacho do Poço do Magro – Guanambi/BA.
Salvador - Bahia 2004
CARLOS RANGEL GOMES PEREIRA
LUZINALDO CORREIA COSTA
AVALIAÇÃO DO PAPEL DA CAATINGA ALUVIONAR NA PROTEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS DO SEMI-ÁRIDO: Estudo de caso do Riacho do Poço do Magro – Guanambi/BA.
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Gestão Ambiental Municipal da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, como requisito para a obtenção do Grau de Especialista.
Orientador: Msc Fernando Antonio Esteves de Araújo Silva
Salvador - Bahia 2004
CARLOS RANGEL GOMES PEREIRA
LUZINALDO CORREIA COSTA
AVALIAÇÃO DO PAPEL DA CAATINGA ALUVIONAR NA PROTEÇÃO DOS
RECURSOS HÍDRICOS DO SEMI-ÁRIDO: Estudo de caso do Riacho do Poço do Magro
– Guanambi/BA.
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de especialista no 1° Curso
de Pós-Graduação em Gestão Ambiental Municipal, Universidade Estadual da Bahia/UNEB,
pelos seguintes pareceristas:
Fernando Antonio Esteves de Araújo Silva – Orientador
Mestre em Política e Gestão Ambiental pela Universidade de Brasília. Centro de
Desenvolvimento Sustentável.
Salvador-Ba, 29 de Outubro de 2004.
Oferecemos esta monografia às nossas
famílias, principalmente às nossas esposas, filhos
e filhas e a todos os colaboradores deste curso de
especialização.
Carlos Rangel e Luzinaldo Correia Costa
“Planta com fé religiosa. Planta sozinho, silencioso. Cava e planta. Gestos pretéritos, imemoriais. Oferta remota; patriarcal. Liturgia milenária. Ritual de paz. Em qualquer parte da Terra um homem estará sempre plantando , recriando a Vida. Recomeçando o Mundo.”
(CORA CORALINA,1965)
RESUMO
O presente trabalho aborda a avaliação do papel da caatinga aluvionar na proteção dos
recursos hídricos do semi-árido, focalizando em particular o caso do Riacho do Poço do
Magro, localizado no Município de Guanambi, Estado da Bahia, no contexto do seu meio
físico, biótico e antrópico, dentro dos quais, se descreve suas condições climáticas, sua
geologia e geomorfologia, seus recursos hídricos, sua cobertura vegetal, sua fauna, e ainda a
relação do homem com os recursos naturais da região. Essa avaliação se justifica pela
indiscutível importância das matas ciliares, em especial a caatinga aluvionar, na proteção dos
recursos hídricos, influenciando na vida silvestre, tanto animal quanto vegetal, e na vida do
homem, tanto no contexto social, quanto econômico. Neste contexto, destaca-se a realidade
do Riacho Poço do Magro.
UNITERMOS: Riacho Poço do Magro, Mata Ciliar, Caatinga Aluvionar, Recursos Naturais.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA ................................................................. 12
2.1 MEIO FÍSICO ......................................................................................................... 12
2.1.1 Condições climáticas .............................................................................................. 14
2.1.2 Geologia / geomorfologia ....................................................................................... 15
2.1.3 Pedologia ................................................................................................................ 20
2.1.4 Recursos hídricos .................................................................................................... 22
2.2 MEIO BIÓTICO...................................................................................................... 23
2.2.1 Cobertura vegetal .................................................................................................... 24
2.2.1.1 Flora Regional.......................................................................................................... 25
2.2.1.2 Dispersão..................................................................................................................26
2.2.2 Macro fauna ............................................................................................................ 28
2.2.2.1 Mastofauna............................................................................................................... 30
2.2.2.2 Herpetofauna............................................................................................................ 31
2.2.3 Relação fauna x flora .............................................................................................. 32
2.2.3 Meio antrópico ........................................................................................................ 32
3 A IMPORTANCIA DA CAATINGA ALUVIONAR NAS COMUNIDADES
E RECURSOS HIDRICOS DA REGIÃO .......................................................... 33
3.1 AVALIAÇÃO DA CAATINGA ALUVIONAR.....................................................33
3.2 A INTEGRAÇÃO DO HOMEM COM OS RECURSOS NATURAIS..................35
3.3 OS PRINCIPAIS USOS DO RIACHO DO POÇO DO MAGRO...........................37
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 38
5 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 41
6 ANEXOS ................................................................................................................ 44
6.1 MODELO DE QUESTIONÁRIO .......................................................................... 44
6.2 REGISTRO FOTOGRÁFICO ................................................................................ 45
6.2.1 Nascente do Riacho do Poço do Magro, com captação das águas que descem
dos morros, agosto/2004.......................................................................................... 45
6.2.2 Assoreamento do riacho, com crescimento de vegetação, agosto/2004 ................. 45
6.2.3 Desmate para implantação de pastagem e aproveitamento da lenha, julho/2004.... 46
6.2.4 Presença de algarobas nas margens do Riacho, sombra para os animais,
julho/2004 ............................................................................................................... 46
6.2.5 Utilização do Riacho para pesca (indivíduo pescando), agosto/2004...................... 47
6.2.6 Presença de umbuzeiro nas margens do leito do Riacho, agosto/2004.................... 47
6.2.7 Leito do rio com presença de capineira e ao fundo a presençade área desmatada
no morro, setembro/2004. ....................................................................................... 48
6.2.8 Presença de cacimbão no leito do rio, setembro/2004............................................. 48
6.2.9 Utilização de cata-vento para sucção d’água na cisterna perfurada na margem
do Riacho do Poço do Magro, setembro/2004......................................................... 49
6.2.10 Utilização do riacho com fonte de recreação (banho), agosto/2004........................ 49
6.2.11 Barragem do Poço Magro, julho/2004. ................................................................... 50
6.2.12 Margens da Barragem do Poço do magro, julho/2004..................... ....................... 50
6.2.13 III Caminhada do Meio Ambiente, Guanambi, outubro/2004. Participação de
toda sociedade.......................................................................................................... 51
6.2.14 III Caminhada do Meio Ambiente, Guanambi, outubro/2004. Participação da
APAE....................................................................................................................... 51
6.2.15 III Caminhada do Meio Ambiente, Guanambi, outubro/2004. Participação de
Escolas Infantis........................................................................................................ 52
6.3 Mapas ...................................................................................................................... 53
6.3.1 Mapa da região de Guanambi, mostrando o Riacho do Poço do Magro e sua
nascente, bem como pontos onde foram feitas entrevistas, locações e registro
fotográfico................................................................................................................ .53
6.3.2 Mapa do Município de Guanambi, mostrando a situação da cobertura vegetal e o
grau de antropização das mesmas. ............................................................................54
INTRODUÇÃO
Um dos grandes desafios do homem é retirar da natureza os meios para seu
sustento e desenvolvimento, utilizando, de forma equilibrada os recursos naturais. Contudo, a
história está repleta de exemplos da degradação de ecossistemas em diferentes áreas do
mundo (COSTA; ARAUJO; LEOPOUDO, 2004). Na atualidade, o mundo vem sofrendo as
conseqüências diante da situação de degradação do meio ambiente com “mortes” de rios e
lagos, que requer uma maior atenção e maior consideração por parte dos órgãos públicos e da
sociedade como um todo, principalmente aquela que vive e sobrevive na dependência das
águas fluviais e lacustres.
No Nordeste, a escassez de recursos hídricos e a baixa qualidade dos mesmos
na região, tornam atividades primárias como a agricultura, por exemplo, muitas vezes
inviável. A necessidade então de buscar atividades alternativas que não exijam uma demanda
de água significativa ou mesmo nenhuma, tem ocasionado na área, uma má utilização dos
recursos naturais, contribuindo com a devastação da caatinga que é a maior riqueza natural da
região do semi-árido (UFPE, 2001).
Em conseqüência do aumento do processo de expansão agrícola, de
agroindústria e do estabelecimento de usinas hidrelétricas no Brasil, a cobertura florestal
original vem se reduzindo indiscriminadamente (BOBATO; OPAZO; NÓBREGA, 2003).
Destacando-se as coberturas florestais naturais e, em particular, as matas ciliares, Vegetação
que existe às margens dos cursos d’água, que assumem grandes influências sobre a água,
fauna e solo do local (MACHADO, 1989). As condições de fertilidade e de disponibilidade
hídrica atraem agricultores para implantarem lavouras, predominantemente de ciclo curto,
como as hortaliças. Tal fato exerce forte pressão predatória sobre a floresta e a água
(VASCONCELOS SOBRINHO, 1971).
9
Morais (2004) relata que, nas áreas mais populosas do Brasil, as Matas Ciliares foram
reduzidas drasticamente e, quando presentes, normalmente estão reduzidas a vestígios, apesar
de ser garantida pelo Código Florestal (Lei 4.771 de 15/09/65). Segundo esta Lei são
obrigatórias as conservações de:
- 30 m de mata para cursos d’água com até 10 m de largura;
- 50 m de mata para cursos d’água cuja largura varia entre 10 a 50 m;
- 100 m de mata para cursos d’água cuja largura varia entre 50 a 200 m;
- 200 m de mata para cursos d’água cuja largura varia entre 200 a 600 m;
- 500 m de mata para cursos d’água superiores a 600 metros;
- de um raio mínimo de 50 m de mata para nascentes.
A mata ciliar é um tipo de vegetação intimamente relacionada à umidade do solo e do
ar. No cerrado e na caatinga, por exemplo, ela aparece como uma faixa tênue, estreita e
comprida. Já no sul de Minas, a forma mais comum é a "mata de galeria", batizada dessa
forma por nascer no fundo de vales. Em ecossistemas tropicais, ela é mais abundante e pode
se estender por muitos metros. No entanto, uma característica é comum a todos os ambientes:
esteja onde estiver, a mata ciliar é sempre o local de maior diversidade de fauna e flora e
também onde existe maior produção de biomassa – o que torna as margens dos rios locais de
grande fertilidade (FAGUNDES, 2004).
O desmatamento progressivo da floresta, para cultivo agrícola, tende a alterar as
condições microclimáticas locais, pois a mata funciona como uma “esponja biológica”, em
que a água precipitada é liberada gradualmente por evapotranspiração e por infiltração no
solo (BRAGA et al. 2002).
Matas ciliares são aquelas que acompanham o curso dos rios, córregos e ribeirões.
Elas, também, contornam os lagos e açudes e, assim como os cílios de nossas pálpebras
protegem os olhos, elas protegem os mananciais aquáticos da natureza. Estas matas protegem,
10
ainda, os terrenos das margens desses mananciais que, sem elas, seriam levados pelas chuvas,
em processos acelerado de erosão (CLEMENTE; FONCECA; LOBO, 1999).
A função das matas ciliares em relação às águas está ligada a sua influência sobre uma
série de fatores importantes, tais como: escoamento das águas da chuva, diminuição do pico
dos períodos de cheia, estabilidade das margens e barrancos de cursos d‘água, equilíbrio da
temperatura das águas (favorece os peixes), ciclo de nutrientes existentes na água, entre
outros. Assim, os solos sem cobertura florestal reduzem drasticamente sua capacidade de
retenção de água de chuva, ou seja, em vez de infiltrar no solo, ela escoa sobre a superfície
formando enormes enxurradas que não permitem o bom abastecimento do lençol freático,
promovendo a diminuição da água armazenada. Com isso, reduzem-se as nascentes. As
conseqüências do rebaixamento do lençol freático não se limitam as nascentes, mas se
estendem aos córregos, rios e riachos abastecidos por ela. As enxurradas, por sua vez
carregam partículas do solo iniciando o processo de erosão. Se não controladas, evoluem
facilmente para as temidas voçorocas (MORAIS, 2004). A importância das matas ciliares vai
além: oferecem condições de vida a uma variada fauna e são fator econômico da maior
relevância (CLEMENTE; FONCECA; LOBO, 1999).
Avaliar o papel da caatinga aluvionar na proteção dos recursos hídricos do semi-árido,
especificamente no caso do Riacho do Poço do Magro no município de Guanambi, Estado da
Bahia, é o objetivo deste trabalho.
O Riacho do Poço do Magro está localizado nos municípios de Guanambi, Candiba e
Pindai, sendo que a sua maior extensão é no município de Guanambi.
O Riacho do Poço do Magro tem suas nascentes nas serras da Fazenda Salvador,
desaguando no rio Carnaíba de Dentro, a jusante do Município de Guanambi. O rio Carnaíba
de Dentro, por sua vez, é afluente da margem direita do rio São Francisco.
11
Atualmente, o Riacho apresenta-se com paisagem bastante degradada pela ação
antrópica, que se justifica pelas características climáticas da região. A situação do Riacho do
Poço do Magro assemelha-se com a maioria dos mananciais do Brasil, principalmente da
Região Nordeste: Ausência, muitas vezes, total de mata ciliar; Alteração das características
naturais com esgotamento dos recursos naturais e habitantes de suas margens utilizando
recursos naturais de outras regiões.
O presente trabalho se justifica pela importância ecológica, social e econômica do
tema, e pela necessidade de se obter subsídios para estudos de outras localidades semelhantes
ou não, assim como, para a elaboração de futuros projetos de recuperação da mata ciliar do
Riacho do Poço do Magro e de outros mananciais com mesmas características ou não.
Para a realização deste trabalho, elaborou-se plano de trabalho o qual continha as
seguintes etapas:
-Levantamento bibliográfico sobre o tema abordado;
-Levantamento de dados sobre o município de Guanambi, assim como da micro-região onde
se localiza o Riacho do Poço do Magro em arquivos de órgãos como CODEVASF
(Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco) (2ª SR), SEAGRIC (Secretaria
de Agricultura, Indústria e Comércio).
-Elaboração e aplicação de questionário (Anexo 6.1) para levantamento de dados através de
entrevistas da população ribeirinha do local a ser estudado;
-Entrevistas com profissionais liberais ligados ao meio ambiente e ciências agrárias atuantes
na região objeto deste estudo;
-Visita ao local para realização das entrevistas, visualização e registro fotográfico da realidade
atual da área estudada.
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA
Para melhor compreensão do presente trabalho e para um melhor conhecimento da
área estudada, levantou-se dados da realidade da região, e organizou-se estes dados dentro de
um contexto que engloba o seu meio físico, onde se aborda as condições climáticas, a
geologia / geomorfologia, a pedologia e os recursos hídricos. Engloba ainda o meio biótico
local e regional, abordando sobre a cobertura vegetal, a macro-fauna e o meio antrópico.
2.1 MEIO FÍSICO
Guanambi tem uma área relativamente pequena: são 1.292 km² quadrados, localizados
numa das ramificações da Serra Geral, a uma altitude de 525 mts acima do nível do mar, mais
ou menos metade da altitude de Vitória da Conquista. Sua área faz limite com Igaporã, ao
norte; Caetité, a nordeste; Pindaí, a leste; Candiba e Sebastião Laranjeiras, ao sul, e Palmas de
Monte Alto, a oeste (Figura 2.1).
13
Mapa 2.1 - Localização dos municípios de Guanambi (BA), Candiba (BA) e Pindai (BA).
Fonte: BAHIA/SEI, 2001.
A cidade registra as seguintes coordenadas geográficas: 14º13'30" de Latitude Sul e
42º46'53" de Longitude Oeste Greenwich. O relevo do município é pouco acidentado, mais
parecendo uma planície, cercada por desníveis considerados isolados, entre os quais a Serra
do Espinhaço, no limite com Caetité. As terras são cortadas pelos rios Carnaíba de Dentro e
14
Carnaíba de Fora, ambos afluentes do Rio das Rãs, que por sua vez é tributário do Rio São
Francisco. Possui, ainda, os rios Rega Pé, Sacouto, Belém, Poço do Magro e Muquém,
temporários, que correm apenas durante as chuvas, geralmente entre dezembro e fevereiro.
Lagoas e açudes, entre os quais o de Ceraíma, que abastece a cidade, completam o potencial
hidrográfico. O clima é quente e seco, entre 22 e 35 graus centígrados. A precipitação
pluviométrica média é de 715 mm. (VERISSIMO, W. et al., 1995).
2.1.1 Condições climáticas
A área em estudo possui clima quente, seco e salubre. Chove pouco, sendo que as
chuvas acontecem nos meses de novembro a março. Na maioria das vezes, as chuvas são
irregulares, prejudicando a agricultura e a pecuária. A temperatura anual média é 22,6°C, a
máxima 28,6° e a mínima 18,5°C. (BARBOSA, 2002).
Segundo a classificação de Köppen, a área em estudo é do tipo climático AW –
tropical semi-árido, marcado por duas estações bem definidas: uma seca e outra chuvosa
(PEREIRA, 1995).
O município de Guanambi fica localizado na borda leste do Planalto da Conquista, em
uma depressão regional cortada pelo rio São Francisco. Por sua forte continentalidade, quando
a Massa Equatorial Atlântica alcança seu território já não possui mais quase nenhuma
umidade, o mesmo deve ocorrer com a Equatorial Continental que se estende até o referido
planalto (LOUZADA, et al., 2001).
Os dados de temperatura (valores médios) coletados na Estação climatológica de
Ceraima (distrito de Guanambi), mostram que a temperatura permanece elevada durante todo
o ano, média máxima de 27,5°C em dezembro, e média mínima de 23,7°C em julho (Figura
2.1.1).
15
Quadro 2.1.1 Dados meteorológicos de Guanambi/Ba: médias mensais.
Médias mensais. Ano: 2003 Discriminação Jan Fev Mar Abr Mai Jun. Jul. Ago Set Out Nov Dez
Temp. média °C 25,9 27,2 26,9 26,6 25,5 24,9 23,7 24,7 25,8 26,5 26,2 27,5 Umid. Média % 60,3 54,4 57,7 59,1 65,6 66,2 67,6 66,4 67,6 60,4 61,3 61,9 Precipitação – mm 73,0 0,0 65,2 15,0 25,0 0,0 0,0 0,0 10,0 0,0 30,0 57,0 Vento – m/s 0,9 2,3 2,1 2,1 2,2 2,8 3,3 3,8 3,9 4,7 3,6 2,7 ETo Tanque - mm 5,7 6,7 5,7 5,6 5,4 5,6 4,8 5,4 5,9 6,2 6,1 7,0 Fonte: CODEVASF, 2ª. SR – Estação Agrometeorológica de Ceraíma / Guanambi/BA, out/2004.
No decorrer do ano, a temperatura possui um comportamento ascendente de agosto a
março e descendente de abril a julho. Os dados sobre umidade relativa do ar coletados na
Estação Meteorológica de Ceraíma (Guanambi), mostram que os maiores índices ocorrem
entre o verão e o outono (70-80%). A precipitação pluviométrica anual média é de 672,43
mm, para o período de 10 anos (1994-2003). (Figura 2.1.1.1.)
Quadro 2.1.1.1 Dados meteorológicos de Guanambi/Ba: médias anuais.
Média anual. Período: 10 anos DISCRIMINAÇÃO 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Temp. média °C 26,0 26,2 26,5 26,0 26,9 25,2 25,5 25,2 25,6 26,0 Umid. Média % 63,5 62,7 52,1 59,3 59,5 56,9 55,9 57,8 59,4 62,4 Precipitação – mm 611,4 875,6 436,0 809,5 831,1 968,3 743,2 348,1 825,9 275,2 Vento – m/s 2,4 2,4 2,8 2,4 3,5 3,0 2,9 2,9 3,1 2,9 ETo Tanque - mm 4,8 4,7 4,9 4,7 5,2 4,5 4,5 5,0 5,2 5,8 Fonte: CODEVASF, 2ª. SR – Estação Agrometeorológica de Ceraíma / Guanambi/BA, out/2004.
2.1.2 Geologia / geomorfologia
Geologicamente, a região é composta de vários tipos diferentes de rochas. Nas
áreas de planície as rochas prevalecentes têm origem na era Cenozóica (do fim do período
Terciário e início do período Quaternário), as quais se encontram cobertas por uma camada de
solo bastante profunda, com afloramentos rochosos ocasionais, principalmente nas áreas mais
altas Tais solos (latossolos) são solos argilosos (embora a camada superficial possa ser
16
arenosa ou às vezes pedregosa) e minerais, com boa porosidade e rico em nutrientes.
Afloramentos de rocha calcarea de coloração acinzentada ocorrem a oeste, sendo habilitados
por algumas espécies endêmicas e raras, como o Mecolcatus azureus (LOUZADA, et al.,
2001).
A região planáltica é composta de arenito metamorfoseado derivado de rochas
sedimentares areníticas e quartziticas consolidadas na era Proterozóica média, uma
concentração alta de óxido férreo dá a estas rochas uma cor de rosa a avermelhada. Os solos
gerados a partir da decomposição do arenito são extremamente pobres em nutrientes e
altamente ácidos, formando depósitos arenosos ou pedregosos rasos, que se tornam mais
profundos onde a topografia permite; afloramentos rochosos é uma característica comum das
áreas mais altas. Estes afloramentos rochosos e os solos pouco profundos formam as
condições ideais para os cactos, e muitas espécies crescem nas pedras, em fissuras ou
depressões da rocha onde a acumulação de areia, pedregulhos e outros detritos, juntamente
com o húmus gerado pela decomposição de restos vegetais, sustenta o sistema radicular destas
suculentas (LOUZADA, et al., 2001).
As unidades geológicas ocorrentes na área da bacia hidrográfica do Riacho do Poço do
Magro, são os aluviões Quaternários, a cobertura detrito-lateritica Terciária – Quaternária e as
rochas Pré-Cambrianas do Batólito de Guanambi (LOUZADA, et al., 2001).
Os aluviões ocorrem nos cursos dos rios Carnaíba de Dentro, dos Riachos do Poço do
Magro, Riacho dos Brindes e seus afluentes. Constituem depósitos recentes e se destacam por
formarem planícies aluviais de inundação em áreas morfologicamente arrasadas (LOUZADA,
et al., 2001).
Os aluviões são constituídos de sedimentação detritica areno-argilosa,
transportada pelos rios e depositada ao longo de suas planícies de inundação. De um modo
geral, sua composição consta de sedimentos predominantemente quartzosos, com
17
granulometria de areia fina, média e grossa. Segundo um perfil transversal ao leito dos cursos
d’água há uma diminuição gradativa na granulometria dos sedimentos, que passam de terraços
aluvionares com leitos de cascalho para sedimentos silto-argilosos nas áreas mais afastadas.
Além da ocorrência no leito ativo dos cursos d’água, aluviões Quaternários ocorrem em
manchas sobre o Batólito de Guanambi, espalhados por toda a área da bacia hidrográfica
ocupando, contudo, uma área de afloramentos restrita com relação a área de afloramento do
Pré-Cambriano (LOUZADA, et al., 2001).
No canal do Riacho do Poço do Magro, ocorrem sedimentos aluvionares sobre o
substrato de rocha cristalina de composição granítica, que é parte do Batólito de Guanambi.
Os sedimentos do canal do riacho são incoerentes, porosos e permeáveis, enquanto que o
substrato no cristalino apresenta coesão, baixa porosidade e permeabilidade com baixas
velocidades de movimento de fluxo da água subterrânea nas fraturas. Com a formação de uma
lagoa a pressão hidrostática aumenta forçando o deslocamento da água subterrânea
aumentando a velocidade de fluxo nas fraturas e podendo acarretar perda d’água
(LOUZADA, et al., 2001).
O modelado de dissecação diferencial nas serras do Espinhaço é controlado pela
estrutura e marcado por escarpas de falha, cristas, barras, sulcos estruturais e monoclinais
(LOUZADA, et al., 2001).
As serras do Espinhaço e Monte Alto apresentam a cota máxima de 1.130 m e
suas altitudes elevadas e escarpas abruptas contrastam com um modelado de superfícies
peneplanizadas, formadas pela erosão da superfície pré-existentes do batólito de Guanambi.
Neste contexto o terreno forma uma rampa suave em coberturas coluviais com gradiente em
torno de 3% e com as cotas decrescendo de 600,0 m próximo aos contrafortes das serras para
520,0 m próximo ao eixo da barragem. O nível mais alto dos pedimentos é constituído por
detritos arenosos com uma concentração mais densa de lagoas na margem esquerda do Riacho
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Carnaíba de Dentro e seu afluente Riacho do Poço do Magro, que aumenta no sentido de sua
declividade, indicando o predomínio de um escoamento difuso na região da baixa declividade
do terreno e do substrato impermeável do batólito de Guanambi. Relacionada aos riachos
intermitentes ocorrem depressões fechadas pseudokársticas (LOUZADA, et al., 2001).
As áreas com grande potencial erosivo correspondem aos metassedimentos das Serras
do Espinhaço e de Monte Alto, devido a sua menor coesão e resistência a erosão, fornecendo
grande quantidade de sedimentos que são transportados durante as chuvas torrenciais, pelos
cursos d’água que tem suas nascentes nestas serras. Com potencial erosivo menor, devido a
grande coesão dos minerais formadores das rochas cristalinas, são os patamares cristalinos da
Serra do Espinhaço e os maciços cristalinos residuais do Pediplano Sertanejo esculpido no
batólito granítico de Guanambi, que forma os “inselbergs” (LOUZADA, et al., 2001).
Os processos de erosão e assoreamento dos cursos d’água locais ocorrem
durante as chuvas mais intensas, quando parte dos sedimentos erodidos mais finos e
transportados em suspensão ou na forma de colóides ficam depositados nas planícies de
inundação da bacia do Riacho do Poço do Magro e do Rio Carnaíba de Dentro. Quando cessa
a inundação, são importantes agentes na fertilização da terra. Por outro lado às frações mais
grosseiras, que são transportadas por arraste ou salteamento, ficam confinadas no canal
principal constituindo os aluviões dos cursos d’água quando diminui a energia de transporte
(Figura 6.2.2). Estes sedimentos mais grosseiros estão de passagem pelos canais dos cursos
d’água locais com destino ao Rio São Francisco, que é o receptor de todo o material erodido
em sua bacia hidrográfica (LOUZADA, et al., 2001).
20
2.1.3 Pedologia
Segundo Pereira et al. (1995), os solos predominantes na região em que o riacho do
Poço do Magro está inserido são:
_ Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico. Nesta classe estão compreendidos solos com
horizonte B textural e seqüência de horizontes A, Bt e C, argila de atividade baixa e saturação
de bases maior que 50%. São solos não hidromórficos, moderadamente ácido a neutro.
Apresentam percentagem de alumínio trocável baixa a nula e profundidade na classe
profundo. O horizonte A é freqüentemente moderado com textura arenosa, média ou argilosa
e coloração variando em junção da quantidade de matéria orgânica presente, sendo as
matrizes normais do tipo 10 YR, 7,5 YR e 5 YR, com valores e cromas baixos e com
espessura variando de 10 a 40 cm. O horizonte Bt tem coloração mais freqüentemente nas 5
YR, 2,5 YR e 1,0 R, valores e cromas variados, comumente na classe vermelho escuro.
Apresentam textura média, argilosa e muito argilosa e estrutura em blocos subangulares com
cerosidade recobrindo as unidades estruturais.
A utilização destes solos tem sido predominantemente para pastagens de capim
colonião e Jaraguá devido á intensa pecuária de corte na região. Apresentam limitações
devido a má distribuição das precipitações e quando ocorrem em relevo movimentado
tornam-se mais susceptíveis a erosão. As ocorrências em relevos planos e suave ondulados
são muito boas do ponto de vista agropecuário, devido às suas fertilidades naturais elevadas,
acidez e saturação baixas.
_ Latossolos Vermelho-Amarelos Álicos e Distróficos. São solos profundos, não
hidromórficos, apresentando seqüência de horizonte A, B e C com características
morfológicas, físicas e químicas semelhantes às descritas para a classe Latossolo Vermelho-
21
Escuro, diferindo desta, essencialmente, por apresentarem cores mais claras, nos matrizes 5
YR a 10 YR, valores e cromas altos, geralmente igual ou superior a 4 teores de ferros baixo,
comumente não superiores a 8.
Os latossolos álicos são fortemente ácidos, saturação com alumínio superior a 50% e
saturação de bases (V%) inferior a 30% mais freqüentemente entre 5 a 15%, sendo os
menores valores correspondentes aos de mais alta saturação com alumínio trocável.
Os latossolos distróficos apresentam valores de saturação de base (V%) inferior a 50,
com variações entre 4 a 46%, saturação com alumínio trocável comumente inferior a 30%.
São fortemente ácidos de textura média com menos de 15% de argila, ainda na classe franco-
arenosa.
Os Latossolos Vermelho-Amarelos álicos e distróficos são aproveitados para pecuária
extensiva em meio à vegetação natural, sendo algumas áreas utilizadas com cultura de
mandioca, milho e plantio de capim-colonião e “buffel grass”. Ao longo dos chapadões estes
solos vêm sendo aproveitados para reflorestamento de eucaliptos e pinus, bem como para
culturas de arroz e soja.
A principal limitação agrícola é junção da baixa pluviosidade anual associada a
saturação com alumínio, forte acidez e baixa saturação de bases. Para uma utilização agrícola
racional, as mesmas providências recomendadas para os latossolos Vermelho-Escuros são
sugeridas para estes latossolos.
_ Solo Litólico. São solos pouco desenvolvidos, rasos, com seqüência de horizonte A e C ou
somente A sobre a rocha matriz. Apresentam o horizonte A dos tipos fraco, moderado e
chernozênico, com espessura entre 10 e 40 cm, de textura arenosa, média e argilosa, estrutura
fraca ou moderadamente desenvolvida em blocos e/ou granular, podendo apresentar-se em
grãos simples. Normalmente apresentam pedregosidade, cascalhos e concreções, relacionados
22
principalmente com a natureza do material originário e estão freqüentemente associados à
afloramentos rochosos, principalmente em áreas de relevo forte ondulado, montanhoso e
escarpado. Apresentam saturação de bases e alumínio trocáveis variáveis em função da
natureza da rocha matriz.
Suas limitações ao uso agrícola são devido, principalmente, à pouca profundidade,
baixa fertilidade natural. Em algumas áreas estas limitações tornam-se maiores devido ao
relevo acidentado e às presenças de pedregosidade e rochosidade.
2.1.4 Recursos hídricos
O Riacho do Poço do Magro é um afluente do rio Carnaíba de Dentro, que por sua
vez, é tributário da margem direita do rio São Francisco. Suas nascentes encontram-se nas
Serras situadas entre o Povoado do Tanque, município de Pindaí e o Distrito de Pilões,
município de Candiba (Mapa 6.3.1). Um dos fortes afluentes do Riacho do Poço do Magro é o
Riachão (Mapa 6.3.1), o qual possui suas nascentes na Serra do Monte Alto, formando curvas
sinuosas e meandros com acumulação de areias nas bordas côncavas. Trata-se de um riacho
intermitente de escoamento difuso nos cursos d’água alimentadores.
Os rios desta área, por ocasião da prolongada estação seca, sofrem uma grande
diminuição de sua descarga, aflorando então os bancos de areia e de seixos. Na área sertaneja
em especial, os cursos de água costumam ser temporários ou intermitentes.
A população residente das margens do Riacho do Poço do Magro faz uso da água
deste principalmente para dar aos animais, uma vez que, não se tem água com quantidade
suficiente e, por ser muito apropriada para uso humano, uma vez que não é tratada. Devido a
este fato, o poder público contemplou e vem contemplando a maioria dos moradores daquela
região com o fornecimento de água tratada provinda da Barragem de Ceraima, localizada no
23
município de Guanambi. Outras formas de fornecimento d’água são através de poços semi-
artesianos perfurados pelos Governos municipais e estadual e federal.
2.2 MEIO BIÓTICO
A caracterização da fauna e da flora da área objeto deste estudo foi feita
primeiramente através levantamento bibliográfico, com o objetivo de obter o maior número
possível de informações das prováveis espécies da fauna e flora na região de inserção do
projeto.
Logo após, realizaram-se visitas aos imóveis rurais situados às margens do Riacho do
Poço do Magro para o conhecimento da fauna, bem como checar as informações obtidas na
bibliografia especializada.
Para a obtenção dos dados de campo foi utilizada a técnica da entrevistas com
moradores representantes da população local, obtendo com este método informações novas,
como também complementares às já levantadas.
Os dados levantados são para conhecer e compreender melhor o meio biótico da
micro-região do Riacho do Poço do Magro, considerando a sua flora, no contexto da
composição e da dispersão, a macrofauna, citando a mastofauna e a herpetofauna, e o seu meio
antrópico.
24
2.2.1 Cobertura vegetal
Possuindo peculiaridades próprias, as caatingas compõem uma vegetação “sui
generis”, identificável à primeira vista. No entanto, a heterogeneidade da aparência dos tipos e
faciações – e das formas biológicas – é muito expressiva tanto no decorrer das estações
quanto espacialmente. Para efeito de simplificação, as caatingas podem ser classificadas como
Caatinga Arbórea, Caatinga Arbustivo-Arbórea e Caatinga Arbustiva. São compostas por
arvoretas e arbustos decíduos, muito ramificados e freqüentemente armados de espinhos.
Cactáceas e outras plantas suculentas fazem-se presentes ao lado de ervas anuais.
Popularmente, as formas mais altas, sujeitas à secas menos intensas, mais próximas do litoral
são conhecidas como “agreste”. O “sertão”, dominando no interior, constitui a vegetação mais
rala do semi-árido. Além destas, as denominações populares – segundo a fitofisionomia – são
o “carrasco”, o “cariri”e o “seridó”, dentre outras, mas estes nomes se mesclam e se
confundem dependendo dos hábitos da população local. As Florestas Deciduais são altas, com
fustes longos pouco ramificados. Encontram-se distribuídas, a partir do sul, em “arco”,
acompanhando os limites desta área até a sua porção central. As disjunções e área de transição
estão relacionadas aos contatos entre a Caatinga Arbórea e Florestas Deciduais – de difícil
separação – e entre as diversas formas de caatingas e os cerrados. Ressalta-se que, uma vez
condicionada pelo clima, a densidade e a altura da vegetação desta área está diretamente
relacionada às condições de profundidade efetiva e fertilidade natural dos solos
(CERQUEIRA, M. M. et al., 1996.).
Os Ecossistemas da Região das Caatingas e Florestas Deciduais do Nordeste ocupam
uma superfície de 939.391 km². Aproximadamente 60% da área estão recobertas pela
vegetação nativa em maior ou menor estágio de alteração. Esta degradação – que deve superar
os 50% das áreas “naturais”- foi e é provocada pela intensa coleta do recurso lenha, pelo
25
pastoreio excessivo e ocasionalmente pelo fogo. Vale mencionar que, como o estrato
herbáceo desaparece durante a seca – ao contrário do que ocorre nos cerrados – inexiste a
prática do fogo objetivando a melhoria da pastagem natural. O uso e ocupação das terras
antropizadas é essencialmente agrícola de ciclo curto e pecuário. As culturas de ciclo médio e
longo ocorrem localizadamente e possuem pouca expressão territorial. Destacam-se a
produção de frutas e de grãos em áreas irrigadas (CERQUEIRA, M. M. et al., 1996.).
2.2.1.1 Flora regional
A caatinga tem sido muito modificada pela ação do homem, apesar de estudos
mostrarem que a sua flora é muito exuberante, possuindo muitas espécies endêmicas.
A flora da caatinga se destaca por possuir plantas típicas, ambientalmente adaptadas às
condições ambientais, principalmente no que concerne a falta d´água.
Estão presentes na caatinga várias espécies de importância econômica (espécies de
madeiras nobres, plantas forrageiras, melíferas, ornamentais, produtoras de alimento,
medicinais e para uso industrial). Entre as espécies típicas citamos o mandacaru (Cereus
jamacaru) espécie típica da caatinga, as barrigudas (Chorisia e Cavanillesia), o umbuzeiro
(Spondias tuberosa), o juazeiro (Zyzyphus joazeiro) – que mantém suas folhas verdes na
estação seca.
Dentro das áreas de caatinga Florestada temos um estrato herbáceo com baixa
diversidade, caracterizado principalmente pela presença de indivíduos de palma (Opuntia
ficus).
Segundo Veríssimo et al, (1995), O riacho Poço do Magro abrange várias tipologias
vegetais denominadas, conforme Classificação da Vegetação Brasileira como: savana estépica
florestada (Caatinga arbórea densa), savana estépica arborizada (Caatinga arbórea aberta) e
26
áreas antropizadas, predominantemente de pastagem. Esta última é o resultado da ação do
homem sobre a caatinga, nos processos de desmatamento e uso da terra para agricultura ou
pecuária.
Segundo o diagnóstico de vegetação realizado na região para construção da barragem
de Poço do Magro, foram identificadas 75 espécies, pertencentes a 32 famílias botânicas. As
famílias que mais se destacaram em número de espécies foram: Mimosaceae (11 espécies),
Cactaceae (8 espécies), Fabaceae (7 espécie) e Euphorbiaceae (com 6 espécies).
2.2.1.2 Dispersão
Com relação à fauna existente nos rios, as matas ciliares, são grandes fornecedoras de
alimentos, como sementes que alimentarão várias espécies de peixes. Por outro lado, a
redução destes peixes (pesca predatória) ocasionará a diminuição da dispersão de sementes
que prejudicará a mata. Portanto, a preocupação com os animais também deve existir porque a
maior parte das espécies de plantas são polinizadas por insetos, pássaros ou morcegos, sendo
que as sementes, no caso da mata ciliar, na maioria das vezes são dispersas por animais
terrestres, peixes e pela própria água dos rios e riachos.
As classes de dispersão encontradas estão de acordo com as estratégias descritas por
Carvalho, 2002. São caracterizadas as principais estratégias de dispersão de frutos e sementes
utilizadas pelas plantas, com destaque para os principais agentes dispersores como o vento, a
água e, especialmente, os animais.
Em um trabalho sobre aspectos ecológicos das espécies da caatinga a botânica da
UFPE Barbosa (2001), destacou que alguns dos mais curiosos são os recursos adotados pelas
plantas da caatinga para garantir a reprodução onde seus frutos e sementes ‘criam asas’ para
27
se dispersarem. Tratam-se de estruturas que facilitam o vôo na época reprodutiva, que ocorre
uma vez ao ano.
Ainda segundo Barbosa (2001), cerca da metade das frutíferas estudadas dispersam os
frutos e sementes por conta própria, num processo chamado de autocoria. No outro quarto de
espécies, acontece a zoocoria, a dispersão por animais. Ela observou que a autocoria ocorre no
período seco, que predomina na caatinga, e a zoocoria, no chuvoso. O fruto da baraúna é um
dos que têm asa. Já a barriguda possui sementes com um pêlo semelhante ao algodão. Na
aroeira, o fruto fica agarrado a pétalas, permitindo alcançar longas distâncias.
Com relação ao Riacho do Poço do Magro, o que podemos relatar tomando-se por
base referências bibliográficas, visitas a campo e entrevistas com alguns moradores de
imóveis localizados às margens do riacho é a ocorrência da dispersão por anemocoria,
autocoria, zoocoria e ornitocoria.
Anemocoria, ou dispersão pelo vento: Os frutos são secos e deiscentes, com sementes
pequenas e leves, normalmente apresentando estruturas aerodinâmicas que auxiliam o vôo,
sendo por isso conhecidas como sementes aladas. Algumas plantas anemocóricas perdem
todas as folhas no período de dispersão.
Autocoria: é a dispersão por mecanismos da própria planta, que lança suas sementes pelas
redondezas por algum mecanismo particular ou simplesmente libera as sementes diretamente
no solo . Este tipo de dispersão inclui a barocoria ou por gravidade, e barocórica ou explosiva.
Zoocoria, ou dispersão por animais: Grande parte das estratégias de dispersão de sementes,
especialmente nos trópicos, envolve a participação ativa ou passiva dos animais. Após a
alimentação, as sementes não perdem o seu poder de germinação e após serem eliminadas na
28
fezes, voltam a perpetuar a espécie. Como exemplo podemos citar o jatobá (Hymenaea
courbaril ), que é disseminado pela cutia (Dasyprocta aguti)
Ornitocoria: ou dispersão pelas aves está relacionada com a ausência de odor forte e a
presença marcante de coloração nos frutos maduros, uma vez que a visão é o principal sentido
das aves. Frutos vermelhos e roxos são preferidos pelas aves, que entretanto podem vir a
consumir frutos amarelos ou até mesmo verdes. No Riacho do Poço do Magro temos como
exemplo: Schinus terebinthifolius (aroeira-vermelha), a qual é citada por Guimarães (2003),
como sendo umas das plantas da família Anacardiaceae que produzem frutos utilizados pela
avifauna que, de forma comensalística, dispersa seus frutos e sementes.
Mirmecoria: ou dispersão por formigas. Como exemplo Schinus terebinthifolius.
2.2.2 Macro fauna
Louzada (2001), demonstra que a fauna da região é característica das regiões de
caatinga, tendo sido amostrados os grupos de répteis, anfíbios, mamíferos e aves. As
densidades populacionais da fauna tendem a serem muito baixas, chegando a níveis críticos
para muitas espécies. Isto se deve à ausência de grandes áreas vegetadas, às condições
climáticas reinantes e à pressão de caça sobre esta fauna. Das 185 espécies catalogadas no
presente trabalho, duas encontram-se ameaçadas de extinção (tatu Tolypeutes tricintus e gato
do mato Leopardus tigrinus) e seis espécies são endêmicas da caatinga (salamanta epicatres
cenchia xerophilus, lagartixa Gymnodactylus geckoides, periquito Aratinga cactorun, pica-
pau Picumnus pygmaeus, i cardeal Dasyprocta prymnolopha e mocó Kerodon rupreste).
29
Louzada et al. (2001), relatam que, comparando com estudos anteriores quando foi
realizado outro levantamento faunístico nas áreas de influência da Barragem Poço do Magro
teve-se uma ampliação de espécies identificadas, relacionando o total de espécies de cada
classe de vertebrados terrestres inventariados nos dois estudos:
Quadro 2.2.2. Quadro de comparação entre levantamentos de espécies realizados em 1997 e 2001.
Total de Espécies/Ano Classe 1997 2001
Anfíbios 06 04 Répteis 21 25 Aves 128 125 Mamíferos 14 31
Total geral 169 185 Fonte: Louzada et al. (2001).
Comparando-se as listas de fauna terrestre de 2001 e 1997, fica constatado que 56
espécies foram registradas exclusivamente no inventário de 2001, enquanto as identificadas
apenas em 1997 totalizaram 35.
Os ecossistemas aquáticos relacionados ao Riacho do Poço do Magro estão associados
ao regime de intermitência a que este curso d’água está submetido. São ambientes muito
fragilizados em relação à ação humana, sendo muito comum sofrerem ações irreversíveis.
Nesse ambiente, somente os organismos adaptados a condições extremas de sobrevivência são
capazes de aproveitar, ao máximo, os curtos períodos favoráveis por ocasião da ocorrência de
águas temporárias, com crescimento e reprodução rápidos e um período bem determinado de
latência.
Na área do reservatório do Riacho do Poço do Magro, a eutrofização do sistema
aquático tornar-se-á preocupante caso ocorra mudança radical no uso da terra na sua bacia de
drenagem, propiciada pela perenização da fonte da água. A inexistência de aglomerações
humanas, atualmente, nas proximidades do riacho, diminui o risco do lançamento contínuo de
resíduos orgânicos domésticos. Da mesma forma, o desmatamento previamente ao
30
enchimento do reservatório evitará a eutrofização que seria causada pela decomposição da
vegetação ali existente.
2.2.2.1 Mastofauna
A mastofauna é representada pelo grupo dos mamíferos que compreende os animais
com temperatura corporal constante (homeotérmicos), que apresentam pêlos em algum
momento de sua vida e a glândulas sudoríparas, sebáceas e mamárias. Destas, as glândulas
mamárias são as de maior relevância, pois permitem que as fêmeas alimentem seus filhotes
nos primeiros estágios do seu desenvolvimento (TIRIRA, 1999).
No planeta, é um dos grupos com a mais ampla distribuição, praticamente não
existindo habitat onde não possam ocorrer, entretanto, sua maior diversidade apresenta-se nas
zonas tropicais. Os mamíferos têm uma grande heterogeneidade em sua biologia, ecologia,
comportamento e anatomia, com uma grande variedade de tamanho (de 4 cm e 2 g., do
musaranho, até 30 m e 100 ton., da baleia azul) e de formas, com adaptações para correr,
saltar, escavar, nadar, mergulhar, escalar e voar (TIRIRA, 1999).
Barbosa (2004) relata a presença dos seguintes mamíferos que ocorrem na região em
que está inserido o Riacho do Poço do Magro:
Figura 2.2.2.1 Relação de indivíduos da mastofauna na região de Guanambi.
Nome comum Nome cientifico Caititu Tayassu tajacu Cutia Dasyprocta aguti Gambá Didelphis marsupialis Mocó Kerodon rupreste Porco do mato Cerdocyum thours Preá Cavea aperea Raposa do campo Pseudolo pexvetulus Tatu peba Euphractus excinctus Veado catingueiro Mazama gouazoupira Fonte: Licenciamento ambiental, BARBOSA, 2001.
31
2.2.2.2 Herpetofauna
Cercados de mitos, devido ao desconhecimento popular, os anfíbios e répteis são
organismos extremamente interessantes. A grande diversidade de cor, forma, uso de habitat,
estratégias reprodutivas e histórias de vida, encontrada nesses animais, não é observada em
nenhum outro grupo de vertebrados terrestres. Tal diversidade tem encantado pesquisadores e
seduzido entusiastas, em todo o mundo. Uma prova disso é o intenso comércio, muitas vezes
ilegal, de determinadas espécies de répteis e anfíbios (ZERBINI, BRANDÃO, [2004]).
A herpetofauna compreende os animais comumente conhecidos como répteis
(tartarugas, lagartos, cobras-de-duas-cabeças, serpentes e jacarés) e anfíbios (sapos, rãs,
pererecas e cobras-cegas). Embora, geralmente, estudados em conjunto, esses dois grupos
animais não possuem a mesma linhagem evolutiva e apresentam diferenças ecológicas
marcantes. Os anfíbios são animais com grande dependência de ambientes úmidos, pois
apresentam reprodução com fecundação externa, possuem respiração cutânea (pele permeável
a gases e água, sempre úmida) e fase larval (girinos) aquática. Dessa forma, são mais
abundantes em veredas, lagoas, brejos e matas de galeria. Os répteis, por outro lado, possuem
maior independência da água no ambiente, pois apresentam pele impermeável, fecundação
interna, ovos amnióticos com casca e respiração pulmonar (ZERBINI, BRANDÃO, [2004])..
Assim, podem viver em ambientes onde não existem corpos d’água. No entanto, certos
répteis possuem uma forte associação com a água, como os jacarés, diversas tartarugas e
cágados, além de algumas serpentes. Alguns desses animais, menos exigentes na escolha do
habitat, são beneficiados com a formação de barragens, enquanto outros, mais sensíveis,
sofrem com a fragmentação e a modificação dos ambientes naturais e com outras atividades
humanas (ZERBINI, BRANDÃO, [2004])..
32
2.2.3 Relação fauna x flora
Com relação à fauna existente nos rios, as matas ciliares, são grandes fornecedoras de
alimentos, como sementes que alimentarão várias espécies de peixes. Por outro lado, a
redução destes peixes (pesca predatória) ocasionará a diminuição da dispersão de sementes
que prejudicará a mata. Portanto, a preocupação com os animais também deve existir porque a
maior parte das espécies de plantas são polinizadas por insetos, pássaros ou morcegos, sendo
que as sementes, no caso da mata ciliar, na maioria das vezes são dispersas por animais
terrestres, peixes e pela própria água dos rios e riachos (MORAIS, 2004).
2.2.4 Meio antrópico
Os municípios de Guanambi, Pindai e Candiba estão localizados na região econômica
da Serra Geral, tendo seu território completamente abrangido pelo “Polígono das Secas”,
situando-se na bacia do Rio São Francisco. A região Serra Geral da Bahia abrange uma área
de 33.847 km², equivalente a 5,81% do território do Estado, sendo composta por 29
municípios, cuja população, em 2000, somava 572.083 habitantes (LOUZADA et al., 2001).
Segundo dados do Censo IBGE realizado em 2000-2001, o município de Guanambi
possuía uma população de 71.728, habitantes, sendo que 54.003 residentes na zona urbana e
17.725 na zona rural.
3 A IMPORTANCIA DA CAATINGA ALUVIONAR NAS COMUNIDADES E
RECURSOS HIDRICOS DA REGIÃO.
3.1 AVALIAÇÃO DA CAATINGA ALUVIONAR
As matas ciliares são comunidades vegetais típicas de terrenos aluvionares, que sofrem
e refletem os efeitos das cheias dos cursos d'águas, em época chuvosas, ou então das
depressões alagáveis durante o ano. (BAHIA, 1995)
Após visita ao local constatou se que a área do entorno é formada predominantemente
por pastagens e áreas de culturas com presença de manchas isoladas com pequenas dimensões
de caatinga, e mesmo estas já degradadas. As matas ciliares do riacho Poço do Magro são
raras e limitam-se aos resquícios já degradados, de onde ainda se verifica vestígios de
exploração.
As áreas com vegetação limitam-se aos relevos (morrotes) presentes em pequeno
número nos limites do futuro reservatório e seu entorno.
Nas áreas abertas com formação de pastagens e de culturas abandonadas predominam
o algodão de seda.
Adotando-se a classificação descrita por Veríssimo, et al. (1995) são identificadas 3
fisionomias na área do Riacho do Poço do Magro.
-Caatinga alta, caatinga arbórea aberta (média e baixa) e matas de galeria.
A – Caatinga alta
Esta fisionomia ocorre em pequenas parcelas na área, predominando nas encostas dos
morros e seus encraves mais úmidos, apresentando árvores de até 15 metros de altura e o
espaçamento entre as árvores varia em torno de3 a 5 metros. Pedrominam nestas áreas a
aroeira (Astronium urundeuva), a braúna (Schinopsis brasiliensis), o (Tabebuia sp.), a
imburana (Bursera leptophloeos) e exemplares isolados da barriguda (Cavanilesia sp.). O
34
estrato herbáceo é ralo com presença de algumas comunidades de bromélias (Neoglaziovia
variegata).
Destaca-se nesta fisionomia o predomínio, nas áreas mais altas, do pau d’arco,
formando porções de mata quase homogêneas, entremeadas por poucos exemplares de
aroeira.
Suas características originais encontram-se alteradas devido a exploração madeireira e
pelo uso da pecuária.
B – Caatinga arbórea aberta (média e baixa)
Das fisionomias identificadas esta é a que predomina na área, ocupando as áreas
planas ou sob leve relevo, formada por árvores e arvoredos de até 7 m de altura com grande
espaçamento entre elas, em torno de 5 m. O estrato herbáceo praticamente inexiste.
Observam-se algumas aroeiras como indivíduos emergentes, com aproximadamente 19 m de
altura e ocorrendo espaçadamente. Esta fisionomia é decídua, apresentando poucas espécies
perenifólias, que se destaca na paisagem como o juazeiro (Zizyphu joazeiro) e a baraúna
(Schinops brasiliensis).
Da mesma forma que a área em geral, esta formação encontra-se sob forte pressão
antropica apresentando-se bem degradada.
C – Matas de galeria
Estas matas encontram-se presentes em estreitas faixas em pontos disjuntos do riacho
Poço do Magro, apresentando faixas muito degradadas, onde se verifica o corte de árvores.
Algumas árvores podem alcançar 15 m de altura, onde predominam pequenos bandos de sagüi
(Callithrix penincillata). Nestas áreas podem ser observadas a aroeira, ipê, imburana, braúna,
guatambu (Aspidosperma parvifolium) e o angico (Piptadema sp.).
35
As fitofisionomias identificadas bem como as áreas antropicas serão delimitadas e
apresentadas no mapa de vegetação e uso do solo.
3.2 A INTEGRAÇÃO DO HOMEM COM OS RECURSOS NATURAIS
Na região localizada às margens do Riacho do Poço do Magro, os moradores das
propriedades rurais vêm ao longo dos anos procurando manter uma relação harmoniosa com o
meio ambiente principalmente com a vegetação. Porém a necessidade pela utilização da
madeira, quer seja como paus para cercas, nas instalações rurais nas moradias ou até como
lenha e carvão, faz com que a cada ano ocorra a diminuição tanto da mata ciliar como também
do restante da vegetação. Por outro lado observamos também uma utilização racional por
parte destes mesmos moradores rurais. Segundo Drumond et al (2000) “Em termos
forrageiros, a caatinga mostra-se bastante rica e diversificada” e “A produção total de
fitomassa da folhagem das espécies lenhosas e da parte aérea das herbáceas na caatinga
atinge, em média, 4.000 kg/ha, constituindo se em forragem para caprinos, ovinos, bovinos e
muares.”
A caatinga naquela região vem sendo utilizada para criação de animais, onde os
criadores após promoverem o desmate e implantação das pastagens, acabam deixando
algumas árvores para que os animais possam repousar em sua sombra, muitas vezes servindo
até mesmo de alimento, como é o caso da algaroba (Prosoppis juliflora D.C.) citada por
Manera e Nunes (2001), como sendo uma árvore que poderá contribuir muito para o
melhoramento da pecuária nordeste brasileiro, devido às suas características de produção sem
grandes exigências de solo e água (chuva).
Outra forma de utilização da vegetação pela população rural na região de Guanambi,
Pindai e Candiba é quanto a exploração econômica por parte de alguns raizeiros, os quais
comercializam nas feiras livres, mercados e calçadas destas cidades, as folhas, cascas e raízes
36
das plantas que comumente nascem e crescem ao longo das margens do Riacho do Poço do
Magro. Entre as espécies exploradas, observamos em visitas de campo a aroeira
(adstringente), o pau-ferro (antiasmática e anticéptica), angico (adstringente), o juazeiro
(estomacal) e também o pau d’arco.
De forma mais tímida, porém também presente observamos a utilização de algumas
plantas frutíferas, características da caatinga ocorrendo nos trechos onde deveria existir a
mata ciliar do Riacho do Poço do Magro pela população rural. Os frutos segundo os
moradores são utilizados para alimentação e principalmente para comercialização nos
mercados de Guanambi, Candiba, Pindai e outras cidades situadas na mesma região. Como
exemplo podemos citar o umbuzeiro (Spondias tuberosa - Anacardiaceae), o jatobá
(Hymenaea spp -Caesalpinaceae), o juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart. - Rhamnaceae), murici
(Byrsonima spp. - Malpighiaceae) e também o Licuri, (Syagrus coronata – Arecaceae).
A aroeira e umbuzeiro foram proibidas pela legislação florestal de serem usadas como
fonte de energia, a fim de evitar a sua extinção na região.
Os moradores das propriedades situadas às margens do Riacho do Poço do Magro
possuem uma relação de certa forma intima com o riacho, os quais aprenderam ao longo do
tempo em que residem ali, a respeitá-lo de modo a retirar dele e de sua depauperada mata
ciliar o que lhes é necessário, quer seja na forma da madeira para ser utilizada das diversas
formas, do fruto das árvores que devido às suas características de plantas da caatinga só
produzem uma vez no ano, da água utilizada de forma limitada principalmente pelo fato do
mesmo ser intermitente e permanecer seco a maior parte do ano em grande parte de sua
extensão ou até mesmo para se refrescarem nas suas águas no período das chuvas. De maneira
geral, o Riacho do Poço do Magro vem cumprindo o seu papel de levar a água que escorre dos
morros iniciando o seu curso na sua “nascente” até desaguar no rio Carnaíba de Dentro, antes,
porém passando na Barragem construída recentemente ao longo do seu percurso.
37
3.3 OS PRINCIPAIS USOS DO RIACHO DO POÇO DO MAGRO
Por ser um riacho intermitente, o Riacho do Poço do Magro tem a sua utilização
limitada. Através de visitas a campo e entrevista com moradores dos imóveis rurais por onde
o riacho passa, pudemos comprovar que a sua utilização está intimamente ligada
principalmente aos períodos chuvosos, época em que o mesmo corre. Segundo os produtores a
sua principal utilização é para os animais beberem, sendo que de forma secundária as águas
do riacho também são utilizadas para recreação dos moradores locais, bem como de
moradores da zona urbana. Outro uso do riacho é para molhar algumas plantas que as esposas
dos produtores regularmente plantam nos quintais da sede, formando assim pequenos
pomares. Devido a esta característica de intermitência, os produtores não têm utilizado o
riacho para a irrigação propriamente dita. As propriedades desprovidas de algum reservatório
d´água que armazenam a água das chuvas recolhidas com o uso do telhado e também sem
nenhuma forma de provimento d´água, também utilizam a água do riacho para todas as
tarefas domésticas e até mesmo para beberem. Tal uso é verificado principalmente durante o
período em que o riacho está correndo, prorrogando-se pelo tempo em que mesmo não
correndo ainda tem água parada naquele trecho.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Região Nordeste, por natureza, é caracterizada por condições climáticas que
oferecem a seus habitantes, muitas dificuldades de sobrevivência. A exploração desta região
vem ocorrendo a várias décadas de maneira indiscriminada no que diz respeito ao uso do solo,
dos recursos hídricos, vegetais e animais. Sendo assim, torna necessário uma conscientização
por parte da população como um todo, no sentido de preservação destes recursos.
As matas ciliares, as quais já se sabe ter indiscutível importância na “vida” de um
manancial e dos seres que ali convivem, são chamadas de matas aluvionares devido ao
fenômeno de cheias em determinada época do ano, o qual remove parte do solo das margens
destes rios formando aluviões nas calhas dos mesmos, onde poderá vir a ser a base de uma
nova vegetação.
A presença destas matas nestes locais torna-se indispensável por todas as utilidades
que uma mata ciliar possui, mas ainda, por prevenir e evitar que o fenômeno das cheias
desloque o solo local causando o assoreamento do leito destes rios, provocando uma cadeia de
conseqüências que influencia em toda forma de vida da micro-região.
As margens do Riacho do Poço do Magro, infelizmente encontram-se em condições de
emergência, em se tratando da presença de mata ciliar, melhor dizendo, a não presença da
mata ciliar. A exploração inadequada daquela região, por parte de seus proprietários na
produção pecuária e agrícola reduziu a mata ciliar em resquícios, que provocou a completa
transformação da paisagem e da vida local existente.
Encontra-se no Riacho do Poço do Magro, em fase final, a construção de uma
barragem com capacidade para armazenamento de 30.000.000 m3 de água.
Segundo alguns depoimentos de moradores da região, a construção do reservatório,
trará benefícios futuros para a região. A perenização de parte do riacho será de grande valia
39
para alguns produtores, sendo que para outros não haverá influencia por estarem localizados
longe da área alcançada pelo recuo da água da barragem.
Um fato interessante e que merece ser apresentado, é de alguns moradores não se
interessarem na preservação e até mesmo restauração da mata ciliar de sua propriedade pelo
motivo da mesma está enquadrada como área a ser inundada pelas águas da barragem, sendo
assim, segundo os mesmos “é perda de tempo preservar ou restaurar uma mata que logo não
existirá mais”.
Sabe-se que, a construção de barragens de portes adequados e em pontos estratégicos,
é uma das soluções empregadas para a perenização parcial ou completa de leitos de rios
intermitentes. Contudo, é necessário um programa de educação e conscientização ambiental,
como a realização da caminhada (Figura 6.2.13 e Figura 6.2.14) associado a uma eficaz
fiscalização voltada para a recuperação e preservação da mata ciliar, não só no entorno do
reservatório, mas também em todo o curso do riacho. Assim como, a promoção de educação
ou reeducação da população local, da correta utilização dos recursos naturais, oferecendo
alternativas práticas e adequadas para a sua sobrevivência.
Diante da atual situação, fica evidente a necessidade da realização de estudos que
forneçam subsídios para melhor se conhecer a composição, a dinâmica e estrutura da mata
ciliar existente, estudos estes que objetivem traçar ações visando a recuperação das áreas
degradadas de forma técnica e racional, utilizando-se principalmente plantas adaptadas à
micro-região.
As ações devem visar a recuperação das áreas já degradadas, porém também é
conveniente buscar a preservação do pouco de mata existente, procurando colocá-la no
contexto da recuperação.
A implementação das ações deve-se dar em vários níveis organizacionais, quer seja no
poder público ou sociedade civil.
40
- Valoração dos recursos ambientais.
- Incentivo financeiro aos produtores rurais, procurando incentivá-los para que os mesmos
possam realizar a recuperação das matas através do extrativismo racional e sustentável. Como
exemplo, pode-se citar um programa de crédito do Banco do Nordeste, o PRONAF
FLORESTAL.
Ações globais:
- Inclusão de disciplinas como “Meio ambiente, conservação e recuperação” na grade escolar
principalmente das escolas localizadas na zona rural;
- Promoção de cursos, dias de campo, palestras e outras formas de disseminar o conhecimento
sobre o meio ambiente para os produtores rurais;
- Colocar as Leis ambientais em prática;
- Promover e divulgar ações e atividades ecologicamente corretas;
- Alertar a nova geração para necessidade da conservação do meio ambiente;
- Implantação de disque denúncia ambiental a nível federal, estadual e municipal;
Ações locais:
-Levantamento florístico e fitossociológico das áreas a serem preservadas e/ou recuperadas,�
tais levantamentos são importantes porque permitem conhecer as espécies vegetais que
compõem a mata ciliar daquele ambiente;
- Coleta de sementes das espécies atualmente presente na mata ciliar existente;
- Instalação de viveiros para produção de mudas;
- Distribuição das mudas e orientações técnicas para realização do plantio e manutenção das
mesmas.
5 REFERÊNCIAS
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42
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43
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6 ANEXOS
6.1. MODELO DE QUESTIONÁRIO
Data: Localidade:
Coordenadas:
Produtor (a):
Conjugue:
Propriedade: Área:
Município: Tempo de aquisição/moradia:
Quantidade de moradores na propriedade:
Uso do solo:
Largura do imóvel na margem do Riacho do Poço do Magro:
Largura/faixa média da mata ciliar:
No seu entendimento o que é mata ciliar?
Qual a importância da mata ciliar?
O porque da sua preservação?
No seu entendimento porque existem tão poucas áreas de mata ciliar?
Qual a utilização da água do riacho?
Quais as outras fontes de abastecimento hídrico? Comentar:
Qual a utilização da madeira e qual a origem?
Já participou de alguma reunião falando a respeito de meio ambiente, da necessidade e
preocupação na conservação e se necessária, a restauração da mata ciliar?
Qual época do ano que o riacho “corre”?
Qual a época do ano que o riacho fica mais “seco”?
O riacho seca totalmente naquele trecho?
Quais as atividades no período em que o riacho corre menos ou mesmo quando seca?
Tem pretensão em restaurar/replantar a mata ciliar?
Precisa de que tipo de apoio para realização da restauração?
A construção da barragem tem beneficiado na perenização do riacho naquele trecho?
Outros comentários:
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6.2 REGISTRO FOTOGRÁFICO
Figura 6.2.1 Nascente do Riacho do Poço do Magro, com captação das águas
que descem dos morros, agosto/2004.
Figura 6.2.2 Assoreamento do riacho, com crescimento de vegetação,
agosto/2004.
46
Figura 6.2.3 Desmate para implantação de pastagem e aproveitamento da
lenha, julho/2004.
Figura 6.2.4 Presença de algarobas nas margens do Riacho, sombra para os
animais, julho, 2004.
47
Figura 6.2.5 Utilização do Riacho para pesca (indivíduo pescando),
agosto/2004.
Figura 6.2.6 Presença de umbuzeiro nas margens do leito do Riacho,
agosto/2004.
48
Figura 6.2.7 Leito do rio com presença de capineira e ao fundo a presença
de área desmatada no morro, setembro/2004.
Figura 6.2.8 Presença de cacimbão no leito do rio, setembro/2004.
49
Figura 6.2.9 Utilização de cata-vento para sucção d’água na cisterna
perfurada na margem do Riacho do Poço do Magro, setembro/2004.
Figura 6.2.10 Utilização do riacho com fonte de recreação (banho),
agosto/2004.
50
Figura 6.2.11 Barragem do Poço Magro, julho/2004.
Figura 6.2.12 Margens da Barragem do Poço do magro, julho/2004.
51
Figura 6.2.13 III Campanha do Meio Ambiente, Guanambi, outubro/2004.
Campanha de preservação do meio ambiente com participação de toda
sociedade.
Figura 6.2.14 III Campanha do Meio Ambiente, Guanambi, outubro/2004.
Campanha de Preservação do Meio Ambiente. Participação da APAE.
52
Figura 6.2.15 III Campanha do Meio Ambiente, Guanambi, outubro/2004.
Campanha de Preservação do Meio Ambiente. Participação de Escolas
Infantis.
53
6.3 MAPAS
6.3.1 Mapa da região de Guanambi, mostrando o Riacho do Poço do Magro e sua nascente,
bem como pontos onde foram feitas entrevistas, locações e registro fotográfico.
Fonte: IBGE, Departamento de Cartografia, Folha SD.23-Z-B-II, 1998.
(modificado)
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