UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO E AÇÕES COMUNITÁRIAS
DEPARTAMENTO DE EXTENSÃO
PROGRAMA DE INCLUSÃO, ACESSO E PERMANÊNCIA __________________________________________________________________________________________________________________________________
Disciplina: Filosofia
Profª Sami Hiasmin
Introdução a Filosofia
Algumas das questões recorrentes
entre os jovens, quando apresentados ao
estudo da Filosofia, são: "De que trata essa
matéria?", "Para que serve a Filosofia?",
"Reprova?", "Cai no vestibular?", “para que
serve, então?”.
Quem não ouviu pelo menos uma vez
falar em Filosofia? Aqui e acolá, encontramos
em conversas ou nos textos que lemos dos
nomes dos famosos filósofos. Quantos de
nós, e quantas vezes, já não tivemos a
oportunidade de ouvir alguém dizendo: "pela
minha filosofia, considero certo fazer isto ou
aquilo"? O termo filosofia é vigente e muito
utilizado. Mas sabemos nós (e sabem todos
que usam esse termo) o que significa, de
fato, a Filosofia? Nós já nos pusemos a
pensar nisto?
Filosofar: Uma atitude natural no homem
Há certas perguntas que o homem não
cessa de fazer a si próprio, quer esteja ele na
etapa primitiva de sua evolução. Quer esteja
na etapa mais sofisticada. São perguntas que
o atormentam, que o persegue, a ponto de
provocar nele o espanto, a angústia: porque
existo? Qual a finalidade da minha
existência, se é que tem finalidade?/ Qual a
importância do outro na minha existência? E
aquilo que chama “natureza”, qual o seu
peso na minha existência?/ Será que sou
apenas um joguete nas mãos daquilo que
chamamos “forças naturais?".
Queira ou não, esse questionamento
surge até nos momentos mais inesperados e
provoca, ao lado de outras inúmeras
questões, o início da atitude de filosofar. (...).
A atitude filosófica, nascida dessa
tensão, deve levar–nos a ver essas
realidades, ou seja: o eu, o outro, a natureza,
através de um olhar crítico, em que estamos
“desarmados”: sem preconceitos, sem
posições já assumidas anteriormente. Esse
olhar crítico leva-nos a compreender e a
expressar o que compreendemos e, para
conseguir essa finalidade, ele nos ensina a
questionar tudo: a nós mesmos, ao outro, à
natureza, e ainda mais: ele nos ensina que
importante é aprender a ver a realidade.
A atitude filosófica possui algumas
características que são as mesmas,
independentemente do conteúdo investigado.
Essas características São:
• Perguntar o que é. Ou seja, a Filosofia
pergunta qual é a realidade e qual é a
significação de algo, não importa o quê;
• Perguntar como é. Ou seja, a Filosofia
indaga como é a estrutura ou o sistema de
relações que constitui a realidade de algo;
• Perguntar por que é. Ou seja, porque
algo existe, qual é a origem ou a causa de
uma coisa, de uma ideia, de um valor, de um
comportamento.
A atitude filosófica inicia-se dirigindo
essas indagações ao mundo que nos rodeia
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e às relações que mantemos com ele. Pouco
a pouco, descobre que essas questões
pressupõem a figura daquele que interroga e
que elas exigem que seja explicada a
tendência do ser humano a interrogar o
mundo e a si mesmo com o desejo de
conhecê-lo e conhecer-se. Em outras
palavras, a Filosofia compreende que precisa
conhecer nossa capacidade de conhecer,
que precisa pensar sobre nossa capacidade
de pensar. Por ser uma volta que o
pensamento realiza sobre si mesmo, a
filosofia se realiza como reflexão ou,
seguindo o oráculo de Delfos, busca realizar
o “Conhece-te a ti mesmo”.
Filosofia e a atitude filosófica.
Provocada pelo “espanto” original, a
Filosofia nos incita e nos desafia a manter
um constante contato com todos os fatos e
todas as experiências, numa atitude radical
de olhar crítico, e com esse radicalismo,
numa verdadeira renúncia. É com esta
atitude que a Filosofia alcança alguns dos
momentos mais ricos da realidade, onde o
sentido reside e se revela.
A Filosofia também nos ensina a
assumir o fato de vivermos todas as
consequências da luta entre a ignorância e o
saber. Ela é a procura livre que ousa
enfrentar o inabitual o insólito na realidade
concreta. Portanto, a Filosofia nunca se
confunde com a ideologia e muito menos
com a mistificação. Ela ensina o homem a
evitar a armadilha que consistiria em se
fechar no mundo da introspecção, num
mundo todo “seu”. Da mesma forma, ela
exclui o fechamento num mundo de ideias,
pois a realidade não se deixa absorver nem
mesmo pela própria reflexão, como também
não se reduz a uma simples projeção do
pensamento.
Filosofia: O Problema do Conceito.
Quando começamos a estudar
Filosofia, somos logo levados a buscar o que
ela é. Nossa primeira surpresa surge ao
descobrirmos que não há apenas uma
definição da filosofia, mas várias. A segunda
surpresa vem ao percebermos que, além de
várias, as definições parecem contradizer-se.
Eis porque muitos, cheios de perplexidade,
indagam: afinal, o que é Filosofia, que sequer
consegue dizer o que ela é?
Uma curiosidade interessante nos livros
de filosofia é a sua denominação usual:
“Fundamentos de...”, “Elementos de...”,
”Noções de...”. Louvável essa preocupação
dos autores de livros didáticos de Filosofia,
até porque coerente com uma das
características mais marcantes da busca do
conhecimento filosófico; o fato de constituir
uma busca permanente.
Os problemas é que, na mais das
vezes, quando um livro desses é manuseado
por um estudante de segundo grau, ou
qualquer outro iniciante na Filosofia, o
resultado é diverso do pretendido pelo autor
com essa modéstia. Geralmente funciona
como um choque aversivo, reforçando ainda
mais a visão preconceituosa da Filosofia
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como um conhecimento fechado, só
acessível aos iniciados, “sábios”, donos de
uma erudição notável, portanto, um conteúdo
árido e sem qualquer ligação com a realidade
do homem comum.
Na história do pensamento, que a
humanidade vem construindo ao longo do
tempo, muitos foram os, pensadores e
pesquisadores que deram uma definição ou
um conceito para a Filosofia. Por vezes,
esses foram complexos, por vezes simples;
por vezes rebuscados e quase
incompreensíveis. Há, pois, um emaranhado
de conceitos. Diante deles muitas pessoas se
sentem entediadas e, em vez de enfrentar o
problema, preferem descartá-lo, dizendo que
a Filosofia é um "jogo inútil e estéril de
palavras", ou que é "muito difícil e só serve e
interessa a pessoas especiais e muito
inteligentes".
O verbo filosofar pode ser usado com
três significados distintos:
• Como simples sinônimo de “pensar”.
Às vezes, doenças ou mortes de pessoas
próximas, decepções, perdas irreparáveis e
outros problemas existenciais nos fazem
pensar (“filosofar”) sobre o sentido de nossa
vida. Mas esse significado é por demais vago
e amplo para caracterizar o verdadeiro
sentido do filosofar.
• Como sinônimo de “saber viver”
virtuosamente. Aqui filosofar é viver com
sabedoria. O sábio é aquele que se torna um
exemplo vivo das virtudes apreciadas em
uma sociedade e é tomado como ponto de
referencia para fortalecer o valor das
tradições vigentes. É nesse sentido que as
sabedorias orientais são também chamadas
“filosofias”
• Como “o filosofar propriamente dito”,
que teve inicio na Grécia, em torno dos
séculos VI e V a.C. Por essa época,
começou-se a repensar a natureza, o ser
humano e as divindades com um olhar
crítico. Procurava-se saber a validade dos
próprios conhecimentos. Até que ponto a
cultura era fruto de fantasia e crenças dos
antepassados? O que garantia que as
tradições recebidas dos anciãos eram
verdadeiras? A filosofia, portanto, questiona
os fundamentos da cultura.
A Filosofia, na sua acepção ampla, é
considerada "uma acepção de vida e de
mundo". Acepção que se aplica a todos seres
humanos. Todo ser humano tem uma visão
de mundo produto de questionamentos e
reflexões sobre as ações, sentimentos e
ideias, extraídas da vivência cotidiana e
geradas pela curiosidade.
Para Gramsci "todos os homens são
filósofos", pois participam de uma filosofia
espontânea expressa na linguagem, no
senso comum, na cultura popular, crenças,
folclore, etc. Só que esta reflexão na busca
de uma explicação dos fatos e da
compreensão de sua razão de ser se dá de
forma assistemática, ametódica, ocasional e
espontânea. Neste sentido, homens e
mulheres filosofam, enquanto seres
humanos, que refletem, tentando
compreender, explicar e resolver os
problemas existenciais e sociais.
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Mas o que caracteriza o trabalho
filosófico propriamente dito? O que distingue
a minha filosofia de vida (minha concepção
de mundo) da Filosofia de Platão ou a de
Kant? A filosofia na sua acepção estrita
consiste na "procura de soluções para as
problemáticas do ser humano". É a busca de
explicações das causas dos fenômenos, em
investigar o porquê e a razão de ser dos
fatos. A filosofia nesta perspectiva se
caracteriza como uma atividade racional que
não se detém nas comuns impressões, mas
busca fundamentar por rigoroso exame
crítico e reflexivo todas as convicções,
encarando a realidade como problema. É
uma busca.
A filosofia não é ciência: é uma reflexão
sobre os fundamentos da ciência, isto é,
sobre procedimentos e conceitos científicos.
Não é religião: é uma reflexão sobre os
fundamentos da religião, isto é, sobre as
causas, origens e formas das crenças
religiosas. Não é arte: é uma reflexão sobre
os fundamentos da arte, isto é, sobre os
conteúdos, as formas, as significações das
obras de arte e do trabalho artístico. Não é
sociologia nem psicologia, mas a
interpretação e avaliação crítica dos
conceitos e métodos da sociologia e da
psicologia. Não é política, mas interpretação,
compreensão e reflexão sobre a origem, a
natureza e as formas do poder e suas
mudanças. Não é história, mas reflexão
sobre o sentido dos acontecimentos
enquanto inseridos no tempo e compreensão
do que seja o próprio tempo.
A palavra “Filosofia” aparece na Grécia
no século VI a.C nos escritos de Pitágoras,
que não querendo definir-se como “sábio”,
prefere autodenominar-se “Filos-sophos” - A
palavra Filosofia é grega. É composta por
duas outras: PHILO e SOPHIA. Philo deriva -
se de Philia que significa amizade, amor
fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer
dizer sabedoria e dela vem à palavra Sophos
= sábio -, ou seja, aquele que busca a
sabedoria, “amante da sabedoria”, “amigo do
saber”, para ele uma denominação mais
humilde e fiel à sua postura de tentar
compreender a realidade de seu tempo.
Filosofia significa, portanto amizade pela
sabedoria, amor e respeito pelo saber.
Filósofo: o que ama a sabedoria tem amizade
pelo saber, deseja o saber.
Deste modo podemos observar que a
filosofia, desde sua definição originária, se
faz compreender como um saber sobre o
homem, sobre o mundo, sobre a própria
realidade, um processo sempre dinâmico de
apreensão das significações históricas da
realidade humana, de maneira humilde e
processual. O verdadeiro filósofo rejeita o
status de “possuidor da verdade”, como se
fosse possível conhecê-la ou ainda, que
alguém fosse capaz de apreender a
totalidade da realidade. Ao contrário,
compreende a precariedade de sua busca e
o dinamismo do próprio processo de
definição das “verdades” de cada época. O
trabalho do filósofo é refletir sobre a
realidade, qualquer que seja ela,
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redescobrindo seus significados mais
profundos.
A filosofia, enquanto conhecimento
produzido pelo homem, está condicionada a
determinados contextos históricos que
determinam a sua própria identidade. A rigor
não se pode defini-la dogmaticamente, em vã
tentativa de cristalizar a sua compreensão
numa determinada escola, filósofo ou teoria.
A filosofia é um modo de pensar, é uma
postura diante do mundo. A filosofia não é
um conjunto de conhecimentos prontos, um
sistema acabado, fechado em si mesmo. Ela
é, antes de tudo, uma prática de vida que
procura pensar os acontecimentos além de
sua aparência. Assim, ela pode se voltar para
qualquer objeto. Pode pensar a ciência, seus
valores, seus métodos, seus mitos; pode
pensar a religião; pode pensar a arte; pode
pensar o próprio homem em sua vida
cotidiana. Até mesmo uma história em
quadrinhos ou uma canção popular pode ser
objeto da reflexão filosófica.
A filosofia tem, portanto os limites da
própria história do homem. Não se pode
pensá-la como um conjunto de “verdades”
perenes ou um método etéreo de pesquisar
as últimas causas de tudo que existe.
Saber o que é a filosofia também passa
sempre por saber alguma coisa acerca dos
homens que, ao longo da história, a foram
criando: os filósofos. A sua época, a sua
vida, o seu pensamento, e de que modo
estes três elementos se influenciam
mutuamente.
A filosofia quer encontrar o significado
mais profundo dos fenômenos. Não basta
saber como funcionam, mas o que significam
na ordem geral do mundo humano. A filosofia
emite juízos de valor ao julgar cada fato,
cada ação em relação ao todo. Assim,
filosofar é uma prática que parte da teoria e
resulta em outras teorias.
A filosofia parte do que existe, critica,
coloca em dúvida, faz perguntas inoportunas,
abre a porta das possibilidades, faz-nos
entrever outros “mundos” e outros modos de
compreender a vida. É uma forma de pensar
que nos possibilita compreender melhor
quem somos, em que mundo vivemos: em
suma, nos ajuda a compreender melhor o
próprio sentido de nossa existência.
Nisto precisamente consiste a filosofia,
um conhecimento sistematizado sobre o
mundo da natureza, sobre a condição
humana pessoal e social, sobre a sociedade,
sobre a cultura. Em termos gerais é uma
ciência humana, de longa tradição histórica,
que tem privilegiado a pesquisa de questões
fundamentais sobre a existência humana, a
natureza e a cultura,...
A maior parte dos filósofos está de
acordo em que a filosofia raramente nos dá
respostas seguras e definidas às grandes
questões que lhe colocamos: o sentido da
vida e do universo, por exemplo; apesar
disso, todavia, ela pode pelo menos ajudar-
nos a descobrir o que há de errado nas
soluções propostas de todos os lados, pode
contribuir para colocar abaixo vendas e
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ilusões que nos impedem de ver a realidade
face a face.
A filosofia incomoda porque questiona o
modo de ser das pessoas, das culturas, do
mundo. Questiona as práticas política,
científica, técnica, ética, econômica, cultural
e artística. Não há área onde ela não se
meta, não indague. E, nesse sentido, a
filosofia é “perigosa”, “subversiva”, pois vira a
ordem estabelecida de cabeça para baixo.
Talvez a divulgação da imagem do filósofo
como sendo uma pessoa “desligada” do
mundo seja exatamente a defesa da
sociedade contra o “perigo que ela
representa”.
Mas, então, enfim, o que é definir a
filosofia? Definir a filosofia é, no melhor caso,
não defina-la, mas conseguir ver as várias
acepções, ora mais fracas ora mais fortes,
que permanecem como elementos do
trabalho daqueles que se entendem como
fazendo filosofia nos dias de hoje. A filosofia
não existe sem que se dê um choque no
banal; nem existe se não faz algum tipo de
crítica, não no sentido fundacionista, mas
simplesmente no sentido de não aceitar a
primeira resposta que aparece para toda e
qualquer coisa.
Neste sentido a sua grandeza está
mesmo no processo, de proposição sempre
crítica dessas questões fundamentais. Pois
necessariamente a vida, a cultura, a história,
a significação da existência são questões
fundamentais, bem como a questão do
saber, do conhecimento, da sociedade.
Desprezar a filosofia significa desprezar
estas questões, equivale a adiar uma das
mais ricas experiências do ser humano, a
experiência do sentido das coisas.
Por isso o mais importante não é
aprender uma série de definições, mas
aprender a filosofar.
Por que estudar Filosofia?
Uma razão importante para estudar
filosofia é o fato de esta lidar com questões
fundamentais acerca do sentido da nossa
existência. A maior parte das pessoas, num
ou noutro momento da sua vida, já se
interrogou a respeito de questões filosóficas.
Mas a todo o momento nos vemos
olhando para trás e perguntando o que
significa tudo isso. Então, é bem provável
que comecemos a fazer perguntas
fundamentais com as quais normalmente não
nos importamos. Isso pode acontecer acerca
de qualquer aspecto da vida. Esse
questionamento pode tornar-se um desafio
incômodo, mas constitui-se o início de um
modo de pensar filosoficamente.
O que importa ter claro, por ora, é o
fato de que a filosofia nos envolve, não
temos como fugir dela. Ela é como o ar que
respiramos, está permanentemente presente.
Se nós não escolhermos qual é a nossa
filosofia, qual é o sentido que vamos dar à
nossa existência, a sociedade na qual
vivemos nos dará, nos imporá a sua filosofia.
Quem não pensa é pensado por outros!
Podemos afirmar seguramente que ela
esteve sempre presente na vida do homem:
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antes das mudanças radicais; durante as
revoluções, após as transformações sociais,
políticas, econômicas; compreendida pela
população, concretizada em forma de ação.
Não há possibilidade de se rever a história do
homem sem se perceber a presença da
filosofia. Mas perceber sua presença e saber
a sua importância também não garante o
conhecimento do que ela é. O que é a
filosofia? É a arma dos combatentes? É a
garantia do domínio? É a prática da
transformação? O dia-a-dia do povo? É a
busca da verdade? É o discurso contundente
e cheio de argumentação? De certo, também
não será pelas tantas e tantas formas que ela
poderá assumir que definiremos o que ela é.
Embora revestida pelos homens dos mais
variados sentidos e utilizada para as mais
variadas finalidades, não será na
multiplicidade de papéis que ela ocupou e
ocupa que conseguiremos defini-la.
Percebemos através destas colocações
o quanto se torna penoso, quase impossível,
definir filosofia. Entretanto, ela existe. Sua
presença e importância podem ser notadas
em todos os momentos da história até
mesmo quando sua ausência, por motivos
outros, se fez presente.
O que podemos concluir neste primeiro
momento é que, conseguindo ou não defini-
la, estamos sempre esbarrando no fato
incontestável de sua presença. O próprio
exercício de buscar definições objetivas e
claras para este "saber tão especial" ou para
esta "busca da verdade", ou para esta
"tentativa de explicação da realidade", enfim
para a filosofia, já nos atesta um fato
indiscutível: ela existe. Do contrário. Não
teríamos em cima do que buscar coisa
alguma. Ela existe. A filosofia se faz
filosofando. .
O que é Filosofia? Filosofia é a
faculdade de manter viva a curiosidade da
infância e a rebeldia da adolescência.
Filósofos são como crianças que não cessam
de se admirar (Platão) e de se espantar
(Aristóteles) diante de um mundo que parece
renascer novo a cada aurora. Filósofos são
como adolescentes que não aceitam os
limites impostos pelo “já pensado”, pelo “já
dito” e pelo “já feito”. Filosofia é a capacidade
de manter sempre em vista uma utopia que –
como um horizonte – jamais será alcançada;
mas que nos faz caminhar, ao invés de parar
e ficar pastando feitos cordeirinhos mansos à
espera do abate.
Objeto da Filosofia.
O objeto da Filosofia é a Totalidade a
Universalidade.
Essência da Filosofia.
A essência da Filosofia é a procura do
saber e não a sua posse.
As exigências da reflexão filosófica.
Em primeiro lugar, vamos estabelecer
o que é a reflexão. Refletir é pensar,
considerar cuidadosamente o já foi pensado.
Como um espelho que reflete a nossa
imagem, a reflexão do filósofo deixa ver,
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revela, mostra, traduz os valores envolvidos
nos acontecimentos e nas ações humanas.
O trabalho do filósofo é refletir sobre a
realidade, qualquer que seja ela, descobrindo
seus significados mais profundos. Como isso
é feito?
Para chegar a essa revelação, a
reflexão filosófica, segundo Dermeval
Saviani, deve ser:
Radical: em primeiro lugar, exige-se
que o problema seja colocado em termos
radicais, entendida a palavra no seu sentido
mais próprio e imediato. Quer dizer, é preciso
que vá até às raízes da questão, até seus
fundamentos. Em outras palavras, exige-se
que se opere uma reflexão em profundidade.
Ou seja, chegar até a raiz dos
acontecimentos, isto é, aos seus
fundamentos; à sua origem, não só
cronológica, mas no sentido de chegar aos
valores originais que possibilitaram o fato. A
reflexão filosófica, portanto, é uma reflexão
em profundidade.
Rigorosa: em segundo lugar e como
que para garantir a primeira exigência, deve-
se proceder com rigor, ou seja,
sistematicamente, segundo métodos
determinados, colocando-se em questão as
conclusões da sabedoria popular e as
generalizações apressadas que a ciência
pode ensejar. Isto é, seguir um método
adequado ao objeto em estudo, com todo o
rigor.
De conjunto: em terceiro lugar, o
problema não pode ser examinado de modo
parcial, mas numa perspectiva de conjunto,
relacionando-se o aspecto em questão com
os demais aspectos do contexto em que está
inserido. É neste ponto que a filosofia se
distingue da ciência de um modo mais
marcante. Com efeito, ao contrário da
ciência, a filosofia não tem objeto
determinado, ela dirige-se a qualquer
aspecto da realidade, desde que seja
problemático; seu campo de ação é o
problema, esteja onde estiver. Melhor
dizendo, seu campo de ação é o problema
enquanto não se sabe ainda onde ele está;
por isso se diz que a filosofia é busca. E é
nesse sentido também que se pode dizer que
a filosofia abre caminho para a ciência;
através da reflexão, ela localiza o problema
tornando possível a sua delimitação na área
de tal ou qual ciência que pode então
analisá-lo e, quiçá, solucioná-lo. Além disso,
enquanto a ciência isola o seu aspecto do
contexto e o analisa separadamente, a
filosofia, embora dirigindo-se às vezes
apenas a uma parcela da realidade, insere-a
no contexto e a examina em função do
conjunto desde que seja problemático; seu
campo é o problema, esteja onde estiver. Lá
onde as outras ciências param, onde, sem
mais indagar, aceitam os pressupostos, aí
entra o filósofo e começa a investigar. As
ciências conhecem - mas o filósofo pergunta:
o que é o conhecimento; a outras ciências
estabelecem leis - ele põe a questão do que
seja uma lei: o homem comum e o político
falam do fim e da utilidade - o filósofo
pergunta o que se deve entender por fim e
utilidade?
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Já se vê que a filosofia é uma ciência
radical no sentido em que ela vai às raízes
das questões muito mais profundamente que
qualquer outra ciência; lá onde as outras se
dão por satisfeitas, ela continua a indagar e a
perscrutar.
Assim, embora os sistemas filosóficos
possam chegar a conclusões diversas,
dependendo das premissas de partida e da
situação histórica dos próprios pensadores, o
processo do filosofar será sempre marcado
por essas características, resultando em uma
reflexão rigorosa, radical e de conjunto.
O Papel da Filosofia.
A tarefa da Filosofia é desenvolver no
ser humano o senso crítico, que implica a
superação das concepções ingênuas e
superficiais sobre os homens, a sociedade e
a natureza; concepções essas forjadas pela
“ideologia” social dominante.
O resultado desse processo é a
ampliação da consciência reflexiva do ser
humano, voltada para dois setores
fundamentais:
• A consciência de si mesmo: crítica de
si próprio enquanto pessoa e de seu papel
individual e social (autocrítica).
• A consciência do mundo:
compreensão do mundo natural e social e de
suas possibilidades de mudança.
A filosofia faz com que não sejamos
mais um no rebanho, levado de canto a canto
por qualquer coisa que nos digam. Ela é a
mãe de todas as ciências e traz um
significado para nossa vida. É mais que um
monte de informações acumuladas que
valem um punhado de notas, não, ela é vida,
posto que sonhar, pensar, imaginar é viver.
Não há como manipular tão facilmente
alguém que quebrou as amarras da rotina, do
costume e começou a pensar por si próprio.
Estes encontraram o caminho do saber e
passarão conscientes por suas experiências.
Não haverá mais apenas reação ao meio,
mas ação sobre a própria reação.
Muitos dizem que é perda de tempo,
que não traz dinheiro para o bolso, que
filosofia não traz nenhum benefício senão dor
de cabeça e loucura para os estudiosos da
mesma. Dizem que isso é chato e difícil.
Se esses que dizem que a Filosofia é
pura chatice, loucura e todas essas bravatas
lessem um pouco que seja de história,
agradeceriam a certos "loucos e chatos" por
terem enlouquecido em nome da medicina,
da matemática, da física, sociologia e do
pensamento moderno, etc. Pois os mesmos
construíram este mundo e libertaram as
pessoas da caverna da ignorância, do medo,
da escuridão. Quebraram padrões da época
e trouxeram algo de útil, de novo e que hoje
gera a sobrevivência de milhões de pessoas.
De fato, a FILOSOFIA não se preocupa
com dinheiro ou bens materiais, posto que o
dinheiro acaba e nosso "amor" pelos objetos
também. Ela não se preocupa com futilidades
que nada crescem o humano como SER. Ela
é gratuita e qualquer um pode ter acesso, é
simples, basta querer.
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Isso é filosofia, ser livre para viver e
pensar, mesmo sabendo das limitações de
nosso sentir e SER.
Cultura.
Com frequência as pessoas se
envolvem em discussões a respeito das
diferenças entre o ser humano e o animal. Às
vezes, por se surpreenderem com o
comportamento animal que se assemelha ao
humano, outras vezes por aproximarem atos
humanos ao comportamento de animais. As
histórias infantis também antropomorfizam os
bichos, que agem como gente, ou criam
situações em que seres humanos, por
castigo, se degradam em animais. Tornou-se
um clássico da literatura juvenil o livro
Tarzan, o filho das selvas, do norte-
americano Edgar Rice Burroughs, que serviu
de inspiração para inúmeros filmes e revistas
de quadrinhos. Como todos sabem, Tarzan é
um bebê humano que sobrevive na selva e é
"criado" entre os bichos.
Outros relatos semelhantes são
contados como fatos reais, embora sem
comprovação científica da antropologia
contemporânea. Assim, é o caso das duas
meninas encontradas na Índia em 1920 que
teriam crescido entre os lobos, vivendo,
portanto, como animais. Essas crianças não
possuíam quaisquer das características
humanas: não choravam, não riam e,
sobretudo, não falavam. O seu processo de
humanização só se teria iniciado ao
participarem do convívio humano.
Um fato notável, porém, ocorreu nos
Estados Unidos com Helen Keller (1880-
1968), nascida cega e surda. Permaneceu
como um animal “até a idade de sete anos,
quando seus pais contrataram a professora
Anne Sullivan, que, a partir de sentido do
tato, conseguiu conduzi-la ao mundo humano
das significações”. Helen aprendeu então a
falar, a ler e a escrever, tendo se tornado
uma conhecida escritora e conferencista.
Esses relatos nos propõem uma
pergunta inicial: quais são as diferenças
entre o ser humano e o animal?
Natureza e Cultura.
“Os animais vivem em harmonia com
sua própria natureza”. Isso significa que todo
animal age de acordo com as características
da sua espécie quando, por exemplo, se
acasala, protege a cria, caça e se defende.
Os instintos animais são regidos por leis
biológicas, de modo que podemos prever as
reações típicas de cada espécie. A ação
instintiva é regida por leis biológicas,
idênticas na espécie e invariáveis de
indivíduo para indivíduo.
É evidente que existem diferenças
entre os animais conforme seu lugar na
escala zoológica: enquanto um inseto, como
a abelha, constrói a colmeia e prepara o mel
segundo padrões rígidos, típicos das ações
instintivas. Um mamífero, que é um animal
superior, age também por instinto, mas,
desenvolve outros comportamentos mais
flexíveis e, portanto, menos previsíveis.
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Não há quem não tenha ainda
observado com atenção e pasmo “o trabalho”
paciente da aranha tecendo a teia. Mas
esses atos não têm história, não se renovam
e são os mesmos em todos os tempos, salvo
as modificações determinadas pela evolução
das espécies e as decorrentes da mutação
genética.
À medida que, na escala zoológica,
subimos até os mamíferos, percebemos,
porém que as ações animais deixam de ser
resultado exclusivo de reflexos e instintos e
apresentam uma flexibilidade maior, típica
dos atos inteligentes. “Ao contrário da rigidez
dos instintos, a resposta inteligente a um
problema é criativa, improvisada e pessoal“.
No entanto, a inteligência animal é concreta,
porque, de certa maneira, acha-se presa à
experiência vivida e tem em vista a
resolução, mediata de uma situação
problemática. Em outras palavras, o animal
não inventa. Portanto, não tem sequência e
não adquire o significado de uma experiência
propriamente dita. O animal não domina o
tempo, porque seu ato se esgota no
momento em que o executa.
Na verdade os instintos são “cegos“, ou
seja, são uma atividade que ignora a
finalidade da própria ação. Por isso essas
habilidades não levam os animais superiores
a ultrapassar o mundo natural, caminho esse
exclusivo da aventura humana. “Só o homem
é transformador da natureza".
Assim, ao contrário dos outros animais,
os homens não são apenas seres biológicos
produzidos pela natureza. Os homens são
seres culturais que modificam o estado de
natureza.
A partir dai concluímos que as
diferenças entre o homem e o animal não
são apenas de grau, visto que, enquanto o
animal permanece inserido na natureza, o
homem é capaz de transformá-la, tornando
assim possível à cultura. A transformação
que o homem faz na natureza se realiza
através do trabalho. O trabalho é a ação
transformadora dirigida por finalidades
conscientes, para o homem, o contato com a
natureza só é possível quando mediado pelo
trabalho.
O trabalho humano é a ação dirigida
por finalidades conscientes. A resposta dos
desafios da natureza na luta pela
sobrevivência. A ação humana é fonte de
ideias e ao mesmo tempo uma experiência
propriamente dita. O trabalho, ao mesmo
tempo em que transforma a natureza,
adaptando-a as necessidades humanas,
altera o próprio homem, desenvolvendo suas
faculdades. Isso significa que, pelo trabalho,
o homem se auto produz.
Por ser uma atividade relacional, o
trabalho, além de desenvolver habilidades,
permite que a convivência, não só facilite a
aprendizagem e o aperfeiçoamento dos
instrumentos, mas também, enriqueça a
afetividade resultante do relacionamento
humano: Experimentando emoções de
expectativa, desejo, prazer, medo, inveja, o
homem aprende a conhecer a natureza, as
pessoas e a si mesmo.
Prof. Sami Hiasmin – Filosofia – UniENEM/PIAP - 2017
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A cultura é, portanto, o que resulta do
trabalho humano: A transformação realizada
pelos instrumentos, as ideias que tornam
possível essa transformação e os produtos
dela resultantes.
Ainda mais: A ação humana
transformadora não é solitária, mas social, ou
seja, solidária, já que os homens, ao se
relacionarem para produzir sua própria
existência, desenvolvem condutas sociais, a
fim de atender às necessidades do grupo. Eis
aí a grande diferença fundamental entre o
homem e os animais.
Mas, para produzir e reproduzir cultura
o homem precisa da linguagem simbólica. De
todos os elementos que caracterizam a
cultura, talvez o mais importante seja a
linguagem. Mas, afinal no que consiste a
linguagem? É a capacidade que permite aos
homens comunicarem-se, uns com os outros,
por meio de códigos, de símbolos.
“Os símbolos são invenções humanas
por meio das quais o homem pode lhe dar
abstratamente com o mundo que o cerca. Os
símbolos permitem o distanciamento do
mundo concreto e a elaboração de ideias
abstratas“. Além disso, com a linguagem
simbólica, o homem não está apenas
presente no mundo, mas é capaz de
representá-lo: Isto é, o homem torna
presente àquilo que está ausente. A
linguagem introduz o homem no tempo,
porque permite que ele relembre o passado e
antecipe o futuro pelo pensamento. “Ao fazer
uso da linguagem simbólica, o homem torna
possível o desenvolvimento da técnica e,
portanto, do trabalho humano, enquanto
forma sempre renovada de intervenção da
natureza". Ao reproduzir as técnicas já
utilizadas pelos ancestrais e ao inventar
outras novas – lembrando o passado e
projetando o futuro, o homem trabalha.
Se a linguagem, por meio da
representação simbólica e abstrata, permite
que nos distanciemos do mundo, também é o
que possibilita o retorno a ele para
transformá-lo. Portanto, se não tivermos
oportunidade de desenvolver e enriquecer a
linguagem enfraquecerá a capacidade de
compreender e agir sobre e o mundo que nos
cerca.
Seria pouco concluir dai que a
diferença entre homem e animal estaria no
fato de o homem ser um animal que pensa e
fala. De fato, a linguagem humana permite a
melhor ação transformadora do homem
sobre o mundo, e com isso completamos a
distinção: O homem é um ser que trabalha e
produz o mundo e a si mesmo.
Cultura: A resposta do homem ao desafio
da existência.
Falamos até agora sobre essa distinção
entre natureza e cultura. Mas o que
queremos dizer exatamente quando usamos
a palavra cultura?
A palavra cultura é utilizada com
diferentes significados. Os biólogos, por
exemplo, se referem à criação de certos
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animais falando em cultura de germes,
cultura de carpas etc.
Na linguagem cotidiana dizemos que
uma pessoa tem cultura quando frequentou
boas escolas, leu bons livros, adquiriu
conhecimentos científicos etc.
Na Grécia Antiga o termo cultura
adquiriu uma significação toda especial,
ligada à formação individual do homem.
Correspondia à chamada Paidéia, processo
pelo qual o homem realizava sua verdadeira
natureza desenvolvendo a filosofia
(conhecimento de si e do mundo) e a
consciência da vida em comunidade.
Em Antropologia, cultura significa tudo
que o homem produz ao construir sua
existência. Já para Paulo Freire, é tudo o que
o homem cria e recria. Nesse sentido,
abrangem conhecimentos, crenças, artes,
moral, leis, costumes e quaisquer outras
capacidades adquiridas socialmente pelos
homens.
A cultura pode ser considerada,
portanto, como amplo conjunto de conceitos,
de símbolos, de valores e atitudes que
modelam uma sociedade. Se o contato com
o mundo é intermediado pelo símbolo, a
cultura é o conjunto de símbolos elaborados
por um povo. Dada à infinita possibilidade
humana de simbolizar, as culturas são
múltiplas e variadas: são inúmeras as
maneiras de pensar, de agir, de expressar
anseios, temores e sentimentos em geral. Ou
seja, a cultura engloba o que pensamos,
fazemos e temos como membros de um
grupo social.
Em todas essas acepções de cultura
podemos perceber uma ideia básica de
desenvolvimento, formação e realização.
Usada por antropólogos, historiadores e
sociólogos, a palavra cultura designa o
conjunto dos modos de vida criados e
transmitidos de uma geração para outra,
entre os membros de determinada
sociedade. Nesse sentido, abrange
conhecimentos, crenças, artes, normas,
costumes e muitos outros elementos
adquiridos socialmente pelos homens.
A cultura pode ser considerada,
portanto, um amplo conjunto de conceitos,
símbolos, valores e atitudes que modelam
uma sociedade. Abrange o que pensamos,
fazemos e temos como membros de um
grupo social.
Nesse sentido, todas as sociedades
humanas, da pré-história aos dias atuais,
possuem uma cultura. E cada cultura tem
seus próprios valores e sua própria verdade.
Podemos acrescentar, por fim, e numa
abordagem mais filosófica, que cultura é a
resposta oferecida pelos grupos humanos ao
desafio da existência.
Uma resposta que se manifesta em
termos de conhecimento (logos), paixão
(pathos) e comportamento (ethos). Isto é em
termos de razão, sentimento e ação.
“A cultura é duradoura embora os
indivíduos que compõem um determinado
grupo desapareçam”. No entanto, a cultura
também se modifica conforme mudam as
normas e entendimentos.
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Quase se pode dizer que a cultura vive nas
mentes das pessoas que a possuem. Mas as
pessoas não nascem com ela; adquirem-na à
medida que crescem. Suponha que um bebê
húngaro recém-nascido seja adotado por
uma família residente nos Estados Unidos, e
que nunca digam a essa criança que ela é
húngara. Ela crescerá tão alheia à cultura
húngara quanto qualquer outro americano.
Assim, quando falo da antiga cultura egípcia,
refiro-me a todo conjunto de entendimentos,
crenças e conhecimentos pertencentes aos
antigos egípcios. Significa, por exemplo,
tanto suas crenças sobre o que faz o trigo
crescer, quanto sua habilidade para fazer os
implementos necessários à colheita. Ou seja,
suas crenças a respeito da vida e da morte.
Quando falo de cultura, estou pensando
em algo que perdurou através do tempo. Se
“qualquer egípcio morresse mesmo que
fosse o faraó, isso não afetaria a cultura
egípcia daquele momento determinado”.
BRAIDWOOD, Robert. Homens pré-
históricos, p-41-2
O mundo cultural é um sistema de
significados já estabelecidos por outros, de
modo que, ao nascer, a criança encontra o
mundo de valores já dados, aonde ela vai se
situar. A língua que aprende, a maneira de se
alimentar, o jeito de sentar, andar, correr,
brincar, o tom da voz nas conversas, as
relações familiares; tudo enfim, se acha
codificado. Até na emoção, que nos parece
uma manifestação tão espontânea, ficamos à
mercê de regras que educam desde a
infância a nossa expressão.
Vários estudiosos concordam com os
elementos apontados por Braidwood,
caracterizando a cultura como:
• Adquirida pela aprendizagem, e não
herdada pelos instintos;
• Transmitida de geração a geração,
através da linguagem nas diferentes
sociedades;
• Criação exclusiva dos seres humanos,
incluindo a produção material e não-material;
• Múltipla e variável, no tempo e no
espaço, de sociedade para sociedade.
Cultura e Humanização.
Quando falamos de natureza e cultura,
pode surgir uma dupla questão: onde acaba
a natureza e começa a cultura?
O tema é polêmico. Alguns estudiosos
afirmam que não há um limite rígido entre
natureza e cultura. Outros dizem que um
provável indicador desse limite, seria a
construção de instrumentos de trabalho.
Outros ainda, como o antropólogo francês
Claude Lévi-Strauss (1908-), acreditam que a
linha de separação entre natureza e cultura
não seria a criação de utensílios ou
instrumentos, mas a presença da linguagem
simbólica:
Já para Karl Marx, filósofo alemão do
século XIX, é o trabalho que possibilita a
distinção entre ser humano e animais;
portanto, entre cultura e natureza. É a partir
do trabalho, e da forma como se dá o
processo de produção da vida material dos
homens, que todas as outras formas de
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manifestações humanas se desenvolvem.
Ele afirma: “Pode-se considerar a
consciência, a religião e tudo o que se quiser
como distinção entre os homens e os
animais; porém esta distinção só começa a
existir quando os homens iniciam a produção
dos seus meios da vida”.
Para Marx, portanto, é o modo como os
homens constroem sua vida material que dá
origem à organização da vida espiritual e das
relações sociais, formando um conjunto que
constitui a cultura. Assim, não podemos falar
de cultura no singular, mas sim de culturas,
pois elas são múltiplas e variáveis, de acordo
com a diversidade dos modos de ser e viver
das coletividades humanas.
Mas, se o trabalho é o momento
inaugural da vida propriamente humana, a
linguagem não deixa de ser uma das
dimensões mais importantes da cultura, pois
é ela que permite o intercâmbio das
aquisições culturais.
Se compararmos o corpo humano ao
de muitos animais, veremos que ele não é
tão capacitado quanto o deles para enfrentar
uma série de dificuldades. Como ilustra o
arqueólogo australiano Gordon Childe (1892-
1957), o homem não tem, por exemplo, um
couro peludo como o do urso para manter o
calor do corpo num ambiente frio. O corpo
humano também não é excepcionalmente
bem adaptado à fuga, à defesa própria ou à
caça. Não tem a capacidade de correr como
uma lebre ou um avestruz. Não tem a
coloração protetora do tigre ou a armadura
defensiva da tartaruga ou da lagosta. Não
tem asas para voar e dar-lhe a vantagem de
espionar e localizar sua caça. Faltam-lhe o
bico, as garras e a acuidade do gavião No
entanto, conclui: O ser humano pode ajustar-
se a um número maior de ambientes do que
qualquer outra criatura multiplicar-se
infinitamente mais depressa do que qualquer
mamífero superior, e derrotar o urso polar, a
lebre, o gavião e o tigre, em seus recursos
especiais. Pelo controle do fogo e pela
habilidade de fazer roupas e casas, o homem
pode viver, e vive e viceja, desde os pólos da
Terra até o equador. Nos trens e automóveis
que constrói, pode superar a mais rápida
lebre ou avestruz. Nos aviões e foguetes
pode subir mais alto do que a águia, e, com
os telescópios, ver mais longe do que o
gavião. Com armas de fogo pode derrubar
animais que nenhum tigre ousaria atacar.
Mas fogo, roupas, casas, trens,
automóveis, aviões, telescópios e armas de
fogo não são parte do corpo do homem. Eles
não são herdados no sentido biológico. O
conhecimento necessário para sua produção
e uso é parte do nosso legado social. Resulta
de uma tradição acumulada por muitas
gerações e transmitida, não pelo sangue,
mas através da linguagem (fala e escrita).
A compensação que o homem tem
pelos seus dotes corporais relativamente
pobres é o cérebro grande e complexo,
centro de um extenso e delicado sistema
nervoso, que lhe permite desenvolver sua
própria cultura. CHILDE, Gordon. A evolução
cultural do homem, p. 40-1.
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Nesse sentido, o comportamento do
homem é fundamentalmente diferente ao dos
animais. É certo que o ser humano faz parte
da natureza, pois tem um corpo sujeito às
leis físicas e biológicas, mas graças ao
desenvolvimento de seu psiquismo pode
observar a natureza, criar uma linguagem e,
assim, analisar, julgar o mundo em que vive.
Com seu alto grau de consciência, o
homem superou os limites primitivos
tornando-se simultaneamente um ser
biológico e cultural. Nele ocorre uma síntese
que integra características hereditárias e
adquiridas, aspectos individuais e sociais e
elementos do estado de natureza e de
cultura.
Por isso, o homem é um ser
contraditório, ambíguo, instável e dinâmico.
Um produto da natureza e da cultura e, ao
mesmo tempo, um transformador da
natureza e um produtor cultural. Enfim,
criatura e criador do mundo em que vive.
As diferenças entre o homem e o
animal não são apenas de grau, pois,
enquanto o animal permanece mergulhado
na natureza, o homem é capaz de
transformá-la, tornando possível à cultura. O
mundo resultante da ação humana é um
mundo que não podemos chamar de natural,
pois se encontra transformado pelo homem é
o mundo social.
Nada disso, porém, será completo
senão enfatizarmos que a ação humana é
uma ação coletiva, no entanto, só é possível
pela transmissão dos conhecimentos
adquiridos de uma geração para outra,
permitindo a assimilação dos modelos de
comportamento valorizado. É a educação
que mantém viva a memória de um povo e
dá condições para a sua sobrevivência
material e espiritual.
Na realidade, o ser social não nasce
com o homem, não se apresenta na
constituição humana primitiva, como também
não resulta de nenhum desenvolvimento
espontâneo. No homem as múltiplas aptidões
que a vida social supõe, não podem
organizar-se em nossos tecidos, aí se
materializando sob a forma de
predisposições orgânicas. Segue-se que elas
não podem transmitir-se de uma geração a
outra, por meio da hereditariedade – é pela
educação que essa transmissão se dá.
Na verdade, o homem não é humano se
não porque vive em sociedade, por isso se
vê a que se reduziria o homem, se
retirássemos dele tudo quanto à sociedade
lhe empresta: retornaria à condição de
animal. A educação condiciona todas as
facetas daquilo que chamamos de existência
propriamente humana. O homem se torna
humano graças à educação.
O homem não nasce humano, pois
precisa da educação para se humanizar. A
educação é, portanto, fundamental para a
socialização do homem e sua humanização.
Trata-se de um processo que dura à vida
toda e não se restringe à mera continuidade
da tradição, pois supõe a possibilidade de
rupturas, pelas quais a cultura se renova e o
homem faz a história.
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Mito e Filosofia.
A mente humana é naturalmente
inquiridora: quer conhecer as razões das
coisas. Basta ver uma criança fazendo
perguntas aos pais. Mas às mesmas
perguntas podem ser dadas diversas
respostas: respostas míticas, teológicas,
científicas e filosóficas.
Mito.
Desde o início o homem procurou
indagar sobre a origem do universo, sobre a
natureza das coisas e das forcas às quais se
sentia sujeito. A esta indagação ele deu sob
o impulso da fantasia criadora – tão ativa
entre os povos primitivos -, cor e forma,
criando um mundo de seres vivos (em forma
humana ou animal) dotados de história.
A humanidade primitiva (pode-se
verificar em todos os povos) contentava-se
com explicações míticas para qualquer
problema. Assim, à pergunta “por que
troveja?”, respondia: “porque Júpiter está
encolerizado”; a pergunta “por que o vento
sopra?”, respondia: “porque Éolo está
enfurecido”.
A nós modernos, estas respostas
parecem simplistas e errôneas, por isso,
julgamos oportuno dizer aqui algumas
palavras sobre o mito, sobre sua definição,
sobre suas interpretações principais e sobre
a passagem da mitologia grega para a
filosofia.
A palavra mito vem do grego, mythos, e
deriva de dois verbos: do verbo mytheyo
(contar, narrar, falar alguma coisa para os
outros) e do verbo mytheo (conversar, contar,
anunciar, nomear, designar).
Turchi, grande estudioso da história das
religiões, dá a seguinte definição de mito:
“Em sua acepção geral e em sua fonte
psicológica, o mito é a animação dos
fenômenos da natureza e da vida, animação
devida a alguma forma primordial e intuitiva
do conhecimento humano, em virtude da qual
o homem projeta a si mesmo nas coisas, isto
é, anima-as e personifica-as, dando-lhes
figura e comportamentos sugeridos pela sua
imaginação”. “Dessa longa definição
retenhamos a última parte: uma
representação fantasiosa, espontaneamente
delineada pelo mecanismo mental do
homem, a fim de dar uma explicação aos
fenômenos da natureza e da vida”.
O mito é uma narrativa sobre a origem
de alguma coisa (origem de astros, da Terra,
dos homens, das plantas, dos animais, do
fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal,
da saúde e da doença, da morte, dos
instrumentos de trabalho, das raças, das
guerras, do poder, etc.).
Das análises feitas pelos estudiosos de
nosso tempo segue-se que o mito exerceu,
entre os povos antigos, três funções
principais: religiosa, social e filosófica.
Primeiramente, “o mito é o primeiro
degrau no processo de compreensão dos
sentimentos religiosos mais profundos do
homem; é o protótipo da Teologia”. Mas, ao
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mesmo tempo, ele é também aquilo que
assinala e garante o pertencer a um grupo
social e não a outro; de fato, o pertencer a
este ou aquele grupo depende dos mitos
particulares que alguém segue e cultiva.
Finalmente, o mito exerce uma função
semelhante à da filosofia, enquanto
representa o modo de autocompreender-se
dos povos primitivos, com o objetivo de
fornecer e responder aos questionamentos
existenciais, cósmicos e culturais, ou seja,
fornecer uma explicação para os
acontecimentos da natureza e da existência
humana: para a guerra e a paz, para a
bonança e a tempestade, para a abundância
e a carestia, para a saúde e a doença, para o
nascimento e a morte.
Todos os povos antigos - assírios,
babilônios, persas, egípcios, hindus,
chineses, romanos, gauleses, gregos – têm
seus mitos. Mas entre todas as mitologias, a
grega é a que mais se destaca pela riqueza,
ordem e humanidade. Não é de se admirar,
que a filosofia se tenha desenvolvido
justamente da mitologia grega.
Como os mitos sobre a origem do
mundo são genealogias, diz-se que são
cosmogonias e teogonias.
A palavra gonia vem de duas palavras
gregas: do verbo gennao (engendrar, gerar,
fazer, nascer e crescer) e do substantivo
genos (nascimento, gênese, descendência,
gênero, espécie). Gonia, portanto, quer dizer;
geração, nascimento a partir da concepção
sexual e do parto. Cosmos, quer dizer mundo
ordenado e organizado. Assim, a
cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento
e a organização do mundo, a partir de forcas
geradoras (pai e mãe) divinas. Teogonia é
uma palavra composta de gonia e theos, que,
em grego, significa: as coisas divinas, os
seres divinos, os deuses. A teogonia é,
portanto, a narrativa da origem dos deuses, a
partir de seus pais e antepassados.
Qual é a pergunta dos estudiosos? A
filosofia nasceu realizando uma
transformação gradual sobre os mitos gregos
ou nasceu por uma ruptura radical com os
mitos? Existem duas teorias que explicam o
porquê da filosofia ter nascido na Grécia. A
primeira delas afirma que o aparecimento da
filosofia se deu através de influências da
sabedoria oriental, com a qual os gregos
tiveram contato em suas viagens. A outra
teoria diz que o povo grego foi tão
excepcional, que foram capazes de criar a
filosofia de forma espontânea e única.
Consideram-se as duas respostas
exageradas e afirma-se que a Filosofia,
percebendo as contradições e limitações dos
mitos, foi reformulando e racionalizando as
narrativas míticas, transformando-as numa
outra coisa, numa explicação inteiramente
nova e diferente.
Nos final do século XIX veio uma
resposta à pergunta inicial, a partir de um
grande otimismo na capacidade científica
humana. Filosofia é ruptura, sendo a primeira
explicação científica da realidade realizada
no ocidente. A segunda possível resposta é
ulterior: os mitos estão intrincados no modo
de ser, pensar e construir cultura, de forma
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que o mito nasceu a partir dos mitos, como
uma racionalização deles.
Na verdade, a filosofia possui grande
influência da sabedoria oriental (egípcios,
assírios, persas, etc.), no entanto, os gregos
imprimiram mudanças de qualidade tão
profundas nessas culturas, que foram
apontados para alguns, como os criadores
únicos da ciência.
Na história do pensamento ocidental, a
filosofia nasce por meio de longo processo
histórico, surge promovendo a passagem do
saber mítico ao pensamento racional, sem,
entretanto, romper bruscamente com todos
os conhecimentos do passado. Durante
muito tempo, os primeiros filósofos gregos
compartilharam de diversas crenças míticas,
enquanto desenvolviam o conhecimento
racional que caracterizaria a filosofia. Essa
passagem do mito à razão “significa
precisamente que já havia, de um lado, uma
lógica do mito e que, de outro lado, na
realidade filosófica ainda está incluído o
poder do lendário”.
Embora existam esses aspectos de
continuidade, a filosofia surge como algo
muito diferente, pois resulta de uma ruptura
quanto à atitude diante do saber recebido.
Enquanto o mito é uma narrativa cujo
conteúdo não se questiona, a filosofia
problematizada e, portanto, convida à
discussão. Enquanto no mito a inteligibilidade
é dada, na filosofia ela é procurada. A
filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência
de agentes divinos na explicação dos
fenômenos. Ainda mais: a filosofia busca a
coerência interna, a definição rigorosa dos
conceitos, o debate e a discussão e surge,
portanto, como pensamento abstrato.
É bem verdade que o desenvolvimento
do pensamento reflexivo não decreta a morte
da consciência mítica, pois o mito, mesmo
entre os ditos civilizados, ocupa um lugar de
destaque como forma fundamental de todo
viver humano. Em outras palavras, tudo o
que pensamos e queremos se situa
inicialmente no horizonte da imaginação, nos
pressupostos míticos, cujo sentido existencial
serve de base para todo trabalho posterior.
Diferenças entre mito e filosofia:
1. O mito está relacionado ao passado e a
filosofia se pretende atemporalidade.
2. A filosofia explica a produção das coisas
por causas naturais, e não pelos três itens
acima.
3. O mito pode ser contraditório. A Filosofia
não admite contradições.
O mito é muito confundido com o
conceito de lenda, porém esta não tem
compromisso nenhum com a realidade, são
meras histórias sobrenaturais, como é o caso
da mula sem cabeça e do saci Pererê. O mito
não é exclusividade de povos primitivos, nem
de civilizações nascentes, mas existe em
todos os tempos e culturas como
componente indissociável da maneira
humana de compreender a realidade.
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Mas, e quanto aos nossos dias, os
mitos são diferentes? O homem moderno,
tanto quanto o antigo, não são só razão, mas
também afetividade e emoção. Hoje em dia,
os meios de comunicação de massa
trabalham em cima dos desejos e anseios
que existem na nossa natureza inconsciente
e primitiva. O mito recuperado do cotidiano
do homem contemporâneo, não se apresenta
com a abrangência que se fazia sentir no
homem primitivo. Os mitos modernos não
abrangem mais a totalidade do real como
ocorria nos mitos gregos, romanos ou
indígenas. Podemos escolher um mito da
sensualidade, outro da maternidade, sem
que tenham de ser coerentes entre si. Os
super-heróis dos desenhos animados e dos
quadrinhos, bem como os personagens de
filmes, passam a encarnar o Bem e a Justiça,
assumindo a nossa proteção imaginária. A
própria ciência pode virar um mito, quando
somos levados a acreditar que ela é feita à
margem da sociedade e de seus interesses,
que mantém total objetividade e que é
neutra. A nossa forma de compreensão do
mundo dessacraliza o pensamento e a ação
(isto é, retira dele o caráter de sobre
naturalidade), fazendo surgir à filosofia, a
ciência e a religião. Como mito e razão
habitam o mesmo mundo, o pensamento
reflexivo pode rejeitar alguns mitos,
principalmente os que vinculam valores
destrutivos ou que levam a desumanização
da sociedade. Cabe a cada um de nós
escolhermos quais serão nossos modelos de
vida.
Condições históricas para o surgimento da
Filosofia
Resolvido o problema da relação entre
Filosofia e mito, temos ainda um último a
solucionar: O que tornou possível o
surgimento da Filosofia na Grécia no final do
século VII e no início do século VI a.C.?
Quais as condições materiais, isto é,
econômicas, sociais, políticas e históricas
que permitiram o surgimento da Filosofia?
Podemos apontar como principais
condições históricas do surgimento da
filosofia na Grécia:
• As viagens marítimas – (descoberta e
humanização de lugares míticos) As viagens
produziram o desencantamento ou a
desmistificação do mundo, que passou,
assim, a exigir uma explicação sobre sua
origem, explicação que o mito já não podia
oferecer;
• A invenção do calendário – (cálculo do
tempo, o tempo deixa de ser divino e
incompreensível) revelando, com isso, uma
capacidade de abstração nova, ou uma
percepção do tempo como algo natural e não
como um poder divino incompreensível;
• A invenção da moeda – (capacidade de
abstração e raciocínio) que permitiu uma
forma de troca que não se realiza através
das coisas concretas ou dos objetos
concretos trocados por semelhança, mas
uma troca abstrata, uma troca feita pelo
calculo do valor semelhante das coisas
diferentes, revelando, portanto, uma nova
capacidade de abstração e de generalização;
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• O surgimento da vida urbana – (tecnicismo)
com predomínio do comercio e do
artesanato, dando desenvolvimento a
técnicas de fabricação e de troca, e
diminuindo o prestigio das famílias da
aristocracia proprietária de terras, por quem e
para quem os mitos foram criados;
• A invenção da escrita alfabética –
(capacidade de abstração e generalização)
que, como a do calendário e a da moeda,
revela o crescimento da capacidade de
abstração e de generalização, uma vez que a
escrita alfabética ou fonética, diferentemente
de outras escritas – como, por exemplo, os
hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas
dos chineses –, supõe que não se represente
uma imagem da coisa que está sendo dita,
mas a idéia dela, o que dela se pensa e se
transcreve;
• A invenção da política – (expressão da
vontade da coletividade, direitos, valorização
do humano, público).
Sofistas.
Conforme nos reporta Platão, a profissão de
sofista foi criada por Protágoras, discípulo de
Demócrito. Sofistas foram um tipo especifico
de professor na Grécia antiga e no império
romano, que deveriam ensinar a arete, termo
grego que traduz o conceito de "excelência"
ou "virtude", aplicado a áreas como música,
política, matemática e atleticismo. Entre os
principais sofistas conhecidos estão
Protágoras, Górgias, Pródico, Hípias,
Trasímaco, Antifonte e Crátilo.
O termo "sofista" tem sua origem no idioma
grego, a partir da palavra "sophistēs",
derivada de "sophia" e "sophos", significando
"sabedoria" e "sábio" respectivamente. O
termo Sophistēs foi originalmente utilizado
por Homero, para descrever alguém
habilidoso em uma determinada atividade.
Com o tempo a palavra passou a designar a
sabedoria nos assuntos tipicamente
humanos, em oposição aos assuntos da
natureza, até chegar a designar um tipo
especifico de profissional, o sofista.
Embora os sofistas não sejam considerados
filósofos pela tradição, sua importância se dá
na medida em que estão entre os primeiros a
desafiar a ideia de que a sabedoria seria
recebida dos deuses, baseando-se na
hipótese de que, assim como nas atividades
físicas, a prática da virtude, por meio da
retórica e da oratória, poderia melhorar os
estudantes, tornando-os mais sábios e
virtuosos.
O foco de seus ensinamentos era prático,
direcionado a estratégias de argumentação e
oratória, para que os estudantes atingissem o
á pice da excelência em suas atividades,
independente de quais fossem estas
atividades.
Como os sofistas são conhecidos por meio
das criticas de seus oponentes, alguns
elementos de suas posições são difíceis de
confirmar. Uma das principais critica aos
sofistas era a de que sua posição baseava-
se apenas em verossimilhança, quando um
argumento parece verdadeiro, mesmo que
não o seja. O objetivo dos sofistas seria, pela
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visão de filósofos como Aristóteles, apenas o
de vencer o debate, sem preocupar-se com a
busca pela verdade. Por esta razão, a
expressão "sofisma" existe hoje para
identificar uma argumentação rebuscada,
porém sem fundamentação sólida.
Como foi o primeiro sofista, a posição
relativista atribuída a Protágoras é
normalmente identificada como a posição
geral que iniciou o movimento, que se
tornaria a profissão de sofista.
Protágoras é lembrado pela controvérsia
acerca de sua afirmação "o homem é a
medida de todas as coisas", aparentemente
manifestando uma forma de relativismo, o
que era repudiado por filósofos como Platão
e Aristóteles, seus maiores críticos. Como
aconteceram com a maioria dos filósofos pré-
socráticos, as citações de Protágoras
sobreviveram sem o contexto no qual foram
apresentadas, o que mantém abertas as
possibilidades de interpretações diferentes.
Uma destas interpretações possíveis para a
afirmação de Protágoras é a de que o uso da
palavra "chremata", significando "coisas
usadas", ao invés da palavra mais geral
"onta", que significaria "entidades", para se
referir ao que é traduzido como "coisas",
indica que Protágoras não falava da
realidade objetiva do mundo como um todo,
mas daquelas coisas especificas dos seres
humanos.
Desta forma entende-se que os sofistas não
davam atenção a busca pela compreensão
da natureza, do universo e da origem dos
objetos do mundo, pois concentravam seus
esforços na demonstração de que seriam
capazes de tornar os estudantes melhores
nas atividades humanas que poderiam
auxiliá-los a prosperar na sociedade grega.
Era comum que sofistas viajassem em
grupos pelas cidades gregas e romanas,
para assim poderem realizar elaborados
discursos e acalorados debates públicos,
demonstrando suas habilidades na
expectativa de atrair estudantes para suas
escolas. Em particular, nobres, homens de
estado e jovens que pudessem pagar pelos
estudos. Os sofistas foram muito criticados
por Platão e Aristóteles por só ensinarem aos
que podiam pagar pela educação.
Platão.
Platão, filósofo grego, nasceu em Atenas e
se destacou entre os pensadores mais
influentes da civilização ocidental. Platão foi
um brilhante escritor e filósofo. Seus diálogos
abordaram praticamente todos os tópicos
que vieram a ser discutidos por filósofos que
se seguiram a ele. Suas obras fazem parte
da mais reconhecida literatura mundial.
Platão nasceu em uma família aristocrata de
Atenas. Desde jovem, Platão tinha ambições
políticas, mas logo se decepcionou com a
liderança política de Atenas. Platão se tornou
discípulo de Sócrates, seguindo sua filosofia
e aderindo ao método por ele utilizado: a
busca da verdade através de perguntas,
respostas e mais perguntas.
Seu professor, Sócrates, não escreveu seus
ensinamentos. Platão, como discípulo de
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Sócrates, escreveu muito dos ensinamentos
que lemos dele. Porém, nos diálogos, Platão
faz do personagem Sócrates porta-voz de
seus próprios pensamentos, de modo que é
difícil estabelecer quais são os ideais de
Platão e quais são os de Sócrates.
Em 399 a.C. Platão testemunhou o
julgamento e a condenação de Sócrates,
tendo sido acusado de corromper a mente
dos jovens e não acreditar nos deuses. Após
a execução de Sócrates, revoltado com a
democracia Ateniense e talvez preocupado
com sua própria segurança, Platão deixou
Atenas e foi para a Sicília e para o Egito,
onde passou aproximadamente dez anos
viajando.
Em 387, com seu regresso a Atenas, Platão
fundou uma Academia, uma instituição tida
como a primeira universidade da Europa. A
Academia oferecia um currículo de matérias
tais como astronomia, biologia, ciências
políticas e filosofia. Aristóteles foi o aluno
mais famoso da Academia. A Academia de
Platão se manteve em funcionamento por
mais de novecentos anos.
Em 367 Platão retornou a Sicília tentando
influenciar a política local com seus ideais,
mas logo voltou a Academia em Atenas onde
passou o resto de sua vida, com exceção de
algumas viagens, onde ensinava e escrevia.
Platão faleceu em 347 a .C., com oitenta
anos de idade.
Suas Obras
Fases dos diálogos:
Os ensinamentos de Platão foram escritos
em forma de dialogo, de uma conversa ou
um debate entre várias pessoas.
Seus diálogos são divididos em três fases. A
primeira fase é representada com Platão
tentando comunicar a filosofia de Sócrates.
Muito dos diálogos tem a mesma forma.
Sócrates encontra alguém que diz que sabe
muito. Sócrates se diz ignorante a procura de
conhecimento e faz várias perguntas,
mostrando que aquele que se dizia mestre no
assunto realmente não sabe nada.
Os diálogos da segunda e terceira fase
relatam as próprias ideias de Platão, por
mais que ele continue a utilizar Sócrates
como personagem em seus diálogos.
Teoria das Formas.
A parte central da filosofia de Platão é a
teoria das formas, ou o mundo das ideias.
Ideias ou formas são arquétipos imutáveis.
De acordo com Platão só essas
ideias/formas são constantes e reais. Platão
divide o mundo em duas partes - o mundo
das ideias, onde tudo é constante e real, e o
mundo físico em que vivemos, onde o fluxo é
constante e a realidade é relativa. As formas
então mantêm a ordem e a estrutura das
ideias do mundo.
Platão distinguiu entre dois níveis de saber:
opinião e conhecimento. Afirmações
relacionadas com o mundo físico, Platão as
considerava uma opinião, mesmo que
estivessem baseadas na lógica ou na
ciência. Segundo Platão, o conhecimento é
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derivado da razão e não da experiência. Ele
pregava que somente através da razão
atingimos o conhecimento das formas.
Platão diz que as formas têm uma realidade
que vai além do mundo físico por causa de
sua perfeição e estabilidade. O mundo físico
se parece com as formas, mas devido a
constantes mudanças nunca chega a sua
perfeição.
Um exemplo para entender a diferença entre
o mundo das formas e o mundo físico é dado
por Platão em termos matemáticos. Devido
ao mundo das formas temos a concepção de
um círculo perfeito - totalmente redondo,
composto de uma série de pontos que
apresentam exatamente a mesma distancia
do ponto central. No mundo físico, porem,
essa figura não é vista. Círculos nunca são
desenhados perfeitamente. A ideia do círculo
existe e é imutável, porem ela só pode ser
conhecida pela razão e não pela experiência
do círculo perfeito no mundo físico.
Platão aplica sua teoria a conceitos como
beleza, justiça, bondade, entre outros. A
pessoa é bela ou justa por que nela há algo
que se parece com a forma do belo ou do
justo, presente no mundo das ideias. O amor
no mundo das ideias também é perfeito, daí
vem a expressão amor platônico, utilizada
nos dias de hoje.
Teoria Política.
A República é a maior e mais reconhecida
obra política de Platão. A obra se foca na
questão de justiça: Como é um Estado justo?
Quem é um individuo justo?
Segundo Platão, a melhor forma de governo
é a aristocracia por mérito. Platão divide o
estado ideal em três classes: a classe dos
comerciantes, a classe dos militares e a
classe dos filósofos-reis. Os filósofos-reis são
encarregados de governar o país. As classes
não são hereditárias, elas são determinadas
pelo tipo de educação obtida pela pessoa.
Com maior nível de educação a pessoa se
pertence à classe dos filósofos-reis.
A República aborda diversos temas sobre
justiça, governo e apresenta um governo
utópico. Essa obra vem sendo amplamente
lida através dos séculos, por mais que suas
propostas nunca foram adotas como uma
forma de governo concreta.
Platão escreveu sobre diversos assuntos,
tais como ética, arte, teoria do conhecimento,
entre tantas. Suas obras influenciaram e
moldaram a filosofia ocidental. O intuito
desse artigo foi apenas o de introduzir esse
grande pensador. De nenhuma forma é
possível resumir sua imensa contribuição à
nossa cultura.
Aristóteles: Ética e Política.
O tema principal da ética de Aristóteles é
delimitar o que é o “bem” e o significado que
ele tem para o homem. Somente quem
conhece o bem é capaz de encontrar a
felicidade, que na filosofia aristotélica não é
um sentimento passageiro, e sim “obra de
uma vida inteira”.
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A ideia do “bem”:
Aristóteles começa a Ética nicomaqueia
provavelmente dedicada a seu filho
Nicômaco e o mais importante de seus textos
sobre o bem e o comportamento dos homens
– com estas palavras:
“Toda arte e todo saber, assim como tudo
que fazemos e escolhemos, parece visar
algum bem. Por isso, foi dito, com razão, que
o bem é aquilo a que todas as coisas
tendem, Mas há uma diferença entre os fins:
alguns são atividades, ao passo que outros
são produtos à parte das atividades que os
produzem.”
Essa afirmação contém duas teses
fundamentais da ética aristotélica. A primeira:
todas as coisas tendem ao bem, o que
significa, na doutrina do filósofo, que o bem é
a finalidade de todas as coisas. A segunda:
chega-se ao bem por dois caminhos: a) pelas
atividades práticas, isto é, aquelas que
contêm seus próprios fins (ética e política); b)
pelas atividades produtivas (artes ou
técnicas).
Em relação à ética, o bem leva cada
indivíduo a ser capaz de viver com os outros,
na polis. Em outras palavras, a ética, no
campo individual, prepara terreno para a
política, no campo coletivo. Para Aristóteles,
a finalidade da política é a busca do bem de
todos os homens.
E qual é o bem de todos os homens? A
felicidade, responde Aristóteles. A felicidade,
porém, não é um sentimento que aparece,
instala-se e vai embora; ao contrário, é “obra
de uma vida inteira”.
“O bem ético pertence ao gênero da vida
excelente e a felicidade é a vida plenamente
realizada em sua excelência máxima. Por
isso não é alcançável imediata nem
definitivamente, mas é um exercício cotidiano
que a alma realiza durante toda a vida (…)
de acordo com a sua excelência mais
completa, a racionalidade.”
As virtudes: o justo meio.
A virtude (areté) é a expressão maior da
excelência de uma pessoa, de sua
integridade, de sua identidade. A paixão, por
outro lado, torna-a confusa, dividida entre
desejos contrários, conflitantes, opostos.
Alguém sob o domínio da paixão pode
inclinar-se ao vício, que é o excesso ou a
falta da paixão. A virtude é encontrar, pelo
uso da razão, o meio-termo entre esses
extremos, que Aristóteles chamou de justo
meio.
Suponha-se alguém dominado pelo prazer
(que, para Aristóteles, é uma paixão). Esse
alguém pode ser libertino (um dos extremos
do prazer em excesso) ou insensível (o
extremo oposto: falta de prazer), O justo
meio, aqui, é a temperança, à qual se chega
pelo uso da razão.
A virtude, assim, está ligada à razão. E,
como todo homem é dotado de razão, todo
homem pode alcançar a virtude. Basta
identificar a paixão que o domina, reconhecer
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seus extremos e procurar, racionalmente,
seu justo meio.
A maior de todas as virtudes, diz Aristóteles,
é a justiça. Sua força sobre as demais
consiste em sua perfeição, porque quem é
justo projeta-se mais para o outro do que
para si mesmo. Em outras palavras, tudo que
protege o conjunto dos indivíduos (a
sociedade) é mais importante do que aquilo
que protege somente um dos membros
dessa sociedade, Por isso, dos males, a
injustiça é o maior, pois destrói o tecido
social.
Política e Estado.
Como Platão, Aristóteles também faz um
estudo dos regimes políticos, divididos em
monarquia, aristocracia e politeia ou
república. Tal qual Platão, Aristóteles
considera que cada um deles pode
degenerar a monarquia, em tirania; a
aristocracia, em oligarquia; a democracia, em
anarquia.
O melhor dos regimes possíveis consistirá
em uma combinação do que há de melhor
em cada um deles. O melhor da república é a
liberdade e a igualdade; da monarquia, a
capacidade de criar riquezas; e da
aristocracia, sua excelência, capacidade e
qualidades intelectuais,
Entre os escritos políticos de Aristóteles, a
Constituição de Atenas, descoberta no
século XIX no Egito, ocupa um lugar
especial. Essa obra era parte das 158
constituições que Aristóteles reunira a fim de
ter uma base empírica para a reflexão sobre
teoria política.
“Uma constituição é a ordem ou distribuição
dos poderes de um Estado, isto é, a maneira
como são divididos, a sede da soberania e o
fim a que se propõe a sociedade.”
A ética de Santo Agostinho.
A felicidade é o tema central de sua filosofia,
e não se dá sem o conhecimento, sem o
encontro de Deus. O verdadeiro
conhecimento é aquele que conduz o homem
à verdade suprema e, só se atinge tal
verdade pelo amor. Para o alcance da
felicidade, amor e sabedoria andam juntos.
A ética agostiniana envolve o conceito de
liberdade e o livre arbítrio da vontade.
Agostinho rompe com a concepção de
liberdade grega, que estava fundamentada
em um télos político e com o maniqueísmo,
enfatizando que Deus criou o mundo e
partindo disso, não existe o mal. Deus é
perfeito e não poderia ser a causa do mal. O
mal é o contrário da ideia de Deus, é apenas
ausência de bem.
O homem possuía o livre arbítrio, a
possibilidade de escolha entre o bem e o
mal. O que pode afastar o homem de Deus é
o fator vontade, que muitas vezes leva o
homem a escolhas erradas. Afastar-se de
Deus significa ir para o não ser, ir em direção
ao mal. É nesse contexto que surge o
pecado, como vontade do homem e não de
Deus. No homem que vai em direção ao
pecado, sua alma decai e não consegue
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salvar-se sozinha, até que venha então a
graça, para dirigir o homem para o caminho
do bem. Sem o auxílio da graça reveladora
divina, exercendo somente o livre arbítrio, o
homem ficaria condenado em seu livre
arbítrio e acabaria escolhendo o caminho do
mal. Porém, nem todos recebem a graça,
somente os predestinados. O homem não é
só intelecto, mas também vontade e esta
vontade pode ser influenciado ou vulnerável
desejando coisas ruins. O homem que busca
a beatitude para alcançar a felicidade, só a
encontra com fé e intuição, não por meio de
atividade intelectual. A fé e a razão
complementam-se na busca da felicidade e
da beatitude.
Filosofia Medieval.
A filosofia medieval e o cristianismo
A Idade Média inicia-se com a
desorganização da vida política, econômica e
social do Ocidente, agora transformado num
mosaico de reinos bárbaros. Depois vieram
as guerras, a fome e as grandes epidemias.
O cristianismo propaga-se por diversos
povos. A diminuição da atividade cultural
transforma o homem comum num ser
dominado por crenças e superstições.
Em meio ao esfacelamento do Império
Romano, decorrente, em grande parte, das
invasões germânicas, a Igreja católica
conseguiu manter-se como instituição social
mais organizada. Ela consolidou sua
estrutura religiosa e difundiu o cristianismo
entre os povos bárbaros, preservando muitos
elementos da cultura pagã greco-romana.
Apoiada em sua crescente influência
religiosa, a Igreja passou a exercer
importante papel político na sociedade
medieval. Desempenhou, por exemplo, a
função de órgão supranacional, conciliador
das elites dominantes, contornando os
problemas da fragmentação política e das
rivalidades internas da nobreza feudal.
Conquistou, também, vasta riqueza material:
tornou-se dona de aproximadamente um
terço das áreas cultiváveis da Europa
ocidental, numa época em que a terra era a
principal base de riqueza. Assim, pôde
estender seu manto de poder "universalista"
sobre diferentes regiões européias.
Foi um período de dominação da Igreja
Romana. Durante esse período surge a
Filosofia cristã, que é, na verdade a teologia.
Desta forma, o teocentrismo acabou por
definir as formas de sentir, ver e também
pensar durante o período medieval. Sob a
influência da Igreja, as especulações se
concentram em questões filosófico-
teológicas, tentando conciliar a fé e a razão.
O período medieval não foi, porém, a
"Idade das Trevas", como se acreditava. A
filosofia clássica sobrevive, confinada nos
mosteiros religiosos. O aristotelismo
dissemina-se pelo Oriente bizantino, fazendo
florescer os estudos filosóficos e as
realizações científicas. No Ocidente, fundam-
se as primeiras universidades, ocorre a fusão
de elementos culturais greco-romanos,
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cristãos e germânicos, e as obras de
Aristóteles são traduzidas para o latim.
No período medieval a filosofia foi
estudada num contexto, sobretudo religioso.
Muitos filósofos deste período foram
extraordinariamente perspicazes, tendo
desenvolvido algumas ideias e argumentos
hoje considerados centrais em filosofia, não
só na filosofia da religião e na metafísica,
mas também na ética, filosofia da linguagem
e lógica. Alguns dos debates mais
importantes da época incluem o problema
dos universais, as provas da existência de
Deus e a compatibilidade entre a presciência
divina e o livre-arbítrio humano (a presciência
é a capacidade para saber de antemão o que
vai acontecer). Alguns dos mais destacados
filósofos ocidentais do período medieval
foram Santo Agostinho, Santo Anselmo
(1033-1109), Abelardo (1079-1142), Tomás
de Aquino, Duns Escoto (c. 1265-1308) e
Guilherme de Ockham.
Os conflitos e a conciliação entre fé e
razão.
No plano cultural, a Igreja exerceu
ampla influência, traçando um quadro
intelectual em que a fé cristã era o pres-
suposto da vida espiritual.
Em que consistia essa fé? Consistia na
crença irrestrita ou na adesão incondicional
às verdades revê ladas por Deus aos
homens. Verdades expressas nas Sagradas
Escrituras (Bíblia) e interpretadas segundo a
autoridade da Igreja.
De acordo com a doutrina católica, a fé
representava a fonte mais elevada das
verdades reveladas especialmente aquelas
verdades essenciais ao homem e que dizem
respeito à sua salvação.
Assim, toda investigação filosófica ou
científica não poderia, de modo algum,
contrariar as verdades estabelecidas pela fé
católica. Segundo essa orientação, os
filósofos não precisavam se dedicar à busca
da verdade pois ela já havia sido revelada
por Deus aos homens. Restava-lhes, apenas
demonstrar racionalmente as verdades da fé.
Não foram poucos, porém, aqueles que
dispensaram até mesmo essa comprovação
racional da fé. Eram os religiosos que
desprezavam a filosofia grega, sobretudo
porque viam nessa forma pagã de
pensamento uma porta aberta para o
pecado, a dúvida, o descaminho e a heresia
(doutrina contrária ao estabelecido pela
Igreja, em termos de fé).
Por outro lado, surgiram pensadores
cristãos que defendiam o conhecimento da
filosofia grega, sentindo a possibilidade de
utilizá-la como instrumento a serviço do
cristianismo. Conciliado com a fé cristã, o
estudo da filosofia grega permitiria à Igreja
enfrentar os descrentes e derrotar os
hereges com as armas racionais da
argumentação lógica. O objetivo era
convencer os descrentes, tanto quanto
possível, pela razão, para depois fazê-los
aceitar a imensidão dos mistérios divinos, so-
mente acessíveis à fé.
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Nesse contexto, a filosofia medieval
pode ser dividida em quatro momentos
principais:
O dos padres apostólicos, do início do
cristianismo (séculos I e ll), entre os quais se
incluem os apóstolos, que disseminavam a
palavra de Cristo, sobretudo em relação aos
temas morais. Entre estes se destaca a
figura de São Paulo pelo volume e valor
literário de suas epístolas (cartas escritas por
um dos apóstolos);
O dos padres apologistas (séculos III e
IV), que faziam a apologia do cristianismo
contra a filosofia pagã. Entre os apologistas
destacam-se Orígenes, Justino e Tertuliano,
o mais intransigente na defesa da fé contra a
filosofia grega;
O da patrística (de meados do século IV
ao século VIII), A fé a procura da razão – A
Filosofia é um instrumento a serviço da
Teologia. O tema central é a tentativa de
conciliar razão e fé. A Patrística visava
combater as heresias firmando a doutrina
Cristã contra o paganismo. E sua principal
característica reside no seu caráter
apologético: é preciso defender os ideais
cristãos perante os pagãos e convertê-los.
Presencia-se a retomada da filosofia
platônica, especialmente por Santo
Agostinho, bem como do neoplatonismo.
Santo Agostinho, Boécio, Alcuíno.
Filosofia Árabe: Difusão da cultura Grega
no Ocidente.
Procurava harmonizar razão e fé; a relação
entre Deus e o destino da pessoa humana.
Influência Árabe na formação da tradição
ocidental. Introdução ao pensamento de
Aristóteles. Scotus Erígena, Al Kindi,
Avicena. Querela dos Universais: Guilherme
de Champeaux, Roscelino. Abelardo e
Averróis.Tradução de Aristóteles para o
Latim.)
O da escolástica (do século IX a XVI), - A
Razão a Procura da Fé. O termo escolástica
designa a filosofia ministrada nas escolas
cristãs (de catedrais e conventos) e
posteriormente nas universidades. A
escolástica retoma a filosofia aristotélica,
nela encontrando seus fundamentos e os
elementos necessários para seu
desenvolvimento. Santo Tomás de Aquino
elabora a síntese magistral do cristianismo
com o aristotelismo, fornecendo as bases
filosóficas para a teologia cristã: surge a
filosofia aristotélico-tomista. Compatibilizar a
fé e a razão continua a ser o problema
central da filosofia escolástica.
A característica fundamental dessa
filosofia medieval é a ênfase nas questões
teológicas, destacando-se temas como: o
dogma da Trindade, a encarnação de Deus
filho, a liberdade e a salvação, a relação
entre fé e razão.
Filosofia do renascimento.
A filosofia renascentista teve início por volta
dos séculos XV e XVI, na Europa. A filosofia
renascentista é entendida como um período
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de transição entre a Idade Média e a Idade
Moderna.
O contexto intelectual do Renascimento.
São vários os acontecimentos que permitem
contextualizar a filosofia renascentista. Em
primeiro lugar, a corrente humanista promove
a recuperação da cultura clássica grega, o
termo renascimento se refere precisamente
ao novo esplendor intelectual inspirado nas
obras clássicas da cultura e da ciência do
período clássico grego.
Por outro lado, a Reforma Protestante
estabelece uma fragmentação do poder
religioso. Ao mesmo tempo, deve-se
destacar que o descobrimento do Novo
Mundo deu outra imagem da realidade e a
necessidade de enfrentar novos desafios, por
exemplo, na área da navegação. O
aparecimento da burguesia como nova
classe social estabeleceu uma renovação
dos projetos culturais. E tudo isso
acompanhado de uma nova ferramenta
tecnológica, a imprensa
As principais características da filosofia
renascentista.
A volta aos clássicos no Renascimento
apresenta dois aspectos: a tradução de
textos que foram esquecidos durante séculos
e a recuperação da ciência grega,
especialmente as contribuições de
Arquimedes, Pitágoras e Euclides. Este
renascer do mundo clássico foi além dos
interesses pela cultura e pela ciência, pois os
filósofos do Renascimento tentavam criar
uma ordem baseada no ser humano como
eixo central (o antropocentrismo) em
oposição ao teocentrismo medieval.
A figura de Deus já não era vista como base
de toda a realidade, uma vez que surgiram
novas abordagens. Neste sentido, Giordano
Bruno defendia um panteísmo baseado na
infinidade do universo e Nicolau de Cusa se
atreveu em questionar a possibilidade de
conhecer a natureza de Deus.
Os filósofos renascentistas têm uma atitude
crítica em relação às doutrinas intelectuais
medievais, mais particularmente com o
aristotelismo que tomava todo o saber
científico.
A visão heliocêntrica do universo defendida
por Copérnico e o novo método científico
proposto por Francis Bacon são duas
questões essenciais no paradigma
renascentista.
Os ideais renascentistas abriram o caminho
da filosofia da época moderna, na qual a
razão humana se torna independente da fé e
estrutura a ciência entendida atualmente.
Nicolau Maquiavel.
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, mais
conhecido no Brasil como Nicolau Maquiavel,
foi um filósofo que viveu e produziu entre os
séculos XV e XVI, na região de Florença.
Dedicou-se a explicação e compreensão do
estado, politica e homens de estado como
estes são na realidade, em oposição àqueles
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autores que formularam teorias acerca de
como deveria ser o estado ou o governante
ideal. Para além de descrever o estado de
sua época, Maquiavel também apresentou
estratégias e métodos sobre como os
homens de estado deveriam comportar-se
para tirar maior proveito da realidade,
mantendo e expandindo o poder.
Maquiavel é visto como um proponente do
que viria a ser o cientista empirista moderno,
defendendo que expandir a partir da
experiência e fatos históricos são o melhor
método de se desenvolver uma filosofia
consistente, especialmente em política, e que
a teorização a partir da imaginação é inútil.
Com esta aproximação, Maquiavel foi capaz
de afastar a politica da teologia e da filosofia
moral, desenvolvendo-a como uma disciplina
em si mesma. Assim, contribuiu para a
compreensão de como os governantes de
fato agem e mesmo para a antecipação de
seu comportamento. Defendeu o estudo da
fundação de uma nação e a compreensão de
seus elementos originais como essencial
para a antecipação do futuro.
Grande dificuldade foi encontrada por
autores posteriores ao tentar estabelecer a
moral de Maquiavel. Devido a sua posição
realista acerca da natureza e forma de
manutenção do estado e suas instituições,
especialmente sua descrição de como a
desonestidade e a morte de inocentes pode
ser útil aos políticos, em sua obra mais
famosa, O Príncipe. Maquiavel foi criticado e
repudiado veementemente por diversos
estudiosos políticos e, especialmente,
teóricos da moral, o que contribui para a
associação de seu nome a uma
característica inescrupulosa, com a criação
do adjetivo "maquiavélico".
Por outro lado, autores como Baruch
Spinoza, Jean-Jacques Rousseau e Denis
Diderot defenderam que Maquiavel era na
verdade um republicano e que suas ideias
foram extremamente úteis para a
compreensão do estado, inspirando o
Iluminismo e consequentemente o
desenvolvimento da filosofia politica
democrática moderna. O autor italiano
Benedetto Croce defendeu Maquiavel
afirmando que sua posição era a aceitação
de que, na realidade, as regras morais
afetam muito pouco a ação e decisões dos
políticos. A interpretação aceita atualmente é
a de que Maquiavel se coloca como um
cientista politico, procurando distinguir os
fatos da vida politica dos valores do
julgamento moral.
Encontramos em Maquiavel uma critica ao
aristotelianismo teológico, aceito pela igreja,
e a relação da igreja com o estado, que
levaria muitas decisões práticas a serem
tomadas com base em ideais imaginários. O
aristotelianismo teológico foi a mais
sofisticada forma de justificação do
cristianismo e, na visão de Maquiavel, teve
como efeito justificar a preguiça e inação das
pessoas frente aos desafios da vida e da
sociedade, ao esperar pela providência
divina para solucionar tais desafios. Este
posicionamento, de recusa da sorte e destino
baseados em algo externo a vida humana,
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classificou Maquiavel como um humanista.
Enquanto encontramos em filósofos como
Platão a descrição da politica, tornando-o
mais próximo de Maquiavel do que
Aristóteles, tais filósofos sempre tiveram uma
inclinação para posicionar a filosofia acima
da politica, enquanto Maquiavel recusava
qualquer ideia teleológica, aquelas que
postulam causas finais ideais.
Embora seguidores de Maquiavel tenham
preferido métodos mais pacíficos e baseados
na economia para promover o
desenvolvimento, é aceito que a posição de
aceitação de riscos, ousadia, ambição e
inovação que Maquiavel sugere aos lideres
políticos ajudou a fundar novos modos de se
fazer politica e negócios.
Razão e experiência: a investigação
científica.
No século XVII, no plano científico e
filosófico, desabrocharam-se novas maneiras
de pensar que podem ser vistas como
herdeiras do período renascentista.
Essa maneira “moderna” de pensar não
consiste apenas em negar os dogmas e
modelos medievais, mas fundamenta-se na
ideia positiva de que a norma da descoberta
e interpretação da ciência é a experiência e
não a autoridade. Por meio dessa premissa,
a atividade científica deixa de ser uma mera
observação e classificação dos fenômenos e
passa a se preocupar com a determinação
das leis que regem os fenômenos. Essa
atividade da ciência experimental e seu
método de trabalho (a análise) alimentaram a
atividade filosófica do século XVII.
Empirismo.
O empirismo é a posição filosófica que aceita
a experiência como base para a análise da
natureza, procurando rejeitar as doutrinas
dogmáticas. Usado pela primeira vez pela
Escola Empírica, uma escola de praticantes
da medicina na antiga Grécia, o termo
empirismo deriva da palavra
grega empeiría (ἐμπειρία), que designa
conhecimento ou habilidade obtida por meio
da prática, sendo também a origem da
palavra "experiência", por intermédio do
termo latino "experientia".
Empiristas defendem que o conhecimento é
primariamente obtido pela experiência
sensorial, alguns empiristas radicais vão
além afirmando que o conhecimento só é
obtido pela experiência sensorial e por
nenhuma outra forma.
A posição empirista é frequentemente
contrastada com o racionalismo, que
estabelece a razão como origem do
conhecimento, independente dos sentidos. O
conceito e a busca de evidências como fonte
primária de conhecimento existiu durante
toda a história da filosofia e ciência, desde a
Grécia antiga, mas foi com o surgimento do
chamado Empirismo Britânico, no século
XVII, que se consolidou como uma posição
filosófica especifica, sendo o filósofo John
Locke considerado o fundador do empirismo
como tal.
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Os principais filósofos do Empirismo Britânico
foram John Locke, George Berkeley e David
Hume.
Locke é famoso por sua comparação da
mente humana com uma folha em branco,
tabula rasa, na qual as experiências
derivadas das impressões dos sentidos são
impressas. Desta forma, haveriam duas
formas de surgimento de ideias, pela
sensação e pela reflexão, com ideias
podendo ser simples ou complexas.
As ideias simples não são passíveis de
análise, sendo referentes as qualidades
primárias e secundárias dos objetos. Sendo
as primárias aquelas que definem o que o
objeto é essencialmente, por exemplo, uma
mesa tem como qualidade primária o arranjo
especifico de sua estrutura atômica, qualquer
outro arranjo faria outro objeto e não uma
mesa. As qualidades secundárias tratam das
informações sensoriais acerca do objeto,
definindo seus atributos (cor, sabor,
espessura, etc).
Ideias complexas combinam ideias simples e
constituem substancias, modos e relações.
Desta forma, segundo Locke, e discordando
dos racionalistas, o conhecimento humano
acerca dos objetos do mundo é a percepção
de ideias que estão em concordância ou
discordância umas com as outras. Esta
hipótese tornou-se a base da posição
empirista.
Preocupado que a posição de Locke levaria
ao ateísmo, Berkeley formulou a hipótese de
que as coisas só existiriam na medida em
que são percebidas. Para além destas,
existiriam as entidades que percebem, tendo
sua existência garantida mesmo sem que
outro as perceba. Exagerando a alegoria da
tabula rasa, Berkeley defendeu que a ordem
que vemos na natureza é a escrita de Deus.
Por isto, sua posição é hoje conhecida como
idealismo subjetivo.
Na sequência desta discussão, o filósofo
Hume moveu a posição empirista na direção
do ceticismo. Para Hume, a recusa de
Berkeley se daria pelo fato de que o
empirismo possui implicações que não são
aceitas pela maioria dos filósofos, devido a
convicções pessoais.
No campo conceitual, Hume utiliza a
distinção de argumentos, proposta por Locke,
entre demonstrativos e prováveis e a
expande, dividindo os argumentos em
demonstrações, provas e probabilidades.
Sendo as provas, aqueles argumentos da
experiência aos quais não se pode oferecer
oposição. Hume afirma ainda que a razão por
si mesma não poderia fazer surgir qualquer
ideia original, ao mesmo tempo em que
desafia a causalidade, ao afirmar que a razão
não seria capaz de concluir que a existência
de uma causa seja um requisito absoluto.
Derivações posteriores incluem ainda o
Empirismo Lógico, tendo como expoentes os
filósofos Nelson Goodman, W. V. Quine e
Hilary Putnam e Karl Popper, e o
Pragmatismo, desenvolvido especialmente a
partir das discussões entre Charles Sanders
e William James.
Racionalismo.
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O Racionalismo é um movimento filosófico
que se destacou durante o Iluminismo. É a
teoria de que o conhecimento é adquirido por
meio da razão, sem que haja a participação
dos sentidos. O conhecimento matemático é
o melhor exemplo disso: por meio do
pensamento racional, pode-se construir
provas a partir das quais é possível deduzir
outros conceitos matemáticos complexos. As
raízes do Racionalismo se encontram nos
escritos Platonistas e Neoplatonistas. No
século XVII, o Racionalismo introduziu uma
mudança de pensamento singular: a ideia de
que os conceitos mentais mais importantes
são inatos e que é por meio deles que se
deduzem as outras verdades.
Renum dos mais importantes filósofos do
período moderno, René Descartes foi
um racionalista francês do século 17,
geralmente lembrado pela ênfase na
autoridade da razão em filosofia e ciências
naturais, bem como pelo desenvolvimento de
métodos de verificação. Para Descartes a
filosofia seria como uma árvore, na qual a
metafísica forma a raiz, a física o tronco e as
diversas ciências os galhos, sendo que o
mais alto grau de sabedoria estaria na moral,
que pressupõem conhecimento das diversas
ciências, sendo as principais a ética, a
mecânica e a medicina.
René Descartes.
René Descartes (1596-1650) foi um filósofo,
físico e matemático francês. Autor da frase
"Penso, logo existo". É considerado o criador
do pensamento cartesiano, sistema filosófico
que deu origem à Filosofia Moderna. Sua
preocupação era com a ordem e a clareza.
Propôs fazer uma filosofia que nunca
acreditasse no falso, que fosse
fundamentada única e exclusivamente na
verdade. Uma nova visão da natureza
anulava o significado moral e religioso dos
fenômenos naturais. Determinava que a
ciência deveria ser prática e não
especulativa.
A obra de Descartes, "O Discurso Sobre o
Método", é um tratado matemático e
filosófico, publicado na França em 1637 e
traduzida para o latim em 1656. Em toda
obra prevalece a autoridade da razão.
René Descartes (1596-1650) nasceu no dia
31 de março em La Haye, antiga província de
Touraine, hoje Descartes, na França. Filho
de Joachim Descartes, advogado e juiz,
proprietário de terras, com o título de
escudeiro, primeiro grau de nobreza. Era
também conselheiro no Parlamento de
Rennes na vizinha cidade de Bretanha.
René Descartes estudou no Colégio Jesuíta
Royal Henry - Le Grand, que era
estabelecido no castelo De La Flèche, doado
aos jesuítas pelo rei Henrique IV. Na época o
colégio mais prestigiado da França, com o
objetivo de treinar as melhores mentes.
Descartes, estudou entre 1607 e 1615.
Formou-se em Direito pela Universidade de
Poitiers. Dois anos depois, ingressou no
exército do príncipe Maurício de Nassau, na
Holanda, onde estabelece contato com as
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descobertas recentes da Matemática. Aos 22
anos, começa a formular sua "geometria
analítica" e seu "método de raciocinar
corretamente". Rompe com a filosofia
aristotélica adotada nas academias e, em
1619, propõe uma ciência unitária e
universal, lançando as bases do método
científico moderno.
Sua principal obra foi "O Discurso Sobre o
Método" (1637), na qual apresenta o seu
método de raciocínio, "Penso, logo existo",
base de toda a sua filosofia e do futuro
racionalismo científico. Nessa obra expõe as
quatro regras para se chegar ao
conhecimento: nada é verdadeiro até ser
reconhecido como tal; os problemas
precisam ser analisados e resolvidos
sistematicamente; as considerações devem
partir do mais simples para o mais complexo;
e o processo deve ser revisto do começo ao
fim para que nada importante seja omitido.
Em 1649, vai trabalhar como instrutor da
rainha Cristina na Suécia. Com uma saúde
frágil, René Descartes morre de pneumonia
no dia 11 de fevereiro de 1650.
Obras de René Descartes.
Regras Para Orientação do Espírito, 1628.
O Discurso Sobre o Método, 1637.
Geometria, 1637.
Meditações Sobre a Filosofia Primeira, 1641.
Princípios da Filosofia, 1644.
Iluminismo.
A expansão capitalista dos séculos XVII
e XVIII foi acompanhada pela crescente
ascensão social da burguesia e sua tomada
de consciência como classe social.
Paralelamente, o racionalismo imperava na
Europa, transmitindo a confiança de que a
razão era o principal instrumento do homem
para enfrentar os desafios da vida e
equacionar os problemas que o rodeavam. O
desenvolvimento da Revolução Industrial e o
sucesso da ciência em campos como a
química, a física e a matemática inspiravam
filósofos de todas as partes. Foi assim que
surgiu talvez um novo mito: a ideia de pro-
gresso.
Desse modo, disseminou-se a crença
de que a razão, a ciência e a tecnologia ti-
nham condições de impulsionar o trem da
história numa marcha contínua em direção, à
verdade e ao progresso humano.
Paralelamente, desenvolveu-se um
pensamento que culminaria no movimento
cultural do século XVIII denominado Ilumi-
nismo, Ilustração ou Filosofia das Luzes.
O Iluminismo não foi um movimento
coeso e uniforme. Por isso, não podemos
rotular todos os pensadores iluministas como
"ideólogos da burguesia". Havia, por
exemplo, entre os iluministas muitos
pensadores que defendiam a aristocracia. No
entanto, nessa pluralidade de pensadores,
um traço comum é a busca pelo
convencimento racional das pessoas.
A própria postura de muitos filósofos se
modificou no século XVIII. Abandonando os
círculos fechados de seus antecessores, os
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iluministas circulavam pelas ruas e salões,
exibindo e exercitando a razão. Para esses
filósofos propagandistas, como escreveu o
pensador alemão Ernst Cassirer (1874-
1945), "a razão não era o cofre da alma onde
se guardavam verdades eternas, mas era a
força espiritual, a energia, capaz de nos
conduzir ao caminho da verdade".
O Iluminismo enfatizou a capacidade
humana de, através do uso da razão,
conhecer a realidade e intervir nela, no
sentido de organizá-la racionalmente, de
modo a assegurar uma vida melhor para as
pessoas.
Através do processo de ilustração, isto
é, do desenvolvimento da capacidade
intelectual, havia a proposta de libertar o
homem dos medos irracionais, superstições
e crendices, levando-o a questionar as
tradições vulgares e a construir uma nova
ordem racional para a sociedade.
Podemos dizer, enfim, que talvez o
grande mérito dos iluministas foi o esforço
por generalizar e aplicar as doutrinas críticas
e analíticas aos diversos campos da
atividade humana, bem como os ideais de
conhecimento forjados no grande
racionalismo (o racionalismo do século XVII).
Vejamos alguns indicadores dessa nova
mentalidade:
- Estudos: a atenção dos intelectuais se volta
para o mundo terreno, concreto, e, dentro
dele, para o estudo do próprio ser humano;
- História: os estudos históricos ganham
expressão. Percebe-se que o conjunto dos
conhecimentos adquiridos no passado pode
ser colocado a serviço do bem-estar social;
- Progresso: o entusiasmo pelas novas des-
cobertas tem como consequência a crença
em um novo ideal, a ideia de progresso.
Resumindo: O iluminismo é um período
que crê nos poderes da razão que são
chamadas de "As Luzes". No iluminismo
afirma-se que:
- pela razão o homem pode conquistar a
liberdade e a felicidade social e política.
- que a razão é capaz de evolução e
progresso e o homem é um ser perfectível (é
a capacidade de libertar-se de preconceitos,
medos etc.)
- pela razão o homem se aperfeiçoa, faz o
progresso das civilizações que vão das mais
atrasadas às mais adiantadas e perfeitas.
- há diferença entre Natureza e civilização.
Esse foi um período de grandes interesses
na ciência que se relacionam com as ideias
de evolução, foi uma época de preocupação
com a arte, grandes interesses de bases
econômicas da vida social e política.
Alguns pensadores representativos do
Iluminismo: Montesquieu (1689-1755),
Voltaire (1694-1778), Diderot (1713-1784) e
D' Alembert (1717-1783), Rousseau (1712-
1778), Adam Smith (1723-1790) e Immanuel
Kant (considerado o maior filósofo do Ilu-
minismo alemão.)
Immanuel Kant.
Immanuel Kant (1724-1804) foi um dos mais
importantes e influentes filósofos da
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modernidade. Seus estudos e ensinamentos
nos campos da Metafísica, Epistemologia,
Ética e Estética tiveram grande impacto
sobre a maioria dos movimentos filosóficos
posteriores.
Kant nasceu em 22 de abril de 1724 na
cidade de Konigsberg, que fazia parte do
império da Prússia. Lá ele passou toda sua
vida, onde estudou, obteve seu doutorado
(1755), escreveu e ensinou. Em 1770,
tornou-se professor de Lógica e Metafísica e
lecionou durante os 27 anos seguintes,
conquistando o afeto e admiração de seus
alunos. Kant deixou a universidade em 1797,
aos 73 anos de idade. Seus ensinamentos,
que abrangem quase todos os campos de
Filosofia, obtiveram grande reconhecimento
internacional.
Kant abordava o estudo da religião de forma
bastante diferente daquela ensinada e aceita
na época. Seus ensinamentos eram
baseados no racionalismo e não na
revelação, ou seja, ele baseava suas crenças
religiosas principalmente na lógica, e não na
simples fé. Em 1792, Frederico Guilherme II,
Rei da Prússia, proibiu Kant de escrever ou
ensinar assuntos religiosos - ordem que Kant
obedeceu até a morte do rei, que ocorreu
cinco anos depois. Em 1798, Kant publicou
suas visões religiosas.
Kant faleceu em 12 de fevereiro de 1804.
Sua Obra.
As obras de Kant são bastante diversificadas.
Abaixo, abordamos brevemente alguns de
seus principais ensinamentos: os conceitos
da Teoria do Conhecimento e da teoria da
Moral e Ética.
Teoria do Conhecimento.
Em sua Teoria do Conhecimento, Kant
classificou o tangível e o abstrato em dois
grupos: 1 - aquilo que podemos conhecer; 2 -
aquilo que são por si desconhecidas. As
coisas que podemos conhecer são aquelas
que as pessoas podem presenciar tocar, ver
e experimentar, como uma mesa ou um
cachorro. Por outro lado, existem coisas que
são desconhecidas por si próprias, como
Deus e o conceito de liberdade, cujas
existências, segundo Kant, se baseiam em
pressuposições necessárias.
Kant afirmava que a área do conhecimento é
limitada ao mundo das experiências e que é
inevitável que uma pessoa fracasse ao tentar
conhecer coisas que são desconhecidas.
Kant apresenta essa linha de pensamento
em seu livro Crítica da Razão Pura,
estabelecendo que os três grandes
problemas da Metafísica são Deus, a
liberdade e a imortalidade, pois não são
solucionáveis por meio do pensamento
especulativo. De acordo com Kant, a
existência de Deus e os conceitos de
liberdade e imortalidade não podem ser
afirmados ou negados no campo teórico,
nem podem ser cientificamente
demonstrados. Porém, Kant expressou a
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necessidade da crença em Deus e nos
conceitos de liberdade e imortalidade em sua
filosofia moral. De acordo com Kant, a
existência da moralidade depende
exclusivamente da existência de Deus, da
liberdade e imortalidade.
Classificação do Pensamento.
Kant dividiu o conhecimento humano em
duas categorias: proposições analíticas e
sintéticas.
Uma proposição analítica é aquela em que o
predicado está contido no sujeito, como no
enunciado "nenhum dos solteiros é casado".
A verdade deste enunciado é evidente, está
presente no conceito e é descoberta
simplesmente ao analisar os termos
concedidos sem a necessidade de
experiências avançadas. Por exemplo:
"nenhum dos solteiros é casado" é uma
verdade seja qual for nossa experiência,
porque o significado de "não ser casado" já
está presente no termo "solteiro".
Kant acreditava principalmente em um
conhecimento prévio, a priori, que é
conquistado sem a necessidade da
experiência. Um exemplo de uma proposição
a priori é "dois mais dois é igual a quatro".
Entendemos esse conceito sem termos que
fisicamente colocar dois e dois juntos. Kant
destacou a importância do conhecimento a
priori, afirmando ser ele uma parte essencial
do conhecimento que não pode ser adquirido
diretamente pela experiência.
Além da proposição analítica, Kant
apresentou o conceito de proposição
sintética. A proposição sintética não pode ser
alcançada por meio de simples análise: ela
exige experiência. Um exemplo desse
conceito evidencia-se na frase "a garota é
loira". Para sabermos se a garota é
realmente loira, é necessário uma
experiência, pois não podemos ter certeza
dessa afirmação sem antes vê-la.
Através dessas afirmações, Kant tentou
explicar a estrutura do conhecimento. A partir
de Kant, originaram-se diversas discussões
sobre a existência de um conhecimento a
priori. As definições de conhecimento de
Kant tiveram uma importância fundamental
no estudo da Filosofia.
Moral e Ética
A filosofia moral de Kant afirma que a base
para toda razão moral é a capacidade do
homem de agir racionalmente. O fundamento
para esta lei de Kant é a crença de que uma
pessoa deve comportar-se de forma igual a
que ela esperaria que outra pessoa se
comportasse na mesma situação, tornando
assim seu próprio comportamento uma lei
universal.
Um exemplo disso:
Motoristas podem estacionar seus veículos
em fila dupla apenas em casos de
emergência (por exemplo, com o propósito
de resgatar uma pessoa). De acordo com a
filosofia moral de Kant, essa lei deve-se
aplicar a toda e qualquer pessoa que se
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encontre nessa mesma situação. Isso
significa que ninguém pode estacionar em fila
dupla por motivo de preguiça ou porque não
encontrou uma vaga livre. Pois se todas as
pessoas estacionassem em fila dupla, e isso
se tornasse uma lei universal, o trânsito
ficaria confuso e a cidade viraria um caos.
Portanto, só é permitido estacionar em fila
dupla em casos de emergência. As exceções
a essa regra - os casos de emergência -
ocorreriam em situações nas quais todas as
pessoas estacionariam em fila dupla e/ou
considerariam justificável o fato de outros
terem feito isso.
A situação descrita acima exemplifica a lei
moral de Kant que afirma que uma pessoa
deve agir numa situação da mesma forma
que espera que todas as outras pessoas
ajam.
A lei moral de Kant é baseada na ideia de
que os seres humanos são racionais e
independentes. Em sua obra, Metafísicas da
Ética (1797), Kant propõe que a razão
humana é a base da moralidade. Segundo
Kant, toda ação deve ser tomada com um
senso de responsabilidade ditado pela razão.
Kant também afirmou que nenhuma ação
baseada apenas na obediência da lei deve
ser considerada como moral. A história
comprovou esse conceito. Por exemplo:
durante a Segunda Guerra Mundial, as
pessoas que obedeciam à lei nazista e
seguiram as leis nazifascistas não agiram
humana e eticamente. Matar e torturar seres
humanos inocentes nunca são atos morais,
mesmo que a lei de um país permita ou até
encoraje isso.
Conclusão.
Immanuel Kant é considerado o mais
influente filósofo da modernidade. Suas
ideias inspiraram outros grandes filósofos
como Hegel e Marx. Seus ensinamentos
influenciaram o Direito Internacional, a
Pedagogia e a Sociologia; o impacto de suas
obras é incalculável. Ele foi, sem dúvida, um
dos mais influentes filósofos na história do
mundo.
Referências:
www.10emtudo.com.br
www.suapesquisa.com
www.ebiografia.com
www.filomundo.blogpost.com.br
www.infoescola.com
www.pensador.uol.com.br
www.ime.unicamp.com.br
www.nicolaumaquiavel.com.br
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