UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA
ESCOLA POLITÉCNICA
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIAS LIMPAS
ESPECIALIZAÇÃO EM TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO
PROCESSO PRODUTIVO
ELMO BOMFIM CALASANS
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL
COM APLICAÇÃO DA MANUTENÇÃO
AUTÔNOMA: Estudo de caso sobre ganhos ambientais
Salvador
2005
2
ELMO BOMFIM CALASANS
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL
COM APLICAÇÃO DA MANUTENÇÃO
AUTÔNOMA: ESTUDO DE CASO SOBRE GANHOS
AMBIENTAIS
Monografia apresentada ao Curso de
Especialização em Tecnologias limpas da
Universidade Federal da Bahia, como
requisito parcial para a obtenção de grau de
Especialista em Tecnologias Ambientais no
Processo Produtivo.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Kálid
Salvador
2005
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, por minha vida e por tudo de bom que a mim
me tem proporcionado.
Aos meus pais e irmãos, pelo tanto que generosamente
contribuíram para que eu pudesse concluir com êxito
mais esta fase de estudos.
Ao meu orientador, Professor Doutor Ricardo Kálid,
pelos ensinamentos, firme orientação, lealdade, presença
amiga e paciência.
Aos meus colegas e amigos, pelas horas de estudo e
partilhas, imprescindíveis ao meu crescimento pessoal e
profissional.
À minha namorada, Aline Dias, que tão pacientemente
soube compreender minhas ausências nesse período.
4
RESUMO
Com o desenvolvimento deste trabalho, procurou-se conhecer a evolução do
sistema de gestão ambiental, programas aliados, os pré-requisitos à implantação eficiente
da manutenção autônoma com foco em meio ambiente, o escopo de treinamento para a
formação do operador mantenedor com foco em ganhos ambientais e redução de
emissões, os ganhos ambiental e de produção decorridos da aplicação da manutenção
autônoma, e um estudo de caso em que é abordada a implantação da manutenção
autônoma aliada a procedimentos operacionais, com o objetivo de verificar os ganhos
ambientais vinculados à implantação da manutenção autônoma. O trabalho teve como
base a experiência do autor da presente Monografia sobre implantação da manutenção
autônoma, bem como o aperfeiçoamento e adequação às necessidades de treinamento dos
operadores mantenedores. Foram feitos estudos in loco e pesquisa bibliográfica quanto
aos ganhos históricos e de impacto ambiental pela equipe de manutenção. Os Ganhos
reais relativos à melhoria do desempenho ambiental puderam ser mensurados através de
dados históricos de geração de resíduos (inventário anual de resíduo da empresa foco do
estudo de caso). Os resultados, evidenciados com o implemento da manutenção
autônoma, apresentaram aumento da disponibilidade operacional da fábrica, redução dos
custos com a manutenção, com a geração de resíduos e tratamento, além da redução
direta dos impactos ambientais, seja na geração ou na gestão, ou ainda pela não geração
de resíduos. Registrou-se um acréscimo de 7,1% de disponibilidade da planta e uma
redução de 12% da geração anual de resíduos do tipo classe 1. O estudo também indica
que o sistema de capacitação da mão-de-obra e valorização dos funcionários inserem-se
fundamentalmente nos sistemas de desenvolvimento, pois leva a mudanças de
5
pensamento e comportamentos pela ampliação de consciência com respeito à importância
das mudanças propostas e da responsabilidade individual e de grupo quanto a ganhos e
conseqüências das operações.
PALAVRAS-CHAVE: Manutenção Autônoma. Impactos Ambientais. Melhoria de
Desempenho Ambiental. Desenvolvimento Sustentável. Capacitação e Treinamento.
6
LISTA DE FIGURAS
1 - Evolução de um Sistema de Gestão 24
2 - Importância crescente da manutenção 40
3 - Fases da Implementação da Manutenção Autônoma 47
7
LISTA DE GRÁFICOS
1 –Resíduo Perigoso Gerado 2003/2004 59
2 – Resíduo Perigoso Gerado 2004/2005 61
8
LISTA DE QUADROS
1 – Módulos Integrados do Modelo Winter 28
2 – Evolução da Manutenção 38
3 Treinamento para Manutenção Autônoma 51 - 52
4 – Resíduo Classe 1 2003/2004 58
5 – Resíduo Classe 1 2004/2005 60
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LISTA DE ABREVIATURAS
E SIGLAS
ABIQUIM Associação Brasileira de Indústrias Químicas
ACV Avaliação de Ciclo de Vida
AIA Avaliação de Impactos Ambientais
API American Petróleo Institute
BSI British Standards Institution
CE Comunidade Européia
CMA Chemical Manufactures Association
CMMAD Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CNUCED Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento
CONSEMA Conselho Estadual do Meio Ambiente
CRA Centro de Recursos Ambientais
CT Comitê Técnico
DDS Diálogo Diário de Segurança
EIA Estudos de Impactos Ambientais
EMAS Eco-Management and Audit Scheme
10
EUA Estados Unidos da América
GAP Distancia da meta
HH Homem Hora
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
ISO International Organization for Standardization
NBR Normas Brasileiras Regulamentadoras
OHSAS Occupational Health and Safety Assessments Series
ONU Organização das Nações Unidas
PAR Programa de Atuação Responsável
PNUMA Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas
RAP Relatórios Ambientais Preliminares
RIMA Relatórios de Impactos ao Meio Ambient
SAGE Strategic Advisory Group on Environment
SGA Sistemas de Gestão Ambiental
SGI Sistema de Gestão Integrada
STEP Strategies for Today’s Environmental Partnership
UFBA Universidade Federal da Bahia
UICN Conservação da Natureza
WWF World Wide Fund For Nature (Fundo Mundial para Vida
Selvagem).
11
SUMÁRIO
I N T R O D U Ç Ã O
1 3
1 O B J E T I V O S 1 5
1 . 1 G E R A I S
1 . 2 E S P E C Í F I C O S
2 O MEIO AMBIENTE E SUA RELAÇÃO COM A PRODUÇÃO
INDUSTRIAL
1 6
3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 1 8
3.1 AS CONTRIBUIÇÕES DAS AUDITORIAS AMBIENTAIS 2 0
3.2 AS CONTRIBUIÇÕES DAS AVALIAÇÕESE ESTUDOS DE
IMPACTOS AMBIENTAIS
2 6
3.3 OS PRIMEIROS PRINCÍPIOS E SISTEMAS DE GESTÃO
AMBIENTAL
2 8
3.3.1 Programa de Atuação Responsável 2 9
12
3.3.2 A Norma Britânica BS 7750 3 3
3.3.3 Sistema Europeu de Eco-gestão e auditoria 3 4
3.3.4 Strategies for Today’s Environmental Partnership (STEP)
3 5
4 RETROSPECTIVA E EVOLUÇÃO DA MANUTENÇÃO
38
5 METODOLOGIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DA
MANUTENÇÃO AUTÔNOMA
46
5.1 CAPACITAÇÃO DO GESTOR E DO COMITÊ DE
IMPLEMENTAÇÃO
46
5.2 FASES DA IMPLEMENTAÇÃO DA MANUTENÇÃO
AUTÔNOMA
47
6 MÉTODOS
54
7 APLICAÇÃO DA MANUTENÇÃO AUTÔNOMA
54
CONCLUSÃO
62
REFERÊNCIAS 64
13
INTRODUÇÃO
A década de 80 foi marcada pelo surgimento de metodologias que visavam à
identificação dos principais impactos ambientais causados ao meio ambiente pelas
organizações. Tal processo foi impulsionado por grandes tragédias ambientais, como
acidentes e derramamentos. O acidente ocorrido com a Usina de Chernobyl marcou a
época, sinalizando para a gravidade da situação face aos efeitos ecológicos em amplas
proporções.
Inicialmente surgiram as Auditorias Ambientais e os Instrumentos de Avaliação
de Impactos Ambientais, que tinham a função de identificar aspectos e impactos
ambientais, complementados com estudos e definição de medidas que pudessem
minimizá-los.
Entre o final da década de 80 e inícios dos anos 90, surgiram os chamados
Sistemas de Gestão Ambiental (SGA). Os SGA buscavam prover as organizações com
instrumentos adequados para o gerenciamento dos seus aspectos e impactos ambientais
mais significativos. Partiam, inicialmente, da identificação e priorização destes aspectos e
impactos, desenhando em seguida um sistema voltado à melhoria contínua dos processos,
com base no controle desses impactos.
Entretanto, embora seja inegável a importância e contribuição dos SGA, as
organizações atualmente encontram-se inseridas num mercado cada dia mais competitivo
e globalizado e, por isso, não devem se limitar apenas à identificação e à minimização
dos impactos ambientais que suas atividades causam ao meio ambiente. Para
sobreviverem neste novo cenário, tais organizações necessitam investir em performance
ou desempenho respaldado no princípio da auto-sustentabilidade, sob cujas orientações
14
os novos mercados tendem a se encontrar conciliando aspectos sócio-ambientais a
estratégias, objetivos e metas organizacionais.
Como o principal objetivo das metodologias de avaliação de desempenho é
estabelecer o grau de evolução ou estagnação de seus processos, nada mais natural,
portanto, que tais princípios, metodologias ou sistemas de avaliação de desempenho
sirvam de instrumentos na adoção das novas posturas, desde que devidamente inseridos
nos sistemas de gestão ambiental. Assim é que os indicadores de desempenho devem
estar alinhados às estratégias e objetivos da organização, de forma a rever e redirecionar
não só decisões, mas também procedimentos.
Historicamente, os sistemas de avaliação de desempenho das empresas tendiam a
optar por um enfoque mais financeiro. Na última década do século XX, todavia,
começaram a surgir algumas metodologias ou sistemas de avaliação de desempenho
também envolvendo questões outras, além do privilégio financeiro, tais como
desempenho dos processos, qualidade dos processos e produtos, satisfação dos clientes,
motivação dos funcionários e questões ambientais.
A relação entre produção e preservação ambiental sempre se apresentou de difícil
conciliação e, sob alguns aspectos, até mesmo antagônica. A humanidade, a título de
justificar-se frente às necessidades de auto-sobrevivência, vem provocando a destruição –
paulatina e irracional - dos recursos naturais disponíveis no planeta, atingindo todas as
formas de vida. Assim agindo, esquece-se de que provoca, ela própria, a aridez do solo e
o desequilíbrio da natureza, de forma irreversível. As indústrias que não investem em
tecnologia limpa, por exemplo, ignoram que a ineficiência dos processos, eleva o
consumo e os custos sob os mais diversos ângulos, e faz com que matérias primas e ou
subprodutos permaneçam estocados, ou ainda sejam descartados na natureza, quando
poderiam ser reaproveitados por si ou por outra empresa. Inadvertidamente, por falta de
conhecimento ou comprometimento, considera o descarte de resíduo como parte normal
do processo de produção, perdendo não só a oportunidade de maiores lucros em seus
negócios, mas, principalmente, gerando danos ao meio ambiente.
No caso específico da manutenção autônoma com foco em ganhos ambientais e de
produção e redução de emissões, a idéia básica implica utilizar com mais eficácia os
15
recursos naturais existentes, demandando a redução na utilização de recursos naturais e
no fluxo de materiais, além da redução ou eliminação de desperdício em forma de
resíduos. Na base dos processos geradores de mudanças, apresentam-se os treinamentos e
o trabalho de conscientização dos envolvidos.
1 OBJETIVOS
1.1 GERAL
O presente trabalho tem como objetivo geral analisar o processo de implantação e
utilização do sistema de manutenção autônoma como ferramenta gerencial em uma
empresa química.
1.2 ESPECÍFICOS
Abordar os principais aspectos que levam à implantação da manutenção autônoma
e a ganhos ambientais.
Acompanhar as mudanças ocorridas através dos registros de controle de impactos
ambientais dos processos produtivos e de manutenção, bem como dos ganhos
ambientais vinculados à implantação da manutenção autônoma.
Analisar os pré-requisitos que direcionam a manutenção autônoma no sentido de
reduzir as perdas para o meio ambiente.
Propor uma metodologia de implantação da manutenção autônoma com foco em
ganhos ambientais.
16
2 O MEIO AMBIENTE E SUA RELAÇÃO COM A PRODUÇÃO INDUSTRIAL
Apesar de a agricultura ter contribuído ao longo de séculos com significativa
parcela para a ocorrência de impactos ambientais ao planeta em decorrência,
principalmente, dos desmatamentos e do uso indiscriminado de agrotóxicos, foi na Era
Industrial, entretanto, que a exploração inadequada de recursos naturais e a poluição
resultante do avanço tecnológico impuseram um ritmo mais acelerado à degradação
ambiental.
No período, as organizações objetivavam, como principal meta, produzir seguindo
as exigências do progresso, bem como para atender às emergentes sociedades de
consumo nas mais diferentes regiões do planeta. Em sentido inverso aos princípios do
trabalho produzido manual e artesanalmente na era pré-industrial, a indústria moderna,
seguida da contemporânea, consolidou a produção em escala. A possibilidade de
utilização da energia para a produção fez com que os homens e a sua recente invenção, a
máquina, trabalhassem vinculados, seduzidos aqueles por ganhos financeiros amplos e
imediatos e imputando ao seu semelhante o poder de um novo mando senhorial para se
produzir em escala crescente. Apoiada no discurso da sobrevivência e do
desenvolvimento sócio-econômico inevitável, a humanidade, desde então, vem se
utilizando de ações comprometedoras para o meio ambiente, sem se dar conta que, mais
cedo ou mais tarde, os resultados afetariam a qualidade de vida do Planeta. Decorridos
alguns anos de intensas discussões, concluiu-se que o grande desafio não é lutar contra o
desenvolvimento, mas torná-lo sustentável, ou seja, evoluir sem agressões ou destruições
ao meio ambiente. (CMMAD, 1988).
No século XX, fortaleceram-se novas e mais acertadas posturas resultantes dos
investimentos originários de várias frentes, ao mesmo tempo em que acidentes ecológicos
e importantes conferências alternavam-se, tendo como centro discussões sobre o tema.
Em 1957 ocorre o primeiro acidente com um reator nuclear, em Tcheliabinski (antiga
União Soviética), justamente num momento em que o crescimento econômico contribuía
sobremaneira para o consumo e que a descoberta de possíveis usos da energia nuclear
17
tornava remota quaisquer preocupações com a escassez de recursos, principalmente a
escassez energética. Ainda nos anos 50, assinala-se, em Minamata, Japão, um outro
desastre tendo no topo do desafio o derramamento de mercúrio, e cujo saldo apresentou–
se lastimável diante dos 700 mortos e 9.000 doentes crônicos (PONTING, 1991).
A Reunião do Clube de Roma, em 1968, que culminou com a publicação do
documento Limites do Crescimento (The Limits to Growth), ocorreu quando o mundo
experimentava um possível emergir da Guerra Fria e também presenciava o terror dos
holocaustos, a guerra do Vietnan e as conquistas tecnológicas empregadas na fabricação
de armamentos. O documento previa uma incontrolável mortandade da população por
volta dos anos 2050, provocada pelo esgotamento dos recursos naturais, conseqüência do
aumento desmedido e irresponsável da produção industrial e de alimentos para atender ao
crescimento exponencial da população. O tom alarmista de "Limites ao Crescimento"
desencadeou várias avaliações contrárias, mas o impacto foi inequívoco: a questão, a
partir desse momento, faria parte da teoria econômica, tanto em nível dos insumos, como
dos efluentes rejeitos (TAYRA, 2002).
Um pouco mais adiante, em junho de 1972, ocorre em Estocolmo, Suécia, a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, onde foram levantadas questões
envolvendo desde os direitos fundamentais do homem a condições de vida adequadas e
dignas. Foi enfatizada a obrigatoriedade do ser humano de proteger e melhorar o meio
ambiente para as gerações presentes e futuras. Houve ainda a inserção do conceito de
Meio Ambiente. A conferência contou com representantes de 113 países, 250
organizações não-governamentais e vários organismos da ONU.
A Conferência foi reconhecida como a mais importante sobre o assunto, a ponto
de estabelecer a distinção para o estudo do meio ambiente em “antes” e “depois” de
Estocolmo. Para além dos aspectos técnico-científicos, pela primeira vez foram discutidas
questões sociais, políticas e econômicas ligadas ao tema, o que sinalizou para um grande
avanço sócio-econômico, político e ambiental no campo da produção.
Desta Conferência adveio a criação do Programa de Meio Ambiente das Nações
Unidas (PNUMA), a partir do qual, para maior tranqüilidade dos países em
18
desenvolvimento, os conceitos de crescimento zero postulados pelos países ricos
começaram a ser substituídos por “metas de desenvolvimento sustentável”.
Em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, sucede a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUCED), a RIO-92, como ficou conhecida.
Dentre os compromissos acordados, constam a convenção sobre a mudança do clima e
biodiversidade, e uma declaração sobre florestas. A conferência aprovou, entre outros,
documentos de objetivos mais abrangentes e de natureza mais política: a Declaração do
Rio e a Agenda 21. Ambos endossam o conceito fundamental de desenvolvimento
sustentável, produto das aspirações compartilhadas por quase todos os países, e
relacionado à idéia de progresso econômico e usos de materiais. No contexto das
propostas, incluiu-se a necessidade de uma consciência ecológica.
Em dezembro de 1997 foi realizado em Kioto, Japão, um evento que contou com
um contingente de cerca de 10.000 representantes de países, observadores e jornalistas. A
Conferência culminou com a decisão, por consenso, de se adotar um protocolo, definido
como Protocolo de Kioto, segundo o qual os países industrializados reduziriam suas
emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis
de 1990, até o período compreendido entre 2008 e 2012. Com vinculação legal, envolve
compromisso de uma reversão da tendência histórica de crescimento das emissões
iniciadas nesses mesmos países, há cerca de 150 anos. Data de 16 de março de 1998 a
abertura do Protocolo de Kioto, para as assinaturas devidas.
3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Segundo Starke (1991), o termo desenvolvimento sustentável surge pela primeira
vez em 1980, no documento “Estratégia de Conservação Mundial: conservação dos
recursos vivos para o desenvolvimento sustentável”. Esse documento foi assinado pela
União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), pelo Fundo Mundial para
Vida Selvagem (WWF) e pelo PNUMA. Segundo o documento:
19
“[...] para ser sustentável, o desenvolvimento precisa levar em
conta fatores sociais e ecológicos, assim como econômicos; as
bases dos recursos vivos e não-vivos; as vantagens de ações
alternativas, a longo e a curtos prazos.” (STARKE, 1991, p. 67)
Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CMMAD) elaborou um novo significado para o termo. Para a Comissão,
desenvolvimento sustentável passa a ser “[...] aquele que atende às necessidades do
presente, sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem às suas
próprias necessidades.” (CMMAD, 1988).
Em junho de 1992, no Rio de Janeiro, na CNUCED, reconheceu-se a importância
de se assumir a idéia de sustentabilidade em qualquer programa ou atividade de
desenvolvimento. LELÉ (1995) afirma que o conceito de desenvolvimento sustentável
ocupa uma posição central dentro do ambientalismo, particularmente após a publicação
do relatório Nosso Futuro Comum.
“[...] nos últimos anos, o antigo debate dos anos 70, que de certa forma
separava as questões ambientais do desenvolvimento, é substituído por
outro mais convergente e otimista, preocupado centralmente na questão
de como fazer para alcançar um desenvolvimento sustentável.” (VIOLA
apud LELÉ, 1995, p. 73).
Baroni (1992) acrescenta que há um consenso por parte dos autores que abordam
o termo, ao sugerir que desenvolvimento sustentável implica em buscar o fim da pobreza,
acrescido da preocupação em reduzir a poluição ambiental e o desperdício no uso dos
recursos.
Pode-se perceber, portanto, que o termo desenvolvimento sustentável, por si só,
não traz respostas ou soluções ao conflito existente entre a necessidade de crescimento e
a preservação dos recursos naturais que ainda restam. Considerando que as organizações
20
produzem bens vastamente consumidos pelas sociedades contemporâneas, e que algumas
destas sociedades assumem estes bens como de suma importância para a sua
sobrevivência, torna-se inegável o relevante papel que estas organizações de produção de
bens precisam adotar na busca pela prática de um desenvolvimento sustentável.
O fato é que a produção dos bens consumidos pelas sociedades gera poluição de
toda ordem, nos mais diferentes níveis, danos que acabam atingindo direta ou
indiretamente a própria humanidade. Por outro lado, a mesma sociedade parece não
querer abrir mão do conforto e comodidade proporcionados por muitos destes bens.
A busca de soluções para este conflito deverá passar por mudança de valores da
sociedade, tanto da parte dos responsáveis pela produção, quanto por aqueles que se
encontram no papel de consumidores dos produtos. Além disso, os sistemas
organizacionais deverão ser reorientados com vistas à minimização de danos e impactos
ambientais negativos, normalmente causados pela produção de bens de consumo. Para
tanto, faz-se necessário conhecer tais danos e impactos ambientais, identificando suas
origens, meios de expansão, conexões e magnitude, e as conseqüências diretas e indiretas
dos mesmos por metas adequadas a cada situação.
Dentro deste enfoque, os itens subseqüentes pretendem apresentar duas ferramentas
que têm por objetivo a identificação de danos ou impactos ambientais associados às
atividades das organizações e que tiveram grande parcela de contribuição no surgimento
das ferramentas e modelos dos sistemas de gestão ambiental: as auditorias ambientais e
as avaliações de impactos ambientais.
3.1 AS CONTRIBUIÇÕES DAS AUDITORIAS AMBIENTAIS
As primeiras auditorias ambientais nasceram em meados da década de 70, nos
EUA. Seu surgimento baseou-se na necessidade de criação de um instrumento de
controle que auxiliasse empresas a verificar se as mesmas cumpriam ou não as
regulamentações ambientais legais, tal como acontecia com as auditorias contábeis, muito
difundidas na época.
21
Com o decorrer dos anos, as auditorias foram se tornando não apenas um
instrumento importante para demonstrar a conformidade com relação às leis ambientais,
mas também passaram a ser definidas como processos sistemáticos para se obter, avaliar
e registrar fatos, buscando conformidade com determinados padrões estabelecidos, os
quais poderiam ser até mais restritivos do que a legislação aplicável. (KUHRE, 1996, p.
42)
Atualmente, existem diversos tipos de auditorias ambientais, que variam de
acordo com os objetivos estabelecidos para a sua realização. De um modo geral, as
auditorias ambientais podem ser classificadas como auditorias de primeira, de segunda ou
de terceira parte. As de primeira parte, algumas vezes conhecidas como auditorias
internas, são realizadas por membros da própria organização. Já as de segunda, também
conhecidas por auditorias de fornecedores, são aquelas realizadas por algum membro
externo à organização, mas com alguma relação com ela, como por exemplo, um cliente,
um fornecedor ou um parceiro. As auditorias de terceira parte, ou externas, assim se
definem porque são realizadas por um membro externo à organização e sem nenhuma
relação com esta, como por exemplo, uma certificadora.
As auditorias foram e são bastante utilizadas como ferramentas para verificação
de conformidades no processo de gestão de produção, processo de manutenção e
ambiental. O seu relatório final constitui-se como um bom indicativo de pontos de
melhoria e ganho. O processo como um todo, inclusive a manutenção, pode e deve ser
alvo de auditorias e inspeções periódicas para que se possa gerar um meio mensurável
dos resultados, bem como um histórico dos levantamentos e ações a serem evidenciadas.
De acordo com ASTM (1994), alguns dos tipos mais importantes e conhecidos de
auditorias ambientais assim se classificam:
Auditoria Fase I - auditorias ambientais com o propósito de identificar, na
propriedade auditada e em seu entorno, condições que possam vir a ser não
conformidades ambientais, tais como contaminações de qualquer espécie. São
consideradas muito importantes na área de manutenção, pois procuram marcas de
22
vazamento, manchas de óleo e qualquer outro indício de derrames ou
contaminação por destinação incorreta de resíduos.
Auditoria Fase II - auditorias ambientais com a finalidade de investigar, na
propriedade auditada ou em seu entorno, as condições normalmente identificadas
na Fase I, visando caracterizar melhor a magnitude da não conformidade
identificada.
Auditoria de Conformidade Legal - realiza avaliação verificando a conformidade
em relação às exigências legislativas ambientais aplicáveis.
Auditoria Due Diligence, de Aquisição e Alienação - normalmente realizada por
comprador, intermediário ou cessionário em uma transação comercial, tal como
fusões, aquisições ou compras de ações. O principal objetivo deste tipo de
auditoria é o de evitar que sejam assumidos riscos ou passivos ambientais em
transações de compra e venda.
Auditoria de SGA - essas auditorias são realizadas com o intuito de verificar a
eficiência e eficácia do sistema de gestão ambiental de uma organização, isto é,
verificar a conformidade do sistema com os critérios estabelecidos.
Auditorias de Desempenho Ambiental - procuram verificar especificamente o
desempenho ambiental da organização, considerando todos os setores envolvidos
e a integração entre eles.
Auditorias Corporativas - realizadas por membros ou empresas de uma mesma
corporação, visando checar conformidade contra os padrões legais e de
desempenho estabelecidos normalmente pela própria corporação.
Auditorias de Fornecedores - realizadas em clientes ou fornecedores relacionados
às atividades da organização. Dependendo do escopo desejado, podem ser de
conformidade legal ou de desempenho. Normalmente esta auditoria de segunda
parte é conduzida visando assegurar que as atividades desses clientes ou
fornecedores não comprometam de alguma forma a reputação da organização.
23
As auditorias foram algumas das ferramentas utilizadas antes da implementação da
manutenção autônoma, já que têm grande valia na detecção e conhecimento dos pontos
prioritários de implementação do programa. A experiência nos mostra que as auditorias
devem ser constantemente realizadas para acompanhamento e monitoração de todo o
processo de implementação. Dentre os fatores que impulsionaram as auditorias
ambientais, pode ser mencionado o reconhecimento por parte das empresas dos
benefícios de se avaliar de forma sistemática sua conformidade contra os padrões
estabelecidos, bem como a possibilidade de estimar os riscos e responsabilidades
potenciais no caso do não cumprimento dos requisitos legais.
No final da década de 70, com o avanço das propostas na área ambiental empresarial
produtivo, algumas empresas dos setores químico, petroquímico, de geração de energia e
de mineração, estabeleceram metodologias específicas e programas de auditoria
ambiental, que muitas vezes eram realizados em conjunto com as avaliações nas áreas de
saúde ocupacional e segurança do trabalho. Tudo isso sinaliza mais uma vez a crescente
preocupação com o meio ambiente.
Na década de 80, ampliaram-se as pressões da opinião pública e dos órgãos de
regulamentação para que as empresas divulgassem, através de relatórios, informações
sobre o seu desempenho ambiental. Assim, corporações internacionais como Allied
Signal, Union Carbide, Monsanto, Rhône Poulenc, entre outras, vêm publicando
relatórios sobre sua atuação na área ambiental.
Além dos relatórios publicados, a crescente tendência de aquisições e fusões de
empresas industriais no país vem incentivando a realização de auditorias para avaliação
do desempenho ambiental, dos riscos associados a passivos ambientais, e até mesmo de
alguns impactos ambientais associados.
As auditorias ambientais, ao tornarem transparente a existência ou não de
impactos ambientais dentro das organizações, podem auxiliar investidores e acionistas
quando das avaliações das empresas relativa aos passivos ambientais e/ou desempenho
ambiental, ou ainda levá-las a rever rotinas e traçar planos com medidas de ações
corretivas e preventivas. O setor de manutenção em indústrias, geralmente terceirizado,
24
funciona com menor inserção da cultura e valores organizacionais, pela não existência de
funcionários diretos da corporação.
Na atualidade, surge a filosofia da manutenção autônoma, onde funcionários da
produção iniciam a sua atuação também na manutenção, em decorrência de uma série de
fatores, indicados inicialmente pelas auditorias. Os sistemas de gestão, porém, que não
estejam bem estruturados - sejam eles da qualidade, de saúde, segurança ou ambientais -
fazem com que as auditorias se tornem instrumentos pouco eficazes e punitivos. As
organizações passam a temer as auditorias e só promovem melhoria no sistema para o
evento, relaxando tão logo finalize a auditoria e novamente se mobilizando quando em
outra oportunidade análoga. A Figura 1 demonstra o comportamento organizacional
descrito anteriormente através de um “gráfico serra”, que indica, por intermédio do GAP,
(distância da referência) ser possível verificar que o resultado final é o de melhoria,
porém com fases de quedas bruscas normalmente interrompidas pelos eventos das
auditorias.
Melhorias instáveis/auditorias
GAP
Auditoria Auditoria Auditoria Auditoria
Figura 1: Evolução de um sistema de gestão tipo “serra”.
Assim, o ideal é que as auditorias sejam introduzidas no sistema enquanto
ferramentas para auxiliar na identificação de oportunidades de melhoria. Seus objetos
estão dispostos nas normas ISO 14001 e BS 7750.
25
No caso específico da ISO 14001, as auditorias do SGA devem determinar se o
sistema está em conformidade com as disposições planejadas, se o que foi implementado
está sendo mantido e, ainda, fornecer à organização informações sobre os resultados das
auditorias. De posse destes resultados, a organização pode, através de uma análise crítica,
rever as metas, objetivos e os programas de gestão.
No ano de 1980 foi criada no Brasil a Política Nacional do Meio Ambiente, sendo
a primeira de uma série de iniciativas governamentais que viriam a acontecer. Em 1983,
em São Paulo, foi criado o Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA), pedra
fundamental da futura Secretaria do Meio Ambiente.
Ainda nos anos 80, o Brasil e o mundo viram a cidade de Cubatão ganhar fama,
como uma das cidades mais poluídas do mundo. Um grande número de indústrias
instalou-se de maneira desordenada, sem que a cidade possuísse tecnologia e
conhecimento necessários para abrigar tamanha estrutura.
Com a Constituição de 1988, avançou-se para o estabelecimento da política
ambiental. Pela primeira vez formulava-se um capítulo inteiro da constituição dedicado
ao meio ambiente. Um ano depois foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que passaria a ser o monitor dos recursos
naturais, ao difundir atividades de fiscalização por todo o país.
Na Bahia, com a finalidade de executar a Política Estadual de Administração dos
Recursos Ambientais e promover o fortalecimento dos instrumentos de controle
ambiental, como a avaliação, o licenciamento e a fiscalização das atividades
potencialmente capazes de causar impactos sobre o meio ambiente, foi criado a 3 de
Março de 1983, através da Lei Delegada nº 31, o Centro de Recursos Ambientais (CRA).
Desde então, as empresas inseridas no Pólo Petroquímico de Camaçari são monitoradas e
orientadas pelo CRA, com relação às suas atividades associadas a desempenho ambiental
e impactos ambientais.
26
3.2 AS CONTRIBUIÇÕES DAS AVALIAÇÕES E ESTUDOS DE IMPACTOS
AMBIENTAIS
Segundo a NBR ISO 14001 (1996), impacto ambiental pode ser definido como “[...]
qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em
parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização”.
Em linhas gerais, a Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) visa à identificação
dos principais impactos associados ao evento, que pode ser um novo empreendimento,
um novo projeto, um novo processo, uma nova atividade, um novo produto, um novo
programa ou até mesmo uma nova política, visando subsidiar avaliações sobre a
magnitude deste impacto no meio ambiente em que está inserido e apresentar as medidas
mitigadoras ou de solução mais viáveis.
As primeiras avaliações de impactos ambientais – AIA - datam do início da década
de 70, através de iniciativas do National Environmental Protection Act. Porém, os
primeiros métodos de AIA foram considerados documentos pouco aplicáveis a situações
reais. Isto porque a quantidade de fatores de influências diretas e indiretas e a
complexidade das mesmas tornavam estas avaliações complexas e, por vezes, muito
longas.
A partir de 1976, os métodos AIA passaram por um período de evolução no sentido
de melhor compreender as relações de causa e efeito das ações dos projetos e seus
impactos associados, levando em conta a dinâmica dos sistemas ambientais. Ou seja, as
avaliações de impactos ambientais tornaram-se mais aplicáveis à realidade.
Na década de 80 surge o que se pode chamar de base conceitual para a abordagem
científica da avaliação de impacto ambiental. A Universidade Federal da Bahia (UFBA),
comprometida com pesquisas e meio-ambiente, passa a desenvolver estudos técnico-
científicos sobre o assunto em forma de monografias, dissertações e teses. Além disso, é
criado um curso de pós-graduação cuja matriz curricular tem como base o conhecimento
e a aplicação de tecnologias limpas, onde os aspectos e impactos ambientais são alvos
constante de estudos e pesquisas. Publicações científicas do período procuraram
27
demonstrar e destacar a importância da AIA, mostrando que este tipo de avaliação pode,
entre outros aspectos:
• Compreender as características funcionais dos ecossistemas potencialmente
afetados;
• Considerar a variação natural dos sistemas no espaço e no tempo;
• Compreender como respondem os sistemas às interferências humanas;
• Reconhecer limitações técnicas;
• Considerar critérios sociais, culturais e ambientais.
As avaliações de impactos ambientais permitem, portanto, às partes interessadas
(dirigentes das organizações, comunidade, governo etc), uma visão ampla das influências
positivas e negativas que cada empreendimento possa causar ao meio ambiente, ao meio
social e à sua vizinhança. Neste sentido, a AIA pode ser considerada como uma
componente integrada no desenvolvimento de projeto e parte do processo de decisão,
proporcionando uma retro-alimentação contínua entre a concepção e as conclusões da
proposta.
Os principais instrumentos que atualmente viabilizam a execução das avaliações de
impactos ambientais são os Estudos de Impactos Ambientais (EIA), os Relatórios de
Impactos ao Meio Ambiente (RIMA) e os Relatórios Ambientais Preliminares (RAP).
No Brasil, os EIA/RIMA, bem como o RAP, foram implementados pela Lei Federal
6938/81, e pela Resolução número 001/86 do Conselho Nacional do Meio (CONAMA).
Estes instrumentos estão vinculados aos sistemas de licenciamento de propostas. Ou,
ainda, a projetos de atividades poluidoras ou modificadoras do meio ambiente a cargo das
organizações governamentais dos Estados e, em casos especiais, do (IBAMA).
Os EIAs são ferramentas de grande importância no dimensionamento do setor ou
setores que mais geram impacto ambiental durante a sua atuação. A partir de definições
de prioridades e dimensões dos impactos, podem-se traçar objetivos e metas a serem
28
cumpridas. Essas ferramentas devem ser utilizadas também para dimensionar os impactos
causados pela área de manutenção e, além de suas medidas mitigadoras, servem ainda à
redução do impacto por mudança de tecnologia, procedimentos e ou re-qualificação do
seu corpo de funcionários.
O termo desenvolvimento sustentável, como se pode depreender desses estudos,
ainda que complexo, parece ser o caminho para a convivência pacífica entre o progresso
e a proteção do meio ambiente. Pode-se afirmar ainda que tanto as auditorias ambientais
quanto os instrumentos de AIA foram e são de grande contribuição no processo de
evolução ambientalista apresentado.
3.3 OS PRIMEIROS PRINCÍPIOS E SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL
Segundo Donaire (1999), um dos primeiros sistemas de gestão ambiental existente
foi o Sistema Integrado de Gestão Ambiental, também conhecido por Modelo Winter.
Este sistema foi desenvolvido em 1972, pela empresa Ernest Winter & Sonh. Tal modelo
procura descrever o sistema por meio do estabelecimento de 20 módulos integrados cujos
objetivos incluem: facilitar a sua implantação, definir prioridades e definir o cronograma.
Os módulos integrados, apresentados no quadro 1, segundo ainda o autor citado, definem
o papel completo da gestão ambiental da empresa. Quando conhecidos, deverão ser
avaliados pelo administrador e implementados segundo propostas ambientalistas e
obedecendo a critérios de planejamentos e prioridades.
Quadro 1: Módulos Integrados do Modelo Winter
1) Motivação da Alta Administração 11) Gestão de Materiais
2) Objetivos e Estratégia da Empresa 12) Tecnologia de Produção
3) Marketing 13) Tratamento e Valorização de Resíduos
4) Disposições Internas em Defesa do 14) Veículos da Empresa Ambiente
29
ambiente
5) Motivação e Formação 15) Construção da Instalação/equip
6) Condições do Trabalho 16) Finanças
7) Alimentação dos Funcionários 17) Direito
8) Aconselhamento Ambiental Familiar 18) Seguros
9) Economia de Energia e Água 19) Relações Internacionais
10) Desenvolvimento do Produto 20) Relações Públicas
Fonte: DONAIRE, 1999
Além do modelo Winter, muitos outros sistemas de gestão ambiental surgiram,
sobretudo nas décadas de 80 e 90. Dentre os principais sistemas de gestão ambiental
existentes, os que mais contribuíram para o surgimento da norma ISO 14001 foram o
Responsible Care Program, a BS 7750 e o Eco-Management and Audit Scheme (EMAS).
Estes e alguns outros sistemas serão discutidos a seguir.
3.3.1 Programa de Atuação Responsável
O Programa de Atuação Responsável - Responsible Care Program - é considerado
por Culley (1998) como o primeiro modelo de gestão ambiental formal. Surgiu no
Canadá, em 1984, através de uma iniciativa das indústrias químicas formalizada pelo
Chemical Manufactures Association (CMA). Apesar de ser um programa voluntário,
tornou-se requisito exigido àqueles que participam do CMA. O Programa consiste
essencialmente de:
• Princípios Diretivos, equivalentes a uma declaração de propósitos.
• Códigos de Práticas Gerenciais, com metas genéricas que permitem a cada
organização estabelecer as formas para alcançá-las (os seis códigos estão
apresentados a seguir).
30
• Painel Público Consultivo, composto por membros de diferentes segmentos da
sociedade que colaboram com a indústria química na elaboração de práticas
gerenciais e a ajudam a compreender as preocupações da comunidade.
• Grupos de Liderança, formados por executivos das empresas participantes,
aquelas que se adequam aos princípios do Responsable Care, para discutir as
experiências, trocar informações e identificar necessidades de melhorias e
assistência mútua.
Os seis códigos do Programa de Atuação Responsável são:
• Conscientização da comunidade e programa de emergência - este código requer
da organização que esta inicie e mantenha um programa de comunicação com a
comunidade respondendo abertamente questões relativas à saúde, segurança e
meio ambiente e fornecendo informações sobre atividades, como minimização de
resíduos, emissões e efeito de produtos químicos sobre a saúde.
• Prevenção de poluição - este código visa auxiliar a organização na redução de
suas emissões e na minimização dos resíduos gerados. As empresas devem medir
ou estimar as suas emissões e o volume de resíduos gerados; elaborar um plano de
redução; medir o progresso obtido e atualizar anualmente seu inventário de
resíduos.
• Segurança de processos - objetiva a prevenção de acidentes através de
levantamentos e análises dos riscos dos processos, de manutenção e inspeção, do
estabelecimento de padrões operacionais e treinamento de pessoal.
• Distribuição de produtos - são qualificações para a seleção de transportadoras,
distribuidores e outros fornecedores de serviços externos.
• práticas: gerenciamento de riscos, segurança da transportadora, manuseio e
segurança, ação em emergências, revisão crítica e treinamento.
31
• Saúde e segurança ocupacional - requer o comprometimento com fornecimento de
recursos e mecanismos para a identificação e avaliação de riscos associados à
saúde e segurança dos trabalhadores, bem como seu controle e prevenção,
requerendo ainda a elaboração de um programa específico e o treinamento de
funcionários.
• Responsabilidade pelos produtos (productstewardship) - enfoca aspectos do
produto associados à saúde, segurança e meio ambiente, desde a concepção até a
disposição final do mesmo. Inclui projetos de produtos de baixo risco,
informações aos consumidores sobre os usos corretos dos produtos, estudos de
usos alternativos e suas possíveis conseqüências.
No Brasil, o Programa de Atuação Responsável, adotado a partir do ano de 1990, é
coordenado pela Associação Brasileira de Indústrias Químicas (ABIQUIM). Os
princípios diretivos adotados pela indústria brasileira são:
• Assumir o gerenciamento como expressão de alta prioridade empresarial, através
de um processo de melhoria contínua em busca de excelência.
• Promover, em todos os níveis hierárquicos, o senso de responsabilidade individual
com relação ao meio ambiente, segurança, saúde ocupacional e o senso de
prevenção de todas as fontes potenciais de risco associados a suas operações,
produtos e locais de trabalho.
• Ouvir e responder às preocupações da comunidade sobre seus produtos e
operações.
• Colaborar com os órgãos governamentais e não governamentais na elaboração e
aperfeiçoamento de legislação adequada, segurança da comunidade, locais de
trabalho e meio ambiente.
• Avaliar previamente o impacto ambiental de novas atividades, processos e
produtos.
• Monitorar os efeitos ambientais de suas operações.
32
• Buscar continuamente a redução de resíduos, efluentes e emissões atmosféricas
para o ambiente.
• Cooperar com a solução de impactos negativos ao meio ambiente, decorrentes das
disposições inadequadas de produtos ocorridas no passado.
• Transmitir às autoridades, clientes, funcionários e à comunidade informações
adequadas quanto aos riscos à saúde, segurança e meio ambiente de seus produtos
e operações, e recomendar medidas de proteção e emergência.
• Orientar fornecedores, transportadores, distribuidores, consumidores e o público
para que transportem, armazenem, usem, reciclem e descartem os seus produtos
com segurança.
• Exigir que o contratado, trabalhando nas instalações da empresa, obedeça a
padrões adotados pela contratante em segurança, saúde e meio ambiente.
• Promover a pesquisa e o desenvolvimento de novos processos e produtos
ambientalmente compatíveis.
• Promover os princípios e a prática da atuação responsável, compartilhando
experiências e oferecendo assistência a outras empresas para a produção,
manuseio e transporte, uso e disposição de produtos, principalmente as pequenas
e médias empresas.
A grande diferença entre o Programa de Atuação Responsável e a Norma
Internacional ISO 14001, detalhada mais adiante, é que o primeiro consiste de uma série
de iniciativas específicas de gerenciamento, enquanto o segundo é um SGA. Isto é, as
iniciativas do Programa de Atuação Responsável podem ou não ser sistematizadas. A
adesão de indústrias químicas ao Programa de Atuação Responsável não significa que
automaticamente estas possuam os requisitos normativos necessários para uma
certificação, mas encontrar-se-ão num estágio muito mais adiantado para tanto.
A implementação da filosofia da manutenção autônoma encontra grande apoio no
Programa de Atuação Responsável (PAR) onde estão previstos, em vários dos seus
princípios, a redução de resíduos, e a estimativa destes, bem como um plano para seu
33
acompanhamento e arrefecimento, seja com treinamento dos funcionários, seja através da
adoção de boas práticas por estes e pelos contratados.
3.3.2 A Norma Britânica BS 7750
A BS 7750 - Specifications for Environmental Management Systems - teve sua
primeira edição publicada em março de 1992, entrando em vigor em janeiro de 1994.
Trata-se de um marco importante para a gestão ambiental, pois é uma forte referência
para quase todos os sistemas existentes.
A norma foi encomendada pelo Environmental and Pollution Standard Policy
Committe of British Standard Institution a um comitê técnico formado por 38 instituições
inglesas representando os mais variados setores da economia, tais como a Associação de
Consultores Ambientais, a Corporação Britânica de Carvão e a Real Academia de
Química. Trata-se de uma especificação para o desenvolvimento, implementação e
manutenção de um sistema de gestão ambiental voltada a assegurar e demonstrar
conformidade com as declarações da empresa quanto à sua política, objetivos e metas
relativos ao meio ambiente.
A norma supracitada não estabelece um cumprimento absoluto quanto ao
desempenho ambiental. Exige, porém, atendimento às normas legais locais e o
comprometimento com a melhoria contínua. Estipula, ainda, que a organização formule
políticas e objetivos que levem em conta as informações relativas aos efeitos ambientais
significativos decorrentes de suas atividades. Resumidamente, pode-se dizer que a norma
preconiza que a organização deve estabelecer e manter um sistema de gestão ambiental
como mecanismo para garantir que os efeitos de suas atividades, produtos ou serviços,
estejam em conformidade com sua política ambiental.
34
3.3.3 Sistema Europeu de Eco-Gestão e Auditorias
O Sistema Europeu de Eco-Gestão e Auditorias EMAS, estabelecido pelo
Regulamento da Comissão da Comunidade Européia nº1836/93, definiu os critérios para
certificações ambientais de processos industriais. A estes critérios foi incluído,
posteriormente, um sistema de gestão e de auditoria, padrões de desempenho,
verificações por terceiros, e declarações públicas após revisão ambiental inicial e
conclusão de cada auditoria.
O Sistema EMAS entrou em operação a partir de 1995 e, basicamente, permite às
empresas que desenvolvem atividades industriais nos países membros da Comunidade
Européia (CE) obter registros de suas fábricas junto a uma comissão da CE. Anualmente,
é publicada no jornal oficial da CE uma lista de todas as instalações industriais
registradas. Tal registro pode ser considerado, portanto, como um "certificado" de bom
desempenho ambiental para quem o obtiver.
Os requisitos para a obtenção de tal registro são:
• Adoção de uma política ambiental que, entre outros requisitos, inclua um
compromisso com o avanço contínuo do desempenho ambiental da empresa
através do uso das melhores tecnologias práticas disponíveis.
• Realização de um levantamento do sistema de gestão ambiental considerando, em
síntese, os instrumentos relacionados à gestão ambiental na empresa, ou seja:
o políticas, objetivos e programas ambientais;
o organização e pessoal;
o definição de responsabilidades pelas atividades de controle ambiental;
o avaliação e registro dos efeitos ambientais;
o controles operacionais;
35
o registros ambientais e auditorias ambientais;
• Instituição de um programa de gestão ambiental que vise cumprir os objetivos
estabelecidos na política ambiental da empresa;
• Efetuar auditorias ambientais periódicas;
• Fixação de objetivos de melhoria contínua do desempenho ambiental;
• Elaboração de uma declaração ambiental;
• Proceder análises críticas periódicas da política, dos programas e do sistema de
gestão ambiental;
• Comunicação dos dados da declaração ambiental ao organismo ambiental do país
onde se situa a unidade industrial.
3.3.4 Strategies for Today’s Environmental Partnership (STEP)
Em 1990, a American Petróleo Institute (API), instituto fundado em 1919 pela
indústria de petróleo norte-americana, criou o STEP. Como o principal objetivo do STEP
era desenvolver um guia para a indústria de petróleo americana que possibilitasse um
aprimoramento de seu desempenho ambiental, de saúde e segurança, foi então criado o
American Petroleum Institute Environmental, Health and Safety Mission and Guiding
Principles. Em linhas gerais, este documento tem como princípios: prevenção da
poluição, conservação dos recursos naturais, relação de parceria e acordos com a
comunidade, entre outros. Cabe salientar, ainda, que a maioria dos princípios
apresentados abaixo tem estreita relação com os requisitos normativos e a filosofia da
norma ISO 14001.
Os princípios básicos do American Petroleum Institute Environmental Health and
Safety Mission and Guiding Principles são:
• Reconhecer e responder à comunidade quaisquer reclamações sobre matérias-
36
primas, produtos ou operações nas companhias de petróleo.
• Operar plantas e fábricas e manusear matérias primas e produtos protegendo o
meio ambiente, a saúde e segurança dos funcionários, bem como de toda
comunidade envolvida e dos clientes.
• Considerar prioritárias as questões relacionadas à saúde, segurança e meio
ambiente nos planejamentos, e no desenvolvimento de produtos e processos.
• Comunicar prontamente aos funcionários, clientes, órgãos oficiais, e todo o
público envolvido, quaisquer questões relacionadas a danos ambientais, de saúde
e segurança, e recomendar medidas pró-ativas.
• Contribuir na capacitação de funcionários, clientes, terceiros, transportadores e
outros envolvidos quanto ao manuseio, transporte e disposição final de matérias-
primas, produtos e resíduos.
• Desenvolver e produzir economicamente recursos naturais e conservá-los
utilizando a energia de forma eficiente.
• Sempre buscar aumentar conhecimentos através de pesquisas nas áreas que
afetam o meio ambiente, saúde e segurança dos produtos, matérias-primas,
processos e resíduos.
• Comprometer-se em reduzir a geração de resíduos e emissões.
• Trabalhar em parcerias para resolver problemas criados pelo manuseio e
disposição de substâncias perigosas geradas nas operações.
• Participar com entidades governamentais e outras entidades na criação de leis
responsáveis, regulamentações e normas para salvaguardar a comunidade, os
locais de trabalho e o meio ambiente.
• Promover estes princípios e praticá-los, dividindo experiências e oferecendo
assistência a todos que produzam, manuseiem, utilizem, transportem ou
disponham matérias-primas similares, produtos e resíduos derivados de petróleo.
37
A ISO, sensibilizada por todas as ações, em nível internacional, citadas
anteriormente, e sentindo a ausência da avaliação de questão ambiental de forma mais
abrangente, iniciou uma investigação para avaliar a necessidade de normas internacionais
para gestão ambiental. Em agosto de 1991 criou o Strategic Advisory Group on
Environment (SAGE). Este grupo tinha por finalidade:
Promover uma abordagem comum à gestão ambiental semelhante à gestão da
qualidade.
• Aperfeiçoar a capacidade das organizações para alcançar e medir melhorias no
desempenho ambiental.
• Facilitar o comércio e remover barreiras comerciais.
Em 1992, o SAGE deu o sinal verde para o Conselho Técnico da ISO, que então
encarregou um novo Comitê Técnico, o TC 207, do desenvolvimento de normas
internacionais para gestão ambiental. Os membros do comitê são representantes oficiais
de cerca de 40 países, incluindo representantes da indústria, organizações normativas,
governamentais e ambientais. O conjunto de normas conhecido como ISO 14000 abrange
cinco áreas: SGA, Auditoria Ambiental, Avaliação de Desempenho Ambiental,
Avaliação do Ciclo de Vida e Rotulagem Ambiental.
A norma ISO 14000 hoje é alvo de muitas críticas, pois se esperava que as normas
de rotulagem ambiental e de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) do produto
contribuíssem para iniciativas mais pró-ativas das empresas. Ou seja, agissem de maneira
a eliminar na fonte o problema e não apenas corrigir ou remediar os erros.
Furtado et al. (2000) criticam os Sistemas de Gestão Ambiental que se apóiam na
Norma ISO 14001 que sejam restritos a sistemas administrativos sem maiores
compromissos com as questões ambientais. Defendem o emprego de Princípios de
Produção Limpa, ou de Produção Mais Limpa, além da re-qualificação dos funcionários,
colocando a geração de resíduo como o problema central dos impactos ambientais.
38
A atual tendência dos sistemas de gestão ambiental é a utilização do recurso da
redução ou eliminação dos impactos na fonte, apoiados no Princípio da Produção Limpa.
A norma ISO 14000 deveria espelhar-se neste sentido, pois dentro do conceito da auto-
sustentabilidade este é o caminho a ser seguido.
Os sistemas de auditoria e gestão, por sua vez, não destacam a questão da
manutenção e da manutenção autônoma como itens passivos de se obter ganhos através
do foco ambiental. Todavia, estes são pontos a serem levados em consideração devido
aos impactos que estas atividades trazem ao meio ambiente.
4 RETROSPECTIVA E EVOLUÇÃO DA MANUTENÇÃO
A manutenção é uma tecnologia chave para o chamado desenvolvimento
sustentável. A idéia basilar é utilizar com mais eficácia os recursos existentes, tais como
matéria-prima, equipamento e energia necessários para produzir bens e serviços,
provocando assim uma redução do fluxo de materiais, de recursos naturais e do
desperdício. Isso exige a presença das seguintes características: ciclos de produção
fechados; longevidade dos produtos; influência no período de vida (ou ciclo de vida) dos
produtos; otimização na limpeza dos meios disponíveis de produção (ou aumento da
produtividade dos recursos); reutilização antes da reciclagem. O quadro 2, a seguir,
mostra um breve histórico da evolução da manutenção.
39
Quadro 2: Manual Pedagógico Pronaci Fonte: BRITO, Mário/ Eurisko
A economia de energia, a conservação do meio ambiente, a renovação dos
equipamentos e das instalações, a confiabilidade, a manutenção, a eficácia, a otimização
dos processos industriais, a qualidade da mão-de-obra e a valorização dos seus técnicos
são quesitos que se tornaram indispensáveis à manutenção. Evidencia-se, também,
através da figura 3, uma importância crescente da manutenção como um dos vetores
fundamentais da economia das empresas.
1ª Geração
- Reparar quando quebrar
1940 1950 1960 1970 1980 2000...
2ª Geração
- Elevada responsabilidade
- Longa vida dos equipamentos
- Baixos Custos
3ª Geração
- Elevada disponibilidade
- Elevado grau de segurança
- Melhor qualidade do produto
- Sem danos ao Meio Ambiente
40
Figura 3 A Importância crescente da manutenção: Manual pedagógico PRONACI (BRITO, Mário/Eurisko)
A manutenção autônoma é o conceito mais atual de manutenção e exige a
participação de todos os elementos da cadeia operativa, desde o operador do equipamento
até os níveis superiores de gestão, passando pelos elementos da manutenção e pelas
chefias intermediárias. Significa, basicamente, iniciativa de solução - o mais
imediatamente possível - para problemas ocorridos em qualquer ponto da cadeia
produtiva pelos responsáveis de plantão, os quais são identificados por mantenedores.
A aplicação da metodologia Manutenção Autônoma tem trazido resultados
significativos, segundo arquivos interno das empresas pesquisadas e resultado de análises
do histórico de geração de resíduos tanto no processo produtivo (custos, processo, meio
ambiente) quanto no administrativo, elevando a produtividade, reduzindo as falhas e
Esgotamento de matérias-primas Preservação e proteção ambiental
Importância Crescente da Manutenção
Deterioração da resistência ao desgaste dos equipamentos Aumento dos custos de manutenção
Exigência crescente da qualidade dos
equipamentos e da manutenção em
particular
Segurança das pessoas, dos equipamentos e do patrimônio. Melhoria da qualidade de vida
Automação crescente. Desenvolvimento tecnológico dos equipamentos
41
defeitos nos equipamentos em que a metodologia foi aplicada. Os dados constantes do
referido histórico foram disponibilizados pela empresa pesquisada, através do setor de
saúde segurança e meio ambiente, objetivando análise e comparação dos registros antes e
depois da aplicação da manutenção autônoma, análise esta efetuada pelo autor da
presente monografia. O acesso aos dados e respectiva análise trouxeram referências
imprescindíveis à implementação pretendida pela empresa.
Como principais características citam-se:
• Maximização da eficiência global das máquinas, através da eliminação das falhas,
defeitos, desperdícios e obstáculos à produção.
• Participação e integração de todos os departamentos envolvidos, tais como o
planejamento, a produção e a manutenção.
• Envolvimento e participação de todos, da direção de topo até os operacionais.
• Colaboração através de atividades voluntárias desenvolvidas em pequenos grupos.
• Busca permanente de economias (eliminar perdas e falhas, proporcionar lucros).
• Ser um sistema integrado.
• Manutenção espontânea executada pelo próprio operador.
Desde a sua concepção, a manutenção autônoma vem passando por um processo de
evolução: tendo sido inicialmente desenvolvida para uso em indústria de manufatura, é
adotada atualmente em indústrias de processo.
A aplicação dos princípios básicos da manutenção autônoma visa à eliminação das
perdas por toda a empresa. Os diversos fatores que influem nos resultados empresariais
são: redução de falha nos equipamentos, no tempo de pequenas paradas, nos estoques,
nas perdas para o meio ambiente e nos custos, minimização dos tempos em que os
equipamentos operam sem produzir ou com restrições na produção, diminuição nos
defeitos dos produtos, elevação da produtividade e eliminação dos acidentes.
42
Com a aplicação da manutenção autônoma, o desenvolvimento das capacidades dos
funcionários passa a ter maior importância a partir do momento em que estes deixam de
realizar apenas atividades operacionais, passando a ter liberdade para decidir e agir,
atuando na prevenção de maneira pró-ativa. Para que os funcionários se sintam aptos a
colaborar com a empresa, fazem-se necessárias mudanças comportamentais, de forma a
direcionar suas capacidades e habilidades no sentido de contribuir com os objetivos
organizacionais. Cada funcionário deve conhecer profundamente os processos internos da
organização, bem como os produtos e serviços oferecidos por ela, de forma a ser um
colaborador ativo do processo de mudanças.
O desempenho eficaz de atividades num ambiente competitivo demanda que os
funcionários detenham informações precisas sobre clientes, processos internos e até
mesmo sobre algumas informações financeiras. O feedback sobre produtos e serviços
fornecidos pela empresa tem-se tornado cada vez mais valioso. Por tudo isso, tais
informações precisam fluir de forma rápida e precisa:
Mesmo funcionários habilitados, que dispõem de excelente acesso às
informações, não contribuirão para o sucesso organizacional se não
forem motivados a agir no melhor interesse da empresa, ou se não
tiverem liberdade para decidir ou agir. (KAPLAN e NORTON, 1997, p.
81).
Além de aptos, portanto, os funcionários devem estar motivados e ter autonomia
para influenciar e agir em prol das mudanças e nos resultados organizacionais.
Dentro do conceito de qualificação e competência dos funcionários, Kaplan e Norton
(1997) propõem que seja investigado o que os autores denominam de Base Comum de
Medidas Essenciais. Tal conjunto de medidas é composto pelos seguintes fatores:
• Satisfação dos Funcionários: a satisfação dos funcionários é de extrema
importância para o sucesso de toda e qualquer organização, pois somente
43
funcionários satisfeitos poderão ajudar uma empresa a manter clientes satisfeitos,
melhorar processos internos e, conseqüentemente, alcançar as metas e objetivos
financeiros.
Assim, para se medir a satisfação dos funcionários, podem ser utilizadas pesquisas
com questões relacionadas não só com o nível de envolvimento em decisões, mas
também reconhecimento pela realização de bons trabalhos, acesso a informações que
auxiliem no desempenho de suas tarefas, e incentivo ao uso da criatividade, entre outros
• Retenção dos Funcionários: preocupa-se em reter funcionários nos quais a
empresa tem interesse a longo prazo. Dessa forma, evita-se que a empresa perca
aqueles em quem vem investindo e que serão úteis na busca por seus objetivos. A
retenção dos funcionários pode ser medida através do nível de rotatividade de
pessoas-chave para a organização.
• Produtividade dos Funcionários: relaciona-se ao aumento na produtividade, o que
pode ser conseguido através do aumento no nível de satisfação e de capacitação
dos funcionários. Pode, ainda, ser influenciado por inovações, melhorias nos
processos internos ou nas relações com os clientes. Tal produtividade pode ser
mensurada a partir do nível de produção e da quantidade de funcionários para se
atingir esse nível.
Dentre as medidas disponíveis, Kaplan e Norton (1997) sugerem que seja
utilizada a receita gerada por funcionário, considerando os custos necessários para gerar
essa receita. O operador da indústria química tem participação decisiva no resultado da
empresa. Por sua vez, o conhecimento exato dos riscos ambientais da cada rotina facilita
o controle das operações e do processo da planta, segundo ÁVILA (1998).
Manter as rotinas limpas nas operações da indústria é uma atividade que auxilia
na estabilização dos processos e deve envolver toda a equipe de operação em mudanças
de padrão e de procedimentos. O compromisso com o meio ambiente, enquanto política
da empresa, deve ser implementado no chão de fábrica e defendido pela alta
44
administração. Vários programas de controle ambiental não conseguem chegar até o chão
de fábrica; com isso, muitas vezes boa parte das emissões de poluentes não é sequer
comunicada à chefia imediata, ou anotada no livro de registro de ocorrências; em outras
oportunidades, deixa de ser mensurada adequadamente, fazendo com que não se tenham
informações precisas sobre as emissões. As perdas não acompanhadas por
monitoramento contínuo, por exemplo, ocorrem com maior freqüência à noite e nos finais
de semana, normalmente por falta de acompanhamento e manutenção. Além disso,
existem falhas de comunicação, bem como imperícia em dimensionar o ocorrido e as
perdas atreladas. Em decorrência, há informações incorretas, podendo ainda ocorrer
omissões em casos de incidentes.
Para uma implantação eficaz da manutenção autônoma, sugere-se treinamento de
qualificação dos funcionários, e de preferência que os operadores tenham uma formação
técnica específica e diversificada, ou seja, que se tenham operadores técnicos em
mecânica, instrumentação, elétrica (eletrotécnica) e química, para que num grupo de
turno exista sempre um técnico de cada especialidade operando e mantendo a unidade
fabril. Os operadores devem estar capacitados para descobrir anormalidades, providenciar
tratamento e recuperação, definir as condições do equipamento cumprir as normas para
manter a operação e a produção sempre em condições operacionais.
Para o bom andamento do plano de manutenção autônoma, deve-se definir todo o
escopo de trabalho dos operadores mantenedores, limitando-os aos serviços que não seja
necessário grande número de pessoas, considerando a dimensão da atividade e o Homem
Hora (HH) requerido. Deve-se definir criticidade dos equipamentos, considerando-se
aspectos referentes à qualidade do produto, segurança, saúde e meio ambiente.
A partir da definição de criticidade dos equipamentos, as necessidades de
manutenção são definidas para assegurar a disponibilidade e confiabilidade dos mesmos.
Os planos de manutenção preventiva e preditiva são executados pelos próprios
operadores, sendo que a segunda inclui análise de vibração e termografia do sistema
elétrico. As análises de óleos lubrificantes e isolantes devem ser executadas por empresas
especializadas nestas áreas.
45
Estes planos devem estar também baseados nas recomendações dos fabricantes e
no histórico dos equipamentos, coletado tanto na fábrica como em outras unidades
semelhantes. Baseado nestes mesmos critérios de verificação e análise, qualquer
equipamento, além dos problemáticos, poderá ser incluído nas conferências relativas à
manutenção, visando assegurar confiabilidade ao processo produtivo como um todo e, à
fábrica, menor custo de manutenção e menores perdas para o meio ambiente No caso dos
equipamentos estáticos (vasos, tubulações críticas, válvulas de segurança, alívio e discos
de ruptura), os planos de manutenção devem ser baseados nas exigências mais
conservativas, a exemplo da NR-13, Norma regulamentadora que rege segurança em
caldeiras e vasos de pressão.
Os planos de manutenção devem ser gerenciados de preferência através de
software específicos. As manutenções preventivas e/ou preditiva relacionadas aos
equipamentos e instrumentos críticos deverão ser realizadas periodicamente. Deve ser
elaborada a programação semanal, em conjunto com a operação, definindo-se desse
modo as atividades que serão realizadas na semana seguinte, elaborando rotas com
equipamentos e pontos definidos de inspeção, onde uma lista de verificações deve ser
preenchida sendo verificada a manutenção preventiva e corretiva, caso necessário,
devendo tudo ser registrado e arquivado no sistema de gerenciamento de ativos, para
formação do histórico do mesmo.
Se alguma anormalidade for detectada na inspeção do equipamento, e caso não
seja possível correção imediata, deve-se emitir uma recomendação através de Ordem de
Serviço para que seja feita a programação de retificação devida, especificando se a
execução será feita pela contratada ou pelos operadores.
No momento da definição da lista de verificação, especial atenção deve ser dada a
inspeções quanto aos itens que se refiram ao Meio ambiente, com o intuito de evitar ou
reduzir situações impactantes, geradoras de desperdício ou resíduo.
46
5 METODOLOGIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DA
MANUTENÇÃO AUTÔNOMA
O êxito da Manutenção Autônoma, entre outras, depende da capacidade de se
conhecer perfeita e continuamente o funcionamento do equipamento, e das melhores
condições de operação para prevenir perdas e falhas.
A Manutenção Autônoma faz parte de uma mudança cultural, portanto, as
modificações estruturais e comportamentais necessárias não ocorrerão automaticamente
da noite para o dia, sendo variável em cada empresa, dependendo de sua cultura,
envolvimento, comprometimento da alta gerência, do porte, do nível tecnológico, da
capacidade do gestor, do comitê de implementação, e dos mantenedores.
O comitê de implementação, bem como o gestor, deve dominar na sua plenitude
todas as fases de implementação do programa, tendo sempre em vista que os resultados
favoráveis da manutenção deverão resultar também do envolvimento responsável e
competente de toda a equipe.
5.1 CAPACITAÇÃO DO GESTOR E DO COMITÊ DE IMPLEMENTAÇÃO
O gestor da Implementação da Manutenção Autônoma deve ser um profissional
devidamente experiente em gestão de processos (produção, manutenção, engenharia,
qualidade, just-in-time, lean manufacturing, kaizen, etc.). Ele pode dedicar-se
exclusivamente ou não, a depender do porte e das características da empresa.
O comitê de implementação deve ser composto preferencialmente por integrantes
das áreas de produção, manutenção, engenharia e recursos humanos, devendo dedicar
apenas parte do seu tempo às tarefas estratégicas da implementação.
A capacitação, iniciada através de um treinamento mínimo de 24 horas, é
complementada por leituras e visitas a outras empresas. Uma consultoria externa
normalmente é a responsável para capacitar o comitê e orientá-lo na escolha da literatura
47
e programação das visitas. O comitê pode analisar softwares de manutenção utilizados no
mercado, os padrões de monitoramento usados nas empresas e Benchmarkings existentes
em literaturas ou divulgados pelas empresas.
5.2 FASES DE IMPLEMENTAÇÃO DA MANUTENÇÃO AUTÔNOMA
A implantação da manutenção autônoma consiste de quatro fases: Preparação,
Introdução, Implantação; e Consolidação. O fluxograma abaixo indica as etapas e as fases
de implementação, seguidas de explicações pertinentes.
Manutenção Autônoma
Preparação Fase 01
Introdução Fase 02
Implantação Fase 03
Consolidação Fase 04
Declaração de
implantação
Educação Trein.
Divulgação
Objetivos e diretrizes
Plano Mestre
Melhoria especifica
Mant. Autônoma
Mant. Planejada
Educação e Treinamento
Figura 3 Fluxograma fases da Implementação da Manutenção Fonte: Própria
• Fase 1 Preparação: A fase de preparação é composta por quatro etapas.
• Etapa 1 – Declaração de implantação
Quando a alta direção formula este compromisso, deve deixar clara sua intenção
de implementar a manutenção autônoma, até a sua finalização. Deve,
paralelamente, envolver, informar, discutir procedimentos e decisões com todos
48
os setores e funcionários, de forma a conquistar adesões e fortalecer o processo,
garantindo que a direção compreende o valor estratégico e que facilitará o apoio
físico e organizacional necessário para resolver ou encaminhar os diversos
problemas que inevitavelmente surgirão durante a implementação.
• Etapa 2 – Educação, Treinamento e Divulgação.
Devem ser planejadas e executadas todas as atividades de divulgação
dentro da empresa, bem como os treinamentos de sensibilização, levando à
percepção da importância do processo de implementação e envolvendo todos nas
atividades em busca dos melhores resultados. Deve-se definir o escopo do
treinamento a partir da limitação de atividades propostas pela implantação da
manutenção autônoma.
• Etapa 3 – Estabelecimento de objetivos e diretrizes
Devem-se estabelecer as diretrizes básicas e os objetivos que se quer
alcançar com a implementação da manutenção autônoma, fazendo, a seguir, uma
avaliação das demandas do ambiente interno e externo.
• Etapa 4 – Elaboração do plano mestre para desenvolvimento.
Após a identificação e mensuração das perdas do processo, ou seja, as paradas de
produção por quebra de equipamento, vazamento de produto, ou emanações
indesejáveis, deve ser criada uma árvore de perdas e atribuir-lhe valores de acordo
com a importância dada às perdas. Outro cuidado devido refere-se à elaboração do
plano mestre, que consiste no planejamento das fases de implantação e
consolidação.
Nesta etapa, especial atenção deve ser dada à mensuração das perdas quanto ao
seu grau de significância, pois atribuições e valorações errôneas podem direcionar
indevidamente esforços para um lado menos prioritário, o que ocasionará perda de
49
tempo e aumento de custos operacionais e financeiros. Estes riscos, por si só,
impõem à empresa a criação da árvore de perdas, que é o registro sistemático em
moldes especiais adequados à própria empresa.
• Fase 2 – Introdução
Cumprida a fase anterior, deve-se verificar o comprometimento gerencial com a
implementação, o conhecimento dos empregados sobre a implementação, o grau e
o limite de envolvimento, e se os objetivos, metas e estratégias estão coerentes
com os objetivos traçados pela alta administração.
Os líderes da operação neste momento são muito importantes, no sentido de
alavancar o processo, pois é importante que pessoas motivadas abracem a causa.
• Fase 3 - Implantação
Nesta fase, devem ser implantadas as atividades referentes aos pilares de
melhorias específicas, manutenção autônoma, manutenção planejada, educação e
treinamento, apresentadas a seguir:
• Melhoria específica trata das melhorias que serão implantadas com o
objetivo de aumentar a eficiência operacional com a conseqüente eliminação ou
redução das grandes perdas do sistema produtivo, ou seja, é a hora de estudar e
resolver os pontos levantados lá na árvore de perdas, a qual foi dimensionada
cuidadosamente.
• Manutenção autônoma. Atua com o enfoque no homem de operação,
mudando sua visão sobre trabalho desenvolvendo a capacidade dos operadores
50
para a execução de pequenos reparos e inspeções, mantendo o processo de acordo
com padrões estabelecidos, antecipando-se aos problemas potenciais,
capacitando-o para uma administração autônoma de seu equipamento, sua rotina e
possíveis ganhos.
• Manutenção planejada. - Com a implantação da Manutenção Autônoma, as
atividades mais simples de inspeção e manutenção passam a ser de
responsabilidade da equipe de operação da planta. É necessário, neste momento, o
estabelecimento do escopo de atuação do operador na manutenção; faz-se
necessária a mensuração do tempo que o operador dispõe para dedicar-se à
manutenção, não se esquecendo das atividades rotineiras de operação para a
produção da empresa. Este fato depende diretamente das características da
empresa, como por exemplo se o processo é de produção contínua ou por
bateladas; depende ainda do nível de automatização da empresa, do número de
atividades manuais que o operador necessite desenvolver para produzir. A equipe
de manutenção fica responsável pelo desenvolvimento de tarefas de manutenção
mais complexas, que exijam conhecimentos mais profundos e desmontagens mais
difíceis de serem executadas pela equipe de Manutenção Autônoma.
• Educação e treinamento - Este pilar propicia aprendizado aos operadores e
mantenedores. A Manutenção Autônoma é baseada na mudança de
comportamento das pessoas e na aplicação do conhecimento adquirido nos
treinamentos, daí a importância de um treinamento bem formulado e executado
com objetivos específicos e metas mensuráveis. Ainda que se centre inicialmente
nos equipamentos, seu objetivo é estabelecer condições que reflitam a idéia de
que as plantas são sistemas homens-máquina, compostas por máquinas e pessoas.
A seguir o autor sugere, com base nas necessidades levantadas na implementação,
treinamento para formação do operador mantenedor com foco em ganhos
51
ambientais, o qual deve ser dividido em módulos e direcionado para a maior
criticidade da fábrica.
O treinamento deve ser ministrado por uma instituição reconhecida e capaz de
atender ao escopo do treinamento de qualificação. O quadro a seguir apresenta
uma estrutura treinamento por módulos, com carga horária e assuntos definidos,
mas que poderão ser alterados, segundo critérios e necessidades da empresa.
Módulo Básico I
Disciplinas
Carga
horária
Matemática (Funções, gráficos, estatísticas) 40 h
Física (Mecânica) 44 h
Química (Reações químicas) 68 h
Físico-química 42 h
Carga horária total 194 h
Módulo Básico II
Equipamentos rotativos 26 h
Utilidades 42 h
Mecânica dos fluidos 16 h
Controle ambiental, tratamentos de efluentes e aplicação de tecnologias
limpas. 80 h
Combustão 20 h
Agitadores e misturadores 20 h
Corrosão e materiais de construção 44 h
Tancagem 10 h
Carga horária total 256 h
52
Módulo Avançado: Manutenção autônoma
Ferramentas manuais e instrumentos de medição 10 h
Ferramentas pneumáticas 4 h
Refrigeração industrial 10 h
Bombas compressores agitadores e sopradores 50 h
Válvulas de segurança, alivio e disco de ruptura. 4 h
Noções de soldagem 4 h
Tubulações industriais 40 h
Leitura e interpretação de desenho técnico 30 h
Eletrotécnica e eletrônica básica 54 h
Eletricidade básica 36 h
Eletricidade técnica / NR10 48 h
Instrumentação aplicada 36 h
Meio Ambiente saúde e Segurança 40 h
Boas práticas operacionais 40 h
Carga horária total 406 h
Quadro 3 – Matriz de treinamento para manutenção autônoma
O total de carga horária da capacitação fica em torno de 860 h sendo que a
metodologia enfatiza a articulação entre a teoria e prática.
• Fase 4 - Consolidação
Esta etapa tem por objetivo a análise da manutenção autônoma depois de atingido
os seus objetivos e metas, sendo necessária a aplicação do Ciclo PDCA (P (Plan =
Planejar), D (Do = Executar), C (Check = Verificar), A (Action = Agir)) para
análise, medição manutenção e melhoria contínua do programa. É interessante que
se tenha uma sistemática bem definida de acompanhamento e execução das
manutenções nos diversos turnos de trabalho, através de rotinas de manutenção
53
preventiva que devem ser elaboradas e emitidas para execução. Outra estratégia é a
divulgação das estatísticas de execução por turno, para motivação dos grupos.
54
6 MÉTODOS
Definiram-se novos métodos após diagnóstico das práticas em curso. Utilizaram-
se, para este trabalho de pesquisa bibliográfica, visitas técnicas, reuniões participativas
com grupos de manutenção, acompanhamento de planejamento semanal, quinzenal e
mensal de manutenção; e também levantamento de dados, além de: análise de dados
históricos do setor de saúde, segurança e meio ambiente de empresa com manutenção
autônoma implementada; levantamento dos principais equipamentos que apresentaram
problemas nos últimos dois anos com os principais motivos, visando análise da
formulação da árvore de perdas; levantamento do histórico com relação à geração de
resíduos antes da mudança dos procedimentos (implantação da manutenção autônoma); e
o levantamento da geração do resíduo após a modificação, tendo–se a preocupação de
limitar o estudo às atividades de manutenção que são desempenhadas pelos operadores e
possuem periodicidade de execução.
Após este procedimento foi apresentado, como sugestão, um programa de
treinamento com foco em ganhos ambientais para qualificação do mantenedor; após
identificadas as atividades padrão desempenhadas pelo operador mantenedor, e a criação
de proposta com fluxograma para a implementação da manutenção autônoma.
7 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL COM APLICAÇÃO DA
MANUTENÇÃO AUTÔNOMA
O perfil da empresa escolhida para o estudo de caso permite caracterizá-la como
uma indústria química com capacidade de produção de 320 t/dia, localizada no Pólo
Petroquímico de Camaçari, Bahia, a aproximadamente 50 km da cidade de Salvador. A
sua atividade no Brasil teve início nos anos 50, quando suas matérias-primas começaram
a ser comercializadas no país. Uma década depois, a companhia estabeleceu oficialmente
55
um escritório de vendas em São Paulo e, em 1976, inaugurou sua fábrica em São José dos
Campos, onde produzia herbicidas, aditivos para borracha, poliestireno e fosfatos.
Quando o Brasil se consolidou como o segundo maior produtor de grãos do mundo,
abaixo apenas dos Estados Unidos, o mercado brasileiro também passou a ser
considerado como o segundo maior mercado mundial para produtos agrícolas. Isso fez
com que a empresa decidisse ampliar seus investimentos no país através da criação da
recente unidade em Camaçari.
A unidade de Camaçari tem como produto final o princípio ativo de produção de um
defensivo agrícola, e possui as seguintes características:
• Produção: é constituída por duas áreas intermediárias que alimentam a área de
produto final. A Produção é responsável pelo recebimento, manuseio e
armazenamento de matérias-primas e insumos, operação dos sistemas,
acompanhamento de processo e da produção, e operação do sistema de efluentes.
• Suporte à Produção: a área de manutenção é responsável por assegurar a
confiabilidade dos equipamentos da planta e continuidade operacional. Nela, os
equipamentos são classificados em função do impacto em qualidade, meio
ambiente, segurança e saúde, o que orienta os planos de manutenção preventiva e
preditiva. Os operadores desta área contribuem com a manutenção autônoma.
Desta área fazem parte a automação e o laboratório, apresentados a seguir:
• A área de automação é responsável pela confiabilidade dos sistemas relacionados
à operação, controle e segurança do processo. Esses sistemas contemplam a base
de dados em tempo real, o sistema digital de controle distribuído e os
computadores de processo.
• O laboratório realiza as análises para assegurar o monitoramento de matérias-
primas, produto em processo / finais e efluentes para suportar a operação
56
sustentável da planta e assegurar a qualidade dos produtos fornecidos aos clientes.
Os dispositivos utilizados na medição e monitoramento do processo produtivo e
dos produtos são identificados individualmente e verificados / calibrados em
intervalos estabelecidos, a fim de assegurar a exatidão das medidas.
A empresa possui Sistema de Gestão Integrada (SGI) e considera o atendimento aos
requisitos de qualidade, meio ambiente, segurança e saúde aplicáveis à produção de toda
a fábrica e aos demais processos de suporte desenvolvidos na Unidade de Camaçari. O
sistema foi planejado, desenvolvido e implementado com base nas referências normativas
NBR ISO 9001: 2000, NBR ISO 14001: 1996, e OHSAS 18001: 1999.
Em relação à análise de tarefas visando à saúde ocupacional, segurança e o meio
ambiente, a empresa possui um número específico de treinamentos para cada funcionário.
Além disso, possui um intenso programa com seus funcionários e contratados quanto à
verificação de Aspectos e Impactos das Atividades. Todos são treinados em termos de
avaliação de aspectos e impactos das atividades. Os treinamentos buscam desenvolver o
censo crítico de todos e principalmente dos envolvidos direto nas tarefas geradoras de
impacto.
A unidade de estudo possui 126 instruções de trabalho e procedimentos operacionais.
No ano de 2003, após o término de uma série de treinamentos oferecidos aos funcionários
sobre manutenção autônoma, todos os procedimentos citados foram revisados com a
intenção de adaptá-los à nova realidade da manutenção autônoma, incluindo-se os
relativos à geração de resíduo em manutenção e paradas de manutenção. Os
procedimentos ganharam um novo formato incluindo campos referentes à manutenção,
geração de resíduo e gestão do resíduo.
Entretanto, a dimensão da tarefa e as necessidades de recursos impõem limites na
manutenção. Por exemplo, manutenções onde se requer um grande número de mão de
obra e de tempo não são possíveis de serem desenvolvidas pelos operadores.
As atividades desempenhadas pelos operadores treinados em manutenção autônoma
levantadas pelo presente estudo foram: inspeção em trocadores de calor / vasos de
pressão, torqueamento de equipamentos e tubulações, manutenção / inspeção em bombas
centrífugas / diafragmas, manutenção sistema de selagem (troca de selo cartucho),
57
Inspeção / manutenção básica em ponte rolante (troca de óleo), lubrificação de
equipamentos, inspeção/ montagem tubulações e acessórios, inspeção / substituição de
juntas de expansão, instalação disco de ruptura, substituição de gaxeta de válvulas,
manutenção preventiva bombas verticais, manutenção preventiva em condensadores a ar,
manutenção/inspeção sistema de refrigeração freon, manutenção de bombas de
diafragma, inspeção geral de itens críticos com identificação de causas de falhas,
avaliação de performance de equipamentos, manutenção preventiva ventiladores radiais,
inspeção e montagem em telas de filtros de produtos, inspeção e substituição de telas das
centrífugas, inspeção de equipamentos vitrificados e revestidos, montagem de
equipamentos vitrificados, instalação disco de ruptura em grafite, manutenção preventiva
centrífugas, inspeção/manutenção preventiva em agitadores.
Tais atividades eram desempenhadas pela empresa contratada para realizar a
manutenção dos equipamentos antes da implantação da manutenção autônoma, e isto
influenciava muito para o impacto geral que a unidade fabril causava em relação à
geração dos resíduos.
Analisando dados históricos de geração de resíduos da unidade de estudo, temos o
levantamento total da fábrica, ressaltando que foram considerados apenas os resíduos
classe 11. Tais resíduos são classificados como perigosos, segundo a Norma Brasileira
Registrada NBR 10.004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT2.
A tabela 1 demonstra os dados da geração de resíduo do tipo classe I da empresa
pesquisada, entre os anos de 2003 a 2004.
58
Tab. 1 - Resíduo classe 1, 2003/2004
Fonte: Arquivo interno SSMA
Mês Resíduo/ Kg
Janeiro 3191,2
Fevereiro 1055,27
Março 1254,55
Abril 2186,2
Maio 1065
Junho 2468,27
Julho 3453,2
Agosto 1435,25
Setembro 1705,35
Outubro 2175,55
Novembro 1029,47
Dezembro 1256,4
Janeiro 2004 3144,55
Total 25420,26
59
Fig 4 - Total de 25420,26 Kg de resíduo perigoso gerado na empresa
Fonte: Arquivo interno SSMA, 2003, 2004
O registro da quantidade de resíduos (Fig.4) encontrado durante o diagnóstico foi
originado das unidades operacionais, tais como: os processos estáveis e as rotinas de
manutenção preventiva implementadas; o arquivo de contrato da transportadora de
resíduos para a central de tratamentos, onde obrigatoriamente está relatada a quantidade e
especificação de todo e qualquer resíduo transportado.
O serviço de manutenção preventiva e corretiva foi planejado de modo a se obter
um maior rendimento e aproveitamento dos equipamentos, implicando em maior tempo
de operação em condições normais, e com menos perdas e paradas devido a quebras ou
não conformidades.
Advindo da implantação do Sistema de Manutenção Autônoma, implantou-se uma
sistemática assistida por um software de gerência de manutenção, onde diariamente é
emitida ordem de manutenção preventiva ou corretiva, especificando equipamento, parte
a ser verificada, fotos das peças e um passo-a-passo do que é, e como deve ser feita a
Geração de Resíduos kg/mes
0 500
1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan
60
manutenção, de maneira que gere menos resíduo. A tabela a seguir indica a mudança nos
resultados de geração de resíduos classe 1, após a implantação da Manutenção
Autônoma, junto à empresa objeto de estudo.
Tabela. 2 Resíduo classe 1, 2004/2005
Mês Resíduo Kg
Janeiro 3144,5
Fevereiro 1005,20
Março 1154,50
Abril 1826,2
Maio 958.5
Junho 2268,7
Julho 3011,8
Agosto 1415,55
Setembro 1409,20
Outubro 2071,30
Novembro 919,44
Dezembro 1151,21
Janeiro 2004 3001
Total 22378,6
Fonte: Arquivo interno SSMA
61
Fig 5 Total de 22378.6 Kg de Resíduo perigoso gerado.
Fonte: Arquivo interno SSMA, 2004 e 2005
De acordo com os dados históricos e de avaliação da unidade fabril, com a
implementação da manutenção autônoma, além dos ganhos ambientais, houve também
um acréscimo de 7,1% de disponibilidade (Availability) de planta que quer dizer
percentual entre o tempo em que a fábrica esteve disponível para operar e o tempo
calendário, passando de 82,5 % para 89,6 %, registrando-se apenas alguns poucos
desvios.
Geração de Residuos kg/mes
0 500
1000 1500 2000 2500 3000 3500
Jan Fev Mar Abr MaioJun Jul Ago Set Out Nov jan Dez
62
CONCLUSÕES
Durante o período de análise do estudo de caso, o principal programa
desenvolvido e de implementação planejada na empresa estudada foi a Manutenção
Autônoma. Os procedimentos pertinentes ao mesmo geravam registros não confiáveis,
devido à eliminação de possíveis informações ou resultados advindos de outros
programas ou ainda de outras atividades.
A partir da implementação da manutenção autônoma aliada às instruções
operacionais e de produção, considerou-se a confiabilidade dos dados, demonstrando que
através do controle e manutenção dos equipamentos, podem ser controladas com eficácia
as perdas de produção, ficando evidenciado que com este conhecimento é possível
reduzi-las ou elimina-las. Conseqüência disso é o aumento da disponibilidade operacional
e redução dos custos com manutenção, custo com geração de resíduos e tratamento, e
ainda de impactos ambientais, seja na redução, seja na eliminação de geração de resíduos,
tendo em vista a inovação da gestão.
O sistema de capacitação da mão-de-obra, de valorização do funcionário, desde
que passou ao fazer parte de todo o sistema de desenvolvimento, tornou-se também parte
fundamental, pois levou à mudança de comportamentos, de atitude pessoal e profissional,
e propiciou conscientização a respeito da importância da mudança e responsabilidade
individual quanto a ganhos e qualidade de vida.
Constatada a redução sensível em quantidade gerada de resíduo perigoso, o
percentual de 12% da geração anual, significou também menores gastos com transporte
do resíduo, tratamento e disposição e, por conseqüência, menos perda de matéria prima e
menor geração de impacto.
Um simples gesto preventivo como uma troca de lubrificante, por exemplo, pôde
evitar perdas indesejáveis, bem como maior geração de resíduo ou de pequenos
63
incidentes. Portanto, a adoção da manutenção autônoma, baseada em treinamentos para
qualificação e capacitação dos operadores, proporcionou ganhos de produção, saúde,
segurança e melhoria do meio ambiente. Estas informações foram colhidas em quadros e
gráficos indicados por dados históricos e levantamentos estatísticos do setor de gestão da
produção e manutenção da unidade fabril. Tais resultados representam ganhos reais para
o meio ambiente e comunidade em geral, podendo ainda servir de indicativo para que
outras empresas utilizem o sistema de manutenção autônoma com ganhos ambientais.
Assim, faz-se necessária uma atitude sistemática de reconhecimento dos
funcionários, de modo a manter a auto-estima do grupo e o protagonismo na resolução de
problemas. A comunicação é um outro item a ser levado a sério: o ir e vir das
informações desempenha um papel muito importante na busca de resultados e de
direcionamento dos esforços. Informações que façam uso do Diálogo Diário de
Segurança (DDS), passagens de turnos, e-mail e reuniões, devem ser explorados ao
máximo para o trânsito de conhecimentos.
64
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