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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ECONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM AGRONEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
DIRETRIZES COMPETITIVAS PARA O SETOR DE ALGODÃO DO ESTADO DE
MATO GROSSO: DESAFIOS DAS PRÓXIMAS DÉCADAS
DULJON LAERTI BOLDRIN
HAYS MACHADO
Dissertação apresentada para a obtenção do título de
Mestre em Economia. Área de Concentração:
Agronegócios e Desenvolvimento Regional.
CUIABÁ-MT
MARÇO DE 2011
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DULJON LAERTI BOLDRIN
DIRETRIZES COMPETITIVAS PARA O SETOR DE ALGODÃO DO ESTADO DE
MATO GROSSO: DESAFIOS DAS PRÓXIMAS DÉCADAS
Orientador: Professor Dr. Dirceu Grasel
Dissertação apresentada para a obtenção do título de
Mestre em Economia. Área de Concentração:
Agronegócios e Desenvolvimento Regional
CUIABÁ-MT
MARÇO DE 2011
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AGRADECIMENTOS
Minha esposa, Mirtes, por ter me dado suporte e motivação em todos os
momentos de privação que esta pesquisa demandou.
Meus pais, Ailton e Salete, e meu irmão, Jeferson, por sempre terem acreditado
em mim, mesmo naqueles momentos onde meus sonhos fossem menos prováveis de serem
concretizados.
Todos os meus professores, desde minha infância até presente momento. Cada um
deles é responsável pela construção do meu conhecimento e minhas convicções.
Meu orientador, professor Doutor Dirceu Grasel, pela dedicação na orientação
deste trabalho, pelas cobranças e por estar sempre acessível para sanar as inúmeras dúvidas
que surgiram ao longo do caminho.
Toda equipe da AMPA (Associação Matogrossense dos Produtores de Algodão)
na pessoa de seu Diretor Executivo, Décio Tocantins e da colaboradora, Flávia Vaz de
Almeida. Sem o apoio desta instituição esta pesquisa não seria viável.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 14
1. MÉTODO 17
2. REFERENCIAL TEÓRICO 26
2.1. Competitividade 26
2.2. Estratégia Competitiva 30
2.3. A Nova Economia Institucional 34
3. O ALGODÃO: HISTÓRIA E ANÁLISE ECONÔMICA 42
3.1. Algodão no Brasil 42
3.2. Algodão em Mato Grosso 52
4. CARACTERIZAÇÃO DO PADRÃO DE COMPETIÇÃO DO SETOR TÊXTIL 59
5. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA REALIZADA COM OS
PRODUTORES DE ALGODÃO DE MATO GROSSO 72
6. ANÁLISE DOS PONTOS FORTES, FRACOS, OPORTUNIDADES E AMEAÇAS
DA ESTRATÉGIA COMPETITIVA DO SETOR AGROINDUSTRIAL TÊXTIL DE
MATO GROSSO 97
6.1. Pontos fortes 97
6.1.1. Aumento da produtividade e da quantidade total produzida 97
6.1.2. Adoção de Padrão internacional de classificação 98
6.1.3. Possibilidade de Aumento de área cultivada sem expansão da fronteira
agrícola 99
6.2. Pontos fracos 100
6.2.1. Custo ambiental e social não contabilizado 100
6.2.2. Ambiente Institucional Míope 101
6.2.3. Concentração de Renda 101
6.2.4. Falta de presença do setor privado nos investimentos 102
7
6.2.5. Mercado futuro e seguro agrícola 102
6.3. Oportunidades e ameaças 103
6.3.1. Tendência de queda de barreiras internacionais 103
6.3.2. Transgênicos 104
6.3.3. Mudança da ótica da eficiência econômica para a ótica da eficiência social,
ambiental e também econômica 105
6.3.4. Preço 105
7. ANÁLISE DAS INTERAÇÕES ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DO SETOR
AGROINDUSTRIAL TÊXTIL DE MATO GROSSO E AS OPORTUNIDADES E
AMEAÇAS QUE PERMEIAM O AMBIENTE INSTITUCIONAL 107
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 116
9. REFERÊNCIAS 121
Anexo A. Questionário aplicado aos produtores de algodão filiados à AMPA 132
8
LISTA DE TABELAS
Tabela I.1. Área colhida em hectares, Produção em toneladas e Produtividade de algodão em
caroço, soja e milho em Mato Grosso no período 2002 a 2007 15
Tabela 1.1. Número e Percentual de produtores de algodão filiados à AMPA 22
Tabela 1.2. Área Colhida em hectares por Mesorregião mato-grossense entre 2002 e 2008 22
Tabela 1.3. Número de amostras necessárias e obtidas para viabilidade da pesquisa para Mato
Grosso e para as regiões mais representativas 23
Tabela 3.1. Área colhida, produção, consumo, exportação e importação de algodão 1970-2001
45
Tabela 3.2. Valor percentual dos 10 maiores importadores de produtos derivados do setor
agroindustrial do algodão brasileiro de Janeiro de 1998 a Junho de 2010 51
Tabela 3.3. Empregos formais em Mato Grosso no ano de 2008 56
Tabela 3.4. Maiores Saldos de postos de trabalho formais criados em Mato Grosso pela
Agropecuária e pela Indústria de Janeiro de 2003 a Dezembro de 2009 incluindo aqueles
ligados ao algodão 57
Tabela 3.5. Produtividade de algodão em Pluma e Caroço em Mato Grosso de 1997 a 2008 58
Tabela 4.1. Qualidades intrínsecas da pluma de algodão de acordo com a cultivar utilizada no
plantio. 61
Tabela 4.2. Principais Doenças e Pragas que atingem a cotonicultura. 62
9
Tabela 4.3. Códigos dos padrões físicos universais de classificação de algodão com legenda
de denominação em português e inglês, acompanhado das siglas correspondentes 65
Tabela 4.4. Códigos de determinação de tipos de algodão 66
Tabela 4.5. Códigos de classificação Universal HVI 66
Tabela 4.6. Ágios e Deságios, Padrões Universais em pontos em R$/libra-peso 67
Tabela 4.7. Os sistemas de fiação e suas prioridades nas características das fibras ordem
decrescente de importância 68
Tabela 5.1. Síntese do perfil dos Produtores de algodão de Mato Grosso 76
Tabela 5.2. Participação Percentual do Proprietário, Administradores e Especialistas no
Processo decisório da firma 77
Tabela 5.3. Aspectos considerados na tomada de decisão 78
Tabela 5.4. Aspectos considerados na escolha da cultivar 79
Tabela 5.5. Controle de Custo através de Softwares Específicos e Planilhas 79
Tabela 5.6. Propriedade de Algodoeiras por tamanho de área plantada em Mato Grosso 80
Tabela 5.7. Tipos de algodão obtidos pelos produtores de Mato Grosso 80
Tabela 5.8. Responsabilidade de Vendas de Produtos têxteis utilizados pelos produtores de
algodão de Mato Grosso 81
Tabela 5.9. Aspectos que dariam maior competitividade para a firma na opinião dos
produtores de algodão de Mato Grosso 83
Tabela 5.10. Aspectos que dariam maior competitividade ao setor têxtil mato-grossense na
opinião dos produtores de algodão de Mato Grosso 85
10
Tabela 5.11. Síntese das Características Estratégicas de Gestão e Produção dos cotonicultores
mato-grossenses 86
Tabela 5.12. Causas da Instabilidade do Setor Têxtil mato-grossense segundo os
cotonicultores 87
Tabela 5.13. Fatores internos não controláveis pelos produtores que prejudicam o setor têxtil
de Mato Grosso 88
Tabela 6.14. Fatores externos não controláveis pelos produtores que prejudicam o setor têxtil
de Mato Grosso 89
Tabela 5.15. Fontes de crédito utilizadas pelos cotonicultores de Mato Grosso 91
Tabela 5.16. Nível de Relação com o setor de fiação e tecelagem dos produtores de Mato
Grosso 92
Tabela 5.17. Síntese das características de Relacionamento exógeno à firma do setor têxtil de
Mato Grosso 92
Tabela 5.18. Modos de Manejo de Solo Utilizados pelos produtores de algodão de Mato
Grosso 93
Tabela 5.19. Opinião dos produtores mato-grossenses a respeito da sustentabilidade
ambiental, financeira e social do setor têxtil do Estado 93
Tabela 5.20. Síntese das características de Sustentabilidade do setor cotonicultor de Mato
Grosso 94
11
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1.1. Configuração Básica da Cadeia Têxtil 17
Figura 1.2. Mesorregiões de Mato Grosso 21
Figura 2.1. Esquema da indução das formas de governança 40
Quadro 7.1. Matriz de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças do Setor Agroindustrial
têxtil de Mato Grosso 108
12
RESUMO
Mato Grosso possui um território de 90.335.790,80 hectares dos quais 47.805.514 hectares
são de estabelecimentos agropecuários. A área de lavoura temporária total é de 5.734.408
hectares, sendo que a área colhida de algodão foi de 418.146 hectares. Percebe-se, ao
comparar os últimos dados apresentados com a área de estabelecimentos agropecuários e a
área de lavoura temporária total, que o cultivo de algodão ocupa, aproximadamente e
respectivamente, 1% e 9% deste total. Os produtores de algodão do Estado possuem alto nível
de tecnologia, grandes extensões de terra e alto grau de verticalização com as algodoeiras,
além de produzir outros cultivos como a soja e o milho. Esta diversificação produtiva vem
provocando oscilações na produção mato-grossense. Neste contexto, surge a seguinte questão:
por que existe instabilidade na área destinada ao cultivo de algodão dentro do setor têxtil de
Mato Grosso? O objetivo geral desta pesquisa é sugerir diretrizes competitivas gerais para o
setor agroindustrial algodoeiro de Mato Grosso para aproximar os interesses dos agentes que
o compõem, incluindo entre estes o governo do Estado, com a finalidade de diminuir a
instabilidade e aumentar a confiança entre os agentes. Através da aplicação de questionários e
valendo-se de parceria firmada com a AMPA (Associação Matogrossense dos produtores de
algodão) e da utilização de análise SWOT (Strenghts, Weaknesses, Opportunities and
Threats) pôde-se definir o padrão de competição e a estratégia vigente do setor algodoeiro de
Mato Grosso. A estratégia produtiva adotada não é adequada quando se vislumbra o longo
prazo. O foco dos agentes, incluindo entre estes o Estado de Mato Grosso, vem sendo a
exportação de produtos têxteis de baixo valor agregado. Além disso, o padrão de
competitividade alicerçado no preço, custo e qualidade não vem considerando uma
verticalização produtiva a jusante das algodoeiras. O foco em políticas financeiramente,
socialmente e ambientalmente sustentáveis deve fazer parte de uma estratégia setorial de
longo prazo adequada. A razão da instabilidade do setor foi associada à flutuação dos preços,
aos crescentes custos de produção, que aumentam os riscos da cultura do algodão e às
políticas governamentais que surgem para combater os sintomas e não as causas destes
problemas.
Palavras-chave: Instabilidade, padrão de competição e estratégia competitiva.
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ABSTRACT
Mato Grosso has an area of 90.335.790,80 hectares hectares of which 47,805,514 hectares are
of agricultural establishments. The total seasonal crop area is 5,734,408 hectares, the area
harvested of cotton was 418,146 hectares. It can be seen by comparing the latest data
submitted to the area of agricultural establishments and the total area of temporary crops, the
cultivation of cotton occupies approximately and respectively, 1% and 9% of this total. The
cotton producers of the State have a high level of technology, large tracts of land and a high
degree of vertical integration with the cotton initial industry, and produce other crops such as
soybeans and corn. This diversification of production has led to fluctuations in production of
Mato Grosso. In this context, that question arises: why is there instability in the area dedicated
to the cotton cultivation in the textile sector of Mato Grosso? The main objective of this
research in to suggest competitive guidelines for agroindustrial textile sector of Mato Grosso
for approximate the interests of all agents that compose it, includes the State government,
with the purpose of decrease the instability and increase the confidence of agents. Through
questionnaires resorting to a partnership signed with the AMPA (Association of Cotton
Producers of Mato Grosso) and use of SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities and
Threats) was able to set the competition pattern and the current strategy of the sector of cotton
in Mato Grosso. The productive strategy adopted is not appropriate when one sees the long
term. The focus of the staff, including among them the state of Mato Grosso, has been the
export of textile products with low added value. Moreover, the pattern of competitiveness
rooted in price, cost and quality is not considering a vertical integration higher than initial
industry of cotton. The focus on policies financially, socially and environmentally sustainable
should be part of a long-term sector strategy accordingly. The reason for the instability of the
sector was associated with fluctuating prices, rising production costs, which increase the risks
of cotton and government policies that appear to combat the symptoms and not the causes of
these problems.
Keywords: Instability, competition pattern and competitive strategy.
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INTRODUÇÃO
Mato Grosso possui um território de 90.335.790,80 hectares dos quais 47.805.514
hectares são de estabelecimentos agropecuários. A área de lavoura temporária1 total é de
5.734.408 hectares, sendo que a área colhida de algodão foi de 418.146 hectares. Percebe-se
ao comparar os dados apresentados a respeito da cultura do algodão com a área de
estabelecimentos agropecuários e a área de lavoura temporária total, que o cultivo de algodão
ocupa, aproximadamente e respectivamente, 1% e 9% deste total (IBGE, 2006).
Estes números não são desprezíveis e dão idéia do potencial dessa cultura no
Estado. Embora exista oscilação na extensão de terras destinadas à produção da supracitada
herbácea, constata-se o interesse do governo estadual em transformar Mato Grosso em um
pólo industrial ligado à cadeia em questão, não obstante a presença de política favorável à
exportação2.
Conta como diferencial competitivo o fato de os cotonicultores, não apenas em
Mato Grosso, mas em todo o país, produzirem com elevado nível de tecnologia (AGUIAR et
al, 2005), permitindo ganhos de produtividade e qualidade da pluma, fatores estes
fundamentais na comercialização.
Uma questão importante neste contexto é o perfil destes produtores e as limitações
técnicas que envolvem a questão. Grande parte deles também são produtores de soja e milho,
característica essa que lhes dá certa mobilidade3 quando o mercado está desfavorável a algum
destes cultivos. No entanto, o ciclo de produção das variedades culturais existentes tende a
dificultar a opção pelo plantio do algodão, pois a combinação de soja e milho envolve
menores riscos de produção.
Esta realidade pode ser implicitamente observada nas séries históricas de
utilização de terras, produção e produtividade das culturas acima citadas.
1Lavoura temporária é aquela que, após a colheita, necessita ser novamente semeada para que possa
produzir. O ciclo de produção é normalmente menor que um ano (IBGE, 2010b). 2Lei Complementar 87 de 1996, conhecida como Lei Kandir.
3Embora existam experimentos com a utilização do Algodão adensado (utiliza um espaçamento entre
linhas inferior ao do algodão tradicional), a oferta de máquinas adequadas a esta forma de manejo ainda não é
suficiente. As pesquisas nesta área ainda não avançaram o bastante para permitir sua ampla utilização. Quando
esta tecnologia for dominada, poderá existir a possibilidade de aliado à utilização de soja precoce, utilizar o
algodão adensado na entre safra da primeira, já que o ciclo de produção do último também é menor (GRUPO
CULTIVAR, 2010). Nesta situação, a oferta de derivados de algodão poderia se tornar constante, a depender
exclusivamente da especificidade dos ativos envolvidos e da opção do produtor no que tange as culturas
escolhidas para plantio.
15
Tabela I.1. Área colhida4 em hectares, Produção em toneladas e Produtividade de
algodão em caroço, soja e milho em Mato Grosso no período 2002 a 2007.
Área colhida em hectares
2002 2003 2004 2005 2006 2007
Algodão 328.046 290.531 469.780 482.391 392.408 560.838
Soja 3.818.231 4.413.271 5.263.428 6.106.654 5.811.907 5.075.079
Milho 719.945 880.623 941.092 1.043.815 1.079.970 1.648.671
Produção em toneladas
2002 2003 2004 2005 2006 2007
Algodão 1.141.211 1.065.779 1.884.315 1.682.839 1.437.926 2.204.457
Soja 11.684.885 12.965.983 14.517.912 17.761.444 15.594.221 15.275.087
Milho 2.311.368 3.192.813 3.408.968 3.483.266 4.228.423 6.130.082
Produtividade (Quociente entre Produção em toneladas e Área Colhida em toneladas)
2002 2003 2004 2005 2006 2007
Algodão 3,48 3,67 4,01 3,49 3,66 3,93
Soja 3,06 2,94 2,76 2,91 2,68 3,01
Milho 3,21 3,63 3,62 3,34 3,92 3,72
Fonte: IBGE, 2010a.
Diferentemente da soja e do milho, observa-se na Tabela I.1 que o algodão vem
sofrendo oscilações constantes em sua área colhida, não obstante apresentar um crescimento
de produtividade maior que o da soja. Esta variação na área plantada não é interessante em
termos de planejamento nem para a indústria e nem para o Estado de Mato Grosso, pois gera
incerteza para os gestores públicos e privados. Para que o Estado possa realmente se tornar
um pólo da indústria têxtil é necessário que a oferta de insumos seja relativamente estável, de
outro modo os investidores podem não se sentir confiantes em realizar investimentos, mesmo
com taxa interna de retorno e payback5 elevados, que é o caso da maioria dos investimentos
industriais. O preço desta estabilidade seria a perda da mobilidade dos produtores desta
região.
O cenário ideal é aquele onde as estratégias competitivas dos diversos agentes que
formam um setor estejam apontadas em uma mesma direção, criando sinergia entre os elos da
4Embora a utilização de Área Plantada fosse mais indicada para entender a questão de área destinada ao
cultivo do algodão, a utilização da Área Colhida não representa um problema, mesmo os dados podendo conter
perdas de produção referente ao clima e questões naturais e não somente refletir a decisão do produtor. 5Ferramentas utilizadas em análises de investimento. O Payback visa medir o tempo que os lucros
advindos de um investimento se igualam ao investimento realizado e a Taxa Interna de Retorno é a taxa onde a
somatório do investimento realizado e dos fluxos de caixa futuros esperados, descontados pela própria Taxa
Interna de Retorno, é zero.
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cadeia e ampliando os resultados esperados. Isto só é possível se as regras do jogo estão claras
e existe confiança entre os jogadores. A confiança gera estabilidade. Neste contexto, surge a
seguinte questão: por que existe instabilidade na área destinada ao cultivo de algodão dentro
do setor têxtil de Mato Grosso?
O objetivo geral desta pesquisa é sugerir diretrizes competitivas gerais para o
setor agroindustrial algodoeiro de Mato Grosso para aproximar os interesses dos agentes que
o compõem, incluindo entre estes o governo do Estado, com a finalidade de diminuir a
instabilidade e aumentar a confiança entre os agentes.
Os objetivos específicos são: i) Identificar os interesses dos produtores, governo e
industriais para o setor têxtil de Mato Grosso; ii) Evidenciar o padrão de competição e as
estratégias competitivas adotadas; iii) Verificar a adequabilidade das estratégias competitivas
adotadas pelo setor têxtil mato-grossense em função dos interesses de cada agente do setor e
do seu padrão de competitividade.
A hipótese levantada é a de que as políticas governamentais do Estado, as
estratégias dos produtores de algodão e a falta de planejamento do Estado não criam um
ambiente favorável para atrair investidores industriais e agregar valor à matéria-prima.
Merece destaque que a não existência de contratos adequados entre os agentes causam
instabilidade e um ambiente desfavorável ao desenvolvimento do setor.
Neste contexto, a formulação de contratos adequados que atendam os interesses
dos agentes econômicos envolvidos e um planejamento de longo prazo para o setor têxtil
mato-grossense contribuirá de forma decisiva na criação de um ambiente institucional e
econômico estável e favorável para o desenvolvimento do setor em Mato Grosso.
Para atender aos objetivos da pesquisa e verificar se a hipótese levantada é
aceitável este trabalho foi divido em seções, a saber: i) Método, onde será demonstrada a
forma que a pesquisa será realizada; ii) Referencial Teórico, seção destinada a apresentar os
conceitos essenciais para se compreender os pilares da argumentação exposta; iii) Espaço
destinado a versar sobre a história e análise econômica do algodão; iv) Capítulo que traz uma
visão geral a respeito do padrão de competição do setor têxtil; v) Exposição e análise dos
dados obtidos pela pesquisa de campo; vi) Análise dos pontos fortes, fracos, oportunidades e
ameaças intrínsecas e extrínsecas ao setor; vii) Parte destinada a avaliar a interação entre os
pontos exposto no capítulo vi; e viii) Considerações Finais.
17
1. MÉTODO
A cadeia de produção têxtil é bastante diversificada. Ela é formada pelos
fornecedores de matérias-primas dos setores responsáveis pela fabricação de fibras sintéticas,
artificiais e naturais e pelos agentes que beneficiam estes produtos e os comercializam.
Figura 1.1. Configuração Básica da Cadeia Têxtil
Fonte: IEL, CNA, SEBRAE, 2000, p. 21.
Em Mato Grosso a cultura do algodão, embora tenha registros de produção
datados do século XIX, alcançou especial importância econômica no final da década de 1990,
sendo este, portanto um fenômeno recente. Pode-se afirmar que o Estado não possui todos os
níveis de agregação de valor discriminados na Figura 1.1. Desta forma, o setor algodoeiro
mato-grossense é delimitado nesta pesquisa como a produção e beneficiamento da fibra
natural algodão até o nível fiação e tecelagem.
Outro aspecto central deste trabalho é a competitividade, sendo que esta necessita
de delimitação, pois existem diversas abordagens que tratam este conceito. Nesta pesquisa
competitividade será definida como a “capacidade da empresa em formular e implementar
18
estratégias concorrenciais, que lhe permitam ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma
posição sustentável no mercado” (GRASEL, 2003, p.111). Esta definição entende a empresa
como um sistema aberto, orgânico, constituindo uma parte de um todo. Dessa forma pode-se
definir a competitividade de um setor como a sua capacidade de formular e implementar
estratégias competitivas que, se não lhe render uma posição mais favorável no mercado, pelo
menos permita a manutenção da posição obtida, de forma sustentável.
Como as entidades que formam um sistema são apenas parte do todo, as
estratégias competitivas, que são o fator fundamental na análise da competitividade de um
setor, devem ser elaboradas e executadas de forma conjunta. Para Porter (1999, p. 54), “[...] os
posicionamentos estratégicos não são óbvios e sua descoberta exige criatividade e insight”. O
que irá definir o sucesso ou insucesso de uma empresa entrante em um mercado não é apenas
a sua competitividade, mas também a capacidade dela visualizar, dentro deste mercado, áreas
que os concorrentes não conseguiram atender satisfatoriamente ou simplesmente ignoram.
No caso do setor agrícola, trabalhar com diferenciação do produto quando este se
encontra in natura é pré-requisito para atuar em mercados específicos, haja vista que se tratam
na maioria de commodities. Porém, ao se visualizar o setor produtivo como um todo, podem-
se visualizar vários processos de agregação de valor que podem se tornar diferenciações, a
depender da estratégia competitiva adotada.
Para isso é necessário que haja confiança entre os agentes e que os ganhos
advindos da estratégia do setor sejam repartidos de forma justa entre os elos que o formam.
Impedir que os agentes tenham atitudes oportunistas em um ambiente institucional qualquer
envolve custos. A análise neoclássica da firma assume que estes custos ligados ao
funcionamento da economia não existem, impossibilitando a análise do ambiente institucional
real (ZYLBERSTAJN, 2005).
A Nova Economia Institucional (NEI) fornece os elementos necessários para
entender os custos de transação e o estado de confiança envolvido em um setor. A idéia de
que as instituições são relevantes no estudo do funcionamento da economia é fruto da
evolução da ciência econômica. Alguns estudiosos do tema como T. Veblen, J. Commons,
J.K. Galbraith e W. Hurst seguem a linha de pensamento de que a organização das
corporações não é componente neutro na análise do ambiente institucional (ZYLBERSTAJN,
1995).
No entanto, as idéias destes pensadores clássicos das organizações pouco se
aproximam das idéias da chamada “Nova Economia das Instituições” (NEI), desenvolvidas
por Ronald Coase, Oliver Williamson e Douglas North. A NEI surge como uma “[...] reação
19
aos pressupostos heróicos neoclássicos, que conferiram àquela vertente do pensamento
econômico uma enorme e indiscutível coerência interna desde Marshall” (ZYLBERSTAJN,
1995, p. 13).
Zylberstajn (2005) aponta que Coase (1937; 1960) estuda as relações contratuais
das firmas, sua organização interna e seus custos de transação. Ele estuda a firma do mundo
real e a define como um sistema de relacionamentos que existe quando o direcionamento de
recursos é feito de acordo com sua organização interna.
Pode-se afirmar que o principal pressuposto da Nova Economia Institucional é
que existem custos envolvidos nas transações, tanto via mercado quanto via contratos. Outro
pressuposto é que as organizações exercem sim influência em um ambiente institucional
estruturado. Ou seja, as instituições não são neutras (ZYLBERSTAJN, 1995).
Para responder ao problema definido será realizada uma análise com base em
pesquisa bibliográfica e documental, que será utilizada em conjunto com um estudo de caso
do setor têxtil mato-grossense. Pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já
elaborado por outros autores e organizações, permitindo ao pesquisador que os utiliza
entender uma variedade de fenômenos que não seriam viáveis de serem estudados diretamente
por ele.
A pesquisa documental exige um maior grau de interação por parte do
pesquisador, pois, muitas vezes, exige a retirada de informações de onde só existiam dados,
como é o caso de documentos que ainda não foram analisados, os de primeira mão. Existem,
contudo, documentos que já passaram pelo crivo analítico de outros pesquisadores, gestores,
entre outros. Tais documentos são classificados como de segunda mão.
Lakatos e Marconi (1992) restringem a pesquisa documental àquela realizada a
partir de documentos de primeira mão, conhecidos também como documentos de fonte
primária.
Com efeito, para este trabalho, pesquisa documental se aproxima do conceito
trazido por Gil (2002), pois utilizará tanto fontes quanto referências na busca pelas respostas
dos questionamentos que motivam este estudo.
Estudo de caso é a análise de um número reduzido de situações. A ênfase está na
descrição completa e a relação entre os fatores estudados. O estudo de caso permite
descobertas que não seriam possíveis através de análises e inferências feitas por analogia de
situações. O estudo de caso responde a perguntas como: Por quê? Como? (CAMPOMAR,
1991)
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Para a realização de um estudo de caso é necessário que o problema da pesquisa
esteja bem especificado. O segundo passo consiste na definição das ferramentas que serão
utilizadas na coleta de dados. Outra questão é a decisão se o estudo de caso abrangerá o
sistema como um todo ou apenas alguns níveis dentro do sistema estudado. As análises
deverão ser feitas através de comparação com teorias, modelos e outros casos. As conclusões
devem ser específicas, tomando muito cuidado com generalizações (YIN, 1990 apud
CAMPOMAR, 1991).
Neste estudo serão utilizadas fontes e referências. Os dados serão obtidos através
de questionário estruturado, formado por perguntas fechadas que será enviado aos produtores
de algodão associados à AMPA (Associação Matogrossense dos Produtores de algodão).
Através do banco de dados da AMPA não se pôde definir a localização da área cultivada do
produtor de algodão, mesmo porque este pode possuir estabelecimentos rurais em diferentes
localidades do Estado. Sendo assim, se considerou o local de residência dos associados para
sua inclusão na amostra. A AMPA possui 451 associados residentes em Mato Grosso e
representa mais de 95% dos produtores do Estado.
O estudo do setor produtor de matéria-prima pode ser entendido como o estudo do
setor como um todo, pois praticamente todos os elos a jusante da produção primária presentes
no Estado são controlados por produtores.
Foram enviadas mensagens eletrônicas para todos os associados da entidade.
Neste primeiro contato, oito deles retornaram o questionário preenchido de acordo com as
orientações da associação. Não sendo suficiente para a definição amostral, a AMPA enviou
novamente a mensagem eletrônica reiterando a importância da participação dos cotonicultores
na pesquisa. Neste segundo contato formal foram obtidas doze respostas. Contatos telefônicos
também foram utilizados para dirimir as dúvidas quanto ao preenchimento do questionário e
confirmação de recebimento da mensagem.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no intuito de dividir os
Estados da União em conjuntos de cidades que possuem características sociais econômicas
semelhantes criou as chamadas Mesorregiões, sendo que estas apenas são consideradas para
fins estatísticos. Mato Grosso foi dividido em cinco Mesorregiões: Centro-Sul, Nordeste,
Norte, Sudeste e Sudoeste, como pode ser observar nas linhas destacadas da Figura 1.2.
21
Figura 1.2. Mesorregiões de Mato Grosso.
Fonte: IGBE, 2010b; Wikipédia, 2010.
Ao todo foram enviados 280 questionários através de mensagem eletrônica
encaminhada pela AMPA, pois dentre os associados existem os grupos empresariais que
possuem mais de uma área/empresa e aqueles que trabalham de forma conjunta não sendo
necessário o envio do questionário para cada um dos sócios. A fórmula para determinação do
tamanho da amostra (n) com base na estimativa da proporção populacional está demonstrada
na equação seguinte (DETERMINAÇÃO DO..., 2010).
²).1()²'.('.
)²'.('..
2/
2/
ENqp
qpNn
ZZ
(1)
6
6Como os valores de p’ e q’ não podem ser determinados utilizou-se os valores de 0,5 para ambos, como indica
Levine (2000). Embora possa-se afirmar que todos os indivíduos da população são de interesse para o estudo, a
valoração de p’ como 1 (100%) e q’ como 0 (0%) inviabilizaria a aplicação da fórmula pois o numerador seria
nulo. Sendo assim “[...] quando a proporção favorável ou desfavorável é desconhecida, utiliza-se p=q=50%
(0,50), o que resulta no maior valor possível para a amostra nas condições estabelecidas” (CASTRO NETO,
2010).
22
Onde:
N = População;
p’= Valores amostrais da proporção populacional de indivíduos que pertencem
a categoria que estamos interessados em estudar;
q’= Valores amostrais da proporção populacional de indivíduos que não
pertencem a categoria que estamos interessados em estudar;
Z 2/= Valor crítico que corresponde ao grau de confiança desejado;
E = Margem de erro ou erro máximo de Estimativa. Identifica a diferença
máxima entre a proporção amostral e a verdadeira proporção populacional;
Utilizando a equação (1), chegou-se aos dados da tabela 1.1:
Tabela 1.1. Número e Percentual de produtores de algodão filiados à AMPA.
Sudeste Norte Sudoeste Nordeste Centro Sul Total
Número de Produtores 254 167 24 3 3 451
Percentual do Total 56% 37% 5% 1% 1% 100%
Fonte: Pesquisa de campo.
Através da tabela 1.1 percebe-se uma grande concentração de produtores nas
mesorregiões Sudeste e Norte, sendo que de maneira conjunta correspondem a
aproximadamente 93,3% dos produtores.
No tocante à produção Estadual, as mesorregiões Sudeste e Norte também
possuem amplo destaque, como revela a tabela 1.2.
Tabela 1.2. Área Colhida em hectares por Mesorregião mato-grossense entre 2002
e 2008.
Ano Sudeste Norte Sudoeste Nordeste Centro Sul Total
2008 233 965 267 807 4 223 29 451 4 140 539 586
2007 252 061 269 686 2 568 32 323 4 200 560 838
2006 203 198 166 572 1 358 18 596 2 684 392 408
2005 241 971 206 477 1 566 28 757 3 620 482 391
2004 229 911 197 097 2 138 35 664 4 970 469 780
2003 163 425 93 085 51 30 720 3 250 290 531
2002 192 094 106 405 313 28 660 574 328 046
Fonte: IBGE, 2010a.
23
Assumindo um Grau de Confiança de 90% e com uma margem de Erro de 20%,
se tem os seguintes valores amostrais necessários para viabilizar a pesquisa:
Tabela 1.3. Número de amostras necessárias e obtidas para viabilidade da
pesquisa para Mato Grosso e para as regiões mais representativas.
Mato
Grosso
Sudeste Norte
Número de Amostras Necessárias 11 10 10
Número de Amostras Obtido 20 13 4
Fonte: Pesquisa de campo.
Como se observa na tabela 1.3, o número de amostras obtidas para a realização da
pesquisa em Mato Grosso é suficiente para conclusões significativas em termos estatísticos,
com um grau de confiança de 90% e margem de erro de 20%. Outrossim, poderiam ser tiradas
conclusões exclusivas para a mesorregião Sudeste, sendo que o mesmo não pode ser dito a
respeito da mesorregião Norte. Porém, o foco da pesquisa não se encontra nas subdivisões
estaduais e sim no Estado com um todo.
As referências serão instituições que são referência na coleta e análise de dados e
informações sobre o setor. No âmbito nacional e internacional, as referências serão obtidas
através do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE), Associação Brasileira dos
Produtores de Algodão (ABRAPA), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA) e Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Os
órgãos que serão fonte de referências dentro de Mato Grosso serão: Secretaria de
Planejamento (SEPLAN), Associação Mato-Grossense de Produtores de Algodão (AMPA),
Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (FAMATO), Fundo de Apoio
à Cultura do Algodão (FACUAL) e os Sindicatos de Produtores Rurais dos Municípios
contemplados com a aplicação dos questionários.
Os dados são parte importante no processo de construção do conhecimento, porém
sozinhos são incapazes de se tornar um apoio à tomada de decisão e ao planejamento. Pode-se
dizer que a informação é o resultado de um processo onde os dados são insumo (SOUZA,
2008).
Existe uma tendência das pessoas em manter repositório de dados, sejam essas
pessoas físicas ou jurídicas, por variados motivos. Esses dados são formatados,
sumarizados e em seguida persistidos em banco de dados de qualquer natureza.
24
Desta forma, os dados estarão prontos para serem acessados, por um processo
cognitivo qualquer, representado por algum algoritmo, com objetivo de produzir
informações sob demanda do tomador de decisão. O acesso a informação produzida,
resultado da operacionalização do processo cognitivo, gera possibilidade de acúmulo
de conhecimento pessoal, profissional ou organizacional. O conhecimento
acumulado, por sua vez, deve capacitar o tomador de decisão a demandar, mais e
melhores informações, podendo ser necessária a coleta de mais dados para sua
necessidade especifica, caracterizando novamente o ciclo que sempre possibilitará
acumulo de conhecimento aos participantes (SOUZA, 2008, p. 22).
Ou seja, os dados precisam ser trabalhados para que possam se tornar um insumo
útil para a tomada de decisão e para o planejamento, a informação.
Em sua pesquisa, Souza (2008) afirma que quando o produtor de algodão mato-
grossense também trabalha com outra cultura, a principal informação utilizada na tomada de
decisão a respeito de área cultivada, utilização de insumos e de deslocamento da força
produtiva para outra cultura é a estimativa de safra feita pelo setor público. Outro fator
considerado importante foi o preço quando o produtor também atua no comércio. O
ferramental mais utilizado para este tipo de pesquisa é a internet e a fonte é principalmente
privada.
Deste contexto podem-se extrair algumas informações importantes. A primeira
delas é que existem produtores que o são por “vocação”. Independentemente do preço
praticado no mercado, se houver estimativa favorável para a safra, haverá o plantio. Outra
informação importante é que, para outros produtores, a decisão de produzir é dada em função
do preço em relação à quantidade estimada de produção. Trata-se da utilização de práticas
empresariais na agricultura. Embora as especificidades dos ativos não permitam o
deslocamento dos fatores de produção sem custo algum e não possuam forças para influenciar
o mercado, os produtores empresariais decidirão não produzir algodão se entenderem que
podem obter uma margem de lucro superior plantando soja, por exemplo. Estas decisões
envolvem riscos, pois existe incerteza no tocante às condições previstas. Esta incerteza é
resultado da racionalidade limitada dos agentes e de assimetria nas informações disponíveis.
De forma sucinta, racionalidade limitada significa a incapacidade do agente em
conhecer todas as variáveis possíveis do ambiente onde está inserido e todos os resultados
possíveis, dada qualquer tomada de decisão. Assimetria das informações é a diferença entre a
informação real e a informação obtida. Em uma transação é bastante provável que o vendedor
tenha conhecimento de características do produto que o comprador não possa conhecer sem
receber esta informação do próprio vendedor. Este é um exemplo que envolve a assimetria das
informações.
25
O questionário aplicado aos produtores tem como objetivo identificar seu perfil,
características estratégicas de Gestão e Produção e de relacionamento com clientes e
fornecedores e questões de sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Além da aplicação dos questionários, outra ferramenta utilizada é a Análise
SWOT7. “Os fundamentos da análise SWOT remontam aos anos de 1950, e preocupam-se
com a integração das atividades da empresa, tentando responder à questão em que negócios
nós estamos?” (ANTÓNIO, 2002, p. 4). A metodologia foi construída e desenvolvida através
de vários trabalhos, dos quais se destacam os da Escola de Harvard e de Carnegie
(ANTÓNIO, 2002).
A análise SWOT busca identificar as forças e fraquezas do ambiente interno da
organização, bem como as oportunidades e ameaças originadas no ambiente externo desta. A
análise da interação do ambiente interno com o externo permite a concepção de estratégias
competitivas que buscam evidenciar os pontos fortes e minimizar o efeito das fraquezas.
A utilização desta ferramenta é essencial para as conclusões desta pesquisa, pois
para identificar a adequabilidade das estratégias competitivas adotadas pelo setor têxtil mato-
grossense em função dos interesses de cada agente do setor e do seu padrão de
competitividade é preciso traçar as características básicas deste setor. Ao classificar estas
características como forças ou fraquezas, pode-se relacioná-las com as oportunidades e
ameaças que permeiam o ambiente institucional formado pelas interações endógenas e
exógenas à firma. Esta relação permite definir uma estratégia competitiva para o setor
agroindustrial algodoeiro de Mato Grosso que aproxime os interesses dos agentes que o
compõem, incluindo entre estes o governo do Estado, diminuindo a instabilidade e
aumentando a confiança entre os agentes.
7SWOT é a abreviação de Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças em inglês (Strenghts,
Weaknesses, Opportunities and Threats).
26
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Competitividade
Até meados dos anos 80, era a noção de concorrência que predominava na
literatura de gestão empresarial ou de organização industrial, sendo que, neste mesmo
período, este conceito passou a ser acompanhado, complementado ou até substituído pelos
conceitos de competitividade e vantagens comparativas (GRASEL, 2003, p.106).
O conceito de concorrência tem como principal contribuição os trabalhos
desenvolvidos por Schumpeter. De acordo com Possas (2002) a corrente neo-schumpeteriana
possui como característica entender a concorrência como um processo dinâmico e evolutivo.
O papel dos fatores endógenos ao sistema econômico é ressaltado principalmente por conta da
presença do empresário inovador, que na busca por aperfeiçoamento os processos internos
passa a operar em novo padrão concorrencial gerando lucros acima do normal.
Possas (2002) indica ainda que Schumpeter foi o precursor das idéias de
concorrência dentro do contexto econômico. Embora antes dele o tema fosse estudado, se
dava à concorrência um papel secundário dentro da teoria econômica tratando o tema apenas
em aspectos gerais sem se preocupar em aprofundamentos teóricos.
Os economistas clássicos possuem como pressuposto a livre mobilidade de
capital. Esta característica do sistema econômico tem como conseqüência que o capital
procurará aquela atividade com maior taxa de retorno sobre o investimento e por se tratar de
um mercado atuando em concorrência perfeita, não haverá barreiras nem restrições à livre
entrada e saída de capital de uma atividade econômica. Em caso de existir restrições a esta
mobilidade a solução analítica adotada era a utilização da análise sobre a estrutura de mercado
monopolística (POSSAS, 2002).
Desta maneira, concorrência estaria ligada com o longo prazo. A existência de
setores mais lucrativos faz com que o capital se mova para eles. Com a chegada de mais
firmas a oferta dos bens ligados a estes setores mais lucrativos aumentaria e assim, todos os
demais fatores constantes, o preço entraria em declínio até que esta situação de lucro superior
acabe (POSSAS, 2002).
Sendo assim, a concorrência é estudada pelos economistas clássicos como um
fenômeno responsável pela formação da taxa uniforme de lucro da indústria e dos preços de
27
equilíbrio resultantes da já citada livre mobilidade do capital. A concorrência teria ainda
ligação com o longo prazo, limitando-se a indicar tendências (POSSAS, 2002).
Embora tenha recebido uma atenção especial, para Marx a concorrência funciona
basicamente como a executora do processo de movimentação da economia. O conceito de
“mais valia” reconhece o papel fundamental do progresso tecnológico para a formação do
lucro capitalista e o fator responsável por esta motivação capitalista em conseguir um
diferencial no padrão de competição é justamente a concorrência (POSSAS, 2002).
Marshall é o responsável pela ampliação da visão da concorrência clássica. Suas
contribuições passam pela idéia que as empresas são tomadoras de preço e incapazes de
influenciar o mercado. O preço é determinado pelo equilíbrio entra a oferta e demanda sendo
igual ao seu custo marginal (POSSAS, 2002).
Dentro dos aspectos abordados na literatura que trata de competitividade
empresarial, é comum a mistura dos conceitos de armas de competição e de campos de
competição, sendo que estes são tratados indistintamente como estratégia (GRASEL, 2003, p.
106).
Campo de competição refere-se ao atributo perceptível e que interessa ao
consumidor, enquanto que armas de competição são os meios que a empresa utiliza
para obter vantagem competitiva em um campo de competição qualquer
(CONTADOR, 1995 apud GRASEL, p. 107).
Quando se fala do termo competitividade, tem-se que pensar em uma
característica dinâmica, tendo em vista o atual contexto de rápidas mudanças no mercado. As
várias definições de competitividade podem ser agrupadas em duas famílias, que podem
relacionar competitividade às características apresentadas por uma firma ou por um produto.
Para os desempenhistas, esta se expressa na participação no mercado, geralmente
no montante das exportações. Para os eficientistas, esta resulta da noção de eficiência do
processo produtivo ou na relação insumo/produto, expressa em produtividade, preço e
qualidade ou tecnologia, valores objetivos e comparáveis com informações dos concorrentes
(GRASEL, 2003, p.109).
Para os neoschumpeterianos, nenhuma destas versões é satisfatória, pois analisam
os dados enfatizando especialmente seu caráter estático e comparar elementos que se
verificam em momentos distintos. Segundo Grasel,
A participação no mercado e a produtividade consistem em grandezas que somente
podem ser definidas e quantificadas a posteriori. Logo, torna-se o efeito pela sua
causa e reduz-se a competitividade a um sinônimo de desempenho e eficiência.
28
Desta forma, tanto o desempenho quanto a eficiência são fatores ex-post definidos
pelas estratégias competitivas (ex-ante) implementados num momento anterior
(2003, p.110).
Pode-se afirmar que:
Estão superadas as visões econômicas tradicionais que definiam a competitividade
como uma questão de preços, custos (especialmente salários) e taxa de câmbio. Esta
competição levou, no passado, a políticas centradas na desvalorização cambial, no
controle dos custos unitários de mão-de-obra e na produtividade do trabalho, com o
objetivo de melhorar a competitividade das empresas em cada país. Nas duas
últimas décadas, os países que se mostraram competitivamente vitoriosos
(Alemanha e Japão) afirmaram-se no mercado internacional, apesar de terem
experimentado fortes incrementos nos seus custos salariais e de terem enfrentado
longos períodos de relativa sobrevalorização cambial (COUTINHO E FERRAZ,
1994, apud GRASEL, p. 110).
“Desse modo competitividade é definida como a capacidade da empresa em
formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam ampliar ou conservar, de
forma duradoura, uma posição sustentável no mercado” (GRASEL, 2003, p.111).
Com a superação da idéia de concorrência o termo que passa a ser usado é o de
vantagem competitiva. Na visão de Zacarelli (1995) a palavra concorrência exalta um sentido
negativo e o termo vantagem competitiva salienta aspectos positivos. A lógica da competição
não vem dos valores absolutos e sim da comparação entre os diversos agentes que compõe o
mercado. Uma importante observação é que se existe uma vantagem competitiva, o contrário
também existirá.
Zacarelli (1995, p. 18), trás diversas observações sobre o perfil competitivo das
empresas. Uma delas é a afirmação de que “[...] apenas uma vantagem competitiva, sem
nenhuma desvantagem competitiva, é suficiente para uma empresa ter muita possibilidade de
crescer, lucrar e desperdiçar. O inverso é também verdadeiro”.
Entende-se que a simples presença de vantagens ou desvantagens competitivas
não garante o sucesso ou o insucesso de um empreendimento. A presença delas é ligada a
idéia de forças e fraquezas. Para que uma vantagem competitiva se torne um diferencial
competitivo é primeiramente necessário que esta força seja evidenciada, da mesma forma que
a fraqueza deve ser trabalhada para que, se não puder ser corrigida, pelo menos tenha seus
efeitos minimizados.
Lócio e Moraes Filho (2007) entendem que o conceito de vantagem competitiva
não pode ser entendido apenas no aspecto macro. A vantagem competitiva para tais autores
decorre da correta execução das diversas atividades que a empresa executa (pesquisa,
produção, marketing, suporte ao produto). Vendo a organização como um sistema, o que
29
significa a noção de que ela é composta por entradas, processamento e saídas, cada um destes
elementos precisa ser executado de forma melhor que a concorrência.
O foco para que uma vantagem competitiva possa ser perpetuada no tempo deve
ser nas competências essenciais da organização. Lócio e Moraes Filho (2007, p. 7)
apresentam alguns requisitos para que uma competência possa ser considerada essencial, “[...]
prover acesso potencial a uma ampla variedade de mercados; ser percebida pelos clientes
finais como geradora de grandes benefícios; e ser de difícil imitação”.
Dificilmente uma vantagem competitiva pode ser não-imitável por outros agentes,
por isso mesmo, quando se consegue uma vantagem competitiva com esta característica a
mesma deve ser considerada essencial à organização.
No entanto, o que é atualmente uma vantagem competitiva, se adicionarmos a
variável tempo, pode se tornar uma desvantagem devido à mudança nos padrões de
competição no mercado onde a organização está inserida.
Quando se tem um ambiente em competição crescente, este ambiente estimula a
transformação tecnológica e organizacional. A mudança nestes dois níveis provoca relevantes
reestruturações no parque produtivo, que levam à mudança nos padrões de competição.
O investimento, neste contexto, não pode mais estar voltado apenas para o objetivo
de maximização de lucro, ou simplesmente atingir a eficiência econômica, mas
direcionado ao propósito de criação e manutenção de vantagens competitivas
(caracterizando longo prazo) (GRASEL, 2003, p. 78).
Dessa forma, quando o investimento é entendido como uma atividade que mantém
ou cria uma vantagem competitiva, pode-se dizer que investimento é parte importante da
estratégia de uma empresa.
Existem vários modelos de avaliação de viabilidade econômica. Não obstante,
muitos desses modelos partem para uma abordagem excessivamente reducionista da realidade
e acabam se tornando ineficientes, não conseguindo explorar todo o referencial teórico que o
embasou (GRASEL, 2003).
Outro destaque importante é que, alguns destes modelos partem para uma
avaliação monocriterial, confrontando somente os “[...] custos e benefícios econômico-
financeiros”, restando sua preocupação na “ [...] rentabilidade do investimento e seus efeitos
sobre o capital de giro” (GRASEL, 2003, p. 48).
Contudo, “[...] em uma avaliação de investimentos é prudente levar considerar
eventos presentes ou futuros que não estejam relacionados aos fatores econômicos e
financeiros” (GRASEL, 2003, p. 49).
30
Conseqüentemente, a incorporação de modelos multicriteriais parece ser uma
resposta satisfatória quando incorporam variáveis de natureza estratégica e ambiental e
indicam a necessidade de incorporar e quantificar alguns fatores subjetivos de maneira não
monetária (SANTANA, 1994 e 1996, apud GRASEL, 2003).
[...] é necessário considerar que o investimento envolve uma elevada quantia de
recursos por um longo período de tempo, com retornos graduais após um período de
maturação. Seu processo geralmente é irreversível e, conseqüentemente, seu
insucesso envolve uma queima (perda) substancial de capitais. Trata-se de um
problema complexo, que envolve uma gama de fatores objetivos e subjetivos, a
maioria de difícil previsibilidade, na qual a incerteza é um elemento central e merece
destaque, tanto na prática quanto na teoria econômica (GRASEL, 2003, p. 50.)
Pode-se concluir que o principal problema em um investimento é a incerteza,
desta maneira, todo o esforço deve ser feito no sentido de diminuir os efeitos dela, pois o
investimento, como já mencionado, é parte importante da estratégia competitiva no sentido
que ele é um instrumento poderoso na criação ou ampliação de vantagens competitivas
(GRASEL, 2003).
As incertezas são conseqüência da impossibilidade humana em prever o futuro
com exatidão. Normalmente as diferentes entre o previsto e o realizado podem ser atribuídas
aos diversos fatores que a organização não pode controlar como as políticas econômicas
governamentais, “os custos dos insumos e bens de capital e aos erros de elaboração dos
projetos e suas respectivas correções no decorrer da implementação” (SAUL, 1995 apud
GRASEL, 2003).
2.2. Estratégia Competitiva
Para que se possam identificar as estratégias competitivas adotadas pelos agentes
que formam o setor têxtil, é imprescindível que o conceito de estratégia e como ela se
relaciona com os objetivos da organização sejam definidos.
A origem do termo estratégia é grega e sua idéia inicial estava ligada a manobras
que tinham por objetivo vencer uma batalha (RHINOW, 1997 apud ALMEIDA, 2000).
Para Almeida (2000), as organizações possuem escolhas que devem ser feitas de
forma que consigam continuar atuando dentro de um mercado competitivo. Desta forma, este
conceito atualmente se relaciona com as escolhas que visam o sucesso organizacional.
Embora sucesso organizacional não seja um conceito simples de ser definido,
muitos líderes o relacionam com atingir objetivos futuros da organização. Dessa forma
31
estratégia estaria ligada com o futuro. Mas Mintzberg (1985) não concorda com esta idéia
limitada de estratégia. O referido autor argumenta que a estratégia deve ser entendida
holisticamente, pois a mesma pode ser considerada em diversas formas dentro do contexto
organizacional. Em sentido amplo, estratégia é um modelo em uma cadeia de decisões.
A estratégia para ser colocada em prática passa por diversas fases. Primeiramente
as estratégias que são pretendidas, formuladas. Estas estratégias podem ser descartadas ou
serem postas em deliberação pelos componentes de uma organização. Após a deliberação
algumas estratégias serão colocadas em prática e outras serão descartadas (MINTZBERG,
1985). O autor assevera que para que a deliberação a respeito de uma estratégia seja perfeita,
o elemento externo (mercado, tecnologia e política), deve ser totalmente previsível, o que em
termos empíricos é de difícil observação.
De acordo com Porter (1999), o mercado é mutante e as organizações que atuam
nele precisam ser flexíveis para sobreviver a estas mudanças. Neste contexto, as empresas
modernas investem muitos recursos para se tornarem mais ágeis e adaptáveis. Porém,
dependendo do setor onde esta empresa está inserida, a busca constante por flexibilidade pode
ser considerada recursos gastos improdutivamente, pois esta atitude deriva da tentativa de se
preparar para uma “[...] inevitável mudança nos paradigmas de competição” (p. 46).
A raiz do problema é a incapacidade de distinguir entre eficácia operacional e
estratégia. A busca da produtividade, da qualidade e da velocidade disseminou uma
quantidade extraordinária de ferramentas e técnicas gerenciais: gestão da qualidade
total, benchmarking, competição baseada no tempo, terceirização, parceria,
reengenharia e gestão da mudança. Embora as melhorias daí resultantes muitas
vezes tenham sido drásticas, muitas empresas se frustraram com a incapacidade de
refletir estes ganhos em rentabilidade sustentada. E aos poucos, de forma quase
imperceptível, as ferramentas gerenciais tomaram o lugar da estratégia. À medida
que se desdobram para melhorar em todas as frentes, os gerentes se distanciam cada
vez mais das posições competitivas viáveis (PORTER, 1999, p. 47).
Fazer melhor que os concorrentes não se trata de estratégia e sim de eficácia
operacional (PORTER, 1999). “O lema da estratégia competitiva é ser diferente” (p. 52). Ser
diferente é buscar uma diferenciação no produto ou no serviço.
Em síntese, pode-se entender estratégia competitiva como a capacidade da
empresa trabalhar fora de um mercado que, a priori, funcionaria nos moldes da concorrência
perfeita.
Para Porter (1999), “[...] os posicionamentos estratégicos não são óbvios e sua
descoberta exige criatividade e insight” (p. 54). O que irá definir o sucesso ou insucesso de
uma empresa entrante em um mercado não é apenas a sua competitividade, mas também a
32
capacidade dela visualizar, dentro deste mercado, áreas que os concorrentes não conseguiram
atender satisfatoriamente ou simplesmente ignoram.
Justamente pelo fato de o mercado estar em constante mudança, diferentes
necessidades surgem. “Quando ocorrem as mudanças, os novos entrantes, livres e
desembaraçados do ônus da longa tradição no setor, têm condições de perceber com maior
facilidade o potencial de uma nova forma de competição” (PORTER, 1999, p. 54). A
estratégia competitiva está ligada a esta criação de novas formas de competição.
Em termos de posicionamento estratégico, Porter (1999) destaca três distintas
posições. A primeira delas é aquela onde o foco está na variedade de oferta de produtos e
serviços. A segunda é aquela baseada nas necessidades de um determinado grupo de clientes.
A terceira é a posição baseada no nível de acesso que um cliente possui. Esta última posição
pode ser em função geográfica ou do porte do cliente.
Em níveis de competição mais simples, Porter (1999) argumenta que o conceito
de estratégias genéricas pode representar boas alternativas. Estratégia competitiva genérica é
definida como aquela que busca a liderança de um mercado através do custo, da diferenciação
e do enfoque.
Estratégia na visão de Porter (1999) é o ato de criar uma posição “exclusiva e
valiosa” usando uma variedade de atividades. A lógica é que, se existisse apenas uma posição
estratégica ideal, a estratégia não seria importante. A empresa que conseguisse, antes das
outras, conquistar uma posição única, dominaria este mercado.
A essência do posicionamento estratégico consiste em escolher atividades diferentes
daquelas dos rivais. Se os mesmos conjuntos de atividades fosses os melhores para
produzir todas as variedades de produtos, para satisfazer a todas as necessidades e
para ter acesso a totalidade dos clientes, as empresas simplesmente se alternariam
entre eles e a eficácia operacional determinaria o desempenho (PORTER, 1999, p.
63).
Pode-se deduzir que alcançar uma posição exclusiva, não torna a empresa capaz
de gerar vantagem sustentável, pelo simples fato que outras empresas se sentirão atraídas em
atuar neste mesmo mercado.
Para que a posição tomada possa se tornar uma vantagem duradoura, as opções
tomadas excluem as preteridas. É um conceito muito próximo ao custo de oportunidade. A
conseqüência disso é que ao se decidir atuar em uma posição, abre-se espaço para os
concorrentes que desejam atuar na posição deixada de lado e também daqueles que, ao
perceberem a opção tomada pela a empresa a melhor, passam a atuar neste mesmo caminho
(PORTER, 1999).
33
Toda decisão implica em conseqüências e no caso das opções excludentes, as
conseqüências são três. Primeiramente ao atuar fora do ramo tradicional, a empresa pode
confundir seu cliente e até mesmo perder sua credibilidade. Outra situação importante é a da
especificidade dos ativos. Muitas vezes a escolha de um determinado produto praticamente
exclui a possibilidade de atuar em outro, justamente pelo fato de um destes produtos
necessitarem de insumos e equipamentos muito específicos o que torna a adoção de uma
segunda linha de produção muito onerosa. Por fim, a última conseqüência é sentida na
atuação do capital intelectual que compõe a empresa. Ao tomar decisões que levem a empresa
a trabalhar de uma forma, os gestores passam aos colaboradores as prioridades da
organização. Ao tentar atender uma gama muito grande de clientes com necessidades
diferentes, as pessoas que compõem a organização podem não ter subsídios para tomar uma
decisão operacional correta (PORTER, 1999).
Ao contrário da eficácia operacional, as posições estratégicas são componentes
importantes da estratégia. A primeira simplesmente corresponde à perfeita execução da
estratégia enquanto a segunda é parte na formulação da estratégia (PORTER, 1999).
As escolhas de posicionamento determinam não apenas as atividades a serem
desempenhadas pelas empresas, mas também a forma como elas se relacionam umas
com as outras. Enquanto a eficácia operacional diz respeito a atingir a excelência em
atividades individuais, ou funções, a estratégia trata da combinação de atividades
(PORTER, 1999, p. 68).
O que define a competência essencial de uma empresa é a compatibilidade entre
as atividades que fazem parte da cadeia em que ela atua. “A compatibilidade afasta os
imitadores através da criação de uma cadeia que é tão resistente quanto seu elo mais forte”
(PORTER, 1999, p. 68).
Quando todas as atividades de uma determinada cadeia caminham para o mesmo
rumo, se a eficácia operacional estiver presente em cada uma destas atividades, ocorrerá
sinergia entre estas. Sinergia é definida como uma situação em que a soma do resultado de
todas as partes é menor do que o resultado obtido.
Existem três tipos de compatibilidade segundo Porter (1999). “As de primeiro
nível são simples consistências entre cada atividade (função) e a estratégia geral” (p. 69). Um
exemplo seria a atuação em todas as atividades com baixo custo ou um sistema de qualidade
total. O segundo nível consiste no reforço mútuo das atividades, que é a própria definição de
sinergia. As compatibilidades de terceiro nível suplantam o reforço mútuo das atividades para
atingir o que se entende por otimização do esforço.
34
Em todos os três tipos de compatibilidade, o todo é mais importante do que qualquer
parte individual. A vantagem competitiva emana da totalidade do sistema de
atividades. A compatibilidade entre as atividades acarreta substanciais reduções de
custo ou aumento da diferenciação. Ademais, o valor competitivo das atividades
individuais – ou as habilidades, competências ou recursos associados – não podem
ser desvinculados do sistema ou da estratégia. Assim, nas empresas competitivas,
talvez seja ilusório explicitar o êxito em razão de pontos fortes específicos,
competências essenciais ou recursos críticos.. A lista de pontos fortes permeia
muitas funções e cada um deles se aglutina com os demais. É mais proveitoso pensar
em termos de temas que traspassam muitas atividades, como baixo custo, uma noção
especial de serviços ao cliente ou determinada concepção sobre fornecimento de
valor“(PORTER, 1999, p. 71).
O planejamento deve sempre ser o ponto de partida de qualquer projeto. O
elemento que leva de uma situação atual para uma situação futura é a estratégia. O
planejamento estratégico tem ligação com a visão da empresa, com o longo prazo. Não
obstante a presença da função de controle dos indicadores encontrados que verifica se os
objetivos propostos foram alcançados e procura corrigir aqueles processos que não foram
eficazes, qualquer mudança na estratégia acarreta em altos custos para a empresa.
Dessa forma Porter (1999) define estratégia como a criação de compatibilidade
entre as atividades da empresa e mais, uma estratégia sustentável só existe se as atividades
forem compatíveis e a cadeia de atividades possuir um diferencial que lhe dê uma vantagem
competitiva.
2.3. A Nova Economia Institucional
A idéia de que as instituições são relevantes no estudo do funcionamento da
economia é fruto da evolução da ciência econômica. Alguns estudiosos do tema como T.
Veblen, J. Commons, J.K. Galbraith e W. Hurst seguem a linha de pensamento de que a
organização das corporações não é componente neutro na análise do ambiente institucional
(ZYLBERSTAJN, 1995).
No entanto, as idéias destes pensadores clássicos das organizações pouco se
aproximam das idéias da chamada “nova economia das instituições”. Esta última surge como
uma “[...] reação aos pressupostos heróicos neoclássicos, que conferiram àquela vertente do
pensamento econômico uma enorme e indiscutível coerência interna desde Marshall”
(ZYLBERSTAJN, 1995, p. 13).
No decorrer da história econômica, as discussões a respeito do papel das
instituições quase sempre pairaram no campo das idéias. Dificilmente tais idéias podiam ser
35
traduzidas em realidade estudando a firma real, não a firma neoclássica. (ZYLBERSTAJN,
2005).
De acordo com Souza (2008), a abordagem da escola tradicional americana de
institucionalistas constituía uma alternativa à abordagem neoclássica da economia, onde as
instituições, as normas explícitas e implícitas e a evolução da economia eram os objetos de
análise.
Em uma breve retrospectiva histórica, Williamson (2000) mostra que embora na
década de 1930 Merton (1936) e Barnard (1938) tenham começado a trazer um novo
paradigma de desenvolvimento à teoria da organização, somente uma década mais tarde que
essas idéias passaram a ser compreendidas, principalmente pelo trabalho de Simon (1947),
sendo que somente na década de 1950 que essas teorias foram completamente integradas por
March e Simon (1958).
O atrito criado entre as idéias da teoria organizacional e da teoria econômica não
poderia ser solucionado por nenhuma corrente de pensamento isoladamente. Foi necessário
um trabalho interdisciplinar para tentar avançar nesta questão. Neste sentido Williamson
(2000) cita o programa de treinamento e pesquisa de ciência social de Carnagie Tech nas
décadas de 1950 e 1960 como um dos responsáveis por um desenvolvimento considerável
nesta área, tendo como seu expoente a Teoria Comportamental da Firma desenvolvida por
Cyert e March (1963).
Este trabalho tem uma relação muito maior com a teoria organizacional do que
com a teoria econômica, devido ao fato de estudar os fenômenos internos da firma em uma
profundidade muito maior do que a ciência econômica costumeiramente tratava. Nesta
pesquisa o foco não era em chegar a um valor rigorosamente exato de preços e custos tal qual
a teoria econômica buscava e trabalhava fora da “[...] ótica míope que a pesquisa local,
tentativa e erro e administração de crises foram apresentadas” (WILLIAMSON, 2000, p. 4)8
Veblen (1998) afirma que embora a ciência econômica também trabalhe com a
realidade humana ela não evoluiu como as outras ciências humanas. Ao dar importância
demasiada aos dados, a economia não mostra sinais de evolução frente à abordagem da
economia histórica.
De acordo com Coase (1937), os economistas têm construído sua teoria sem
considerar as bases sobre as quais essa teoria está sendo erguida. Ao estudar o que chama de
“a firma do mundo real”, este autor estabelece uma dicotomia entre esta firma real e a firma
8 Tradução do autor.
36
como unidade de análise que a teoria econômica conceitua. A busca por esta diferença é
questão central da pesquisa de Coase.
Os conceitos que balizam a corrente econômica ortodoxa são a teoria neoclássica
da firma e do consumidor. Autores como Williamson (2000) mostram uma maior
preocupação com a forma como a firma é estudada pelos ortodoxos do que o tratamento dado
ao consumidor.
Williamson (2000) afirma que a função da teoria neoclássica não é estudar o
trabalho interno da organização.
[...] um economista não se interessa nos arranjos internos dentro das organizações,
mas apenas no que acontece no mercado, a compra de fatores de produção e a venda
dos bens que esses fatores produzem. O que acontece entre a compra dos fatores de
produção e a venda dos bens que são produzidos por estes fatores é largamente
ignorado (COASE, 1992, p.714).9
Coase (1937) afirma que o economista clássico pensa que o sistema econômico é
coordenado pelo sistema de preços. Neste sistema a sociedade não é entendida como
organização e sim como organismo. Ver o mundo como organismo pressupõe a existência de
conceitos implícitos que relacionam a sociedade a uma forma de vida onde a firma e os
consumidores são subsistemas deste sistema maior, ou seja, o sistema econômico se auto-
regula.
Partindo deste pressuposto constate-se que a variável exógena considera por esses
subsistemas é somente o preço. Nem a firma nem o consumidor têm poder de influenciar o
preço de mercado, porém este é dado em função da relação da curva de oferta e da curva da
demanda. Forma-se um ciclo onde a decisão de consumir ou de produzir é dada em função do
preço de mercado e este é dado pela quantidade de mercadorias ofertas e demandadas neste
mercado, formando um sistema auto regulado.
Desta forma, considerando aspectos intra-firma, a alocação dos fatores de
produção depende do preço praticado no mercado para aquele produto.
O preço do fator A se torna maior em X do que em Y. Como resultado, A se move
de Y para X até a diferença entre os preços em X e Y, exceto se existir outra
vantagem diferencial como compensação, desapareça. Já no mundo real, nos
constatamos que em diversas áreas isso não se aplica. Se um trabalhador se move do
departamento Y para o departamento X, ele não o faz por causa de uma mudança
nos preços relativos, mas porque ele é ordenado a fazer isso (COASE, 1937, p.
387).10
9 Tradução do autor.
10 Tradução do autor.
37
O exemplo usado serve para demonstrar que existem elementos que se ajustam
fora da usual “auto-regulação” através do sistema de preços. Os recursos não se movem
automaticamente reagindo à mudança relativa dos preços, existe um fator endógeno que o
motiva a fazê-lo. Este fator responsável pela organização dos fatores de produção é
normalmente chamado de planejamento econômico (COASE, 1937).
Obviamente este fato não tem sido ignorado pelos economistas. Marshall introduz a
organização como um quarto fator de produção; J. B. Clark dá a função de
coordenação ao empresário; Professor Knight introduz administradores para
coordenar. Como D. H. Robertson aponta, nós encontramos “ilhas de poder
consciente no oceano da cooperação inconsciente como pedaços de manteiga
coagulando em um balde de manteiga”. Mas do ponto de vista que se argumenta que
a coordenação será feita pelo mecanismo de preços, por que esta organização é
necessária? O que são essas “ilhas de poder consciente”? (COASE, 1937, p. 388)11
O movimento dos preços direciona a produção considerando fatores extra-firma,
porém, dentro dela essas transações de mercado são eliminadas com a presença do
empresário-coordenador que direciona a produção. Embora o preço tenha influência na
decisão deste coordenador, as mudanças internas não são resultado do primeiro e sim da
decisão deste coordenador. Dessa forma é razoável entender que o ponto distintivo da firma é
a atuação fora do mecanismo de preços (COASE, 1937).
Em uma situação onde o economista se depara com uma prática de negócio
desconhecida, onde o mecanismo de preços do mercado não pode explicar tal prática,
normalmente ele atribui esta situação a um monopólio (COASE, 1972).
“A economia neoclássica avançou formidavelmente em termos do formalismo e
elegância conceitual, pagando o preço que foi o de um afastamento continuado da realidade
empírica” (ZYLBERSTAJN, 1995, p. 14).
A teoria neoclássica enxerga a firma como uma entidade que busca a otimização
dos recursos, e nesta busca, atua independentemente de seu ambiente externo e da sua própria
estrutura interna. O preço é o único fator exógeno à firma. Os consumidores são racionais e a
figura do “leiloeiro” soluciona os problemas de equilíbrio dos mercados sem custo algum
(ZYLBERSTAJN, 1995).
Desta forma, a empresa não seria capaz de conseguir diferenciais somente pelo
mercado, pois o preço é dado e existem muitas outras firmas atuando neste mercado. A
competitividade somente é alcançada no âmbito interno da empresa, e a organização é a
principal responsável por isso (COASE, 1937).
11
Tradução do autor.
38
Sendo assim, a teoria da firma passou a ser usada somente no campo
macroeconômico, estudando política de crédito, distorções cambiais, efeito de impostos e
subsídios, entre outros. O preço passou a ser tratado não como elemento determinante do
planejamento da produção e sim, como informação do mercado (ZYLBERSTAJN, 2005).
Interessante perceber que esta mudança de paradigma possibilitou que outras
formas de organização pudessem ser contempladas nas discussões sobre o tema. A teoria
neoclássica trabalha com maximização de lucro e minimização de custo que, levando em
consideração as conseqüências destas duas abordagens, levam invariavelmente à primeira.
Assim sendo, esta mudança possibilitou o estudo de formas de organização diferentes da
firma neoclássica, tais como as organizações sem fins lucrativos, as firmas política e as
entidades representação (ZYLBERSTAJN, 2005).
Zylberstajn (2005) aponta que Coase (1937; 1960) estuda as relações contratuais
das firmas, sua organização interna e seus custos de transação. Ele estuda a firma do mundo
real e a define como um sistema de relacionamentos que existe quando o direcionamento de
recursos é feito de acordo com sua organização interna.
De acordo com Zylberstan (2005), no discurso onde Coase recebe seu prêmio
Nobel de Economia em 1991, ele fala das:
[...] razões explicativas para a existência da firma com base nos custos comparativos
da organização interna e de produção via mercado, e lançou as bases para o estudo
das formas alternativas de organização das firmas contratuais. Reconheceu que os
mercados não funcionavam a custo zero, tampouco a organização interna da firma
era desprovida de custos. A sua preocupação foi, continuamente, de chamar a
atenção dos economistas para os fenômenos do mundo real e para o rico laboratório
vivo do mundo das organizações, que estavam à espera de estudo cuidadoso
(ZYLBERSTAJN, 2005, p. 389).
Desta forma, Zylberstajn (1995) identifica como objetivo da nova economia
institucional que também é conhecida como Economia dos Custos de Transação:
[...] justamente estudar os custos das transações “como o indutor dos modos
alternativos de organização de produção (governança), dentro de um arcabouço
analítico institucional. Assim a unidade de análise fundamental passa a ser a
transação, operação onde são negociados direitos de propriedade, e o objetivo
descrito acima pode ser revisto como: “analisar sistematicamente as relações entre a
estrutura dos direitos de propriedade e instituições” (p. 15).
Pode-se afirmar que o principal pressuposto da Nova Economia Institucional é
que existem custos envolvidos nas transações, tanto via mercado quanto via contratos. Outro
39
pressuposto é que as organizações exercem sim influência em um ambiente institucional
estruturado. Ou seja, as instituições não são neutras.
Concordando com esta afirmação, Williamson (2000) aponta que um número cada
vez maior de economistas está abandonando a idéia da visão clássica onde as organizações
não são variável importante na análise econômica, “[...] organization matter and
organizations are susceptible to analysis” (p. 2).
Outra observação é que os agentes possuem duas características comportamentais:
a racionalidade limitada e o oportunismo (ZYLBERSTAJN, 1995).
Racionalidade limitada refere-se ao comportamento que pretende ser racional mas
consegue sê-lo apenas de forma limitada. Resulta da condição de competência
cognitiva limitada de receber, estocar, recuperar e processar a informação. Todos os
contratos complexos são inevitavelmente incompletos devido à racionalidade
limitada [...] oportunismo é a busca do auto interesse com avidez. Naturalmente o
conceito de oportunismo traz à tona uma conotação ética comportamental dos
indivíduos, que na base da teoria dos custos de transação, apenas assume que os
indivíduos podem agir de modo oportunístico (WILLIAMSON, 1985 apud
ZYLBERSTAJN, 1995, p. 17 e 18).
Estes comportamentos pressupõem a criação de salvaguardas contratuais. A
conseqüência destas salvaguardas são custos de transação. (ZYLBERSTAJN, 1995).
Outros elementos dinâmicos inerentes aos contratos além dos custos de transação
apontados por Zylberstajn (2005) podem ser enquadrados dentro de conceitos como a
tradição, a confiança, as relações familiares e ambientes sociais que favorecem ações
oportunísticas. Este tipo de abordagem permite um avanço frente a outros tipos de abordagens
existentes por permitir que no conceito de firma não fossem apenas incluídas aquelas com
características empresariais, mas também aquelas organizadas em forma de sociedade
familiar.
A forma de governança minimizadora dos custos de transação se dá em função
das características básicas das transações, das leis contratuais, do ambiente institucional e dos
pressupostos governamentais.
40
Figura 2.1. Esquema da indução das formas de governança.
Fonte: Zylberstajn, 1995, p. 23.
Os contratos são constituídos a partir de determinado arranjo institucional e leva
em consideração três elementos básicos: i) freqüência; ii) risco; iii) especificidade dos ativos.
A análise destes elementos indicará o tipo de estratégia a ser adotada por determinado agente.
(ZYLBERSTAJN, 2005).
A observação dos pressupostos comportamentais é condição básica para que o
arranjo institucional seja adequado. Estes arranjos devem ter como objetivo diminuir os
custos de transação através da redução das possibilidades de um agente tomar uma atitude
oportunista e da tentativa de contemplar o maior número possível de situações que a
racionalidade limitada das partes contratantes permite visualizar, ou seja, aumentando a
confiança entre os componentes deste arranjo.
A transação é elemento essencial para a análise, sendo que as características
percebidas destas representam o aspecto central da análise da Nova Economia Institucional
(ZYLBERSTAJN, 2005).
O estudo do ambiente onde uma organização está inserida, suas relações
horizontais e verticais, a estratégias adotadas, as leis, a tradição e a cultura, tanto
organizacional como do ambiente institucional permite identificar os modos de governança de
41
cada um dos agentes presentes no arranjo institucional. As formas de governança eficientes
são definidas em função da ponderação de três fatores condicionantes: ambiente institucional,
leis contratuais e pressupostos comportamentais.
A inobservância destes fatores leva a uma situação onde a adequabilidade das
formas de governança, tanto individuais quanto do próprio ambiente, precisem ser revistas.
42
3. O ALGODÃO: HISTÓRIA E ANÁLISE ECONÔMICA
3.1. Algodão no Brasil
A base da economia brasileira no início da colonização portuguesa era o pau-
brasil e o açúcar, com o algodão ocupando destaque no consumo dentro da colônia. As
primeiras exportações de fardos de algodão foram para Portugal, porém em pequenas
quantidades. A primeira região nacional a ter sua base econômica voltada para o algodão foi a
então capitania do Maranhão. O determinante para a retomada da produção em maior escala
foi a saída dos holandeses desta região (ABRAPA, 2004).
A Inglaterra foi pioneira na industrialização do algodão no processo conhecido
como Primeira Revolução Industrial. Com baixos custos de produção e tecnologia de ponta,
os ingleses se tornaram o ator principal na produção e comércio de tecidos derivados desta
cultura. A matéria-prima era oriunda das Antilhas, do Levante e da Índia. No intuito de
diminuir a dependência brasileira de tecidos importados, em 1750 o Marquês de Pombal
decidiu estimular a produção de algodão nacional. Desta maneira, tornou-se um destaque em
termos de exportação após 1760, sendo disseminado na Bahia, Pernambuco e Maranhão,
Goiás e Rio Grande do Sul (URBAN et al, 1995). A exportação de algodão maranhense em
1760 era de 130 sacas de algodão passando para 69000 sacas em 1830 (ABRAPA, 2004).
Este aumento vertiginoso de exportação não foi conseqüência apenas de estímulos
internos. A grande instabilidade internacional por conta de guerras entre Inglaterra e Estados
Unidos e Inglaterra e França, fizeram com que as exportações tivessem grande variação neste
período. A conseqüência da primeira foi o aumento das exportações nacionais devido a
interrupção de exportação dos Estados Unidos para a Inglaterra. A conseqüência da segunda
foi a queda nas exportações devido ao bloqueio econômico que a França impôs à Inglaterra,
levando muitas indústrias inglesas a fecharem suas portas (ABRAPA, 2004).
De acordo com a Corografia Brasílica, publicada pelo padre Ires de Casal em 1817,
plantava-se algodão em São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Rio de
Janeiro e Espírito Santo. No Nordeste, Casal registra o algodoeira também na
Paraíba (ABRAPA, 2004, p. 19).
Outra situação favorável à cotonicultura nacional foi a Guerra Civil Americana,
em meados do século XIX. Os Estados Unidos eram o maior produtor mundial de algodão na
época, fazendo a demanda por algodão brasileiro aumenta nos anos subseqüentes. Pouco
43
depois o Brasil se envolve em conflito com o Paraguai, fazendo com que as exportações
diminuíssem por conta do aumento da demanda interna (ABRAPA, 2004).
No início do século XX, a produção nacional de tecidos superou as importações
de tecidos europeus, através da presença de capital interno e externo na instalação de
indústrias têxteis no país. A Primeira Guerra Mundial teve conseqüências positivas e
negativas para a economia nacional. Enquanto as exportações de algodão e café ficaram
prejudicadas, foi criada uma janela de oportunidade de mudança de padrão concorrencial que
foi aproveitada pelos empresários da época, desenvolvendo fortemente o parque industrial do
país. A produção de tecidos nacional neste período atendia aproximadamente 80% da
demanda interna de tecidos de algodão (ABRAPA, 2004).
Em 1915 houve iniciativa por parte do Ministério da Agricultura em oferecer
suporte técnico aos cotonicultores, desenvolvimento de melhores variedades, estudo de solo e
de clima, criação de campos experimentais e desenvolver estudos das pragas e doenças do
algodoeiro através da criação do Serviço do Algodão. Outras iniciativas surgiram, como a do
Instituto Agronômico de Campinas (IAC) que atuaram no melhoramento genético da
herbácea. Havia também interesses externos em fomentar o melhoramento da produção
brasileira. Os ingleses ansiavam se livrar dos altos preços do algodão americano (ABRAPA,
2004)
Com a crise de 1929, o preço do café teve forte queda levando a migração de parte
do capital produtivo para o algodão. Como grande parte dos produtores de café se concentrava
em São Paulo, o Estado passou a ser a referência nacional também na produção de algodão.
De acordo com Faria (2008), a base da produção se manteve familiar, como no início da
colonização portuguesa. Com o advento da Segunda Guerra Mundial as exportações voltaram
a oscilar negativamente, porém este declínio foi atenuado com a mudança do foco das
exportações para a América do Sul (ABRAPA, 2004).
Na década de 50 os principais Estados no ranking brasileiro de produção de
algodão eram: São Paulo, Paraná e Ceará, sendo que os dois primeiros produziam mais que
90% do total (ABRAPA, 2004). Destaca-se o papel ativo do Estado nesta concentração
produtiva em São Paulo e Paraná na citação de Urban et al (1995), “Os mecanismos estatais
forjaram uma estrutura produtiva para a cotonicultura meridional (São Paulo e Paraná) com
atributos diferenciados em termos da base técnica e organização empresarial” (p.12).
Nas décadas seguintes o Brasil continuou figurando entre os 10 maiores
produtores mundiais em área colhida de algodão. Os aperfeiçoamentos da cultura continuaram
através da atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, sendo que em 1975 foi
44
fundado o Centro Nacional de Pesquisas do Algodão (CNAP), unidade destinada
exclusivamente à pesquisa da herbácea (ABRAPA, 2004).
A partir da década de 1970 o cenário econômico mundial passou por
transformações importantes. Estas transformações influenciaram todos os setores da
economia. Com o objetivo de perceber esta influência no setor têxtil, segue na tabela 3.1 série
histórica da área colhida, produção, consumo, exportação e importação de algodão entre os
anos de 1970 e 2001.
45
Tabela 3.1. Área colhida, produção, consumo, exportação e importação de algodão
1970-2001.
Milhões de hectares Em 1000 fardos de 217 quilos
Ano Área Colhida Produção Consumo Exportação Importação
1970 2,469 2.733 1.391 1.011 18
1971 2,590 3.123 1.437 1.409 4
1972 2,307 2.990 1.638 1.333 1
1973 2,287 2.459 1.790 661 0
1974 2,216 2.448 1.885 269 0
1975 1,815 1.837 2.056 356 5
1976 1,990 2.710 2.107 54 0
1977 2,015 2.246 2.233 192 0
1978 1,965 2.499 2.456 141 0
1979 1,975 2.627 2.591 0 0
1980 2,015 2.728 2.601 42 14
1981 2,070 3.123 2.631 138 0
1982 2,113 2.691 2.603 1.021 0
1983 1,960 3.096 2.553 80 41
1984 2,420 4.446 2.754 354 18
1985 2,290 3.642 3.182 358 248
1986 2,130 2.907 3.485 303 243
1987 2,156 3.968 3.728 597 197
1988 2,367 3.258 3.774 464 473
1989 1,900 3.058 3.506 661 519
1990 1,977 3.293 3.321 716 409
1991 1,969 3.064 3.361 133 657
1992 1,485 1.929 3.642 110 1.823
1993 1,085 2.219 3.829 5 1.869
1994 1,220 2.467 3.754 152 1.612
1995 1,130 1.884 3.759 101 1.768
1996 0,695 1.405 3.727 0 2.386
1997 0,765 1.890 3.626 0 1.884
1998 0,685 2.391 3.774 23 1.334
1999 0,752 3.216 4.236 12 1.559
2000 0,853 4.312 4.200 315 603
2001 0,748 3.519 3.839 674 253
Fonte: USDA, 2010.
46
O início da década de 1980 foi um marco para a cotonicultura nacional. O
surgimento da praga do bicudo12
acabou com plantações no Nordeste. Como a base produtiva
era familiar, as perdas não foram apenas financeiras, milhares de trabalhadores ficaram sem
renda ocasionando um grande problema social (ABRAPA, 2004).
Através do gráfico 3.1 e 3.2, notam-se os efeitos da crise internacional do petróleo
sobre as exportações e importações brasileiras de algodão.
Gráfico 3.1. Exportação e Importação Brasileira de algodão 1970-2001.
Fonte: USDA, 2010.
A estratégia utilizada pelo governo brasileiro não seguiu a tendência utilizada
pelos países desenvolvidos. Enquanto estes procuraram frear suas economias, reduzindo o
consumo de petróleo, cortando gastos do setor público e realinhando suas taxas de câmbio de
modo a reduzir o déficit em transações correntes, o governo brasileiro optou por uma política
de “desaceleração progressiva”, mantendo a importação de petróleo elevada, aumento dos
investimentos internos, sobretudo nos setores de substituição de importações de produtos
derivados do petróleo e aumentando as exportações (MARTINS, 1980).
Apesar de a estratégia adotada ter sido focada no aumento das exportações, a
exportação de alguns tipos de algodão foi proibida em 1973. Tal medida serviu para garantir o
abastecimento da indústria nacional (SILVA, 2009) (MACARINI, 2005). As exportações de
1972 para 1973 caíram praticamente pela metade, seguindo sua trajetória de queda até o ano
de 1979 quando não houve exportação. Neste período, o consumo interno de algodão manteve
12
“O “bicudo”, encontrado no Brasil (Anthononus grandis) é um inseto da ordem Coleoptera, a mesma
dos conhecidos besouros” (SCHECHTMANN e SCHECHTMANN, 1983). Este inseto é uma praga do algodão
que atingiu o Brasil na década de 1980 e continua atacando as plantações da herbácea até os dias de hoje.
47
patamares elevados. A variação da produção de algodão no período que corresponde ao início
da crise internacional do petróleo (1973) até o ano onde as exportações de algodão foram
nulas (1979) foi de aproximadamente 6% enquanto a variação do consumo para o mesmo
período foi de aproximadamente 31%. Percebe-se que a forte diminuição da exportação, não
obstante da crise internacional e a estratégia adota pelos países desenvolvidos de diminuir
suas importações, tem relação com o aumento mais que proporcional do consumo interno de
algodão em relação ao aumento na produção.
As importações brasileiras de algodão entre os anos de 1970 e 1985 foram nulas.
Desta forma, percebe-se que grande parte do que o país produzia nesta época era consumido
pela indústria. A indústria têxtil responsável pelo beneficiamento do algodão consumiu mais
do que a totalidade da produção nacional em 1976, sem em contrapartida ter havido
importação da matéria-prima, desta forma consumindo seus estoques.
Embora a praga do bicudo tenha se tornado um problema no início da década de
80, a produção não foi fortemente afetada. Não se pode afirmar que esta não poderia ter sido
maior, mas o fato é que neste ano, embora os níveis de importação e exportação tenham sido
baixos, a produção teve aumento comparável aos anos anteriores, sendo inferior somente ao
ano de 1981, garantindo o suprimento da demanda interna e constituindo estoque.
A recuperação do início dos anos 80 foi novamente abalada pelo aparecimento da
praga do bicudo no nordeste do país. Percebe-se uma queda brusca nas exportações no ano de
1983, a partir de então as exportações se recuperaram, mas não voltaram aos níveis obtidos no
início da década de 70 e início da década de 80. No entanto, juntamente com a recuperação
das exportações se observa uma elevação no nível de importação, sendo que no ano de 1991 o
total importado foi maior do que o total exportado.
48
Gráfico 3.2. Porcentagem Exportada e Consumida da Produção Brasileira de algodão 1970-2001.
Fonte: USDA, 2010.
Durante o processo de abertura econômica iniciado no início da década de 1990 a
cotonicultura brasileira manteve elevada produção. Os principais problemas decorreram do
subsídio dado às importações a partir de 1989 e agravado em 1993 com a concessão de linhas
de crédito em condições de prazos estabelecidos e juros concessionais, fazendo que o produto
importado competisse com a produção nacional, e do atrelamento do câmbio ao dólar, que a
partir do Plano Real estimulou ainda mais as importações (IEL, CNA, SEBRAE, 2000).
A produção de fios nacional também foi afetada pelas vantagens proporcionadas
aos concorrentes estrangeiros, porém diferentemente do setor produtor de algodão, sua
produção não teve queda significativa, mantendo sua competitividade (IEL, CNA, SEBRAE,
2000).
O setor de tecelagem teve que se adaptar ao novo padrão concorrencial.
Ocorreram investimentos no aparato tecnológicos das indústrias. O processo também mostrou
ser seletivo. Na pós-abertura a produção de tecidos commodites passou a ser produzido quase
inteiramente por grandes empresas, com grande capacidade de investimento e capital próprio.
Estas grandes corporações também passaram a promover uma integração vertical13
com o
setor de fiação, pois a qualidade final do tecido depende da qualidade no elo a montante da
13
Embora o termo aqui utilizado tenha sido “integração vertical”, necessita-se uma breve explicação a
respeito de outro vocábulo semelhante, muitas vezes tratado como sinônimo da expressão anteriormente citada e
que é utilizado em outros pontos do texto. Verticalização é um conceito referente ao valor agregado de um dado
produto em sua cadeia produtiva. Pode-se dizer que quanto mais a jusante de uma cadeia produtiva, maior o
nível de verticalização dos agentes envolvidos. Integração vertical se refere ao fato de determinada organização
integrar ao seu negócio elos a montante e/ou a jusante do seu elo original, sendo este o conceito empregado neste
ponto do trabalho.
49
tecelagem. As pequenas e médias empresas do setor passaram a se especializar, buscando
atuar em nichos de mercado, como tecidos finos. O crédito para capital de giro mostrou-se
escasso, porém este fator afetou mais as pequenas e médias empresas, pois estas não detinham
capacidade de autofinanciamento comparável ao das grandes empresas (IEL, CNA, SEBRAE,
2000).
A participação dos Estados e Municípios foi importante para o fomento de novas
zonas industriais. No Ceará, ocorreu a implantação de um parque industrial considerado um
dos mais modernos do país, com o destaque para a distribuição destes benefícios para
empresas de todos os portes. O Estado da Paraíba criou um programa de empréstimo de 60%
do ICMS a ser recolhido pelas indústrias que lá se instalassem. Minas Gerais promoveu o
desenvolvimento industrial fornecendo infra-estrutura, terrenos e financiamentos de 70% do
ICMS em 10 anos (IEL, CNA, SEBRAE, 2000).
Nas políticas de fomento da cadeia têxtil no Brasil, a exemplo do ocorre em muitos
países do mundo, a interferência do Estado por intermédio de linhas de
financiamento de longo prazo, desempenha um papel preponderante. Entretanto, a
experiência dos anos recentes indica que a interferência do Estado não pode ser
seletiva. Deve ter um compromisso de igualdade de oportunidade para todas as
indústrias que queiram investir (IEL, CNA, SEBRAE, 2000, p. 189).
A produção de algodão do ano de 1997 foi aproximadamente 42,5% menor do que
a de 1990, se concentrando nos Estados do Paraná, São Paulo, Bahia e Goiás. O setor de
fiação se apresentou mais diversificado em termos de localização, sendo que os Estados de
São Paulo, Pernambuco, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul,
Paraíba, Maranhão, Rio Grande do Norte e Piauí apresentaram produção. Os tecidos foram
produzidos no Ceará, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pará, Ceará,
Sergipe, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Paraná
(ALICEWEB/MDIC, 2010).
Embora a produção de algodão, fios de algodão e tecidos de algodão
apresentassem a já citada diversificação espacial, em termos e volume de produção
destacaram-se apenas São Paulo e Ceará (ALICEWEB/MDIC, 2010).
A partir de 1998, percebe-se uma mudança no cenário nacional têxtil. A entrada
de novos atores, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e a fortificação de outros, como
Bahia, aumentaram a oferta de matéria-prima. Esta mudança foi possibilitada pela mudança
do padrão de competitividade produtiva. O setor produtivo destes novos atores é bastante
50
intensivo em capital, enquanto outrora, os antigos líderes na cotonicultura tinham sua
estrutura produtiva pouco intensiva em capital (FARIA, 2008).
Sendo assim, o gráfico 3.3 reflete o novo conjunto de forças que se estabeleceu a
partir de 1998 no setor têxtil.
Gráfico 3.3. Exportação de produtos derivados de algodão de janeiro de 1998 a junho de 2010.
Fonte: ALICEWEB/MDIC, 2010.
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul foram os maiores exportadores do período
para algodão simplesmente debulhado, não cardado14
nem penteado15
, sendo que Mato
Grosso, no período, foi responsável por mais da metade das exportações deste tipo de
algodão, inclusive no ano 2000 foi responsável por mais que 98%. Percebe-se no primeiro a
baixa presença de produtos industrializados derivados de algodão na pauta de exportações
enquanto na pauta do segundo aparecem fios e tecidos de diferentes tipos, porém em baixa
quantidade. A Bahia apresenta encadeamento do setor, tanto que a participação de produtos
industrializados na pauta de exportação é mais diversificada e em maior quantidade. Embora
os Estados acima citados tenham indústrias de fiação e tecelagem instaladas, a produção
nacional de produtos industrializados derivados de algodão se concentra em São Paulo, Ceará
e Minas Gerais (ALICEWEB/MDIC, 2010).
14
Algodão cardado é aquele que passou pelo processo de afinação e desembaraçamento produzido pela
ferramenta chamada carda. 15
Algodão penteado é aquele que passou pela ferramenta chamada penteadeira.
51
Em termos de destino das exportações de produtos ligados ao setor agroindustrial
do algodão, destacam-se os valores comercializados com a Argentina, Indonésia e Paquistão,
que juntos correspondem a mais de um terço do total exportado. Destaca-se que a Argentina,
que possui valores de importação maior do que a somatória dos demais acima citados,
apresenta uma pauta importadora bastante diversificada, onde mais que 70% são produtos
industrializados. Paquistão e Indonésia importam basicamente algodão simplesmente
debulhado, não cardado nem penteado e algodão não cardado nem penteado.
Tabela 3.2. Valor percentual dos 10 maiores importadores de produtos derivados
do setor agroindustrial do algodão brasileiro de Janeiro de 1998 a Junho de 2010
ARGENTINA 18,47%
INDONÉSIA 9,31%
PAQUISTÃO 7,47%
CORÉIA DO SUL 6,30%
COLÔMBIA 5,29%
CHINA 4,42%
ESTADOS UNIDOS 3,72%
CHILE 3,20%
JAPÃO 3,18%
TAILÂNDIA 3,00%
Fonte: ALICEWEB/MDIC, 2010.
O Brasil era um franco importador de algodão até 1997, conseguindo recuperar a
produção interna, superior ao volume importado a partir de 1998, marcando posição
como exportador no mercado internacional a partir de 2001, quando foram
embarcadas cerca de 150 mil toneladas. A situação atingiu o ápice no ano de 2004
quando o País exportou 440 mil toneladas, frente às 95 mil toneladas importadas
(SILVA, 2009).
O Brasil atualmente é um forte ator no mercado mundial de algodão, aparecendo
entre os cinco maiores produtores e estando atrás somente da China, Índia, Estados Unidos e
Paquistão. O país também figura entre os cinco maiores exportadores e entre os sete maiores
consumidores, estando atrás dos Estados Unidos, Uzbequistão, Índia e das Colônias Francesas
da África no quesito exportação e da China, Índia, Paquistão, Leste da Ásia e Austrália,
Europa e Turquia e Estados Unidos no quesito consumo (ICAC16
, 2010).
16
International Cotton Advisory Comittee.
52
3.2. Algodão em Mato Grosso
Embora tenha se tornado o maior produtor nacional de algodão nos últimos anos,
a história da produção de algodão em Mato Grosso não é recente. Como já citado, existem
registros de produção da herbácea no Estado no ano de 1817 (ABRAPA, 2004).
Na década de 1930, foi introduzida no Estado as primeiras sementes de algodão
herbáceo melhoradas, da variedade TEXAS 7111, na região de Rondonópolis, sudeste de
Mato Grosso. No início da década de 60, o algodão começou a ser cultivado com fins de
comercialização na supracitada região. A produção era comercializada com indústrias como
SANBRA e MATARAZZO (MARTA et al, 2005). O marco estadual em termos de
integração vertical do setor agroindustrial do algodão ocorreu em 1966 com a criação da
primeira beneficiadora, a Algodoeira Centro Oeste. Em 1986 foi inaugurado o primeiro
laboratório de algodão do Estado (FACUAL, 2010).
Através de pesquisa conjunta entre o Grupo Itamarati Norte S.A e o Centro
Nacional de Pesquisas do Algodão (CNPA) da EMBRAPA, foi produzida uma nova
variedade de algodão chamada CNPA-ITA 90 e ficou disponível para o agricultor no ano de
1992. As características desta cultivar iam ao encontro do almejado pelos produtores que
desejavam reunir em uma só variedade quantidade e qualidade de fibra e a possibilidade de
implantação de produção mecanizada (FARIA, 2008).
A partir de 1996, através de parceria firmada entre EMBRAPA, Fundação-MT e
EMPAER, foram produzidas mais duas variedades de sementes que iriam mudar o panorama
da produção estadual: Antares e BRS Facual. O aumento vertiginoso da produção de algodão
no final da década de 1990 é resultado, entre outros fatores, da utilização em grande escala
por parte dos produtores destas variedades (MARTA et al, 2005).
“Em 1996 foi publicada a Lei Kandir, isentando produtos primários e semi-
elaborados de ICMS17
destinados à exportação [...] em 1997 foi editada medida provisória que
obrigou o pagamento à vista das importações da pluma de algodão” (FARIA, 2008, p. 164).
Umas das variáveis importantes na perpetuação da cultura a nível estadual é a intervenção do
governo. O principal programa mato-grossense de fomento à cultura do algodão é o
PROALMAT18
.
17
Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de
Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação. 18
Programa de Apoio à Cultura do Algodão em Mato Grosso.
53
De acordo com o artigo primeiro da Lei 6.883, de 2 de Junho de 1997 e
posteriores alterações, o objetivo do PROALMAT é recuperar e expandir a cultura do algodão
no Estado de Mato grosso. Outro ponto importante do programa é seu compromisso com os
padrões tecnológicos, ambientais, de produtividade e privados no intuito de verticalizar a
produção desta cultura. O benefício gerado é a redução de até 75% do valor ICMS incidentes
na comercialização e transporte19
de algodão (MATO GROSSO, 1997).
Os requisitos para que o produtor possa usufruir dos benefícios do PROALMAT
estão elencados nos incisos e no parágrafo único do artigo segundo da já referida lei.
Art. 2º O programa tratado no art. 1º define precondições mínimas de práticas
conservacionistas e fitossanitárias que o produtor deverá observar para se candidatar
aos benefícios previsto nesta lei: (Nova redação dada pela Lei nº 7.751/02)
I - que comprove, através da documentação exigida nos termos do decreto
regulamentador, a utilização de sementes de algodão: (Nova redação dada pela Lei
nº 8.621/06).
II - que comprove o uso de assistência técnica e, através de laudo técnico que tenha
realizado a destruição de restos culturais, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias
após a colheita, com o objetivo de controle de pragas e doenças da lavoura de
algodão, em especial o bicudo do algodoeiro. (Nova redação dada pela Lei nº
8.621/06).
III - que, se solicitado pelos órgãos de pesquisa, disponibilize o manejo empregado
em sua lavoura;
IV - que disponha de sistema de eliminação de embalagens de agrotóxicos e adoção
de práticas de redução de resíduos e de controle de poluição ou de contaminação do
meio ambiente, de acordo com disposições normativas oficiais;
V - que não esteja inadimplente com suas obrigações junto à Receita Estadual.
Parágrafo único. No caso do previsto no inciso IV, é facultado ao produtor rural
comprovar a utilização de infra-estrutura, de natureza comunitária ou coletiva
(MATO GROSSO, 1997).
Além disso, juntamente com o a instituição do PROALMAT foi criado o Fundo
de Apoio à Cultura do Algodão. Os recursos deste fundo são destinados à pesquisa, à defesa
fitossanitária e em outras ações que visem ao desenvolvimento da cultura do algodão do
Estado (MATO GROSSO, 1997).
O PROALMAT contemplava em 2004 quase a totalidade dos produtores de
algodão. Em 2010, pouco menos da metade dos produtores associados à AMPA foram
contemplados com os benefícios do programa (SEDER, 2010). Suas conseqüências se
materializaram aumentando a qualidade da assistência prestada ao produtor, aumentando a
renda e o emprego nas famílias participantes, reduzindo os riscos do produtor, aumento o
nível de tecnologia empregado, abrindo novos mercados, aumento a credibilidade dos
19
Nos casos de vendas com cláusula CIF (alteração dada pela Lei Estadual 8621/06).
54
produtores juntos às instituições e aumento a preocupação ambiental dos envolvidos
(FACUAL, 2010).
Mantendo o compromisso com o fomento do setor agroindustrial do algodão no
Estado, a Lei Estadual Nº 7.183, de 12 de Novembro de 1999 e posteriores alterações,
instituiu o PROALMAT-INDÚSTRIA.
Art. 1º Fica instituído o Programa de Incentivos às Indústrias Têxteis e de
Confecção de Mato Grosso - PROALMAT- Indústria, vinculado a Secretaria de
Estado de Indústria, Comércio e Mineração - SICM/MT, que tem como objetivo
dinamizar o processo de industrialização do algodão produzido pelo Estado de Mato
Grosso, dentro de padrões tecnológicos e ambientais de qualidade e de preservação,
bem como estimular investimentos públicos e privados, oferecendo incentivos
fiscais às indústrias regularmente cadastradas e credenciadas.
Art. 2º O candidato interessado em integrar-se no Programa a que se refere o artigo
1º e nos benefícios decorrentes desta lei, deverá observar como pré-condições
mínimas de instalação e de processamento, o seguinte:
I - manutenção do programa de treinamento e qualificação de mão-de-obra, por
conta própria ou em convênio com terceiros;
II - comprovação de regularidade de suas obrigações para com o fisco estadual,
inclusive quanto à inexistência de débito inscrito na Dívida Ativa.
Art. 3º Às indústrias que atenderem às pré-condições definidas no artigo 2º, será
concedido um crédito fiscal relativo ao Imposto sobre Operações relativas à
Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte
Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS, nos seguintes percentuais:
I - 80% (oitenta por cento) do ICMS devido na saída do produto da indústria de
fiação e tecelagem;
II - 85% (oitenta e cinco por cento) do ICMS devido na saída do produto da
indústria de confecção:
§ 1º Quando as atividades das indústrias mencionadas nos incisos I e II forem
exercidas pelo mesmo estabelecimento, aplica-se o benefício proporcionalmente às
saídas de produtos.
§ 2º A fruição do benefício previsto no caput deste artigo, implica renúncia ao
aproveitamento de quaisquer outros créditos do ICMS, inclusive aqueles relativos a
entrada de matérias-primas e insumos da produção.
Art. 4º Além do previsto no artigo anterior, ficam assegurados às indústrias que
vierem a se instalar em território mato-grossense os seguintes benefícios:
I - diferimento do ICMS, para o momento em que ocorre a saída subseqüente,
relativamente ao diferencial de alíquotas devido nos termos do disposto no artigo 3º,
incisos XIII e XIV, da Lei n.º 7.098, de 30 de dezembro de 1998, incidente nas
entradas de bens, desde que:
a) tais bens consistam em máquinas, equipamentos e suas estruturas, destinados a
integrar o projeto operacional do estabelecimento ;
b) não haja similar dos mesmos, disponível para aquisição no Estado de Mato
Grosso.
II - redução de 50% (cinqüenta por cento) do custo de aquisição do terreno,
destinado à instalação do estabelecimento, do Distrito Industrial sob o domínio do
Estado.
Art. 5º O PROALMAT- Indústria terá duração mínima de 06 (seis) anos, devendo
ser reavaliado a cada 03 (três) anos pelo Conselho de Desenvolvimento Industrial do
Estado de Mato Grosso - CODEIC, no que concerne ao atendimento dos objetivos
previstos no artigo 1º, que emitirá parecer indicativo ao Poder Concedente , sobre a
conveniência de sua continuidade ou não (MATO GROSSO, 1999).
55
Os benefícios do programa se concentraram no elo confecção. Este elo da cadeia
do algodão se caracteriza como sendo um setor com pequenas empresas, concentradas em
poucos municípios, intensiva em mão-de-obra de baixa qualificação e baixos salários,
relativamente modernas em termos de equipamentos, com práticas obsoletas de gestão e
muitas delas se encontram na informalidade. Apesar de apresentar estas características houve
diminuição da sonegação fiscal, sendo, portanto um elo socialmente importante (MARTA et
al, 2005).
O segmento de fiação e tecelagem passou a apresentar mudanças somente no ano
de 2006 quando o grupo Santana Textiles instalou em Rondonópolis seu Parque Industrial
(SANTANA TEXTILES, 2010). Além disso, existe a previsão a Têxtil Bezerra de Menezes
entrar em funcionamento nesta cidade no ano de 2010. A indústria atuará na produção de fios
(GUIA TÊXTIL,2010). Em Campo Verde o governo estadual prorrogou os incentivos fiscais
para conclusão da instalação da fiação da Cooperfibra20
que tem até Julho de 2011 para
começar a atuar (CAMPO VERDE, 2010). O governo Estadual atuando junto à prefeitura de
Cuiabá assinaram protocolo de intenções para que a Vicunha Têxtil inicie as obras de
instalação de seu Parque Industrial na cidade. Até 2013 a indústria deve estar funcionando
(SÓ NOTÍCIAS, 2010).
O crescimento desta cultura no Estado tem relação com a mudança no paradigma
de produção, com o apoio de parcerias entre empresas privadas e públicas e de incentivos
governamentais. O modelo intensivo em trabalho que vigorava até a década de 1990 foi
substituído por um modelo intensivo em capital.
O surgimento da cotonicultura no cerrado seguiu esta lógica do sistema capitalista
por expurgar diversos espaços tradicionais na produção de algodão ao recombinar
antigos e novos meios produtivos e alcançar uma elevada eficiência em ofertar fibras
naturais ao mercado nacional e internacional. A força produtiva desta “nova”
cotonicultura se nutriu amplamente das inovações técnicas que permitiram a
extraordinária expansão da produtividade em mais de 27% ao ano de taxa
geométrica durante o quadriênio 1997-2000. Mas a cotonicultura também se nutriu
do excedente social ao se apropriar de parcela de impostos renunciados (FARIA et
al, 2007, p.7).
Em Mato Grosso, o algodão vem sendo utilizado como alternativa à cultura da
soja (SOUZA, 2009). O sistema produtivo adotado, não apenas no caso do algodão, mas
também da soja e do milho é o monocultivo sucessivo. A produtividade das lavouras de
algodão, embora oscilante, vem apresentando elevação na última década, como mostra a
20
Cooperativa de Cotonicultores de Campo Verde.
56
tabela 3.5. As conseqüências negativas do sistema adotado e do nível tecnológico foram
desequilíbrios ambientais e insuficiência de resultados sociais. (FARIA, 2008). Seguem dados
sobre as oportunidades de emprego em Mato Grosso em 2008.
Tabela 3.3. Empregos formais em Mato Grosso no ano de 2008.
Atividades Total de Empregos
Extrativa Mineral 2.213
Indústria de Transformação 89.060
Serviços Industriais de Utilidade Pública 4.090
Construção Civil 27.898
Comércio 136.260
Serviços 128.058
Administração Pública 123.901
Agropecuária 79.058
Total 590.538
Fonte: MTE, 2010.
Percebe-se que, embora Mato Grosso seja um Estado que exerce liderança na
produção de diversas culturas agrícolas importantes nacionalmente, como a soja, milho e
algodão, em termos de empregos formais gerados esta não é a atividade que mais cria postos
de trabalhos, resultado este podendo ser atribuído ao sistema de produção vigente. As
atividades que geram maior número de postos de trabalho formais são Comércio, Serviços e a
Administração Pública.
Em termos de atividade, percebe-se na tabela 3.4 que a atividade Industrial em
Mato Grosso resulta em maior saldo de empregos formais criados. Verifica-se que o setor
pecuário é responsável por grande parte do saldo positivo de empregos criados no Estado,
sendo que o total gerado na indústria supera o total gerado pela agropecuária. O setor de
algodão, pelo contrário, apresenta saldo maior no setor agropecuário do que no setor
industrial, revelando o baixo nível de verticalização e a falta de externalidades sociais
positivas no que tange a geração de postos de trabalho sustentáveis.
57
Tabela 3.4. Maiores Saldos de postos de trabalho formais criados em Mato Grosso
pela Agropecuária e pela Indústria de Janeiro de 2003 a Dezembro de 2009 incluindo aqueles
ligados ao algodão21
Atividade Agropecuária Saldo Atividade Indústria Saldo
Trab. agropecuário 3.347 Alimen. linha de produção 6.672
Trab. volante da agricultura 2.649 Abatedor 5.360
Trab. da pecuária 2.041 Retalhador de carne 1.180
Op. máq. beneficiamento 812 Magarefe 1.019
Aux. de escritório 793 Aux. escritório 821
Emp. doméstico 642 Desossador 790
Cozinheiro geral 588 Man. de edificações 736
Técnico agrícola 391 Servente de obras 676
Alimen. de linha de produção 381 Trab. da pecuária 675
Trab. da suinocultura 373 Apontador de produção 576
Algodão 415 Algodão 155
Fonte: MTE, 2010.
A topografia plana do Estado aliada à capacidade do solo, que é naturalmente
pobre, em reagir de forma satisfatória à utilização de insumos corretores é considerado um
fator positivo para a produção. No período de plantio, que vai de Novembro a Maio, o solo
mato-grossense é úmido, devido à concentração de chuvas neste período. Essa característica é
fundamental para o cultivo do algodão, pois a herbácea necessita destas condições para se
desenvolver. No período destinado à colheita, que vai de Junho a Agosto, ocorre o período da
seca. Com a redução de umidade no ar, as qualidades intrínsecas da fibra do algodão são
favorecidas (FARIA et al, 2007).
21
Para “Algodão” na atividade “Agropecuária” foram somados os saldos de: Trabalhador da Cultura do
algodão e Classificador de fibras têxteis. Para algodão na atividade Indústria foram somados os saldos de:
Auxiliar de corte (preparação da confecção de roupas), Mecânico de manutenção de máquinas têxteis, Operador
de máquina de costura de acabamento, Costureira de reparação de roupas, Classificador de fibras têxteis,
Passadeira de peças confeccionadas, Técnico têxtil, Ajudante de confecção, Tecelão (tear mecânico, exceto
jacquard), Supervisor da confecção de artefatos de tecidos, couros e afins, Revisor de fios (produção têxtil) e
Técnico têxtil de tecelagem.
58
Tabela 3.5. Produtividade de algodão em Pluma e Caroço em Mato Grosso de
1997 a 2008.
Produtividade em pluma
(Kg/ha)
Produtividade em Caroço
(Kg/ha)
Safra 98/99 857,1 1.592,4
Safra 99/00 1.113,6 1.856,4
Safra 00/01 1.251,1 1.998,9
Safra 01/02 1.362,0 2.148,2
Safra 02/03 1.251,0 1.974,1
Safra 03/04 1.374,0 2.196,1
Safra 04/05 1.399,0 2.216,0
Safra 05/06 1.289,3 2.130,7
Safra 06/07 1.375,2 2.224,8
Safra 07/08 1.445,0 2.260,0
Safra 08/09 1.533,0 2.397,0
Safra 09/10 1.585,0 2.480,0
Fonte: ABRAPA, 2010a.
A produtividade da pluma do algodão cresceu em aproximadamente 53% no
período e a produtividade do caroço de algodão aumentou aproximadamente 64%. Este
aumento na produtividade é resultado do nível tecnológico empregado, desde os insumos até
as ferramentas que influenciam no processo de obtenção do produto final.
Melhorias na produtividade e melhora nos indicadores econômicos, não refletem
necessariamente em competitividade. Estes fatores são partes de um todo. Um processo de
manutenção ou melhoria da participação no mercado sustentável deve buscar a eficiência
econômica, social e ambiental.
59
4. CARACTERIZAÇÃO DOS FATORES COMPETITIVOS DO SETOR
TÊXTIL
O algodoeiro Herbáceo (Gossypium hirsutun L.) é exigente em termos de
características de solo. Desta forma, para que a herbácea possa se desenvolver são necessários
investimentos no sentido de corrigir características adversas e inférteis presentes em
determinados tipos de solo. No entanto, o manejo do solo quando feito incorretamente,
acarreta elevados custos ambientais (EMBRAPA, 2003).
Os modelos de manejo de solo podem ser considerados de quatro tipos, a saber:
Preparo Convencional, Preparo Mínimo, Plantio Direto e Plantio semi-direto.
Preparo convencional - provoca inversão da camada arável do solo, mediante o uso
de arado; a esta operação seguem outras, secundárias, com grade ou cultivador, para
triturar os torrões; 100% da superfície são removidos por implementos. Este tipo de
preparo só deve ser utilizado quando da correção de algumas características na
subsuperfície do solo, onde necessite de incorporação de corretivos ou rompimento
de camadas compactadas. Preparo mínimo - intermediário, que consiste no uso de
implementos sobre os resíduos da cultura anterior, com o revolvimento mínimo
necessário para o cultivo seguinte. Geralmente é utilizado um escarificador a 15cm
suficiente para romper crostras e pé de grade niveladora. Plantio direto - aqui, as
sementes são semeadas através de semeadora especial sobre a palhada de culturais
do cultivo anterior ou de culturas de cobertura palha produzidas no local para este
fim. Plantio semi direto - semelhante ao Plantio Direto; semeadura direta sobre a
superfície, com semeadora especial, diferindo deste sistema apenas por haver poucos
resíduos na superfície do solo(EMBRAPA, 2003).
Neste ínterim, os modelos de manejo que apresentam menores custos ambientais
são aqueles que provoquem o menor revolvimento do solo, pois a matéria orgânica e
microrganismos se encontram justamente na parte superior deste.
A matéria orgânica é o componente de maior importância no desenvolvimento da
estrutura e na manutenção de sua estabilidade, incidindo diretamente sobre a maior ou
menor susceptibilidade do solo a formação de crostas superficiais. O impacto das gotas
de chuva diretamente sobre a superfície desnuda desses solos, arranca as partículas finas
arrastadas pela água em sua descida, até a referida camada, onde exercem efeito
prejudicial sobre a infiltração de água. Neste processo é determinante a desnudez do
solo e a camada compactada se torna desfavorável ao desenvolvimento dos cultivos
pois, além de pouco permeável à água e ao ar, dificulta a penetração das raízes, o que
repercute negativamente sobre a produtividade do solo, principalmente quando se trata
de uma cultura como o algodão, que exige ambiente edáfico com equilíbrio entre a
quantidade de macro e microporos, ou seja, favorável tanto à retenção de umidade
quanto à aeração(EMBRAPA, 2003).
A produção de algodão herbáceo no cerrado com práticas sustentáveis pressupõe a
utilização de rotação de culturas, plantio direto e manejo de solo conservacionista, pois assim
60
a perda de nutrientes do solo e a ocorrência de erosões são reduzidas, diminuindo custos de
produção e custos ambientais oriundos destes problemas (EMBRAPA, 2003).
Sustentabilidade é condição necessária para se medir competitividade. Isso posto,
competitividade agrícola significa a construção de um sistema produtivo lucrativo, tanto para
o produtor quanto para a sociedade onde ele está inserido, com custos ambientais anulados,
possibilitando a continuidade da produção no longo prazo.
O algodão não é uma cultura que consome muitos nutrientes do solo, porém
existem algumas práticas de controle e prevenção de doenças e pragas utilizadas em modelos
convencionais de manejo de solo, que eliminam grande quantidade de ingredientes presentes
na matéria orgânica, aumentando, portanto a necessidade de correção de solo. Para diminuir
estes custos com correção de solo, bem como os custos ambientais advindos da não correção
dele, é necessário que se faça um planejamento de sistema sustentável. As etapas deste
planejamento incluem a análise do histórico da área, o estudo do complexo das ervas
daninhas, pesquisa de mercado para a identificação de consumidores para determinados tipos
de algodão, estudo do perfil do solo e análises específicas para identificação da necessidade
de correções na área agricultável (EMBRAPA, 2003).
O uso correto de cultivares adaptadas à região onde a área produtiva está
localizada também acarreta aumento de competitividade produtiva. Além disso, as qualidades
intrínsecas da fibra também são decorrência, dentro outras coisas, da cultivar escolhida para
plantio, sendo, portanto decorrência da estratégia competitiva adotada pelo produtor
(EMBRAPA, 2003).
A opção por determinadas cultivares também podem acarretar em diminuição de
custos de produção, pois algumas delas são resistentes a pragas e doenças que atingem o
algodoeiro em determinadas regiões, como demonstrado nas tabelas seguintes. Isso pode
representar uma vantagem competitiva de custos para o produtor. Na safra 2008/2009 os
gastos com fertilizantes e agrotóxicos na região de Rondonópolis foram superiores a 66% dos
gastos de custeio da lavoura com a utilização de plantio semi direto. (ALGODÃO
BRASILEIRO, 2010).
A cultivar CNPA ITA 90 é mais utilizada nas regiões de cerrado brasileiro, sendo
escolhido em mais da metade das lavouras de algodão. Em Mato Grosso a representatividade
desta variedade de semente é ainda mais expressiva, chegando a ocupar mais de 85% da área
cultivada, pois uma das características desta região é a alta relação capital/trabalho, sendo esta
cultivar indicada para este tipo de produtores (EMBRAPA, 2003).
61
Tabela 4.1. Qualidades intrínsecas da pluma de algodão de acordo com a cultivar
utilizada no plantio.
Características CNPA
ITA 90¹²
BRS
IPʹ
BRS
CEDRO¹
BRS
AROEIRA²
BRS
SUCUPIRA²
Produtividade (@/ha) Até 300 Até 330 Até 330 Até 330 Até 315
Rendimento de Fibras
(%)
38-39 38-39 39-40 37-38 37-38
Comprimento de fibras
(mm)
30,2 29,7 30 29,4 30,8
Resistência de fibras
(gf/tex)
30 28,8 29,2 28 30
Finura (Micronaire22
) 4,4 4,2 4,4 4,1 3,9
Resistência a viroses Susc. Med.
Res.
Res. Res. Res.
Resistência à ramulose23
Med.
Res.
Med.
Res.
Med.
Res.
Res. Res.
Ciclo (dias) 170-180 170-
180
170-180 150-160 170-180
Fonte: EMBRAPA, 2003.
¹ Indicadas para chapadões de altitude do Centro-Oeste.
² Indicadas para cerrados de baixa altitude do Centro-Oeste e Nordeste do Brasil.
O algodoeiro é influenciado pela população de plantas daninhas24
que competem
por nutrientes no solo onde ambos estão plantados (MORAES et al, 1983). No cerrado estas
plantas indesejadas são combatidas, na maioria dos casos, através do controle químico. No
plantio, a definição do espaçamento entre as fileiras também acarretam variação na qualidade
do produto final obtido. A priori, uma maior concentração de plantas pode diminuir o custo de
produção sem afetar fortemente a produção da fibra, porém a qualidade desta fibra tende a ser
inferior àquela produzida em espaçamentos maiores (EMBRAPA, 2003).
22
Finura da fibra. 23
Doença causada pelo fungo Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides é caracterizada por
ocasionar encurtamento dos internódios e superbrotamento da região apical, dando aspecto de vassoura aos
ramos terminais. É uma das mais importantes doenças do algodoeiro, particularmente no cerrado. Alta
pluviosidade e fertilidade do solo, temperaturas entre 25º e 30ºC e umidade relativa do ar acima de 80%
favorecem a ação do fungo. O controle é realizado através do uso de cultivares resistentes: as principais
recomendadas pela Embrapa são: BRS Aroeira e BRS Sucupira (EMBRAPA, 2003). 24
São plantas que surgem de forma indesejada em um local.
62
Tabela 4.2. Principais Doenças e Pragas que atingem a cotonicultura.
Doenças Pragas
Tombamento Brocas (Eutinobothrus brasiliensis e
Conotrachellus denieri)
Ramulose Lagarta Rosca (Agrotis spp.)
Mancha Angular Pulgões (Aphis gossypii e Myzus persicae)
Mancha Branca ou Mancha de
Ramulária Tripes (Frankliniella spp.)
Manchas de alternária e estefilium Percevejo de Renda (Gargaphia torresi)
Murcha de fusarium Curuquerê (Alabama argillacea)
Doença Azul Bicudo ( Anthonomus grandis)
Lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens)
Lagartas do gênero Spodoptera
Largarta Rosada (Pectinophora
gossypiella)
Ácaros (Tetranychus urticae)
Percevejos (Horcias nobilellus e Dysdercus
spp.)
Mosca Branca (Bemisia tabaci)
Fonte: EMBRAPA, 2003.
O algodão herbáceo é suscetível a uma série de doenças e pragas. Como dito
anteriormente, existem cultivares resistentes a estes agentes naturais (BALLAMINUT, 2010),
resultando em produtos finais com qualidades intrínsecas diferenciadas. As doenças do
algodão são tratadas com aplicações químicas. O controle químico também é utilizado no
combate à pragas, porém sua utilização só é recomendada quando o número de insetos atingir
o nível de controle (EMBRAPA, 2003).
No que tange a colheita, o principal modo utilizado é a mecânica. Este modo de
colher é intensivo em capital e reduz substancialmente os custos operacionais em relação à
colheita manual. A utilização de colheitadeiras automotrizes requer uma série de cuidados por
parte do produtor. O terreno deve ser bastante nivelado, a semeadura deve ocorrer de forma
retilínea, a cultivar escolhida deve ser de tamanho compacto e ciclo precoce, a adubação deve
ser equilibrada, o controle de plantas daninhas deve ser cuidadoso, pois a presença destes
diminui a eficiência da colheitadeira e a qualidade da fibra, exige a utilização de desfolhantes
e a umidade da fibra deve ser inferior baixa, recomendável abaixo de 12% (EMBRAPA,
2003).
Após a colheita, os fardos de algodão são enviados às algodoeiras, onde ocorrerá
seu beneficiamento. Esta etapa é realizada antes da industrialização e se destina à separação
63
da fibra das sementes de forma a não prejudicar as características intrínsecas da fibra. O
processo de separação é feito através de descaroçadores de serras circulares. Algumas
algodoeiras possuem controle de umidade no intuito de melhorar o resultado das operações de
limpeza e descaroçamento (EMBRAPA, 2003).
A maioria dos cotonicultores vende sua produção para ser beneficiada por
cooperativas ou comerciantes. Algumas destas cooperativas prestam assessoria técnica para
estes produtores e até mesmo para os elos posteriores da cadeia. Nas regiões de produção
empresarial, a existência do parceiro25
ou da integração vertical entre a cotonicultura e o
beneficiamento é comum (FERREIRA FILHO et al, 2005).
A utilização de procedimentos que busquem maior qualidade final da fibra é
essencial para garantir diferencial para o produtor no momento da comercialização da fibra.
As principais características da fibra, do ponto de vista da indústria de fiação,
incluem: comprimento, uniformidade, micronaire (resistência) e cor. As medidas de
parte das características podem ser feitas visualmente em comparação com padrões
para definir um grau ou tipo e classificar a fibra. Tem-se o tipo 6 como base (na
classificação internacional seria o tipo 41-4) , ou seja, tipos como 5/6 (31-4 na
classificação internacional) são considerados como de melhor qualidade que do tipo
6 enquanto um tipo 6/7 (51-5) é um produto de pior qualidade. Outra maneira de
efetuar a classificação, sendo considerada mais objetiva, é por intermédio de um
aparelho automático denominado High Volume Instruments (HVI). Enquanto no
mercado interno, a maior parte da classificação e negociação da fibra ainda é
efetuada pelo sistema visual, as negociações externas e com grandes empresas no
mercado interno já são efetuadas com a pluma classificada pelo novo sistema
(FERREIRA FILHO et al, 2005, p.10).
Desta forma, a utilização de métodos de classificação objetiva, como o HVI,
diminui a ocorrência de comportamentos oportunistas dos agentes envolvidos nas
negociações. Para o produtor existe o controle da qualidade do algodão beneficiado pelas
algodoeiras, haja vista que esta etapa influencia na qualidade final da fibra. Para a indústria,
existe a possibilidade de se trabalhar com as fibras certas para cada tipo de produto que irá
para a linha de produção, o que aumenta a eficiência de todo o processo produtivo (FBET26
,
2004). Vale ressaltar que devido às mudanças no padrão de competição ocorridas na década
de 1990, ocorreu a necessidade de se aumentar a eficiência em todas as etapas possíveis dos
processos, o que inclui uma maior velocidade de obtenção de dados, com a finalidade de
transformá-los em informações que alimentarão todos os níveis de tomadas de decisão intra-
firma.
25
Aquele que faz o beneficiamento da pluma e a devolve para o produtor comercializá-la (FERREIRA
FILHO et al, 2005). 26
Fundação Blumenauense de Estudos Têxteis.
64
O parâmetro anterior que era simplesmente produzir foi alterado, passando a
exigir uma produção com qualidade específica (FBET, 2004ª). As qualidades intrínsecas do
fio de algodão dependem de escolhas estratégicas desde a escolha dos insumos até o
beneficiamento nas algodoeiras. A eficiência destes processos irá influenciar fortemente na
qualidade final do tecido produzido pela indústria têxtil. Assim sendo, evidencia-se a
necessidade de adoção de um padrão universal de classificação da fibra.
O termo “classificação do algodão” refere-se à aplicação de procedimentos
padronizados e desenvolvidos pelo Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos da América do Norte (USDA), para avaliar as qualidades físicas do algodão
que afetam a qualidade do produto acabado e/ou a eficiência do setor industrial. A
avaliação dos fatores de qualidade é realizada através de instrumentos de precisão e
de alta capacidade de análises; este método é denominado, geralmente, classificação
HVI (EMBRAPA, 2006, p. 12 e 13).
O padrão universal de classificação é composto por dezessete padrões físicos27
,
nove padrões físicos que são apenas descritivos e outros cinco que são considerados abaixo do
padrão (EMBRAPA, 2006).
27
São dezessete os padrões físicos universais, quais sejam: 11, 21, 31,41, 51, 61, 71, 81, 13, 23, 33, 43, 53, 63,
34, 44, 54 e os outros são descritivos (12, 22, 32, 42, 52, 62, 24, 25 e 35). Os padrões 81, 82, 83, 84 e 85 são
considerados abaixo do padrão. Exemplos de interpretação: 11 - Algodão branco do tipo 1; 71 - Algodão branco
do tipo 7; 63 - Algodão Creme do tipo 6; 32 - Algodão ligeiramente creme do tipo 3 e finalmente 84, Algodão
abaixo do padrão (EMBRAPA, 2006, p.13).
65
Tabela 4.3. Códigos dos padrões físicos universais de classificação de algodão
com legenda de denominação em português e inglês, acompanhado das siglas
correspondentes.
Código Cor
11 Boa média – GM (good middling)
21 Estritamente média – SM (strict middling)
31 Media – M (middling)
41 Estritamente abaixo da média – SLM (strict low middling)
51 Abaixo da média – LM (low middling)
61 Estritamente boa comum – SGO (strict good ordinary)
71 Boa comum – GO (good ordinary)
81 Abaixo de padrão
12 Boa media ligeiramente creme – GM LT SP (good middling light spot)
22 Estritamente média ligeiramente creme – SM LT SP (strict middling light spot)
32 Média ligeiramente creme – M LT SP (middling light spot)
42 Estritamente abaixo da média, ligeiramente creme – SLM LT SP (strict low midd. light
spot)
52 Abaixo da média ligeiramente creme LM LT SP (low middling light spot)
62 Estritamente boa comum – SGO LT SP (strict good ordinary light spot)
82 Abaixo do padrão
13 Boa média creme – GM SP (good middling spot)
23 Estritamente média creme – SM SP (strict middling spot)
33 Média creme – M SP (middling spot)
43 Estritamente abaixo da média creme (strict low middling spot)
53 Abaixo da média creme – LM SP (low middling spot)
63 Estritamente boa comum creme – SGO SP (strict good ordinary spot)
83 Abaixo do padrão
24 Estritamente média avermelhada – SM TG (strict middling tinged)
34 Média avermelhada – M TG (middling tinged)
44 Estritamente média avermelhada – SLM TG (strict low middling tinged)
54 Abaixo da média avermelhada – LM TG (low middling tinged)
84 Abaixo do padrão
25 Estritamente média amarelada – SM YS (strict middling yellow stain)
35 Média amarelada – M YS (middling yellow stain)
85 Abaixo do padrão
Fonte: FBET, 2008.
66
Tabela 4.4. Códigos de determinação de tipos de algodão.
Branco Ligeiramente
creme
Creme Avermelhado Amarelado
11 12 13
21 22 23 24 25
31 32 33 34 35
41 42 43 44
51 52 53 54
61 62 63
71
81 82 83 84 85
Fonte: FBET, 2004a.
Tabela 4.5. Códigos de classificação Universal HVI.
Padrões HVI
11-1
11-2
21-2
31-2
31-4
41-4
51-5
61-6
61-7
71-7
BG Fonte: UNICOTTON
28, 2004.
Para a classificação HVI, o primeiro número indica o tipo, o segundo indica o
grau de cor29
e o terceiro indica o grau de folha30
(FBET, 2004a).
28
Cooperativa de Produtores de Algodão. 29
Cor: 1–Branco 2–Ligeiramente creme 3–Creme 4–Tingido (avermelhado)(FBET, 2004). 30
O valor LEAF ou índice de folhas é um conceito utilizado pelo United States Department of
Agriculture (USDA) e corresponde a quantidade de folhas encontrada na superfície de uma amostra de algodão
em pluma. Também é comum encontrar-se talos e fragmentos de cascas. O código Leaf em correlação ao Grau
67
A Bolsa de Mercadorias e Futuros (BMF) aplica ágios e deságios de acordo com a
classificação do algodão comercializado. Neste sentido, o valor da fibra comercializada leva
em consideração o grau de cor, grau de folhas, comprimento da fibra e resistência da fibra.
Tabela 4.6. Ágios e Deságios, Padrões Universais em pontos em R$/libra-peso. Tipos Brancos Folha Tipo 1 e 2 3 4 5 6 7
Cor boa média 11
Cor estritamente média 21 400 300
Cor média 31 300 200 150
Cor estritamente abaixo da
média
41 50 base -50
Cor abaixo da média 51 -150 -
200
-300
Cor estritamente boa comum 61 -
400
-450 -650
Cor boa comum 71 -900 -1000
Abaixo do padrão 81 n n
Cor Ágio e
Deságio
1-Branco Base
2-Ligeiramente creme -100
3-Creme -300
4-Avermelhado -900
5-Amarelado -900
Fibra Ágio e
Deságio
1" -700
1,1/32 -500
1,1/16 -250
De 1,3/32 a 1,1/8 Base
1,5/32 300
Micronare (Valor abaixo ou
acima)
Desconto
(%)
0,1 0,5
0,2 1
0,3 2
0,4 3
0,5 4
0,6 5
Fonte: BMF, 2010.
Estes critérios utilizados na comercialização demonstram o quanto a qualidade do
produto é levada em consideração pelos agentes. Um olhar atento permite perceber que, com
de Cor possibilita a avaliação da qualidade comercial, indicando o Grade ou o Tipo utilizado na Classificação
Comercial dessa fibra (UNICOTTON, 2004, p. 9).
68
exceção à finura da fibra, que deve ser a mais próxima possível dos valores acertados no
momento da venda, quanto melhores os padrões atingidos pelos produtores, maiores serão os
ágios recebidos.
Além das características já citadas, algumas outras são importantes na obtenção de
maior qualidade no produto final da indústria têxtil, como o Índice de Fibras Curtas31
, a
Reflexão Ultra Violeta32
, a Caramelização33
, cor, grau de uniformidade da fibra e fricção da
fibra, entre outras (FBET, 2004a e 2004b).
A especificidade dos ativos envolvidos nos elos industriais do setor agroindustrial
têxtil é elevada. A depender da tecnologia utilizada pelas plantas industriais, ocorre uma
mudança de prioridades no que diz respeito às qualidades intrínsecas da fibra de algodão.
Tabela 4.7. Os sistemas de fiação e suas prioridades nas características das fibras
ordem decrescente de importância
ANEL OPEN END AIR – JET FRICÇÃO
Comprimento Resistência Resistência Resistência
Distribuição Finura/maturidade Comprimento Finura/maturidade
Resistência Limpeza Distribuição Limpeza
Finura/maturidade Comprimento Limpeza Comprimento
Alongamento Distribuição Fricção Fricção
Limpeza Alongamento Finura/maturidade Distribuição
Cor Cor Alongamento Alongamento
Cor Cor
Fonte: FBET, 2004b.
Em termos de velocidade, em um filatório de anel convencional, a velocidade
máxima atingível é de cerca de 19 a 25 metros de fio/minuto; no open-end de 130
metros de fio/minuto; de jato de ar de 180 metros de fio/minuto; e, no filatório por
fricção de 300 metros de fio/minuto. Os filatórios em anéis realizam o estiramento
do pavio de algodão conjugado com uma torção do fio. Esses filatórios são bastante
versáteis, possuindo como característica predominante a possibilidade de produzir
fios de todo tipo de espessura. Os filatórios open-end possuem uma maior
produtividade que os filatórios em anéis, em decorrência de poderem atingir maior
velocidade de produção. Esse tipo de equipamento, também elimina algumas etapas
da fiação a anel. Sua produção está limitada a fios mais grossos com resistência
inferior ao fio de mesma espessura, quando produzido no filatório a anéis. Esses fios
são destinados em grande parte à produção de jeans. Os filatórios jet spinner
apresentam maior produtividade do que os anteriores, também podem ser destinados
à produção de fios mais finos (IEL, CNA, SEBRAE, 2000, p.89).
31
Tem uma grande influência na quantidade de perda de material no processo. Por exemplo, se
passamos de um índice de 7% para 11% em uma fiação penteada teremos um aumento de perdas considerável.
Além disso, não podemos esquecer que este fator influenciará na pilosidade do fio, o que hoje é um dos maiores
motivos de reclamações por parte de clientes principalmente quando se trata de produtos exportados (FBET,
2004, p.4). 32
Pode causar problemas na tonalidade do tecido (FBET, 2004). 33
Causa grandes perdas de produção e de qualidade, pois causa o enrolamento nos cilindros causando
aumento de rupturas e irregularidades do fio (FBET, 2004).
69
Desta forma, na etapa de fiação, as características da fibra se constituem em
váriável fundamental para a elaboração de planejamento de produção otimizado, com
menores custos possíveis e maior qualidade de fio. Os custos com matéria-prima representam
de 50% a 70% dos custos totais na fabricação de fios (FBET, 2004b).
A redução de custos em um ambiente competitivo constitui elemento competitivo
importante na adoção de diversas estratégias competitivas como àquelas baseadas no fator
preço. Em mercados menos competitivos a redução de custo representa, a priori, um aumento
na taxa de lucro obtida. Mais que isso, ao se visualizar toda a cadeia, desde a aquisição de
insumos adequados por parte do produtor agrícola até a produção de tecido, existem variáveis
que determinam a qualidade do produto final. Desta forma, o pensamento estratégico deve ser
uma ação conjunta destes agentes, de modo a aumentar a competitividade do setor como um
todo.
A figura 4.1. trás o fluxo produtivo em uma fiação e tecelagem. Da Sala de
Abertura34
até a etapa de Autocoro35
trata-se de etapas da fiação. As etapas seguintes já fazem
parte do processo produtivo da tecelagem. Importante frisar que, embora a verticalização da
produção de fios e tecidos36
seja uma alternativa encontrada por grandes empresas para
aumentar sua competitividade após a abertura econômica realizada na década de 1990, médias
e pequenas empresas possuem tendência de se especializar em apenas um destes elos, de
modo a buscar a diferenciação produtiva e manter-se competitiva em pequenos nichos de
mercado não atendidos pelas grandes empresas do setor (IEL, CNA, SEBRAE, 2000).
Desta forma, o fluxograma apresentado pela figura 4.1 é a integração de dois elos
produtivos do setor agroindustrial têxtil que não atuam de forma integradas em todos os tipos
de organização.
34
Pré-Abertura dos flocos de algodão e mistura de diferentes fibras (ANDRADE, 2002) 35
É a etapa da transformação das fitas que são produzidas nos passadores em fios, através de
estiramento e torção das fibras. O fio é enrolado em bobinas e enviado para a Urdideira (ANDRADE, 2002). 36
Essa integração pode abrangir todos os elos à montante da fiação em empresas de grande porte (IEL,
CNA, SEBRAE, 2000).
.
70
Figura 4.1. Fluxograma resumido do processo produtivo de uma fiação e tecelagem.
Fonte: Andrade, 2002, p. 13.
O processo Urdideira37
é a primeira etapa pós-fiação. Com a necessidade de
aumento da eficiência em cada processo, desde o início da produção deve existir o
planejamento no intuito de adequar cada um destas etapas à necessidade do cliente final da
cadeia. Assim sendo, na Urdideira inicia-se a especificação do tecido produzido, pois o
número de fios que são alocados em cada rolo de urdume é diferenciado para cada tipo de
tecido (ANDRADE, 2002).
A engomadeira é o processo destinado a reunir os carretéis de fios produzidos
na etapa anterior e engomá-los, para que sua resistência seja aumentada. Na tecelagem ocorre
37
Na urdideira, o fio vindo do autocoro é reunido em um único carretel, de modo que se possa formar o urdume
(largura) do tecido. Detalhando, tem-se que necessariamente explicar que, para cada tipo de tecido que se
produz, exige-se uma quantidade de fios que comporá o urdume (largura) (ANDRADE, 2002, p.17).
71
o processo de produção do tecido cru através do entrelaçamento entre o urdume (largura) e a
trama (comprimento). Cada tipo de tecido exige processos diferenciados de tecelagem
(ANDRADE, 2002).
A sala de pano cru é o local onde será realizada a estocagem do tecido cru e
aferição da qualidade do tecido. Outra finalidade desta sala é realizar as emendas e o
enrolamento do tecido em grandes quantidades métricas, onde receberá o correto acabamento
de acordo com sua destinação final (acabamento de tecido cru, alvejado ou estampado). Isso
posto, a Sala de pano cru é estratégica para a organização, pois deve ser mantido um estoque
otimizado no sentido de não existir gastos desnecessários na formação destes e garantir a
oferta de produto na quantidade e qualidade demandadas pelos clientes (ANDRADE, 2002).
72
5. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA REALIZADA
COM OS PRODUTORES DE ALGODÃO DE MATO GROSSO
Entender a estratégia competitiva de um setor significa, antes de mais nada,
compreender as características de cada elo que o compõe, bem como as expectativas e
percepções que estes agentes têm do ambiente institucional onde atuam.
No caso do setor agroindustrial têxtil do sudeste mato-grossense, este desafio de
traçar a estratégia competitiva passa fortemente pelos fornecedores de matéria-prima, pois o
nível de verticalização é baixo. Nível de verticalização é interpretado como a distância entre o
elo mais a jusante do fornecimento de matéria-prima e o próprio elo de produção de algodão.
Neste sentido, a região do Sudeste de Mato Grosso dispõe de um grande número de
algodoeiras que, em sua imensa maioria, são fruto de investimentos dos próprios
cotonicultores, agindo de forma isolada ou em forma de cooperativa.
Embora estas algodoeiras sejam verticalizações o valor agregado por estas não é o
adequado para o porte do setor. Como grande produtor de fibra de algodão, Mato Grosso
necessita de investimentos nos elos mais a jusante da cadeia têxtil, como as fiações e
tecelagens. Esta necessidade de investimentos é demonstrada na presença de apenas uma
fiação e tecelagem38
em todo o Estado.
Sendo assim, o estudo do setor produtor pode ser entendido como o estudo do
setor como um todo, pois praticamente todos os elos a jusante à produção são controlados por
produtores.
Neste ínterim, foi aplicado um questionário com 33 questões aos produtores
filiados à AMPA, através de parceria realizada entre a Universidade Federal de Mato Grosso e
a referida entidade. A meta desta ferramenta acadêmica foi subsidiar a análise da estratégia do
setor agroindustrial têxtil do sudeste de Mato Grosso, que será realizada após a exposição e
discussão dos dados obtidos.
Para otimizar a análise o questionário foi divido em quatro temas: Perfil do
Produtor, características estratégicas de Gestão e Produção, relacionamento com agentes
exógenos à firma e Sustentabilidade. Estes grandes temas são tidos como essenciais para o
bom andamento do estudo.
A definição do perfil do produtor é condição necessária para que não haja
interpretações dúbias quanto às respostas obtidas. Mesmo se tratando, em sua grande maioria,
38
Grupo Santana Textiles.
73
de questões objetivas, as respostas oferecidas ao questionado possuem certo grau de
complexidade em alguns pontos. A não observação deste perfil pode levar à conclusões
errôneas.
As características estratégicas de Gestão e Produção são aquelas de
responsabilidade da firma. Embora o ambiente institucional interfira endogenamente nestas,
os insights e alternativas estratégicas, a priori, divergem de firma para firma, pois os
tomadores de decisão possuem experiências, perfis e formações diferentes entre si. A decisão
estratégica de uma organização deve ser formulada ex ante a formação de sua estrutura. Esta
afirmação, embora verdadeira, nem sempre é verificada na prática, seja por falta de recursos e
capacidade de endividamento, seja pela não atenção por parte do proprietário do negócio,
desta sutil e primordial questão estratégica.
A estrutura não deveria ser dada, deveria ser conseqüência de uma estratégia
competitiva traçada para atender ao planejamento da instituição. Dentro do setor cotonicultor
de Mato Grosso a maioria dos produtores não plantam somente um cultivo. A produção de
algodão, inclusive, muitas vezes não se trata da principal atividade agrícola deste produtor.
Esta situação leva a um maior endividamento daquele produtor que busca a maior
diversificação possível, pois a especificidade dos ativos do algodão é elevada, principalmente
no que tange à colheita da herbácea. Nesta situação de elevada especificidade de ativos,
diversidade de cenários entre produtos diferentes e alta competição as estratégias
microeconômicas ganham relevância, sendo portando o foco das questões relacionadas a este
tema.
O terceiro assunto questionado se trata do relacionamento com agentes exógenos
à firma. Agentes exógenos à firma, neste contexto, se tratam daqueles que fazem parte do
ambiente institucional, mas não são responsáveis diretamente pelas estratégias intra-firma.
Ressalta-se que, embora não influenciem diretamente as escolhas de produção e gestão, estes
agentes desempenham um papel indireto e relevante nestas escolhas.
Pensar a melhor estratégia para todo um setor se torna um desafio à medida que os
interesses dos agentes divergem. Embora seja desafiador, este alinhamento de estratégias se
torna possível com o conhecimento das estratégias individuais dos agentes e como elas vêm
se relacionando com outros elos dentro do setor têxtil, sendo este o escopo das perguntas
deste bloco.
No que tange a seção de sustentabilidade, o foco das questões foram no modo de
produção e em questões reflexivas direcionadas ao produtor. O intuito é perceber de que
forma este produtor observa as externalidades do seu negócio. A cotonicultura empresarial
74
utiliza grandes quantidades de insumos químicos que tem efeitos positivos na produtividade e
negativos para aqueles que o manuseiam e o ambiente onde eles são aplicados. Outrossim,
embora a atividade agrícola seja responsável por germinar diversas atividades empresariais
que se relacionam com a agricultura e não fazem parte do setor, a massa salarial gerada
diretamente por ela não é compatível com os investimentos realizados pelos produtores.
A relação entre capital e trabalho é fortemente favorável ao capital. O aumento
tecnológico, ceteris paribus, eleva a lucratividade do negócio, porém como este é intensivo
em capital estes resultados são apropriados quase inteiramente pelo capitalista, restando
menos para o trabalhador envolvido na atividade. Isso posto, estas questões relacionadas à
sustentabilidade se referem a esta percepção do produtor quanto à sustentabilidade Ambiental,
Financeira e Social do seu negócio.
Em relação ao perfil dos produtores e considerando apenas a safra de 2009 como
parâmetro, a área média plantada de algodão foi de 5767,44 hectares, sendo que as menores
áreas possuem aproximadamente 300 hectares enquanto as maiores aproximadamente 28380
hectares.
0
5
10
15
20
25
30
0 5 10 15 20 25
Gráfico 5.1. Área Plantada (em mil ha) dos Produtores de algodão de Mato Grosso em 2009.
Fonte: Elaboração do autor, baseado em dados da pesquisa de campo.
Observa-se que 70% dos produtores plantaram até 5 mil hectares de algodão. Este
quadro revela que a base produtiva do Estado, no setor cotonicultor, é a grande propriedade
rural, pois mesmo estes empresários que se encontram abaixo dos 5 mil hectares plantados
não se enquadram na categoria de pequenos produtores, sendo que apenas 10% deles
cultivaram menos do que 500 hectares da herbácea.
75
Apesar de o setor têxtil apresentar oscilações no que tange a área cultivada ao
longo da década, 75% dos produtores não diminuíram suas áreas plantadas em 2010. Quanto
aos outros 25% que reduziram suas áreas cultivadas, esta redução foi de aproximadamente
11%.
Um aspecto interessante dos dados obtidos foi a concentração de produtores que
reduziram suas áreas plantadas abaixo de 5 mil hectares. Embora não se possa afirmar que
exista uma correlação negativa entre o aumento de área cultivada e a variação da área
plantada no setor, esta observação é cabível para os anos 2009 e 2010, pois 25,8% daqueles
que produziram abaixo de 5 mil hectares reduziram suas áreas em 2010 em relação a 2009,
enquanto na faixa dos que produziram acima disso não houve redução, fato que pode estar
relacionado disponibilidade de capital de giro ou acesso a este.
Admite-se que a cotonicultura tenha como característica os ganhos de escala,
sendo crível, neste caso, que ela seja mais lucrativa à medida que a quantidade produzida
aumente. No entanto, a cotonicultura mato-grossense é costumeiramente tratada como um
setor produtivo formado por grandes propriedades rurais altamente tecnificadas, sendo estas
características utilizadas como argumento para justificar a lucratividade nesta região. Sendo
assim, pode-se afirmar que os altos custos de produção aliados à forma de produção estadual,
necessita de maiores escalas do que outras culturas, como a soja e o milho.
Aproximadamente 95% dos produtores de algodão são associados de alguma
cooperativa. Esta característica permite ganhos nas negociações na compra de insumos e
vendas dos produtos. Outrossim, esta característica de cooperação traz resultados positivos
para o setor, como a maior mobilidade para reivindicação de benefícios para a categoria e o
alinhamento das estratégias destes produtores.
Entre outras coisas, a comercialização conjunta permite a inserção em mercados
onde isoladamente o produtor não conseguiria vender seu produto. O mercado de plumas de
algodão é bastante competitivo e se relacionar com estes clientes externos como uma
instituição única reduz custos operacionais e de transação, além de facilitar o processo de
aquisição de confiança entre os agentes.
Uma das questões envolvidas na associação, além das já citadas, é a diminuição
dos custos em classificação para o produtor. Algumas cooperativas possuem laboratório
próprio de classificação e oferecem este serviço de forma subsidiada para os seus associados.
Outro reflexo da alta adesão dos produtores a cooperativas é o elevado percentual de
classificações HVI utilizadas na venda da pluma de algodão. Cerca de 95% dos produtores a
utilizam para todas as vendas.
76
No entanto, o motivo da não utilização de HVI para todas as vendas revela alguns
problemas que necessitam serem sanados pelo setor. Estes produtores alegaram não receber
ágio por ofertar um produto de qualidade superior. Para vendas internacionais os produtores
não têm alternativa a não ser classificar o algodão vendido. Porém, quando se trata de vendas
para o mercado interno esta obrigatoriedade se torna bastante relativizada. Muitos
compradores não repassam aos produtores ganhos de qualidade das características intrínsecas
da fibra comercializada, tornando a classificação um custo sem retornos.
Outrossim, este cenário revela outro problema: a falta de confiança entre os
agentes. Ao não utilizar os padrões internacionais de classificação a negociação fica sujeita a
análises visuais que possuem maior subjetividade. Esta subjetividade leva a desentendimentos
entre compradores e vendedores sobre qual, de fato, é a classificação da pluma
comercializada. Dessa forma, o desentendimento entre os agentes do setor têxtil constitui uma
ameaça à estabilidade do ambiente institucional.
Tabela 5.1. Síntese do perfil dos Produtores de algodão de Mato Grosso
Área Média Plantada Média 5767,44 hectares
Até 1000 hectares 15%
De 1001 a 5000 hectares 55%
Acima de 5001 hectares 30%
Nível de associação a Cooperativas 95%
Acesso a laboratórios de
Classificação
95%
Variação Produtiva Negativa 25%
Fonte: Pesquisa de campo.
Dentro das características estratégicas da Gestão e Produção o conhecimento do
processo de construção da tomada de decisão é uma informação essencial para compreender o
fluxo da formação da estratégia. Neste ínterim, em 90% dos casos o proprietário participa do
processo decisório que visa escolher a cultura a ser produzida. Os administradores participam
da decisão em 20% dos casos, enquanto especialistas são ouvidos em 15% delas.
77
Tabela 5.2. Participação Percentual do Proprietário, Administradores e
Especialistas no Processo decisório da firma.
Participação na Tomada de Decisão
Proprietário 90%
Administradores 20%
Especialistas 15%
Fonte: Pesquisa de campo.
Este cenário revela que, mesmo se tratando de empresários rurais, o processo
decisório é bastante centralizado no setor. Não existe a descentralização de decisão, situação
esta evidenciada pela tabela 5.2 apresentada. Esta característica pode ou não ser um problema,
a depender do nível de conhecimento dos proprietários. Naqueles casos onde o grau de
instrução e conhecimentos em análise estratégica do proprietário são elevados, é interessante a
tomada deste empresário nas decisões. No entanto, nem sempre este é o caso. Quando o grau
de conhecimento daquele que toma a decisão é baixo é imprescindível a participação dos
administradores do negócio bem como de especialistas em diversas áreas.
É necessário frisar que não se possuem dados suficientes para chegar a uma
conclusão quanto à adequabilidade do número de administradores e especialistas na
formulação da estratégia dentro de cada firma, sendo cada uma delas um caso a ser analisado
especificamente. A firma, como complexo de contratos, só pode ser analisada a partir de
dados específicos, mesmo porque o foco desta pesquisa é o entendimento e adequação da
estratégia de todo o setor estadual e não um estudo de caso de firma individual.
Isso posto, considera-se a questão da centralização do processo decisório dentro
do setor cotonicultor de Mato Grosso como característica estratégica não ideal.
Ainda na tomada de decisão, vários aspectos devem ser observados para que esta
seja tomada de forma satisfatória. Dentre estes aspectos, 80% consideram relevante o preço
do algodão em relação a outras culturas, como a soja e o milho, 20% levam em consideração a
previsão de safra feita por órgãos governamentais, 5% consideram previsões feitas por
consultorias privadas e 10% tomam a decisão em conjunto com outros elos da cadeia, como
Algodoeiras, Fiações e Tecelagens.
78
Tabela 5.3. Aspectos considerados na tomada de decisão.
Preço Previsto 80% dos produtores levam em consideração
Previsão Governamental 20% dos produtores levam em consideração
Previsão Privada 5% dos produtores levam em consideração
Decisão Conjunta 10% dos produtores levam em consideração
Fonte: Pesquisa de campo.
A cultivar escolhida para o cultivo tem relação direta com as características do
produto final e com os custos, haja vista que existem variedades que podem diminuir a
necessidade de insumos. Estas variedades podem apresentar produtividade reduzida em
comparação com outras que são menos resistentes a pragas e doenças, sendo este trade off
entre produtividade e custos importante objeto de análise.
Assim sendo, 55% dos produtores optam por variedades que já testaram e
aprovaram anteriormente, 20% utiliza àquelas recomendadas por Associações, Cooperativas e
Agrônomos, 30% promovem estudos próprios no sentido de escolher a cultivar ideal.
Interessante frisar que os produtores não vêm utilizando a recomendação de Instituições
Públicas para este fim.
Tabela 5.4. Aspectos considerados na escolha da cultivar.
Experiências Passadas 55% dos produtores levam em consideração
Recomendações Privadas 20% dos produtores levam em consideração
Recomendações Públicas 0% dos produtores levam em consideração
Decisão conjunta 30% dos produtores levam em consideração
Lucratividade 5% dos produtores levam em consideração
Fonte: Pesquisa de campo.
Para que as estratégias das organizações acarretem em resultados positivos é
imprescindível que membro destas organizações detenha conhecimento suficiente para
desempenhar suas atividades. Parte-se do pressuposto que cada colaborador possua os
requisitos necessários para o desempenho de sua função. No entanto, a aprendizagem
organizacional depende da evolução de cada um dos membros, fazendo assim que o
treinamento constante seja um fator positivo a ser buscado pelas instituições.
Cerca de 95% das empresas agrícolas treinam seu capital intelectual. Não foi
objeto de questionamento o conteúdo e finalidade deste treinamento nem sua quantidade em
79
determinado intervalo de tempo. Este percentual de treinamento é bastante significativo e
constitui ponto forte do setor.
Um controle rigoroso dos custos é elemento central na adequabilidade da
estratégia traçada às contingências que surgem no decorrer da execução das atividades
organizacionais. Sem o conhecimento de como cada elemento produtivo eleva o custo de
produção não se pode promover a melhoria nos processos. Sem consciência exata do valor
nominal dos custos é impossível determinar uma estratégia adequada de vendas. Quanto
maior a diferença entre as receitas e os custos, maior será a lucratividade da firma.
Aproximadamente 95% dos produtores rurais possuem controle rigoroso de custos, utilizando
planilhas e/ou softwares desenvolvidos especialmente para isso.
Tabela 5.5. Controle de Custo através de Softwares Específicos e Planilhas
Softwares Específicos 47,37% dos produtores utilizam
Planilha de Custos 63,16% dos produtores utilizam
Fonte: Pesquisa de campo.
Sendo as qualidades intrínsecas da fibra tão importantes para a lucratividade do
negócio é necessário que exista um controle ex antes, na medida do possível, destas
características. A forma como os cotonicultores mato-grossenses fazem este controle é através
da utilização de classificação visual e HVI, tratos culturais corretos, condução da lavoura,
beneficiamento, utilização de fertilizantes, defensivos e micronutrientes e também na escolha
da variedade.
No que tange a etapa de beneficiamento, a cotonicultura mato-grossense apresenta
características ímpares. Aproximadamente 75% da produção estadual é beneficiada pelos
próprios produtores. Corroborando com a afirmação feita no início deste capítulo, esta
informação significa que a os elos produtivos e de beneficiamento estão integrados. Como o
beneficiamento de algodão requer ativos bastante específicos e impacta diretamente na
qualidade da pluma obtida, considera-se esta maciça integração vertical de produção e
beneficiamento um ponto forte para o setor, pois resulta em maior nível de qualidade da fibra
produzida. Complementarmente, 25% dos produtores terceirizam sua produção.
80
Tabela 5.6. Propriedade de Algodoeiras por tamanho de área plantada em Mato
Grosso.
Algodoeira Própria Terceirização de Beneficiamento
Até 1000 hectares 33% 66%
De 1001 a 5000 hectares 81,8% 18,2%
Acima de 5000 hectares 83,3% 16,7%
Fonte: Pesquisa de campo.
Como conseqüência da utilização destas ferramentas elencadas acima, Mato
Grosso se destaca na qualidade da pluma obtida, constantemente acima do padrão mundial.
Tabela 5.7. Tipos de algodão obtidos pelos produtores de Mato Grosso.
Tipo de Algodão Percentual Obtido
11-1 0%
11-2 0%
21-2 15%
31-2 25%
31-4 85%
41-4 60%
51-5 5%
61-6 5%
61-7 5%
71-7 0%
Fonte: Pesquisa de campo.
Como as negociações no mercado têm como padrão o algodão de classificação
41-4, observa-se que os produtores conseguem costumeiramente resultados melhores que este.
Isto significa uma melhor remuneração, pois o mercado normalmente paga ágio por
características de pluma superiores ao padrão.
Esta situação nem sempre é realidade para o mercado interno, como dito
anteriormente, tornando este tipo de negociação mais custosa para os agentes envolvidos.
Mesmo com 60% dos produtores percebendo a remuneração recebida por oferecer
pluma com qualidade superior como justa, 85% dos produtores estariam dispostos a investir
ainda mais na qualidade da fibra se houvesse incentivos externos para isso. De fato o mercado
81
externo já possui a prática de remunerar melhor aquela matéria-prima que apresente qualidade
acima da média. No entanto estes incentivos externos devem ser interpretados não somente
como estes vindos do mercado internacional, mas como aqueles vindos do ambiente
institucional, incluindo o governo estadual como seu agente. Desta forma, incentivos externos
são definidos aqui como a possibilidade de melhoria da remuneração externa, de melhores
práticas de remuneração interna e de incentivos do poder público para a produção com
qualidade extra.
Embora no momento não exista praticidade neste questionamento, a possibilidade
de alteração do padrão de produção aumenta as opções estratégicas do setor para a definição
de um modo de governança que busque o longo prazo sustentável. Esta opção estratégica
permite, por exemplo, a viabilidade de indústrias de fios e tecidos específicos e de alto valor
agregado que necessitem de pluma com qualidades intrínsecas diferentes das que são
produzidas atualmente.
O produtor utiliza diversas estratégias de venda para conseguir melhores
resultados dentro do mercado. Uma estratégia comum é o uso de diversas formas de
negociação, procurando manter abertas todas as possibilidades de venda. Este mercado não é
simples, pois diversos agentes o compõem: o produtor, compradores, cooperativas, tradings e
intermediários. A interação entre estes agentes por vezes é complicada, pois seus interesses
divergem.
Tabela 5.8. Responsabilidade de Vendas de Produtos têxteis utilizados pelos
produtores de algodão de Mato Grosso.
Comercialização
Pelo próprio produtor 80%
Através de Cooperativas 55%
Associação com outros produtores 5%
Intermediários 15%
Fonte: Pesquisa de campo.
Acompanhando a tendência centralizadora nas escolhas de produção, 80% dos
empresários rurais utilizam, além de outras formas, a negociação pessoal. Este tipo de
negociação permite que o produtor evite gastos indiretos que poderiam tirar a lucratividade da
venda. Não obstante, é importante salientar que o custo de oportunidade sempre está presente
em qualquer escolha estratégica. Quanto custa para o produtor toda esta centralização? Qual
82
tipo de atividade poderia estar sendo por ele desenvolvida no tempo destinado às
negociações? Este tipo de questionamento leva o produtor a descentralizar parcialmente esta
função, como se vê na tabela 5.8.
As cooperativas estão presentes nas negociações de 55% dos produtores.
Comparando esta informação com outras elencadas no texto, pode-se fazer uma comparação.
Considerando que 95% dos produtores são associados a alguma cooperativa, esperava-se que
estas estivessem mais presentes na negociação do produto, principalmente pelo seu elevado
poder de barganha e formação de reputação. Dessa forma, mesmo podendo descentralizar
estas atividades, pouco mais que a metade dos produtores dos produtores (55%) optam por
fazê-lo. Obviamente qualquer descentralização envolve custos e estes estão sendo
considerados onerosos pelo produtor. Se de outra forma fosse, se esperaria que este percentual
fosse mais próximo aos 95% obtidos no nível de cooperativismo.
Outra estratégia que, embora pouco utilizada (5% das vezes), possui aspectos
positivos é a associação para venda. Nestes casos, diversos produtores negociam
conjuntamente com o intuito de conseguir um maior poder de barganha. Outra vantagem do
método é que se podem evitar custos diretos de negociação, como as comissões cobradas por
algumas cooperativas e intermediários, porém com maiores custos de transação, pois as
negociações serão conduzidas pelo próprio grupo de produtores ou por seus representantes.
Parece crível afirmar que a utilização de intermediários é a pior alternativa
possível. Além do fato de gerar menores custos de transação, todas as outras características
deste tipo de negociação são mais custosas ao produtor. Parte-se do princípio que para o
intermediário lucrar mais, vendedor e/ou comprador devem lucrar menos. Por esta razão 15%
dos produtores utilizam tal estratégia negocial.
Tão importante quanto entender a forma de gestão do produtor é compreender a
maneira como o próprio percebe seu negócio. Como a racionalidade dos agentes é limitada, a
estratégia é calcada sobre as expectativas de seu formulador. Estas expectativas nada mais são
do que a forma como o empresário percebe seu negócio e o ambiente onde está inserido.
83
Tabela 5.9. Aspectos que dariam maior competitividade para a firma na opinião
dos produtores de algodão de Mato Grosso.
Aspectos Percentual
Custo de Produção 85%
Qualidade 60%
Flexibilidade 30%
Cooperação Horizontal 30%
Cooperação Vertical 35%
Fonte: Pesquisa de campo.
De acordo com os dados apresentados o foco na diminuição dos Custos de
Produção é preocupação de 85% dos cotonicultores. Não apenas na cotonicultura, o modo de
produção adotado pelos empresários rurais segue uma tendência de aumento dos custos,
ceteris paribus. Grandes extensões de terra cultivadas com apenas um vegetal causam
desequilíbrios naturais dos mais variados tipos. Embora os efeitos destes desequilíbrios
possam ser amenizados com o uso e aprimoramento da tecnologia, estes não podem ser
totalmente sanados. Porém, a natureza possui poder de adaptação, fazendo com que a
utilização de insumos de ponta seja necessária para a viabilidade financeira da produção. Esta
dependência tecnológica aliada ao fato da origem destes produtos serem geralmente
importados deixa a estratégia mais difícil de ser otimizada e os custos mais elevados.
Sendo assim, ao passo que a utilização de insumos de qualidade viabilize o modo
de produção da cotonicultura estadual, sua utilização leva a custos de produção crescentes e
deixa o produtor ameaçado pela flutuação do dólar. Não obstante existirem meios para se
minimizar esta ameaça cambial, mas não são todos os produtores que possuem recursos em
caixa para manter contratos futuros no mercado financeiro. Desta forma, pode-se afirmar que
a flutuação cambial aliada à falta de políticas de crédito a juros competitivos para cobrir
despesas operacionais constituem uma ameaça ao setor têxtil de Mato Grosso.
Continuando a análise da tabela 5.9, percebe-se que a qualidade é preocupação de
60% dos produtores. Embora um ganho de qualidade, mantendo os demais fatores constantes,
signifique um aumento no preço de venda, pelo menos no mercado internacional, a variação
marginal positiva na qualidade afeta menos os lucros do que uma variação marginal negativa
nos custos. Esta parece ser uma conclusão crível da ponderação dos dados apresentados,
mesmo porque nem sempre o produtor consegue uma remuneração adequada aos ganhos de
84
qualidade da pluma, como citado em outros pontos do texto. Desta forma, uma maior
preocupação com os custos parece uma estratégia adequada, até mesmo pela qualidade
apresentada pelo setor já ser melhor que o padrão de mercado.
A perda de flexibilidade39
foi apresentada em outros momentos do trabalho como
uma conseqüência negativa da opção do produtor em produzir algodão e manter uma oferta
estável durante certo período de tempo, no entanto 30% dos produtores se preocupam com
esta questão. Pelo fato da produção de algodão requerer ativos muito específicos, o produtor
que possui tais ativos está em uma melhor posição do que aquele que não os possui. Isso
posto, é salutar obter este nível de preocupação de produtores já fizeram a opção pelo cultivo
mais oneroso entre aqueles que possuem grande produção no Estado.
Embora não se possa afirmar, esta característica permite ao cotonicultor uma
maior gama de estratégias40
do que o sojicultor dispõe, o que pode ser parte da explicação
pela instabilidade produtiva apresentada pelo setor. Se a expectativa da safra e preço de venda
futura de algodão estiverem abaixo das da soja e milho, o empresário irá desenvolver o
projeto que tenham mais expectativas positivas envolvidas. Agora, se o algodão estiver
melhor cotado como escolha de produção, o produtor se soja não terá a opção de plantar
algodão, pelo menos não sem arcar com investimentos vultosos. Como o mercado é instável,
nada garante que o cenário que levou o produtor de soja a decidir produzir algodão se
mantenha tempo suficiente para cobrir os investimentos realizados. Isso tudo aliado ao fato de
que a produção de algodão envolve mais riscos que a da soja, leva os produtores desta serem
mais “fiéis” que os daquele.
No que tange a cooperação horizontal e vertical, elas são citadas como aspectos
que podem fazer diferença para o produtor, respectivamente, em 30% e 35% dos casos.
Percebe-se que, embora o nível de cooperativismo seja elevado, tudo indica que é causado
pelos serviços de classificação obtidos, pois como já apresentado, os produtores não utilizam
muito estas cooperativas para comercializar o seu produto. Esta conclusão é fomentada na
característica centralizadora dos produtores regionais. Isto pode explicar os dados de
cooperação horizontal, mas não os 35% obtidos na cooperação vertical, esta reside no fato de
que grande parte dos produtores possuam algodoeiras próprias ou terceirizem o serviço.
39
Flexibilidade é aqui compreendida como a oportunidade do cotonicultor atuar no plantio de outros
cultivos. 40
O custo de aquisição dos ativos para se produzir algodão é bastante superior ao custo dos ativos de
outras culturas que o substituem no Estado, como a soja e o milho. O fato cotonicultor já possuir os ativos mais
onerosos pressupõe a propriedade dos ativos menos onerosos, pois dificilmente o produtor de algodão planta
apenas tal cultivo. Desta forma o produtor de algodão pode não plantá-lo se suas expectativas de safra não forem
satisfatórias. Esta faculdade não pertence aos produtores que apenas produzem soja e milho pelo fato de não
possuírem os ativos necessários para se produzir algodão.
85
Aparentemente o setor ainda não possui altos níveis empreendedores a jusante do
beneficiamento através de algodoeiras. Esta falta de verticalização constitui um ponto fraco
do setor, pois a produção deixa de obter valor agregado dentro do Estado para ser melhor
aproveitada fora dele. Além de constituir custos de oportunidade para os produtores, esta
horizontalidade do setor deixa de impactar positivamente sobre a sociedade na forma de
empregos, renda, entre outros benefícios não aproveitados. No entanto, não cabe somente aos
produtores a responsabilidade desta situação. Estes formulam suas estratégias baseadas nos
indicativos do ambiente institucional onde estão inseridos. Se o jogo revela vantagens em
exportar in natura, a tática correta para os jogadores é exportar o produto longe dos altos
níveis de agregação de valor. Neste sentido é preciso que o Estado repense sua política de
incentivos à agricultura. Não se trata de diminuição de incentivos e sim de mudanças em sua
natureza.
Tabela 5.10. Aspectos que dariam maior competitividade ao setor têxtil mato-
grossense na opinião dos produtores de algodão de Mato Grosso.
Aspectos Percentual
Custo de Produção 60%
Qualidade 65%
Flexibilidade 20%
Cooperação Horizontal 20%
Cooperação Vertical 30%
Fonte: Pesquisa de campo.
A contrario sensu aos aspectos que dariam maior competitividade aos produtores
de maneira individual, os aspectos considerados importantes para o setor revelam uma
inversão de valores. Neste caso, os empresários consideram que a qualidade deveria ser
buscada de maneira conjunta, seguida de perto pelo pacto na diminuição dos custos de
produção. A flexibilidade e a cooperação horizontal perdem importância e a cooperação
vertical, embora também seja minimizada, passa a ser o terceiro aspecto desejado pelos
produtores.
Estes dados revelam certa falta de alinhamento das estratégias do setor. Ora, se
individualmente os custos de produção são mais importantes por que conjuntamente não
seriam? De fato, custos e qualidade são elementos centrais na formulação de estratégias, mas
esta disparidade entre as idéias individuais e as idéias que os próprios indivíduos têm do todo
86
pode constituir ameaça ao bom funcionamento das estratégias que por ventura possam ser
formuladas conjuntamente.
Tabela 5.11. Síntese das Características Estratégicas de Gestão e Produção dos
cotonicultores mato-grossenses.
Decisões de Produção Produtor
Aspecto Principal na escolha de Produção Preço
Escolha da Variedade Boas experiências com a cultivar
Treinamento dos Colaboradores Em 95% dos Casos
Controle de Custos Em 95% dos Casos
Beneficiamento Próprio 75% dos produtores
Média de Qualidade do Algodão 31-4
Comercialização Próprio Produtor
Aspecto mais importante individualmente Custo
Aspecto mais importante coletivamente Qualidade
Fonte: Pesquisa de campo.
Complementarmente às análises micro analíticas realizadas até este momento,
serão ponderadas a qualidade das interações externas das firmas. Esta pesquisa partiu da
pressuposição de instabilidade dentro da cadeia têxtil mato-grossense, porém não existiam
confirmações práticas deste pressuposto além das análises das séries de produção históricas.
Neste ínterim, os produtores foram questionados a cerca desta instabilidade e dos
motivos de sua existência. O problema foi admitido por 75% dos cotonicultores, sendo o
motivo de sua causa questão divergente entre a categoria.
87
Tabela 5.12. Causas da Instabilidade do Setor Têxtil mato-grossense segundo os
cotonicultores.
Preço 45%
Confiança entre os agentes 25%
Políticas Governamentais 45%
Atravessadores na Comercialização 25%
Custo de Produção 45%
Falta de Apoio Tecnológico 10%
Insuficiência de demanda por pluma no Estado 10%
Insuficiência de demanda por pluma no País 0%
Insuficiência de demanda por pluma no Mundo 0%
Fonte: Pesquisa de campo.
Segundo os cotonicultores as principais causas da instabilidade do setor são o
Preço, as Políticas Governamentais e os Custos de Produção. Como o principal parâmetro na
escolha da produção é o preço esperado da pluma em comparação aos seus substitutos, a falta
de apoio governamental ao produtor na utilização de mecanismos de controle de preço,
transforma o preço em uma ameaça. Embora existam programas governamentais que visam
remunerar o produtor dentro de um valor de referência, estes programas servem apenas para
garantir uma remuneração mínima, não uma remuneração adequada. Como o Estado é
considerado nesta pesquisa como um agente, este não pode ser outra coisa senão um ponto
fraco. Enfatiza-se que o Estado, além de não fomentar os produtores com o que estes de fato
demandam, adota políticas que vão contra uma estratégia vencedora a longo prazo. A
manutenção de incentivos à exportação de produtos in-natura aliada à falta de políticas que de
fato promovam industrialização a jusante do elo formado pelas algodoeiras, dificultam o
desenvolvimento do setor e da sociedade. Os custos de produção já foram previamente
comentados não sendo necessária uma reiteração dos fatos.
Os dados apontam claramente o que foi explanado no parágrafo anterior: não
existe problema de demanda externa ao Estado. A falta de demanda aliada a falta de confiança
entre os agentes levam os produtores a optarem, racionalmente, por aquilo que envolva menos
riscos e maior lucro, a exportação. A falta de apoio tecnológico também constitui um
problema para os menores produtores. Em um sistema tão dependente de tecnologia e escala,
aqueles que plantam menores extensões se vêm duplamente sufocados, pois geralmente não
88
possuem suporte adequado e não produzem em escala suficiente para viabilizar o
investimento.
Especificamente quanto à estratégia do setor, 70% dos produtores consideram a
estratégia atual uma simples soma das interações das firmas. Sendo assim, não existe
estratégia setorial, ela é tão somente o fruto da resposta de cada agente aos estímulos do
ambiente, sendo que estes agentes possuem informações assimétricas e racionalidade
limitada.
Apesar disso, 65% dos produtores consideram a estratégia atual adequada às
necessidades do setor. Estes dados aparentam ser fruto da forma centralizada que os
cotonicultores gerenciam seus negócios aliada a falta de estímulos do mercado para que haja
mudanças no status quo. Parte dos produtores que não consideram a estratégia adequada
reclamaram da falta de demanda por pluma no Estado, pois não existem fiações e tecelagens
em número suficiente para afetar o mercado.
Tabela 5.13. Fatores internos41
não controláveis pelos produtores que prejudicam
o setor têxtil de Mato Grosso.
Juros 30%
Infra-estrutura 65%
Carga tributária 90%
Encargos Sociais 35%
Fonte: Pesquisa de campo.
Dentre aqueles fatores que constituem oportunidades ou ameaças, pois não se
encontram sob controle direto da firma, a carga tributária foi indicado como problema por
90% dos produtores, seguido pela infra-estrutura, encargos sociais e juros com 65%, 35% e
30% respectivamente. Comentários serão tecidos em referência aos dois primeiros.
O Brasil possui uma das maiores cargas tributárias do mundo, no entanto no que
tange aqueles tributos que incidem diretamente na produção agrícola a realidade é diferente.
A Lei Kandir é benéfica aos produtores fornecendo competitividade em sentido amplo ao
setor. Não se pode afirmar se os produtores pleiteiam mais auxílio governamental no que
tange a relativização de alíquotas cobradas ou se pleiteiam uma política tributária mais
estratégica, sendo esta uma limitação desta pesquisa.
41
Dentro do Brasil.
89
A infra-estrutura, ou a falta dela, causa parte dos problemas que os produtores
possuem com os custos. Além da distância geográfica dos portos existentes, o modal
rodoviário, que é o majoritariamente utilizado pelo setor em Mato Grosso, é o mais caro entre
os considerados viáveis para o escoamento de grande volume de produção. Outrossim, as
estradas existentes são precárias, fazendo com que o custo com transporte se eleve ainda mais.
Não bastasse as dificuldades logísticas para se chegar ao porto, os próprios constituem um
gargalo na infra-estrutura nacional. Os portos utilizados não possuem capacidade de
carregamento compatível com a demanda brasileira.
Tabela 5.14. Fatores externos42
não controláveis pelos produtores que prejudicam
o setor têxtil de Mato Grosso.
Barreiras Alfandegárias e Sanitárias 40%
Barreira Comerciais 45%
Protecionismo Econômico dos Países Concorrentes 60%
Alguns países produtores serem os principais consumidores 5%
Fonte: Pesquisa de campo.
O mercado do internacional de algodão é complexo. A demanda existe e é
adequada aos níveis de produção, porém o fato dos países produtores serem consumidores,
trás conseqüências negativas para os cotonicultores.
Um país que demanda produtos têxteis e ao mesmo tempo mantém uma grande
produção de algodão se vê no conflito entre suprir esta demanda ou beneficiar seus
produtores. Abrir sua economia ajudaria a indústria têxtil local que poderia se beneficiar de
produtos competitivos do mundo todo. No entanto, esta decisão prejudicaria o setor produtor
que se veria ameaçado pela concorrência internacional, por vezes com padrão de
competitividade superior ao local. Estes conflitos de interesses dentro de cada país prejudicam
o livre comércio internacional. Cerca de 60% dos produtores mato-grossenses consideram
este um fator prejudicial ao sistema. Salienta-se que o Brasil não se torna exceção neste
sentido. Existem níveis de protecionismo diferentes, mas existem.
Não se pode afirmar que a não existência destes incentivos de maneira global
poderia ser considerado um fator positivo para Mato Grosso, pois nesta hipótese os incentivos
locais também deixariam de existir. Analisando algumas hipóteses das conseqüências desta
inexistência de protecionismo, poder-se-ia dizer que levaria a quebra da cotonicultura de 42
Fora do Brasil.
90
baixa expressão ao redor do mundo, perpetuando aqueles produtores que possuem maior
competência técnica e financeira. O comércio entre os países se intensificaria devido as
melhores oportunidades que as indústrias locais teriam de comprar produtos com mais
qualidade no mercado externo.
Outra hipótese poderia levar a descoberta de que, de fato, estes incentivos
afetavam fortemente a viabilidade da cotonicultura dentro de cada país, sendo portando
necessários. Se isso se verificasse, a noção de competitividade seria levada a um escopo
estrito, levando à conclusão que o modelo empregado pela cotonicultura em alguns países não
é viável, podendo inclusive inverter a noção estabelecida de o que seria cotonicultura
empresarial.
Embora interessantes estas hipóteses não passam de abstrações teóricas, pois esta
pesquisa não obteve dados que pudessem levar a uma destas conclusões ou mesmo a alguma
outra conclusão a respeito da melhoria ou perda da competitividade derivada de um não
protecionismo mundial no setor.
Barreiras Alfandegárias, Sanitárias e Comerciais podem fazer parte de uma
política protecionista. Como um dos objetivos desta pesquisa é conhecer as características do
setor têxtil regional, não seria desejável não explicitar alternativas que pudessem entender o
pensamento do cotonicultor mato-grossense sobre a questão das relações internacionais do
mercado têxtil. A diferença conceitual entre barreiras e política protecionista reside no fato de
a última ser gênero do qual as primeiras são espécies. As barreiras não são os únicos
elementos disponíveis para a formulação de uma política protecionista. Sendo assim, o âmago
da questão é entender se o produtor considera elemento negativo as políticas protecionistas
como um todo ou apenas parte delas (as barreiras). Isso posto, 45% dos produtores de Mato
Grosso consideram as barreiras comerciais impostas pelos países como prejudiciais ao
sistema, ao passo que 40% deles consideram as barreiras alfandegárias e sanitárias igualmente
prejudiciais.
Especificamente a respeito das oportunidades que pairam sobre o setor os
produtores comentaram fortemente sobre a instalação de indústrias têxteis de grande porte.
Vale salientar que, embora existam pequenas indústrias, estas não produzem artigos de grande
valor agregado. Sendo assim, existe apenas uma indústria de fios e tecidos de porte e
investimentos compatíveis com aquele que o setor necessita em Mato Grosso, localizada em
Rondonópolis, na região Sudeste do Estado.
Outra questão levantada foi a possibilidade de recuperação dos impostos estaduais
e federais aplicados nos insumos. Esta questão resultaria em uma diminuição expressiva dos
91
custos de produção, sendo este um anseio dos produtores em praticamente todas as relações
comentadas até agora. De fato uma recuperação de impostos seria ótima para o setor
cotonicultor, porém oneraria o contribuinte e o Estado.
A modelo agrícola do Estado já não gera benefícios sociais adequados, pelo
contrário, ao se relacionar o ótimo social com o ambiental pode-se considerar que a
cotonicultura estadual pode ser prejudicial no todo. Os impostos pagos pelo setor servem para
amortizar esta situação, então isentá-los desta amortização seria colocar a sociedade toda em
função da cotonicultura. Esta estratégia pode ser considerada interessante a curto prazo,
principalmente para os cotonicultores, mas a médio e longo prazo inviabilizaria a construção
de um pólo têxtil no Estado, pois com menos recursos as políticas públicas de incentivo à
industrialização seriam ainda menos eficazes do que já o são.
Não cabe aqui a discussão sobre a qualidade do gasto público e a destinação das
verbas arrecadadas pelo Estado através da cobrança de tributos sobre os insumos agrícolas,
pois não foram apresentados dados sobre o tema e nem é objeto desta pesquisa responder esta
questão. Todavia, a ineficiência na geração de empregos diretos pelo setor têxtil estadual já
foi trabalhada em outros pontos do texto. A questão central é se com maior lucratividade os
produtores re-investiriam estes valores ou simplesmente aumentariam seu capital. Como não
se pode afirmar uma coisa ou outra, a questão deverá ficar vaga, restando apenas a discussão
de hipóteses sobre este tema.
A origem do crédito para a cotonicultura do Estado é fortemente privado e
próprio, como demonstrado na tabela 5.15.
Tabela 5.15. Fontes de crédito utilizadas pelos cotonicultores de Mato Grosso.
Origem Pública 14,50% dos produtores utilizam
Origem Privada 56,50% dos produtores utilizam
Capital Próprio 28,50% dos produtores utilizam
Fonte: Pesquisa de campo.
São necessárias algumas observações a respeito da correta interpretação dos dados
desta tabela. Os percentuais apresentados não indicam uma divisão das fontes de recursos
utilizadas pelo setor e sim a quantidade de produtores que utilizam aquela fonte.
Feitas as explicações necessárias infere-se que 56,5% dos produtores utilizam
algum tipo de fonte Privada de recursos no seu negócio. A segunda fonte mais usada é o
capital próprio. O setor tem como ponto forte o baixo nível de alavancagem financeira em
92
comparação com outros congêneres. A surpresa fica por conta do baixo número de produtores
que se valem de recursos vindos das fontes oficiais de fomento.
Aproximadamente 60% dos produtores não estão satisfeitos com as fontes de
crédito disponíveis. Os principais problemas apresentados foram os altos juros cobrados, as
exigências documentais e as garantias pedidas pelo setor financeiro.
Tabela 5.16. Nível de Relação com o setor de fiação e tecelagem dos produtores
de Mato Grosso.
Somente Comercial 75%
Existe parceria tecnológica e troca de experiências 20%
Não existe relação 5%
Fonte: Pesquisa de campo.
Os dados da tabela 5.16 mostram um ponto fraco setorial. Apenas para 20% dos
produtores demonstram ter relações mais que comerciais com as fiações e tecelagens.
Importante destacar que o questionamento não limitava esta relação a Mato Grosso. A maioria
dos produtores (75%) possui apenas relações comerciais com fiações e tecelagens.
Este pequeno nível de interação entre a produção e o beneficiamento se torna um
ponto fraco à medida que as forças políticas do setor não se aproximam e as possibilidades de
parcerias verticais diminuem.
Tabela 5.17. Síntese das características de Relacionamento exógeno à firma do
setor têxtil de Mato Grosso.
Causas da instabilidade setorial Preço, Políticas Governamentais e Custos
Fatores prejudiciais internos Carga Tributária e Infra-estrutura
Fatores prejudiciais externos Protecionismo Econômico
Fontes de Crédito Majoritárias Privada e Própria
Relação com as fiações e tecelagens Somente Comercial
Fonte: Pesquisa de campo.
Quanto às formas de manejo de solo, verifica-se que o modo mais usado é o
plantio direto, seguido do convencional e do semi-direto.
93
Tabela 5.18. Modos de Manejo de Solo Utilizados pelos produtores de algodão de
Mato Grosso.
Convencional 40%
Preparo Mínimo 5%
Plantio Direto 50%
Plantio semi-direto 20%
Fonte: Pesquisa de campo.
O modelo de manejo de solo não é único dentro de cada estabelecimento agrícola,
sendo que cada área pode necessitar de técnicas diferentes de preparo da terra.
O controle das pragas e doenças é majoritariamente químico. As embalagens
destes produtos químicos são corretamente tratadas antes de ser descartadas em centros de
recolhimento.
Ao serem questionados a respeito da possibilidade de utilização de cultivares que
demandassem menor utilização de produtos químicos, mas que apresentassem produtividade
inferior ou qualidade de fibra inferior, 60% dos produtores revelaram que não utilizariam tais
insumos. Embora a maioria não demonstrar interesse, o fato de 40% dos produtores revelarem
a possibilidade da utilização de insumos menos poluentes mostra um aspecto positivo do
setor. Não se pode enquadrar este aspecto como oportunidade, pois ele é endógeno ao sistema.
Outrossim, não se pode enquadrá-lo como ponto forte, pois ainda não é uma realidade
setorial.
Tabela 5.19. Opinião dos produtores mato-grossenses a respeito da
sustentabilidade ambiental, financeira e social do setor têxtil do Estado.
Modo de Produção Ambientalmente Sustentável 75%
Modo de Produção Financeiramente Sustentável 85%
Modo de Produção Socialmente Sustentável 85%
Fonte: Pesquisa de campo.
A questão que demanda maior análise deste bloco é a que pede a opinião dos
produtores a respeito da sustentabilidade ambiental, financeira e social do setor cotonicultor
de Mato Grosso. Na opinião dos empresários rurais do Estado não existe dúvidas quanto a
sustentabilidade de seu negócio, como demonstra a tabela 5.19.
94
Esta certeza não é crível, principalmente ao considerarmos o longo prazo. Mesmo
tudo podendo variar, nada garante que a tecnologia consiga evoluir mais rapidamente do que
as adaptações da natureza. Isso pode tornar o negócio inviável financeiramente, pois ele é
fortemente dependente de tecnologia e seus custos são elevados.
A utilização de insumos altamente tecnológicos quase sempre significa utilizar
produtos químicos que causar prejuízos ambientais. O fato da maioria dos produtores não
estarem dispostos a produzir menos com custos financeiros e ambientais igualmente menores
leva a uma situação onde, no longo prazo, o solo pode não ter mais condições de ser
cultivado, o lençol freático se torne poluído e o ecossistema regional esteja debilitado. O fato
de não poder se provar que esta possibilidade não exista já é o suficiente para o setor não ser
sustentável ambientalmente.
Sem modificações na matriz de produção o negócio tende a se tornar cada vez
mais intensivo em capital e menos intensivo em mão-de-obra. Esta situação, aliada a políticas
públicas dúbias que não levem à verticalização a médio e longo prazo e a falta de integração
entre o setor produtor de bens primários e o produtor de bens secundários, pode levar a uma
realidade onde nem mesmo a massa salarial direta seja produzida. Obviamente esta mão-de-
obra seria dirigida para outras culturas ou até mesmo para outros setores. Porém, não existe
nenhum indicativo de que existe preocupação do setor com esta questão, o que torna setor
insustentável socialmente, pelo menos diante da atual macro-estratégia.
Não obstante estas hipóteses não poderem ser verificadas na prática, a
sustentabilidade presume uma certeza de viabilidade ambiental, social e financeira, entre
outras facetas possíveis, certeza esta que não existe. Sendo assim, qualquer estratégia que não
se preocupar com alguma destas questões se torna inviável antes mesmo de sua
implementação.
Tabela 5.20. Síntese das características de Sustentabilidade do setor cotonicultor
de Mato Grosso.
Modo de Manejo de Solo Direto e Convencional
Forma de Controle de Pragas e Doenças Controle Químico
Tratamento de Embalagens de Insumos Adequado em 100% dos casos
Modo de Produção Ambientalmente Sustentável Opinião de 75% dos produtores
Modo de Produção Financeiramente Sustentável Opinião de 85% dos produtores
Modo de Produção Socialmente Sustentável Opinião de 85% dos produtores
Fonte: Pesquisa de campo.
95
Assim sendo, a estratégia atual praticada pelo setor têxtil de Mato Grosso pode ser
definida através da análise dos pontos que se destacaram em cada questionamento realizado.
O ambiente institucional é formado por agentes que dispõem de tecnologia de ponta, recursos,
grandes quantidades de terra e capacidade de autofinanciamento, consideradas altas para o
setor. Estes agentes são suficientemente competitivos para enviar seus produtos, seja de forma
isolada ou conjunta, para o exterior. São bastante organizados através de cooperativas que
oferecem, entre outros benefícios, a classificação dentro dos padrões internacionais, a
aquisição de insumos a menores custos devido ao volume transacionado e a venda da
produção dos seus associados, fazendo com que estes incorram em menores custos
transacionais.
As decisões de produção e comercialização são centralizadas na figura do
empresário, fazendo com que este participe ativamente do dia-a-dia da instituição. A variável
fundamental na escolha de produção é o preço dos derivados de algodão no mercado em
comparação com seus principais substitutos. A escolha da cultivar também é baseada na
experiência do próprio produtor com ela.
Grande parte dos produtores possui controle de custos, valendo-se de tabelas ou
softwares específicos para tal finalidade. O setor é altamente verticalizado na primeira
atividade a jusante da produção, as algodoeiras. Esta verticalização é parcialmente
responsável pelos níveis de qualidade de pluma acima do nível de mercado que são obtidos no
Estado. Dentre as maiores preocupações dos produtores está o custo de produção, pois este é
bastante alto na cultura estudada devido a grande quantidade de insumos que são utilizados na
plantação. Quando se verifica a preocupação setorial, esta está calcada na qualidade, pois é
através desta qualidade que o setor consegue inserção internacional de seus produtos.
A instabilidade setorial é percebida pela maioria dos produtores que a atribuíram
como conseqüência dos preços, custos de produção e políticas governamentais. Outros fatores
prejudiciais ao setor são a falta de infra-estrutura adequada no escoamento da lavoura aos
portos e dos portos para o mercado externo e a carga tributária que incide sobre o setor,
principalmente sobre os insumos importados utilizados na lavoura. No campo externo o
principal fator prejudicial são as políticas protecionistas praticadas por alguns países
produtores.
A relação com a indústria local e nacional é somente comercial, ressalvados
poucos casos onde existe parceria, troca de informações e tecnologia. O manejo de solo é
realizado através do controle direto e do plantio convencional. O controle de pragas e doenças
que atingem a cultura é realizado através do controle químico, sendo que estas embalagens
96
são todas descartadas de maneira a não impactarem ainda mais o meio ambiente. O
compromisso com a qualidade e produtividade faz com que a maioria dos produtores rejeitem
cultivares resistentes a pragas e doenças, pois estas geralmente possuem tais níveis abaixo
daquelas que não os resistem. Finalmente, a maioria dos cotonicultores consideram seus
negócios sustentáveis ambientalmente, financeiramente e socialmente.
97
6. ANÁLISE DOS PONTOS FORTES, FRACOS, OPORTUNIDADES E
AMEAÇAS DA ESTRATÉGIA COMPETITIVA DO SETOR AGROINDUSTRIAL
TÊXTIL DE MATO GROSSO
Através de pesquisa bibliográfica e de pesquisa realizada com os cotonicultores
mato-grossenses foram levantados uma série de argumentos que permitem traçar a estratégia
do setor agroindustrial ligado ao algodão no Estado de Mato Grosso. A classificação destas
características desta estratégia como forças ou fraquezas do setor, depende da ótica em que
estas características são estudadas. Desta maneira, é necessária a realização de uma análise
crítica e revisão dos argumentos já expostos, tratando a problemática de forma holística e
considerando este um sistema aberto.
É necessário salientar que cada ponto aqui indicado deve primeiramente ser
analisado de maneira isolada, do contrário não se poderia chegar a uma conclusão a respeito
da positividade ou negatividade que tal característica desempenha dentro do setor. É fato que
algumas destas características podem ser benéficas ou maléficas dependendo do ponto de
vista que é adotado. Para minimizar tal problema a adjetivação será resultado da análise do
benefício social, financeiro e ambiental que a característica é causa. Através da ponderação
destes benefícios será tecida a argumentação que irá balizar as conclusões deste trabalho
6.1. Pontos fortes
6.1.1. Aumento da produtividade e da quantidade total produzida
Considerando a sustentabilidade, nas suas mais diversas concepções, elemento
importante para auferir o conceito de competitividade, uma variação positiva na quantidade
produzida superior à variação da área destinada à produção pode ser considerada um ponto
forte do setor, pois demonstra a capacidade deste em aperfeiçoar sua forma de produção.
O Brasil foi o 6º maior produtor de algodão em 2006 e o 5º maior exportador dessa
malvácea nesse mesmo período. O comportamento da produção de algodão se deu
de forma cíclica ao longo do período analisado, onde se percebe que o aumento que
houve na quantidade produzida foi em função da produtividade e não da
incorporação de novas terras ao sistema produtivo. Nota-se que houve um
decréscimo na quantidade de terra utilizada comparando o inicio e o fim do período,
ou seja, em 1990 era utilizada 1.391.884 hectares e no ano de 2006 foram utilizadas
909.335 hectares de terra (SOUZA, 2008, p. 94).
98
O aumento da quantidade ofertada também é considerado um fator positivo,
principalmente considerando a possibilidade de atração de um maior número de indústrias
produtoras de fios e tecidos para a região, o que aumentaria o benefício social gerado pelo
setor e possibilitaria a adoção de medidas conjuntas entre a produção primária e indústrias no
sentido de reduzir as externalidades negativas que a prática agrícola causa ao meio ambiente.
Como o setor foca nas vendas ao mercado internacional, algumas oportunidades
de redução nos custos e efeitos negativos ao meio ambiente são deixadas de lado em nome da
quantidade produzida. Se existisse dentro do Estado um pólo industrial têxtil poderia ser
formuladas estratégias que priorizassem a sustentabilidade do negócio, através da atuação dos
empresários e do Estado trabalhando de forma alinhada neste sentido.
O estabelecimento da cotonicultura capitalista impulsionou a economia regional. A
participação do ramo no VBP regional se elevou de apenas 0,2% em 1996 para 4,1%
em 2001. A média do período 1996-2006 foi de 2,8% do VBP. Contudo, os
impactos na economia regional não foram tão significativos quanto poderiam se o
ramo tivesse forte encadeamento com estruturas a montante e a jusante da
cotonicultura. Tanto as indústrias de insumos quanto a cadeia de
agroindustrialização da fibra não se encontram instaladas regionalmente, o que cria
um efeito de vazamento da produção para outros espaços. Somente o beneficiamento
da fibra é realizado regionalmente, mas a agregação de valor é baixa em relação a
outros segmentos industriais do algodão. O efeito global no VBP regional alcançou
6,6% em 2006(FARIA, 2008, p. 294).
6.1.2. Adoção de Padrão internacional de classificação
Diversos fatores influenciam nas características da pluma obtida no final do
processo de cultivo. O preço obtido no mercado depende desta qualidade. O tipo de
beneficiamento possível também depende deste fator. Desta forma, a existência de uma
avaliação subjetiva ou pouco padronizada, elevaria os custos de transação dos elos posteriores
ao processo produtivo da pluma além de dificultar o relacionamento dos agentes ao dar maior
margem a atitudes oportunistas.
A adoção dos padrões universais de classificação visual foi um trabalho conjunto de
governo e iniciativa privada visando preparar a retomada do mercado externo pelo
algodão brasileiro após quase uma década de ausência e também a comercialização
necessitou de adaptações que valorizassem as características intrínsecas da fibra,
medidas através de máquinas chamadas HVI (High Volume Instrument –
Instrumento de Alto Volume) (FIEDLER, 2007, p. 821).
Assim sendo, pode-se considerar um ponto forte do setor a decisão de trabalhar
com uma classificação de qualidade única, dificultando a existência de possibilidade de ações
99
oportunistas por parte dos agentes. No entanto a falta de remuneração à qualidade no que
tange a comercialização dentro do Estado e do país, leva alguns produtores a não se valerem
da segurança negocial e do feedback produtivo que a utilização de métodos universais de
classificação trariam.
6.1.3. Possibilidade de Aumento de área cultivada sem expansão da fronteira
agrícola
Mato Grosso possui 5.798.600 hectares de lavoura temporária (IBGE, 2009).
Grande parte desta área é destinada ao plantio de soja e milho (aproximadamente 90%)
(SEPLAN, 2008). Como conseqüência do ciclo produtivo das culturas presentes no Estado, a
estratégia mais largamente adotada vem sendo a de cultivo de soja na safra e de milho na
entre-safra como forma de maximizar a utilização eficiente das terras ao longo do ano e a
maximização dos lucros. Os elementos de comparação devem ser a soja e o algodão, pois o
último também permite um arranjo onde o milho aparece como entre-safra. A opção pelo
algodão pressupõe uma maior capacidade financeira do produtor, pois esta cultura requer
grandes volumes de capital para alcançar níveis de produtividade compatíveis com os
alcançados pela estratégia anteriormente citada, além de possuir maior especificidade dos
ativos.
A priori é possível que estas terras utilizadas no cultivo da soja e milho sejam
utilizadas para o plantio de algodão. Portanto, pode-se afirmar que se os produtores tiverem
confiança no arranjo institucional que permeia a cultura em análise, existe a possibilidade do
aumento área utilizada para se plantar algodão sem expansão da fronteira agrícola. Dentro do
processo de planejamento estratégico, a possibilidade de ampliação do volume de negócio é
fator que deve ser considerado, pois a não observação deste pode resultar na perda de uma
oportunidade potencial. Por se tratar de uma decisão controlável pelos próprios agentes do
sistema, pode-se considerar esta como um ponto forte do setor têxtil mato-grossense.
100
6.2. Pontos fracos
6.2.1. Custo ambiental e social não contabilizado
Sabe-se que a cultura do algodão é sensível a agentes biológicos e necessita de
controle químico para que possa gerar excedente econômico. A utilização deste controle
químico acarreta toda sorte de efeitos negativos para a sociedade, para o meio ambiente e para
a própria atividade econômica (FARIA, 2008).
O aumento no uso de agrotóxicos traz inestimáveis reflexos ambientais. Desde o
início da safra de algodão, a Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEMA)
registrou pelo menos dois incidentes graves de contaminação. Em Sapezal, a 400
quilômetros de Cuiabá, duas crianças foram internadas depois que um cotonicultor
fez uma aplicação irregular de herbicida em sua lavoura. Em Tangará da Serra, a
242 quilômetros da capital, fazendeiros foram multados em R$7,5 mil por
armazenar embalagens usadas próximo da bacia do Rio Sepotuba, um dos que
abastecem o Pantanal (POLÍTICA PARA, 2002 apud FARIA, 2008).
Casos de tratamento inadequado com o ser humano também são constatados em
algumas propriedades rurais. O trabalho humano em algumas destas propriedades é apenas
mais um recurso (FARIA, 2008).
Foi detectada a presença de herbicidas no lençol freático da cidade de Primavera
do Leste localizada na mesorregião Sudeste de Mato Grosso que possui o maior número de
cidades produtoras de algodão (FARIA, 2008).
Embora o aumento da produtividade vertical seja um ponto forte do setor,
observa-se que o custo para manter esta produtividade está cada vez mais elevado. Faria
(2008) afirma que o tripé fundamental de qualquer ecossistema é a existência de água
residente, solo permeável e vegetação diversa. O modo de produção adotado quebrou este
tripé, fazendo com que a necessidade de utilização de fertilizantes fosse aumentada.
Em poucas safras, a força produtiva da natureza foi enfraquecida em um ritmo mais
tenaz do que a expansão das condições técnicas de produção, com flutuações da
produtividade. Como as aplicações de insumos cresceram fortemente sem resultados
na geração de mercadorias por unidade de área, o valor-trabalho cristalizado nas
fibras tendeu à expansão a partir de 2003 (FARIA, 2008, p. 264).
101
6.2.2. Ambiente Institucional Míope43
As taxas de lucro provenientes da produção mato-grossense vêm sendo obtidas
através de incentivos governamentais, como as renúncias fiscais, a rolagem da dívida com
juros cada vez menores e da redução do número de trabalhadores necessários por hectare
produzido. Esta ótica não condiz com uma estratégia vencedora a longo prazo, pois os pilares
que esta estratégia está baseada formam vantagens competitivas artificiais e insustentáveis.
As pressões para refinanciamento das dívidas junto ao Governo Federal e a
manutenção de privilégios fiscais perante o Governo Estadual, bem como os ajustes
em direção à redução da dependência da força de trabalho são ações desesperadas
para garantir uma massa de excedente compatível com os objetivos do capital
agrário (FARIA, 2008, p. 271).
Percebe-se que mesmo para o setor agrícola estas políticas econômicas não têm
surtido o efeito esperado, pois além dos produtores não estarem conseguindo honrar seus
compromissos, a renda deles ainda está diminuindo.
Um dos graves problemas enfrentados pela agricultura brasileira, atualmente, é o
endividamento dos produtores. Isso reduz, a cada dia, a capacidade de investimentos
em suas atividades, cujos ganhos são instáveis e dependentes da produção e cotações
obtidas –influenciada também pela demanda. Entre 2004 e 2005, a renda agrícola,
segundo estimativa de técnicos do Ministério da Agricultura, diminuiu 10,3%. Para
este ano, projeta-se, na média, uma recuperação de 2,8% em relação a 2005
(FONSECA et al, 2006, p. 1)
6.2.3. Concentração de Renda
A concentração de renda, embora não somente, é conseqüência direta da
predominância das grandes propriedades rurais na base produtiva regional. Embora possa se
constituir um problema, trabalhar mudanças nos direitos de propriedades não solucionaria o
problema, apenas criaria um maior, como assinala Barros (2008). Além disso, geraria
instabilidade no setor que poderiam ter conseqüências o afastamento das poucas indústrias
que o Estado possui.
A renda gerada pelo setor apresentou-se fortemente concentrada. No período 1996-
2006, de todo o excedente gerado os trabalhadores se apropriaram de apenas 12,8%
43
Capacidade de visualizar objetos próximos com nitidez, mas objetos distantes de forma desfocada.
Neste ponto do texto o termo é empregado como forma de evidenciar a preocupação com resultados de curto
prazo, onde a continuidade, no longo prazo, pode não ser uma preocupação sensível nas estratégias do setor.
102
como salários. Ao Estado coube 9,5% do excedente na forma de impostos. O capital
agrário controlou 77,7% de toda a renda distribuída no período (FARIA, 2008).
Não obstante a estas colocações, a concentração de renda é um problema real a ser
enfrentado, pois não existe sustentabilidade em um ambiente socialmente injusto. O principal
ator que pode mudar esta realidade é o Governo Estadual através de políticas públicas de
redistribuição de renda, apoio ao pequeno produtor e aos assentados e apoio à atração de
capital em elos ligados ao setor agroindustrial do algodão que utilizem mais mão-de-obra.
Porém, o que se percebe são políticas públicas que aumentem o grau de
concentração financeira. O Estado vem agindo como propulsor desta concentração de renda
através de sua política de desenvolvimento e da ausência dos mecanismos anteriormente
citados (FARIA, 2008).
6.2.4. Falta de presença do setor privado nos investimentos
O desenvolvimento econômico brasileiro foi historicamente dependente da
liderança do Estado. Este arranjo foi importante para apoiar a indústria nascente da
concorrência direta de concorrentes possuidores de maiores níveis de competitividade. Porém
este protecionismo não foi usado como forma de aumentar o nível competitivo e sim como
forma de capitalização e de conseguir lucros imediatos.
O que falta para o Brasil se tornar uma superpotência agroindustrial é a ampliação
de investimento em infra-estrutura, ciência e tecnologia e capacitação do capital intelectual
com uma atuação forte do setor privado (BARROS, 2008).
6.2.5. Mercado futuro e seguro agrícola
Um mecanismo útil que pode garantir rentabilidade ao produtor é a utilização do
mercado futuro. Não se trata de um incentivo à exportação de algodão in natura, mas de criar
alternativas para que o produtor possa comercializar seu excedente.
Uma das questões que permeiam a discussão a respeito da utilização desta
ferramenta é o alto custo do seguro agrícola no Brasil. Por se tratar de uma atividade que
envolve diversos fatores naturais, como o clima, pluviosidade, entre outros, as seguradoras
cobram valores que inviabilizam a aquisição do seguro por parte do produtor.
103
Se o mercado não pode resolver o problema, uma possível e polêmica solução é
atuação governamental no sentido de, ou viabilizar a aquisição via mercado, ou criar esta
categoria de seguro através de instituições públicas.
A boa gestão do setor comercial da organização eleva sua competitividade. Desta
forma, ao não conseguir usufruir de todas as ferramentas que o mercado coloca à disposição,
os produtores rurais comprometem seu planejamento e a capacidade de saldar suas dívidas
junto às instituições financeiras que disponibilizam crédito para o setor.
É preciso mudar o comportamento do produtor rural em relação ao mercado futuro e
agregar de vez esta ferramenta na sua atividade, tornando-a mais segura. Mas é
importante deixar claro que a utilização do mercado futuro também oferece seus
riscos ao produtor, podendo este risco ser diminuído com a utilização do seguro
agropecuário. No caso de um período de estiagem que reduza a produção de uma
região é possível que a fixação do preço futuro venha até mesmo a aumentar o risco
associado à receita do produtor. Neste sentido, o seguro rural mereceria maior
atenção. Por enquanto, oferece poucos incentivos para a atuação do setor privado,
além do que conta com insuficiente papel governamental, o que o dificulta a plena
utilização dos instrumentos de comercialização (FONSECA et al, 2006, p.1).
6.3. Oportunidades e ameaças
6.3.1. Tendência de queda de barreiras internacionais
A OMC (Organização Mundial do Comércio) considerou os subsídios que o
governo americano concedia a seus produtores de algodão, como práticas que distorcem o
comércio mundial. Esse tipo de decisão vai ao encontro do interesse brasileiro que foi o país
que liderou o pedido contra os americanos.
Embora o comércio mundial de algodão seja bastante restrito devido ao fato de
que os países produtores são normalmente os principais consumidores, a existência deste
mercado vem sendo usada como opção majoritária dos produtores mato-grossenses devido à
falta de encadeamento no sistema produtivo interno.
Mesmo que o arranjo considerado ideal seja a formação de uma indústria e
comércio alimentados pela produção local, a inexistência de vantagens competitivas artificiais
no mercado internacional constitui uma elemento positivo incontrolável pelo setor analisado,
desta forma constitui uma oportunidade de captação de novos mercados capazes de absorver a
produção excedente.
104
6.3.2. Transgênicos
No cultivo do algodão, o principal impacto da utilização do algodão transgênico
seria no campo ambiental. A utilização de variedades resistente a insetos e pragas não foram
suficientemente testadas para se ter certeza dos impactos que sua utilização trará. Outro ponto
de discussão é a manutenção do arranjo atual considerado insustentável por Faria (2008).
A crise interna derivada da produção homogênea e da exaustão do solo é uma
realidade, que segundo a Fundação MT, é um caminho seguro para a derrocada do
produtor. Mas, o capital agrário não quer se render facilmente. No passado recente
este ramo produtivo garantiu taxas de mais-valia muito generosas em Mato Grosso e
as novas tecnologias derivadas dos organismos geneticamente modificados (OGM)
81 propalam um novo paradigma capaz de recrudescer as taxas de lucro do
agronegócio. Se a produção está sendo severamente atacada por pragas e doenças,
basta utilizar uma cultivar geneticamente modificada (GM) e as pragas serão
controladas com menor uso de agrotóxicos (FARIA, 2008, p. 273).
Para os representantes dos produtores e de governantes ligados ao setor, a
tecnologia é vital para a manutenção da competitividade do agronegócio. Competitividade
para o setor está atrelada a mecanismos de curto prazo que gerem alta rentabilidade (FARIA,
2008).
Quanto mais pressão da tecnologia, mais resposta a natureza lhe remete, criando e
recriando novas condições ambientais que tornam a tecnologia ultrapassada. A
solução de laboratório pode se tornar muito dispendiosa e ineficiente perante as
estruturas vivas que participam de recombinação gênica em uma escala temporal
muito mais acelerada do que as inovações tecnológicas (FARIA, 2008, p. 281).
Apesar destas ponderações, a questão não é pacífica. Barros (2008) aponta o uso
de biotecnologia como um fator positivo para a competitividade do setor agrícola brasileiro.
De fato ao se visualizar simplesmente a possibilidade de ganhos de produtividade sem a
certeza de os efeitos resultantes serem negativos no longo prazo, a argumentação de que o uso
desta tecnologia pode ser um avanço positivo deve ser considerada.
Porém, a incerteza dos efeitos gerada pelo uso de produtos transgênicos pode
desencadear insegurança no setor, desmotivando investimentos mais vultosos, principalmente
no beneficiamento da fibra de algodão.
105
6.3.3. Mudança da ótica da eficiência econômica para a ótica da eficiência
social, ambiental e também econômica
A ótica empresarial vem sendo aplicada no setor agrícola sem nenhum tipo de
adaptação. Em entrevista para o jornal da ABRAPA (Associação Brasileira de Produtores de
Algodão), edição número 123, o ex-Ministro da Agricultura Marcos Vinícius Pratini de
Moraes afirma que “Quando eu entrei no Ministério da Agricultura, dizia aos produtores que a
base para o negócio no campo é mercado e preço”.
Se existir mercado consumidor e o preço do bem for o suficiente para cobrir os
custos e gerar excedente, existirá produção. Desta forma, a análise do preço isoladamente não
fornece o subsídio necessário para a tomada de decisão. Quando o ex-ministro cita o preço
como base do negócio no campo, ela está fazendo esta colocação na ótica do lucro. O lucro é
determinado pela diferença entre as receitas e despesas resultantes de um sistema produtivo,
sendo o preço apenas um elemento das receitas.
Não obstante, o principal problema é considerar este um sistema fechado. As
receitas não geram (ou não deveriam) geram excedentes apenas para o detentor do capital e
sim para todos os elos da cadeia produtiva. Da mesma forma as despesas não são somente
aquelas que resultam da produção direta. Existem custos exógenos ao sistema produtivo que
são conseqüência direta do modo de produção adotado, como a concentração de renda e o uso
indevido dos recursos naturais. Na ótica exclusiva do lucro, os recursos naturais são infinitos
(podem ser repostos), sendo esta apenas uma meia verdade de acordo com os índices de
produtividade média do setor. O lucro deve ser sustentável no âmbito social, ambiental e
também econômico.
6.3.4. Preço
O Preço é um fator determinante para a decisão de ofertar ou não um bem. No
caso da agricultura este fator é ainda mais sensível, pois entre a decisão de cultivar e a
colheita se passa algum tempo. Desta forma a análise de mercado é imprescindível para a
verificação da tendência dos preços. Contudo, a gama de fatores existentes nesta análise a
tornam mais dispendiosa e menos confiável do que uma análise de investimento de um
negócio ligado a um setor menos instável. Sendo assim, pode-se afirmar que a instabilidade
encarece a tomada de decisão além de torná-la menos confiável, pois a possibilidade de os
106
fatores não permanecerem constantes durante a seqüência de processos que culminará no
produto final do sistema é considerável.
Então, tanto o preço relativamente instável da pluma de algodão quanto a
variação cambial, se tornam potenciais ameaças à continuidade da exploração do negócio. A
constatação desta situação gera a oportunidade da construção de novas estratégias
competitivas que minimizem a variabilidade no preço e a dependência do mercado externo,
como por exemplo o aperfeiçoamento do arranjo institucional do setor do algodão de forma a
alinhar as estruturas de governança dos produtores, industriais e governo no intuito de
fortalecer o mercado interno, a confiança entre os agentes e maximizar a eficiência social e
ambiental do capital.
107
7. ANÁLISE DAS INTERAÇÕES ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DO
SETOR AGROINDUSTRIAL TÊXTIL DE MATO GROSSO E AS
OPORTUNIDADES E AMEAÇAS QUE PERMEIAM O AMBIENTE
INSTITUCIONAL
Através dos fatos e argumentos expostos até este momento do texto pode-se
construir uma matriz onde constam as características percebidas do setor agroindustrial têxtil
de Mato Grosso. Esta matriz serve como base para apoio teórico para se relacionar seus
elementos internos e externos de modo a se verificar qual seria a estratégia adequada que
evidencie os pontos fortes, aproveite as oportunidades, resolva as fraquezas ou minimize seus
efeitos e que blinde o sistema contra as ameaças que o envolvem.
Uma estratégia vencedora no planejamento de um setor deve ser realizada
pensando no longo prazo. A não fixação de variáveis não significa dizer que, em um primeiro
momento, a capacidade de investimento setorial não irá ser observada. Sendo assim, um
planejamento estratégico é acompanhado de outros que possuem menor ciclo. O menor deles
é chamado de planejamento operacional, pois se relaciona exatamente com o dia-a-dia do
setor e suas decisões no campo de prestação de serviços e produção de bens dos mais variados
tipos.
Além do planejamento de curto prazo, ou operacional, as organizações devem
dispor de um planejamento tático. Este planejamento, embora não seja de curto prazo,
economicamente falando não pode ser classificado como de longo prazo, pois nele existem
fatores fixos. Pode-se afirmar que ele teria mais relação com o longo prazo contábil, ou seja,
um período contábil após o encerramento do período atual. Fora esta questão conceitual, o
planejamento tático é aquele de responsabilidade da gerencia média da organização. Sua
finalidade é tornar realidade a estratégia institucional por um período bastante superior ao do
planejamento tático, mas não possui relação com a visão institucional como o planejamento
estratégico possui.
Importante salientar que nenhum planejamento e estratégia devem ser rígidos.
Mudanças no ambiente institucional ocorrem frequentemente levando os gestores a adaptar as
estratégias formuladas, fato este que pode alterar o planejamento de modo substancial.
Outrossim, não se pode ter certeza antes da execução de um plano que este atingirá os
resultados esperados. Se fixos o planejamento e a estratégia fossem, uma constatação de
divergências entre os resultados esperados e os obtidos os arruinaria.
108
Dessa forma, o controle entre o esperado e o obtido deve ser realizado
concomitantemente a todas as etapas de qualquer planejamento, seja ele estratégico, tático ou
operacional.
Quadro 7.1. Matriz de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças do Setor
Agroindustrial têxtil de Mato Grosso.
Fonte: Pesquisa de campo.
FATORES POSITIVOS FATORES NEGATIVOS
FORÇAS FRAQUEZAS
-Aumento da Produtividade;
-Classificação padrão Internacional;
-Possibilidade de Aumento da área
cultivada sem expansão da fronteira
agrícola;
-Treinamento dos colaboradores;
-Integração vertical entre o setor
produtivo e algodoeiras;
-Rigoroso controle dos custos de
produção;
-Custo Ambiental e Social não
Contabilizado;
-Ambiente Institucional Míope;
-Concentração de Renda;
-Falta de Presença do Setor Privado nos
investimentos;
-Mercado Futuro e Seguro Agrícola;
-Baixo número de indústrias têxteis;
-Atuação do Estado;
-Relação somente comercial entre o setor
produtor e o setor industrial;
-Instabilidade produtiva;
-Tendência de Queda das Barreiras
Internacionais;
-Transgênicos;
-Instalação de Indústrias Têxteis em
Mato Grosso;
-Estratégia baseada exclusivamente no
Lucro;
-Transgênicos;
-Preço;
-Carga Tributária;
-Infra-estrutura;
-Resistência nas transações internas na
utilização dos padrões internacionais de
classificação;
-Flutuação Cambial;
-Estratégias desalinhadas;
OPORTUNIDADES AMEAÇAS
FA
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RE
S E
XT
ER
NO
S
F
AT
OR
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IN
TE
RN
OS
FATORES POSITIVOS FATORES NEGATIVOS
109
Toda e qualquer verificação de falha ou erro no planejamento, bem como todas as
interações verticais, horizontais e indiretas que a estratégia der causa devem ser avaliadas e
retroalimentadas ao sistema, de modo a facilitar o controle deste planejamento.
Embora tenha sido realizada esta rápida retrospectiva teórica a respeito de
estratégia e planejamento, infere-se do objetivo da pesquisa que apenas o planejamento
estratégico será objeto nas ponderações deste trabalho. Esta limitação é decorrente da não
disponibilidade no cronograma de trabalho para realizar estudos de caso dentro de cada firma
rural. Não é possível definir uma estratégia adequada para cada agente sem que se conheçam
os seus ativos e a cultura empresarial da organização. No entanto, através da análise das
características do setor têxtil como um todo e também as características específicas do setor
agroindustrial têxtil mato-grossense é possível que se alinhe as estratégias dos agentes,
apresentadas em outros momentos do texto. O alinhamento destas estratégias para o longo
prazo constitui uma estratégia sustentável para o setor, criando sinergia e otimizando os
resultados financeiros e sociais da estratégia atual que vem sendo utilizada.
Dentre aqueles pontos que devem ser destacados e priorizados estão os pontos
fortes e as oportunidades. Conhecer as oportunidades que o sistema oferece permite a correta
utilização das forças internas da empresa de modo a maximizar a influência destes efeitos
externos nos resultados da instituição.
De um modo geral, os fatores apontados como pontos fortes serão evidenciados
ao contrapô-los com a tendência de queda das barreiras internacionais. O aumento da
produtividade leva a um maior volume de produção, considerando a não redução de área
cultivada. Este aumento no volume de produção aliado a uma maior possibilidade de inserção
internacional desta produção gera uma situação de maior lucratividade ao produtor.
A utilização do padrão de classificação internacional por parte dos produtores
regionais vai ao encontro da estratégia de inserção internacional dos produtos, além de
subsidiar o processo produtivo com informações precisas e objetivas das qualidades
intrínsecas da fibra.
O fato dos cotonicultores possuírem ativos bastante específicos os torna
diferenciados dos demais. A flexibilidade na escolha do cultivo, através dos preços previstos
para a safra, leva muitos destes produtores a reduzir ou extinguir a área destinada ao algodão
em alguns períodos produtivos. Embora esta instabilidade seja um ponto fraco do setor, sua
causa pode ser definida como um ponto forte, pois a partir do momento que uma estratégia
setorial for construída estes cotonicultores poderão utilizar uma área destina a produção de
outras culturas para plantar algodão. Esta possibilidade de aumento na área destinada a
110
produção sem maiores custos ambientais derivados da expansão da fronteira agrícola constitui
um ponto que possibilita um maior aproveitamento da tendência de queda das barreiras
internacionais.
O mercado internacional é bastante exigente no que tange a qualidade da fibra. A
etapa do beneficiamento realizada nas algodoeiras é vital para determinar a qualidade do
produto. O fato de grande parte dos produtores utilizarem suas próprias algodoeiras permite
um ajuste nas máquinas específico para a maximização da qualidade de sua própria produção.
Devido as diferentes estratégias de cada firma, as cultivares, os tratos culturas e o manejo de
solo divergem entre os produtores. Cada um destes elementos é responsável por
características diferenciadas na fibra, o que torna esta verticalização ainda mais benéfica ao
setor. Como o produto estadual possui qualidade, em média, acima do padrão internacional, a
queda destas barreiras tende a inserir ainda mais o produto estadual em terras estrangeiras.
A questão dos transgênicos é controversa. Existem dúvidas quanto aos efeitos que
a utilização desta tecnologia pode causar no consumidor e sobre o meio ambiente. Não
obstante esta constatação, o simples fato de existir a possibilidade de utilização de insumos
que necessitem de menores níveis de utilização de fertilizantes e defensivos no seu ciclo
produtivo, constitui oportunidade de redução de custos financeiros e ambientais para o setor.
A depender de estudos precisos dos efeitos adversos que esta tecnologia pode causar, sua
introdução é uma oportunidade que o setor tem de solucionar um de seus maiores problemas:
o custo de produção.
A inserção no mercado externo de produtos primários é condição necessária ao
planejamento estratégico setorial, pois as condições adequadas para sua implementação não
podem ser adquiridas no curto prazo. A viabilidade de transformação do Estado em um pólo
têxtil depende da atuação política do governo do Estado e dos representantes dos produtores
atuando junto às indústrias têxteis existentes. Mesmo assumindo que esta seja uma estratégia
vencedora a longo prazo, sem a comercialização a curto prazo dos produtos sua constituição
não passa de utopia. Dessa forma, a inserção internacional, mesmo que seja de produtos com
baixo valor agregado, a curto prazo, é condição indispensável à formulação de uma estratégia
vencedora de longo prazo.
Todavia, não apenas de grandes indústrias depende o setor. Estas, devido ao
elevado padrão de competição da indústria das economias abertas, se especializaram na
produção de commodities, como o tecido Denim que serve de matéria prima para a produção
do tecido índigo. Uma destas grandes fábricas está instalada na região de Rondonópolis,
região Sudeste de Mato Grosso. Existe a possibilidade de inserção de médias e pequenas
111
fiações e tecelagens que, além de ter um menor custo de implantação, poderiam se
especializar em artigos específicos que demandassem fios de maior qualidade, como os que
são produzidos dentro do Estado.
Assim sendo, só é possível o aproveitamento da capacidade estadual de produção
através do fomento a grandes, médias e pequenas indústrias do setor de fiação e tecelagem,
bem como o fomento ao setor de malharia e confecção, bastante discreto pela importância do
Estado no mercado de pluma.
Dentre os fatores que precisam ser corrigidos ou pelo menos relativizados para a
implementação de uma estratégia de longo prazo no Estado é a mudança da ótica exclusiva do
lucro individual que está presente nos empresários do setor. Não deve se criticar a busca do
lucro, mas sim entender que lucro não é simplesmente o ganho individual de cada agente. O
poder público visa o interesse público, razoável então que todo e qualquer benefício estendido
ao setor têxtil deve ir ao encontro deste tipo de interesse.
Ao buscar simplesmente o lucro financeiro individual, a noção de
responsabilidade social e ambiental pode ser perdida. Em uma cultura altamente mecanizada,
com níveis elevados de utilização de agrotóxicos e degradação ambiental, quase a totalidade
dos produtores julgarem o modo de produção vigente como sustentável financeiramente,
socialmente e ambientalmente, sendo este um indicativo de que os custos sociais e ambientais
não são contabilizados. Ora, o lucro é o prêmio pago ao empreendedor que assume o risco do
negócio, porém, este empreendedor sozinho não poderia tornar este negócio viável, haja vista
as reclamações dos cotonicultores com o papel do Estado em seus negócios. Reivindicam a
recuperação dos impostos recolhidos sobre os insumos, melhor infra-estrutura, melhores
condições de crédito, entre outras coisas, dessa forma é salutar imaginar que as externalidades
positivas geradas pelo setor sejam maiores que simplesmente a massa salarial discreta gerada
pelo setor em comparação com outras atividades e a estrutura de prestação de serviços que é
formada para atender os produtores do Estado.
A história econômica brasileira revela que o estado é atuante no mercado. Sendo
assim, faz parte da cultura empresarial nacional a transferência do ônus dos investimentos
necessários para o setor público. Não existe nenhum problema em se deixar por conta do
poder público algo que não necessariamente deveria competir somente a ele. O problema
reside na falta de percepção de responsabilidade social que o setor aparenta ter. Se existem
evidências de contaminação do lençol freático de algumas das grandes cidades produtoras o
modo de produção não pode ser sustentável. Se o setor não gera empregos diretos suficientes
devido a falta de verticalização, concentrando renda para o capitalista, o processo não é
112
sustentável socialmente. Se não existem mecanismos que garantam a rentabilidade do
negócio, com custos decrescentes, não existe sustentabilidade financeira.
Como conseqüência, é responsabilidade do setor, incluindo neste o poder público,
a construção de uma estratégia de longo prazo que permita a reprodução contínua e infinita do
modo de produção. Somente é possível alcançar tal feito se a visão exclusivamente financeira
for substituída por uma financeira, social e ambiental.
O ambiente institucional formado pelas diversas firmas do setor têxtil é míope. A
falta de troca de experiências entre os agentes de diferentes setores bem como a centralidade
das decisões dentro de cada forma revela que, embora cooperativados, não existe unidade na
execução das estratégias. Embora seja respeitado o direito de cada produtor atuar
isoladamente este fato revela e impõe dificuldades na elaboração de estratégias adequadas.
Como anteriormente dito, a falta de acesso de determinados produtores a
mecanismos de controle de preços futuros é uma ameaça ao setor. A resposta que vem sendo
dada é através de leilões realizados pelo poder público, onde o produtor aceita receber um
valor abaixo do preço mínimo estabelecido e recebe esta diferença, entre o valor recebido e o
valor mínimo, do governo federal. Este mecanismo parece solucionar sintomas e não efeitos.
O produtor não garante uma remuneração adequada, apenas consegue uma remuneração
mínima para poder reproduzir seu negócio. Obviamente esta política administra os prejuízos
possíveis, mas não consegue solucionar a causa do problema.
É necessária a implantação de uma política que forneça recursos financeiros, a
custos competitivos, para que o produtor possua capital de giro suficiente para bancar os
ajustes diários de negociações no mercado futuro. Se o produtor utilizar tal ferramenta como
planejamento e não como forma de especulação no mercado, pode garantir uma remuneração
que pague seus custos de produção e resulte em uma rentabilidade por ele estabelecida. Como
os produtores do Estado possuem, via de regra, controles precisos de seus custos, o
estabelecimento da estratégia seria facilitado por uma política deste tipo.
Parte da lucratividade advinda dos pontos fortes e das oportunidades do setor é
transferida para o poder público por meio da cobrança de tributos. Estes tributos, embora
necessários à manutenção dos serviços públicos, se tornam ameaça, pois não se vê melhorias
na qualidade do serviço público prestados à população. Outrossim, a infra-estrutura de
transporte rodoviário, do qual o produtor rural é tão dependente, é precária e aumenta os
custos do produtor. Tão oneroso quanto as más condições das vias rodoviárias é a falta de
capacidade dos portos utilizados para o escoamento da produção rumo ao exterior.
113
Embora se parta do pressuposto que a produção deva ter seu valor agregado
dentro das fronteiras do Estado, a curto prazo a estratégia de inserção internacional deve ser
mantida. A conquista destes novos mercados possibilita a destinação do excedente dos
produtos beneficiados futuramente para estes países, a depender das negociações e barganhas
envolvidas. Sendo assim, não a carga tributária pura e simplesmente, mas o não retorno para a
sociedade destes tributos é um empecilho ao desenvolvimento econômico do Estado e da
construção de um setor industrial forte.
Outra situação que deve ser superada é a resistência da padronização das
negociações nacionais e estaduais. O fato de não existir remuneração da qualidade em
algumas negociações internas ou desta remuneração ser inferior àquelas obtidas ao se
transacionar com o exterior causa toda gama de fatores negativos. O mais comentado deles é a
falta de confiança entre os agentes do setor que pode ser decisiva para a manutenção
indefinida de exportação de produtos in natura para o exterior.
Esta estratégia expõe os agentes às flutuações cambiais existentes no mercado
globalizado. Com a livre mobilidade de capitais o governo não tem plena capacidade de
controlar o câmbio, não sem gerar efeitos ainda mais adversos do que a própria flutuação
cambial. Fortalecer o mercado interno é reduzir esta ameaça. Embora alguns insumos
importados sejam grande parte deste custo, a solução interna dos problemas de lucratividade
que possam advir da flutuação do câmbio constitui menores custos de transação e risco do que
os que estariam presente no mercado externo.
Desta forma, a estratégia adequada para que o setor possa reproduzir
indefinidamente deve passar por alguns pontos considerados essenciais. Antes de tudo é
necessário que o setor produtivo dialogue diretamente com os representantes do poder público
estadual. A estratégia deve ser calcada na profunda verticalização do setor de modo que, no
longo prazo, grande parte da produção tenha o máximo de valor agregado regionalmente. É
imprescindível estimular a demanda interna por artigos derivados de algodão. Sendo assim,
uma saída que parece ser possível é a isenção de impostos sobre estes artigos que possuem
elevado nível de valor agregado. Pode-se inclusive formular níveis diferentes de redução de
alíquota em função do nível de valor agregado.
Para garantir a noção de equidade entre os agentes e a manutenção de oferta de
pluma, devem ser estabelecidas formas de compensação da indústria para o setor produtivo
pela qualidade superior da fibra destinada ao mercado interno. Embora a pluma de algodão
seja uma commoditie, sua especificidade, principalmente daquela detentora de qualidades
114
intrínsecas superiores, não é baixa, sendo assim preferível a negociação através de contrato
entre os agentes.
Esta indústria não pode ser uniforme. É necessário que existem grandes, médias e
pequenas indústrias, da fiação até tecelagem até a malharia e confecção de artigos de
vestuário, pois assim toda a potencialidade da pluma estadual seria aproveitada. O excedente
na produção primária continuará a ter como destinação o mercado internacional ou outros
pontos do território nacional.
Várias possibilidades para a redução dos efeitos negativos ao meio ambiente
decorrentes da produção primária podem ser formuladas. Mantendo-se as mesmas alíquotas
de tributos cobrados dos produtores o poder público deverá formular políticas de recuperação
ambiental. Esta responsabilidade poderá ser arcada pelos produtores se houver correspondente
diminuição tributária para que estes não sejam demasiadamente onerados.
Outra solução é um pacto entre a indústria nascente e os cotonicultores em
utilizarem cultivares que demandem menor utilização de insumos tóxicos no seu ciclo
produtivo. Esta tecnologia pode ser ou não transgênica. No entanto, análises dos benefícios e
malefícios que esta tecnologia pode representar devem ser produzidas pelos produtores em
conjunto com a sociedade civil organizada e as instituições de pesquisa e ensino superior.
Havendo verticalização total da produção têxtil estadual a falta de empregos
diretos gerados pelo setor irá ser sanada, principalmente pela atuação do setor de confecção e
malharia. Embora admita-se que a concentração de renda nas mãos dos detentores dos meios
de produção continuará, os ganhos sociais advindos da maior agregação de valor da produção
estadual relativizarão o problema. É impensável uma política de redistribuição de terras, os
prejuízos seriam muito superiores aos benefícios. Uma alteração na estrutura fundiária
impossibilitaria, inclusive, a execução de uma estratégia integrada entre os agentes do setor.
O modelo agrícola empresarial presente no Estado não parece ser passageiro. Uma
das características deste sistema é a irreversibilidade. Aquele que for mais eficiente do ponto
de vista produtivo se destacará e continuará a agregar novas terras daqueles produtores menos
eficientes. A necessidade de escala produtiva diante do padrão de competição do setor impede
a reprodução em pequena escala do modelo, pelo menos não com os mesmos níveis de
produtividade. Embora a viabilidade social e ambiental pudessem ser incrementadas com a
alteração do modelo produtivo regional, não é crível que o modelo alternativo seria viável
financeiramente.
Finalmente, diversas estratégias alternativas sustentáveis podem ser formuladas
através do conhecimento das características do setor local. Inclusive a própria adjetivação em
115
pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças são subjetivas e, a depender do método de
análise do pesquisador, podem ser alterados. No entanto, dificilmente uma análise crítica do
setor que passe pela noção de sustentabilidade como a reprodução indefinida de um sistema,
deixaria de abordar os pontos abordados por esta pesquisa.
116
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral desta pesquisa é sugerir diretrizes competitivas gerais para o
setor agroindustrial algodoeiro de Mato Grosso para aproximar os interesses dos agentes que
o compõem, incluindo entre estes o governo do Estado, com a finalidade de diminuir a
instabilidade e aumentar a confiança entre os agentes.
Os objetivos específicos elencados foram: i) Identificar os interesses dos
produtores, governo e industriais para o setor têxtil de Mato Grosso; ii) Evidenciar o padrão
de competição e as estratégias competitivas adotadas; iii) Verificar a adequabilidade das
estratégias competitivas adotadas pelo setor têxtil mato-grossense em função dos interesses de
cada agente do setor e do seu padrão de competitividade.
Isso posto, os cotonicultores revelaram interesse na atuação mais decisiva do
governo como fomentador da atividade empresarial e como encarregado dos investimentos
em infra-estrutura. Indicaram também um compromisso pela busca da produtividade e
qualidade de seus produtos, que são os dois fatores competitivos mais importantes do padrão
de competição do setor. Embora o governo estadual revele interesse na transformação do
Estado em um pólo têxtil, as políticas implementadas até o momento levam a um
aprofundamento do modelo agroexportador. Por parte das indústrias de fiação e tecelagem o
interesse é baixo, fato percebido na existência de apenas uma planta industrial no Estado todo.
Todavia, presume-se que um possível interesse na instalação/localização44
destas indústrias
em Mato Grosso passaria pelos benefícios de estarem próximas ao principal fornecedor de
matéria-prima.
Como o setor têxtil do Estado é controlado basicamente pelos agentes que
controlam o setor de produção primário, o padrão de competição e as estratégias adotadas por
estes refletem o padrão de competição e a estratégia do setor.
O padrão de competição do setor é definido como preço/custo e qualidade. Não
apenas na cotonicultura, o modo de produção adotado pelos empresários rurais segue uma
tendência de aumento dos custos, ceteris paribus. Grandes extensões de terra cultivadas com
apenas um vegetal causam desequilíbrios naturais dos mais variados tipos. Embora os efeitos
destes desequilíbrios possam ser amenizados com o uso e aprimoramento da tecnologia, estes
não podem ser totalmente sanados. Porém, a natureza possui poder de adaptação, fazendo
com que a utilização de insumos de ponta seja necessária para a viabilidade financeira da
44
O aprofundamento da localização destas indústrias não é objeto deste trabalho. Necessitam-se de
estudos específicos sobre o tema.
117
produção. Esta dependência tecnológica aliada ao fato da origem destes produtos serem
geralmente importados deixa a estratégia mais difícil de ser otimizada e os custos mais
elevados.
Outrossim, altos custos demandam melhores preços para se conseguir uma
remuneração adequada. Desta forma, os custos influenciam diretamente na busca do produtor
por preços mais competitivos. Para se conseguir melhores preços na venda da pluma de
algodão os cotonicultores precisam de padrões superiores de qualidade, pois o mercado
externo remunera estes ganhos nas qualidades intrínsecas da fibra. (nem sempre o mercado
interno remunera a qualidade)
A estratégia atual praticada pelo setor têxtil de Mato Grosso pode ser definida
através da análise dos pontos que se destacaram em cada questionamento realizado. O
ambiente institucional é formado por agentes que dispõem de tecnologia de ponta, recursos,
grandes quantidades de terra e capacidade de autofinanciamento, consideradas altas para o
setor. Estes agentes são suficientemente competitivos para enviar seus produtos, seja de forma
isolada ou conjunta, para o exterior. Além disso, os cotonicultores são bastante organizados
através de cooperativas que oferecem, entre outros benefícios, a classificação dentro dos
padrões internacionais, a aquisição de insumos a menores custos devido ao volume
transacionado e a venda da produção dos seus associados, fazendo com que estes incorram em
menores custos transacionais.
As decisões de produção e comercialização são centralizadas na figura do
empresário, fazendo com que este participe ativamente do dia-a-dia da instituição. A variável
fundamental na escolha de produção é o preço dos derivados de algodão no mercado em
comparação com seus principais substitutos. A escolha da cultivar também é baseada na
experiência do próprio produtor com ela.
Grande parte dos produtores possui controle de custos, valendo-se de tabelas ou
softwares específicos para tal finalidade. O setor é altamente verticalizado na primeira
atividade a jusante da produção, as algodoeiras. Esta verticalização é parcialmente
responsável pelos níveis de qualidade de pluma acima do nível de mercado que são obtidos no
Estado. Dentre as maiores preocupações dos produtores está o custo de produção, pois este é
bastante alto na cultura estudada devido a grande quantidade de insumos que são utilizados na
plantação. Quando se verifica a preocupação setorial, esta está calcada na qualidade, pois é
através desta qualidade que o setor consegue inserção internacional de seus produtos.
A instabilidade setorial é percebida pela maioria dos produtores que a atribuíram
como conseqüência da oscilação dos preços, custos de produção e políticas governamentais
118
inadequadas ou insuficientes. Outros fatores prejudiciais ao setor são a falta de infra-estrutura
adequada no escoamento da lavoura aos portos e dos portos para o mercado externo e a carga
tributária que incide sobre o setor, principalmente sobre os insumos importados utilizados na
lavoura. No campo externo o principal fator prejudicial são as políticas protecionistas
praticadas por alguns países produtores.
A relação com a indústria local e nacional é somente comercial, ressalvados
poucos casos onde existe parceria, troca de informações e tecnologia. O manejo de solo é
realizado através do controle direto e do plantio convencional. O controle de pragas e doenças
que atingem a cultura é realizado através do controle químico, sendo que estas embalagens
são todas descartadas de maneira a não impactarem ainda mais o meio ambiente. A maioria
dos produtores rejeitam cultivares resistentes a pragas e doenças, pois estas geralmente
possuem tais níveis de produtividade abaixo daquelas que não os resistem.
Como representante da indústria têxtil local está a planta industrial presente na
cidade de Rondonópolis, região sudeste do Estado. Esta indústria possui elevada exigência
competitiva, pois atua na fabricação de tecidos e artigos baseados no tecido Denim.
A estratégia atual não foi considerada eficiente na aproximação do interesse dos
agentes. O fato de o governo estadual ser parte integrante do ambiente institucional presume a
busca pelo interesse público. Sendo assim a eficiência social e ambiental deve ser buscada
conjuntamente com os ganhos financeiros dos agentes.
A estratégia considerada adequada para que o setor possa se desenvolver deve
passar por alguns pontos ou diretrizes considerados essenciais. Antes de tudo é necessário que
o setor produtivo dialogue diretamente com os representantes do poder público estadual. A
estratégia deve ser calcada na profunda verticalização do setor de modo que, no longo prazo,
grande parte da produção tenha o máximo de valor agregado regionalmente. É imprescindível
estimular a demanda interna por artigos derivados de algodão sem excluir a possibilidade de
aumento do mercado consumidor externo. Sendo assim, uma saída possível é a isenção de
impostos sobre estes artigos que possuem elevado nível de valor agregado. Pode-se inclusive
formular níveis diferentes de redução de alíquota a depender deste nível de agregação de
valor.
Para garantir a noção de equidade entre os agentes e a manutenção de oferta de
pluma, devem ser estabelecidas formas de compensação da indústria para o setor de produção
de matéria-prima pela qualidade superior da fibra destinada ao mercado interno. Embora a
pluma de algodão seja uma commoditie, sua especificidade, principalmente daquela detentora
119
de qualidades intrínsecas superiores, não é baixa, sendo assim preferível a negociação através
de contrato entre os agentes do que uma negociação via mercado.
Esta indústria não pode ser uniforme, pois esta uniformidade não aproveitaria o
potencial qualitativo da pluma mato-grossense. É necessário que existam grandes, médias e
pequenas indústrias, da fiação até tecelagem até a malharia e confecção de artigos de
vestuário, pois assim toda a potencialidade da pluma estadual seria aproveitada. Após a
abertura econômica da década de 1990, as grandes indústrias do setor passaram a focar na
produção de commodities têxteis. Este tipo de produto necessita de grandes investimentos e
escala de produção para serem lucrativos, pois devido a competitividade do mercado as
margens de lucro marginal são menores. Por outro lado, aquelas indústrias de menor porte
apostaram na diversificação do produto. Esta diversificação permitiu o atendimento de nichos
de mercado inexplorados, que utilizam fibras mais específicas, possibilitando um maior lucro
marginal. O excedente na produção primária continuará a ter como destinação o mercado
internacional ou outros pontos do território nacional.
Várias possibilidades para a redução dos efeitos negativos ao meio ambiente
decorrentes da produção primária podem ser formuladas. Mantendo-se as mesmas alíquotas
de tributos cobrados dos produtores o poder público deverá formular políticas de prevenção e
recuperação ambiental. Esta responsabilidade poderá ser arcada pelos produtores se houver
correspondente diminuição tributária para que estes não sejam demasiadamente onerados.
Outra solução é um pacto entre a indústria nascente e os cotonicultores em
utilizarem cultivares que demandem menor utilização de insumos tóxicos no seu ciclo
produtivo. Esta tecnologia pode ser ou não transgênica. No entanto, análises dos benefícios e
malefícios que esta tecnologia pode representar devem ser produzidas pelos produtores em
conjunto com a sociedade civil organizada e as instituições de pesquisa e ensino superior.
Embora possibilidades críveis, a estratégia adequada seria a adoção de um setor
têxtil de custo ambiental zero. A responsabilidade pelos danos causados deve ser do agente
causador. Uma política fiscal adequada neste sentido é aquela que desonere os agentes que
são eficientes no sentido de não gerar efeitos negativos derivados de sua produção.
Havendo verticalização total da produção têxtil estadual a falta de empregos
diretos gerados pelo setor irá ser sanada, principalmente pela atuação do setor de confecção e
malharia. Embora se admita que a concentração de renda nas mãos dos detentores dos meios
de produção continuará, os ganhos sociais advindos da maior agregação de valor da produção
estadual relativizarão o problema.
120
Uma política de redistribuição de terras poderia ir ao encontro da solução para o
problema, todavia traria toda sorte de instabilidade social e econômica. Além disso, não existe
um consenso a respeito deste tema. Esta falta de consenso demanda estudos específicos que
não fazem parte do objeto desta pesquisa, restando nesta apenas seu apontamento como
motivação para outros trabalhos.
O modelo agrícola empresarial presente no Estado não parece ser passageiro. Uma
das características deste sistema é a irreversibilidade. Aquele que for mais eficiente do ponto
de vista produtivo se destacará e continuará a agregar novas terras daqueles produtores menos
eficientes. Há indícios de que a necessidade de escala produtiva diante do padrão de
competição do setor impede a reprodução em pequena escala, pelo menos não com os
mesmos níveis de produtividade. Embora a viabilidade social e ambiental pudessem ser
incrementadas com a alteração do modelo produtivo regional, existem fortes indícios de que o
modelo alternativo não seria financeiramente viável.
O contexto relatado permite afirmar que a hipótese levantada foi parcialmente
comprovada. Embora as políticas governamentais do Estado, as estratégias dos produtores de
algodão e a falta de planejamento do Estado contribuam para a criação de um ambiente
desfavorável para atrair investidores industriais que agregariam valor à matéria-prima, não
foram encontrados indícios que a utilização de contratos inadequados sejam os responsáveis
pela instabilidade do setor.
De forma repetida a razão da instabilidade do setor foi associada à flutuação dos
preços, aos crescentes custos de produção, que aumentam os riscos da cultura do algodão e às
políticas governamentais que surgem para combater os sintomas e não as causas destes
problemas.
121
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132
Anexo A. Questionário Aplicado aos produtores de Algodão filiados à AMPA
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ECONOMIA
MESTRADO EM AGRONEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Nome do Produtor:
I) Perfil do Produtor
1) Qual a área plantada em hectares, considerando apenas a cultura do algodão, na última
safra?
Resposta:___________________________________________________________________
______________.
2) Houve redução na área plantada, considerando apenas a cultura do algodão, na última
safra?
( ) Sim ( ) Não
Caso a resposta seja sim:
Quanto?_____________________________________________________________.
3) O produtor é associado a alguma cooperativa?
( ) Sim ( ) Não
4) Utiliza classificação HVI para todas as vendas?
( ) Sim ( ) Não
5) Se não utiliza HVI, quais os motivos desta não utilização?
( ) Custo da Classificação; ( ) Confiança na classificação visual do comprador;
( ) Não recebe ágio por ofertar um produto de qualidade superior;
II) Características Estratégicas de Gestão e Produção
6) Quem toma as decisões de o que produzir e quanto produzir? (decisões estratégicas)
( ) o proprietário; ( ) o administrador; ( ) grupo de especialistas;
7) A decisão de produzir, não produzir, aumentar ou reduzir o cultivo do algodão é
baseada em:
( ) Preço Previsto da cultura escolhida em relação às culturas substitutas;
( ) Previsão de safra feita por órgãos governamentais;
( ) Previsão de safra feita por consultorias privadas;
133
( ) Decisão tomada em conjunto com outros elos da cadeia (Algodoeiras, Fiações e
Tecelagens);
8) A utilização da cultivar é baseada principalmente em:
( ) Experiências positivas do produtor com àquela cultivar.
( ) Recomendação de Instituições Privadas (Associações, Cooperativas, Agrônomos).
( ) Recomendação de Instituições Públicas.
( ) Análise do próprio produtor quanto a adequação da cultivar à estratégia competitiva.
( ) Outro motivo.
Qual?___________________________________________________________________.
9) A empresa treina seus colaboradores? Quantas horas em média por ano?
( ) Sim ( )Não
Quantidade média de horas de treinamento:
_____________________________________________________.
10) A empresa utiliza um controle rigoroso de custos de produção? Se sim qual (is)?
( ) Sim ( ) Não
Quais?
( ) Software específico; ( ) Planilhas de Custo; ( ) Terceiriza o controle de custos; (
) Outras formas de controle; Qual
(is)__________________________________________________________________.
11) Quais são as formas de controles sobre as características do(s) produto(s) final(is)?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________.
12) A decisão de produção de uma determinada variedade/tipo de produto leva em
consideração:
( ) Preço de mercado diferenciado para determinada variedade/tipo de produto;
( ) Política de governo (incentivos governamentais na produção de determinada
variedade/tipo de produto);
( ) Necessidades dos próximos elos da cadeia;
13) Em média, qual o tipo de algodão resultando dos processos produtivos adotados
(produção + beneficiamento):
Padrões HVI
( ) 11-1
( ) 11-2
( ) 21-2
( ) 31-2
( ) 31-4
( ) 41-4
( ) 51-5
( ) 61-6
( ) 61-7
134
( ) 71-7
( ) BG
14) A comercialização da produção é feita:
( ) Pelo próprio produtor;
( ) Através de Cooperativas;
( ) Conjuntamente com outros produtores sem utilização de cooperativas;
( ) Através de intermediários;
15) O beneficiamento é feito através de:
( ) Algodoeira própria;
( ) Terceirização do beneficiamento;
( ) Através de sistema de parceria com outros produtores;
( ) Vende a produção sem beneficiamento;
16) Se houvesse incentivos (governamentais ou através de remuneração diferenciada por
parte dos compradores), haveria a possibilidade de se fazer investimentos com o intuito de
produzir algodão de qualidade superior ou com alguma característica específica? Por quê?
( ) Sim ( ) Não
Justificativa:
___________________________________________________________________________
___.
17) Percebe como justa a remuneração recebida pela variação positiva de qualidade do
algodão comercializado?
( ) Sim ( ) Não
18) Quais são os aspectos (fatores competitivos) que poderiam dar um diferencial
competitivo para o seu negócio? (padrão de competição):
( ) Custo de produção (Liderança de custo);
( ) Qualidade;
( ) Flexibilidade (Variedade de tipos e características do algodão)
( ) Inovação (Capacidade de empresa em inovar no processo e diferenciar o produto);
( ) Cooperação Horizontal(Acordos de cooperação entre empresas do setor);
( ) Cooperação Vertical (Acordos de cooperação entre empresas de setores anteriores e
posteriores da cadeia de produção);
Outras:_____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________.
19) Quais são os aspectos (fatores competitivos) que poderiam dar um diferencial
competitivo ao setor em relação aos principais concorrentes internacionais?
( ) Custo de produção (Liderança de custo);
( ) Qualidade;
( ) Flexibilidade (Variedade de tipos e características do algodão)
( ) Inovação (Capacidade de empresa em inovar no processo e diferenciar o produto);
( ) Cooperação Horizontal(Acordos de cooperação entre empresas do setor);
135
( ) Cooperação Vertical (Acordos de cooperação entre empresas de setores anteriores e
posteriores da cadeia de produção);
Outras:_____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________.
III) Relacionamento com os agentes exógenos à firma (agentes que se encontram fora da
firma)
20) Existe instabilidade nos setores de produção, fiação e tecelagem de algodão em Mato
Grosso?
( ) Sim ( ) Não
Se Existe, em sua opinião, quais os principais componentes desta instabilidade? (Podem ser
marcadas quantas alternativas forem necessárias)
( ) Preço;
( ) Confiança entre os agentes do Setor;
( ) Políticas Governamentais;
( ) Atravessadores na Comercialização (Comerciantes);
( ) Custo de Produção;
( ) Falta de Apoio Tecnológico;
( ) Insuficiência de demanda por pluma no Estado;
( ) Insuficiência de demanda por pluma no País;
( ) Insuficiência de demanda por pluma no Mundo;
( ) Outros; Quais?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________.
21) Em sua opinião: (1)A estratégia do setor têxtil matogrossense é constituída de forma
conjunta entre os agentes ou (2) é resultado da soma das estratégias individuais destes?
( )1 ( )2
22) Considera a estratégia do setor adequada às necessidades dos agentes?
( ) Sim ( )Não
Se não, quais os elementos estratégicos que precisam ser melhorados? (Resposta Livre)
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________.
23) Quanto aos fatores internos (dentro do país) não controláveis ou quase controláveis
por parte do empresário que podem prejudicar o setor têxtil matogrossense, quais dos abaixo
elencados são considerados os mais relevantes?
( ) Juros;
( ) Infra-estrutura;
( ) Carga tributária;
( ) Encargos Sociais;
( ) Outros;
___________________________________________________________________________
136
___________________________________________________________________________
____________________________.
24) Quanto aos fatores externos (de fora do país) não controláveis ou quase controláveis
por parte do empresário que podem prejudicar o setor têxtil matogrossense, quais dos abaixo
elencados são considerados os mais relevantes?
( ) Barreiras Alfandegárias e Sanitárias;
( ) Barreiras Comerciais;
( ) Protecionismo Econômico de países concorrentes;
( ) Alguns países produtores serem os principais consumidores;
( ) Outros;
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________.
25) Descreva de forma breve quais as principais oportunidades que, na sua opinião, podem
contribuir de forma positiva na competitividade do setor têxtil matogrossense.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
__________________________________________.
26) O acesso ao crédito agrícola é: (Preencha os parênteses com os valores percentuais da
utilização das respectivas fontes de crédito utilizadas)
( )% De origem pública;
( )% De origem privada;
( )% Capital próprio;
27) Está satisfeito com as linhas de crédito disponíveis? Por quê?
( ) Sim ( ) Não
Justificativa:_________________________________________________________________
______________.
28) A relação com o setor de fiação e tecelagem é:
( ) Somente comercial; ( ) Existe parceria tecnológica e troca de experiências; (
) Não existe relação;
IV) Questões de Sustentabilidade
29) O modelo de manejo de solo utilizado é:
( ) Convencional;
( ) Preparo mínimo;
( ) Plantio Direto;
( ) Plantio semi direto;
30) O controle de Doenças, Pragas e Plantas Daninhas no algodoeiro é realizado
principalmente através de:
( ) Controle Químico; ( ) Controle Natural;
137
31) As embalagens dos insumos utilizados na produção recebem tratamento adequado
antes de serem descartadas?
( ) Sim ( ) Não
32) Utilizaria cultivares de algodão resistentes a pragas e doenças, mesmo que estas
apresentem produtividade inferior ou resultem em qualidade da fibra inferior?
( ) Sim ( ) Não
33) Considera o modo de produção utilizado atualmente ambientalmente, financeiramente
e socialmente sustentável?
Assinale “S” para sim e “N” para não.
( ) Ambientalmente; ( ) Financeiramente; ( ) Socialmente;
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