UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
O DISCURSO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR
ALFABETIZADOR
Lianete Lira Mendes Braga
Orientadora: Profa. Dra. Maria Ester Vieira de Sousa
JOÃO PESSOA
2006
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
O DISCURSO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR
ALFABETIZADOR
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba – Área de Concentração: Linguagem e Ensino, Linha de Pesquisa: Perspectivas Discursivas no Ensino de Língua, para obtenção do grau de Mestra em Letras. Dissertação orientada pela Profa. Dra. Maria Ester Vieira de Sousa.
LIANETE LIRA MENDES BRAGA
JOÃO PESSOA 2006
AGRADECIMENTOS
Aqui quero deixar o meu reconhecimento, o meu MUITO OBRIGADA a todas as
pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização do meu trabalho. Um
agradecimento especial ao nosso Criador, DEUS, pela minha existência e pela missão
que recebi de alfabetizar. Ao meu pai, João Lyra (in memorian) que, onde quer que
esteja, sei que está orgulhoso do meu esforço para vencer, por isso agradeço
imensamente a oportunidade que me proporcionou para estudar. À minha mãe,
companheira de todas as horas, pela paciência que teve de esperar a minha volta. A
Pablo, meu filho amado, pelo carinho, pela força, encorajamento, apoio quando soube
tão bem administrar nossa casa durante a minha ausência. A minha irmã Deda, que com
muita paciência esperou o meu regresso e por tantas coisas mais. À minha querida
sobrinha Aninha. A todos os meus familiares que, direta ou indiretamente, me ajudaram
na conclusão do meu trabalho. Aos meus professores que sempre me incentivaram a
fazer um trabalho dessa natureza. À minha mestra que, de um modo bem especial, me
ensinou a ser uma pesquisadora. Às professoras e aos alunos que fizeram parte desta
pesquisa. À Equipe Técnica da SEDEC, em especial Adriana, que proporcionou a
realização do PROFA na Rede Municipal de Ensino. À minha comadre e amiga Naza,
parceira do meu trabalho, revisora dos meus textos, tenho muito que agradecer. Ao meu
querido afilhado Bruno, pela compreensão que teve quando precisou, em alguns
momentos, dividir comigo o computador À minha amiga Gal, irmã do coração. Às
minhas amigas Neusa e Marli, pelo apoio que me deram. À Cosma, por tudo o que ela
fez para que este trabalho pudesse ser concluído. Ao meu companheiro Harald. Enfim, a
todos os teóricos que participaram do meu processo de aprendizagem. MUITO
OBRIGADA!
“Antes eu achava difícil alfabetizar se não fosse através das famílias silábicas seqüenciadas.
Hoje vejo que isto é possível e a aprendizagem tem mais qualidade é o saber com sabor”.
(Professora (P1) que fez parte da pesquisa)
RESUMO
O nosso envolvimento profissional com a alfabetização e a participação como
formadora do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (PROFA),
desenvolvido na Secretaria de Educação Municipal de João Pessoa (SEDEC), foram as
razões que motivaram este trabalho, o qual tem como objeto de estudo o discurso e a
prática de duas professoras que participaram do PROFA. Para analisar o discurso sobre
o ensino e a aprendizagem, utilizamos dados de pesquisa, realizada durante a
participação dessas professoras no referido Programa. Para analisar a prática, gravamos
dezesseis horas- aula dessas professoras. Com base nos pressupostos teóricos de
Bakhtin, Vygotsky e Ferreiro, objetivamos especificamente investigar o que mudou e o
que não mudou no discurso e na prática dessas professoras em termos da concepção de
ensino, de aprendizagem, de leitura e de escrita e o que essa prática revela em relação
aos conhecimentos adquiridos no PROFA. Do ponto de vista do discurso sobre a
prática, revelado nas Pesquisas Inicial (PI) e Final (PF) do PROFA, observamos que a
Professora (P1) nos revela que houve mudanças conceituais e metodológicas na sua
prática alfabetizadora. No entanto, a Professora (P2) no seu dizer, na PI e PF, nos revela
que não houve mudança conceitual sobre alfabetização e que não houve mudança na sua
prática. Do ponto de vista da prática docente, verificamos, através da análise das aulas
gravadas, que as Professoras desenvolvem atividades de alfabetização com textos,
demonstrando, porém concepções bem diferentes. Uma delas (P1) recupera em sala de
aula a função social do texto; a outra (P2) utiliza o texto para camuflar a metodologia de
ensino em que se sobressai o trabalho com a leitura das famílias silábicas. A interação,
como princípio da construção do discurso e geradora da aprendizagem, (BAKHTIN,
2002 e VYGOSTKY, 1988) está presente na sala da Professora (P1). Porém, na sala da
Professora (P2), ouvíamos o “silêncio”, comprometendo a construção da aprendizagem.
Enfatizamos a importância da intervenção pedagógica para o processo de aprendizagem,
embora a pesquisa nos revele que há ainda inseguranças por parte das professoras. No
geral, os resultados da pesquisa demonstram que, para que haja mudança conceitual no
que concerne à alfabetização, tornando significativa a prática pedagógica do professor
alfabetizador, faz-se necessário que esse professor tenha oportunidade de participar de
cursos de formação continuada que o levem a repensar conceitos pré-estabelecidos,
como fez o PROFA, que, apesar das lacunas verificadas na prática docente, deixou
marcas positivas na Rede Municipal de Educação de João Pessoa.
Vejamos o que as Professoras dizem:
Antes eu achava difícil alfabetizar se não fosse através das famílias silábicas seqüenciadas. Hoje vejo que isto é possível e a aprendizagem tem mais qualidade (...). (PF, p. 6, Anexo B (P1))
(...), em outros cursos que já fiz, recebíamos orientações, tudo pronto. Enquanto o Profa nos fez buscar as informações e orientações necessárias às nossas atividades pedagógicas. (PF, p. 7, Anexo B (P2))
ABSTRACT
Our professional involvement with the teaching and the participation as a former
of the Teachers’ Formation Program (PROFA) developed in João Pessoa’s Municipal
Education Office (SEDEC) were the reasons that motivated this work, whose objective
of study were the speech and the practice of two teachers who had participated in the
PROFA. To analyze the speech on education and learning we use the researches’ data
which was carried out during the participation of these teachers in that program. To
study the practice, we recorded sixteen class hours of these teachers. Based on the
theories of Bakhtin, Vygotsky and Ferreiro we specifically objectify to investigate what
has or hasn’t changed in their speeches and practices in terms of teaching, learning,
reading and writing concepts and what this practice discloses when related to acquired
knowledge from PROFA. From a practice’s speech point of view revealed in the initial
(PI) and final research (PF) of the PROFA, we can observe that the Teacher (P1) shows
that there has been concept and methodological changes in her teaching practice.
However, the Teacher (P2) in her speech, in PI and PF, demonstrates that there has been
neither a conceptual nor practice change. Analyzing the docent practice through
recorded classes analysis, we verified that the teachers develop teaching activities with
texts, although demonstrating different conceptions. One of them (T1) recovers in the
classroom the text’s social function; while the other (T2) uses the text to camouflage the
teaching methodology emphasizing the reading of syllabic families. The interaction as a
principle of speech construction and learning source (BAKHTIN, 2002 and
VYGOTSKY, 1988) is present in the Teacher 1’s classroom. However, in the Teacher
2’s classroom the “silence” compromised the construction of learning. We emphasize
the importance of the pedagogical intervention for the learning process; even though the
research reveals teachers’ insecurities. In general, the research results demonstrate that a
conceptual change is necessary as far as teaching is concerned, making the teachers’
pedagogical practice significant and necessary that the teachers involved in this process
take part in continued formation courses that lead them to think about pre-established
concepts, as PROFA had made, which left positive marks in the João Pessoa’s
Education System even with the gaps verified in the teacher’ practice.
Observe what the teachers say:
Before, I thought it was difficult to teach without using the syllabic families sequence. Now I see that it is possible and that the learning has more quality (…). (PF, p. 6, Anexo B (P1)). (…), in other courses I took, we received instructions, everything ready. Meanwhile, the PROFA made us search for the necessary information and orientation to our pedagogical activities. (PF, p.7, Anexo B (P2)).
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12 1 CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM E DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ........................................................................................................... 19 1.1 CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM NA PERSPECTIVA BAKHTINIANA ... 19 1.2 A CONCEPÇÃO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA
VYGOTSKIANA ............................................................................................. 25 1.3 O PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM DA ESCRITA E DA
LEITURA ......................................................................................................... 33 1.3.1. A criança e a escrita ........................................................................ 40
1.3.2.A criança e a leitura ......................................................................... 43 2 ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA DA PESQUISA .................. 45 2.1 CARACTERIZAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA ................................ 45 2.1.1 O PROFA ........................................................................................... 47 2.1.1.1 Caracterização geral ............................................................. 47 2.1.1.2 Concepção de ensino e de aprendizagem de língua ............. 49 2.1.2 Os sujeitos da pesquisa ....................................................................... 51 2.1.2.1 As professoras ....................................................................... 51 2.1.2.2 Os alunos .............................................................................. 53 2.2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ........................................ 56
3 PRÁTICAS ALFABETIZADORAS: ENTRE O SILÊNCIO E O BARULHO, O TRABALHO DE SUJEITOS .......................................................................... 58
3.1 O BARULHO: A PRÁTICA DA PROFESSORA 1 ...................................... 59 3.1.1 A rotina de sala de aula ........................................................................ 59 3.1.2 A intervenção pedagógica: a interação professor e aluno ................... 68 3.2 O SILÊNCIO: A PRÁTICA DA PROFESSORA 2 ...................................... 90 3.2.1 A rotina de sala de aula ....................................................................... 90 3.2.2 A aula de leitura .................................................................................. 95 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 110 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 115 ANEXOS .................................................................................................................. 124
LEGENDA
(utilizadas na transcrição dos dados)
Nos recortes de sala de aula utilizados para análise, usaremos algumas vezes
trechos isolados e outras vezes trechos imediatamente seguidos. Para estes últimos,
usaremos a legenda (1a), (1b), etc. Com o objetivo de identificar que são alunos
diferentes que falam, usaremos a legenda A1, A2 ..., nos recortes, iremos manter a ordem
estabelecida no corpus como um todo, pois para a análise, é importante identificar o
aluno que fala.
Outras legendas que usaremos:
• P (professor)
• P1 (professora que atua na escola A)
• P2 (professora que atua na escola B)
• A (aluno)
• Axx (fala simultânea de vários alunos)
• T (alunos e professora)
• L1, L2 ... (numeração correspondente às linhas do recorte para facilitar a
referência, durante a análise. No caso dos trechos dos recortes que são
imediatamente seguidos, manteremos a ordem numérica)
• Palavra ou sílaba escrita em maiúscula (ênfase na entonação)
• (+) (pausa breve)
• (++) (pausa mais longa)
• :: (alongamento da vogal)
• (...) (trecho não transcrito)
• (( )) (comentários do analista)
• [ (fala sobreposta)
• / (parada abrupta)
• hífens (silabação da palavra)
• ... (pausa que normalmente o professor faz para ser preenchida pela resposta do
aluno, uma espécie de lacuna).
INTRODUÇÃO
Os dados da pesquisa realizada, em nível nacional, publicados em 2000 pelo
SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) mostraram que a 1ª série concentra,
historicamente, significativos índices de retenção escolar. Atualmente, em todo o Brasil,
a média de aprovação nas primeiras séries situa-se em torno de 60%, revelando a
persistência dos altos índices de retenção nesta série.
A repetência nas primeiras séries está estritamente vinculada a problemas no ensino da leitura e da escrita, baseada em compreensões estreitas e atrasadas da linguagem e dos processos de aprendizagem infantil e ligada a métodos pedagógicos ultrapassados. Além disso, estudos em diversos países confirmam que a alfabetização e a área de linguagem, em geral, ocupam um lugar central na decisão docente no momento de aprovar ou reprovar um aluno. (Revista Pátio, Ano 3, n.º 11, p. 12. Nov / Jan 2000).
De acordo com pesquisa de desempenho, realizada pela SEDEC (Secretaria de
Educação e Cultura do Município de João Pessoa), o rendimento dos alunos da 1ª série
da rede municipal, no ano 2000, apresentou os seguintes resultados: o índice de
aprovação, no diurno, foi de 54,6%; 22,2% reprovados e 23,2% de abandono; no
noturno, a aprovação foi de 27,4%, a reprovação foi de 10,9%, e o abandono foi de
61,7%. (Fonte: Divisão de Planejamento – SEDEC).
Diante deste resultado, a alfabetização passou a ser tema prioritário, tornando-se
destaque em reuniões com a Equipe que compunha a SEDEC no período de 2000 a
2004. Pensava-se em um programa de formação continuada para os professores, cujo
objetivo seria desenvolver um processo pedagógico que enfatizasse o conteúdo
13
alfabetizador na 1ª série do Ensino Fundamental, considerando a sua complexidade e
particularidade como ato gerador da compreensão e do uso da linguagem escrita.
Intitulado por “Somos de Primeira”, esse programa deveria ressignificar o
processo de ensino e aprendizagem nas primeiras séries, promovendo o
acompanhamento sistemático dos professores com vistas a garantir o sucesso dos
alunos. O “Somos de Primeira” compreenderia aspectos relativos ao currículo, ao diário
de classe, à organização do ambiente alfabetizador, ao perfil do professor e sua
formação e ao envolvimento da escola com este Programa.
Enquanto se pensava em como operacionalizar o Programa “Somos de Primeira”,
o MEC (Ministério da Educação), em 2001, lançava o Programa de Formação de
Professores Alfabetizadores (PROFA). Esse Programa foi formulado pela Secretaria de
Ensino Fundamental do Ministério de Educação (MEC), devido à necessidade de
aprofundar, junto aos professores, os conhecimentos teóricos e metodológicos de
alfabetização os quais vêm sendo construídos desde 1980. Tais conhecimentos têm
provocado mudanças significativas nas concepções de aprendizagem e ensino da língua
escrita, sendo configurados como uma mudança de paradigma. Partindo do princípio de
que a teoria sobre a aprendizagem e o ensino da língua escrita disponível não permite
aos professores mudar a sua prática alfabetizadora, é que se justifica a elaboração do
PROFA.1
A aceitação do PROFA, por parte da SEDEC, foi de imediato, uma vez que o
Programa atendia às necessidades da Rede, priorizando a inovação de práticas
pedagógicas que viabilizassem a melhoria do processo de ensino e de aprendizagem.
Uma vez aderido ao Programa, o primeiro passo foi envolver todos os professores
da 1ª série, dos turnos diurno e noturno do quadro permanente da Prefeitura. Para isso, 1 Em capítulo posterior, apresentaremos especificamente a caracterização geral desse Programa, destacando os pressupostos teóricos que norteiam a sua concepção de ensino e de aprendizagem de língua.
14
foi elaborado um documento com o objetivo de ajudar as escolas a se organizarem para
a sua participação no Programa. Durante o período de 02 a 12 de abril de 2001, a
Equipe Técnica da SEDEC, da qual fazíamos parte, visitou todas as escolas, levando o
documento com orientações para a organização devida e as fichas de inscrições para a
efetivação das mesmas.
A participação dos professores no Curso deveria acontecer no turno de trabalho;
daí a necessidade do Técnico também ser inserido no Programa, visto que, além de ser
um mediador que favorece o avanço da prática pedagógica na escola em que atua,
poderia substituir o professor no dia em que este estivesse no curso, dividindo com o
professor de Educação Física a tarefa de trabalhar com os alunos.
Essa substituição ocorreria da seguinte forma: no dia em que o professor da 1ª
série estivesse participando do curso (uma vez por semana), o professor de Educação
Física daria 02 (duas) horas-aula e as outras 02 (duas) horas ficariam a cargo dos
membros da Equipe Técnica que estivessem inseridos no Programa, para atividades
pedagógicas de acompanhamento. Cada escola definiria coletivamente os nomes dos
responsáveis da Equipe Técnica por tal trabalho, considerando o número de turmas de 1ª
série existentes na Escola e o interesse pela participação.
Concluídas as inscrições, foi dado o segundo passo: a organização dos grupos,
realizada no período de 17 a 20 de abril de 2001. Foram formados 08 (oito) grupos: 04
(quatro) pela manhã, 03 (três) à tarde e 01 (um) à noite. A coordenação de um desses
grupos foi assumida pela pesquisadora.
Demos início ao trabalho em maio de 2001, com um total de 230 cursistas
distribuídos em 16 grupos, sob a coordenação de 09 formadores. No quadro abaixo,
apresentamos o número total de cursistas por função:
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Quadro 1: CURSISTAS DO PROFA - 2001
ANO: 2001 FUNÇÃO Nº DE CURSISTAS Professor 165 Psicólogo 12 Orientador 16 Supervisor 27 Assistente Social 10
FONTE: SEDEC
Alguns cursistas evadiram-se, por razões diversas. Uma delas diz respeito à falta
de conhecimento prévio em relação aos temas abordados, para a compreensão dos
textos. Um curso de aprofundamento, como é o PROFA, exige no mínimo o
conhecimento de noções básicas a respeito da Psicogênese da língua escrita.
Dois outros grupos foram formados em maio de 2002, com um total de 28
cursistas, como mostra a tabela abaixo, dos quais, mais uma vez, um teve a coordenação
assumida pela pesquisadora.
Quadro 2: CURSISTAS DO PROFA - 2002
ANO: 2002 FUNÇÃO Nº DE CURSISTAS Professor 16 Psicólogo 03 Orientador - Supervisor 06 Assistente Social 03
FONTE: SEDEC
Em 2003, mais seis grupos foram formados, um dos quais, novamente, ficou sob a
coordenação da pesquisadora. Esses grupos eram formados por um total de 34 cursistas,
como apresenta a tabela abaixo:
16
Quadro 3: CURSISTAS DO PROFA - 2003
ANO: 2003 FUNÇÃO Nº DE CURSISTAS Professor 28 Psicólogo 02 Orientador 01 Supervisor - Assistente Social 01 Diretor Adjunto 01 Técnico do Laboratório de Informática 01
FONTE SEDEC
Assim sendo, no período compreendido entre 2001 e 2004, foram atendidos pelo
Programa um total de 292 cursistas.
Em 2001, estavam inseridas no Programa oitenta e seis escolas. Em 2002, em
virtude da criação de uma nova escola e da inserção de duas outras, que não estavam
participando no ano anterior, passaram a ser atendidas oitenta e nove escolas. Portanto,
participaram do PROFA, durante esses quatro anos, todas as escolas da Rede Municipal
que atendem à 1ª série do Ensino Fundamental, embora não tenhamos conseguido
atender a todas as turmas.
A nossa participação na Equipe Técnica da SEDEC, o nosso antigo envolvimento
profissional com a alfabetização e a participação como formadora do PROFA, nos
motivaram à realização de uma pesquisa que pudesse refletir acerca da prática docente
dos participantes do PROFA. Partíamos da hipótese de que a participação dos
professores nesse programa de formação não alterou significativamente a sua prática,
embora eles tenham se apropriado do vocabulário próprio daquele Programa. Essa
hipótese advinha de observações assistemáticas que realizávamos nas visitas às escolas
na condição de integrante da equipe técnica da Secretária de Educação.
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Com o objetivo principal de verificar essa hipótese, gravamos em duas escolas da
Rede Municipal de Ensino de João Pessoa dezesseis horas-aula, sendo que oito em cada
turma, distribuídas em dois encontros para cada uma. Em cada encontro foram gravadas
quatro horas-aula seguidas. Na turma da P2, os encontros foram seguidos, ou seja, dois
dias consecutivos e a turma da P1 os encontros foram intercalados por um dia (feriado).
As duas professoras, informantes dessa pesquisa – cuja escolha será oportunamente
justificada – participaram do PROFA. Do ponto de vista da análise dos dados de sala de
aula, especificamente, o nosso objetivo é investigar e avaliar o que mudou e o que não
mudou, no discurso e na prática do professor, em termos de concepção de linguagem e
de ensino e aprendizagem de língua.
Para analisar o que diz o professor sobre sua prática de sala de aula antes e depois
do PROFA, utilizaremos dados desse próprio Programa. Com o objetivo de colher
informações sobre o trabalho de alfabetização, constam do Programa dois questionários
para os cursistas: o primeiro, denominado de Pesquisa Inicial (PI), para ser respondido
antes da participação no PROFA, e o segundo, de Pesquisa Final (PF), para ser
respondido ao término do Curso (Vide Anexos A e B). Recorreremos, então, aos dados
dessas pesquisas para analisar o discurso das professoras sobre suas práticas. Para a
análise da prática docente, recorreremos aos dados obtidos na gravação de aulas das
duas professoras.
Passemos à apresentação da estrutura geral desse trabalho. No primeiro capítulo,
apresentaremos as teorias que embasam nossa pesquisa: a concepção de linguagem na
perspectiva bakhtiniana, a concepção de ensino e de aprendizagem na perspectiva
vygotskiana e o processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, numa
perspectiva sócio-interacionista. No segundo capítulo, trataremos da metodologia da
pesquisa, momento em que descreveremos o corpus em estudo, partindo para a
18
caracterização dos dados, mais especificamente, no que diz respeito ao PROFA, aos
sujeitos da pesquisa e à análise e interpretação dos dados. O terceiro capítulo será
dedicado especificamente à análise e interpretação dos dados, momento em que
pretendemos articular o discurso da prática – a partir da análise das gravações de sala de
aula – com o discurso sobre a prática – a partir dos dados obtidos nas Pesquisas Inicial e
Final, durante a realização do PROFA. Por fim, apresentaremos a conclusão de nosso
trabalho.
19
1 CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM E DE ENSINO E
APRENDIZAGEM DE LÍNGUA
1.1 A CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM NA PERSPECTIVA
BAKHTINIANA
Nas últimas décadas do século XX, os estudos de linguagem passaram a ser
influenciados pelas reflexões de Bakhtin sobre a concepção de texto como objeto das
ciências humanas e sobre o seu princípio dialógico. A noção de interação verbal entre os
sujeitos e entre os discursos constitui a fundamentação básica de sua concepção de
linguagem.
De acordo com Bakhtin ([1929] 2002), para observar o fenômeno da linguagem, é
preciso situar os sujeitos no meio social: tanto o locutor como o ouvinte devem
pertencer à mesma comunidade lingüística para que a fala se torne um fato de
linguagem, ou seja, para que se produza um ato de fala: “Qualquer que seja o aspecto da
expressão-enunciação considerado, ele será determinado pelas condições reais da
enunciação em questão, isto é, antes de tudo pela situação social mais imediata”. (ibid,
p. 112) (grifo do autor). Esse autor (2002) definiu enunciação como um produto da
interação social, ou seja, como resultado da interação entre dois indivíduos socialmente
organizados. E interação, para o referido autor, inclui o exterior como participante da
produção de sentidos.
Bakhtin ([1929] 2002, p. 113), afirma que a palavra é “(...) o produto da interação
do locutor e do ouvinte”. (grifo do autor). O referido autor diz que é através da palavra
20
que o sujeito define-se em relação ao outro e em relação à coletividade. É nesse sentido
que Sousa (2001, p. 121) diz que “(...) o conceito bakhtiniano de interação verbal
contempla não apenas a presença ativa e constitutiva dos participantes da interação, mas
o contexto social de atuação desses participantes”.
Segundo Brait e Melo (2005, p. 65), também baseada em Bakhtin, “(...) a
linguagem é concebida de um ponto de vista histórico, cultural e social que inclui, para
efeito de compreensão e análise, a comunicação efetiva e os sujeitos e discursos nela
envolvidos”.
De acordo com Geraldi (2003), a linguagem tem fundamental importância no
desenvolvimento do ser humano. Além de ser um instrumento de comunicação, é
instrumento básico para a apreensão de conceitos, permitindo aos sujeitos a
compreensão do mundo e sua ação sobre ele. Linguagem, portanto, é um modo de ação
social e, nesse sentido, é lugar de conflito, de confronto ideológico em que a
significação se apresenta em toda a sua complexidade.
A partir da teoria Bakhtiniana, pode-se depreender que o sujeito é constituído
na interação com os outros. Disso também resulta a compreensão de que o
conhecimento e a consciência estão sempre inacabados. A consciência não se forma do
interior para o exterior, mas do exterior para o interior de forma contínua. É um
processo ininterrupto, que se forma e se manifesta através da linguagem. A
internalização da linguagem pelo sujeito faz com que ele se constitua como um ser
social; a linguagem é resultado de uma construção social-histórica, constituída a partir
da relação do sujeito consigo mesmo, proporcionando a formação de sua identidade
subjetiva, e da relação desse sujeito com o outro, o que ocasiona a inserção dessa
identidade no plano relacional, dando-lhe sentido.
21
No dizer de Sobral (2005, p. 105), “(...) os diferentes elementos que
constituem (...) a identidade estão em permanente tensão, em constante articulação
dialógica, em permanente negociação de formas de composição (...)” estabelecendo as
relações sociais na vida do sujeito.
Bakhtin ([1979] 2002, p. 132) enfatiza a situação social e os participantes mais
imediatos como determinantes da forma e do estilo da enunciação, pelo qual a
significação se realiza. Para ele a significação “(...) é o efeito da interação do locutor e
do receptor produzido através do material de um determinado complexo sonoro”. Em
outras palavras, não é possível separar a significação da situação concreta em que se
realiza: a palavra como tal não tem significação, é apenas um sinal, o qual é conceituado
por Bakhtin (ibid: 93) como um instrumento técnico para designar objetos e
acontecimentos, cujo conteúdo é imutável. E acrescenta: o sinal “(...) não pode
substituir, nem refletir, nem refratar nada (...)”. E em outro momento afirma (ibid: 132):
“(...) a significação pertence a uma palavra enquanto traço de união entre interlocutores,
isto é, ela só se realiza no processo de compreensão ativa e responsiva”.
Nessa perspectiva, afirma Brandão (2002, p. 10), Bakhtin considera a palavra
como um excelente signo ideológico, por ser um produto da interação social, sendo
caracterizada pela plurivalência. Para Bakhtin (2002, p. 130), “A multiplicidade das
significações é o índice que faz de uma palavra uma palavra”. Isso não quer dizer que o
sentido da palavra pode ser qualquer um, mas que pode haver mais de um sentido para
ela.
Brandão (2002, p. 12) reafirma essa posição, quando concebe que a linguagem é o
produto da criação ideológica; não há neutralidade na linguagem como discurso, “(...) a
linguagem é lugar de conflito, de confronto ideológico, não podendo ser estudada fora
da sociedade uma vez que os processos que a constituem são histórico-sociais”.
22
Portanto, a linguagem é interação social, e como tal, perpassa e é perpassada pela
ideologia, uma vez que é o modo de produção social e elemento mediador entre o
homem e sua realidade.
Segundo Bakhtin (2002), tudo que é ideológico é um signo, em outras palavras,
um produto ideológico pertence a uma realidade, quer seja natural ou social, podendo
ser o corpo físico, instrumento de produção ou produto de consumo, quando estes
refletem e refratam uma realidade que lhes é exterior. Ocorre que um corpo físico como
tal não tem nenhum significado (é o sinal), portanto, não é ideológico. Mas o objeto
físico pode ser transformado em signo, “(...) sem deixar de fazer parte da realidade
material, passa a refletir e a refratar, numa certa medida, uma outra realidade”,
acrescenta Bakhtin (ibid: 32).
O referido autor (ibid: 32) explica exemplificando:
Qualquer produto de consumo pode, da mesma forma, ser transformado em signo ideológico. O pão e o vinho, por exemplo, tornam-se símbolos religiosos no sacramento cristão da comunhão. Mas o produto de consumo enquanto tal não é, de maneira alguma, um signo.
Em outras palavras, o autor ressalta que o objeto em si não se reveste de
significado a menos que faça parte de um contexto, o que o leva a fazer parte de uma
realidade, tornando-o compreensível, caracterizando-se assim em signo. Portanto, a
comunicação efetiva na linguagem se dá quando o sinal é completamente absorvido
pelo signo e o reconhecimento pela compreensão.
Falar em compreensão para Bakhtin significa remeter para uma outra noção
inseparável da sua teoria, a noção de dialogia. Na perspectiva do dialogismo de Bakhtin,
23
há duas perspectivas de dialogização do discurso. Uma delas é o diálogo entre
interlocutores, o qual já foi anteriormente falado, onde a interação é a peça chave.
Tomando como base a interação entre os sujeitos, o sentido do texto e a significação das
palavras dependem da relação entre eles. É nessa relação que os sujeitos se constroem.
Brandão (2002: 62) afirma: “O sujeito só constrói sua identidade na interação com o
outro. E o espaço desta interação é o texto”.
A outra noção de dialogização, apontada por Bakhtin, remete para o diálogo entre
discursos, ou seja, o discurso mantém relações com outros discursos. Não existe um
discurso criado por si só; o “já dito” sempre está presente. Desse modo, não há
originalidade (no sentido de discurso nunca dito) entre os discursos, pois as falas se dão
sempre a partir de outras já existentes (o “já dito”) as quais são base para outros
discursos.
Na perspectiva da teoria bakhtiniana, o “já dito” pode se manifestar de duas
maneiras. Uma é quando no discurso produzido estão presentes, de forma marcada,
outros discursos, o qual é denominado texto polifônico. A outra maneira acontece
quando, no discurso produzido, os outros discursos se “escondem”, não sendo
marcados, aparentando ser um discurso único, monofônico.
Retomando um raciocínio semelhante ao de Bakhtin, Orlandi (2001, p. 87)
defende que o texto não é uma unidade fechada, e sim um processo que é desenvolvido
de múltiplas formas, em uma dada situação social. O texto tem relação com outros
textos, com suas condições de produção e com a exterioridade constitutiva.
Segundo Orlandi (2002), as condições de produção do discurso são,
fundamentalmente, os sujeitos e a situação, as quais podem ser consideradas, em sentido
estrito – as circunstâncias da enunciação, o contexto imediato; e em sentido amplo – o
contexto sócio-histórico e ideológico. De acordo com a referida autora (2002, p. 31), é o
24
contexto amplo “(...) que traz para a consideração dos efeitos de sentidos elementos que
derivam da forma de nossa sociedade (...)”. Ou seja, além de tomar como elementos
principais para a produção do discurso, os sujeitos e a situação, Orlandi também
enfatiza o “contexto amplo” o qual engloba o social-histórico e ideológico, que é
essencialmente revestido de fortes idéias representativas de um determinado grupo
social, para o qual as mais simples mudanças têm interferência direta na produção desse
discurso.
Essa concepção de linguagem como interação social e a noção de dialogismo
serão fundamentais para a nossa análise, tendo em vista que estaremos analisando a
prática docente em relação à formação do professor e o que este diz sobre a sua prática.
Nesse sentido, consideraremos, para a análise, a existência de um já-dito sobre o ensino
e sobre a aprendizagem ao qual estaremos recorrendo. A seguir, explicitaremos a
perspectiva teórica – portanto, um dos já-ditos – a partir da qual estaremos considerando
o processo de ensino e de aprendizagem de língua.
25
1.2 A CONCEPÇÃO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM NA
PERSPECTIVA VYGOTSKIANA
A concepção de linguagem de Bakhtin, centrada no fenômeno histórico-social,
construída através da interação entre os interlocutores, tem relação com a teoria de
Vygotsky cujo enfoque é também o sócio-histórico, quando ele diz que a apropriação do
conhecimento historicamente construído, no nosso caso a língua escrita, se dá através da
interação social por meio da linguagem. Ambas as teorias enfatizam o signo, de modo
especial o discurso, na constituição da atividade mental. Assim como acreditam que o
conhecimento é formado do exterior para o interior. Partindo dessa premissa,
esboçaremos alguns conceitos básicos da teoria de Vygotsky relevantes na prática
pedagógica.
Comecemos observando como esse autor concebe a formação, do ponto de vista da
constituição da atividade mental, do próprio sujeito. Vejamos que o referido autor
(1988, p. 27) enfatiza a importância da fala para o desenvolvimento e a aprendizagem:
Antes de controlar o próprio comportamento, a criança começa a controlar o ambiente com a ajuda da fala. Isso produz novas relações com o ambiente, além de uma nova organização do próprio comportamento. A criação dessas formas caracteristicamente humanas de comportamento produz, mais tarde, o intelecto, e constitui a base do trabalho produtivo: a forma especificamente humana do uso de instrumentos.
26
A fala modifica a qualidade do conhecimento que se tem do mundo em que se
encontra. A palavra cria novas modalidades de atenção, memória e imaginação. De
acordo com Borges (1998, p. 25), “Vygotsky demonstrou em suas pesquisas que a
linguagem, sendo o sistema simbólico básico dos grupos humanos, possui um papel
fundamental no desenvolvimento do pensamento”.
Segundo Fontana e Cruz (1997. p. 61), para Vygotsky é na “(...) relação com o
outro que a criança vai se apropriando das significações socialmente construídas”.
Portanto, é a partir das relações com o outro que a criança vai reconstruindo
internamente as formas culturais de ação e pensamento. A esse processo Vygotsky
denominou de internalização. A trajetória do processo de internalização parte da
atividade social para a atividade individual, ou seja, “de fora para dentro”. De acordo
com Vygotsky (1988, p. 64):
Uma operação que inicialmente representa uma atividade externa é reconstruída e começa a ocorrer internamente. (...) Um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal. (...) A transformação de um processo interpessoal num processo intrapessoal é o resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento. (Grifo do autor)
Freitas (2004: 93), explica:
O processo de internalização é eminentemente dialógico, porque aquilo que eu internalizo, o intrapsicológico, só acontece a partir de uma interação, do interpsicológico, portanto, sendo indispensável o papel do outro. O material a ser apreendido é colocado externamente pelo professor (processo interpessoal) e o aluno apropria-se do conhecimento, dá-lhe um significado próprio a partir de sua experiência anterior e reconstrói, interna e individualmente, a operação (processo intrapessoal).
27
Smolka (1991, p. 54) diz que, para Vygotsky, “(...) todas as funções mentais
especificamente humanas têm origem social, isto é, aparecem primeiro em indivíduos –
intermentalmente – e, depois, no indivíduo – intramentalmente”. Acrescenta ainda
Smolka (1991, p. 54) que o referido autor “(...) ressalta o caráter e a função de mediação
do signo, especialmente a palavra, indicando relações entre a organização social do
comportamento e a organização individual do pensamento”. Todos os estudiosos que se
referem aos estudos de Vygotsky destacam a importância que esse autor atribui ao
signo, a palavra por excelência, no processo de inteligência.
De acordo com Vygotsky (1988), a mediação na interação homem-ambiente se dá
pelo uso de instrumentos e signos, desenvolvidos em gerações precedentes. Fontana e
Cruz (1997, p. 58), baseados em Vygotsky, consideram instrumento como “(...) tudo
aquilo que se interpõe entre o homem e o ambiente, ampliando e modificando sua forma
de ação”. Ainda segundo os referidos autores (ibid, p. 59), para Vygotsky, “(...) tudo o
que é utilizado pelo homem para representar, evocar ou tornar presente o que está
ausente constitui um signo: a palavra, o desenho, os símbolos (...)”
Vejamos essa idéia no próprio autor:
Os sistemas de signos (a linguagem, a escrita, o sistema de números), assim como o sistema de instrumentos, são criados pelas sociedades ao longo do curso da história humana e mudam a forma social e o nível de seu desenvolvimento cultural. (VYGOTSKY,1988, p. 8)
Para Vygotsky (1988), aprendizagem e desenvolvimento são processos inter-
relacionados desde o início da vida humana. Nesse sentido, acrescenta que “(...) o
mecanismo de mudança individual ao longo do desenvolvimento tem sua raiz na
sociedade e na cultura” (VYGOTSKY, 1998, p. 8). A criança nasce dotada apenas de
28
funções psicológicas elementares (básicas) como o reflexo e a atenção involuntária; é
através da interação com o outro que essas funções se transformam em funções
psicológicas superiores (consciência, planejamento e deliberação). Segundo Fontana e
Cruz (1997, p. 63), “(...) Vygotsky considera que esses dois processos caminham juntos
desde o primeiro dia da vida da criança e que o primeiro – o aprendizado – suscita e
impulsiona o segundo – desenvolvimento”.
Entre as contribuições de Vygotsky em relação à aprendizagem, destaca-se o
conceito de zona de desenvolvimento proximal. O referido autor (1998, p. 97) conceitua
a zona de desenvolvimento proximal como:
(...) a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (Grifo do autor).
Dito em outras palavras, entre o nível de desenvolvimento real (aquele em que a
criança consegue solucionar o “problema” – os modos de agir e de pensar – sem a ajuda
do outro) e o nível de desenvolvimento potencial (quando a criança precisa da ajuda do
outro para resolver o “problema”), localiza-se a zona de desenvolvimento proximal. A
zona de desenvolvimento proximal, portanto, diz respeito à distância entre o que a
criança já sabe e aquilo que ela pode vir, a saber, com a mediação do outro.
O conceito da zona de desenvolvimento proximal é de tamanha importância para
a prática pedagógica que, quando o professor a reconhece, pode desenvolver atividades
para a promoção da aprendizagem. Freitas (2004, p. 99), confirma quando diz que: “A
zona de desenvolvimento proximal provê, portanto, os educadores de um instrumento
29
por meio do qual pode ser feito o diagnóstico do curso interno do desenvolvimento,
permitindo pensar prospectivamente em função do futuro da criança”.
A escola é a instituição em que a aprendizagem é um processo deliberado,
intencional e a intervenção pedagógica é um mecanismo privilegiado para promover o
aprendizado. Em relação à prática pedagógica, Oliveira (1995, p. 60) defende que “(...)
o papel explícito do professor de provocar nos alunos avanços que não ocorreriam
espontaneamente consiste exatamente em uma interferência na zona de
desenvolvimento proximal dos alunos”. No dizer de Vygotsky (1998, p. 96),
(...) a criança resolve o problema depois de fornecermos pistas ou mostrarmos como o problema pode ser solucionado, ou se o professor inicia a solução e a criança a completa, ou ainda, se ela resolve o problema em colaboração com outras crianças (...).
Portanto, a intervenção pedagógica se dá através do fornecimento de pistas,
assistência, instruções.
Outro aspecto importante na teoria de Vygotsky diz respeito ao papel da cultura.
Conforme já afirmamos, para o referido autor (ibid, p. 8), “(...) o mecanismo de
mudança individual ao longo do desenvolvimento tem sua raiz na sociedade e na
cultura”. A criança vai se apropriando das significações construídas socialmente. É o
grupo social, através da linguagem e das significações que, de acordo com Fontana e
Cruz (1997, p. 61), “(...) possibilita o acesso a formas culturais de perceber e estruturar
a realidade”.
30
Segundo Smolka (1991, p. 54),
Vygotsky aponta a possibilidade de se considerar o desenvolvimento mental como processo de apropriação e elaboração de cultura, no sentido de que as funções psicológicas superiores são transformações internalizadas de modos sociais e interação – incluindo artefatos culturais (instrumentos técnicos) e formas de ação e signos (instrumental psicológico).
A escrita, que é um objeto cultural, por excelência, fruto da construção social, tem
o seu ensino na escola ainda tratado como técnica, de forma que as crianças não
compreendem as funções da língua escrita na sociedade. Vygotsky (1988, p. 119) já
chamava a atenção para essa questão. Vejamos:
Até agora, a escrita ocupou um lugar muito estreito na prática escolar, em relação ao papel fundamental que ela desempenha no desenvolvimento cultural da criança. Ensina-se as crianças a desenhar letras e construir palavras com elas, mas não se ensina a linguagem escrita. Enfatiza-se de tal forma a mecânica de ler o que está escrito que acaba-se obscurecendo a linguagem escrita como tal.
Na verdade, considerar a “linguagem escrita como tal” significa reconhecer a
função social da escrita, reconhecer o seu papel para o enriquecimento cultural da
humanidade como um todo e, em especial, da criança em fase de aprendizagem.
Contudo, de acordo com o referido autor (ibid, p. 119), o ensino da escrita se dá através
de treino artificial, ou seja, “(...) relegando a linguagem escrita viva a segundo plano”.
No lugar de ser fundamentada nas necessidades desenvolvidas naturalmente pelas
crianças, “(...) a escrita lhes é imposta de fora, vinda das mãos dos professores”.
31
Segundo Vygotsky (ibid, p. 120), a escrita é um sistema particular de símbolos e
signos, sua dominação anuncia com antecedência “(...) um ponto crítico em todo o
desenvolvimento cultural da criança”. No que diz respeito ao processo de aquisição da
língua escrita, Vygotsky e Luria trabalharam sobre esse tema, contudo, foi Luria quem
ficou responsável pelos experimentos. De acordo com Oliveira (1995, p. 64), apesar da
pesquisa de Luria ter acontecido aproximadamente cinqüenta anos antes da pesquisa de
Ferreiro, existem semelhanças entre elas. Uma delas é a concepção de que a escrita não
é um código de transcrição da fala e sim de representação. Nos experimentos de Luria
(VYGOTSKY, 1988, p. 128-129), “(...) ficou absolutamente clara a tendência, por parte
das crianças em idade escolar, de mudar de uma escrita puramente pictográfica para
uma escrita ideográfica2, onde as relações e significados individuais são representados
através de sinais simbólicos abstratos”.
De acordo com Vygotsky (1988, p. 94), o processo de aprendizagem “(...) das
crianças começa muito antes delas freqüentarem a escola. Qualquer situação de
aprendizado com a qual a criança se defronta na escola tem sempre uma história
prévia”. No caso da escrita, a criança que vive em uma cultura letrada interage, nos
diversos contextos sociais escritos, os quais lhe possibilitam o desenvolvimento de
concepções sobre esse objeto cultural.
Segundo Oliveira (1995, p. 67), a pesquisa de Luria, tendo como base a
abordagem de Vygotsky, “(...) se voltou especialmente para a chamada pré-história da
escrita, e sua proposta para a seqüência de fases de aquisição da escrita pela criança na
verdade termina onde começa o processo de alfabetização propriamente dito”.
2 Na escrita pictográfica, a criança não faz distinção entre desenho e letra. Já na escrita ideográfica, ela faz esta distinção usando símbolos, para representar palavras, que se diferenciam do desenho.
32
Ainda de acordo com a referida autora (1995, p. 67), fazendo um paralelo com a
teoria de Ferreiro, o trabalho de Luria diz respeito à hipótese de escrita pré-silábica, a
qual a criança ainda não faz uso do valor sonoro da palavra, ou seja, ainda “(...) está
operando na construção da compreensão da utilidade e das funções da escrita. Quando a
criança ingressa na fase silábica proposta por Ferreiro, ela já está além das
considerações de Luria.”
Outra questão importante, colocada por Vygotsky e Luria (1988, p. 133), é em
relação ao fato de que “(...) o ensino tem de ser organizado de forma que a leitura e a
escrita se tornem necessárias para as crianças”. É preciso que elas encontrem sentido na
escrita. Eles afirmam: “(...) o que se deve fazer é ensinar às crianças a linguagem
escrita, e não apenas a escrita das letras”. Para os referidos autores (1988, p. 134), “(...)
é necessário que as letras se tornem elementos da vida das crianças (...)”, ou seja, para
aprender a ler e escrever é necessário fazer uso social da escrita na sala de aula. Smolka
(1998, p. 38) completa: “(...) a escrita, sem função explícita na escola, perde o sentido:
não suscita, e até faz desaparecer o desejo de ler e escrever”.
Defendemos que uma concepção de escrita já se encontra pressuposta numa
concepção de linguagem e de ensino e de aprendizagem. Por isso, teceremos, no item a
seguir, algumas considerações mais específicas acerca dessa questão.
33
1.3 O PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM DA ESCRITA
E DA LEITURA
Por trás de cada pedagogia de qualquer professor, existem teorias, concepções e
idéias embasando sua prática, mesmo que ele não tenha consciência delas. Portanto, faz-
se necessário estabelecermos uma discussão acerca da concepção de ensino e de
aprendizagem de língua, principalmente, resgatando a perspectiva teórica na qual
acreditamos que, direta ou indiretamente, fundamenta o Programa de Formação de
Professores Alfabetizadores (PROFA).
De acordo com Weisz (2000, p. 55), para compreender a prática do professor é
preciso analisá-la de acordo com os seguintes aspectos:
- qual a concepção que o professor tem, e que se expressa em seus atos, do conteúdo que ele espera que o aluno aprenda; - qual a concepção que o professor tem, e que se expressa em seus atos, do processo de aprendizagem, isto é, dos caminhos pelos quais a aprendizagem acontece; - qual a concepção que o professor tem, e que se expressa em seus atos, de como deve ser o ensino.
Isso significa que, na sua prática, o professor age sempre de acordo com as idéias
e concepções que nortearam a sua formação ao longo de todo o processo, porém,
dificilmente, ele tem a consciência de qual teoria sua prática tem como base.
Em relação às teorias da aprendizagem, percebe-se que nossa educação escolar, de
maneira geral, ainda tem como base a teoria empirista, para a qual a aprendizagem
acontece pela repetição, pela memorização; o saber pertence ao professor que transmite
34
as informações e o aluno é um sujeito passivo cujo único direito é o de “engolir” os
conteúdos passados pelo professor.
Segundo Azenha (1995, p. 19-20), o empirismo consiste em que a experiência
exterior define o funcionamento da mente, “(...) dessa forma, ‘os estímulos’ externos
seriam os únicos fatores responsáveis pelo desenvolvimento mental e pelos conteúdos
resultantes das reações ou respostas a eles”. Fontana e Cruz (1997, p. 25), com base em
Watson, definem estímulo como: “(...) toda modificação do ambiente que pode ser
captada pelo organismo por meio dos sentidos”.
Partindo dos princípios da teoria empirista, o conhecimento é o resultado da
incorporação de informações, acumuladas ao longo do tempo. No que diz respeito à
alfabetização, a mesma também é vista como um processo cumulativo; os
conhecimentos são passados pouco a pouco, do mais simples (aos olhos dos adultos) ao
mais complexo, ou seja, o professor começa a ensinar letras, depois sílabas, em seguida
as “frases” e finalmente os “textos”.
De acordo com Manacorda (2004) esta concepção de alfabetização como ensino
do traçado da letra e da técnica de oralização do texto, que ainda hoje prevalece, tem sua
origem no antigo Egito em que o elemento preponderante da escrita era a habilidade
manual. A ênfase na técnica manual do escriba identificava o seu caráter profissional. A
aprendizagem da leitura acontecia pela repetição do texto de uma leitura feita por outra
pessoa; não existia a leitura silenciosa, feita com os olhos e sim com a “boca” em voz
alta.
Segundo o referido autor, na Grécia, a escrita, que até então não era conteúdo da
escola, e sim o meio para aprender os ensinamentos, passou a sê-lo com a
democratização da comunicação e da educação. Portanto, com a escrita alfabética, nasce
a escola da escrita. Surge um novo mestre, o da letra do alfabeto, chamado de
35
“grammatistés”, exercendo um importante papel social, contudo, não tendo a
autoridade do escriba egípcio.
Manacorda (2004, p. 54) refere-se à metodologia do ensino da escrita alfabética,
situando-a no século I a.C.: primeiro se aprendia os nomes das letras, depois as suas
escritas, em seguida as sílabas. A leitura e a escrita eram feitas sílaba por sílaba. Método
este, de acordo com o referido autor, “(...) destinado a durar por milênios”.
Em 169 a.C. surgiu a escola de nível mais elevado (gramática e retórica), que
“(...) não se tratava mais só de aprender as letras do alfabeto (...) e sim de aprender a
gramática”. (MANACORDA, 2004, p. 81). No início, o termo gramática (termo grego)
era empregado apenas à arte de ler e escrever. A aprendizagem da leitura e da escrita (o
bê-á-bá) era chamada de 1ª literatura e a gramática foi chamada de literatura. Mais
tarde, com a ampliação do ensino, os termos literatura e gramática passaram a ter o
significado atual. Porém, a didática continuava sendo a repetição; a memória, a rainha
da escola. Portanto, a aprendizagem da escrita continuava a mesma, seguindo um
método excessivamente mecânico. Os alunos escreviam as letras de acordo com os
modelos, feitos pelo mestre.
Ainda seguindo Manacorda (2004, p. 123), verificamos que, na idade Média, o
ensino da escrita continua o mesmo “(...) aprendizagem mnemônica dos nomes das
letras (...) para passar depois à formação das sílabas (...), antes de chegar à leitura dos
textos”. (ibid, p. 123).
O modo de leitura também continuava o mesmo, em voz alta. Apesar da leitura
silenciosa começar a existir, não na concepção que temos hoje, era uma leitura feita
baixinho com a articulação da língua, ‘(...) a língua se move em silêncio’.
(MANACORDA, 2004, p. 120).
36
De maneira geral, podemos dizer que, ao longo dos tempos, desde os primórdios
da escrita até os dias de hoje, a metodologia que predomina no ensino da leitura e da
escrita tem o respaldo da teoria empirista, ou seja, baseada na repetição mnemônica.
De acordo com a concepção empirista, segundo Smolka (1988: 17), a escrita é
vista como:
(...) uma complicada habilidade motora a ser desenvolvida, e as preocupações se encontram voltadas para os ‘pré-requisitos da alfabetização’, apoiando-se nas noções da ‘maturidade’ e na aquisição dos ‘mecanismo de base’ como coordenação motora, lateralidade e outros.
Dessa forma, a escrita é concebida como uma atividade mecânica, em que ao
sujeito basta repetir, memorizar as informações recebidas para “aprender”. Em outras
palavras, as atividades são realizadas sem que haja uma reflexão a partir do objeto de
estudo, sem que se estabeleçam relações com outros conteúdos, tendo como
conseqüência a falta de compreensão a respeito do que é feito.
De acordo com Weisz (2000, p. 58), o processo de ensino (e de aprendizagem,
acrescentaríamos) tem como características a memorização “pura e simples” das
famílias silábicas e a utilização dessa “memorização de curto prazo” para o
reconhecimento destas “famílias”. São práticas pedagógicas pautadas em uma
concepção de leitura, em que se acredita que primeiro o aluno aprende a decodificar
para posteriormente adquirir uma leitura com compreensão, conclui a referida autora.
Atualmente a concepção que ainda predomina sobre o ensino da língua portuguesa
é a de que primeiro se alfabetiza, para depois começar o estudo da língua propriamente
dita. De acordo com Ferreiro (2002, p. 13), a escola continua tentando alfabetizar
ensinando uma técnica:
37
(...) técnica do traçado das letras, por um lado, e técnica da correta oralização do texto, por outro. Só depois de dominada a técnica é que surgiriam, como num passe de mágica, a leitura expressiva (resultado da compreensão) e a escrita eficaz (resultado de uma técnica posta a serviço das intenções do produtor).
Ou seja, primeiro o aluno aprende a codificar e decodificar, para posteriormente
aprender a escrever e a ler, atribuindo sentido ao texto.
Nossa pesquisa, diferente da perspectiva empírica à qual anteriormente nos
referimos, tem como embasamento a concepção sócio-interacionista de ensino e de
aprendizagem, em que o aluno é um sujeito interativo que: reflete, infere, estabelece
relações, compreende informações, enfim, constrói o seu próprio conhecimento.
O pressuposto teórico em que se baseia Ferreiro (1985) é fundamentado na
psicologia genética piagetiana que parte do princípio de que a criança é um ser ativo na
construção do seu próprio conhecimento. Ferreiro e Teberosky (1985, p. 26) afirmam
que:
(...) o sujeito cognoscente, o sujeito que a teoria de Piaget nos ensinou a descobrir (...) é um sujeito que procura ativamente compreender o mundo que o rodeia, e trata de resolver as questões que este mundo provoca. Não é um sujeito que espera que alguém que possua um conhecimento o transmita a ele, por um ato de benevolência. É um sujeito que aprende basicamente através de suas próprias ações sobre os objetivos do mundo, e que constrói suas próprias categorias do pensamento ao mesmo tempo em que organiza seu mundo.
Portanto, partindo da concepção de que a criança é um ser ativo, Smolka (1988, p.
50) salienta que Ferreiro e Teberosky “(...) indicam a importância de se compreender a
lógica interna das progressões das noções infantis sobre a escrita, mostrando que as
38
crianças exigem de si mesmas uma coerência rigorosa no processo de construção do
conhecimento”.
Ainda de acordo com Smolka (ibid, p. 50), as referidas autoras, observando o
esforço que as crianças fazem para compreenderem o sistema da escrita, tornaram
evidente o que denominaram de conflito cognitivo no processo de construção do
conhecimento sobre a escrita. “Nesse processo, elas mostram a importância do erro
como fundamentalmente construtivo na superação de contradições e conflitos
conceituais, explicitando, numa progressão, etapas e hipóteses que as crianças levantam
sobre a escrita”.
É nesta perspectiva cognitiva, que vê a criança como um ser que pensa e constrói
o seu conhecimento, que Ferreiro, nas suas pesquisas, procurou descobrir como se dá o
processo da aquisição da escrita e leitura, na concepção das crianças. “Elas – crianças de
4 a 6 anos – nos ajudaram a argumentar com muita seriedade que ler não é o mesmo que
decodificar; que ser alfabetizado não equivale a ‘saber o alfabeto’” (FERREIRO, 2002,
p. 58). Surge daí a elaboração da Psicogênese da língua escrita, isto é, o estudo de como
a criança aprende a ler e escrever, processo cognitivo distribuído em etapas.
Ferreiro e seus colaboradores “(...) consideram a escrita um objeto de
conhecimento (isto é, como um alvo da atividade intelectual), que vai sendo construído
de modo evolutivo pela criança (...)” (FONTANA e CRUZ, 1997, p. 188). Suas
descobertas transformam a prática pedagógica, passando do eixo de como se ensina,
para como se aprende.
Para descobrir como a criança pode interpretar e produzir escritos, mesmo antes
de chegar a ser um escritor ou um leitor, no sentido convencional, Ferreiro e Teberosky
(2001, p. 44) realizaram uma série de investigações em Buenos Aires, México,
Monterrey, Barcelona e Genebra, com crianças de três a seis anos de diferentes
39
procedências sociais (famílias de classe média e baixa) e de diferentes situações
educativas (com ou sem educação infantil).
A conclusão dessas pesquisas indica que a criança já possui idéia da função da
escrita muito antes de ingressar na escola; ela convive, desde muito cedo, com
numerosas formas de inscrições produzidas e interpretadas pelos adultos nos mais
variados contextos: vê letreiros de cartazes, jornais, televisão, pessoas lendo jornais,
escrevendo cartas etc. A isto Ferreiro chama de “cultura letrada”. Para a referida autora
(2002, p. 26) o saber pré-escolar é:
(...) basicamente, numa primeira imersão na ‘cultura letrada’: ter escutado alguém ler em voz alta, ter visto alguém escrever; ter tido a oportunidade de produzir marcas intencionais; ter participado de atos sociais onde ler e escrever têm sentido; ter podido formular perguntas e obtido algum tipo de resposta.
Para referir-se a essa situação de imersão do sujeito no mundo da escrita, Soares
(2003, p. 44) usa a palavra letramento e a define como sendo “o estado ou condição de
quem se envolve nas numerosas e variadas práticas sociais de leitura e de escrita”. Em
outras palavras ditas por Tfouni (2002, p. 7-8), letramento é o “(...) processo de estar
exposto aos usos sociais da escrita (...)” e saber reagir a eles.
Para compreender a natureza do sistema simbólico socialmente construído, a
criança levanta hipóteses e cria critérios de representação. O caminho percorrido para
interpretar esse sistema tem relações e dificuldades semelhantes às que enfrentaram os
antigos povos. Assim, uma criança não espera ter seis ou sete anos e uma professora à
sua frente, para começar a refletir sobre problemas ligados à leitura e à escrita. Fontana
e Cruz (1997, p. 180), defendem que a criança,
40
(...) vai passando de uma forma de escrita para outra, à medida que vai se dando conta, por si mesma, das contradições entre sua interpretação da escrita e a escrita convencional. Nesse processo, ela reelabora gradativamente suas hipóteses, por meio de acomodações sucessivas, até chegar à lógica da escrita alfabética.
Vendo por este prisma, é dada uma outra conotação aos processos de ensino e de
aprendizagem, especialmente na alfabetização. A prontidão deixa de ser preocupação
relevante, sendo valorizados os aspectos construtivos ligados àquilo que a escrita
representa e à estrutura do modo de representação da escrita.
Foi preciso mostrar que os copistas não são produtores de textos, destroçar os rituais de recitação das famílias silábicas, ridicularizar os enunciados escolares... e deixar entrar no grande cenário e de pleno direito dois grandes ausentes na formulação tradicional: a língua escrita e a criança que pensa. (FERREIRO, 2002, p. 58-59).
1.3.1 A criança e a escrita
De acordo com Ferreiro (2001, p. 16), são nas produções espontâneas que as
crianças escrevem tal como acreditam que poderiam escrever. Para a autora, entende-se
por produção espontânea as escritas que não são resultado de cópia. Estas produções, as
escritas infantis, nos oferecem material que deve ser interpretado, para ser avaliado.
Com a sua pesquisa, Ferreiro (ibid, p. 19) mostrou que a escrita infantil segue
uma linha de evolução regular podendo “(...) ser distinguidos três grandes períodos no
interior dos quais cabem múltiplas subdivisões”:
41
• distinção entre o modo de representação icônico e não- icônico;
• a construção de formas de diferenciação (controle progressivo das variações sobre os eixos qualitativos e quantitativos);
• a fonetização da escrita (que se inicia com o período silábico e culmina no período alfabético).
Segundo Ferreiro (2001), os conceitos de ler e escrever começam com o primeiro
rabisco que, para a criança, se reveste sempre de significado. De início, a criança não
faz distinção entre o sistema de representação do desenho (pictográfico) e o sistema de
representação da escrita (alfabético). Posteriormente, escrever é, para a criança, produzir
um traçado que se diferencia do desenho. A característica principal desta escrita, (escrita
pré-silábica), é que não há correspondência entre grafias e sons (a criança não faz uso
do valor sonoro da palavra). A criança que “escreve”, utilizando como hipótese, a
escrita pré-silábica – usando traçados, pseudoletras ou até mesmo usando letras – não
faz uso do valor sonoro da palavra, e depois lê sem estabelecer as pausas silábicas.
De acordo com Ferreiro (2001, p. 20), uma vez realizada a distinção entre desenho
e escrita, tem início um trabalho cognitivo “(...) na construção de formas de
diferenciação entre as escritas (...)”. Inicialmente, os critérios de diferenciação são
intrafigurais “(...) e consistem no estabelecimento das propriedades que um texto escrito
deve possuir para poder ser interpretável (ou seja, para que seja possível atribuir-lhe
uma significação)”.
Esses critérios de diferenciação são expressos sobre os eixos quantitativo e
qualitativo. O eixo quantitativo diz respeito à quantidade mínima de letras. Não basta
que haja letras; é preciso um número mínimo de letras, em torno de três, para que se
possa ler, ou seja, “(...) para que ‘diga algo’”. (FERREIRO, ibid, p. 20). O eixo
qualitativo trata da “(...) variação interna necessária para que uma série de grafias possa
ser interpretada (se o escrito tem ‘o tempo todo a mesma letra’, não se pode ler, ou seja,
não é interpretável)”.
42
Um outro passo é quando a criança começa a fazer tentativas de correspondências
entre a fala e a escrita, atribuindo um valor sonoro a cada uma das letras que compõem a
escrita. É a escrita silábica. A característica principal desta fase (ou hipótese de escrita)
é que cada caractere ou letra corresponde a uma sílaba. No início, as letras não têm o
valor sonoro convencional (qualquer letra ou caractere), posteriormente, as letras
passam a ter o valor sonoro convencional (letras que fazem parte da palavra). Sendo
assim, é nesta fase que a criança constrói a primeira das hipóteses de como se dá a
relação entre a escrita e os sons da linguagem falada.
A fase de transição entre a hipótese silábica e a alfabética é a hipótese silábico-
alfabética. A criança, na mesma palavra, ora escreve silabicamente (uma letra para
representar a sílaba), ora escreve alfabeticamente (a sílaba completa). Durante esse
período, são duas as formas de fazer correspondência dos sons e grafias: a silábica e a
fonética, sendo que, algumas vezes, as grafias representam sílabas, outras, fonemas.
A escrita alfabética é considerada a última etapa da evolução, pois a criança já
superou a barreira do código: compreendeu que cada um dos caracteres da escrita
corresponde a valores sonoros menores do que a sílaba e realiza sistematicamente uma
análise sonora dos fonemas nas palavras que vai escrever. Isto não quer dizer que a
criança já tenha superado todas as dificuldades próprias da ortografia3, significa apenas
que ela não terá mais problemas de escrita, no sentido estrito.
3 De acordo com Morais (2001), a ortografia é uma convenção social, o aluno não tem como aprender sozinho. É necessário um ensino sistemático, que leve gradativamente à reflexão sobre as dificuldades da ortografia, ajudando o aluno a se tornar melhor escritor.
43
1.3.2 A criança e a leitura
De acordo com Ferreiro (1988, p. 69), em uma “cultura letrada”, as crianças
mesmo antes de serem capazes de ler convencionalmente, “lêem” (tentam interpretar) os
diversos gêneros textuais que encontram em seu meio (cartazes, outdoors,
embalagens comerciais,
anúncios de televisão, etc.). A leitura é entendida “(...) como um processo no qual, para
obter significado, o leitor recorre a fontes de informações visuais e não-visuais”.
Smith (1999, p. 20) define informação visual como a informação impressa,
colhida através dos olhos, que atinge o cérebro. Mas, para o processo de leitura, essa
informação não basta. Faz-se necessário outro tipo de informação, “(...) incluindo uma
compreensão da linguagem relevante, conhecimento do assunto e uma certa habilidade
geral em relação à leitura”. Este tipo de informações, Smith (ibid) agrupou-as e
chamou-as de informações não-visuais.
Segundo Ferreiro (1988, p. 70), dentro da informações não-visuais, estão incluídas
as idéias que as crianças constroem sobre o que pode estar escrito, ou seja, o que podem
ler ou não, no texto.
Portanto, assim como as crianças constroem hipóteses sobre como se escreve,
também constroem hipóteses sobre a leitura, entendendo-a como atribuição de
significado a um determinado texto escrito.
Segundo a referida autora (ibid), no início, para as crianças, as letras ainda não são
objetos substitutos, isto é, objetos cuja função é representar outros objetos. Nesta fase
letras são apenas letras, por isso, quando solicitadas para ler, elas dizem os nomes das
letras.
44
A próxima hipótese, depois que as letras se tornam objetos substitutos, é a de que
qualquer coisa que esteja escrita perto de uma figura ou objeto deve ser o nome da
figura ou objeto. A esta idéia que a criança tem em relação ao que se pode ler, Ferreiro
(1988, p. 71) chamou de “hipótese do nome”, ou seja, a criança pensa que o que se
escreve são apenas os nomes e acrescenta: “(...) o significado de um texto escrito é,
portanto, inteiramente dependente do contexto”, ou seja, não tem estabilidade e
permanência. O significado do texto muda de acordo com a variedade do contexto. E
aqui se trata mais de um co-texto, em específico, aquilo que acompanha o texto em
termos de informação visual.
Segundo Ferreiro (1988), com a “hipótese do nome” bem estabelecida, a escrita
passa a adquirir estabilidade e permanência, mas para a criança apenas os substantivos
precisam estar escritos para que se possa ler. Os verbos e, muito menos, os artigos, não
precisam estar escritos.
Posteriormente, a criança pensa que, além do substantivo, o verbo precisa estar
escrito para que possa ser lido o enunciado. E por fim, ela acrescenta os artigos,
preposições, etc., atribuindo as partes do falado aos segmentos escritos.
Neste capítulo, vimos algumas concepções de ensino e de aprendizagem as quais
dão embasamento teórico ao PROFA, visto que o Programa busca estabelecer relações
entre a teoria e a prática, levando o professor a refletir sobre suas concepções,
interagindo, construindo e permitindo à criança ser agente interativo na construção do
seu próprio conhecimento.
45
2 ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLÓGICA DA PESQUISA 2.1 CARACTERIZAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA
Realizamos uma pesquisa de campo em duas escolas do município de João
Pessoa, com a participação de duas professoras que haviam concluído o PROFA. Foi
gravada, em áudio, uma seqüência de dezesseis horas-aula de duas turmas de 1ª série do
Ensino Fundamental, com o objetivo de analisar a prática pedagógica alfabetizadora, a
partir das atividades desenvolvidas pelos alunos, das intervenções pedagógicas feitas
pelas professoras e da avaliação do referido conteúdo.
Durante as gravações, foi utilizado um diário de campo no qual foram
registradas as informações relevantes que não haviam sido captadas pela gravação, as
quais descrevem a situação de sala de aula, principalmente informações não-verbais que
tenham importância para a análise em questão. Por exemplo: um aluno levanta-se da sua
cadeira, vai até ao quadro, onde está afixado o texto, e aponta para a palavra ditada pela
professora. Esse é um gesto significativo - não captado pelo gravador - que aponta para
as condições do discurso de sala de aula.
Para articular a prática do docente em sala de aula, com o que as professoras
dizem sobre sua prática, utilizaremos dados de algumas atividades feitas por essas
professoras durante o Programa (PROFA): a Pesquisa Inicial (PI) e a Pesquisa Final
(PF). A partir dessas atividades, objetivamos especificamente a verificação da
concepção dos professores a respeito do ensino e da aprendizagem da língua escrita,
como também a verificação da mudança na sua prática, respaldada nessa concepção.
46
As Pesquisas, tanto a Inicial como a Final (Vide Anexos A e B), têm como
objetivo colher informações sobre o trabalho que o professor cursista realizava antes e
depois de participar do PROFA. Os cursistas, com estes instrumentos, teriam a
oportunidade de, ao final do curso, avaliarem a relação entre o que foi abordado e o seu
trabalho na sala de aula. Para tanto, essas pesquisas abordam questões relativas a
natureza das atividades desenvolvidas na sala de aula, dentre as quais: leitura;
reprodução oral de textos conhecidos; produção de textos (oral, escrito); escrita de
palavras conhecidas; formação de frases com palavras conhecidas; uso da cópia, do
ditado; correção de textos; a escrita e leitura das famílias silábicas; treino da
coordenação motora, treino ortográfico.
Em relação à avaliação que compõe cada um dos módulos, a mesma tem como
objetivo que o formador, profissional responsável pela coordenação de um ou mais
grupos de formação de professores, cuja principal função “(...) é contribuir para o
desenvolvimento profissional dos professores alfabetizadores (...)” (Guia do Formador,
Módulo 1, pág. 3), conheça a aprendizagem do professor através do seu desempenho,
bem como o que ele diz a respeito da sua própria atuação para que o mesmo possa
utilizar-se desse meio para orientar seu trabalho, fazendo mudanças ou adaptações nas
propostas, caso se faça necessário.
Como analisaremos a prática de professoras que participaram de um programa
de atualização e como levantamos a hipótese de que esse curso não alterou
significativamente essa prática, acreditamos ser também necessária a análise do material
que compõe o PROFA (Guia do Formador, Coletânea de Textos e Programas de Vídeo),
tendo em vista a concepção de linguagem, leitura e escrita que dão embasamento ao
Programa. Ou seja, essa parte da pesquisa se faz necessária, já que uma das hipóteses
está baseada na apropriação do discurso do PROFA, pelos professores. Como diz
47
Brandão (2002:73) “(...) os discursos se fundam na relação interdiscursiva (...)”. O
PROFA funciona, no caso de nossa análise, como um interdiscurso no discurso do
professor; entendendo interdiscurso como uma relação mantida entre discursos.
2.1.1 O PROFA
2.1.1.1 Caracterização geral
O Curso é destinado a educadores, objetivando dar subsídios ao desenvolvimento
das competências profissionais necessárias ao professor que ensina a ler e escrever.
Baseia-se praticamente em dois conteúdos: como acontecem os processos de
aprendizagem da leitura e da escrita, e como organizar, a partir desse conhecimento,
situações didáticas adequadas às necessidades de aprendizagem dos alunos. É pautado
no respeito aos saberes do grupo e no modelo metodológico de resolução de problemas,
ou seja, em situações de ensino e aprendizagem planejadas que coloquem bons
problemas para os alunos resolverem. Essas situações são vivenciadas, na prática, pelos
cursistas, objetivando a ampliação do universo de conhecimento dos mesmos sobre o
processo de alfabetização e a reflexão sobre a sua prática profissional. Durante o curso,
são utilizados diversos textos e vídeos, especialmente preparados para o Curso, além de
uma programação de conteúdos que são essenciais à formação de alfabetizadores.
O PROFA é organizado em três módulos. O módulo 1 (M1) trata da
fundamentação teórica, que é trabalhada fazendo o paralelo com a prática
alfabetizadora, com o objetivo de “(...) demonstrar que a aprendizagem inicial da
leitura e da escrita é resultado de um processo de construção conceitual que se dá pela
48
reflexão do aprendiz sobre as características e o funcionamento da escrita.” (Guia do
Formador – pág. 13) O módulo 2 (M2) e o módulo 3 (M3) abordam propostas de ensino
e aprendizagem da língua escrita na alfabetização, sendo que o M2 enfatiza as situações
didáticas de alfabetização, cujo objetivo “(...) é demonstrar que a alfabetização é parte
de um processo mais amplo de aprendizagem de diferentes usos da linguagem escrita,
em situações de leitura e produção de texto.” (ibid). E o módulo 3 trata dos demais
conteúdos da língua portuguesa que devem ser abordados no processo de alfabetização,
a exemplo de ortografia e pontuação.
Os módulos são formados por unidades (U), e cada unidade é composta por textos
para serem lidos no curso, texto de estudo, folhas-tarefa de trabalho pessoal (TP),
propostas didáticas descritas e comentadas e outros instrumentos de apoio ao trabalho
pedagógico do professor, compondo a Coletânea de Textos.
Para efeito de identificação, os textos são marcados com o número do módulo, o
número da unidade e o número do texto. Exemplificando: (M1U2T3), o que significa
texto 3 da unidade 2 do módulo 1.
As unidades são estruturadas com cinco atividades para cada encontro do curso,
sendo que três delas são atividades permanentes, ou seja, acontecem em todos os
encontros. São elas: 1- Leitura Compartilhada de textos, realizada pelo formador para o
grupo; 2- Rede de Idéias, momento para os professores socializarem suas idéias,
opiniões e dúvidas a partir das tarefas propostas pelo Trabalho Pessoal (TP); 3- TP, que
diz respeito a situações de leitura e/ou escrita a serem realizadas fora dos encontros. As
outras atividades são variadas, mas têm como orientação metodológica geral a
tematização da prática dos professores.
A última das unidades de cada Módulo se constitui em uma avaliação de
aprendizagem destinada aos cursistas.
49
Também compõem o Programa outros materiais, tais como:
• O Guia do Formador (GF), formado por seqüências orientadas de atividades de
formação e de um anexo denominado Apontamentos, que são textos que dão
subsídios para o formador encaminhar as discussões e trabalhar com os programas
de vídeo.
• Os Programas de Vídeo que tratam de situações didáticas de alfabetização ajustadas
às necessidades de aprendizagem dos alunos, de informações contextualizadas sobre
os processos de aquisição da leitura e da escrita, além de reuniões de formação de
professores, organizadas de tal modo que favoreçam problematizações durante a
exibição.
2.1.1.2 Concepção de ensino e de aprendizagem de língua
A orientação didático-pedagógica proposta pelo PROFA dá ênfase à importância
da participação construtivista do aluno, concomitantemente, à intervenção do professor
para a aprendizagem de conteúdos específicos de alfabetização. Portanto, o PROFA
fundamenta-se na concepção de que a construção de conhecimentos acontece na
interação social, respeitando o desenvolvimento individual e a cultura do grupo social, a
que pertence o aluno.
A concepção de ensino e de aprendizagem de língua que embasa o PROFA está
respaldada nas pesquisas de Ferreiro e Teberosky, as quais permitem o trabalho com as
hipóteses que as crianças constroem ao pensar sobre a língua escrita durante o processo
de alfabetização.
50
Consideramos também que, implicitamente, os pressupostos teóricos do PROFA,
quando explicita a metodologia de trabalho do professor em sala de aula, recuperam a
concepção de linguagem de Bakhtin, conforme visto no capítulo 1, quando ele diz que a
linguagem realiza-se na interação verbal, considerando-se o contexto histórico-social do
indivíduo. Vejamos como o PROFA define o papel do professor:
(...) o professor também tem um papel fundamental durante a realização da atividade – ao circular pela classe e colocar perguntas que ajudam os alunos a pensar, problematizar as respostas dadas por eles,(...) (M2UET6 - p. 17).
Observemos que é atribuída à interação verbal em sala de aula um papel
fundamental: tanto os alunos quanto o professor assumem a função de interlocutores
ativos no processo de ensino e de aprendizagem, no contexto específico da sala de aula.
A teoria de Vygotsky também permeia a proposta do PROFA, quando este
assume a concepção de que a aquisição do conhecimento se dá através da interação
social por meio da linguagem; que a intervenção pedagógica é necessária para a
promoção da aprendizagem, e enfatiza a importância da compreensão das funções
sociais da escrita para o processo de alfabetização. Observemos como aparece definido,
em documento daquele programa, o perfil do educando: “O grande desafio colocado por
esse Curso é aprender como se pode alfabetizar crianças e adultos para que, de fato,
venham a assumir a condição de cidadãos da cultura letrada”. (Guia do Formador,
Módulo 1, pág. 03)
51
2.1.2 Os sujeitos da pesquisa
2.1.2.1 As professoras
O critério utilizado para a participação das professoras, nesta pesquisa, foi ter
concluído o PROFA. O primeiro passo para a identificação / seleção dos sujeitos foi
fazer um levantamento dos professores que, no ano letivo 2004, estavam ensinando na
1ª série, pois algumas professoras que, durante o curso, estavam na 1ª série, no ano em
que foram coletados os dados, encontravam-se lecionando em outras séries. Portanto, o
número de professoras que atendia ao critério de escolha ficou reduzido.
Outro critério para a escolha foi o interesse demonstrado pelo professor em
relação aos conteúdos abordados durante o Curso bem como sua assiduidade. No início,
a idéia era trabalhar com quatro professoras, porém apenas duas se dispuseram a ter
suas aulas gravadas, condição sine qua non para que a pesquisa de sala de aula fosse
realizada. Uma delas (P1) participou de um dos grupos que teve início em 2001 e
término em 2002. A outra (P2) participou de um dos grupos que teve início em 2003 e
término em 2004. Como os grupos eram formados por professores da Educação Infantil,
professores da 1ª série do Ensino Fundamental e técnicos, foi dada prioridade aos
professores da 1ª série, já que o foco de investigação da pesquisa, por ter início nela o
ensino e a aprendizagem formal da leitura e da escrita na Rede pública.
A escolha das escolas se deu em função do local de trabalho das Professoras que
aceitaram participar da pesquisa. Não foi necessário o aval da direção dessas escolas,
uma vez que, na época, fazíamos parte do corpo técnico da SEDEC e tínhamos livre
acesso a todas as escolas.
52
O fato das duas professoras terem sido cursistas nos grupos dos quais a
pesquisadora foi a formadora, possibilitou uma relação de confiança, o que,
normalmente, não é estabelecido na relação pesquisador e pesquisado. Isto não significa
dizer que tudo ocorreu de forma totalmente natural, pois sabemos que a presença de
uma outra pessoa em sala de aula interfere, principalmente, quando se está gravando.
A Professora (P2) concluiu os cursos de Pedagogia (2003) e de Especialização em
Psicopedagogia (2004). Apesar de já ter vinte e seis anos de magistério, começou a
lecionar na 1ª série, a alfabetizar, um ano antes de participar do PROFA, ou seja, em
2002. Segundo afirmou, em conversa informal conosco, em 2007, pretende se
aposentar. No início do PROFA, enquanto era trabalhado o embasamento teórico, ela
não acreditava que o aluno antes de estar alfabetizado fosse capaz de “escrever” e “ler”
para aprender – conforme defende aquele programa –, como também achava que não
era possível alguém ser alfabetizado sem memorizar as famílias silábicas. No decorrer
do Curso, a partir dos trabalhos pessoais, quando começaram a pôr em prática aquilo
que vinha sendo aprendido, sua reação foi de surpresa, chegando a tecer comentários
que demonstravam uma visão diferenciada da que tinha anteriormente.
A Professora (P1) concluiu o Curso de Letras (2004) e, ao longo da sua prática
docente (dezoito anos), já tinha tido experiência com alfabetização por vários anos
(desde 1997), na 1ª série da Rede pública. Diferentemente da anterior, sua reação
perante o que estava sendo debatido, durante a realização do PROFA, não era de
descrédito, mas de interesse em aprender o novo.
53
2.1.2.2 Os alunos
Em relação aos alunos, talvez pelo fato de serem crianças, não deixaram de ser
espontâneos. O gravador chamou a atenção de alguns, principalmente daqueles que não
o conheciam ainda, fato ocorrido nas duas turmas. Isso nos dá indícios das condições
sócio-econômicas das famílias às quais estes alunos pertencem.
Uma das escolas envolvidas na pesquisa fica situada na Praia da Penha, e atende,
principalmente, à comunidade de pescadores daquela localidade. A outra escola situa-
se na favela Pedra Branca, no bairro do Cristo. A população das localidades acima
citadas é eminentemente de baixa renda, sendo privada das necessidades básicas do ser
humano: segurança, acesso à cultura, alimentação, entre outras.
No final do ano letivo, em que ocorreram as gravações, foi feito pela pesquisadora
o diagnóstico das duas turmas, com o objetivo de conhecer as hipóteses de escrita que
eles tinham, pois se trata de um dado relevante para a nossa pesquisa visto que, através
desse diagnóstico, poderíamos analisar, com maior segurança, a prática pedagógica
utilizada pelas professoras a partir dos resultados obtidos na turma. O diagnóstico
seguiu a metodologia adotada pelo PROFA e constou da escrita espontânea de uma lista
de quatro palavras do mesmo campo semântico, escolhida em função de uma temática
(no nosso caso os temas foram de animais e brinquedos), sendo ditada da palavra
polissílaba para a monossílaba, acompanhada de uma leitura imediata do aluno, como
também a escrita espontânea de uma frase, sendo formada a partir de uma das palavras
que pertence à lista (Vide Anexos C e D).
Na turma da Professora 1, vinte e duas crianças se submeteram ao diagnóstico.
Dezesseis apresentaram uma escrita alfabética, que é considerada por Ferreiro (1985) a
última etapa do processo da aquisição da escrita, onde a criança alfabetizada superou a
54
barreira do código, compreendeu que a escrita representa a fala e de que modo é feita
essa representação, embora ainda tenha que superar as dificuldades próprias da
ortografia.
Uma criança apresentou a escrita silábico-alfabética que tem como característica
principal duas formas de fazer correspondência dos sons e grafias, sendo que, algumas
vezes, as grafias representam a sílaba, outras, fonemas. Ou seja, na mesma palavra, ora
a criança escreve silabicamente (uma letra para representar a sílaba), ora escreve
alfabeticamente (a sílaba completa).
Uma criança apresentou a escrita silábica, com o uso do valor sonoro
convencional, ou seja, escreve uma letra para representar a sílaba, mas não qualquer
letra, e sim a letra que compõe a sílaba representada.
Quatro crianças apresentaram uma escrita silábica, com o uso do valor sonoro não
convencional, ou seja, colocou qualquer letra ou outro caractere qualquer para
representar a sílaba. Não foram encontrados alunos com escrita pré-silábica.
De acordo com o diagnóstico dos alunos, da turma da Professora 1, realizado pela
pesquisadora, como já citamos anteriormente, em termos percentuais, obtivemos o
seguinte resultado:
Quadro 4: RESULTADO DO DIAGNÓSTICO DOS ALUNOS DA
PROFESSORA 1
PROFESSORA 1
HIPÓTESE DE ESCRITA % DE ALUNOS
PRÉ-SILÁBICA -
SILÁBICA (fazendo uso do valor sonoro não convencional) 18%
SILÁBICA (fazendo uso do valor sonoro convencional) 4,5%
SILÁBICO-ALFABÉTICA 4,5%
ALFABÉTICA 72,7%
55
Na turma da Professora 2, foi feito o diagnóstico com 16 crianças sendo que,
cinco encontraram-se alfabéticas, quatro com escrita silábico-alfabética, duas com a
escrita silábica, fazendo uso do valor sonoro convencional, e um com a escrita pré-
silábica. Três alunos escreveram as palavras ditadas, mas recusaram-se a ler, o que
dificultou saber se eles estavam fazendo o uso do valor sonoro ou não. Portanto, não
sabemos se suas hipóteses de escrita são pré-silábica ou silábica. Um aluno se recusou a
escrever dizendo que não sabia, o que nos leva a pensar que a Professora faz pouco ou
nenhum uso de atividades com escrita espontânea. Em termos percentuais, temos:
Quadro 5: RESULTADO DO DIAGNÓSTICO DOS ALUNOS DA
PROFESSORA 2
PROFESSORA 2
HIPÓTESE DE ESCRITA % DE ALUNOS
PRÉ-SILÁBICA 6%
SILÁBICA (fazendo uso do valor sonoro não convencional) -
SILÁBICA (fazendo uso do valor convencional) 12,5%
SILÁBICO-ALFABÉTICA 25%
ALFABÉTICA 31%
Posteriormente esses dados serão analisados na sua relação com a prática docente.
56
2.2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
De acordo com Soares (2000), há uma mudança significativa nas concepções de
ensino e aprendizagem da língua escrita, resultante do conhecimento das ciências
lingüísticas que estão começando a ser aplicadas ao ensino da língua materna, dando
lugar a novas concepções de língua e linguagem, de variantes lingüísticas, de oralidade
e escrita de texto. Surge também uma nova compreensão sobre a aquisição da língua
escrita a partir da pesquisa de Ferreiro e Teberosky, fundamentada na psicologia
genética piagetiana.
Os dados obtidos, a partir da gravação das aulas, das avaliações feitas pelos
cursistas durante o Curso (Pesquisa Inicial e Final), serão analisados de acordo com a
concepção de linguagem na perspectiva bakhtiniana, a qual tem como base a interação
verbal entre os sujeitos e entre os discursos, marcada pela noção de dialogismo, em que
o Outro é parte indissolúvel do discurso. Para Bakhtin (2002), de acordo com Sousa
(2002, p.67), “( ...) todo discurso se instaura na atmosfera do ‘já dito’, ou seja, todo
discurso é sempre constituído por outros discursos, (...)”.
Portanto, essa concepção de discurso nos permite fazer uma análise numa
perspectiva intradiscursiva e interdiscursiva, uma vez que o PROFA funciona como um
interdiscurso no discurso do professor.
De acordo com Orlandi (2001, p. 31), o interdiscurso “(...) é definido como aquilo
que fala antes, em outro lugar, (...). Ou seja, é o que chamamos de memória discursiva:
o saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma do pré-
construído, o já-dito que está na base do dizível (...)”.
57
Em outras palavras, de acordo com a referida autora (ibid, p. 32-33), no
interdiscurso há “(...) todos os dizeres já ditos (...)”, enquanto que o intradiscurso é “(...)
aquilo que estamos dizendo naquele momento dado, em condições dadas”.
A teoria de Vygotsky, por sua vez, dá ênfase à interação com o outro, a qual
perpassa a intervenção pedagógica. Para o referido autor, o aprendiz é um sujeito, na
sua essência, social, que constrói seu conhecimento na interação com seus parceiros.
Vygotsky também defende a idéia de que, para o ensino da leitura e da escrita, é
necessário que as crianças encontrem sentido na escrita, fazendo uso social deste objeto
cultural (a escrita) na sala de aula.
A outra teoria que fundamenta a análise dos referidos dados é a Psicogênese da
língua escrita em que Ferreiro (1985) demonstra que a escrita infantil segue uma linha
de evolução regular, sendo distinguida em três grandes períodos aos quais já nos
referimos no capítulo anterior, com maiores detalhes.
O discurso do professor será analisado no que se refere à sua compreensão do
ensino e aprendizagem da língua escrita, levando em consideração as intervenções
pedagógicas que o mesmo adota em sua prática, incluindo o material didático utilizado.
Do ponto de vista da análise, ao focar a interação professor/aluno, portanto, a
relação entre ensino e aprendizagem, voltaremos a nossa atenção para atuação do
professor, tendo em vista aquilo que ele diz que faz quando fala sobre sua prática e
aquilo que efetivamente faz.
58
3 PRÁTICAS ALFABETIZADORAS: ENTRE O SILÊNCIO E O
BARULHO, O TRABALHO DE SUJEITOS
Neste capítulo, analisaremos quatro horas-aula gravadas de cada professora em
questão. O embasamento teórico para a análise fundamenta-se na concepção sócio-
interacionista de ensino e aprendizagem que considera a importância da participação do
aluno na construção do seu próprio conhecimento, bem como a importância da
intervenção do professor para a aprendizagem do objeto de estudo, no nosso caso, a
aquisição da língua escrita.
Conforme já afirmamos, essa perspectiva tem como base trabalhos de Vygotsky
(1988), para quem o aprendiz é um sujeito, na sua essência social, que constrói seu
conhecimento na interação com os seus parceiros, em um ambiente que é histórico. É
possível, então, articular essa compreensão teórica àquela de Bakhtin (2002), para quem
a linguagem é concebida a partir da interação verbal entre os sujeitos, que são
constituídos pelo social.
É considerando esses pressupostos teóricos, que têm em comum as interações
sociais, que analisaremos a intervenção pedagógica realizada pelas professoras, pois a
interação entre professor e aluno também se dá na intervenção pedagógica, no caso do
processo de alfabetização, a qual, sendo adequada – fazendo-se perguntas que levem os
alunos a refletirem sobre a língua e problematizando suas respostas –,vai ajudá-los a
avançar nas suas hipóteses de escrita e de leitura.
59
3.1 O BARULHO: A PRÁTICA DA PROFESSORA 1
3.1.1 A rotina de sala de aula
A sala de aula tinha iluminação e ventilação razoáveis, e as mesas e cadeiras
estavam enfileiradas, formando duplas. Antes dos alunos entrarem na sala, a Professora
copiou no quadro a pauta do dia, a qual reproduzimos abaixo:
Escola ((nome da escola))4
João Pessoa, 07 de dezembro de 2004
Pauta
1) Música e oração
2) Música Paz pela paz
3) Atividades referentes à música
4) Montagem da letra da música
As crianças chegaram à sala e algumas foram logo desmanchando a organização das
mesas e cadeiras feita, previamente, pela Professora. Entraram comentando sobre um
homem que estava andando pela favela com uma arma na mão:
(1)
L1A1: (inaudível) um homem com um revólver na mã::o
L2P1: e foi?
L3A2: passou lá em frente da favela (+) na rua três
4 O texto foi digitado obedecendo à organização dada pela Professora
60
L4A1: lá na cinco
L5Axx: (inaudível)
L6P1: e essa semana / a semana passada nós trabalhamos mu::Ito (+) falando sobre
o QUE::? a violência?
L8A1: a pa::z
L9P1: hã::?
L10Axx: a pa::z
L11P1: a pa::z (+) não é isso? (++) e se a gente ficar andando com arma na mã::o?
[aí (...)
L13A2: [violência
L14P1: muito bem José (++) isso é paz?
L15A2: nã::o (+) é violência
L16P1: isso vai trazer paz [para o lugar que a gente mora?
L17A3: [por isso que tem polícia pra prender (+) pra defender nói
L18P1: pois é (+) mas e a polícia prende (+) e toma a arma [e depois solta de novo
L19A3: [e depois solta de novo
(+) era pra ficar preso o resto da vi::da
L21P1: sim mas (+) o que a gente tem que fazer pra tirar essa violência e fazer com
que a paz chegue na nossa comunidade? (+) se a gente anda armado (+) aí
encontra [um (incompreensível) vai acontecer o que?
L24A3: [ ô tia (incompreensível)
L25Axx: (inaudível)
L26P1: (incompreensível)
Nesse recorte, observamos que a Professora autoriza o discurso (a conversa entre
as crianças) e ao entrarem na sala ela faz parte dessa interlocução. O assunto que as
crianças trazem para a sala de aula (o homem andando armado pelas ruas da favela) é
bem aproveitado pela Professora, quando o articula com outro assunto (a paz) discutido
em aula anterior, conforme se verifica em (L6P1). A participação dos alunos, as suas
intervenções, inclusive enquanto a Professora está com a palavra – ver a sobreposição
de vozes em L16, L17, L18, L19 - demonstram o quanto a questão da violência os
61
inquieta, principalmente, porque faz parte de seu cotidiano. Em seguida, cantaram uma
música que fazia parte da rotina de sala de aula, pois a Professora convidou-os a cantar
“a nossa musiquinha”, e todos começaram a cantar juntos. Após uma breve discussão, a
respeito do feriado do dia seguinte (oito de dezembro), todos (professora e alunos)
rezaram o Pai Nosso, que também fazia parte da rotina dessa turma.
Outro discurso que começou a ser construído foi em relação ao atropelamento de
um ex-aluno, seguido de morte. Novamente, a Professora aproveitou o assunto e deu
continuidade à conversa, fazendo comentários sobre o cuidado que se deve ter no
trânsito.
(2)
L1P1: o::lhe (+) João acabou de dar uma informação que / eu / eu não sei
ainda porque:: (++) foi ontem a noite (+) Rodrigo (+) aquele alu::no que eu
disse pra vocês que tinha sido atropela::do (+) ele disse que faleceu (+)
então assi::m / sempre que acontece essas coisas com o aluno (+) ou com o
pa::i como foi o caso do pai de Pedro a gente re::za (+) entã::o esse
Pai Nosso a gente vai pedi::r (++) por uma criança como você::s tem se::te
anos (+) foi atropela::do (+) aí bateu a cabeça e teve [traumatismo craniano
L8A1: [Pedro?
L9P1: nã::o (+) Rodrigo foi meu o ano passado (+) ele esse ano não estudava
aqui (incompreensível)
L11A3: em do::is mil e trê::s?
L12P1: em dois mil e três? (+) muito bem!
L13A3: eu / eu estuda::va aqui:: de manhã::
L14P1: é ele foi meu aluno depois passou pra tarde
L15A3: fo::i
L16P1: AQUI::LO que TIA SE::MPRE fala pra você::s (+) o CUIda::do na hora
de atravessar a ru::a (+) as vê::zes olha vocês deixam [(incompreensível)
L18A1: [o bê::bado ele tava andando
de bicicleta na rua se (incompreensível) (+) aí:: o ca::rro veio e bateu ne::le
62
L20A3: ti::a (incompreensível) o carro quase que atropelava a bicicleta
(incompreensível) ((a aluna riu))
L22P1: e é::: o carro bate no homem e você fica sorrindo?
L23Axx: ((vários alunos riram))
L24P1: não tem gra::ça nenhuma [olha gente
L25A3: [ tia::
L26P1: só um minutinho (+) é triste (+) porque todos os ano::s a gente faz fa::la
sobre o [o trânsito (+) orienta
L28A6: [(incompreensível)
L29P1: e::sse ano / olha! do::is alu::nos aqui da esco::la José:: (+) os alunos foram
atropela::dos (+) um foi Tiago (+) da segunda série e agora Marcelo (+)
então (+) por ma::is que a gente fala / cuida::do (+) ge::nte não se preocupe
em copiar isso agora nã::o ((estava se referindo a pauta escrita no quadro))
(incompreensível) I::SSO que aconteceu com Marcelo també::m (+) é
violê::ncia ou é paz no trâ::nsito?
L35A2: violência
L36P1: violê::ncia
L37A7: porque /
L38P1: por quê?
L39A7: porque nu::m obede::ce o sinal
L40P1: não obedece o sinal
L41A7: nem a faixa do pede::stre
L42P1: outra coisa (incompreensível) A::S VE::zes a culpa é do pede::stre outras
vezes também pode se::r do motorista
L44A3: tia a culpa é de Tiago
L45P1: [justamente é isso que estou falando (+) nem sempre a culpa é do motorista
L46A6: [(incompreensível)
Esses dois momentos da aula, registrados nos recortes (1) e (2), revelam vários
aspectos da postura da Professora 1 em sala de aula: primeiro, o respeito pela fala do
aluno; segundo, a sua capacidade de transformar essa fala em um “conteúdo de ensino”
a ser trabalhado com os alunos, articulando com conhecimentos de mundo, com
63
vivências dos alunos; terceiro, a sua capacidade de fazer o aluno falar, através de boas
intervenções (perguntas, comentários), como se observa em vários momentos de sua
fala.
A aula prossegue e os alunos começaram a copiar a pauta que estava escrita, no
quadro. Enquanto eles copiavam, conversavam entre si. A Professora ligou o som para
tocar a música Paz pela paz; fez as pontas dos lápis dos alunos e afixou no quadro a
letra da música, que estava escrita com letra de imprensa5. As crianças cantavam
enquanto copiavam a pauta, conforme veremos no recorte abaixo.
(3)
L1P1: enqua::nto vocês copiam a pa::uta tia vai colocar a [MÚ::sica para vocês
ficarem ouvindo
L3Axx: [(inaudível)
L4P1: já (incompreensível) a pa::uta (+) já (incompreensível)
L5A1: NÃ::O
L6P1: TE::rmina de co::piar (++) que a gente vai canta::r (++)
L7A9: tia::
L8P1: (incompreensível)
L9A1: TI::a (+) bo::ta de novo
L10P1: eu vou repeti::r
L11A1: hã?
L12P1: eu vou repeti::r (++) terminaram de copiar a pauta pra gente canta::r?
L13A10: eu NÃO
L14A11: NÃO
L15A8: NÃ::O
L16Axx: [((os alunos cantavam))
L17P1: [tia vai buscar uma garrafa d´água pra vocês
((a Professora colocou outra vez a música. Depois de fazer as pontas dos lápis, foi
buscar uma garrafa com água e os copos, colocando-os em cima de uma mesa no
5 Essa informação torna-se importante, tendo em vista o comentário que faremos posteriormente.
64
fundo da sala, para que as crianças bebessem, à medida que iam tendo sede.
Enquanto a música tocava, a maioria dos alunos cantava, outros conversavam e
outros bebiam água)).
Passemos a observar alguns aspectos que esse momento da sala de aula (des)vela.
Para tanto, articularemos, no decorrer da análise, a prática dessa Professora com a
perspectiva teórico-metodológica adotada pelo PROFA, curso do qual, conforme já
afirmamos, a Professora participou. Nesse sentido, a nossa análise direta ou
indiretamente também observará a contribuição desse curso de formação para a prática
docente.
Tendo em vista a articulação desses dois discursos, iniciamos observando que a
pauta do dia, escrita no quadro, que trazia a relação das atividades a serem
desenvolvidas durante a aula, perdeu o sentido, principalmente a partir do momento em
que a preocupação de todos se restringiu à sua cópia. No caso específico da pauta, esse é
um tipo de texto cujo uso em sala de aula é recomendado pelo PROFA, como uma
forma de manter o aluno informado acerca do conjunto das atividades que serão
desenvolvidas na rotina de trabalho diário e dos objetivos daquelas atividades. Embora
essa seja uma estratégia que a Professora certamente adquiriu naquele curso de
formação, a sua utilização não cumpriu a função que esse texto deveria cumprir em sala
de aula.
Além da função anteriormente mencionada, o uso desse tipo de texto na sala de
aula propicia aos alunos a aprendizagem de sua função; da linguagem que se usa para
escrevê-lo; da sua organização textual; além da aprendizagem do código escrito. No
entanto, mesmo tendo sido introduzido pela Professora, a mesma não aproveitou esse
texto para uma boa atividade de leitura, em que os alunos, concomitantemente, iriam
aprendendo as características desse tipo de texto: os alfabéticos teriam a oportunidade
65
de refletir sobre a ortografia das palavras e os não–alfabéticos iriam ajustando o falado
ao escrito. No final, o texto não foi lido pela Professora, que deixou de comunicar aos
alunos quais as atividades a serem desenvolvidas durante a aula (dessa forma teria sido
feito uso da função da pauta, ajudando-os a avançarem no seu processo de aquisição da
língua escrita). Não foi lido também pelos alunos alfabéticos (é o que nos leva a
pensar), pois durante a cópia os alunos cantavam a música que a Professora tinha
colocado no som. Como afirmamos, a atividade se limitou a ser uma mera cópia do
registro da pauta, sem significado para os alunos, portanto, uma atividade mecânica.
Não estamos desconsiderando a cópia enquanto uma atividade escolar que pode
ser produtiva. Ao contrário, concordamos com a concepção apresentada pelo PROFA
(2001, Guia do Formador - Módulo 2 – pág. 167), quando assume que a cópia é uma
atividade em que um dos objetivos é o de reter uma escrita para conservá-la,
apropriando-se de algo significativo. Nesse sentido, a cópia torna-se uma boa atividade
quando o que se copia tem sentido para os alunos, quando o que será copiado é do seu
interesse ou tem uma função a cumprir, como no caso citado.
Depois de concluída a cópia, a Professora entregou a letra da música, Paz pela paz,
para os alunos. Como os alunos estavam organizados em dupla, a Professora entregou
uma folha para cada dupla. De acordo com as respostas dadas pela Professora na
Pesquisa Inicial, ela já propunha a formação de duplas para trabalhar com atividades de
leitura e escrita, pois achava que a vantagem de trabalhar dessa forma é que “aqueles
alunos que apresentavam melhor desempenho, ajudavam aos alunos com baixo índice
de aproveitamento” (Vide Anexo A). Esse dizer nos revela que os agrupamentos
formados por ela, antes de iniciar o PROFA, eram feitos com crianças com níveis de
conhecimento muito diferenciados, o que nos leva a pensar que as crianças que
apresentavam melhor desempenho faziam as atividades por aqueles que apresentavam
66
um “baixo índice de aproveitamento”. O PROFA (2001, Guia do Formador – Módulo 1
– Unidade 7 – pág. 192), propõe que ao
(...) planejar os agrupamentos, o professor precisa considerar o conhecimento que os alunos possuem sobre a escrita e também as suas características pessoais. Com relação ao conhecimento sobre o sistema alfabético de escrita, tem se mostrado mais eficaz agrupar alunos com hipóteses de escrita próximas, pois quando eles têm níveis de conhecimento muito diferenciados, em geral o que sabe mais realiza a atividade, e o que sabe menos observa e atua pouco”.
Na Pesquisa Final (Vide Anexo B), a Professora declara que trabalha formando
duplas “por acreditar que a aprendizagem flui mais naturalmente; é o momento da troca
de experiência, da superação de dificuldades, da socialização e da partilha do saber”. No
entanto, o que observamos – quando da gravação em sala de aula – é que as duplas
foram formadas aleatoriamente, já que as crianças entraram na sala e cada um pegou o
lugar que quis. Portanto, percebemos que não houve um planejamento na formação
desses agrupamentos.
Tendo em vista a importância que atribuímos à formação de duplas para o trabalho
em sala de aula, teceremos ainda mais alguns comentários sobre essa questão. Das
duplas formadas, duas foram compostas por crianças que tinham como hipótese de
escrita a silábica, sendo que uma fazendo o uso do valor sonoro convencional e a outra
não convencional. De acordo com o PROFA, esse é um agrupamento produtivo em
relação ao nível de conhecimento das crianças. Já a outra dupla, as duas crianças
estavam com hipótese silábica sem fazer uso do valor sonoro convencional, ou seja, os
níveis de conhecimento das crianças estavam muito próximos. As mesmas precisariam
de parceiros com um nível de conhecimento mais avançado, para que houvesse
interação produtiva e progresso no processo de alfabetização. Em relação às outras
67
duplas, como na sua grande maioria eram alfabéticas, estavam formadas
coincidentemente de acordo com a orientação do Programa. Esses alunos precisariam
por em jogo questões ortográficas, o que faz dos alfabéticos agrupamentos produtivos.
No geral, podemos afirmar que, a prática de formar agrupamentos não foi em
decorrência do PROFA. O que ele poderia acrescentar não foi internalizado pela
Professora. Ela apenas apropriou-se do vocabulário utilizado pelo Programa.
A formação de agrupamentos produtivos, proposta pelo PROFA, tem como base
teórica o trabalho desenvolvido por Vygotsky, que considera a interação como elemento
essencial para que ocorra a aprendizagem. Como já foi mencionado, o PROFA
(M1U5T4 – pág. 4) propõe a formação de agrupamentos produtivos, mas, para tal,
deve-se levar em consideração: os objetivos da atividade proposta, o que os alunos já
sabem sobre a escrita e suas características pessoais, bem como se faz necessário
também deixar claro, para os alunos, a função de cada membro da dupla. Nessa aula
especificamente, primeiro, as duplas foram formadas aleatoriamente, pois à medida que
os alunos iam entrando na sala escolhiam os seus lugares. Segundo, foi entregue uma
folha para cada dupla, mas não foram esclarecidas, pela Professora, as diferentes
funções do trabalho em dupla, como propõe o Programa. Por fim, a letra da música que
as crianças receberam estava escrita em letra cursiva, enquanto no cartaz afixado no
quadro, conforme já afirmamos, a letra da música estava em bastão. Mais uma vez, isso
significa que a Professora mantém uma prática que, do ponto de vista dos alunos não-
alfabéticos, não contribui para o avanço da aprendizagem, questão a que voltaremos
mais adiante.
A atividade desenvolvida foi a leitura de uma música que as crianças já sabiam
de cor6; situação didática de alfabetização proposta pelo PROFA. Alguns alunos
6 A expressão “saber de cor”, utilizada pelo PROFA, para significar um saber de memória.
68
tentavam com o dedo ajustar o falado ao escrito; outras nem olhavam para o papel, mas
cantavam porque sabiam a música de cor e outros, aqueles que já sabiam ler
convencionalmente, acompanhavam o que estava escrito.
A atividade seguinte foi um ditado, em que as crianças deveriam encontrar e
pintar, com as cores pré-determinadas, as palavras ditadas pela Professora. O foco
escolhido para analisar essa atividade diz respeito à intervenção pedagógica no processo
de alfabetização que, sendo adequada, por meio de perguntas que levem os alunos a
refletirem sobre a língua, problematizando suas respostas, vai ajudá-los a avançar nas
suas hipóteses de escrita e de leitura. Portanto, nos recortes abaixo, será dada ênfase à
intervenção pedagógica alfabetizadora, durante a realização da atividade de “leitura”
(identificação) de palavras do texto, ditadas pela Professora.
3.1.2 A intervenção pedagógica: a interação professor e aluno
Consideramos a intervenção pedagógica um momento privilegiado, na interação
professor e aluno, para promover o aprendizado. Por isso, elegemos como foco de nossa
análise exatamente esse momento. Passemos a análise de recorte das aulas de P1 em que
ocorre essa intervenção:
(4a)
L1P1: a palavra IRMÃ::O
L2A8: [irmã::o
L3Axx: [(inaudível)
L4P1: [irmão (incompreensível) ((a professora estava falando a respeito da cor que
seria pintada a palavra irmão))
69
L6Axx: [(inaudível)
L7A7: ei! né [pra copiar não (+) vai (incompreensível)
L8P1: [IRMÃO (++) I::RMÃ::O
L9A14: tia:: deixa eu ir no banheiro?
L10A13: como é irmão?
L11P1: quem tem um lápis azul para [emprestar (incompreensível)? por favor!
L12A5: [tia vou no banheiro
L13A13: como é I::R? ((a aluna se refere à primeira sílaba da palavra irmão))
L14P1: hã? (++) I::RMÃ::O
L15A13: como é irmão?
L16A14: tia vou no banheiro
L17P1: vá /
L18A13: sei não onde tem nã::o
L19P1: proCU::re (+) do mesmo jeito que você encontrou FELIZ você vai pra
irmão
A repetição da palavra irmão pelo aluno (A8) e a insistência das perguntas da
aluna (A13), em relação a esta palavra, demonstram a tentativa de encontrarem “alguma
pista” para descobrir, no texto, qual é a palavra irmão. A Professora repete a palavra,
conforme já havia feito anteriormente, de forma bem enfática e marcando cada sílaba.
Observemos que a própria aluna (A13, em L13) lhe diz qual é a pista de que ela precisa
para encontrar a palavra, perguntando: “como é I::R?”. Ao fazer esta pergunta, ela quer
uma pista para saber como identificar o “ir”, o que demonstra que ainda não faz a
correspondência entre letra e som. A Professora, ao responder “I::RMÃ::O” (L14),
pronunciando as sílabas separadamente e alongando as vogais, o faz como se a aluna já
tivesse condições de fazer essa correspondência. Logo adiante, a mesma criança reforça
esse pedido, quando diz “sei não onde tem não” e, ao mesmo tempo, o que ela diz no
seu “não-dizer” é que não consegue encontrar a palavra sem ajuda. De acordo com
Vygotsky (1988, p. 32), “(...) ao fazer uma pergunta, a criança mostra que, de fato,
70
formulou um plano de ação para solucionar o problema em questão, mas que é incapaz
de realizar todas as operações necessárias”.
O referido autor determinou pelo menos dois níveis de desenvolvimento: o real e
o potencial. O primeiro é quando o aprendiz consegue realizar a atividade sem a ajuda
de outrem. Como diz o autor (1988, p. 95), nível de desenvolvimento real é “(...) o nível
de desenvolvimento das funções mentais da criança que se estabeleceram como
resultado de certos ciclos de desenvolvimento já completados”. O segundo nível, o
potencial, é aquele em que a criança não consegue resolver o problema sem a ajuda do
outro. Vygotsky (1988, p. 96) diz que: “(...) a criança resolve o problema depois de
fornecermos pistas ou mostramos como o problema pode ser solucionado, (...), ou, ainda
se ela resolve o problema em colaboração com outras crianças (...)”.
Levando em conta essa formulação de Vygotsky, podemos dizer que a aluna
(A13) encontra-se no nível de desenvolvimento potencial, já que não consegue resolver
o problema (encontrar a palavra ditada, no nosso caso), mas poderá resolvê-lo com a
ajuda do outro, necessitando, apenas, de assistência. Contudo, a Professora, que deveria
“ajudar” a aluna não cumpre a sua função. Notemos que na sua intervenção, há uma
série de lacunas. A primeira é o fato dela não responder à pergunta da aluna, quando
diz: “proCU::re (+) do mesmo jeito que você encontrou FELIZ você vai pra irmão”.
Outra lacuna diz respeito ao procedimento sugerido pela Professora. Como a aluna
encontrou feliz? Para encontrar irmão, segue-se o mesmo procedimento que para
encontrar feliz? É do “mesmo jeito?” Evidentemente, para “ler”7 (identificar) as palavras
ditadas, a aluna precisaria fazer uso das estratégias de leitura. No entanto, vale ressaltar
o óbvio para nós leitores que dominamos o código: as letras selecionadas das palavras
são diferentes, afinal, irmão começa com i e feliz começa com f; então não é do mesmo
7 Usamos, nesse trabalho, a palavra ler, entre aspas, para nos referir a uma leitura em que a criança aprende a decodificar, utilizando estratégias de leitura, a partir do conhecimento prévio adquirido.
71
“jeito”. A aluna que não tinha essa informação como óbvia estava querendo saber de
que “jeito” poderia encontrar a palavra irmão. Ela solicitou, várias vezes, “dicas” para
poder refletir sobre a escrita da palavra ditada.
Partindo do princípio de que a atividade descrita é uma boa situação de
aprendizagem quando que levaria os alunos a pensar sobre o objeto de estudo, no nosso
caso a aquisição da língua escrita, a Professora deixou de dar as pistas para que a aluna
(A13) descobrisse o significado do escrito, ou seja, encontrasse a palavra irmão, através
da combinação das estratégias de leitura.
De acordo com o PROFA (Módulo 2, Unidade Especial, Texto 6 – p.10),
(...) os alunos podem utilizar estratégias de leitura que não se restrinjam à decodificação – o fato de não estarem ainda alfabetizados significa justamente que ainda não sabem decodificar inteiramente a escrita. Essas estratégias (de seleção, antecipação, inferência e verificação) são utilizadas em situações em que eles têm informações parciais sobre o conteúdo do texto e podem utilizar tudo que sabem para descobrir o que está escrito.
Assim, o PROFA propõe ‘ler sem saber ler’, ou ainda “ler sem saber ler para
aprender a ler”, e para isso é importante que os alunos saibam de cor o texto usado, não
a escrita dele, mas a sua forma oral, em que eles terão de “(...) ajustar o que sabem que
está escrito com a escrita, pondo em uso tudo que sabe a respeito” (M2UET6 – p.11)
Lembremos que a professora usou um texto que os alunos sabiam de cor, contudo
não fez uso das estratégias de leitura para ajudá-los. Ela poderia ter questionado com
que letra começa, com que termina, poderia fazer referência a outra palavra que
começasse com a mesma letra da palavra ditada, como, por exemplo, os nomes das
crianças, dando assim pistas para que a atividade pudesse ser efetivamente realizada.
Estas são estratégias sugeridas pelo PROFA (M2U5T6 – p.6): “Sempre que for possível
favoreça a reflexão dos alunos sobre a escrita, propondo comparações entre palavras
72
que começam ou terminam da mesma forma (letras, sílabas ou partes das palavras).”
Contudo, como nada disso foi feito, dando continuidade ao recorte anteriormente
mencionado, a mesma aluna continua insistindo na solicitação de pistas para encontrar a
palavra irmão.
(4b)
L20A13: como é IR? ((estava se referindo a primeira sílaba da palavra irmão))
L21P1: IR (+) como é I::R?
L22A1: vá olhando por aqui::: (( apontando para a frase que tem a palavra irmão
no cartaz afixado no quadro)) tem um i:: (+) começa com i ((este aluno
que dá pista para sua colega é alfabético))
L25A7: [(incompreensível)
L26A1: [tem o i:: o erre e o eme
L27A15: (incompreensível) como avião?
L28A1: tia pinta que co::r?
L29P1: amare::lo /
L30Axx: (incompreensível)
L31A16: tia tem quantos?
L32P1: faço bem ao meu irMÃ::o (++) ((uma aluna foi até o cartaz afixado no
quadro e apontou para a palavra coração)) muito be::m! (++) ó aí (+)
você pintou coraçã::o (incompreensível) é a mesma terminação de irmão
L35Axx: [(inaudível)
L36P1: [se eu faço bem ao meu irMÃO (incompreensível) (+) pinte de amarela
(++) muito be::m!
L38A13: tia:: vem ver tia (+) tá certo tia?
L39Axx: [(inaudível)
L40P1: [(incompreensível)
L41A16: é de amaRE::LO GE::NTE
L42Axx: [(inaudível)
L43A13: ti::a tá certo ago::ra?
L44P1: [(incompreensível)
73
A aluna (A13) volta a perguntar como é o ir, em L20; o que ela quer saber é com
qual letra começa a palavra. A Professora intervém devolvendo a mesma pergunta para
a aluna, em L21, até que o aluno (A1), em L22, resolve dar a pista que a colega
necessita.
O fato de um outro aluno ter dado as pistas é uma boa situação de aprendizagem,
inclusive, a proposta do Programa, do qual a Professora participava, orienta a formação
de agrupamentos produtivos. No nosso caso, o aluno (A1) daria uma ótima parceria com
a aluna (A13), considerando suas hipóteses de escrita – A1 é um aluno alfabético e A13
tem uma hipótese de escrita silábica, fazendo uso do valor sonoro convencional,
portanto não lê convencionalmente, conforme verificamos no diagnóstico realizado
(Vide Anexo C) – além de características pessoais, evidenciadas ao mostrar-se paciente
quando deu as pistas que a colega (A13) estava solicitando. No entanto, o papel de
interventor assumido pelo aluno deveria ter sido assumido em primeiro lugar pela
Professora, já que a aluna se dirigia especialmente a ela. O aluno (A1) fez a intervenção
em virtude da Professora não ter atendido à necessidade da aluna em questão:
observamos no recorte que a aluna (A13) questiona várias vezes antes do aluno (A1) se
colocar. Além disso, na organização da sala de aula, eles faziam parte de duplas
diferentes.
É interessante observar que a intervenção do aluno (A1) foi pautada no modelo
metodológico de resolução de problemas. Vejamos os passos que ele segue: apontando
para a frase que tem a palavra procurada ele diz: “vá olhando por aqui”. Ele não deu a
resposta, não apontou diretamente para a palavra, e sim para a frase, o que torna
desafiador, mas possível de ser encontrada, uma vez que ela (A13) vai procurar só
naquela frase e não no texto. Logo após, ele dá outros elementos para que (A13)
74
encontre a palavra irmão quando ele diz qual é a letra que tem na palavra, com que letra
começa: “tem um i:: (+) começa com i”. Em seguida ele diz as três primeiras letras da
palavra: “tem o i:: o erre e o eme ”
Portanto, vimos que nessa passagem é um aluno que fornece as pistas para a
colega encontrar a palavra irmão, fazendo, assim, o papel que, neste caso, por
excelência, seria da Professora, principalmente porque a aluna se dirigia, o tempo todo,
especificamente a ela. Chamemos a atenção para o fato de que a aluna (A13), em L38 e
L43, insiste em confirmar, com a Professora, se a palavra encontrada estava certa em
virtude do papel de autoridade que a mesma representa.
Em outro momento, neste mesmo recorte (indicado em L32), uma aluna apontou,
no cartaz afixado no quadro, a palavra coração no lugar de irmão. A mesma selecionou
o final da palavra e, na hora da verificação, a Professora (em L33) reforçou com um
“muito bem”; só depois é que percebeu que a aluna tinha pintado outra palavra com a
mesma terminação. Isso fica claro, na sua fala quando ela diz “ó aí (+) você pintou
coração (incompreensível) é a mesma terminação de irmão”. Mais uma vez a
Professora deixou de fazer uma intervenção adequada, deixou de fazer a relação com
semelhanças e diferenças entre as palavras, permitindo assim que o aluno acionasse as
estratégias de leitura para descobrir, “ler” a palavra procurada.
Em outro recorte a Professora muda consideravelmente o foco da intervenção,
levantando uma situação-problema que não diz respeito ao ensino da língua escrita.
(5)
L1P1: se eu pedisse pra vocês circularem o nome PA::Z ia ser mu::ito ou pouco?
L2Axx: (inaudível)
L3P1: ia ser mu::ito?
L4A1: (incompreensível)
75
L5P1: é::: (++) [se eu pedisse o nome /
L6A1: [(incompreensível) aqui em cima
L7P1: [vocês acham que é mais ou menos de de::z?
L8A1: [(incompreensível)
L9Axx: MA:::IS
L10P1: mais? (++) tem muito outras paz aqui?
L11A1: é:::
L12A10: [olha ali (++) olha ali (++) olha ali ((apontando para a palavra paz do
cartaz afixado no quadro))
L14A9: [(incompreensível)
L15P1: não sei (+) só se contar né? (+) olha ele tá olhando por aqui ó (+) tem muita
paz? ((mostrando o cartaz afixado no quadro))
L17Axx: te:::m
L18A20: tem tia
L19P1: (incompreensível) o nome paz
L20A1: tem mais de de::z
Ao pedir que as crianças se detivessem, exclusivamente, em contar a quantidade
de vezes que havia escrito a palavra paz, perdeu mais uma oportunidade de levar as
crianças a refletirem sobre a língua escrita, transformando esse momento em uma
atividade mecânica, através da qual a criança apenas se detém em seguir uma seqüência
numérica sem fazer ligação nenhuma com as hipóteses de leitura e muito menos utilizar
alguma estratégia que a levasse à leitura da palavra em questão.
As palavras ditadas nessa atividade foram: feliz, irmão, coração, criança, floresta,
justiça, liberdade e coragem. Em algumas duplas, um dos alunos encontrava as palavras
ditadas, enquanto o outro aluno tinha como tarefa entregar o lápis de cor para o seu
parceiro.
Como já dissemos anteriormente, foi entregue apenas um texto para cada dupla
sem nenhum esclarecimento sobre a função que cada membro deveria assumir. Não
76
houve permuta de função entre os membros da dupla, nem houve interação entre eles, o
que sabemos ser indispensável para que haja aprendizagem. Pudemos deduzir que o
aluno que apenas entregava os lápis de cor não refletia sobre a escrita, perdendo a
oportunidade de avançar nas suas hipóteses de leitura e de escrita, o que não acontecia
com o outro membro, pois o mesmo procurava, “lia” a palavra e pintava.
Outra observação importante é a questão da diversidade da atividade, cujo
objetivo é atender aos alunos alfabéticos e não-alfabéticos. A Professora propôs para
toda a turma o mesmo desafio: encontrar e pintar as palavras por ela ditadas, ou seja,
não diversificou a atividade, deixando de atender às necessidades específicas dos
alunos, ao não levar em consideração as hipóteses de escrita e leitura nas quais eles se
encontravam.
Passemos a refletir sobre essa atividade, tendo em vista as hipóteses de leitura das
crianças. Em primeiro lugar, vamos analisar a referida atividade levando em conta os
alunos não-alfabéticos. O PROFA (M1U4T9, p.1) diz que:
Embora os alunos não saibam ler convencionalmente, podem (e devem) ser colocados no papel de ‘leitores’. Para quem está construindo a idéia de que a escrita é uma representação do falado, estabelecer uma relação entre o que é falado e o que está escrito coloca problemas que ajudam a refletir sobre as partes escritas. Portanto, propor atividades de leitura utilizando textos que os alunos sabem de cor, (...), significa propor situações de aprendizagem significativas. Nessas atividades o professor pode (...) pedir que localizem no texto um refrão, um verso ou uma palavra.
No caso da atividade em questão, a Professora colocou bons desafios para os
alunos não-alfabéticos, enquanto os alfabéticos, (já que a atividade era localizar a
palavra e pintá-la,) não enfrentaram desafios que os fizessem avançar no processo de
leitura e escrita. Para estes, a atividade deveria ser diversificada. Por exemplo, entregar
77
a lista das palavras para estes alunos ditarem (no lugar da Professora), para que os
alunos não-alfabéticos pudessem encontrá-las no texto, seria uma atividade de leitura
significativa. Poderia também solicitar que eles escrevessem as palavras ditadas. Sendo
assim, eles teriam que pensar sobre a ortografia das mesmas, uma vez que já estavam
alfabetizados, passando a desenvolver assim uma atividade de escrita.
Como já foi comentado no início da análise, o cartaz, com a letra da música, que a
Professora afixou no quadro, estava escrito com letra de imprensa, enquanto a letra da
música que as crianças receberam estava escrita com letra cursiva. Ao desenvolver a
atividade, a aluna (A4) identificou a palavra liberdade no cartaz, mas não encontrou no
texto escrito com letra cursiva. Novamente vamos encontrar nos textos do PROFA
(M1U3T10 – p.2), uma explicação para o que ocorre com essa aluna:
(...) no período em que os alunos ainda não se alfabetizaram e estão ocupados em descobrir quantas e quais letras são usadas para escrever (ou seja, ocupados com uma análise de aspectos quantitativos e/ou qualitativos da escrita), o uso da letra de fôrma maiúscula é o mais recomendado, pois suas características permitem que eles analisem as letras separadamente, distinguindo-as umas das outras com facilidade – além de serem também mais simples de grafar. A letra manuscrita, por ser contínua, não ajuda os alunos a identificar quantas e quais letras estão escritas, pois nem sempre é observável onde uma acaba e a outra começa. Depois que eles se alfabetizam, aí sim, é o momento de ensiná-los a escrever a letra manuscrita e de exercitá-la para que escrevam rapidamente e de forma legível.
A próxima atividade foi a leitura do texto, que estava afixado no quadro.
A Professora propôs que todos lessem primeiro todo o texto. Depois ela entregou as
tiras de papel com os versos da música para que os alunos fizessem a ordenação do
texto lido.
78
Para introduzirmos a discussão sobre a concepção de leitura que embasa a prática
da Professora, faz-se necessário recuperar um grande recorte da sala de aula, o qual
mostra o desenvolvimento da atividade de leitura, daí a importância que seja colocado
na íntegra para a análise em questão.
A Professora deu início à atividade conforme mostra o recorte abaixo:
(6)
L1P1: vamos le::r (+) depois eu vou entregar umas ti::ras pra vocês vão montar a
músi / a música (+) a le::tra
L3A7: aquilo ali::! ((um aluno diz apontado para o cartaz que tem a letra da música
afixado no quadro))
L5P1: aquilo ali::! (+) então vocês vão le::r (+) claro que aqui está com letra bastão
letra cursiva (incompreensível) com letra de mão (( a professora estava
falando a respeito do tipo de letra (cursiva) que ela usou para escrever o texto
nas tiras de papel objetivando a ordenação.))
L9A8: sai:: (+) ô ti::a
L10P1: vamos lá (++) os que sabem / (+) os que já vão lendo vai montar
bem direiti::nho (incompreensível) qual é o título da mú::sica?
L12Axx: paz pela paz
L13A7: PA::Z pe – la paz
L14A5: paz pela paz
L15P1: paz pela:: ...
L16Axx: pa::z (+) [pela nature / ((alguns alunos começaram a cantar))
L17P1: [só lendo (+) agora a gente não vai cantar (+) nós vamos le::r
depois eu vou entregar pra vocês e vocês vão monta::r ((estava se
referindo as tiras de papel)) a paz do [mu::ndo come::ça em mi::m
L20Axx: [mu::ndo come::ça em mi::m
L21P1: começa::ndo (+) aqui:: de novo ((apontando no cartaz))
L22Axx: A pa::z do mu::ndo come::ça em mi::m se eu tenho amo::r
L23P1: se eu tenho amo::r [com certeza sou ...
L24Axx: [com certeza sou feliz
79
L25P1: o::lha o feli::z que é a primeira palavra circulada ((apontando para a palavra
feliz))
L27Axx: [ se eu fa::ço be::m ao meu ir:::mão
L28P1: [se eu fa::ço be::m ao MEU? que nome é esse? ((apontando para a palavra
irmão))
L30Axx: irMÃ:::o
L31P1: eu não pedi pra vocês circularem irMÃ::O? alguns circularam coraÇÃ::O
(+) porque irmão e coração? (++) termina igual o mesmo so::m?
L33A7: nã::o
L34A2: termi::na
L35P1: irmã::o coraçã::o (++) tenho a grande::za dentro do MEU...
L36Axx: coraçã::o
L37P1: che::gou [a hora da gente construir a pa::z
L38A11: [tia (++) tia
L39Axx: [a hora dagente construir a pa::z (( eles estavam lendo essa parte
da música, mas continuaram cantando)) (+) ningué::m suporta ma::is o
desamo::r (+) paz pela paz [pelas crianças ((cantando))
L42P1: [quem sabe me dizer o que é desamor?
L43A5: desamor é a pessoa que tá brigando todo dia todo dia e / e não se uni::r
L44P1: Vi::rgem Maria esse menino hoje ele veio assi::m (+) desamor é tá brigando
todo dia todo dia e não se unir (+) então é FALTA DE:: ...
L46Axx: amor
L47P1: FALTA DE:: ...
L48Axx: amo::r
L49P1: amo::r
L50A1: tia e também falta de educação
L51P1: também (++) aqui (+) comigo ((apontando para a frase que vai ser
lida)) [paz pela? ((lendo))
L53A1: [(incompreensível))
L54Axx: paz
L55P1: [paz pela paz pelas ...
L56Axx: [paz pela paz pelas florestas
L57P1: florestas [paz pela paz pela coRAGEM DE::?
L58Axx: [paz pela paz pela coragem de mudar
80
L59A8: [paz pela paz pela coragem de cantar
L60A7: [paz pela paz pela coragem de cantar
L61P1: de o que?
L62Axx: muda::r
L63P1: [pa::z pela paz pela ...
L64Axx: [pa::z pela paz pela justiça
L65A3: pela justiça
L66P1: justiça (+) paz pela paz ((a fita acabou nesse momento e enquanto eu
trocava a fita leram a frase da música: paz pela paz a liberdade; e
conversavam sobre o conceito de liberdade))
L69Axx: (inaudível)
L70P1: é você faZE::R (+) o::lhe (+) liberdade é você ter o direito de fazer (+) fazer
o que você quer /agora (+) coisas erradas?
L72Axx: nã::o
L73A4: por isso / por isso (incompreensível)
L74P1: ce::rto coisas corretas (+) você quer a liberdade de que::? (+)
(incompreensível) liberdade de escolha (+) só que ele vai escolher o certo?
L76Axx: nã::o
L77P1: quem escolher errado o que é que vai acontecer (incompreensível)
L78A3: (incompreensível)
L79P1: olha aqui (+) aí ele vai ter que prestar conta a JU::S ...
L80Axx: TI::ÇA
L81P1: então liberdade é a sua escolha (+) porque /
L82A3: se não se você não respeitar você vai pro xadrez
L83P1: é:: se fizer coisa errada né?
L84A1: se for rouba::r
L85P1: [se você /
L86A3: [se você (+) se a polícia pegar aí você (+) e roubar no mesmo dia aí vai
preso de novo
L88P1: se você não souber fazer uso da a sua liberda::de aí vai perder a liberdade
(+) vai ficar preso
L90A3: até o resto da vida
L91P1: é:: se bem aqui no Brasil né? (+) não é pro resto da vida não (++) liberdade
olhe aqui
81
L93A3: (incompreensível)
L94P1: paz pela paz pela beleZA DE ...
L95Axx: ama::r
L96P1: de te amar
L97Axx: (inaudível)
L98P1: a paz no mundo começa em mim
L99Axx: a paz do mu::ndo começa em mi::m ((cantando))
L100P1: GE::Nte (++) eu coloquei de verde po::r quê? ((estava se referindo ao
refrão que ela escreveu de verde))
L102A3: já tá / já tá subindo de novo pra cima ((a aluna está referindo a parte da
música que repete))
L104P1: é:: tá subindo pra cima (+) olhe a paz no mundo começa em mim (+) aí vai
começar tudo de novo aí pra tia não repetir e escrever tudo de novo
(incompreensível) cartolina dessa aí eu coloquei de ve::rde pra destacar e
você saber que / voltou lá:: pra cima
L108A6: (incompreensível)
L109P1: muito bem Ricardo
L110A8: pra não fica::r gastando ca::r / cartolina
L111P1: é também (++) aqui (+) paz pela paz pela::s ...
L112Axx: cria::nças
L113P1: paz pela paz pela::s ...
L114Axx: flore::stas
L115P1: paz pela paz pe::la ...
L116A3: justiça ((a criança disse justiça, mas era coragem de lutar))
L117Axx: cora::gem
L118P1: hã?
L119Axx: cora::gem
L120P1: coragem de:: ...
L121Axx: mudar
L122P1: paz pela paz pela:: ...
L123Axx: justi::ça
L124P1: paz pela paz da:: ...
L125Axx: liberda::de
82
L126P1: [paz pela paz pela:: ...
L127A9: [paz pela paz pela::...
L128Axx: bele::za
L129Axx: (inaudível)
L130P1: pela beleza de:: ... (incompreensível) pela beleza de amar (+) aqui:: (+) paz
pela paz po::r ...
L132A8: mu::n - do
L133Axx: mu::ndo no::vo (+)
L134P1: mu::ndo ...
L135Axx: no::vo
L136P1: [ou seja (+) sem violência
L137A7:[(inaudível)
L138A1: (incompreensível)
L139P1 paz pela paz da:: ...
L140A5: esperança
L141P1: esperança (+) muito bem (++) paz pela paz pela:: ...
L142A2: coragem
L143A1: pela coragem de mudar ((o aluno leu))
L144P1: paz pela paz pela:: ...
L145A4: JUSTIÇA
L146P1: paz pela paz a:: ...
L147Axx: liberdade
L148P1: paz pela paz pela:: ...
L149A7: beleza
L150A3: beleza de mudar
L151P1: NÃ::O
L152A7: de te amar
L153P1: de te amar (+) ago::ra / ((ela pegou as tiras com o texto escrito))
Esse recorte nos revela que o fato de os alunos falarem a letra da música não
confirma que eles tenham lido o texto, uma vez que em seguida eles continuavam
cantando. A Professora tentou retomar a leitura do texto, eliminando a cantoria por duas
83
vezes. E as crianças começavam “lendo” e logo continuavam cantando, conforme se
pode observar nas linhas: L17 e L39.
Há várias passagens que confirmam a leitura não convencional dos alunos: em
L59 e L60 dois alunos falaram “cantar” enquanto a Professora indicava no cartaz
“mudar”; logo em seguida, na L116, a criança disse “justiça”, mas era “coragem de
lutar”. Outra passagem similar a essas duas já citadas está entre L148 a L153 As
palavras eram “beleza de te amar” e os alunos falaram “beleza de mudar”. A Professora
deixou de fazer a intervenção adequada no momento em que os alunos disseram uma
palavra quando estava escrita outra.
A Professora desenvolveu essa atividade de leitura usando a estratégia de falar o
início da frase e, como as crianças sabiam o texto de cor, completavam. No início do
texto, até mais ou menos o meio, os alunos acompanhavam a Professora na leitura do
texto, mas cantando, na maioria das vezes. Do meio para o fim, eles só completavam
com a palavra que a Professora deixava para eles falarem.
Em dois momentos, nesse mesmo recorte, a Professora interrompe a leitura e
inicia um discurso sobre o conceito da palavra desamor em L42 até L51. Voltemos
aquele trecho.
Primeiro ela inicia a interlocução perguntando para os alunos o que é desamor. Na
L43 o aluno (A5) diz o seu conceito de desamor. Ela avalia positivamente quando diz:
“Virgem Maria esse menino hoje veio assim”, mas insistiu para que as crianças dessem
o conceito que ela queria, tentando dessa forma manter um único conceito. Sua
estratégia (já conhecida pelos alunos) foi a de indicar a suposta palavra para eles
completarem, em L45. E as crianças responderam com a palavra esperada pela
Professora, em L46, ela avalia positivamente, repetindo a resposta considerada correta.
Logo em seguida outra aluna deu outra resposta em L50. A Professora aceitou a
84
resposta dada, mas não deu continuidade ao discurso sobre o conceito da palavra
desamor. Retomando a leitura do texto em L51 observamos que os alunos apresentam
“conceitos” significativos para a palavra, ou seja, suas respostas (dos alunos) revelam
que eles internalizaram o conceito real da palavra desamor.
Na tentativa das crianças refletirem sobre a escrita, a Professora interrompeu a
leitura, em L25, quando ela aponta a palavra feliz no cartaz e comenta que foi a primeira
palavra circulada. Contudo, não houve uma intervenção no sentido das crianças
refletirem sobre a escrita da referida palavra. Na outra intervenção, ela associa o som
igual da terminação das palavras irmão e coração.
A próxima atividade foi ordenar as partes do texto, em que cada aluno recebeu
uma tira contendo um verso da música. De acordo com o PROFA (M1U7T3 – p.4), este
tipo de atividade para os alunos não-alfabéticos tem como desafios:
(...) tentar ler antes de saber ler convencionalmente; estabelecer correspondência entre partes oral e partes do escrito, ajustando o que sabem de cor à escrita convencional; utilizar o conhecimento sobre o valor sonoro (...); acionar estratégias de leitura que permitam descobrir o que está escrito e onde.
Para os alunos alfabéticos, realizar essa atividade tal como foi proposta não os
leva a refletir sobre a ortografia das palavras, uma vez que é apenas depois de
alfabetizado que o trabalho com a ortografia deve ser iniciado. Portanto, podemos
observar que a Professora não adequou a atividade de ordenação levando em
consideração o conhecimento dos alunos alfabéticos. Para esses, a atividade poderia ser
a de escrever o texto no caderno, ou parte dele, já que é longo. Como também poderiam
receber as palavras ou as letras móveis (letras soltas) do texto, para montá-lo. Dessa
forma, eles teriam que pensar sobre a ortografia das palavras.
85
No recorte abaixo, que faz parte da atividade de ordenação do texto, analisaremos
a intervenção da Professora.
(7)
L1P1: se e::u tenho amo::r com certeza sou feli::z (+) quem é que está com esse?
(+) se eu tenho amor com certeza sou feli::z (++) quem é que está? se eu tenho
amor com certeza sou feliz (+) olhem (+) [se eu tenho amor / com certeza
sou feliz
L2A5: [(incompreensível)
L3P1: quem é que está?
L4A8: é esse tia?
L5P1: nã::o ((a professora só respondeu sem fazer nenhuma intervenção))
L6A3: [é esse ti::a? ti::a é esse? ti::a
L7Axx: [(inaudível)
L8P1: não (+) leia (+) [se eu tenho amor com certeza sou feliz
A Professora lê o verso (em L1) várias vezes, a aluna lhe pergunta se o verso que
ela tem é o que a Professora leu: “é essa tia? Com essa pergunta, a aluna demonstra que
necessitava da ajuda da Professora para “saber” o que estava escrito em sua tira, ou seja,
ela demonstra que sozinha não seria capaz de dar respostas ao que estava sendo
solicitado. Nesse sentido, a Professora deveria ter dado “dicas” que a ajudassem a
pensar sobre o que estava escrito na sua “tira”, do tipo: por que você acha que é a sua? E
a partir da resposta da aluna, ela levantaria outras questões.
Durante toda a realização dessa atividade, quando os alunos perguntaram se a
“tira” era aquela que eles tinham, a Professora confirmou com um “muito bem”, para os
acertos, e para os erros, sua resposta foi “não”. Em nenhum momento, os alunos não-
alfabéticos foram instigados pela Professora a refletirem sobre o que estava escrito nas
86
suas “tiras”. Dessa forma, podemos dizer que a professora desperdiçou boas
oportunidades para fazer intervenções adequadas.
As respostas dadas por essa Professora, na Pesquisa Inicial (PI) e na Pesquisa
Final (PF) e os recortes de sala de aula aqui analisados, permitem-nos tecer algumas
considerações gerais sobre a prática de P1.
O PROFA defende como proveitosa a metodologia de trabalho em duplas de
alunos. Quando, nessas duas pesquisas, pergunta-se ao professor sobre o uso dessa
metodologia, P1 (Vide Anexos A e B) afirma que já a usava e reafirma na PF,
justificando esse uso: “(...) a aprendizagem flui mais naturalmente, é o momento de
troca de experiências, da superação de dificuldades, da socialização e da partilha do
saber”.
Conforme verificamos a partir da análise dos recortes de sala de aula, essa
mudança conceitual não se refletiu significativamente na prática pedagógica. Assim,
pode-se dizer que a prática contradiz o seu próprio discurso.
No que diz respeito ao uso da letra de bastão e letra cursiva, o PROFA
(M1U3T10) recomenda o trabalho com esses dois tipos de letra quando os alunos já se
encontraram alfabetizados, porém, para os alunos não-alfabéticos, ao usar os dois tipos
de letra, o professor dificulta a aprendizagem da leitura, conforme já mencionamos
anteriormente.
A concepção que essa Professora ainda tem sobre o ensino da leitura é a de que a
aprendizagem ocorre através da repetição. Dito de outra maneira, na sua prática de
ensino da leitura, a mesma prioriza o modelo mecanicista de decodificação do escrito no
oral, como pudemos observar no desenvolvimento da atividade de leitura quando usou a
estratégia de falar o início da frase para as crianças completarem.
87
Apesar disso, pudemos perceber avanços na sua prática pedagógica ao trabalhar
com o texto em sala de aula, fazendo uso social do mesmo, estabelecendo relações com
a vida cotidiana dos alunos. Isso nos revela que houve mudança de conceito e de prática
em relação ao ensino da leitura, o que também tem sido confirmado por outros dados,
apresentados no decorrer do curso. As respostas dadas na PI e PF (Vide Anexo A e B)
nos mostram que antes do PROFA, a leitura de histórias e outros textos para os alunos
era feita uma vez por quinzena; depois do PROFA, a Professora passou a ler para os
alunos diariamente.
Ainda em relação à leitura, a Professora, na PI, diz que antes do PROFA
trabalhava com textos de jornais e revistas; depois do PROFA introduziu outros tipos de
texto como: rótulos de diferentes produtos, embalagens, cartazes, encartes, parlendas,
poesias, músicas folclóricas, adivinhas, receitas entre outros. Pelo que afirma, a leitura
de textos passou a fazer parte da rotina desta sala de aula.
De acordo com a PI e PF, a Professora afirma que fazia atividade de escrita e
leitura, seguido a metodologia de trabalho com as famílias silábicas, duas vezes por
semana, abandonando essa metodologia após a sua participação no PROFA. Esse
discurso da Professora é coerente com a sua prática, uma vez que seus alunos, durante o
diagnóstico, reagiram positivamente, demonstrando familiaridade com o que estava
sendo solicitado pela pesquisadora. Isso nos mostra uma mudança conceitual e
metodológica na prática dessa Professora.
Outro dado que nos revela essa mudança é em relação ao ditado de palavras
desconhecidas, para diagnosticar as hipóteses de escrita. P1 revela na PI que, antes do
PROFA, essa atividade era feita uma vez ou outra durante o ano. Depois do PROFA,
afirma na PF que passou a ser feita uma vez por mês. Mais uma vez foi confirmado, a
88
forma como as crianças reagiram ao diagnóstico já mencionado confirma a
familiaridade delas com esse tipo de atividade.
Em contrapartida, nas atividades de “leitura” das palavras ditadas pela Professora
e na ordenação de textos, ambas propostas pela PROFA, a Professora não diversificou
as referidas atividades para atender às necessidades dos alunos, não levando em
consideração o que os alunos já sabiam, o que os alunos não sabiam e o que eles ainda
precisariam saber.
Um outro ponto que vale a pena ressaltar é em relação à intervenção pedagógica,
visto que a Professora não soube aproveitar muitas oportunidades criadas pelos alunos
para dar pistas, para que as crianças pudessem avançar mais nas suas hipóteses de
escrita. Enunciados como “como é IR?” materializam o pedido de ajuda para “ler” a
palavra ditada pela Professora.
É preciso, contudo, registrar que, do ponto de vista qualitativo e quantitativo, os
dados mostram uma mudança na prática dessa Professora, a qual concluiu o ano letivo
com quase toda turma alfabetizada e os demais alunos bastante avançados nas suas
hipóteses de escrita. O “barulho” de sua sala de aula retrata o trabalho dos sujeitos no
processo de construção de conhecimento, que se dá através da interação. As mudanças
metodológicas, conseqüências das mudanças conceituais, podem ser assim resumidas:
• Abandono da metodologia de trabalho com as famílias silábicas.
• Uso de texto real.
• Articulação entre assuntos discutidos em sala de aula.
• Atividades desenvolvidas tomando como referência situações didáticas de
alfabetização propostas pelo PROFA, tais como: leitura de uma música que as
89
crianças já sabiam de cor; “leitura” (identificação de palavras do texto, ditadas
pela Professora) e ordenação do texto.
• Leitura de vários tipos de texto, feita diariamente, pela Professora.
• Ditado de palavras, para diagnosticar as hipóteses de escrita, feito uma vez por
mês.
O diagnóstico aplicado no final do ano letivo, ao revelar que 72,7% dos alunos
estavam alfabetizados, demonstra também um avanço quantitativo. A própria
Professora reconhece essas mudanças na sua prática docente:
Antes de participar do PROFA, eu era muito presa a cartilhas, raras vezes trabalhava com outros tipos de textos; depois que ingressei no curso, vi o quanto estava ultrapassada, isto acontecia não por falta de conhecimento, e sim por comodismo; a morosidade dá menos trabalho. Hoje estou mais segura e procuro ensinar de maneira mais prazerosa e menos cansativa. (dados da PF, ver anexo B)
90
3.2 O SILÊNCIO: A PRÁTICA DA PROFESSORA 2
3.2.1 A rotina de sala de aula
A sala de aula de P2 era ampla, e composta de mesas e cadeiras, arrumadas em fila
indiana, um armário com duas portas, um quadro negro, um birô e uma cadeira para a
Professora. A iluminação era razoável, mas a ventilação era muito precária, pois os dois
ventiladores da sala estavam quebrados. Um aspecto que chamou a atenção foi a
ausência de qualquer tipo de material escrito (livros, revistas, jornais, etc.), tornando a
organização do espaço da sala de aula desfavorável à aprendizagem da leitura e escrita.
Como diz Ventura (1999, p. 58), “(...) o código escrito tem de estar presente nas salas de
aula com todas as modalidades textuais e também como referência para desenvolver
diferentes tipos de explorações”.
Havia um total de 26 alunos matriculados sendo: vinte e quatro crianças, uma
adulta e uma adolescente, a qual estava fazendo a 1ª série pela quarta vez. A aluna
adulta estava freqüentando esta sala, pela impossibilidade de freqüentar à noite, a EJA
(Educação de Jovens e Adultos). No primeiro dia de gravação, estavam presentes
apenas dezenove alunos. E no segundo dia, estavam freqüentando vinte e cinco alunos.
A Professora começou a aula, no primeiro dia de gravação, escrevendo no quadro,
com letra cursiva, o cabeçalho (nome da escola, data, aula de história, dia da bandeira) e
ficou esperando em silêncio que os alunos copiassem o cabeçalho no caderno: o mesmo
silêncio as crianças também faziam; o único barulho que ouvíamos vinha fora da sala de
aula.
O silêncio foi quebrado pela Professora para nos justificar que a aula preparada
para aquele dia era de história e não de português, porque no dia da bandeira não havia
91
sido trabalhado aquele tema em virtude de não ter tido aula por causa da eleição para
diretor. Do ponto de vista de nossa pesquisa, essa informação não era relevante, já que
nos interessava observar a prática docente, independente da disciplina.
A Professora esperou aproximadamente trinta minutos para que a turma copiasse o
cabeçalho. O tempo gasto pela turma para copiar o cabeçalho foi longo devido ao pouco
conhecimento dos alunos a respeito da escrita, o que fazia com que eles copiassem as
palavras do texto, letra por letra, já que não sabiam ler e escrever convencionalmente. A
Professora deu continuidade à aula falando sobre a bandeira. Depois pegou, do armário
da sala, um livro didático e copiou o texto.
Dia da Bandeira8
“A Bandeira Brasileira é um Símbolo da Pátria que
representa o nosso país. Nossa Bandeira foi criada no dia 19 de
novembro de 1889. As cores da Bandeira são: Verde, amarelo azul
e branco.
As estrelas representam os Estados do Brasil”.
Os alunos copiavam nos seus cadernos o texto transcrito (copiado) acima, em
silêncio. Quando a Professora terminou de copiar o texto no quadro, passou pelas mesas
para ver se eles já tinham copiado.
O silêncio na sala era grande, e tudo o que ouvíamos era a outra turma, da sala
vizinha, rezando e cantando. Os alunos que iam terminando de copiar, ficavam quietos
nos seus lugares esperando que os outros terminassem, sem conversar com ninguém.
8 O texto foi digitado obedecendo a organização dada pela Professora.
92
Quando surgia alguma conversa entre eles, logo eram repreendidos pela Professora. E
assim, se passaram aproximadamente quarenta minutos; durante esse tempo o discurso
estabelecido na sala era mínimo, conforme recorte abaixo:
(1)
L1P2: a pa::z (+) muito bem (+) então nós vamos fazer um pequeno resumo aqui
no quadro (+) bem pouquinho (+) pra vocês (incompreensível) (++) vamos
prestar atenção (+) pra acompanhar (++) Bruno venha fazer sua tarefa
e deixe de conversa (+) ((dirigiu à carteira de Bruno)) ainda tá aqui:: ?
(+) eu apago já o quadro ((uma criança levantou-se aproximou-se da
Professora e mostrou o caderno para ela)) terminou? ((a Professora
pegou o caderno da criança para verificar se a mesma tinha concluído a
cópia. Depois se aproximou de duas crianças que começaram a conversar e
falou algo para elas muito baixo; não deu para o gravador captar))
L10A1: pula linha? ((a criança chamou a professora até a sua carteira))
L11P2: não (+) pula não
L12A3: terminei
L13P2: terminou gente? (++) senta Paulo e Luiza (++) vai ganhar uma
caixa de chocolate? vai ganhar (+) vai ganhar ((a professora fez o
comentário olhando a cópia de um aluno))
L16A5: tia (+) pula linha?
L17P2: NÃO (++) gente eu tô esperando que vocês terminem (+) daqui a pouco dá
três horas e vocês não terminam
L19A6: tô terminando
L20A7: terminei
L21P2: já Rafaela?
L22Axx: (inaudível)
Conforme afirmamos, durante toda a aula, o silêncio na sala se fazia presente, a tal
ponto que, na transcrição da gravação, observamos poucas falas sobrepostas e, quando
havia, eram falas autorizadas pela Professora. Assim sendo, nos deparamos com uma
93
situação que não condiz com o comportamento esperado de crianças na faixa etária de
sete anos, as quais são, naturalmente, irrequietas e interativas.Vejamos alguns exemplos
dessa sobreposição nos recortes abaixo:
(2)
L1P2: nove::mbro
L2Axx: nove::mbro de
L3P2: [de:: mil oitocentos e oitenta e nove
L4Axx: [de:: mil oitocentos e oitenta e nove
(3)
L1A3: [verde
L2A7: [amarelo
(4)
L1P2: a:: [bandeira
L2Axx: [bandeira
L3P2: [brasileira
L4Axx: [brasileira
Notemos que a sobreposição ocorre apenas na repetição da leitura feita pela
Professora. Como os alunos já sabiam algumas palavras que seriam lidas, já as repetiam
em consonância com a mesma.
Registremos que, durante toda a aula, dois alunos ficaram sem fazer nada: não
copiaram, não desenharam, não pintaram e nem sequer falaram. Mantiveram-se sempre
“deitados”, com a cabeça encostada na mesa, esperando o tempo passar. A Professora
não demonstrou nenhuma atitude em relação a esse comportamento, o que nos leva a
94
crer que, como os dois alunos não conversavam, portanto não “atrapalhavam” a aula da
Professora, também não necessitavam da intervenção da mesma. E aqui é importante
registrar que a maioria das vezes em que a Professora se dirigia a um aluno era com o
objetivo de repreendê-lo, exatamente porque estava conversando. Esse é um aspecto que
merece a nossa reflexão. Para tal, tomamos como referência a teoria de Foucault, por se
tratar da relação de poder exercido pela Professora, pois as outras teorias que embasam
nossa pesquisa não dão conta dessa relação de poder.
À luz das reflexões de Foucault (1987), o poder é concebido como relação de
forças, sendo constitutivo de qualquer relação social. O tipo de poder, de acordo com a
teoria foucaultiana, que dá suporte para esta análise é o poder disciplinar, o qual
encontramos na escola contemporânea. A escola aos poucos foi deixando de usar
castigos como: palmatórias, joelhos em cima de caroços de milho ou feijão , ou seja, a
punição deixou de ser física, e foi substituída, no dizer de Guirado (1996, p. 63), “(...)
por um conjunto de práticas em que a punição é exatamente a restrição ao movimento e
à comunicação com os demais”. Para Foucault (1987) o poder disciplinar tem como
características: a vigilância, a sansão normalizadora e a combinação de ambos. No que
se refere à vigilância, o referido autor (1987, p. 143) diz que: “o exercício da disciplina
supõe um dispositivo que obrigue pelo jogo do olhar (...)”, para o qual ele chamou de
vigilância hierárquica. O exercício do poder supõe a vigilância. No caso específico do
nosso recorte, o professor é aquele que detém o poder, portanto, ele é o ponto para onde
os olhares se convergem; em contrapartida o seu olhar dirige-se a todos da sala. A
própria disposição física das mesas e cadeiras (fila indiana), na sala da Professora 2 nos
revela como se dá a relação de poder entre professora/alunos. Tal disposição da mobília
dificulta que os alunos conversem com seus colegas vizinhos, e facilita a vigilância dos
movimentos dos alunos sob o controle do olhar da Professora.
95
Em relação à sansão normalizadora, Foucault (1987, p. 151) refere-se a ela como
“(...) a qualificação dos comportamentos e dos desempenhos a partir de dois valores
opostos do bem e do mal (...)”. Portanto, essa sansão, para Foucault , passa pela punição
e pelo prêmio. Esses são procedimentos presentes nessa aula. Vejamos os exemplos.
(5)
L1P2: Roberto é meu ca::rma (++) e aí José? vai fazer a bandeira? hein?
(6)
L1P2: terminou gente? (++) senta Paulo e Luiza (++) vai ganhar uma caixa de
chocolate? vai ganhar (+) vai ganhar ((a Professora fez o comentário olhando
a cópia de um aluno))
No recorte 5, temos um exemplo típico de punição no momento em que o aluno é
visto pela Professora como o seu carma. Já na no recorte 6, a sansão normalizadora
usada foi a premiação, quando a Professora olhou a cópia do aluno e disse-lhe que ele
iria ganhar uma caixa de chocolate. A questão do prêmio na sala de aula não deve ser
visto apenas como dar um objeto como presente, mas pode ser encarada como um
procedimento mais amplo que envolve, inclusive, a avaliação do aluno, do ponto de
vista da obtenção de notas.
3.2.2 A aula de leitura
Depois da cópia do texto pelos alunos, a próxima atividade foi a leitura do texto,
em que a proposta feita pela Professora foi de que primeiro as crianças ouvissem o texto
96
lido por ela e depois todos lessem. Ao finalizar essa etapa da atividade, o próximo passo
foi a repetição da mesma leitura, mas dessa vez por fila, usando as mesmas estratégias
já usadas na leitura feita com a turma. Enquanto os alunos de uma fila liam, os outros
das outras filas ficavam quietos escutando.
Apontando com a régua para o texto escrito no quadro, a Professora começou a
leitura de acordo com o recorte abaixo:
(7)
L1P2: leitura (+) não é isso? (+) vamos ouvir primeiro depois a gente
lê (incompreensível) presta atenção (++) Maria (+) vamos prestar atenção
querida! (+) guarde o livrinho ((a Professora estava se referindo a um livro
didático que a aluna pegou depois de ter terminado a cópia)) (++) vamos
lá (+) vamos ouvir depois a gente vai ler junto ((pegou a régua e apontando
para o texto escrito no quadro começou a leitura)) dia da bandeira (++)
a bandeira brasileira é u::m sí::mbolo da pátria (+) que representa (+) o
nosso país (+) ((interrompeu a leitura)) o nosso país é o ...
L9A3: Brasil
L10P2: Brasil (+) nossa bandeira foi criada no dia 19 de novembro de 1889
(+) as cores da bandeira são ve::rde amare::lo, azu::l e branco (+)
as estre::las representam os estados do Brasil (+) essa história / um
pouquinho da história da nossa bandeira (+) bandeira nacional essa
que a gente vê estendi::da (+) hasteada em algumas repartiçõ::es (+)
em algumas esco::las que a gente pa::ssa né? e a gente / ou ou pegou
nela no dia sete (+) todo mundo com a bandeirinha na mão pra /
cantar o hino nacional (+) é o sí::mbolo da nossa pátria (+) são
símbolos: o hino nacional, a bandeira nacional, o selo e o escudo que
vocês ainda não viram (+) nem selo nem escudos só (+) o hino que a
gente já canto::u e:: a bandeira nacional certo? é que a criancinha tá com
ela na mã::o (+) aqui no nosso livro tem (+) pequenininha (+) certo? a
bandeira nacional todo mundo já sabe quais são as cores / vamos lá
97
(+) então vamos ler junto certo? vamos lá! ((a leitura do texto feita pela
Professora foi pausada))
Como vimos nesse recorte, na L8, a Professora interrompeu a leitura para fazer
uma pergunta “o nosso país é o...” a qual levava a uma resposta óbvia “Brasil”, indo de
encontro à metodologia proposta pelo PROFA na qual o professor deve fazer
intervenções levantando questões, que leve os alunos a refletir, buscar soluções.
Nesse mesmo recorte a Professora tenta trazer o assunto para o cotidiano dos
alunos, em L13, quando ela diz: “(...) bandeira nacional essa que a gente vê estendida
(+) hasteada em algumas repartições (+) em algumas escolas que a gente passa né?”
Mais adiante, na linha 22, ela diz “(...) a bandeira nacional todo mundo já sabe quais são
as cores (...)”, esses discursos nos revelam que a Professora fala apenas do que, na sua
concepção “todo mundo” já sabe quando, na verdade, ela deveria fazer um
levantamento do que as crianças já conheciam àquele respeito e utilizar esse
conhecimento prévio como base para novos conhecimentos.
Durante a leitura feita pela Professora, a mesma faz uma pausa para ser preenchida
pela resposta do aluno. Quando ela terminou sua leitura, convidou os alunos para lerem
junto com ela, como mostra o recorte abaixo:
(8a)
L1Axx: a::
L2P2: aqui primeiro ((apontando com a régua para o título do texto))
L3Axx: leitu::ra
L4P2: NÃO (+) [DIA ...
L5Axx: [dia
L6P2: da ...
L7A4: bandeira
L8A6: bandeira
98
Esse recorte nos revela que o fato de os alunos repetirem o que a Professora estava
lendo não nos autoriza a dizer que eles tenham lido convencionalmente o título do texto,
uma vez que, em L3, vários alunos falaram “leitura” enquanto a Professora indicava
apontando com a régua, no quadro negro, “Dia da Bandeira”, – título do texto antes
reproduzido – o que a levou a repreendê-los com um “NÃO”, na L4.
Iniciaremos a discussão sobre a concepção de leitura que norteia a prática da
Professora, recuperando o recorte da sala de aula em que ela desenvolveu a atividade de
leitura. É um recorte grande, mas faz -se necessário para a análise em questão.
(8b)
L9P2: bandeira (+) vamos lá! (+) A::
L10Axx: a::
L11A2: [bandeira
L12P2: [BANdeira bra:: ...
L13Axx: bra::sileira
L14P2: leira é::
L15Axx: é::
L16P2: [u::m
L17Axx: [u::m
L18P2: sí::m ...
L19Axx: sí::mbolo
L20P2: sí::mbolo da:: ...
L21Axx: da::
L22P2: pátria
L23Axx: pá::tria
L24P2: que:: ...
L25Axx: que::
L26P2: representa ...
L27Axx: representa
L28P2: o nosso
L29Axx: o nosso
99
L30P2: país
L31Axx: país
L32P2: no::ssa
L33Axx: nossa
L34P2: Letícia (+) [Letícia (+) olhe pra cá:: filha (+) nosso / nossa
L35A1: [le /
L36Axx: nosso
L37P2: nossa
L38Axx: nossa
L39P2: bandeira
L40Axx: bandeira
L41P2: fo::i
L42Axx: fo::i
L43P2: cria::da
L44Axx: cria::da
L45P2: no::
L46Axx: no::
L47P2: di::a
L48Axx: di::a
L49P2: dezeno::ve
L50Axx: dezeno::ve
L51P2: de::
L52Axx: de::
L53P2: nove::mbro
L54Axx: nove::mbro de
L55P2: [de:: mil oitocentos e oitenta e nove
L56Axx: [de:: mil oitocentos e oitenta e nove
L57A4: [e NOVE
L58P2: não grita (+) a::s
L59Axx: a::s
L60P2: co::res
L61Axx: co::res
L62P2: da::
L63Axx: da::
100
L64P2: bande::ira
L65Axx: bande::ira
L66P2: são / quais são?
L67A3: [verde
L68A7: [amarelo
L69P2: ve::rde
L70Axx: amarelo
L71P2: amarelo (+) [azu::l
L72Axx: [az::ul
L73P2: e...
L74Axx: bra::nco
L75P2: bra::nco
L76A3: as
L77P2: a::s (+) estre::las
L78Axx: estre::las
L79P2: represe::ntam
L80Axx: represe::ntam
L81P2: o::s
L82Axx: o::s
L83P2: esta::dos
L84Axx: esta::dos
L85P2: do Brasil
L86Axx: do Brasil
Neste recorte, podemos perceber que a leitura feita pelos alunos é simplesmente a
repetição das palavras da leitura feita pela Professora. No dizer de Manacorda (2004, p.
33), esta leitura é a “que se lê com a boca e não, (...) com os olhos”.
Em relação ao texto escolhido pela Professora para a atividade de leitura, o mesmo
retrata uma escrita complicada. Apesar de haver coerência, faltam progressão ao texto e
elementos de coesão que melhor articulassem as suas partes. Em outras palavras, não há
elementos de ligação entre as frases, pois, se elas forem trocadas de lugar, não faz
101
diferença, ou seja, a troca de posição das frases não interfere no sentido do texto. De
acordo com Fiorin e Savioli (1995, p. 271), nos textos bem escritos, os enunciados estão
“(...) estritamente interligados entre si: ao se ler, percebe-se que há conexão entre cada
uma das partes”, ou seja, concluem os referidos autores (ibid, p. 271), os “(...) vários
enunciados estão organicamente articulados entre si (...)”, há concatenação entre eles.
Embora a Professora faça a leitura do texto, a metodologia utilizada por ela é a
mesma aplicada desde a origem do ensino da escrita alfabética, ou seja, fragmentada,
sílaba por sílaba, sem que haja nenhuma busca de sentido no texto. Esse tipo de
metodologia usada pela Professora, de acordo com Cagliari (1990, p. 163), é um
procedimento no qual falta o “(...) controle do pensamento ao longo da leitura: o aluno
acaba de ler e não sabe dizer o que leu”. Borges (1998, p. 43) também defende essa
idéia quando diz que “(...) a identificação de palavras isoladas não contribui para o
sentido global do texto”. De acordo com a Pesquisa Inicial (PI) e Final (PF) a Professora
disse que fazia a leitura de famílias silábicas e leitura em voz alta pelos alunos. No dia
da gravação ela fez a leitura de um texto, palavra por palavra, em que os alunos,
simplesmente, repetiam as palavras lidas por ela.
A repetição feita pelos alunos funciona como um índice de participação dos
mesmos e não como aquisição de um conhecimento, no caso a leitura. Isso fica evidente
se atentarmos para a L34 e L35, onde a Professora falou Letícia e, automaticamente
uma criança ia repetindo, chegando ainda a pronunciar a primeira sílaba do nome
chamado. De acordo com Sousa (2002, p. 61) “(...) o fato de os alunos falarem não nos
autoriza a dizer que eles tenham uma participação ativa no processo ensino-
aprendizagem”. Nesse caso, os alunos eram obrigados a falar.
Para o desenvolvimento dessa atividade de leitura, a Professora usou duas
estratégias: ora ela dizia (falava) a palavra e os alunos repetiam, como vimos no trecho
102
que vai de L22 a L33; ora ela indicava a suposta palavra e, quando os alunos sabiam de
cor, completavam-na, como em L12 e L13; L18 e L19.
A estratégia usada pela Professora para confirmar a resposta como correta, é a
repetição feita por ela das palavras que os alunos já falaram. Vemos isso em: L70 e
L71; L74 e L75.
Ficou visível a automatização a que leva os alunos, a forma como a Professora
conduz a leitura com os mesmos, fazendo-os simplesmente repetir o que ela fala, um
acentuado número de vezes, principalmente quando, num determinado momento, ela
que estava sempre pedindo para que as crianças começassem a leitura do inicio do texto,
ou seja, do título, resolveu pedir que lessem a partir de um determinado parágrafo. Foi
aí que o aluno (A11), no recorte abaixo, na L2, sem se dar conta, começa lendo pelo
título. Vejamos:
(9)
L1P2: e no::ve (+) certo! (+) é a fila de:: João (+) agora (+) quero ver os ci::nco
agora vamos ver
L2A11: di::a da bandeira
L3P2: a::s
L4Axx: a::s
L5P2: co::res
Diante do exposto chega-se a conclusão de que ler, para essa Professora, é repetir,
e que é dessa forma que ela acredita que os alunos aprenderão a escrita alfabética. Esta
concepção vai de encontro à concepção de leitura que norteia o PROFA, onde ler é
atribuir significado ao texto e é lendo, fazendo uso das estratégias de leitura, que se
aprende a ler.
103
A atividade desenvolvida depois dessa leitura foi chamada pela Professora de
“interpretação da leitura”, para a qual ela copiou no quadro cinco perguntas, como se
segue:
1) “Que Se comemora no dia 19 de nobro?9
2) Em que ano nossa Bandeira foi criada?
3) Quais são as cores da Bandeira?
4) O que representa as estrelas que estão na Bandeira?
5) Desenhe e pinte a Bandeira”.
A Professora escreve todas as perguntas com letra cursiva, e na primeira pergunta
escreve uma letra maiúscula no meio da frase e a palavra novembro faltando a sílaba
“vem”, além do erro de concordância na pergunta quatro. Só percebeu, um dos
“problemas”, depois que copiou todas as cinco perguntas e foi ler para os alunos.
Corrigiu sem fazer nenhum comentário, sem se preocupar que, a essas alturas, os alunos
já tinham começado a copiar nos seus cadernos. A letra maiúscula do “se” permaneceu
do mesmo jeito, bem como o erro de concordância na quarta pergunta. Constatamos que
a atividade oferecida seguia um modelo falho, pois expunha a limitação da Professora
no que se refere ao conhecimento da língua, como também a falta de comentário no
momento da correção do desvio da norma culta quanto à grafia da palavra, no momento
em que ela escreveu no quadro.
O que podemos observar dessas perguntas de “interpretação da leitura”, feitas pela
Professora, é que apenas visam reconhecer o que está lingüisticamente representado no
texto. No dizer de Sousa (2002, p. 132-133) “(...) a resposta que se faz ouvir é aquela
que corresponde à perspectiva de leitura prevista para o texto. Ou seja, a resposta deverá
9 O texto foi digitado do jeito que a Professora 2 escreveu no quadro.
104
ser localizada/buscada no texto, logo ela deverá estar explicitamente representada (...)”
(grifo da autora). Além disso nenhuma das perguntas leva os alunos a fazerem uma
reflexão sobre a escrita. Conseqüentemente não permitem que ponham em jogo o que já
sabem sobre a escrita, já que os alunos estão em processo de alfabetização A tarefa se
resumiu em copiar as perguntas; as respostas foram dadas oralmente, conforme o
recorte abaixo:
(10)
L1P2: (...) gente olha as perguntas (+) que se comemora no dia dezenove de no /
(++) no dia dezenove de novembro?
L3A7: Brasil
L4P2: bandeira (+) em que ano nossa bandeira foi criada? se lembra?
L5A7: mil
L6P2: mi::l
L7A7: novecentos
L8P2: oitoce::ntos e oitenta e ...
L9A4: nove
L10P2: no::ve (+) quais são as cores da bande::ira?
L11Axx: azul
L12A2: ve::rde
L13P2: verde (+) amarelo
L14A6:e branco
L15A1: bra::co e cheio de estre::la
L16P2: I::sso! o que representa (+) as estrelas que estão na bandeira?
L17A8: (incompreensível)
L18P2: o que representa? (++) o::s
L19A9: os esta::dos do Brasil
L20A7: (incompreensível)
L21P2: e o cinco (+) desenhe e pinte a bandeira (+) hein?
105
Nesse recorte, vimos a Professora utilizar três formas lingüísticas diferentes para
avaliar as respostas dadas pelos alunos. Uma delas é dizendo a resposta “correta”
quando o aluno diz a resposta “errada”, em L3 e L4; L7 e L8. A outra forma é repetindo
a resposta “correta”, confirmando o acerto, em L5 e L6; L9 e L10; L12 e L13. E o
último tipo de avaliação é reforçando a resposta “correta” ao dizer: “I::sso!”, em L16.
Enquanto os alunos copiavam as perguntas a Professora afixou um cartaz que
tinha uma menina e um menino vestidos de soldado. A menina tinha na mão uma
bandeirinha do Brasil e o título do cartaz era Dia do soldado. Ela justificou o motivo de
ter colocado esse cartaz, dizendo que o cartaz da bandeira do Brasil estava no armário,
mas tinha sumido. O tempo que passaram para copiar as cinco perguntas da
“interpretação da leitura”, desenhar e pintar a bandeira foi de aproximadamente sessenta
minutos. Novamente o silêncio reinava na sala de aula
O cartaz do Dia do soldado, afixado no quadro, servia como modelo para os
alunos desenharem e pintarem a bandeira do Brasil. Os alunos por sua vez, engajados na
prática da cópia e repetição, desenharam a bandeira pequena como eles estavam vendo
(a bandeirinha que a menina levava na mão no cartaz modelo). Após verificar os
desenhos dos alunos, a Professora chamou a atenção da turma para o tamanho da
bandeira, justificou que tinha colocado o cartaz apenas para os alunos observarem as
cores e como teriam que fazer, que ela não queria pequeno. O modelo de bandeira dado
pela professora ainda gerou outros problemas. Vejamos:
(11)
L1P2: sabe (+) faça do jeito que você fize::r (+) tá bem feito (incompreensível) (++)
você colocou as estrelas na faixa
106
Nesse recorte a Professora falou para um dos alunos que ele tinha colocado as
estrelas na faixa. Apontou para o cartaz do quadro que servia como modelo, mas a
bandeira do cartaz não possuía as estrelas desenhadas. Com isso, observamos mais uma
vez que, além da Professora dar o modelo, dá o modelo falho e exige o correto.
A preocupação da Professora e dos alunos era com o desenho da bandeira. Ela
circulava pelas mesas, orientando em relação ao tamanho do desenho e das cores que
eles iriam usar.
Entre a cópia das perguntas e o desenho da bandeira, passaram-se
aproximadamente, sessenta minutos, como já foi dito anteriormente. Gastar esse tempo
com uma preocupação como essa, que em momento algum levou os alunos a refletirem
sobre a escrita, nos leva a perceber que a Professora não sabe planejar boas atividades
de alfabetização, que ajudem os alunos a avançarem nas suas hipóteses de escrita e
leitura. Parece-nos que as atividades são planejadas com o intuito de “passar o tempo”
sem objetivos definidos.
No recorte abaixo, percebemos a preocupação insistente da Professora em saber se
os alunos tinham respondido as perguntas por escrito:
(12)
L1P2: pro::nto gente? respondeu? (+) parabéns! ((se aproximou de outra aluna e
fez a seguinte intervenção)) você respondeu esse aqui no lugar errado (+)
apague e responda aqui ((mostrando o lugar onde a aluna deveria ter
respondido)) (++) Bia:: Bia faça a sua tarefi::nha (++) olhe para o quadro
(+) (incompreensível) a bandeira foi criada (++) Le::o (incompreensível)
(++) João (incompreensível) já Paulo? respondeu? Bia! (+) já respondeu
alguma coisa? (++) já copiou as perguntinhas? (+) então vamos responder
gente? vamos? Maria! vamos responder? (+) deixa ela pintar (++) já
107
Marina? (+) senta direito Pedro (+) deixa para deitar em casa (++) João! (+)
vá respondendo João (++) já respondeu alguma coisa Ana? (++) (...)
Os alunos não poderiam responder por escrito, convencionalmente, se a maioria da
turma era não-alfabética, conforme dados citados anteriormente, no diagnóstico dos
alunos. Isso nos permite afirmar que a prática pedagógica da Professora estava pautada
numa concepção empirista da aprendizagem, na qual se faz presente: a cópia, a
repetição e a memorização.
Em seguida, a atividade desenvolvida foi de correção das perguntas. A Professora
chamou a aluna, para quem ela tinha localizado no texto a resposta, no momento em que
a turma fazia a cópia das perguntas. A aluna copiou as respostas no quadro e a turma
copiou no caderno. À medida que eles iam terminando de copiar, colocavam os
cadernos em cima da mesa da Professora. Ela dava o visto e chamava um por um para
eles pegarem o caderno. O que percebemos é que a prática de dar o visto no caderno faz
parte da rotina da sala, pois a Professora sequer pediu os cadernos. Em conversa com a
Professora sobre o seu trabalho, ela reafirma essa metodologia como fazendo parte de
sua rotina de trabalho citando os passos: primeiro copiavam o texto, depois a turma toda
lia, posteriormente a leitura era feita por fila, em seguida copiavam as perguntas da
“interpretação da leitura” e, para concluir, eles copiavam as respostas. Ainda afirmou
que, dessa forma, os alunos aprendem a ler e a escrever.
Em relação à interpretação de texto por escrito e a cópia da lousa, aparecem nas
respostas da PI e PF realizadas diariamente, como também foi dito por ela quando
conversava sobre sua metodologia. Essas atividades, além de estarem presentes no seu
discurso, foram constatadas na sua prática. Ambas realizadas, conforme já analisadas,
108
sem nenhum valor pedagógico para o progresso no processo de alfabetização dos
alunos.
A leitura de histórias e outros textos para os alunos foi outra atividade presente
tanto na PI como na PF, como sendo realizada todos os dias. Na prática também foi
realizada. Porém, de acordo com a análise feita, o que poderia ter sido uma boa
atividade de alfabetização, não o foi. A Professora não usou texto de qualidade, bem
como o seu procedimento metodológico para realizar a atividade de leitura foi
inadequado.
A leitura e escrita de famílias silábicas se fizeram presentes, tanto na PI como na
PF. Essa é uma atividade que vai de encontro, tanto à proposta do PROFA como às
últimas pesquisas realizadas sobre o ensino da língua escrita, pois se trata de uma leitura
fragmentada e, conseqüentemente, sem nenhum significado para os alunos.
Outras atividades que apareceram nas PI e PF foram: escrita de palavras
conhecidas e/ou frases e formação de frases com palavras conhecidas. Esses tipos de
atividades nos revelam que a prática da Professora está apoiada na memorização dessas
palavras que os alunos realizam sem nenhum significado para eles.
A atividade de separação de sílabas também apareceu na PI e PF, sem clareza do
real objetivo e sem nenhum valor pedagógico, uma vez que a maioria da turma não era
alfabética, da mesma forma que o treino ortográfico não faz sentido para crianças que
ainda não compreenderam o sistema alfabético. Trabalhar a ortografia das palavras,
quando as crianças ainda não foram alfabetizadas acaba se tornando uma atividade
totalmente mecânica. Essa atividade encontra-se presente, na PI e na PF como sendo
realizada todos os dias.
Quanto a atividades de coordenação motora, essas também estão presentes nas
duas pesquisas (PI e PF), só que realizadas duas vezes por semana. Essa é outra
109
atividade que vai de encontro às novas concepções do ensino da língua escrita. Na PF
essa Professora disse que fazia o diagnóstico para verificar as hipóteses de escrita das
crianças uma vez por semana, no entanto, quando realizamos o diagnóstico, as crianças
reagiram como se estivessem diante algo novo, o que nos leva a concluir que o
diagnóstico não fazia parte da rotina da sua aula.
Ainda na PF, a Professora descreveu, como atividade realizada com freqüência e
considerada fundamental para alfabetizar seus alunos, a escrita de palavras simples.
Enfim, concluímos que essa Professora, mesmo depois de ter participado do PROFA,
continua com a mesma concepção de que o ensino e a aprendizagem da língua escrita é
um processo cumulativo passando, pouco a pouco, do simples para o complexo.
Do ponto de vista qualitativo esses dados nos revelam que não houve mudança
conceitual sobre alfabetização e conseqüentemente não houve mudança na prática
alfabetizadora dessa Professora. Quantitativamente, o resultado do diagnóstico nos
mostra que menos da metade dos alunos concluiu o ano letivo com escrita alfabética,
um percentual de 31%. Esse resultado faz jus à forma com que a mesma encaminhou
suas atividades. Em suma, podemos afirmar que o PROFA não contribuiu para uma
mudança efetiva da metodologia do ensino da leitura e da escrita dessa Professora, visto
que ela continuou adotando a mesma metodologia de trabalho utilizada antes de
participar do referido curso.
110
CONCLUSÃO
Em face das várias contribuições acerca do ensino e aprendizagem da leitura e
escrita, nas quais apoiamos as reflexões aqui apresentadas, e com a certeza de que não
foram esgotadas, teceremos algumas considerações, a título de conclusão, em relação
aos dados dessa pesquisa.
Acreditamos, a exemplo do que defende o PROFA, que a capacidade de ler e de
escrever contribui, significativamente, para a formação do cidadão crítico, autônomo e
participativo. Nesse sentido, faz jus ao que Vygotsky já nos dizia, que é necessário
ensinar a “linguagem escrita”, e o seu uso social na escola.
Enquanto a escola não conceber a importância de levar para a sala de aula “textos
reais”, ou seja, que circulam em uma sociedade letrada, e enquanto não trabalhar com os
seus usos, suas diferentes funções, os vários modos de linguagem que se usa para
escrever e os vários modos de ler, o ensino da leitura e da escrita não deixará de ser
mecânico.
Em relação ao texto na sala de aula, queremos levantar dois pontos. Primeiro,
referimo-nos ao texto de qualidade, bem escrito e não é a qualquer escrito, com frases
soltas, sem conexões, sem sentido. O outro ponto a ser levantado diz respeito à
necessidade de o professor reformular o seu conceito de linguagem, de texto, de ensino
e de aprendizagem de alfabetização, para que haja uma mudança efetiva na sua prática
pedagógica alfabetizadora, utilizando o texto de fato como um objeto de estudo que
contribua para o uso efetivo da linguagem. Entendemos a alfabetização como um
processo pelo qual o educando aprende a decodificar, atribuindo sentido ao texto,
fazendo uso das funções sociais da escrita.
111
Conforme observamos, as duas professoras desenvolveram atividades de
alfabetização com textos. Por um lado, verificamos que uma delas (P2) usa o texto
como pretexto para camuflar sua prática: o ensino mecânico da leitura e da escrita.
Dessa forma, ela mantém a ilusão de que está fazendo diferente, que está atualizada, não
se sentindo excluída. Isso nos revela que, apesar de ter freqüentado o PROFA, não
houve uma mudança conceitual sobre a alfabetização, embora, durante o Curso, o seu
discurso tenha demonstrado uma visão diferenciada da que tinha anteriormente.
Por outro lado, a outra Professora 1 leva para sala um texto real e faz relação entre
esse texto e o cotidiano dos alunos, revelando-nos a apropriação de novos conceitos
sobre o ensino da leitura e da escrita.
Apoiado-nos nas teorias as quais apontam para uma concepção de linguagem e de
aprendizagem, centradas no fenômeno histórico-social, construídas através da interação
entre os indivíduos, teceremos alguns comentários sobre o “barulho” nas aulas da
Professora 1 e sobre o “silêncio” nas aulas da Professora 2. Por um lado, há, em nossa
sociedade, um conceito arraigado, adquirido na nossa formação, de que o barulho em
sala de aula revela indisciplina dos alunos e falta de competência do professor para
controlá-los, gerando a não aprendizagem. Por outro lado, existe a compreensão de que
o silêncio revela disciplina, competência do professor, e conseqüentemente uma
aprendizagem eficaz. Os nossos dados revelam que esse não é um fato real.
Partindo do princípio de que é na interação com o outro que acontece a construção
do discurso e da aprendizagem, o “barulho” da sala da Professora 1 retrata o trabalho
dos sujeitos nesse processo de construção de conhecimentos, em que várias vozes
ecoam na sala, derrubando o conceito anteriormente citado, dando lugar a um outro
conceito, de que é através do “barulho”, do discurso produzido pelos alunos e professor
que ocorre a aprendizagem. O diagnóstico aplicado no final do ano letivo revelou que
112
72,7% dos alunos dessa professora demonstravam uma hipótese de escrita alfabética.
Em contrapartida, pudemos observar que o “silêncio” da sala da Professora 2, a não
permissão da interação entre os alunos, dificultou a aprendizagem desses alunos. O
resultado final, a partir do diagnóstico realizado no final do ano, apontou que apenas
31% de alunos alcançaram resultados significativos para essa fase da escolaridade, o
que nos leva a comprovar uma diferença significativa entre os resultados de uma turma
para outra.
Observamos na sala da Professora 1 que o “barulho”, além de ser permitido por
ela, é também incorporado como uma prática sua, ou seja, a mesma também faz parte do
“barulho”, conseguindo, nessa interlocução, fazer a articulação entre os assuntos
discutidos em sala de aula.
Vimos que a interação dos sujeitos na sala de aula pode ser produtiva no que diz
respeito à aquisição da escrita e da leitura, através da formação de agrupamentos,
prática essa proposta pelo PROFA. Termos como agrupamentos, duplas, fazem parte
do discurso da referida Professora, embora tenhamos visto que o conceito não foi
internalizado por ela, uma vez que as duplas foram formadas aleatoriamente.
Quanto à Professora 2 nem no discurso esses termos se fazem presentes, pois ao
primar pelo silêncio, ela se contrapõe ao trabalho proposto pelo PROFA já que formar
agrupamentos é permitir a fala, o discurso, o “barulho”. A organização da sala com
mesas e cadeiras enfileiradas, as quais dificultam a interação, retratam bem os conceitos
internalizados por essa Professora.
Vimos que a interação entre professor e aluno também se dá através da
intervenção pedagógica, a qual tem fundamental importância para o avanço da
aprendizagem dos alunos, uma vez que a escola é a instituição onde a aprendizagem da
leitura e da escrita é decorrente de um processo intencional. No caso da Professora 1, as
113
intervenções realizadas por ela não foram pautadas no modelo de resolução de
problemas, o qual supõe levantar questões problematizadoras, dar pistas para que os
alunos conseguissem resolver seus problemas. É certo que, a partir dos resultados
apresentados no diagnóstico, vimos que a maioria da turma estava alfabética. Contudo,
reafirmamos que essa Professora desperdiçou muitas oportunidades de fazer
intervenções adequadas, como nos mostram os recortes analisados. Isto nos leva a crer
que, se as intervenções dessa Professora tivessem sido mais significativas, os seus
alunos teriam avançados muito mais no seu processo de alfabetização.
Em relação à Professora 2, verificamos que sua intervenção se limitou,
principalmente, em manter a “disciplina” na sala, para que o silêncio pudesse reinar. Por
que a resistência de P2 a mudanças? Essa é uma questão que, embora não tenhamos
formulado como objetivo dessa pesquisa, deixamos aqui registrada para futuras
investigações, tendo em vista a importância que ela assume no processo de formação do
professor em serviço.
Outra observação importante para ser aqui resgatada diz respeito à questão da
diversidade de atividades, propostas pelo PROFA, para atender a alunos alfabéticos e
não-alfabéticos. Não encontramos essa realidade em nenhuma das práticas analisadas. A
atividade proposta pela Professora 1 lançou o mesmo desafio para toda a turma. Já a
atividade proposta pela Professora 2 não apresentou nenhum desafio, para que os alunos
pudessem avançar nas suas hipóteses de escrita. Apesar disso, percebemos que o
conhecimento teórico sobre a aquisição da leitura e da escrita está começando a fazer
parte do discurso e da prática pedagógica.
O resultado da nossa pesquisa revela a importância de se investir em programas
de formação continuada, que de fato contribuam para a mudança de conceitos relevantes
114
à alfabetização, bem como da prática alfabetizadora e, conseqüentemente, um melhor
desempenho dos alunos.
A nossa pesquisa acabou também consolidando uma avaliação do PROFA e pôde
confirmar que as teorias construídas nos meios acadêmicos podem ser assimiladas pelos
professores alfabetizadores, aprendizagem esta que poderá refletir na prática
pedagógica. Portanto, faz-se necessário que os governantes continuem investindo em (e
dando prioridades a) programas de formação que de fato contribuam para esse processo
de mudança tanto no discurso como na prática do professor alfabetizador. Entretanto, é
de suma importância a implantação de um sistema de avaliação dos programas de
formação, que aborde a construção de novos conceitos e como esses conceitos se
revelam na prática pedagógica. Nesse contexto, a nossa pesquisa, essencialmente, é uma
proposta de avaliação para os programas de formação continuada.
Conforme o já exposto, o PROFA, como instrumento para a formação continuada
dos professores, foi implantado na Rede Municipal de Ensino de João Pessoa, deixando
um marco importante na história da educação desse município.
115
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124
ANEXOS
ANEXO C (P1) (A1)
O aluno já tem a compreensão de que cada uma das letras da escrita corresponde a
valores sonoros. Portanto, sua escrita é alfabética, apresentando apenas dificuldades
ortográficas inerentes à fase em que ela se encontra. Apresenta dificuldades para
segmentar convencionalmente as palavras, como mostra na escrita da frase.
(A2)
A aluna demonstra compreensão do sistema alfabético ao escrever as palavras,
embora ainda cometa alguns erros ortográficos próprios da fase em que se encontra.
Consegue fazer a segmentação das palavras, sentindo a necessidade, porém, de colocar
um traço entre elas.
(A3)
O aluno apresenta uma escrita alfabética, cometendo alguns erros de ortografia os
quais fazem parte da fase em que ele se encontra. Começa segmentando as palavras ao
escrever a frase, porém, não dá continuidade a essa segmentação até à sua conclusão.
(A4)
O aluno tem uma escrita silábica, mas ainda não faz uso do valor sonoro
convencional, usa qualquer letra para representar a sílaba. Ainda está preso a hipótese
de quantidade mínima de letras, ou seja, acha que para que seu escrito possa ser lido é
preciso um número mínimo de letras. Por esta razão, embora faça a leitura
silabicamente, não fica incomodado com as letras que ficam sobrando. No momento em
que foi pedido que escrevesse a frase, o mesmo recusou-se a fazê-lo.
(A5)
A aluna está com uma escrita alfabética, pois já compreendeu que cada um dos
caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores do que a sílaba. Apresenta
dificuldades próprias de ortografia e de segmentação das palavras, decorrente da fase
em que se encontra.
(A6)
A escrita da aluna é alfabética. Comete erros de ortografia, troca do “m” pelo “b”
na palavra “mordeu” o que pode ocorrer nesta fase. Escreve fazendo a segmentação das
palavras.
(A7)
A escrita da aluna é silábica, fazendo ainda uso do valor sonoro não convencional,
ou seja, usa qualquer letra para representar a sílaba. Porém procura ajustar o escrito à
sua fala tomando cuidado para não sobrar nenhuma letra.
(A8)
As palavras escritas pelo aluno estão dentro de um sistema silábico sem que o
mesmo faça uso do valor sonoro convencional, apesar de que algumas sílabas ela já usa
a letra que representa a sílaba. Está se desprendendo da hipótese de quantidade mínima,
pois nas palavras “cachorro” e “vaca” apagou a última letra quando leu o que tinha
escrito. Enquanto que na palavra “boi” permanece a hipótese de quantidade mínima,
escrevendo com três letras o que a levou a ler BO-I-E. As palavras foram escritas pela
aluna dentro de um sistema silábico, as quais nos dão indícios de que a mesma começa a
fazer uso do valor sonoro convencional. Ao entrar em conflito ao ter que repetir letras
iguais como acontece na palavra cachorro na qual a criança deveria colocar o “o” põe
uma letra qualquer para diferenciar. O mesmo acontece na palavra “vaca”.
(A9)
A hipótese de escrita do aluno é alfabética, pois já compreendeu que cada letra
representa uma sonoridade da fala. Comete erros de ortografia, mas não terá mais
problemas de escrita, no sentido estrito. Escreve sem fazer a segmentação das palavras.
(A10)
A aluna demonstra compreensão do nosso sistema de escrita escrevendo
alfabeticamente as palavras. Suas dificuldades são apenas de caráter ortográfico o que é
próprio da fase em que se encontra.
(A11)
A hipótese do aluno é alfabética, os erros apresentados são ortográficos. Ainda
apresenta certa dificuldade na segmentação das palavras.
(A12)
A aluna apresenta a hipótese de escrita silábico-alfabética, pois na mesma palavra
algumas sílabas são analisadas como uma totalidade e outras admitem uma
decomposição em elementos menores (fonemas), ou seja, na mesma palavra, ora
escreve uma letra para representar uma sílaba, ora escreve a sílaba completa. O aluno se
recusou a escrever a frase ditada.
(A13)
A escrita da aluna é silábica. Ela faz relação da escrita com a pauta sonora da fala,
ou seja, faz uso do valor sonoro convencional (usa letras que fazem parte da palavra).
No que se refere à frase, a mesma não foi ditada.
(A14)
O aluno tem uma escrita alfabética, ou seja, já compreendeu o nosso sistema de
escrita. Demonstra segurança na escrita, pois comete poucos erros de ortografia. Não
faz, porém, a segmentação das palavras.
(A15)
O aluno tem uma escrita alfabética, ou seja, já compreendeu o nosso sistema de
escrita. Demonstra segurança na escrita, pois comete poucos erros de ortografia. Não
faz, porém, a segmentação de todas as palavras.
(A16)
A aluna escreve demonstrando compreensão do nosso sistema de escrita. Os erros
ortográficos que comete são característicos da fase em que se encontra. Apresenta
dificuldades na segmentação das palavras.
(A17)
A escrita da aluna é silábica, ele ainda não faz uso do valor sonoro convencional,
usa qualquer letra para representar a sílaba. Apresenta conflito na escrita de palavras
monossílabas mostrando-se presa à hipótese de quantidade mínima, ou seja, para ela a
escrita tem que ter de três a quatro letras para tornar-se compreensível, porém, na
palavra “camelo” e “vaca” apagou a última letra na hora que leu, pois percebeu que
estavam sobrando, mostrando avanço nas suas hipóteses.
(A18)
A escrita do aluno é alfabética. Comete erros de ortografia e faz a segmentação entre
as palavras de quase toda a frase.
(A19)
A aluna tem uma escrita alfabética. Apresenta dificuldades próprias da ortografia.
Na palavra “gato” troca o “g” pelo “h” por causa do som do nome da letra. Ainda não
faz a segmentação entre as palavras.
(A20)
O aluno tem uma hipótese de escrita alfabética, apresentando dificuldades
ortográficas. Faz a segmentação entre as palavras na frase.
(A21)
O aluno tem uma escrita alfabética. Na escrita das palavras da lista apresenta
domínio em relação às questões ortográficas. Na construção da frase ele comete poucos
erros de ortografia e de segmentação.
(A22)
A aluna apresenta uma escrita alfabética, demonstrando compreensão do nosso
sistema de escrita. Comete erros ortográficos próprios da fase em que se encontra. No
que diz respeito à segmentação, já começou a fazê-la.
ANEXO D (P2)
(A1)
A aluna tem uma escrita alfabética, comete alguns erros de ortografia. Faz a
segmentação entre as palavras.
(A2)
O aluno tem uma escrita alfabética. Apresenta dificuldades próprias de ortografia,
faz a troca da letra “p” pela letra “b”, no caso da palavra “perna”, devido ao fato dos
sons das letras em questão serem muito parecidos. Faz a segmentação das palavras.
(A3)
A aluna tem uma escrita alfabética. Na escrita da palavra “borboleta” omitiu letras
e na palavra “cachorro” ela omitiu a segunda sílaba, as demais palavras da lista escreveu
convencionalmente. Na escrita da frase comete erros de ortografia e omite sílabas de
algumas palavras.
(A4)
O aluno tem uma escrita alfabética, mas ainda apresenta algumas dificuldades
ortográficas próprias da fase em que se encontra. Além da troca de letras, o “b” pelo “d”
(nas palavras borboleta e boi), o “ch” pelo “j” (na palavra “cachorro”). Apesar disso ao
escrever a palavra mordeu não trocou o “d” pelo “b”. Não segmenta as palavras
convencionalmente.
(A5)
O aluno tem uma escrita alfabética, mas ainda apresenta dificuldades próprias da
fase em que se encontra. Não segmenta as palavras convencionalmente.
(A6)
Embora tenha escrito alfabeticamente algumas palavras da lista, a aluna demonstra
uma hipótese silábico-alfabética, pois além da palavra “elefante” mostrar isso, a palavra
“cavalo” não permaneceu com a escrita estável ao ser escrita na frase.
(A7)
A aluna tem uma escrita silábico-alfabética pois, compreende que há sílabas
formadas por mais de uma letra, mas não tem domínio desse conhecimento mostrando
inconstância na escrita das palavras. Apresenta dificuldades na segmentação das
palavras.
(A8)
A aluna está com uma escrita silábico-alfabética, pois na mesma palavra ora
escreve uma letra para representar a sílaba, ora escreve a sílaba completa. Ao ser ditada
a palavra “cachorro”, a mesma escreveu “cão” e ao pedir que fizesse a leitura, ela leu
“cachorro”, o que indica que tenha escrito a palavra “cão” de memória. A aluna
recusou-se a escrever a frase.
(A9)
O aluno tem uma escrita silábico-alfabética, pois já percebeu que há sílabas
formadas por mais de uma letra, mas é um conhecimento que ainda não domina, apesar
de ter escrito “vaca” e “boi” convencionalmente. Segmenta as palavras não
convencionalmente.
(A10)
O aluno tem uma escrita silábica, fazendo uso do valor sonoro convencional, ou
seja, utiliza letras próprias da sílaba. Ainda está preso a hipótese de quantidade mínima,
por isso ele escreve “pá” com a letra “a”, mas, não satisfeita, acrescenta o “p” e outro
“a”. Porém interpreta a sua escrita lendo “pá” para cada letra escrita. O aluno não quis
escrever a frase.
(A11)
O aluno tem uma hipótese de escrita silábica, escreveu a maioria das sílabas com
letras que tem o valor sonoro convencional (letras que fazem parte da sílaba), mas
começa a entrar em conflito com esta hipótese e acrescenta outras letras. O aluno
recusou-se a escrever a frase.
(A12)
A aluna tem uma escrita pré-silábica, pois ainda não faz uso do valor sonoro da
palavra. Dá a impressão de não ter intimidade com a escrita espontânea, pois escreveu
apenas duas palavras e recusou-se a dar continuidade à atividade.
(A13)
O aluno escreveu com letras do seu próprio nome, variando a posição das letras de
uma escrita para outra. Ele recusou-se a ler, por isso não sabemos se faz o uso do valor
sonoro ou não. Portanto, não dá para avaliar a hipótese em que ele se encontra.
(A14)
O aluno escreveu as três palavras utilizando vogais que provavelmente foram
memorizadas. Apagou a última palavra escrita talvez por perceber que a sua escrita
estava ficando igual a anterior, já que ele tentou diferenciar a primeira da segunda,
provavelmente por achar que palavras diferentes se escreve de forma diferente. Ao pedir
que fizesse a leitura, recusou-se a ler o que tornou impossível saber em que hipótese de
escrita ele se encontra.
(A15)
O aluno escreveu duas palavras, porém recusou-se a escrever mais e a ler o que
escreveu. Sem mais dados, ficou inviável saber em qual hipótese de escrita se encontra,
se faz uso do valor sonoro ou não.
(A16)
O aluno recusou-se a fazer dizendo que não sabia, o que nos mostra a falta de
intimidade com a escrita espontânea.
ANEXO E
TRANSCRIÇÃO DAS AULAS DA PROFESSORA 1
L1A1: (inaudível) um homem com um revólver na mã::o
L2P1: e foi?
L3A2: passou lá em frente da favela (+) na rua três
L4A1: lá na cinco
L5Axx: (inaudível)
L6P1: e essa semana / a semana passada nós trabalhamos um::Ito (+) falando sobre o
QUE::? a violência?
L8A1: a pa::z
L9P1: hã::?
L10Axx: a pa::z
L11P1: a pa::z (+) não é isso? (++) e se a gente ficar andando com arma na mã::o?
L12A2: violência
L13P1: muito bem José (++) isso é paz?
L14A2: nã::o (+) é violência
L15P1: isso vai trazer paz [para o lugar que a gente mora?
L16A3: [por isso que tem polícia pra prender (+) pra defender nói
L17P1: pois é (+) mas e a polícia prende (+) e toma a arma [e depois solta de novo
L18A3: [e depois solta de novo (+) era
pra ficar preso o resto da vi::da
L20P1: sim mas (+) o que a gente tem que fazer pra tirar essa violência e fazer com que
a paz chegue na nossa comunidade? (+) se a gente anda armado (+) aí
encontra [um (incompreensível) vai acontecer o que?
L23A3:[ ô tia (incompreensível)
L24Axx: (inaudível)
L25P1: (incompreensível)
L26Axx: (inaudível)
L27P1: ô gente! vamos cantar a nossa musiqui::nha (+) a nossa oração
(incompreensível) vamos AUGUSTA? (+) ANA (+) musiqui::nha
L29T: ((cantando, batendo palmas)) Jesus Cristo está passando por aqui:: (+) Jesus
Cristo está passando por aqui:: (+) quando ele passa (+) tudo se
L31Axx: [transforma
L32P1: [ a violência
L33T: a violência va::i e a Pa::z vê::m (+) quando ele passa (+) tudo se transforma
(+) derramando (incompreensível) pra você pra mi::m també::m
L35P1: muito BE::M
L36A3: ti::a como o pai de Pedro
L37P1: fo::i
L38A1: é teu pai aquele é?
L39Axx: (inaudível)
L40P1: [as mãoZINHA::AS (+) o raiozinho de saBE::R (++) AUGUSTA
L41A3: [(incompreensível)
L42Axx: (inaudível)
L43P1: oi?
L4415: amanhã vou faltar aula
L45P1: amanhã você vai faltar aula / amanhã também é feria::do
L46A3: [(incompreensível)
L47P1: [aí amanhã é feria::do (incompreensível)
L48Axx: [(incompreensível)
L49A5: [amanhã é dia de Iemanjá::
L50P1: amanhã:: (+) é / dia de nossa senhora da Conceição (++) oi? (+)
L51Axx: (inaudível) ((alguns alunos questionaram do dia de Iemanjá))
L52P1: pra alguns IemanJÁ (+) pra outros nossa senhora da Conceição (+) aí é feriado
não tem aula e (incompreensível)
L54Axx: [(inaudível)
L55P1: [(incompreensível) é festa (+) na praia
L56A7: aonde?
L57P1: na praia (+) GEN::te (++) Henrique:: (+) ô o raiozi::nho (+) as MÃOzi::nhas
José:: vamos?
L59T: Pai:: no::sso que estais no cé::u (+) santifica::do seja o vosso no::me (+) venha a
nós o vosso Reino (+) seja fei::ta a vossa vonta::de (+) assim na terra como no
cé::u (+) o pão nosso de cada di::a nos daí hoje (+) perdoai as nossas ofen::sas
assim como nós perdoamos aqueles que nos tem ofendi::do (+) não nos deixeis
cair em tentaçã::o (+) mas livrai-me do mal amé::m
L64A1: (incompreensível)
L65P1: o::lhe (+) João acabou de dar uma informação que / eu / eu não sei ainda
porque:: (++) foi ontem a noite (+) Rodrigo (+) aquele alu::no que eu disse
pra vocês que tinha sido atropela::do (+) ele disse que faleceu (+) então assi::m
/ sempre que acontece essas coisas com o aluno (+) ou com o pa::i como foi o
caso do pai de Pedro a gente re::za (+) entã::o esse Pai Nosso a gente vai
pedi::r (++) por uma criança como você::s tem se::te anos (+) foi
atropela::do (+) aí bateu a cabeça e teve [traumatismo craniano
L72A1: [Pedro?
L73P1: nã::o (+) Rodrigo foi meu o ano passado (+) ele esse ano não estudava aqui
(incompreensível)
L75A3: em do::is mil e trê::s?
L76P1: em dois mil e três? (+) muito bem!
L77A3: eu / eu estuda::va aqui:: de manhã::
L78P1: é ele foi meu aluno depois passou pra tarde
L79A3: fo::i
L80P1: AQUI::LO que TIA SE::MPRE fala pra você::s (+) o CUIda::do na hora de
atravessar a ru::a (+) as vê::zes olha vocês deixam [(incompreensível)
L82A1: [o bê::bado ele tava andando
de bicicleta na rua se (incompreensível) (+) aí:: o ca::rro veio e bateu ne::le
L84A3: ti::a (incompreensível) o carro quase que atropelava a bicicleta
(incompreensível) ((a aluna riu))
L86P1: e é::: o carro bate no homem e você fica sorrindo?
L87Axx: ((vários alunos riram))
L88P1: não tem gra::ça nenhuma [olha gente
L89A3: [ tia::
L90P1: só um minutinho (+) é triste (+) porque todos os ano::s a gente faz fa::la
sobre o [o trânsito (+) orienta
L92A6: [(incompreensível)
L93P1: e::sse ano / olha! do::is alu::nos aqui da esco::la José:: (+) os alunos foram
atropela::dos (+) um foi Tiago (+) da segunda série e agora Marcelo (+) então
(+) por ma::is que a gente fala / cuida::do (+) ge::nte não se preocupe em copiar
isso agora nã::o ((estava se referindo a pauta escrita no quadro))
(incompreensível) I::SSO que aconteceu com Marcelo també::m (+) é violê::ncia
ou é paz no trâ::nsito?
L99A2: violência
L100P1: violê::ncia
L101A7: porque /
L102P1: por quê?
L103A7: porque nu::m obede::ce o sinal
L104P1: não obedece o sinal
L105A7: nem a faixa do pede::stre
L106P1: outra coisa (incompreensível) A::S VE::zes a culpa é do pede::stre outras vezes
também pode se::r do motorista
L108A3: tia a culpa é de Tiago
L109P1: [justamente é isso que estou falando (+) nem sempre a culpa é do motorista
L110A6: [(incompreensível)
L111P1: a pa::uta (++) vocês estão preocupados em copiar essa pauta AGO::ra
L112A3: [tia
L113P1: [(incompreensível)
L114A4: [ô ti::a
L115Axx: (inaudível)
185
L116P1: enqua::nto vocês copiam a pa::uta tia vai colocar a [MÚ::sica para vocês
ficarem ouvindo
L118Axx: [(inaudível)
L119P1: já (incompreensível) a pa::uta (+) já (incompreensível)
L120A1: NÃ::O
L121P1: TE::rmina de co::piar (++) que a gente vai canta::r (++)
L122A9: tia::
L123P1: (incompreensível)
L124A1: TI::a (+) bo::ta de novo
L125P1: eu vou repeti::r
L126A1: hã?
L127P1: eu vou repeti::r (++) terminaram de copiar a pauta pra gente canta::r?
L128A10: eu NÃO
L129A11: NÃO
L130A8: NÃ::O
L131Axx: [((os alunos cantavam))
L132P1: [tia vai buscar uma garrafa d´água pra vocês
L133A6: bota de no::vo ((quando a música acabou))
L134P1: oi?
L135A6: bota de no::vo
L136P1: bo::to
L137A7: bota de no::vo
L138P1: [só que eu queria canta::r (+) tem que entregar a letra da mú::sica
L139Axx: [(inaudível)
L140P1: gente va::mos? (incompreensível) já termina::ram? ((de copiar a pauta))
L141A8: já:::
L142A9: eu tô no quarto
L143Axx: [(inaudível)
L144P1: [(inaudível) ((a professora entregou a letra da música para os alunos, uma
folha para cada dupla, escrita com letra cursiva))
L146Axx: a pa:::z do mu:::ndo come:::ça em mi::: se eu tenho amo:::r com certe:::za
sou feli:::z se eu fa:::ço be:::m ao meu irmã:::o tenho a grande::za den::tro
do me::u co::raçã::o (+) chego:::u a ho:::ra da gente construir a pa:::z
ninguém suporta ma:::i:::s o desamo:::r paz pela paz (+) pelas cria:::nças paz
pela paz (+) pelas flore:::stas (+) paz pela paz pela cora:::gem de mu:::da:::r
(+) paz pela paz (+) pela justiça::: (+) paz pela paz (+) a liberdade::: (+) paz
187
pela paz pela beleza de te ama:::r a pa:::z do mu:::ndo come:::ça em mi::: se
eu tenho amo:::r com certe:::za sou feli:::z se eu fa:::ço be:::m ao meu
irmã:::o tenho a grande::za den::tro do me::u co::raçã::o (+) chego:::u a
ho:::ra da gente construir a pa:::z ninguém suporta ma:::i:::s o desamo:::r paz
pela paz (+) pelas cria:::nças paz pela paz (+) pelas flore:::stas (+) paz pela
paz pela cora:::gem de mu:::da:::r (+) paz pela paz (+) pela justiça::: (+) paz
pela paz (+) a liberdade::: (+) paz pela paz pela beleza de te ama:::r paz pela
paz (+) um mundo novo (+) paz pela paz a esperan::ça (+) paz pela paz pela
coragem de muda::r (+) paz pela paz (+) pela justiça::: (+) paz pela paz (+) a
liberdade::: (+) paz pela paz pela beleza de te ama:::r paz pela paz (+) pelas
cria:::nças paz pela paz (+) pelas flore:::stas (+) paz pela paz pela cora:::gem
de mu:::da:::r
L163Axx: [(inaudível)
L164P1: [(inaudível)
L165A4: tia ele não sabe ler nã::o
L166P1: ago::ra? por que:: chegou tão ta::rde? ((referindo-se a um aluno que estava
chegando na sala naquele momento)) (++) olha gente agora / já termina::ram a
pa::uta vocês estão com a LE::tra da mú::sica ACOMpa::nhe a leitu::ra (+)
nós vamos CA::Ntar (+) e depois a gente vai colocar / vai fazer atividade [com
essa música
L171Axx:
[(inaudível)
L172P1: (incompreensível) (++) [agora acompanha::ndo com a FOlha
L173Axx: [(inaudível)
L174P1: [acompanhe com a fo::lha de você::s (++) cantando agora ((a professora
colocou a música outra vez))
L176Axx: [(inaudível)
L177T: a pa:::z do mu:::ndo come:::ça em mi::: se eu tenho amo:::r com certe:::za sou
feli:::z se eu fa:::ç be:::m ao meu irmã:::o tenho a grande::za den::tro do:: meu
co::raçã::o chego:::u a ho:::ra da gente construir a pa:::z ninguém suporta
ma:::i:::s o desamo:::r paz pela paz (+) pelas crian:::ças paz pela paz (+) pelas
flore:::stas (+) paz pela paz pela cora:::gem de mu:::da:::r (+) paz pela paz (+)
pela justiça::: (+) paz pela paz (+) a liberdade::: (+) paz pela paz pela beleza de
te ama:::r [a pa:::z do mu:::ndo
L184A7: [ô tia
L185T: [come:::ça em mi:::
L186A7: [tia::: posso guardar?
L187T: se eu tenho amo:::r com certe:::za sou feli:::z se eu fa:::ço be:::m ao meu
irmã:::o tenho a grande::za den::tro do meu co::raçã::o [chego:::u a ho:::ra da
gente construir a pa:::z
L190A8: [tia vou no banheiro
L191T: ninguém suporta ma::i::s o desamo:::r paz pela paz (+) pelas cria:::nças paz pela
paz (+) pelas flore:::stas (+) paz pela paz pela cora:::gem de mu::da::r (+) paz
pela paz (+) pela justiça:: (+) paz pela paz (+) a liberdade::: (+) paz pela paz
pela beleza de te ama:::r (...)
L195P1: o::lha! (+) o::ntem nós conversamos aqui (+) teve alguém que disse (+) ah
minha irmã deu um baque ne::la eu brigo [alguma coisa assim
L197A3: [foi César
L198P1: [(incompreensível)
L199A3: [tia ele disse que dava na irmã:: de:le
L200P1: [e::ntão olhe /
L201Axx: [(inaudível) fo:::i (inaudível)
L202P1: si::m mas / olha be::m (+) veja be::m (+) vamos ouvir (+) QUA::ndo a ge::nte
trabalha na esco::la (incompreensível) a paz primeiro começa ao::nde?
L204Axx: no coraçã::o
L205P1: no coração? ((deu uma risadinha com a resposta das crianças)) dentro de você
(+) claro (++) no coração mas (+) dentro de você:: (+) você te::m que
combater isso (+) aí:: (+) então briga com o irmão [(incompreensível)
L208Axx : [(inaudível)
L209A1: (incompreensível)
L210P1: muito be::m olhe (+) ele fez um desenho mu::ito boni::to na semana cultural
Augusta vamos ouvi::r e me entregou dizendo um negócio muito bonito
ninguém pode viver sem paz (++) a pa::z não é só /
L213A5: eu vi:: ele deu a senhora
L214P1: fo:::i ficou lindo pedi pra ele ampliar ele desenhou na cartolina
(incompreensível) a pa::z começa na sua casa
L216A7: tia minha mãe vai compra::r aquele negócio de bota::r ...
L217A12: (incompreensível)
L218A7: minha mãe vai compra::r
L219P1: na su::a sa::la de aula (+) QUA::NDO VOCÊ:: (+) está brigando com um
cole::ga (+) está tendo paz na sala?
L221Axx: não
L222A2: não
L223P1: NÃ::O?
L224A8: tia vou no banheiro
L225A5: (incompreensível) começar a briga
L226P1: MUIto be::m
L227A1: é violê::ncia
L228P1: é violência (+) oi?
L229Axx: (inaudível)
L230A3: ti::a (+) é o diabo que fica mexe::ndo com a pessoa pra a pessoa brigar com o
outro
L232A7: (incompreensível) é não doida (incompreensível)
L233P1: mas vo / cabe a você a (+) querer mudar a situação (+) se você / eu não vou
briga::r (+) eu não arenga::r (+) você vai consegui::r (+) se você fala eu não
vou brigar hoje eu vou ser um NO::vo menino vou fazer tudo direiti::nho
você conse::gue (+) ficar alimentando a violência ah tem bater aí claro não
vai chegar [(incompreensível)
L238Axx: [(inaudível)
L239A8: ti::a no livro de matemática do meu primo tem um diabo
L240P1: QUE i::sso menino (incompreensível) A::vê Maria
L241Axx: [(inaudível)
L242P1: [(incompreensível)
L243A1: (incompreensível)
L244P1: as duplas ago::ra (+) com as suas fo::lhas observe que tia vai / vai pedir e
vocês vão acompanhando (+) certo? (++) vocês VÃ::O procura::r a primeira
palavrinha que é / Helen você está ouvindo? (++) Helen (incompreensível)
procure a palavri::nha FELIZ
L248Axx: (inaudível)
L249P1: PROcu::re a palavrinha FELI::Z
L250A4: feli::z
L251A5: feliz
L252A6: fe::liz
L253A7: igual a que a gente já fez
L254A8: percu::re també::m
L255A15: fe-liz
L256P1: Hele::n (++) circule a palavrinha feliz e pinte de azu::l
L257Axx: [(inaudível)
L258A2: [é não (+) é e::sse
L259Axx: [(inaudível)
L260P1: (incompreensível) JÁ enconTRAram gen::te?
L261A11: [nã::o
L262A12: [não
L263Axx: não
L264P1: feliz
L265A9: é (incompreensível) não é?
L266A10: é não é (incompreensível)
L267A9: esse é o (incompreensível)
L268A10: certo /
L269A13: (incompreensível)
L270P1: [pede emprestado (+) o coleguinha te::m
L271Axx: [(inaudível)
L272P1: pode passar pra outra?
L273A8: po::de
L274P1: encontraram? (+) [(incompreensível)
L275Axx: [(inaudível)
L276A8: fe:: - li::z (+) fe::LIZ
L277P1: a palavra IRMÃ::O
L278A8: [irmã::o
L279Axx: [(inaudível)
L280P1: [irmão (incompreensível) ((a professora estava falando a respeito da cor que
seria pintada a palavra irmão))
L282Axx: [(inaudível)
L283A7: ei! né [pra copiar não (+) vai (incompreensível)
L284P1: [IRMÃO (++) I::RMÃ::O
L285A14: tia:: deixa eu ir no banheiro?
L286A13: como é irmão?
L287P1: quem tem um lápis azul para [emprestar (incompreensível)? por favor!
L288A5: [tia vou no banheiro
L289A13: como é I::R? ((a aluna se refere a primeira sílaba da palavra irmão))
L290P1: hã? (++) I::RMÃ::O
L291A13: como é irmão?
L292A14: tia vou no banheiro
L293P1: vá /
L294A13: sei não onde tem nã::o
L295P1: proCU::re (+) do mesmo jeito que você encontrou FELIZ você vai pra irmão
L296A13: como é IR? ((estava se referindo a primeira sílaba da palavra irmão))
L297P1: IR (+) como é I::R?
L298A1: vá olhando por aqui::: (( apontando para a frase que tem a palavra irmão no
cartaz afixado no quadro)) tem um i:: (+) começa com i ((este aluno que dá
pista para seu colega é alfabético))
L301A7: [(incompreensível)
L302A1: [tem o i:: o erre e o eme
L303A15: (incompreensível) como avião?
L304A1: tia pinta que co::r?
L305P1: amare::lo /
L306Axx: (incompreensível)
L307A16: tia tem quantos?
L308P1: faço bem ao meu irMÃ::o (++) ((uma aluna foi até o cartaz afixado no quadro
e apontou para a palavra coração)) (+) muito be::m!(++) ó aí (+) você pintou
coraçã::o (incompreensível) é a mesma terminação de irmão
L311Axx: [(inaudível)
L312P1: [se eu faço bem ao meu irMÃO (incompreensível) (+) pinte de amarela (++)
muito be::m!
L314A13: tia:: vem ver tia (+) tá certo tia?
L315Axx: [(inaudível)
L316P1: [(incompreensível)
L317A16: [é de amaRE::LO GE::NTE
L318Axx: [(inaudível)
L319A13: ti::a tá certo ago::ra?
L320P1: [(incompreensível)
L321Axx:[(inaudível)
L322A13: tia:: cadê meu lápis? (incompreensível)
L323A18: não sou ladrão não
L324Axx: [(inaudível)
L325P1: [(incompreensível) coRAção (++) coraçã::o
L326A18: tia é pra pintar de que cor?
L327P1: vermelho (++) verMElho
L328A19: vermelho?
L329P1: verme::lho
L330Axx: [(inaudível)
L331P1: [(incompreensível)
L332A9: CO – RA – ÇÃO
L333Axx: [(inaudível)
L334P1: [(incompreensível) você empresta o vermelho?
L335A20: eu te::nho tia
L336Axx:[(inaudível)
L337P1: [(incompreensível) se eu pe / se eu pedi::sse (++) olha (++) presta atenção
(+) se eu pedisse (+) Augusta (++) Augusta
L339A3: [(incompreensível)
L340P1: que isso Augu::sta?
L341A3: (incompreensível) tu vai vê
L342P1: se eu pedisse (+) olha só [(incompreensível)
L343A3: [(incompreensível)
L344P1: se eu pedisse pra vocês circularem o nome PA::Z ia ser mu::ito ou pouco?
L345Axx: (inaudível)
L346P1: ia ser mu::ito?
L347A1: (incompreensível)
L348P1: é::: (++) [se eu pedisse o nome /
L349A1: [(incompreensível) aqui em cima
L350P1: [vocês acham que é mais ou menos de de::z?
L351A1: [(incompreensível)
L352Axx: MA:::IS
L353P1: mais? (++) tem muito outras paz aqui?
L354A1: é:::
L355A10: [olha ali (++) olha ali (++) olha ali ((apontando para a palavra paz do cartaz
afixado no quadro))
L357A9: [(incompreensível)
L358P1: não sei (+) só se contar né? (+) olha ele tá olhando por aqui ó (+) tem muita
paz? ((mostrando o cartaz afixado no quadro))
L360Axx: te:::m
L361A20: tem tia
L362P1: (incompreensível) o nome paz
L363A1: tem mais de de::z
L364A4: (incompreensível)
L365P1: (incompreensível) (+) depois de CORAÇÃ::O (++) eu vou pedi::r a palavrinha
que vocês sã::o (++) o que?
L367A1: criança
L368Axx: (inaudível)
L369A1: tia pinta de azu::l?
L370P1: nã::o azul já foi feliz (+) cor de rosa
L371A1: ôxe tia! (incompreensível)
L372P1: criança vê o mundo cor de rosa
L373A8: cor de rosa?!
L374P1: é:: cor de rosa (incompreensível)
L375A8: tem quanto ti::a?
L376P1: criança?
L377A8: só tem um tia?
L378P1: NÃ:::o (++) criança vocês acham que só tem um?
L379A10: (incompreensível)
L380A7: mais de u::m
L381A8: encontrei dois
L382T: (inaudível)
L383P1: quem encontrou?
L384A12: eu achei do::is
L385P1: quem encontrou dois? ((a professora passava pelas carteiras perguntando se
eles tinham terminado, sem fazer nenhuma intervenção))
L387Axx: (inaudível)
L388P1: você não tem rosa nã::o? (++) quem tem rosa pra emprestar pra ele?
L389A20: eu TEnho tia
L390Axx: [(inaudível)
L391P1: [(incompreensível) (+) depois de cria::nça
L392A8: ô tia:: eu (incompreensível) o lá::pis ro::sa
L393Axx: [ (incompreensível)
L394P1: [(incompreensível) posso dita::r?
L395Axx: [NÃ::O
L396Axx: [PO::DE
L397P1: já pintou Douglas? GE::Nte quem tem um lápis rosa pra emprestar pra
Douglas? por favor
L399Axx: (incompreensível)
L400P1: depois do nome cria::nça / FLORE::STA (+) [que cor vai ser floresta?
(incompreensível)
L402A6: [floresta
L403A11: VE::rde
L404P1: POR quê?
L405Axx: [(inaudível)
L406P1: [FLORE::STA (++) FLORE::sta (++) ve::rde
L407A7: começa com qual tia?
L408Axx: (inaudível)
L409P1: quantas / quantas vezes aparece a palavra FLOresta?
L410A7: du::as
L411P1: du::as
L412A5: é de verde né?
L413A8: já achei
L414P1: FLO / (+) floresta
L415A9: tia::
L416P1: paz pela pa::z pela::s ...
L417Axx: cria::nças
L418P1: depois paz pela paz pelas ...
L419A15: florestas
L420P1: pelas ...
L421Axx: [(inaudível)
L422P1: [(incompreensível)
L423Axx: flo – res – ta
L424A7: aí tia vai tocar de novo
L425A9: TIa:::
L426P1: que cor você acha que vai ser floresta?
L427A11: verde((um aluno foi até o cartaz fixado no quadro e apontou a palavra
floresta))
L428P1: muito be::m!
L429T: (inaudível)
L430P1: termina::ram floresta? (++) o pró::ximo
L431A3: NÃO tia espera
L432A6: JUSTIÇA
L433P1: JUS...
L434A3: TI::ÇA
L435P1: TIÇA JUSTI::ÇA
L436A8: justiça (+) é quando a pessoa vai (incompreensível) no tribunal
L437P1: e é é::? (incompreensível)
L438Axx: [(inaudível)
L439P1: [(incompreensível) justiça é o que faz cumprir a le::i
L440A12: ti::a é pra pintar de qual co::r?
L441P1: marrom
L442Axx: [(inaudível)
L443A8: [tia ô tia::
L444P1: justiça (+) quantas vezes tem a palavra justi::ça
L445A13: trê::s
L446A10: DUa::s
L447P1: du::as?
L448Axx: (incompreensível)
L449A12: é de marro::m é ti::a?
L450P1: oi?
L451A12: é de marrom?
L452P1: é amor! (+) é de marrom (+) justiça (+) procure (incompreensível)
L453A9: tem três ti::a ((um aluno foi até o cartaz fixado no quadro e apontou a palavra
justiça, a professora não fez intervenção))
L455P1: muito b::em!
L456A10: [tia vem vê
L457A12: [tia vem cá
L458A13: [toma tia (incompreensível)
L459A10: [tia vem vê:: tia
L460Axx: [(inaudível)
L461A10: vem aqui:: tia
L462A9: é aqui ti::a?((mostrando no cartaz afixado no quadro a palavra justiça))
L463P1: o::i? qual?
L464A8: é::
L465P1: [justiça? (++) MUIto bem (++) olha (incompreensível) encontrou três
(incompreensível) aparece três vezes a palavra justiça (++) muito bem
Douglas você está ó (incompreensível) (+) justi::ça ((o aluno mostrou para a
professora sua tarefa, ela elogiou fazendo ok com o polegar))
L469A8: [(incompreensível) ((a aluna estava lendo não sei se já lê convencionalmente
ou se estava tentando ajustar o escrito ao falado))
L471Axx: (inaudível)
L472A3: ti::a não tem marro::m nã::o
L473P1: quem tem marrom pra emprestar pra ((disse o nome da aluna))
L474A14: e::u
L475A15: EU
L476P1: empresta
L477Axx: (inaudível)
L478A11: ô tia
L479P1: o::i!
L480A11: vem cá::
L481A10: tia vem cá (++) já terminei
L482Axx: (inaudível)
L483A8: quem tem marro::m?
L484P1: (incompreensível) seu colegui::nha não
L485Axx: [(inaudível)
L486A13: [pera aí tia
L487Axx: [(inaudível)
L488A13: [pera aí tia (++) pera aí
L489Axx: [(inaudível)
L490P1: posso?
L491Axx: [(inaudível)
L492A6: po::de
L493A17: nã::o ti::a
L494Axx: (incompreensível)
L495P1: LIBERDADE
L496A9: li::
L497A8: ti::a
L498P1: (incompreensível) liberdade (++) LAra::nja(+) vão pintar da cor laranja
L499A1: eu já achei
L500A2: é duas ti::a
L501P1: liberDADE
L502A4: LI – BER – DA – DE
L503Axx: [(inaudível)
L504A5: é duas? (+) é du::as tia::?
L505P1: (incompreensível) DU::AS (+) TRÊ:::S desculpa (+) TRÊ::S
L506P1: é:: muito bem!
L507Axx: [(inaudível)
L508A8: [tia:: (incompreensível) tia:::
L509P1: [são três liberdade
L510Axx: (inaudível)
L511P1: GEN::te (+) de quem é o lá::pis? (+) de quem é?
L512A9: ME::u não!
L513P1: quem pediu?
L514A10: (inaudível)
L515P1: laranja
L516Axx: (inaudível)
L517A7: ô tia não to encontra::ndo nã::o
L518A4: isso não é o lápis dela NÃO (+) isso é o lápis dela? (++) [isso é o lápis de::la?
L519A9: [é si::m
L520A4: eu peguei dentro da minha bolsa
L521Axx: (inaudível)
L522P1: oi? (+) já encontraram liberdade? (+) lara::nja
L523A10: não encontrei não tia::
L524P1: oi?
L525Axx: (inaudível)
L526P1: liberdade? olha liberdade você acha que começa com que letra?
L527A8: l i l i
L528A7: l i
L529Axx: (inaudível)
L530P1: liberdade começa com que letra?
L531A2: tia:: (++) ti::a
L532P1: liberdade
L533Axx: (inaudível)
L534P1:não é com i
L535Axx: (inaudível)
L536A4: é liberda::de
L537A3: tia bele::za
L538P1: oi?
L539A3: (inaudível) ti::a agora vai ser bele::za
L540P1: bele::za?
L541A3: não é?
L542P1: não (+) beleza é muito fácil
L543A3: ((deu uma risada)) mas eu / (+) eu já achei
L544P1: a é é::: (incompreensível)
L545Axx: (inaudível)
L546P1: CORA::GEM
L547A8: ti::a liberdade é pra pintar que co::r?
L548P1: laRANJA
L549A4: tia vem cá::
L550A7: [co::ra::gem
L551Axx: [(inaudível)
L552A4: tia::
L553P1: oi? (+) co RAGEM
L554A4: é essa aqui? ((apontando para o cartaz afixado no quadro a palavra liberdade))
L555P1: é amor é::
L556A2: tia já achei
L557Axx: (inaudível)
L558P1: quantas coragem tem?quantas vezes a palavra?
L559A4: três vezes
L560A3: que cor ti::a?
L561P1: três vezes (++) (incompreensível)
L562A4: [CO:(++) CO:::
L563Axx:[(inaudível)
L564P1: já encontraram CORA::gem?
L565A5: NÃ::O
L566Axx: JÁ::
L567Axx: (inaudível)
L568A6: [tia:: (++) pra pintar de qual cor?
L569P1: [hã?
L570A6: [qual cor?
L571P1: [corage::m? (+) verde clarinho (+) da cor (incompreensível)
L572Axx:[(inaudível)
L573P1: [achou coragem?
L574A8: tia:: esse cordão é de macumba? ((mostrando um cordão pendurado no
pescoço))
L575A5: tô dizendo que pare::ce (+) que pare::ce
L576P1: EI! turmi::nha:: (+) olha aqui (++) coloque o nome da dupla emba::ixo (++)
coloque o nome da dupla
L578Axx: [(inaudível)
L579P1: [(incompreensível)
L580A2: [ô:: tia é pra pintar de que cor?
L581Axx: [(inaudível)
L582P1: terminou?
L583A10: terminei
L584A8: ACHE::EI ACHE::EI
L585Axx: (inaudível)
L586A9: (incompreensível)
L587P1: nã::o (+) nã::o você não encontro::u?
L588A1: e o ú::ltimo tia qual é? (incompreensível)
L589P1: oi?
L590A1: o último?
L591Axx: (inaudível)
L592A5: tia:: coragem de que co::r? coragem?
L593P1: [verde clarinho (+) verde-claro
L594A6: [verde
L595Axx: (inaudível)
L596P1: quem tem um lápis verde-claro para emprestar?
L597A8: e::u
L598A7: e::u
L599A6: eu tenho eu tenho
L600Axx: (inaudível)
L601A5: tia deixa eu ir no banheiro?
L602P1: (incompreensível) Augu::sta (incompreensível)
L603A5: tia::
L604Axx: (inaudível)
L605A5: ti::a
L606A7: co – ra – gem
L607A5: (incompreensível)
L608P1: hã (+) terminou Augusta?
L609Axx: (inaudível)
L610A8: to::ma tia
L611Axx: (inaudível)
L612P1: ge::te cada um no seu luga::r (+) José
L613A4: pro::nto ti::a
L614Axx: (inaudível)
L615P1: vamos le::r (+) depois eu vou entregar umas ti::ras pra vocês vão montar a
músi / a música (+) a le::tra
L617A7: aquilo ali::! ((um aluno diz apontado para o cartaz que tem a letra da música
afixado no quadro))
L619P1: aquilo ali::! (+) então vocês vão le::r (+) claro que aqui está com letra bastão
letra cursiva (incompreensível) com letra de mão (( a professora estava falando
a respeito do tipo de letra (cursiva) que ela usou para escrever o texto nas tiras
de papel objetivando a ordenação.))
L623A8: sai:: (+) ô ti::a
L624P1: vamos lá (++) os que sabem / (+) os que já vão lendo vai montar bem
direiti::nho (incompreensível) qual é o título da mú::sica?
L626Axx: paz pela paz
L627A7: PA::Z pe – la paz
L628A5: paz pela paz
L629P1: paz pela:: ...
L630Axx: pa::z (+) [pela nature / ((alguns alunos começaram a cantar))
L631P1: [só lendo (+) agora a gente não vai cantar (+) nós vamos le::r depois
eu vou entregar pra vocês e vocês vão monta::r ((estava se referindo as tiras
de papel)) a paz do [mu::ndo come::ça em mi::m
L634Axx: [mu::ndo come::ça em mi::m
L635P1: começa::ndo (+) aqui:: de novo ((apontando no cartaz))
L636Axx: A pa::z do mu::ndo come::ça em mi::m se eu tenho amo::r
L637P1: se eu tenho amo::r [com certeza sou ...
L638Axx: [com certeza sou feliz
L639P1: o::lha o feli::z que é a primeira palavra circulada ((apontando para a palavra
feliz))
L640Axx: [ se eu fa::ço be::m ao meu ir:::mão
L641P1: [se eu fa::ço be::m ao MEU? que nome é esse? ((apontando para a palavra
irmão))
L643Axx: irMÃ:::o
L644P1: eu não pedi pra vocês circularem irMÃ::O alguns circularam coraÇÃ::O (+)
porque irmão e coração? (++) termina igual o mesmo so::m?
L646A7: nã::o
L647A2: termi::na
L648P1: irmã::o coraçã::o (++) tenho a grande::za dentro do MEU...
L649Axx: coraçã::o
L650P1: che::gou [a hora da gente construir a pa::z
L651A11: [tia (++) tia
L652Axx: [a hora dagente construir a pa::z ((essa parte da música estavam lendo, mas
continuaram cantando)) (+) ningué::m suporta ma::is o desamo::r (+) paz
pela paz [pelas crianças ((cantando))
L655P1: [quem sabe me dizer o que é desamor?
L656A5: desamor é a pessoa que tá brigando todo dia todo dia e / e não se uni::r
L657P1: Vi::rgem Maria esse menino hoje ele veio assi::m (+) desamor é tá brigando
todo dia todo dia e não se unir (+) então é FALTA DE:: ...
L659Axx: amor
L660P1: FALTA DE:: ...
L661Axx: amo::r
L662P1: amo::r
L663A1: tia e também falta de educação
L664P1: também (++) aqui (+) comigo ((apontando para a frase que vai ser
lida))
[paz pela? ((lendo))
L666A1: [(incompreensível))
L667Axx: paz
L668P1: [paz pela paz pelas ...
L669Axx: [paz pela paz pelas florestas
L670P1: florestas [paz pela paz pela coRAGEM DE:: ?
L671Axx: [paz pela paz pela coragem de mudar
L672A8: [paz pela paz pela coragem de cantar
L673A7: [paz pela paz pela coragem de cantar
L674P1: de o que?
L675Axx: muda::r
L676P1: [pa::z pela paz pela ...
L677Axx: [pa::z pela paz pela justiça
L678A3: pela justiça
L679P1: justiça (+) paz pela paz ((a fita do gravador acabou nesse momento e enquanto
eu trocava a fita leram a frase da música: paz pela paz a liberdade; e
conversavam sobre o conceito de liberdade))
L682Axx: (inaudível)
L683P1: é você faZE::R (+) o::lhe (+) liberdade é você ter o direito de fazer (+) fazer o
que você quer /agora (+) coisas erradas?
L685Axx: nã::o
L686A4: por isso / por isso (incompreensível)
L687P1: ce::rto coisas corretas (+) você quer a liberdade de que::? (+)
(incompreensível) liberdade de escolha (+) só que ele vai escolher o certo?
L689Axx: nã::o
L690P1: quem escolher errado o que é que vai acontecer (incompreensível)
L691A3: (incompreensível)
L692P1: olha aqui (+) aí ele vai ter que prestar conta a JU::S ...
L693Axx: TI::ÇA
L694P1: então liberdade é a sua escolha (+) porque /
L695A3: se não se você não respeitar você vai pro xadrez
L696P1: é:: se fizer coisa errada né?
L697A1: se for rouba::r
L698P1: [se você /
L699A3: [se você (+) se a polícia pegar aí você (+) e roubar no mesmo dia aí vai preso
de novo
L701P1: se você não souber fazer uso da a sua liberda::de aí vai perder a liberdade (+)
vai ficar preso
L703A3: até o resto da vida
L704P1: é:: se bem aqui no Brasil né? (+) não é pro resto da vida não (++) liberdade
olhe aqui
L706A3: (incompreensível)
L707P1: paz pela paz pela beleZA DE ...
L708Axx: ama::r
L709P1: de te amar
L710Axx: (inaudível)
L711P1: a paz no mundo começa em mim
L712Axx: a paz do mu::ndo começa em mi::m ((cantando))
L713P1: GE::Nte (++) eu coloquei de verde po::r quê? ((estava se referindo ao refrão
que ela escreveu de verde))
L715A3: já tá / já tá subindo de novo pra cima ((a aluna estava se referindo a parte da
música que repete))
L717P1: é:: ta subindo pra cima (+) olhe a paz no mundo começa em mim (+) aí vai
começar tudo de novo aí pra tia não repetir e escrever tudo de novo
(incompreensível) cartolina dessa aí eu coloquei de ve::rde pra destacar e você
saber que / voltou lá:: pra cima
L721A6: (incompreensível)
L722P1: muito bem Ricardo
L723A8: pra não fica::r gastando ca::r / cartolina
L724P1: é também (++) aqui (+) paz pela paz pela::s ...
L725Axx: cria::nças
L726P1: paz pela paz pela::s ...
L727Axx: flore::stas
L728P1: paz pela paz pe::la ...
L729A3: justiça ((a criança disse justiça, mas era coragem de lutar))
L730Axx: cora::gem
L731P1: hã?
L732Axx: cora::gem
L733P1: coragem de:: ...
L734Axx: mudar
L735P1: paz pela paz pela:: ...
L736Axx: justi::ça
L737P1: paz pela paz da:: ...
L738Axx: liberda::de
L739P1: [paz pela paz pela:: ...
L740A9: [paz pela paz pela::...
L741Axx: bele::za
L742Axx: (inaudível)
L743P1: pela beleza de:: ... (incompreensível) pela beleza de amar (+) aqui:: (+) paz
pela paz po::r ...
L745A8: mu::n - do
L746Axx: mu::ndo no::vo (+)
L747P1: mu::ndo ...
L748Axx: no::vo
L749P1: [ou seja (+) sem violência
L750A7:[(inaudível)
L751A1: (incompreensível)
L752P1 paz pela paz da:: ...
L753A5: esperança
L754P1: esperança (+) muito bem (++) paz pela paz pela:: ...
L755A2: coragem
L756A1: pela coragem de mudar ((o aluno leu))
L757P1: paz pela paz pela:: ...
L758A4: JUSTIÇA
L759P1: paz pela paz a:: ...
L760Axx: liberdade
L761P1: paz pela paz pela:: ...
L762A7: beleza
L763A3: beleza de mudar
L764P1: NÃ::O
L765A7: de te amar
L766P1: de te amar (+) ago::ra / ((ela pegou as tiras com o texto escrito))
L767A16: êba! ((o aluno gostou da atividade que estava iniciando))
L768P1: a nossa música vai começar com qual / qual a primeira parte? ((a professora
deu início à atividade de ordenação do texto))
L770A3: paz pela paz
L771P1: e paz pela paz é o que? o::
L772Axx: título
L773P1: o no::me da mú::sica não é isso?
L774A3: tia a gente vai formar? ((a aluna se referia a ordenar o texto))
L775P1: vamos formar? (++) botar a música! (+) eu vou entregar as tirinhas e formar no
chão (+) montar no chão porque na mesa não dá (+) eu vou entregar agora eu
quero todo mundo sentado (+) se não sentar eu não entrego as TIRINHAS
(++) eu quero todo mundo sentado
L779A9: nã::o
L780Axx: (inaudível)
L781P1: cada um vai receber uma tirinha
L782A4: eu não quero nã::o
L783Axx: (inaudível)
L784A7: bora montar!
L785P1: ca::lma
L786A7: bora montar!
L787Axx: (inaudível)
L788P1: QUEM não recebeu? ((a professora distribuiu as tiras com os versos da
música, escrito com letra cursiva, para ordenarem o texto no chão; a atividade
foi em dupla))
L791A5: E::U
L792Axx: e::u (inaudível)
L793P1: olha ge::nte (+) presta atenção (+) quando vocês olharem as tiras (+) agora eu
vou botar a música (+) vocês vão ver que algumas ti::ras tem de lápis comum
(+) atrás o que ESTÁ VALE::NDO ((a professora aproveitou uma cartolina já
usada))
L796A3: é o que tá na frente
L797P1: é o que está na frente (+) certo? se estiver escrito atrás olhe (+) não / pode ser
até a mesma frase mas não interessa o que interessa é esse daqui ((mostrando))
vamos ver se dá certo (incompreensível)
L800Axx: (inaudível)
L801P1: olhe (+) eu entreguei cada verso de::sse pra vocês aí por onde a gente vai
começar? pelo:: ...
L803A3: [pelo primeiro
L804A2: [pelo título
L805P1: pelo título (+) qual é o nome da música?
L806Axx: (inaudível)
L807P1: quem está com o título da música?
L808A2: é ela ela
L809P1: traga o seu
L810Axx: (inaudível)
L811P1: vão ler as tirinhas que eu vou dar as dicas (++) Luciana vai colocar o título (+)
pode ficar sentado eu vou chamar de um por um (+) vai lendo (+) coloca
Luciana (+) ela colocou o título qual é o nome? ((a aluna colocou a tira no
chão))
L814Axx: paz pela paz
L815P1: paz pela paz (+) olhem agora quem é que vem?
L816A1: a paz do mu::ndo
L817P1: a paz do mundo começa em mi::m (+) só não pode ser VE::RDE
L818A5: o meu é e::sse tia
L819A9: a:: p::az (incompreensível)
L820P1: o seu é quando repete pra voltar aqui o verde (+) só não pode ser o verde (+)
quem é que está a paz no mundo começa em mim? ajude o coleguinha ((a
professora insistiu que o verso escrito de verde é a segunda parte da música,
mas é o mesmo verso mudando só a cor. Isso causou problema para alguns
209
alunos não alfabéticos, que identificou o verso certo, mas não sendo aceito
porque era verde))
L825A7: sou eu não sou eu não sou eu não
L826Axx: (inaudível)
L827A8: é e::la tia
L828P1: a paz do mundo começa em mim (+) não com esse aqui olhe ((mostrando a
frase no cartaz))
L830A3: Ana tia é Ana
L831A5: [Ana
L832Axx: [(inaudível)
L833P1: nã::o quem está com o primeiro?
L834A8: é esse tia?
L835P1: nã::o (++) quem é que está? (incompreensível) deixa eu ver (+) olha você está
andando não está prestando atenção (+) eu vou tirar a tira e passar para outro
(+) você não está prestando atenção (+)você vai tumultuar tudo
L838A7: é eu que tem a tira
L839P1: leia o que é que você tem (+) quem é que tem a paz do mundo começa em
mim?
L840A4: tia mulhe::r (+) vem ver
L841P1: então vem e coloca
L842A3: a paz
L843P1: gente eu não quero vocês andando [se não atrapalha
L844A6: [(incompreensível)
L845P1: a paz no mundo começa em mim (+) é e::sse?
L846Axx: (inaudível)
L847P1: se e::u tenho amo::r com certeza sou feli::z (+) quem é que está com esse? (+)
se eu tenho amor com certeza sou feli::z (++) quem é que está? se eu tenho
amor com certeza sou feliz (+) olhem (+) [se eu tenho amor / com certeza sou
feliz
L850A5: [(incompreensível)
L851P1: quem é que está?
L852A8: é esse tia?
L853P1: nã::o
L854A3: [é esse ti::a? ti::a é esse? ti::a
L855Axx: [(inaudível)
L856P1: não (+) leia (+) [se eu tenho amor com certeza sou feliz
L857A4: [tia é o de Ana
L858A2: eu tenho amo::r com certeza sou feli::z ((cantando))
L859P1: se eu faço bem ao meu irmÃ::O (+) [ se eu faço bem ao meu irmã::o (+) quem
é que tá? (+) se eu faço bem ao meu irmão
L861A8: [fa – fa – ço fa – ço
L862A9: é eu
L863P1: [mu::ito bem! (incompreensível)
L864A8: [fa – ço
L865P1: se eu faço bem ao meu irmÃ::o (+) TEnho a grandeza dentro do meu coração
quem é que está?
L867A10: é esse ti::a? (+) é e::sse?
L868P1: TEnho a GRANdeza dentro do meu coração (+) quem é que está?
L869A8: meu não meu não
L870A10: é esse tia? ((a criança mostrou a tira para a professora))
L871P1: oi? (+) muito bem!
L872Axx: (inaudível))
L873P1: (incompreensível) CHE::gou a hora da gente construir a pa::z (++) QUE::M
está com chegou a hora da gente construir a pa::z ?
L875A18: é o meu? ((a criança mostrou a tira para a professora))
L876P1: é:: mu::ito be::m! (+) meu filho se::nta não pode ficar andando se não a gente
vai terminar hoje de meia noite (+) chegou a hora da gente construir a pa::z
L878A11: ti::a vamos brincar de (incompreensível) ((o aluno disse o nome de uma
brincadeira))
L880P1: NI::NGUÉM supo::rta mais o desamo::r
L881A9: é e::sse? ((a criança mostrou a tira para a professora))
L882P1: mu::ito be::m!
L883Axx: (inaudível)
L884P1: PAZ pela paz pela::s criA::Nças
L885A7: [pa::z ((lendo)) p ((disse o nome da letra))
L886Axx: [(inaudível)
L887A11: [é esse tia?
L888P1: PAZ pela paz pelas FLORE::TAS (+) quem é que tá com paz pela paz pelas
flore::stas?
L890Axx: [(inaudível)
L891P1: [procure::m ajude::m o colega
L892A1: ti::a é e::ssa tia?
L893P1: (inaudível)
L894A8: tem f?
L895AP1: tem
L896P1: PA::Z pela paz pela CORAGE::M de MUDAR (+) é porque tem repetido
(incompreensível) vê o seu Rafael?
L898/A9: o meu nã::o
L899P1: paz pela paz pela coragem de mudar quem é que te::m?
L900A7: eu te::nho
L901A1: ô tia o meu é igual ao de José::
L902P1: (incompreensível) o de José vai ser (incompreensível) do outro lado (+) PAZ
PELA PAZ pela JUSTIÇA:: (+) quem é que está com a JUSTI::ÇA?
L904Axx: [(inaudível)
L905A5: [aqui tia
L906P1: (incompreensível) PAZ pela paz a liberDADE
L907Axx: (incompreensível)
L908P1: PAZ pela paz pela bele::za de te ama::r (+) vem amor
L910Axx: (incompreensível)
L911P1: é (+) é:: (incompreensível) PAZ PELA PA::Z pelas criANÇAS (+) quem é
que está com paz pela paz pelas criANças?
L913A19: é e::sse?
L914P1: NÃO (+) é não é não ((uma criança mostrou a tira)) (++) se vocês ficarem
anda::ndo (+) aí não vão escutar quando eu fala::r (+) vamos senta::r vamos
(+) GE::nte vamos aqui olhe (+) PAZ pela paz pelas FLORE::stas (+) quem é
que /
L917Axx: [(inaudível)
L918A8: [é E::U tia (+) E::U
L919P1: pera aí amor
L920A8: aqui ((a criança mostrou a tira para a professora))
L921P1: cadê? (+) mu::ito be::m! coloque aí paz pela paz pelas florestas
L922Axx: [(inaudível)
L923P1: [PAZ pela paz pela coragem de MUDAR (+) quem é que está com esse?
L924A4: eu
L925P1: pela coragem de muda::r? (+) é você? coloque
L926A7: é e::la é ela tia que tá pela ju::stiça
L927P1: PAZ pela paz pela justi::ça
L928A5: E::U
L929P1: tem mais justiça (+) tem outra (+) PAZ pela paz a LIBERDA::DE
L930Axx: [(inaudível)
L931A9: [eu
L932P1: vão sentando (+) paz pela paz pela beleza de te AMA::R (+) quem é que te::m?
(+) coloque (++)PAZ pela paz por um MU::NDO NO::VO (+) quem é que tem
um mundo no::vo?
L935A11: [eu
L936Axx: [(inaudível)
L937P1: mundo novo também? (+) PAZ pela paz a ESPERA::NÇA
L938A4: é o de Augusta (+) é o te::u Augu::sta
L939A3: é nã::o
L940A4: é si::m é o dela
L941P1: paz pela paz a esperança (+) cadê o seu (incompreensível) é nã::o José
L942A3: é o seu
L943P1: arengou tanto (+) na hora ficou lá eu não tenho nã::o (+) coloque aí ((de braços
cruzados imitando a criança))
L945Axx: (inaudível)
L946P1: PAZ pela paz pela cora::gem de MUDA::R (+) coragem de mudar quem é que
tá com coragem de mudar?
L948A9: EU EU ((mostrou a tira a professora))
L949Axx: [(inaudível)
L950P1: [é:: pela coragem de mudar ((leu a tira que o aluno mostrou)) (++) PAZ pela
paz pela JUSTI::ÇA
L952A4: [aqui!
L953Axx: [(inaudível)
L954P1: PAZ pela paz pela beleza de te AMA::R (++) muito BEM! (+) todos
forma::ram? (+) ((neste momento, ao finalizar a tarefa de ordenação do texto, a
professora começou cantar uma música e todos acompanharam))
L957T: MUI::TO BE::M! [você está de paraBÉ::NS que LEga::l (+) você foi
sensaciona::l ((cantando)) ((a atividade de ordenação do texto foi concluída; a
próxima atividade foi formar quatro palavras da música de acordo com os
códigos dados))
L960Axx:[(incompreensível)
L961P1: [va::mos (+) agora vou entregar uma folhinha pra você::s ((a professora
entregou uma folha para cada dupla))
L963Axx: (inaudível)
L964P1: O::lhe uma folhinha PRA DU::PLA:: (+) coloque o nome dos do::is
L965A5: ti::a é pro::va é::?
L966P1: nã::o
L967A3: é só:: uma? ((o aluno estava referindo-se que era uma folha para a dupla))
L968P1: u::ma só viu?
L969A5: ti::a (+) ti::a é prova?
L970P1: NÃ::O menino que pro::va (incompreensível) (+) uma só pra os dois (+) uma
só pra os dois
L972Axx: (inaudível)
L973P1: coloque o nome / (+) ge::nte vamos sentar gente!
L974Axx: (inaudível)
L975A7: deixa eu faze::r
L976A6: ti::a aqui é pra botar o nome?
L977A5: é a da::ta::
L978A6: pera aí (+) tia aqui é pra botar o nome?
L979A5: é a da::ta:: (+) ou! quer saber mais do que eu é?
L980T: (inaudível)
L981A6: é pra botar o nome é?
L982P1: é pra botar o seu nome
L983A8: [a, e, i
L984Axx: [(inaudível)
L985A8: [a, b, c, d, b, d (+) a , b, c, d ,e ((aluna estava dizendo as letras do alfabeto que
tinha na atividade))
L987P1: João Pessoa qual é a data de ho::je?
L988Axx: [se::te
L989P1: [sete de deze::mbro coloque a data (++) 2004 2004
L990Axx: [(inaudível)
L991A12: é aqui:: é:: tia? ((mostrou o lugar onde deveria escrever a data))
L992P1: onde tem Joã::o Pe::ssoa (+) ví::rgula (+) certo?
L993A9: tia::
L994A8: [a, b, c, d, e, f
L995P1: [olhe aqui (+) olhando (++) ((mostrou a folha da atividade)) NE::STE
RETÂ::ngulo (+) estão vendo?
L997A15: eu tô vendo
L998P1: (incompreensível) neste retâ::ngulo vocês estão vendo o alfabeto com os
sí::mbolos (+) a letra A (+) o que é que tem junto da letra A?
L1000Axx: o quadra::do
L1001P1: o quadra::do (+) ele está pintado?
L1002Axx: nã::o
L1003P1: ele está branco (+) então / cada letrinha tem um sí::mbolo (+) não é isso?
L1004Axx: é:::
L1005P1: letra b outro símbolo e assim vai até:: a letra z (++) aqui embaixo está
dizendo o seguinte:: ((a professora estava se referindo ao que está escrito
abaixo do retângulo, onde tem as letras e seus respectivos símbolos)) na le::tra
da mú::sica (+) pa::z pela paz tem muitas palavras (+) obse::rve os símbolos
aci::ma e forme quatro destas palavras ((leu para os alunos)) (+) as palavras
que vocês vão formar (incompreensível) vocês já pinta::ram já circula::ram
(+) já pintaram então vocês tentem observar os símbolos (+) qual é o
primeiro símbolo?
215
L1012A7: o a
L1013A6: o a
L1014P1: a ondinha não é i::sso? (+) nã::o você olha aqui ó! (+) o sí::mbolo ((mostrou
para a turma os símbolos que ela estava se referindo))
L1016A7: o C o C
L1017P1: pro::nto muito bem! (incompreensível)
L1018A6: a senhora ta pisa::ndo (( a professora estava pisando o texto ordenado no
chão))
L1019P1: aí você vai:: você olha o símbolo procu::re a letra e coloque embai::xo
L1020Axx: [(inaudível)
L1021P1: [vocês entenderam? (++) aqui:: / você olha o símbolo e procura a letra
L1022Axx: a letra
L1023P1: [nós já fize::mos isso aqui com nú::mero (++) nós já fizemos com numerai::s
agora hoje foi com sí::mbolo
L1025Axx: [(inaudível)
L1026P1: é:: aí você olha aqui o símbolo e vai procurar no alfabe::to (+) qual é o
sí::mbolo? procura (+) aqui a letra correspondente (+) qual é a letra da
ondinha?
L1028A3: c
L1029P1: aí você coloca o c embaixo da ondinha e assim vai até completar todo
L1030A7: oh tia não vou fazer não
L1031P1: por quê?
L1032A7: ti::a eu vou fazer só é? ((a aluna estava sem parceria para fazer a tarefa))
L1033A4: (incompreensível)
L1034P1: o::lha gente (+) coloque a letra embaixo do sí::mbolo (incompreensível)
L1035Axx: (inaudível)
L1036P1: qual a letra que corresponde a esse símbolo?
L1037A17: c
L1038P1: o c você vai colocar aqui emba::ixo
L1039A2: é o r
L1040P1: o r?
L1041A2: aqui ti::a
L1042P1: a ondi::nha?
L1043A3: nã::o é o c
L1044P1: o r é o que? da bola (incompreensível)
L1045Axx: (inaudível)
L1046P1: a próxima letrinha você coloca embai::xo do sí::mbolo (+) não vai fazer tudo
apertadinho não
L1048A8: é aqui ((mostrou o lugar indicado para escrever a letra))
L1049A9: a bolinha é essa tia?
L1050P1: é::
L1051A7: a (+) a
L1052P1: va::i procura::ndo
L1053A9: ti::a (incompreensível)
L1054P1: mui::to be::m!
L1055Axx: [(inaudível)
L1056P1: [coloque embaixo ((a professora andava pela sala explicando às crianças que
estavam sem saber como fazer a atividade))
L1058A10: [nã::o é aí NÃ::o (+) eitá::! Não é aí não (incompreensível)
L1059Axx: [(inaudível)
L1060A10: tia tá formando um nome aqui! ((a criança se dirigiu a professora
mostrando a palavra que estava sendo formada CRIAN))
L1062P1: é pra formar nome
L1063A9: [{ti::a (+) oh! Ti::a (+) tá errado?
L1064T: [(inaudível)
L1065P1: qual é a letra c? (+) olhe qual é a letra c?
L1066A9: é essa?
L1067P1: é (+) muito apressadi::nho (+) observe direitinho
L1068A12: ti::a (+) tia
L1069P1: é:: você vai procurando e coloca::ndo
L1070A12: ti::a como é o nome cria::nça?
L1071P1: CRIA::NÇA! será que é no singular ou plural?
L1072A9: ti::a vem cá!
L1073A4: plural
L1074P1: hã?
L1075A7: CRIA::NÇAS
L1076P1: mui::to be::m mo::ça (++) olha aqui a última bola é o que?
L1077Axx: [(inaudível)
L1078P1: [(incompreensível) o::lha gente observe a boca do bonequi::nho da letra j e l
(+) a boca tá diferente viu? não olhe para o bonequinho e coloque qualquer
um não (+) a boca do bonequinho da letra j e l
L1081A9: ti::a (+) vem cá
L1082A5: como é esse no::me em tia?
L1083P1: qual é o símbolo desse?
L1084A5: sei não
L1085P1: qual é a letra? (+) você colocou f (+) tá vendo? (++) esse símbolo é de qual
letra? qual é a letra? procure aqui procure o símbolo não é a letra não (+) qual
é a letra que é desse?
L1088A5: so::l so::l
L1089P1: qual é a letra que corresponde a esse símbolo?
L1090Axx: [(inaudível)
L1091A9: [tia::
L1092P1: oi! (+) já vo::u (++) ai meu Deus! tem um erro aqui (+) foi a menina que fez
(+) uns saiu certo outros não o o (+) o dela não o dela tá com outro símbolo
((uma criança mostrou sua atividade e a professora percebeu que não dava
certo porque quem digitou a atividade colocou outro símbolo. Durante esta
atividade poucas duplas trabalhavam em parceria; na maioria, a criança
envolvida com a atividade era a que estava com a folha; a outra mostrava-se
dispersa conversando com outras crianças))
ANEXO F
TRANSCRIÇÃO DAS AULAS DA PROFESSORA 2
L1P2: pronto minha ge::nte? ((a Professora estava perguntando se os alunos tinham
terminado de copiar o cabeçalho))
L3A1: pro::nto
L4P2: vamos lá? já Paulo? (++) Roberto (++) Amanda (+) e e (incompreensível) (( os
alunos ainda estavam copiando o cabeçalho e o único barulho que ouvíamos
era o barulho fora da sala))
L7A2: tia vou no banheiro
L8P2: André (++) cadê Vitor? (+) Vitor? teu colega (+) tá doente? (++) viu ele não?
viu Vitor? (++) então vamos lá! o nosso / a nossa aulinha de hoje é de história
(+) olha cá! (+) vamos prestar atenção Paulo (+) SEnão eu vou tomar o relógio
(+) se começar eu tomo (+) eu avisei (++) vamos lá!
L12A3: dia da /
L13P2: di::a da:: ...
L14A3: bandeira
L15P2: bandeira (++) então o dia da bandeira foi sexta-feira (+) dia 19 (+) MA::s como
não houve aula sexta-feira a gente ver agora (+) dia da nossa bandeira a bandeira
nacional (++) a nossa bandeira foi criada (+) André (+) presta atenção (+) a
nossa bandeira foi criada no dia (+) é em novembro (+) dia 19 de novembro de
1889 (+) no mesmo ano da república (+) que foi proclamada a independência
da república (++) todo mundo conhece a bandeira nacional (+) não conhece?
L21A1: conheço
L22P2: quais são as cores da bandeira?
L23A1: [amarelo
L24A2: [verde, amarelo, branco e azul
L25A3: [verde
L26P2: verde, amarelo, azul
L27A3: e branco
L28P2: e branco né isso? (++) branco é uma cor grande, larga ou é uma faixa apenas?
L29A3: uma faixa
L30A4: uma faixa
L31P2: é uma faixa (+) não é isso? (+) o que é que conte::m naquele globo que tem a
faixa branca? (incompreensível) azul?
L33A4: um no::me
L34P2: tem o nome (+) só o no::me? (+) tem mais nada?
L35A2: tem estrela
L36P2: tem estre::la não é? (+) aquelas estrelas que tem no glo::bo azu::l / representa os
nossos esta::dos (+) então / a nossa bandeira o verde representa as nossas
ma::tas (+) é o verde das nossas matas o verde que /
L39A5: [das matas
L40P2: [vocês vivem junto dele né? (+) vocês mo::ram (+) junto do verde (+) gra::ças a
Deus tem o privilégio de morar numa área bem VE::RDE que é as nossas
matas e o (+) o amarelo representa as nossas rique::zas (+) o Brasil é um país
ri::co e é representado pelo amarelo da bandeira a a a esfera amarela (+) o
aZU::L quem é que sabe? a cor aZUL da:: bandeira
L45A3: o céu
L46P2: I::sso (+) é o céu (+) represe::nta o nosso céu né?
L47A4: e o branco a paz
L48P2: e o branco é?
L49A4: a paz
L50P2: a pa::z (+) muito bem (+) então nós vamos fazer um pequeno resumo aqui no
quadro (+) bem pouquinho (+) pra vocês (incompreensível) (++) vamos prestar
atenção (+) pra acompanhar (++) Bruno venha fazer sua tarefa e deixe de
conversa (+) ((dirigiu à carteira de Bruno)) ainda tá aqui:: ? (+) eu apago já o
quadro ((uma criança levantou-se aproximou-se da Professora e mostrou o
caderno para ela)) terminou? ((a Professora pegou o caderno da criança para
verificar se a mesma tinha concluído a cópia. Depois se aproximou de duas
crianças que começaram a conversar e falou algo para elas muito baixo; não deu
para o gravador captar))
L58A1: pula linha? ((a criança chamou a Professora até a sua carteira))
L59P2: não (+) pula não
L60A3: terminei
L61P2: terminou gente? (++) senta Paulo e Luiza (++) vai ganhar uma caixa de
chocolate? vai ganhar (+) vai ganhar ((a Professora fez o comentário olhando a
cópia de um aluno))
L64A5: tia (+) pula linha?
L65P2: NÃO (++) gente eu tô esperando que vocês terminem (+) daqui a pouco dá três
horas e vocês não terminam
L67A6: tô terminando
L68A7: terminei
L69P2: já Rafaela?
L70Axx: (inaudível)
L71P2: pronto (+) vamos lá gente (++) vira pra frente João (++) (incompreensível)
vamos lá (+) vamos fazer a nossa ... (++) hein?
L73A2: leitura
L74P2: leitura (+) não é isso? (+) vamos ouvir primeiro depois a gente lê
(incompreensível) presta atenção (++) Maria (+) vamos prestar atenção querida!
(+) guarde o livrinho ((a Professora estava se referindo a um livro didático que a
aluna pegou depois de ter terminado a cópia)) (++) vamos lá (+) vamos ouvir
depois a gente vai ler junto ((pegou a régua e apontando para o texto escrito no
quadro começou a leitura)) dia da bandeira (++) a bandeira brasileira é u::m
sí::mbolo da pátria (+) que representa (+) o nosso país (+) ((interrompeu a
leitura)) o nosso país é o ...
L81A3: Brasil
L82P2: Brasil (+) nossa bandeira foi criada no dia 19 de novembro de 1889 (+) as cores
da bandeira são ve::rde amare::lo, azu::l e branco (+) as estre::las representam os
estados do Brasil (+) essa história / um pouquinho da história da nossa bandeira
(+) bandeira nacional essa que a gente vê estendi::da (+) hasteada em algumas
repartiçõ::es (+) em algumas esco::las que a gente pa::ssa né? e a gente / ou ou
pegou nela no dia sete (+) todo mundo com a bandeirinha na mão pra / cantar o
hino nacional (+) é o sí::mbolo da nossa pátria (+) são símbolos: o hino nacional,
a bandeira nacional, o selo e o escudo que vocês ainda não viram (+) nem selo
nem escudos só (+) o hino que a gente já canto::u e:: a bandeira nacional certo?
é que a criancinha tá com ela na mã::o (+) aqui no nosso livro tem (+)
pequenininha (+) certo? a bandeira nacional todo mundo já sabe quais são as
cores / vamos lá (+) então vamos ler junto certo? vamos lá! ((a leitura do texto
feita pela Professora foi pausada))
L95Axx: a::
L96P2: aqui primeiro ((apontou com a régua para o título do texto))
L97Axx: leitu::ra
L98P2: NÃO (+) [DIA ...
L99Axx: [dia
L100P2: da ...
L101A4: bandeira
L102A6: bandeira
L103P2: bandeira (+) vamos lá! (+) A::
L104Axx: a::
L105A2: [bandeira
L106P2: [BANdeira bra:: ...
L107Axx: bra::sileira
L108P2: leira é::
L109Axx: é::
L110P2: [u::m
L111Axx: [u::m
L112P2: sí::m ...
L113Axx: sí::mbolo
L114P2: sí::mbolo da:: ...
L115Axx: da::
L1116P2: pátria
L117Axx: pá::tria
L118P2: que:: ...
L119Axx: que::
L120P2: representa ...
L121Axx: representa
L122P2: o nosso
L123Axx: o nosso
L124P2: país
L125Axx: país
L126P2: no::ssa
L127Axx: nossa
L128P2: Letícia (+) [Letícia (+) olhe pra cá:: filha (+) nosso / nossa
L129A1: [le / ((quando a Professora falou Letícia, automaticamente uma
criança ia repetindo, chegando a pronunciar a primeira sílaba do
nome Letícia))
L132Axx: nosso
L133P2: nossa
L134Axx: nossa
L135P2: bandeira
L136Axx: bandeira
L137P2: fo::i
L138Axx: fo::i
L139P2: cria::da
L140Axx: cria::da
L141P2: no::
L142Axx: no::
L143P2: di::a
L144Axx: di::a
L145P2: dezeno::ve
L146Axx: dezeno::ve
L147P2: de::
L148Axx: de::
L149P2: nove::mbro
L150Axx: nove::mbro de
L151P2: [de:: mil oitocentos e oitenta e nove
L152Axx: [de:: mil oitocentos e oitenta [e nove
L153A4: [e NOVE
L154P2: não grita (+) a::s
L155Axx: a::s
L156P2: co::res
L157Axx: co::res
L158P2: da::
L159Axx: da::
L160P2: bande::ira
L161Axx: bande::ira
L162P2: são / quais são?
L163A3: [verde
L164A7: [amarelo
L165P2: ve::rde
L166Axx: amarelo
L167P2: amarelo (+) [azu::l
L168Axx: [az::ul
L169P2: e...
L170Axx: bra::nco
L171P2: bra::nco
L172A3: as
L173P2: a::s (+) estre::las
L174Axx: estre::las
L175P2: represe::ntam
L176Axx: represe::ntam
L177P2: o::s
L178Axx: o::s
L179P2: esta::dos
L180Axx: esta::dos
L181P2: do Brasil
L182Axx: do Brasil
L183P2: certo? (+) então quem é que representa os estados do Brasil?
L184A8: a estrela
L185Axx: as estrelas
L186P2: as estrelas que estão na ba::n ...
L187Axx: deira
L188P2: dei::ra (+) as estrelas estão (+) na bandeira to::da ou só no globo azul?
L189Axx: só no globo azul
L190P2: só no azul (+) onde tem as estrelas que representam os ...
L191Axx: país
L192P2: esta::dos né?
L193Axx: é::
L194P2: os esta::dos (+) os estados do Brasil (+) a bandeira é que é o SÍMbolo (+) o
símbolo do nosso país (+) o símbolo do Brasil (+) o nosso país é o Bra:: ...
L196Axx: sil
L197P2: Brasil (+) o ve::rde da bandeira representa o que gente?
L198A9: matas
L199P2: as matas né? as matas do Brasil
L200A5: [o azul /
L201P2: [é:: inclusive tem uma mú::sica (+) que exalta (+) as cores do ve::rde do Brasil
(+) eu não sei cantar (+) certo? não sei / aliás nem sei de cor / que é é:: (+) o
nome dele é:: (+) não sei nem (+) esqueci o nome dele (+) que canta essa
música (+) é muito bonita exaltando as bele::zas rique::zas do nosso paí::s (+)
nosso Brasil é um país ri::co (+) e essas riquezas está simbolizadas no amarelo
da nossa bandeira (++) vamos agora por fila (+) essa fila aqui (+) a fila de
Ricardo (( a Professora estava solicitando uma nova leitura, uma fila de cada
vez)) vamos lá (+) a::
L209Axx: a:: bandeira
L210P2: bande:ira bra:: ...
L211A9: bra:: – [sileira
L212P2: [sileira é::
L213Axx: é::
L214P2: u::m
L215A9: u::m
L216P2: sí::mbolo (+) eu só tô ouvindo a voz de Técio (+) né engraçado? (+) tá
cala::da (+) Naza::ré (+) Elvira:: (+) só to escutando a voz de TÉcio (+) vamos
começar de novo (+) vamos lá!
L219Axx: a::
L220P2: a:: [bandeira
L221Axx: [bandeira
L222P2: [brasileira
L223Axx: [brasileira
L224P2: é::
L225Axx: é::
L226P2: u::m
L227Axx: u::m
L228P2: sí::m-bo-lo
L229Axx: sí::m-bo-lo
L230P2: da::
L231Axx: da::
L232P2: pá / pá::tria vamos lá!
L233Axx: pátria
L234P2: pátria [que::
L235Axx: [que::
L236P2: repre ...
L237Axx: senta
L238P2: representa o::
L239Axx: o::
L240P2: no::sso
L241Axx: no::sso
L242P2: paí::s
L243Axx: paí::s
L244P2: hein (+) Antônia! Vamos lá rapaz (+) no::ssa
L245Axx: no::ssa
L246P2: bandeira
L247Axx: bandeira
L248P2: fo::i
L149Axx: fo::i
L250P2: cria::da
L251Axx: cia::da
L252P2: no::
L253Axx: no::
L254P2: di::a
L255Axx: di::a
L256P2: dezeno::ve
L257Axx: dezeno::ve
L258P2: de::
L259Axx: de::
L260P2: no::
L261Axx: no::
L262P2: ve::m
L263Axx: bro
L264P2: bro (+) novembro
L265Axx: novembro
L266P2: de::
L267Axx: de::
L268P2: mi::l
L269Axx: mi::l
L270P2: oitocentos
L271Axx: oitocentos
L272P2: e:: oitenta e nove
L273Axx: e:: oitenta e nove
L274A5: e nove
L275P2: a::s
L276Axx: a::s
L277P2: co::res
L278Axx: co::res
L279P2: da::
L280Axx: da:: bandeira
L281P2: bandeira são
L282Axx: são
L283A3: ve::rde
L284P2: ve::rde
L285A3: amarela [azul
L286P2: [azul
L287A3: e bra::nco
L288P2: e bra::nco (+) a::s
L289Axx: as estre::las
L290P2: re / [presentam
L291Axx: re[presenta
L292P2: o::s
L293Axx: o::s
L294A6: estados
L295P2: esta::dos do:: ...
L296Axx: Brasil
L297P2: Brasil (+) muito bem! (+) agora a fila de / Roberto (+) vocês três (+) vocês três
aqui (+) Aurélio (+) Aurélio (+) Ítalo e Roberto vamos lá!
L299A10: a::
L300P2: vamos lá! tá com vergonha de que? vamos lá!
L301A10: a::
L302P2: a::
L303A10: bandeira
L304P2: olhe pro quadro (+) solte os pés e vá lá! a::
L305A10: a:: [bandeira
L306P2: [bandeira (+) vamos lá (+) tô esperando
L307A10: co::
L308P2: BRA:: ...
L309A10: bra- si
L310P2: lei ..
L311A10: ra (+) brasileira?
L312P2: brasilei::ra é::
L313Axx: é:: u::m
L314P2: sí::mbolo
L315Axx: sí::mbolo
L316P2: da::
L317A10: da pá- tria pátria
L318P2: pá::tria
L319A10: pátria
L320P2: pá::tria (+) que:: represe::nta
L321A10: que representa
L322P2: o nosso
L323A10: o nosso
L324P2: país
L325A10: país
L326P2: (incompreensível) fica caladinha (+) nossa
L327A10: nossa
L328P2: (+) vamos ler (+) olhando pra mim não (+) olhando pro quadro (+) aqui:: nossa
L329A10: pa::
L330P2: ba::n
L331A10: bandeira
L332P2: bandeira (+) [fo::i
L333A10: [fo::i
L334P2: cria::da
L335A10: cria::da
L336P2: no::
L337A10: no::
L338P2: di::a
L339A10: di::a
L340P2: tô esperando Aurélio ficar calado (+) porque (+) olha pra cá (+) di::a
L341A10: di::a
L342P2: dezeno::ve
L343A10:dezeno::ve
L344P2: de::
L345A10: de::
L346P2: no::
L347A10: no::
L348P2: ve::m
L349A10: ve::m
L350P2: bro::
L351A10: bro::
L352P2: novembro
L353A10: novembro
L354P2: de::
L355A10: de::
L356P2: mi::l
L357A10: mi::l
L358P2: oitoce::ntos
L359A10: e oito
L360P2: e oitenta
L361A10: e nove
L362P2: e no::ve (+) certo (+) é a fila de:: João (+) agora (+) quero ver os cinco agora
vamos ver
L364A11: a bandeira
L365P2: a::s
L366Axx: a::s
L367P2: co::res
L368A11:da bandeira
L369A12: da bandeira
L370A11: são
L371P2: são
L372A11: são
L373: Axx: verde amarela azul e branco
L374A11: as estrelas
L375A12: as estrelas
L376P2: representam
L377A12: representa o país
L378P2: o::s
L379A12: país
L380A13: país
L381A14: país
L382P2: que nome é esse? ((apontando com a régua para a palavra estados))
L383A11: estados
L384P2: estados
L385Axx: estados
L386P2: do::
L387A12:Brasil
L388P2: “dó” não “du” (+)Brasil (+) é:: vocês agora (+) lá (+) as duas filinhas (+) vocês
três (+) vamos lá (+) tira a mão da cabeça Letí::cia (+) vamos lá / vocês (+) a::
L390A15: a bandeira
L391P2: bande::ira
L392A14: brasileira
L393P2: brasile::ira
L394A15: é u::m
L395P2: é u::m
L396A16: símbolo
L397P2: símbolo
L398A16: da::
L399P2: da:: (+) pátria
L400A14: pátria
L401P2: que::
L402A15: que::
L403A14: re:: presenta
L404P2: represe::nta (+) LETÍ::cia
L405A16: o nosso
L406P2: o no::sso
L407A15: país
L408P2: país
L409A14: nossa bandeira
L410P2: [no::ssa (+) bande::ira
L411A16: [nossa bandeira
L412A15: [foi criada no::
L413P2: [f::oi criada no::
L41416: dia
L415P2: dia
L416A15: dezenove
L417P2: dezenove de::
L418A15: novembro
L419P2: de::
L420A14: de::
L421P2: mi::l oitoce::ntos e oitenta [e nove
L422A15: [e nove
L423P2: as::
L424Axx: as:: cores (incompreensível) verde amarelo azul e branco
L425A15: as estrelas
L426A17: as estrelas são
L427P2: REpresentam o::s
L428A15: países
L429P2: esta::dos do::
L430A15: Brasil
L431P2: Brasil (++) todos terminaram de copiar?
L432A18: não
L433A19: já::
L434P2: nós vamos fazer agora (+) o exercício com esses / com essa leitura (+) vamos
chamar aqui / da interpretação (+) da leitura (++) pula uma linha (+) ((a
Professora copiou no quadro cinco perguntas e depois afixou um cartaz que
tinha uma menina e um menino vestidos de soldado. A menina tinha na mão
uma bandeirinha do Brasil e o título do cartaz era “Dia do Soldado”. Ela
justificou o motivo de ter colocado esse cartaz, dizendo que o cartaz da
bandeira do Brasil estava no armário, mas tinha sumido)).
L441A8: pula linha (+)tia?
L442P2: pu::la
L443A4: tia (incompreensível)
L444P2: hein?
L445A3: pula linha?
L446P2: pula
L447P: boa tarde! ((chegou na porta da sala o professor de Educação Física))
L448T: boa tarde!
L449P2: tudo bem Daniel?
L450P: tudo em ordem?
L451P2: graças a Deus! (++) você vai depois Rafaela vai (++) ((a Professora permitiu a
ida ao banheiro de duas alunas)) tá quente Lúcia (+) fazendo calor o ventilador
tudo desmantelado (+) gente olha as perguntas (+) que se comemora no dia
dezenove de no / (++) no dia dezenove de novembro?
L455A7: Brasil
L456P2: bandeira (+) em que ano nossa bandeira foi criada? se lembra?
L457A7: mil
L458P2: mi::l
L459A7: novecentos
L460P2: oitoce::ntos e oitenta e ...
L461A4: nove
L462P2: no::ve (+) quais são as cores da bande::ira?
L463Axx: azul
L464A2: ve::rde
L465P2: verde (+) amarelo
L466A6: e branco
L467A1: bra::co e cheio de estre::la
L468P2: I::sso! o que representa (+) as estrelas que estão na bandeira?
L469A8: (incompreensível)
L470P2: o que representa? (++) o::s
L471A9: os esta::dos do Brasil
L472A7: (incompreensível)
L473P2: e o cinco (+) desenhe e pinte a bandeira (+) hein?
L474A5: ti::a tô no ci::nco
L475P2: muito bem (+) copie tudo b::em rápido (++) Bruno dá pra o senhor parar de
conversar e fazer a tarefa? (++) ATENÇÃO pra você::s eu não quero uma
bandeira miudinha não viu? quero uma bandeira bem feita e bonita
L478A3: tia::
L479P2: hu::m!
L480A3: (incompreensível)
L481P2: eu coloquei APE::NAS pra vocês observa::r direitinho as cores da bande::ira
(+) e como é que tem que fazer (+) certo? agora não quero essa miniatura não
(+) essa é bem pequenininha (+) miniatura pequenininha (+) faça uma
bandeira bonita (( a Professora estava se referindo ao cartaz que ela afixou no
quadro sobre o dia do soldado, pois a bandeira que a menina levava na mão era
pequena))
L486A9: assim? ((mostrando o seu desenho da bandeira))
L487P2: é (++) boni::ta (+) vocês sabem fazer (++) vá desenhar que você
(incompreensível)
L489A1: ti::a (+) eu desenhei
L490A9: (incompreensível)
L491P2: deixa eu olhar!
L492A5: tia (+) pula linha pra fazer isso?
L493P2: pula sim (++) Márcio faça a tarefa sem brincadeira (++) as cores que vocês
vão precisar (incompreensível) aqui tem (+) amarelo azul e verde (++) faça o
melhor que você puder (++) vamos senta::r (++) já Elvira? (++)
(incompreensível) é o número cinco (++) ((a preocupação da Professora e das
crianças era no desenho da bandeira. Ela circulava pelas cadeiras, orientando
em relação ao tamanho do desenho e das cores que eles iam usar)) (...) muito
bem! danou::-se! (++) assim tá vendo? ((a Professora pegou o lápis e pintou o
desenho de uma das crianças)) (+) agora enquanto os outros terminam vão
lendo e respondendo (+) ((ela falou para as crianças que estavam esperando os
colegas pintarem, pois a quantidade de lápis de cor era insuficiente)) (++) você
deixa esse assim e faz aqui emba::ixo (++) faça direitinho (+) com amor (+) eu
sei que você sabe
L504A8: tia:: (incompreensível)
L505P2: (incompreensível) (+) fez?
L506A6: tia:: Roberto
L507P2: quem?
L508A6: Robe::rto
L509P2: Roberto é meu ca::rma (++) e aí José? vai fazer a bandeira? hein?
L510A3: eu não sei
L511P2: sabe (+) faça do jeito que você fize::r (+) tá bem feito (incompreensível) (++)
você colocou as estrelas na faixa ((a professora estava falando com uma
criança que mostrou o seu desenho para ela; elogiou, mas questionou a posição
das estrelas e apontou para o cartaz do quadro que servia como modelo, mas a
bandeira do cartaz não tinha as estrelas desenhadas)) (...)
L516A8: respondi todinho
L517P2: pro::nto gente? respondeu? (+) parabéns! ((se aproximou de outra aluna e fez a
seguinte intervenção)) você respondeu esse aqui no lugar errado (+) apague e
responda aqui ((mostrando o lugar onde a aluna deveria ter respondido)) (++)
Bia:: Bia faça a sua tarefi::nha (++) olhe para o quadro (+) (incompreensível) a
bandeira foi criada (++) Le::o (incompreensível) (++) João (incompreensível)
já Paulo? respondeu? Bia! (+) já respondeu alguma coisa? (++) já copiou as
perguntinhas? (+) então vamos responder gente? vamos? Maria! vamos
responder? (+) deixa ela pintar (++) já Marina? (+) senta direito Pedro (+)
deixa para deitar em casa (++) João! (+) vá respondendo João (++) já
respondeu alguma coisa Ana? (++) chega Antônia (+) pode trazer o caderno
((dois alunos passaram toda a aula sem fazer nada: não copiaram, não
desenharam, não pintaram e não falaram, sempre deitados esperando o tempo
passar. A Professora se aproximou de uma aluna, a única adolescente na sala,
pegou o lápis dela e localizou no texto a resposta da terceira pergunta; a aluna
copiou a resposta e depois a Professora chamou essa aluna para copiar no
quadro as respostas do questionário, antes disso um aluno se aproximou da
Professora para saber se suas respostas estavam certas)) não não olho! Antônia
vai dar a resposta / vai dar resposta e nós vamos corrigi::r pelo que seu
coleguinha vai responder certo? sente lá:: na sua cadeira (+) Antônia vai
responder (++) o que se comemora no dia dezenove de novembro? ((Antônia
transcreveu no quadro as respostas para a turma copiar))
L537A7: a bande::ira
L538P2: Robe::rto sente meu filho na sua cadeira
L539A7: a bandeira
L540P2: psi::u LeTÍcia (++) BruNO presta atenção a tarefa Bruno (++)
(incompreensível) (++) gente olha lá:: vamos corrigir pelo da colegui::nha (+)
vamos ver se ela acertou (+) que se comemora no dia dezenove de novembro?
L543A3: a bandeira
L544P2: dia da::
L545Axx: bandei::ra
L546P2: bandeira ela não colocou dia não mas colocou bandeira (+) certo? então dia da
ban ...
L548Axx: de::ira
L549P2: em que a::no nossa bandeira foi criada? ela colocou (+) mil oitocentos e
oitenta ...
L550A1: e nove
L551P2: e no::ve (+) quais são as cores da bandeira?
L552A1: verde
L553P2: verde [amare::lo azu::l e branco
L554Axx: [amare::lo azu::l
L555P2: e branco (++) o que represe::nta as estre::las que estão na bandeira?
L556A6: o paí::s
L557P2: os ...
L558A9: o país
L559P2: os e::s-[ta::dos do:: Brasil
L560A7: [tados do Brasil
L561P2: (incompreensível) tá solta a resposta só pra complementar aqui (+) do:: tá certo
a resposta dela só faltou o do:: (+) do Brasil só o “d” “o” (+) pronto / e
desenhe e pinte a bandeira que vocês / já fizeram aí todos fizeram aí
(incompreensível) (++) Bruno (+) Bruno sente meu amor (+) tem prego na
cadeira? ÍTA::lo SENTA (+) Joã::o sente você tá de costa pra a professora ó!
(+) Antônia (++) Auré::lio (++) Pe::dro (++) ÍTAlo (++) João (+) ô Í::talo (+)
Paulo (+) André (++) Cíntia (++) Letícia (+) levanta os pés Letícia (a aluna
arrastava as sandálias no chão fazendo barulho)) ÍTALO SENTA (+) Márcio
(+) Bruno (+) vira pra frente (++) terminou Ana? (+) terminou? (+) MÁRcio /
de novo Márcio? ((os alunos colocaram os cadernos em cima da mesa da
Professora, ela deu o visto e chamou um por um para eles pegarem o caderno.
Ora ela chamava os alunos para pegar o caderno, ora para repreendê-los, pois
os alunos já estavam inquietos, e começaram a conversar ou a se levantar da
cadeira )) vamos lá gente! (++) GE::nte que é isso? (+) Ítalo vá pra sua
cadeira (+) (...)
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