UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO CENTRO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SADE COLETIVA
LORENA FERREIRA
FATORES RELACIONADOS CRONOLOGIA DE ERUPO DA
DENTIO DECDUA
VITRIA-ES
2015
LORENA FERREIRA
FATORES RELACIONADOS CRONOLOGIA DE ERUPO DA
DENTIO DECDUA
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva do Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito final para a obteno do ttulo de Mestre em Sade Coletiva, na rea de concentrao em Epidemiologia.
Orientador: Edson Theodoro dos Santos Neto
VITRIA-ES
2015
Lorena Ferreira
Fatores relacionados cronologia de erupo da
dentio decdua
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva do Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Esprito Santo, como requisito final para a obteno do grau de Mestre em Sade Coletiva na rea de concentrao em Epidemiologia.
Aprovada em 01 de abril de 2015.
COMISSO EXAMINADORA
_____________________________________
Prof. Dr. Edson Theodoro dos Santos Neto Universidade Federal do Esprito Santo - PPGSC Orientador
_____________________________________
Prof. Dr. Paulo Nadanovsky UERJ e FIOCRUZ Membro Externo
_____________________________________
Prof. Dr. Maria Helena Monteiro de Barros Miotto Universidade Federal do Esprito Santo - PPGSC Membro Interno
minha me Shirley (saudades eternas), pelo seu imenso amor por mim, por me ensinar o que pacincia, solidariedade, amor ao prximo e a ter f na vida.
AGRADECIMENTOS
Deus, por estar sempre ao meu lado, por conceder coragem para acreditar, fora
para no desistir e proteo para me amparar.
Agradeo ao Edson Theodoro dos Santos Neto, por acreditar que eu sou capaz e
pela orientao. S tenho a agradecer aos seus ensinamentos (pessoais e
acadmicos), palavras de incentivo, puxes de orelha, pacincia e dedicao para
me ajudar.
Aos professores Eliana Zandonade e Adauto Emmerich Oliveira, muito obrigada pela
ajuda, ensinamentos e contribuies para o aperfeioamento do trabalho. Em
especial a professora Eliana pelo apoio e carinho.
As professoras Maria Christina Pacheco e Karina Tonini Pacheco, pelas
contribuies realizadas a esse trabalho durante o exame de qualificao.
Ao grupo de pesquisa Laboratrio de Projetos em Sade Coletiva, por contriburem
na construo do projeto de pesquisa ao longo do mestrado.
Aos meus colegas da turma de mestrado, em especial as minhas amigas Tatiana e
Daniely, pela amizade, pelos momentos de alegria, tristezas dores compartilhadas.
Ao meu pai Ferreira, por todo amor, apoio, carinho e confiana. Ao Rony, pelo
companheirismo e por sempre me impulsionar em direo s vitrias. Pois de forma
especial carinhosa m d fora e coragem, sempre apoiando nos momentos de
dificuldades. Aos meus tios e tias, primos e primas, obrigada pelo apoio e pelas
conversas de motivao. Amo todos vocs!
Aos meus amigos e a todos aqueles q contriburam direta indiretamente n
minha formao, muito obrigada.
Descobrir consiste em olhar para o que todo mundo est vendo e pensar uma coisa diferente
(Roger Von Oech)
RESUMO
O objetivo deste estudo foi estimar a cronologia e sequncia de erupo da dentio
decdua e seus fatores relacionados em amostra de crianas de duas regies do
municpio de Vitria, ES. Os dados utilizados no estudo so provenientes de um
estudo longitudinal realizado entre 2003 e 2006 com 86 recm-nascidos que foram
acompanhados at a idade de 36 meses de vida, cuja coleta de dados foi obtida por
meio da aplicao de um formulrio as mes e da realizao de um exame clnico
nas crianas. Um total de 67 crianas permaneceram at o final do estudo. Calculou-
se a idade mdia de erupo dos dentes decduos de cada criana e foram
aplicados o teste de kappa, McNemar e kappa ajustado pela prevalncia. Em
seguida realizou-se a Anlise de Sobrevivncia. Os resultados mostraram que a
mdia de erupo dos dentes decduos variou de oito a 29 meses de vida no arco
inferior, e de 11 a 30 meses no arco superior e que os maiores nveis de
concordncia foram para os tempos de erupo dos incisivos e caninos decduos
(71/81, kappa = 0,82; IC95% = 0,72-0,93; 53/63, kappa = 0,76; IC95% = 0,62-0,88)
do que para os molares decduos. Dos fatores relacionados a cronologia de erupo
da dentio decdua, foi identificado na Regresso de Cox que os hbitos
alimentares infantis podem influenciar, acelerando e retardando esse processo
eruptivo. Recomenda-se o conhecimento do perfil de erupo decdua de cada
populao para que tais evidncias sirvam de base para a implementao de
medidas de preveno e controle da sade dessa populao e auxilie na elaborao
de estratgias, com aes de proteo e promoo da sade. As aes tem como
finalidade a preveno de possveis alteraes bucais e gerais durante o
crescimento e desenvolvimento infantil e melhoria da qualidade de vida dessa
populao.
Palavras-chave: Erupo Dentria; Cronologia; Dente decduo; Fatores de risco.
ABSTRACT
The aim of this study was to estimate the chronology and sequence of eruption of
deciduous teeth and its related factors in a sample of children from two regions in the
City of Vitoria, ES. The study data derived from a longitudinal study conducted from
2003 to 2006. 86 newborns were followed to the 36th month of age. Data collection
was obtained by applying a form to the mothers and performing a clinical
examination in the children. A total of 67 children remained until the end of the study.
Average deciduous teeth eruption for each child was calculed. Statistic kappa,
McNemar and adjusted kappa prevalence tests were applied. Then, Survival
Analysis was perfomed. The results showed the average deciduous teeth eruption
ranged between eight to 29 months of age in the lower jaw, and 11-30 months in the
upper arch. Higher levels of agreement were for the eruption age for deciduous
incisors and canines (71/81, kappa = 0.82, 95% CI 0.72 to 0.93; 53/63, kappa = 0.76,
95% CI 0.62 to 0.88) than for deciduous molars. The factors related to the
chronology of eruption of the deciduous teeth, was identified in the statistic Cox
Regression. Children's eating habits may influence the speeding and the slowing of
the eruptive process. It is recommended the knowledge of deciduous eruption profile
of each population as so, such evidences can be the basis for the implementation of
measures to prevent and control this population's health. Also, to assist in developing
strategies, with protection actions and health promotion. This actions have the
purpose to prevent possible oral or general changes in the child growth and
development, and also improve quality of life of this population.
Keywords: Tooth Eruption; Chronology; Deciduous tooth; Risk factors.
LISTA DE TABELAS TABELAS Pgina
ARTIGO 1 Tabela 1 - Idade mdia de erupo da dentio decdua. Vitria-ES, 2003-2006............................................................................................................................52
Tabela 2 - Concordncia dos tempos de erupo entre Minot (1873), Logan e Kronfeld (1939), Schour e Massler (1941), Lunt e Law (1974). Vitria-ES, 2003-2006............................................................................................................................53
Tabela 3 - Concordncia dos tempos de erupo entre Logan e Kronfeld (1939), Schour e Massler (1941) e Lunt e Law (1974). Vitria-ES, 2003-2006............................................................................................................................55
Tabela 4 - Concordncia dos tempos de erupo entre Schour e Massler (1941) e Lunt e Law (1974). Vitria-ES, 2003-2006.................................................................56
ARTIGO 2 Tabela 1 - Idade mdia de erupo da dentio decdua. Vitria-ES, 2003-2006............................................................................................................................73
Tabela 2 - Anlise Bivariada de Kaplan-Mier do tempo de erupo dos incisivos centrais e laterais superiores e inferiores decduos e demais variveis de acordo com suas categorias. Vitria-ES, 2003-2006.............................................................75
Tabela 3 - Anlise Bivariada de Kaplan-Mier do tempo de erupo dos caninos superiores e inferiores decduos e demais variveis de acordo com suas categorias. Vitria-ES, 2003-2006................................................................................................76
Tabela 4 - Anlise Bivariada de Kaplan-Mier do tempo de erupo dos primeiros e segundos molares superiores e inferiores decduos e demais variveis de acordo com suas categorias. Vitria-ES, 2003-2006.............................................................77
Tabela 5 - Anlise de Regresso de Cox para as variveis significativamente associadas ao tempo de erupo da dentio decdua. Vitria-ES, 2003-2006........79
LISTA DE ABREVIATURAS
ACS - Agentes Comunitrios de Sade
ADA - Associao Dentria Americana
CEP - Comit de tica em Pesquisa
ES - Esprito Santo
ETSUS - Escola Tcnica e Formao Profissional de Sade
g - gramas
OMS - Organizao Mundial de Sade
SINASC - Sistema de Informao sobre Nascidos Vivos
SUS - Sistema nico de Sade
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UFES - Universidade Federal do Esprito Santo
71/81 - Incisivos centrais inferiores
51/61 - Incisivos centrais superiores
72/82 - Incisivos laterais inferiores
52/62 - Incisivos laterais superiores
73/83 - Caninos inferiores
53/63 - Caninos superiores
74/84 - Primeiros molares inferiores
54/64 - Primeiros molares superiores
75/85 - Segundos molares inferiores
55/65 - Segundos molares superiores
SUMRIO
1 INTRODUO........................................................................................................12
2 REVISO DE LITERATURA..................................................................................14
2.1 Embriologia dentria.............................................................................................14
2.2 Mecanismos de movimentao dentria eruptiva................................................16
2.4 Cronologia de erupo da dentio decdua.......................................................18
2.5 Fatores relacionados cronologia de erupo dos dentes decduos..................23
3 JUSTIFICATIVA......................................................................................................32
4 OBJETIVOS............................................................................................................33
4.1 Objetivo Geral.....................................................................................................33
4.2 Objetivos Especficos........................................................................................33
5 MATERIAIS E MTODOS......................................................................................34
5.1 Tipo e Local de Estudo.........................................................................................34
5.2 Amostra................................................................................................................34
5.3 Coleta de dados...................................................................................................35
5.4 Definies das variveis.......................................................................................35
5.5 Anlises estatsticas.............................................................................................42
5.6 Consideraes ticas...........................................................................................43
6 RESULTADOS........................................................................................................45
6.1 ARTIGO 1.............................................................................................................45
6.1.1 Resumo.............................................................................................................46
6.1.2 Abstract.............................................................................................................47
6.1.3 Introduo..........................................................................................................48
6.1.4 Metodologia.......................................................................................................49
6.1.5 Resultados.........................................................................................................52
6.1.6 Discusso..........................................................................................................57
6.1.7 Concluso..........................................................................................................61
6.1.8 Referncias.......................................................................................................62
6.2 ARTIGO 2.............................................................................................................65
6.2.1 Resumo.............................................................................................................66
6.2.2 Abstract.............................................................................................................67
6.2.3 Introduo..........................................................................................................68
6.2.4 Metodologia.......................................................................................................69
6.2.5 Resultados.........................................................................................................72
6.2.6 Discusso..........................................................................................................80
6.2.7 Concluso..........................................................................................................88
6.2.8 Referncias.......................................................................................................89
7 CONSIDERAES FINAIS....................................................................................94
8 REFERNCIAS GERAIS........................................................................................96
9 APNDICES..........................................................................................................100
APNDICE A...........................................................................................................100
APNDICE B...........................................................................................................139
10 ANEXOS.............................................................................................................149
ANEXO A - Aprovao do Comit de tica em Pesquisa........................................149
ANEXO B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido......................................150
ANEXO C - Autorizao do responsvel para acesso ao banco de dados.............151
ANEXO D - Carta de Apresentao do ETSUS para acesso ao banco de dados do
SINASC....................................................................................................................152
12
1 INTRODUO
O termo erupo derivado do latim erupptione, significa a sada com mpeto.
Contudo, representa uma das etapas de todo um fenmeno que se estabelece
particularmente com o rompimento do pedculo que une o germe dentrio lmina
dentria na fase de campnula e acompanha por toda a vida o rgo dentrio,
passando pela migrao intrassea at a posio final na cavidade oral (CORRA,
2010).
De acordo com Guedes-Pinto (1997) a expresso erupo dentria utilizada por
leigos e cirurgies-dentistas se refere ao momento em que a coroa do dente passa a
pertencer ao ambiente bucal, ou seja, constitui uma das etapas do processo
fisiolgico de uma srie de movimentos que os dentes executam, desde o incio da
odontognese at o fim do ciclo fisiolgico.
O fenmeno da erupo que acompanha o dente por toda sua vida dividido em
trs fases caracterizadas por movimentos de erupo (GUEDES-PINTO, 1997).
Fase pr-eruptiva, que tem seu incio com a diferenciao dos germes dos dentes e
termina com a completa formao da coroa (fase intra-ssea). Fase eruptiva, que
inicia quando a coroa est formada e termina quando o dente atinge o plano oclusal
(fase intra e extra-ssea). Fase ps-eruptiva inicia-se quando o dente entra em
ocluso e termina com a perda do dente ou sua remoo (fase extra-ssea).
O conhecimento da erupo dos dentes decduos fundamental, segundo Nogueira
et al. (1998), os dentes decduos so importantes para o bom desempenho das
funes mastigatria, articulao, fonao e ocluso. Long (1999) acrescentou a
participao dos dentes decduos durante o crescimento e desenvolvimento da
altura dos arcos dentais, na respirao e na harmonia esttica da criana. Assim,
importante a sua manuteno at a poca normal de esfoliao, para o
desenvolvimento dos maxilares e msculos da face, atuando como guia para os
dentes permanentes irromperem em posio correta. Garcia et al. (2003)
destacaram que a deteriorao dos dentes decduos interfere na funo mastigatria
e pode influenciar no crescimento corporal e craniofacial das crianas.
13
O momento em que o dente decduo irrompe na cavidade bucal conhecido como
cronologia de erupo da dentio decdua e a ordem em que os dentes irrompe
chamada de sequncia de erupo (CORRA, 2010). Tal conhecimento torna-se
necessrio, pois pode orientar a avaliao da idade fisiolgica, possibilitando o
diagnstico de alteraes de crescimento e desenvolvimento servindo at mesmo
como um indicador. Alm de serem bastante vlidas para o estabelecimento da
estimativa de idade da criana na resoluo de problemas mdico-legais (TOLEDO,
1996).
H certos intervalos normais na sequncia de erupo decdua, no qual, inicia-se
com a erupo dos incisivos centrais, seguido dos laterais, primeiros molares,
caninos e segundos molares, sendo que, de maneira geral, os inferiores antecedem
os superiores, favorvel para o desenvolvimento correto da ocluso (CORRA,
2010). Entretanto, mesmo que a cronologia de erupo dos dentes decduos siga
um ritmo cronolgico, esta pode sofrer influncia de uma srie de fatores genticos e
ambientais (AGUIRRE, ROSA, 1988).
Dessa forma, falhas podem ocorrer ao se utilizar, em uma avaliao cronolgica, os
resultados de estudos desenvolvidos em pases ou regies diferentes, baseados em
crianas de diferentes origens (TOLEDO, 1996; BRANDO, ROCHA, 2004), o que
torna oportuno o seu estudo comparativo em diferentes populaes e em diferentes
pocas.
Destacadas algumas das razes da importncia do estudo da cronologia e
sequncia de erupo dos dentes decduos e considerando a escassez sobre o
assunto na populao que ser considerada, necessrio que seja realizada a
aplicabilidade clnica dos resultados no Sistema nico de Sade (SUS),
principalmente voltado ateno precoce a sade bucal no mbito da sade
materno infantil. Nesse sentido, o propsito deste trabalho estimar a cronologia e
sequncia de erupo da dentio decdua e seus fatores relacionados em amostra
de crianas de duas regies do municpio de Vitria, Esprito-Santo (ES).
14
2 REVISO DA LITERATURA
2.1 Embriologia dentria
O conhecimento do processo evolutivo dos dentes e dos arcos dentrios desde a
fase embrionria at a sua completa formao necessrio para a compreenso do
desenvolvimento da dentio decdua, pois com o conhecimento do
desenvolvimento embrionrio normal possvel identificar as alteraes fisiolgicas
que podem ocorrer durante o desenvolvimento e crescimento humano (GUEDES-
PINTO, ISSO, 2006).
A cavidade oral primitiva ou estomdeo entra em contato com o endoderma do tubo
digestivo para formar a membrana bucofarngea. Por volta do final da terceira
semana de desenvolvimento, a membrana bucofarngea que forma o teto da
cavidade bucal primitiva rompe-se e desaparece durante a quarta semana,
estabelecendo uma comunicao com a extremidade ceflica do intestino anterior,
dando origem faringe. Ocorre tambm nesse perodo formao da fosseta nasal
e do palato primrio, e a continuidade desse processo resulta nas cavidades nasal e
bucal (GUEDES-PINTO, ISSO, 2006; BHASKAR, 1989).
Duas a trs semanas aps o rompimento da membrana bucofarngea quando a
idade do embrio chega a seis semanas observam-se pores do epitlio de
revestimento dos processos faciais envolvidos com o desenvolvimento dos dentes.
Na borda inferior do processo maxilar e na borda superior do arco mandibular, o
epitlio comea a proliferar e formar um espessamento epitelial, que tambm se
desenvolve na regio lateral dos processos nasais mediais. Em torno do 37 dia de
desenvolvimento, quando estes processos se fundem, uma placa de epitlio
formada, denominada banda epitelial primria. Essas bandas epiteliais superiores e
inferiores possuem a forma de uma ferradura e correspondem aos futuros arcos
dentrios (GUEDES-PINTO, ISSO, 2006; BHASKAR, 1989).
A banda epitelial primria se subdivide em lmina vestibular e lmina dentria. A
lmina vestibular, tambm denominada banda do sulco labial, o processo mais
15
externo, e a partir dela desenvolve-se o vestbulo bucal, lbios e bochecha. A lmina
dentria, processo mais interno, constitui o primrdio da poro ectodrmica dos
futuros dentes decduos. A atividade proliferativa contnua e localizada na lmina
dentria levar a formao de uma srie de invaginaes epiteliais em diferentes
perodos dentro do ectomesnquima em locais que correspondem s posies dos
futuros dentes decduos. Essas pequenas salincias esferides formadas em
diferentes perodos representam o primrdio do rgo do esmalte dos dentes
decduos, chamadas de broto dentrio ou boto dentrio (GUEDES-PINTO, ISSO,
2006; BHASKAR, 1989). Segundo Guedes-Pinto e Isso (2006), os primeiros brotos
dentrios surgem no segmento anterior da mandbula com os incisivos inferiores
decduos, e o incio da dentio completa ocorre durante o segundo ms de vida
intra-uterina. Da mesma forma, segundo Bhaskar (1989) nem todos os rgos do
esmalte iniciam o crescimento ao mesmo tempo, os primeiros a surgirem so
aqueles da regio anterior da mandbula.
Os perodos de crescimento do germe dentrio podem ser organizados nos
seguintes estgios do dente: iniciao, etapa do broto dentrio ou boto dentrio;
proliferao, quando ocorre a formao do germe dentrio, conhecida como fase de
capuz; histodiferenciao e morfodiferenciao, incio da formao do esmalte e da
dentina; e aposio, caracterizada pela etapa da coroa (GUEDES-PINTO, ISSO,
2006).
O primeiro estgio o de iniciao tambm conhecido como estgio de boto,
observado no feto de seis semanas, reconhecido pela formao de uma expanso
da camada basal da cavidade oral. O estgio de capuz ou de proliferao se
caracteriza por uma multiplicao das clulas, resultando na formao do germe
dentrio, constitudo por trs partes: rgo do esmalte, papila dentria e saco
dentrio. Na fase de campnula ou histodiferenciao ocorre uma especializao
das clulas do germe dentrio com diferenas histolgicas. A morfodiferenciao,
tambm conhecido como estgio avanado de campnula ir determinar o tamanho
e a forma do dente. Na fase de aposio ocorre a deposio de camadas
incrementais e matriz de dentina. A fase de calcificao ocorre com a deposio de
sais minerais e mineralizao final do dente (GUEDES-PINTO, ISSO, 2006).
16
Segundo Guedes-Pinto e Isso (2006) todos os processos de crescimento do germe
dentrio se sobrepem, com exceo da fase de iniciao, que um processo
momentneo. Os demais processos so contnuos em vrias etapas histolgicas.
2.2 Mecanismos de movimentao dentria eruptiva
Segundo Corra (2010) e Guedes-Pinto (1997) diversas so as teorias que tentam
explicar o mecanismo de erupo, considerando que os movimentos desse processo
eruptivo sejam o resultado do crescimento diferencial entre o dente e os ossos
basais.
De acordo com Bhaskar (1989) e Ten Cate (1998), os mecanismos do movimento
dentrio eruptivo ainda no so plenamente compreendidos, sendo provvel que a
erupo seja a combinao de vrios fatores, dos quais, os principais so: (1)
crescimento radicular; (2) presso vascular; (3) remodelao ssea e (4) trao do
ligamento periodontal.
Crescimento radicular. Parece bvio que a erupo dentria ocorre mediante a
formao radicular, no entanto, para que resulte uma fora eruptiva, necessrio
que o crescimento apical da raiz seja traduzido em movimento oclusal, e para isso
fundamental uma base fixa. Contudo, tal base fixa no existe, pois uma fora
incidindo sobre o osso da base do alvolo causar sua reabsoro. Ento algum
outro mecanismo deve mover o dente, para acomodar o crescimento da raiz (TEN
CATE, 1998).
Segundo Bhaskar (1989) h aqueles que defendem a existncia de um ligamento
em rede. Semelhante a uma membrana, esse ligamento delimita a polpa, no pice
da raiz e no tem insero ssea, atuando como um arcabouo capaz de
transformar a presso causada pelo crescimento da raiz juntamente com o
crescimento do tecido conjuntivo pulpar em trao, evitando a reabsoro do tecido
sseo possibilitando a erupo dental.
Presso vascular. Os dentes movimentam-se em sincronia com a pulsao arterial,
tanto que modificaes volumtricas locais podem provocar movimentao dentria
17
limitada. Ainda discutvel se tais presses atuam na movimentao dentria, pois a
exciso cirrgica da raiz e de seus tecidos associados eliminando a vascularizao
periapical, no inibe a erupo dentria (BHASKAR, 1989; TEN CATE, 1998).
Remodelao ssea. O padro de crescimento dos maxilares supostamente move
os dentes por deposio e reabsoro seletivas de osso na rea imediatamente
adjacente ao dente. Atravs da remodelao ssea, um caminho eruptivo forma-se
no osso, mesmo que no haja um dente em formao ou crescimento. Entretanto,
se o folculo dentrio for removido, o caminho eruptivo no se formar. Logo, h
evidncias de que o tecido folicular seja responsvel por induzir a erupo.
Enquanto a idia de que a remodelao ssea possa provocar o movimento axial do
dente ainda no est provada (TEN CATE, 1998).
De acordo com Bhaskar (1989), o folculo dentrio antes de transformar-se no
ligamento periodontal, atua na erupo dentria, embora no proporcione a fora
eruptiva real. Caso se os germes dentrios forem removidos e os folculos mantidos
intactos, a via eruptiva ainda se forma no osso. Assim como, segundo o autor, se um
dente for substitudo por uma rplica de silicone e seu folculo for mantido, a rplica
irromper. Dessa forma, h uma necessidade do complexo folculo-ligamento para
que ocorra a movimentao dentria.
Corroborando os autores citados, Obrien, Bhaskar e Brodie (1958) acreditam que a
aposio ssea fator passivo e que a erupo dentria, como outros movimentos
de rgos, parece ser o resultado de diferentes taxas de crescimento da polpa
dental, da cripta ssea e principalmente do folculo dental.
Trao do ligamento periodontal. H evidncias de que o ligamento periodontal e o
folculo dentrio estejam envolvidos no processo de erupo dentria, e que a fora
necessria para mover o dente est ligada a contratilidade dos fibroblastos.
Certamente existem elementos estruturais adequados para transformar essa fora
em movimento dentrio eruptivo (BHASKAR, 1989; TEN CATE, 1998).
Segundo Ten Cate (1998) os fibroblastos esto em constante contato intercelular
somando foras contrteis entre si; e para que essa fora seja transformada em
movimento torna-se necessrio que os feixes de fibras de colgeno estejam
orientados obliquamente e que seja mantida essa orientao. Visto que,
18
experimentalmente possvel prejudicar a arquitetura normal do ligamento por
interferncia na sntese do colgeno; e quando isso ocorre o movimento eruptivo
retardado ou interrompido.
Assim, de acordo com Ten Cate (1998) a fora traduzida em movimento eruptivo
gerada pela contratilidade dos fibroblastos do ligamento periodontal, contudo, para
que essa contrao seja transformada necessrio que haja formao radicular,
formao do ligamento periodontal e remodelao do osso e do colgeno, sendo o
processo de erupo um fenmeno multifatorial.
A partir destas constataes compreende-se que, sobre as teorias de erupo,
qualquer uma delas isoladamente no capaz de explicar o mecanismo de erupo,
sendo, portanto necessrio somatria delas mais as observaes clnicas e os
fatores genticos individuais, alm dos fatores epigenticos. Com relao ao
processo de erupo, sabendo que este compreende toda a movimentao do dente
durante a formao, no sentido oclusal, at atingir sua posio funcional, o termo
erupo dentria no pode ser entendido apenas como o momento no qual o dente
passa pela gengiva e comea a pertencer ao ambiente bucal.
2.3 Cronologia e sequncia de erupo da dentio decdua
A cronologia de erupo corresponde ao momento que o dente surge na cavidade
bucal e obedece a certo padro gentico, havendo diferenas quanto ao sexo, alm
de fatores sistmicos e ambientais (GUEDES-PINTO, 1997). Segundo Folayan et al.
(2007) e Torres (1973), existe um ritmo cronolgico na erupo de determinados
grupos de dentes, que guardam estreita relao com seu espao e tempo. Corra
(2010) tambm descreve que o incio da formao, calcificao, erupo e troca dos
dentes decduos, como todo processo biolgico, esto sujeitas a variaes
individuais, contudo, em condies normais a sequncia e a cronologia dos fatos
seguem um ciclo evolutivo regular.
Vrios estudos relacionam o processo da cronologia e sequncia de erupo dos
dentes decduos (MINOT, 1873; LOGAN, KRONFELD, 1939; SCHOUR, MASSLER,
19
1941; LUNT, LAW, 1974; TAMBURS; CONRADO; CAMPOS, 1977; AGUIRRE,
ROSA, 1988; HADDAD, 1997; TERRA, 1999; BRANDO; ROCHA, 2004; FOLAYAN
et al., 2007; OZIEGBE et al., 2009), pressupondo a existncia de fatores
interferentes que precisam ser identificados para explicar as possveis diferenas
individuais. Dessa forma, o conhecimento desse processo assume grande
importncia quando se considera que a erupo dental no ocorre de maneira
isolada do resto do organismo, que tem relao com o desenvolvimento da criana
(AGUIRRE, ROSA, 1988).
Quadro 1. Estudos internacionais da cronologia e sequncia de erupo da dentio decdua.
Dentes Decduos (Estudos
Internacionais)
Erupo (Idade mdia em meses)
Minot
(1873)
Logan e
Kronfeld
(1939)
Schour e
Massler
(1941)
Lunt e
Law
(1974)
Folayan
et al.
(2007)
Oziegbe
et al.
(2009)
Maxila
Incisivo Central 9 - 11 7 6-8 10 10 9
Incisivo Lateral 9 - 11 9 8-10 11 12-13 9
Canino 18 - 21 18 20 19 19 18-24
Primeiro Molar 12 - 14 14 12-16 16 16 18
Segundo Molar 26 - 30 24 20-24 29 25 24-36
Mandbula Incisivo Central 6 - 7 6 6-8 8 8 6
Incisivo Lateral 12 - 14 7 8-10 13 12-13 9
Canino 18 - 21 16 20 20 19 18-24
Primeiro Molar 12 - 14 12 12-16 16 16 18
Segundo Molar 26 - 30 20 20-24 27 24 24-36
Um dos primeiros autores a relatar sobre a erupo dos dentes decduos foi Minot
(1873), no qual mostrou que o aparecimento destes na cavidade bucal ocorre em
cinco perodos distintos: o primeiro perodo, com a erupo dos incisivos centrais
inferiores, entre o sexto e o stimo ms de vida extra-uterina; o segundo perodo,
com a erupo dos incisivos centrais superiores e dos incisivos laterais superiores,
entre o nono ao 11 ms de vida; o terceiro perodo, com a erupo dos incisivos
laterais inferiores e dos primeiros molares superiores e inferiores, entre o 12 e o 14
ms; o quarto perodo seria marcado pela erupo dos caninos superiores e
inferiores entre 18 a 21 ms; o quinto perodo, pela erupo dos segundos molares
superiores e inferiores entre o 26 ao 30 ms. Logan e Kronfeld (1939)
estabeleceram uma cronologia de erupo que difere dos achados de Minot (1873),
20
principalmente com relao erupo dos incisivos laterais inferiores, incisivos
centrais superiores e segundos molares inferiores.
Logan e Kronfeld (1939), ao estudarem o desenvolvimento normal das estruturas
dentais, dissecando maxilares humanos de recm-nascidos, observaram que a
erupo do arco inferior geralmente ocorre mais cedo que no arco superior e que os
incisivos centrais inferiores, erupcionam aos seis meses; os incisivos laterais
inferiores aos sete meses; os incisivos centrais superiores aos sete meses e meio;
os incisivos laterais superiores aos nove meses, os primeiros molares inferiores, aos
12 meses; os primeiros molares superiores aos 14 meses; os caninos inferiores, aos
16 meses e os superiores aos 18 meses; os segundos molares inferiores, aos 20
meses e os superiores aos 24 meses.
Semelhanas foram encontradas por Schour e Massler (1941), que simplificaram
seus achados na seguinte sequncia: incisivos centrais superiores e inferiores
erupcionam entre o sexto e oitavo ms, sendo que os inferiores aparecem antes dos
superiores. Os incisivos laterais entre o oitavo e dcimo ms; os primeiros molares
entre o 12 e o 16 ms, seguido dos caninos que erupcionam at o 20 ms. Logo
depois, os segundos molares erupcionam entre o 20 e 24 ms.
Diferentemente dos achados de Logan e Kronfeld (1939) e de Schour e Massler
(1941), Lunt e Law (1974), aps realizarem uma reviso da literatura sobre
cronologia da calcificao e da erupo dos dentes decduos, compararam seus
achados principalmente com os valores do estudo de Logan e Kronfeld (1939),
relativos cronologia da dentio humana, aceito como padro por muitos anos, e
observaram que os incisivos laterais, primeiros molares e caninos tendem a
erupcionar mais cedo no arco superior do que no inferior.
Segundo Lunt e Law (1974), os incisivos centrais inferiores erupcionam aos oito
meses; os incisivos centrais superiores aos dez meses; os incisivos laterais
superiores aos 11 meses; os incisivos laterais inferiores aos 13 meses; os primeiros
molares superiores e inferiores aos 16 meses; os caninos superiores aos 19 meses;
seguido dos inferiores aos 20 meses; os segundos molares inferiores aos 27 meses;
e os superiores aos 29 meses.
21
Da mesma maneira, Folayan et al. (2007) relataram que a erupo dentria de
crianas nigerianas teve incio no oitavo ms de vida com a erupo dos incisivos
centrais inferiores, seguidos dos incisivos centrais superiores, aos dez meses; os
incisivos laterais superiores e inferiores, respectivamente entre 12 e 13 meses;
primeiros molares superiores e inferiores aos 16 meses, caninos superiores e
inferiores aos 19 meses; segundos molares inferiores aos 24 meses, e os superiores
aos 25 meses.
Oziegbe et al. (2009), contudo, observaram diferenas ao estudarem a erupo nas
crianas nigerianas de 4 a 36 meses. Os primeiros dentes erupcionaram aos seis
meses, sendo os incisivos centrais inferiores, seguido do incisivo lateral inferior
direito. Os incisivos centrais superiores erupcionaram aos nove meses seguido dos
incisivos laterais superiores e incisivo lateral inferior esquerdo aos 12 meses; os
primeiros molares superiores e inferiores aos 18 meses; os caninos superiores e
inferiores entre 18 e 24 meses; os segundo molares entre 24 e 36 meses.
No Brasil, estudos sobre a erupo dos dentes decduos podem ser encontrados
nos municpios de Ribeiro Preto, So Paulo; Florianpolis, Santa Catarina; no
municpio de Salvador, Bahia; Guarulhos, So Paulo e no municpio de Campo
Grande, Mato Grosso do Sul.
Quadro 2. Estudos nacionais da cronologia e sequncia de erupo da dentio decdua.
Dentes Decduos (Estudos
Nacionais)
Erupo (Idade mdia em meses)
Tamburs et al. (1977)
Aguirre e Rosa (1988)
Brando e Rocha (2004)
Haddad (1997)
Terra (1999)
Maxila
Incisivo Central 11 9 9 10 10
Incisivo Lateral 12 10-11 11 12 12
Canino 18 18 18-19 20 19
Primeiro Molar 16 14-15 15 16 16
Segundo Molar 27 27 27 28 28-29
Mandbula
Incisivo Central 9 7 7 8 8
Incisivo Lateral 13 12 12 14 14
Canino 19 18-19 19 20 20
Primeiro Molar 17 14-15 15 16 17
Segundo Molar 26 26 25 27 27
22
Tamburs, Conrado e Campos (1977) selecionaram 70 crianas nascidas no
Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, da Universidade
de So Paulo, a fim de estabelecer a idade mdia e sequncia de erupo dos
dentes decduos utilizando o mtodo longitudinal. De acordo com os resultados, a
erupo dos incisivos centrais inferiores ocorre aos nove meses; os incisivos
centrais superiores aos 11 meses, seguido dos incisivos laterais superiores aos 12
meses e os inferiores aos 13 meses; os primeiros molares superiores aos 16 meses
e os inferiores aos 17 meses; os caninos superiores aos 18 meses e os inferiores
aos 19 meses; os segundos molares inferiores aos 26 meses e os superiores aos 27
meses.
Diferenas foram encontradas por Aguirre e Rosa (1988), principalmente no tempo
de erupo dos incisivos centrais superiores e inferiores e primeiros molares
inferiores. Ao realizarem um estudo transversal sobre a sequncia e cronologia de
erupo com 877 crianas de dois meses a quatro anos do municpio de
Florianpolis, Santa Catarina, os mesmos verificaram que os incisivos centrais
inferiores erupcionam aos sete meses; os incisivos centrais superiores aos nove
meses, seguido dos incisivos laterais superiores entre dez e 11 meses; os incisivos
laterais inferiores aos 12 meses; os primeiros molares superiores e inferiores entre
14 e 15 meses; os caninos superiores aos 18 meses, seguido dos inferiores entre 18
e 19 meses; os segundos molares inferiores aos 26 meses e os superiores aos 27
meses.
Assim como encontrado por Brando e Rocha (2004) ao estudarem pelo mtodo
transversal a cronologia e sequncia de erupo de dentes decduos em crianas de
ambos os sexos, de 0 a 42 meses de idade, nascidas no municpio de Salvador, no
Estado da Bahia. Para ambos os sexos, os incisivos centrais inferiores erupcionam
aos sete meses; os incisivos centrais superiores aos nove meses; os incisivos
laterais superiores aos 11 meses e os inferiores aos 12 meses; os primeiros molares
superiores e inferiores aos 15 meses; os caninos superiores entre 18 e 19 meses; os
caninos inferiores aos 19 meses; os segundos molares inferiores aos 25 meses e os
superiores aos 27 meses.
J Haddad (1997) ao verificar a cronologia e sequncia de erupo dos dentes
decduos em 774 crianas nascidas com peso normal ( 2.500 gramas) e com baixo
23
peso ( 2.500 gramas), na faixa etria de 0 a 36 meses de idade, em Guarulhos,
So Paulo, obteve para as crianas nascidas com peso normal seguinte ordem
eruptiva: incisivos centrais inferiores aos oito meses; incisivos centrais superiores
aos dez meses; incisivos laterais superiores aos 12 meses e os inferiores aos 14
meses; os primeiros molares superiores e inferiores aos 16 meses; os caninos
superiores e inferiores com 20 meses; os segundos molares inferiores com 27
meses e os superiores com 28 meses. A erupo dos primeiros molares e caninos
ocorre primeiramente na arcada superior e logo em seguida na inferior.
Corroborando tais resultados, Terra (1999) ao verificar a cronologia e sequncia de
erupo dos dentes decduos de crianas leucodermas, na faixa etria de 0 a 36
meses de idade, no municpio de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, obteve a
seguinte cronologia de erupo: incisivos centrais inferiores aos oito meses de
idade; incisivos centrais superiores aos dez meses; incisivos laterais superiores aos
12 meses; incisivos laterais inferiores aos 14 meses; primeiros molares superiores
aos 16 meses e os inferiores aos 17 meses; caninos superiores aos 19 meses e os
inferiores aos 20 meses; os segundos molares inferiores no 27 ms e os superiores
entre o 28 e 29 ms.
Diferenas podem ser observadas na cronologia e sequncia de erupo dentria
entre os achados de Minot (1873), Logan e Kronfeld (1939), Schour e Massler
(1941), Lunt e Law (1974), Tamburs, Conrado e Campos (1977), Aguirre e Rosa
(1988), Haddad (1997), Terra (1999), Brando e Rocha (2004), Folayan et al. (2007),
Oziegbe et al. (2009). Dessa forma, no h um padro na cronologia e sequncia de
erupo dos dentes decduos. O que existe um ritmo cronolgico de erupo que
est diretamente relacionado com o seu espao e tempo, sendo interessante a
realizao de estudos mais abrangentes e que reflitam a populao em questo.
2.6 Fatores relacionados cronologia de erupo dos dentes decduos
O momento em que os dentes irrompem na cavidade bucal pode sofrer acelerao
ou retardo em decorrncia de distrbios orgnicos ou devido a fatores pessoais e
ambientais, que apesar de no influenciarem no equilbrio fisiolgico podem
24
acarretar variaes na cronologia eruptiva (FRAJNDLICH; OLIVEIRA, 1988;
TOLEDO, 1996).
Diversos so os fatores que podem estar relacionados s diferenas na cronologia
de erupo entre as populaes. Dentre eles destacam-se, sexo (BERZIN;
SORIANO; IEMA, 1990; HADDAD, 1997; PATRIANOVA; KROLL; BRZIN, 2010;
TAMBURS; CONRADO; CAMPOS, 1977), amamentao (PATRIANOVA; KROLL;
BRZIN, 2010), nvel socioeconmico (BERZIN; SORIANO; IEMA, 1990;
ENWONWU, 1973; FOLAYAN et al., 2007; OZIEGBE et al., 2009), etnia (FOLAYAN
et al., 2007; MCGREGOR, 1968), nascimento prematuro e peso ao nascer
(CAIXETA, CORRA, 2005; HADDAD, 1997; RAMOS; GUGISCH, FRAIZ, 2006;
SEOW et al., 1988; TERRA, 1999; TRUPKIN, 1974), raa/cor (FERGUSON; SCOTT;
BAKWIN, 1957; LAVELLE, 1975), sndrome de Down (ONDARZA et al., 1997;
ROCHE, BARKLA, 1967), hipotireoidismo e hipopituitarismo (FRAJNDLICH,
OLIVEIRA, 1988; SURI; GAGARI; VASTARDIS, 2004), fatores locais (FRAJNDLICH,
OLIVEIRA, 1988), estado nutricional infantil (ALVAREZ, 1995), hbitos nutricionais
infantis (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2004; SCHOUR, MASSLER, 1941; LIOMONGI,
1987) e suplementao nutricional materna (DELGADO, 1975). Porm, poucas so
as evidncias em relao influncia que eles exercem na alterao da cronologia
de erupo dentria.
No estudo conduzido por Tamburs, Conrado e Campos (1977), o processo de
erupo se inicia mais cedo no sexo feminino aos oito meses com os incisivos
centrais inferiores e no masculino ocorre aos nove meses para o mesmo grupo de
dentes. Assim sendo, tambm para erupo dos demais. Em oposio, segundo
Patrianova, Kroll e Brzin (2010), a erupo dentria inicia-se mais precocemente no
sexo masculino, aos dez meses com o incisivo central superior esquerdo, quando
comparado com o feminino que inicia aos 12 meses de vida. Alm de existir variao
significativa para o dente canino superior esquerdo, incisivo lateral inferior esquerdo,
canino inferior esquerdo e direito.
Da mesma forma, Haddad (1997) ao analisar o nmero mdio de dentes irrompidos
de acordo com o sexo e faixa etria, observou que a erupo ocorre ligeiramente
mais precoce no sexo masculino, com diferena estatisticamente significante para os
dentes incisivos centrais e laterais superiores. Berzin, Soriano e Iema (1990), ao
25
examinarem 1067 crianas de nvel socioeconmico baixo da cidade de Piracicaba,
So Paulo, constataram que a erupo ocorre mais tardiamente no sexo feminino
para todos os dentes, com exceo do incisivo lateral superior esquerdo, incisivo
lateral inferior direito e primeiro molar inferior esquerdo, quando comparado com o
masculino. Aguirre e Rosa (1988); Terra (1999); Brando e Rocha (2004) e
Caregnato, Mello e Silveira (2009), no encontraram diferenas significativas entre
sexos.
Ao determinarem a cronologia de erupo confrontando com a varivel
amamentao, Patrianova, Kroll e Brzin (2010) verificaram um relativo retardo na
poca de erupo dos dentes decduos em relao mdia geral, principalmente,
dos incisivos centrais e dos caninos inferiores e superiores em crianas que foram
aleitadas (no peito ou mamadeira) por mais de seis meses de vida, com ausncia de
alimentao fibrosa nesse perodo. Assim, concluram que, a partir do sexto ms de
vida, as crianas devem experimentar uma alimentao que estimule o crescimento
e desenvolvimento estomatogntico, sendo o tipo de dieta de fundamental
importncia para desencadear o processo de erupo da dentio decdua,
estimulando o crescimento de ossos, dos msculos, da face e do complexo
mastigatrio. Nesse estudo a cronologia de erupo no foi confrontada com o nvel
socioeconmico, pois a classe mdia era o nvel predominante.
Diferentemente, Oziegbe et al. (2009) demonstraram como as variveis
sociodemogrficas podem prever o nmero de dentes decduos irrompidos das
crianas de uma regio da Nigria. Com diferena significativa no nmero de dentes
irrompidos em crianas de nvel socioeconmico alto, que apresentavam um nmero
maior de dentes quando comparadas com os de nvel socioeconmico baixo. Assim
como, Berzin, Soriano e Iema (1990) ao examinarem somente crianas de nvel
socioeconmico baixo da regio de Piracicaba, compararam seus achados com os
resultados obtidos por Tamburs, Conrado e Campos (1977) que no incluram a
classe socioeconmica em sua amostra e observaram que a erupo se faz mais
tardia para todos os dentes. Havendo ento uma possvel relao da erupo tardia
com o nvel socioeconmico baixo.
Enwonwu (1973), ao realizar um estudo transversal com 872 crianas nigerianas,
dividindo-as em grupos de nvel socioeconmico alto e baixo, verificaram que na
26
idade de quatro a seis meses, aproximadamente 84% das crianas de nvel
socioeconmico alto j tinham seus incisivos centrais inferiores irrompidos enquanto
que as crianas de nvel socioeconmico baixo tinham 15% desses dentes
irrompidos. Na idade de 22 a 24 meses a maioria das crianas de nvel
socioeconmico alto tinham completado a erupo dos dentes decduos enquanto
que as crianas de nvel socioeconmico baixo tinham entre 16 a 18% dos segundos
molares superiores e inferiores irrompidos respectivamente. Segundo o autor, ao
comparar os nveis socioeconmicos na idade entre sete e 24 meses, observou que
crianas de nvel socioeconmico alto tinham de dois a cinco dentes irrompidos a
mais do que as crianas de nvel baixo. Semelhanas tambm foram encontradas
por Folayan et al. (2007), que ao analisarem a poca de erupo estratificada por
grupos, observaram que os caninos superiores tendem a irromper primeiro no grupo
com nvel socioeconmico alto quando comparado com os demais grupos de nvel
mdio e baixo.
Nesse estudo, Folayan et al. (2007) tambm compararam a sequncia de erupo
dos dentes decduos de crianas nigerianas do sexo feminino com dados de outros
pases (Islndia, Iraque, Arbia Saudita e Estados Unidos). Semelhanas foram
encontradas e apenas o que variou foi a poca de aparecimento de alguns grupos
de dentes. Os incisivos centrais inferiores das crianas nigerianas comparvel a
poca de aparecimento s iraquianas e rabes sauditas, de aproximadamente oito
meses, mas ocorre posteriormente a poca de aparecimento em relao as
islandesas e norte americanas, que ocorre entre seis e sete meses. Em relao aos
caninos superiores e inferiores e segundos molares superiores, a erupo ocorre
anteriormente em islandeses e mais tarde em iraquianos, rabes sauditas e norte
americanos, quando comparados com as crianas nigerianas, havendo diferenas
entre as etnias na poca de aparecimento dos dentes. Tais observaes apiam a
possibilidade da variabilidade tnico-racial influenciar no momento da erupo.
McGregor (1968) comparou a mdia do nmero de dentes irrompidos em
determinadas idades nas aldeias gambianas com outros estudos publicados e
constatou que as crianas at os doze meses de idade apresentavam menor
quantidade de dentes irrompidos em comparao com as crianas dos Estados
Unidos, de Londres, Paris, Zurique e Dakar.
27
Outros fatores como, nascimento prematuro; peso ao nascer e raa/cor tambm
esto relacionados cronologia eruptiva. De acordo com Caixeta e Corra (2005), o
processo de erupo em crianas prematuras ocorre em um perodo semelhante ao
de outras crianas da populao, no qual 42 crianas da amostra dos autores
tiveram seu primeiro dente irrompido entre o sexto e dcimo ms de vida. Apesar de
terem encontrado um perodo de erupo normal, o nmero total de dentes at os
36 meses de vida mostrou-se em menor quantidade quando comparado com os
resultados encontrados em crianas nascidas a termo. Ramos, Gugisch e Fraiz
(2006) tambm constataram que as crianas nascidas com tempo inferior idade
gestacional de 38 semanas e com peso ao nascer menor do que 1.500g (gramas)
apresentam retardo na erupo, com diferena de aproximadamente cinco meses na
poca de erupo dos primeiros dentes decduos em relao aquelas nascidas entre
38 a 42 semanas e com peso ao nascer igual ou superior a 2.500g.
Do mesmo modo, Terra (1999), ao estudar a cronologia e sequncia de erupo dos
dentes decduos segundo o tempo de gestao, peso ao nascer e sexo, verificou
que a erupo dos dentes decduos nas crianas prematuras (< 32 semanas de
gestao) e nas de baixo peso (< 2.500g) ocorreu mais tarde em relao s crianas
normais, particularmente para incisivos superiores e segundos molares superiores e
inferiores.
Seow et al. (1988) ao compararem a condio de erupo dental de um grupo de
crianas nascidas prematuras, com peso muito baixo (< 1500g), com um grupo de
crianas de baixo peso (1500 - 2500g) e com um grupo de crianas com peso
normal no nascimento ( 2500g), a fim de determinar se a erupo dental afetada
pelo baixo peso e prematuridade no nascimento, constataram que as crianas com
peso muito baixo tiveram retardo na erupo dental comparados com os outros
grupos (baixo peso e peso normal), particularmente antes dos 24 meses. Contudo,
quando as idades das crianas de peso muito baixo foram corrigidas para suas
verdadeiras idades biolgicas, no houve diferenas significantes detectadas,
indicando que o retardo na erupo dental pode simplesmente ser devido ao
nascimento precoce.
J Trupkin (1974), ao investigar os padres de erupo do primeiro dente decduo
em 82 crianas de baixo peso (2.500g ou menos), verificou que quanto mais baixo o
28
peso ao nascimento, mais tardia foi a idade de erupo. Com 39 semanas de idade,
apenas 16 a 18% das crianas com peso de nascimento acima de 1.815g no tinha
irrompido seu primeiro dente ainda, enquanto 42% das crianas com peso de
nascimento abaixo de 1.815g no apresentavam dentes irrompidos. Da mesma
maneira, Haddad (1997) verificou a cronologia de erupo de crianas de 0 a 36
meses, divididas em dois grupos, crianas nascidas com peso normal ( 2.500g) e
crianas nascidas com baixo peso (< ou = 2.500g). No grupo de crianas nascidas
de baixo peso encontrou um nmero mdio de dentes presentes menor at os 18
meses do que no grupo de nascidos de peso normal, verificando a relao do
retardo no processo eruptivo com o baixo peso ao nascer.
Relacionado raa/cor, Ferguson, Scott e Bakwin (1957) compararam a poca de
erupo do primeiro dente decduo e o nmero de dentes presentes com um ano de
idade entre crianas de raa/cor negra e branca. Foram examinadas 808 crianas
negras e 175 crianas brancas de mdia e baixa classe socioeconmica, na zona
urbana de Washington, Estados Unidos. Na raa/cor negra, a erupo do primeiro
dente foi mais precoce. No entanto, com um ano de idade, as crianas brancas de
nvel socioeconmico mdio apresentavam mais dentes do que as negras de nvel
socioeconmico baixo. Para Ferguson, Scott e Bakwin (1957), a variao inicial
influenciada pela raa/cor foi posteriormente compensada pela influncia de fatores
ambientais, como possveis vantagens nutricionais e melhor nvel socioeconmico
do grupo de raa branca. Lavelle (1975) tambm comparou a poca de erupo dos
dentes decduos em 3600 crianas inglesas caucasianas e em 600 crianas negras
e notou que a erupo foi mais precoce nas crianas negras, embora a diferena
no tenha sido estatisticamente significante.
Alm da influncia do nascimento prematuro; baixo peso ao nascer e da raa/cor, o
fator sndrome de Down tambm est relacionado com o retardo do processo de
erupo. Ondarza et al. (1997) ao realizarem uma pesquisa com 255 crianas
chilenas entre quatro e 84 meses de vida, portadores de sndrome de Down,
verificaram que os meninos com a sndrome apresentaram retardo na erupo dos
incisivos laterais superiores e caninos inferiores, e as meninas na erupo dos
incisivos laterais superiores e inferiores e caninos superiores e inferiores quando
comparadas com as crianas da populao geral. Rocke e Barkla (1967) estudaram
o desenvolvimento da dentio em pacientes portadores de sndrome de Down e
29
constataram que a erupo tardia e h maior variao na sequncia quando
comparadas com a populao geral.
Alm dos fatores relatados anteriormente, o hipotireoidismo e o hipopituitarismo
tambm podem retardar significativamente a poca de erupo dos dentes decduos
(FRAJNDLICH, OLIVEIRA, 1988). Segundo Suri, Gagari e Vastardis (2003),
distrbios das glndulas endcrinas geralmente tm um efeito importante sobre o
corpo inteiro, incluindo a dentio. O hipotireoidismo e hipopituitarismo so as mais
comuns desordens endcrinas associadas com o retardo da erupo dentria. No
hipotireoidismo, falha na funo da glndula hipfise ou uma atrofia ou destruio da
glndula tireide, por si s leva ao cretinismo e mudanas dento faciais esto
relacionadas. No hipopituitarismo ou nanismo hipofisrio, ocorre retardo na erupo
dos dentes, assim como no crescimento do organismo em geral. A arcada dentria
tem sido relatada ser menor do que o normal, portanto, no pode acomodar todos os
dentes. Alm disso, as razes dos dentes so mais curtas do que o normal e as
estruturas de suporte apresentam retardo no crescimento.
Fatores locais como teratomas, embriomas e tumores tambm podem estar
relacionados a variaes da cronologia eruptiva. Agrupados pelo nome de incluses,
so constitudos por clulas embrionrias residuais que permanecem conservando
suas caractersticas primitivas durante as evolues morfolgicas. Estas incluses
na maioria das vezes no so aparentes ao nascimento, permanecendo ocultas por
longos perodos e sob a influncia de causas desconhecidas podem adquirir uma
grande e desordenada atividade que causam variados problemas na erupo normal
(FRAJNDLICH, OLIVEIRA, 1988). J o Odontoma, massa irregular de tecido
calcificado, impede que ocorra o processo eruptivo normal (FRAJNDLICH,
OLIVEIRA, 1988).
Da mesma maneira, durante o perodo de formao e desenvolvimento do dente, a
ocorrncia de deficincias de vitaminas A e D podem ocasionar retardo na erupo
dental, pois a deposio de clcio e fsforo nos cristais de hidroxiapatita durante as
fases de calcificao e mineralizao dentria influenciada pela presena destas
vitaminas (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2004).
Alm disso, episdio de desnutrio durante o primeiro ano de vida tambm
suficiente para ocasionar um atraso significativo na erupo da dentio decdua. A
30
desnutrio crnica tem maior efeito deletrio do que a desnutrio aguda, pois
afeta o desenvolvimento de todos os dentes decduos (ALVAREZ, 1995).
Em relao ao aspecto nutritivo da criana, no perodo de formao e
desenvolvimento dos dentes, de acordo com Schour e Massler (1941), nos primeiros
seis meses a dieta essencialmente lquida, perodo de lactao, sendo que os
alimentos suplementares frequentemente tm incio durante a segunda metade do
primeiro ano de vida coincidindo com o aparecimento dos dentes decduos na
cavidade bucal como uma resposta a esta necessidade.
Os hbitos nutricionais infantis bem como outros fatores de risco infantis citados
anteriormente encontram-se relacionados com alteraes na cronologia de erupo.
Alm deles, existem tambm os fatores de risco materno. Segundo Delgado (1975)
ao investigarem a influncia da nutrio materna sobre a erupo dos dentes
decduos em 273 crianas na zona rural da Guatemala, nascidas entre a 38 e 42
semanas de gestao, observaram que as crianas cujas mes pertenciam ao grupo
de alta suplementao calrica durante a gravidez, consideradas crianas de maior
peso ao nascimento, apresentaram em mdia de um a dois dentes a mais
irrompidos, do que aquelas nascidas das mes pertencentes ao grupo de baixa
suplementao. Bebs cujas mes recebiam suplementao durante o pr-natal e
consequentemente de maior peso ao nascer apresentavam mais dentes irrompidos
em todas as idades subsequentes.
Dessa forma, fatores hereditrios e individuais associados aos ambientais e
maternos podem causar alteraes na cronologia de erupo decdua e embora
existam estudos nacionais e internacionais sobre o assunto, pesquis-la ainda
pertinente, principalmente com relao s diferentes regies do pas, a fim de
verificar as variaes existentes (BRANDO, ROCHA, 2004).
Sabendo que o processo de erupo dentria um dos fenmenos que se
manifestam como parte do crescimento e do desenvolvimento geral da criana
(CAREGNATO; MELLO; SILVEIRA, 2009), a sequncia ou ordem de erupo dos
dentes decduos servem para acompanhar tal desenvolvimento e analisar possveis
transtornos biolgicos e dentrios que possam ocorrer (AGUIRRE, ROSA, 1988).
medida que surgem outros dentes novos, os msculos aprendem a efetuar os
31
movimentos oclusais funcionais necessrios levando ao crescimento ativo do
esqueleto facial (MOYERS, 1991).
No entanto, as crianas que j nascem com dentes irrompidos na cavidade bucal ou
que irrompem no primeiro ms de vida, denominados dentes natais e neonatais,
respectivamente, segundo Cunha et al. (2001), geram preocupaes, tanto para os
pais como para os profissionais de sade, pois podem causar traumas no mamilo do
seio materno (CUNHA et al., 2001) e ulceraes no ventre da lngua do recm-
nascido (LONG et al., 1994), dificultando o aleitamento materno (SANTOS-NETO,
2013).
Outra complicao relacionada aos dentes natais e neonatais o desenvolvimento
de crie precoce da infncia, visto que, alm de apresentarem menor espessura de
esmalte, esses dentes podem ter deficincias na mineralizao e sulcos ou
rugosidades em sua superfcie, predispondo colonizao por microrganismos
cariognicos (TINANOFF et al., 1999).
Logo, fundamental o conhecimento da idade mdia e sequncia de erupo dos
dentes decduos e os possveis fatores de risco infantis e maternos relacionados em
uma populao especfica para que os resultados sejam aplicados em funo das
particularidades.
32
3 JUSTIFICATIVA
H uma preocupao com a descrio da cronologia e sequncia de erupo
evidenciada na literatura cientfica, contudo, apesar de serem utilizadas
metodologias diferentes, os resultados dos estudos cientficos mostram divergncias
quanto cronologia e sequncia eruptiva da dentio decdua, principalmente com
relao a alguns grupos de dentes.
Fatores como sexo; amamentao; nvel socioeconmico; etnia; nascimento
prematuro; peso ao nascer; raa/cor; sndrome de Down; hipotireoidismo e
hipopituitarismo; estado nutricional infantil; hbitos nutricionais infantis e fatores
locais podem estar diretamente relacionados com a cronologia da erupo dentria
decdua, alm da suplementao nutricional materna durante a gravidez. Enquanto
que os fatores socioeconmicos maternos como a situao conjugal e o nvel de
escolaridade e os fatores biolgicos, nutricionais e comportamentais infantis como
hbitos de suco, vedamento labial e a respirao bucal, que talvez possam
influenciar na cronologia de erupo, ainda no foram explorados nas pesquisas
cientficas.
Torna-se relevante, estimar a cronologia e sequncia de erupo da dentio
decdua e seus fatores de risco infantis e maternos relacionados, para que os
resultados sejam aplicados em funo das particularidades, por meio da elaborao
de propostas de sade de preveno pelo SUS, baseados na educao em sade,
com ateno precoce no apenas as necessidades bucais infantis, mas tambm ao
crescimento e desenvolvimento geral da criana.
33
4 OBJETIVOS
4.1 Objetivo Geral
Estimar a cronologia e sequncia de erupo da dentio decdua e seus fatores
relacionados em amostra de crianas de duas regies do municpio de Vitria, ES.
4.2 Objetivos Especficos
Avaliar a concordncia entre os tempos de erupo da dentio decdua em amostra
de crianas do municpio de Vitria-ES e os tempos de erupo relatados por
autores clssicos.
Determinar os fatores de risco biolgicos, nutricionais e comportamentais infantis
bem como os socioeconmicos maternos relacionados cronologia de erupo da
dentio decdua.
34
5 MATERIAIS E MTODOS
5.1 Tipo e Local de Estudo
Caracteriza-se como um estudo epidemiolgico longitudinal realizado a partir de
dados provenientes de uma pesquisa com 86 recm-nascidos que foram
acompanhados at a idade de 36 meses de vida. A pesquisa teve durao de trs
anos (2003 a 2006) e foram includas crianas residentes em reas que
apresentaram os piores indicadores de mortalidade infantil do municpio, So Pedro
e Bonfim, segundo o Plano Municipal de Sade no ano de 2001 (SANTOS-NETO,
2009).
5.2 Amostra
Foi utilizada uma amostragem por convenincia a partir de um estudo realizado
entre 2003 a 2006 (SANTOS-NETO, 2009). Para fins deste estudo a amostra foi
recalculada por meio do programa BioEstat, verso 5.3
(http://www.mamiraua.org.br/ptbr/downloads/programas/) sendo o erro alfa de 5% e
o poder do teste variando entre 55% e 98%.
Foram includas no estudo todas as crianas nascidas nas referidas regies com
idade variando de zero a trs meses encaminhadas pelos Agentes Comunitrios de
Sade (ACS), sendo 43 crianas referendadas pela Unidade de Sade Thomaz
Tommasi e 43 pelas Unidades de Sade de ilha das Caieiras e de Santo Andr, no
perodo de novembro de 2003 a maio de 2004. Aps 36 meses de
acompanhamento, permaneceram 67 crianas no estudo, as demais no foram
localizadas, ou se mudaram ou no foram mais encontradas em suas casas depois
de vrias tentativas.
35
5.3 Coleta de dados
Durante o perodo de novembro de 2003 a junho de 2006, aps a assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelas mes, quatro
pesquisadores estudantes de odontologia, em duplas, durante os dois primeiros
anos e no terceiro ano outros quatro pesquisadores, realizaram visitas domiciliares
peridicas acompanhados dos ACS, sendo todos previamente treinados. Os dados
clnicos dos sujeitos da pesquisa foram coletados utilizando um formulrio
direcionado s mes contendo as seguintes variveis: hbitos de suco, respirao
bucal, padro de amamentao, hbitos alimentares e desenvolvimento da dentio
decdua por meio da realizao de um exame clnico nas crianas. Durante essas
visitas tambm eram transmitidas s mes orientaes em relao aos cuidados
com os bebs.
Ao todo, foram realizadas oito visitas, sendo sete domiciliares e uma no consultrio.
As visitas domiciliares ocorreram com uma periodicidade mdia de trs meses nos
dois primeiros anos do estudo e, posteriormente, de seis meses, no ltimo ano, a
medida em que os pesquisadores encontravam as mes e as crianas em seus
domiclios. Em cada visita, era preenchido um novo formulrio com os dados da
entrevista estruturada e do exame clnico, bem como eram repassadas as
orientaes iniciais s mes.
5.4 Definies das variveis
Tempo de aleitamento materno
O tempo de aleitamento materno foi definido segundo o conceito da Organizao
Mundial de Sade (OMS) (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2007), quando a me
ou o responsvel afirmava pelo tempo em meses em que a criana recebia leite
materno, diretamente do seio ou extrado, independentemente de estar recebendo
alimento slido ou lquido. O tempo de aleitamento foi determinado em intervalos,
conforme recomendado pela OMS (at 24 meses e mais de 24 meses).
36
Padro de Aleitamento Materno
A amamentao foi definida em categorias pela OMS (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2007).
Aleitamento materno: a criana recebe leite materno diretamente do seio ou
extrado, independentemente de estar recebendo alimento slido ou lquido.
Aleitamento materno exclusivo: a criana recebe somente leite materno da me ou
de uma me de leite, e nenhum outro alimento lquido ou slido, com exceo de
gotas ou xaropes constitudos por vitaminas, suplementos minerais ou
medicamentos.
Para definio da varivel amamentao, questionou-se me a cada visita, se ela
estava amamentando ou utilizando mamadeira ou outros bicos artificiais para a
alimentao da criana. Para aleitamento materno exclusivo foram determinados os
seguintes intervalos: menos de trs meses, trs meses ou mais, menos de seis
meses e seis meses ou mais. Para aleitamento materno os intervalos foram: menos
de seis meses, seis meses ou mais, menos de doze meses e doze meses ou mais.
Sexo
A varivel sexo foi definida no momento da coleta dos dados em masculino e
feminino. Relatado pela me da criana.
Raa/Cor
A varivel raa/cor foi definida aps autorizao das informaes provenientes do
Sistema de Informao sobre Nascidos Vivos (SINASC) em branca, preta, amarela,
parda e indgena.
Variveis de hbitos de suco nutritivos e no nutritivos
As variveis de hbitos de suco nutritivos e no nutritivos foram mensuradas por
tempos fixos (incio at o primeiro ms, inicio at o sexto ms e inicio at o 12 ms)
para a suco de dedo, suco de chupeta, uso de mamadeira e uso de outros bicos
37
artificiais. Definidas perguntando-se, em cada visita, se a criana manifestava tal
hbito. Em caso afirmativo, registrava-se quando a criana iniciou.
Introduo de Alimentos
Durante as visitas foi questionado se a me havia introduzido dieta da criana
algum alimento de qualquer natureza: frutas, legumes ou verduras amassadas, ou
at mesmo alimentos industrializados. Em caso afirmativo, registrava-se quando a
criana iniciou o consumo alimentar. Os seguintes intervalos foram definidos para
incio da alimentao semi-slida: incio at 4 ms e incio depois do 4 ms.
Hbitos Alimentares
Para possibilitar a anlise, o consumo alimentar foi categorizado nas seguintes
variveis: consumo de carne, abrangendo carnes bovinas, sunas, aves e peixes;
consumo de leite animal e derivados, como queijos e iogurtes; consumo de outras
fontes de protena, abrangendo ovos e alimentos fonte de protena de soja; consumo
de frutas; consumo de verduras e legumes; consumo de carboidratos, como arroz,
pes, batata, massas e outros; consumo de feijo e leguminosas; consumo de
alimentos aucarados; consumo de engrossantes para leite; consumo de cafena e
consumo de gorduras.
Variveis socioeconmicas
As variveis socioeconmicas, declaradas pelas mes, foram coletadas apenas
durante a primeira visita, pois no ocorreram grandes modificaes nessas
caractersticas. Sendo elas: grau de escolaridade materna, renda familiar em
salrios mnimos, a ocupao do pai e da me, a idade materna, a situao
conjugal, a estabilidade conjugal, o nmero de pessoas que habitavam a mesma
residncia, o acabamento da casa e o nmero de cmodos da casa.
38
Varivel vedamento labial
O vedamento labial foi determinado por anlise observacional e por palpao do
msculo mentoniano. Se, durante a visita, a criana mantivesse os lbios contatados
e permanecesse com a boca fechada sem contrao contnua do msculo
mentoniano, registrava-se a presena do vedamento labial.
Varivel respirao bucal
Para o exame de respirao bucal, os examinadores utilizaram espelhos
anatmicos, semelhantes ao Espelho de Altmann, posicionados na entrada do
espao aeronasal da criana, para observar a expirao do ar. A criana que no
conseguisse marcar com ar o espelho, apresentasse algum tipo de dificuldade
respiratria e/ou obstruo nasal e ausncia de vedamento labial, era considerada
respirador bucal. Caso ela apresentasse passagem area nasal livre e ausncia de
vedamento labial, era considerada respirador bucal misto.
Idade gestacional
A varivel idade gestacional foi definida aps autorizao das informaes
provenientes do SINASC em: menos de 22 semanas de gestao, de 22 a 27
semanas, de 28 a 31 semanas, de 32 a 36 semanas, de 37 a 41 semanas e de 42 e
mais semanas de gestao. Foram consideradas pr-termo, as crianas nascidas
com menos de 37 semanas e a termo, as nascidas de 37 a 42 semanas (BRASIL,
2006; RAMOS; GUGISCH; FRAIZ, 2006).
Peso ao nascer
A varivel peso ao nascer foi definida aps autorizao das informaes
provenientes do SINASC em: menor que 1500 gramas; de 1500 a 2500 gramas e
maior que 2500 gramas. Foram consideradas de baixo peso as crianas nascidas
com 2.500 gramas ou menos e peso normal, as nascidas com mais de 2.500 gramas
(SEOW et al., 1988; HADDAD, 1997).
39
Desenvolvimento da Dentio
Como critrio para a avaliao da erupo dos dentes decduos, um dente foi
considerado irrompido, quando qualquer poro da coroa houvesse atravessado a
barreira gengival e se apresentasse visvel na cavidade bucal (AGUIRRE, ROSA,
1988; OZIEGBE et al., 2009; TAMBURS, CONRADO, CAMPOS, 1977; BRANDO,
ROCHA, 2004). A cada visita registrava-se se havia na criana algum dente
irrompido. A idade de erupo dos primeiros dentes foi anotada e a dos demais
dentes ia sendo registrada medida que apareciam, de acordo com a memria das
mes e do exame clnico realizado nas crianas pelos pesquisadores a cada visita.
O Quadro 1 apresenta as variveis agrupadas por assunto e as respectivas
categorias de anlise de dados.
Quadro 1. Definio das variveis do estudo. (Continua)
Determinante Varivel Categoria
Tempo de aleitamento materno
Aleitamento materno exclusivo 1 0-Menos de trs meses 1-Trs meses ou mais
Aleitamento materno exclusivo 2 0-Menos de seis meses 1-Seis meses ou mais
Aleitamento materno 1 0-Menos de seis meses 1-Seis meses ou mais
Aleitamento materno 2 0-Menos de doze meses 1-Doze meses ou mais
Tempo de aleitamento 0-24 meses 1-Mais de 24 meses
Sexo da criana Sexo 0-Masculino 1-Feminino
Raa/Cor Branca Preta Amarela Parda Indgena
Nominal
Hbitos de suco Uso de outros bicos artificiais (incio at 6 ms)
0-No 1-Sim
Uso de mamadeira (incio at o 1 ms)
0-No 1-Sim
Uso de mamadeira (incio at o 6 ms)
0-No 1-Sim
Uso de mamadeira (incio at o 12 ms)
0-No 1-Sim
Uso de chupeta (incio at o 1 ms)
0-No 1-Sim
40
Quadro 1. Definio das variveis do estudo. (Continua)
Determinante Varivel Categoria
Uso de chupeta (incio at o 6 ms)
0-No 1-Sim
Uso de chupeta (incio at o 12 ms)
0-No 1-Sim
Suco de dedo (incio at o 1 ms)
0-No 1-Sim
Suco de dedo (incio at o 6 ms)
0-No 1-Sim
Suco de dedo (incio at o 12 ms)
0-No 1-Sim
Alimentao complementar
Alimentao semi-slida 0-Incio at 4 ms 1-Incio depois do 4 ms
Hbitos Alimentares
Carnes 0-No 1-Sim
Leite 0-No 1-Sim
Outras fontes de protena 0-No 1-Sim
Frutas 0-No 1-Sim
Verduras e legumes 0-No 1-Sim
Carboidratos 0-No 1-Sim
Feijo 0-No 1-Sim
Alimentos aucarados 0-No 1-Sim
Engrossantes 0-No 1-Sim
Cafena 0-No 1-Sim
Gorduras 0-No 1-Sim
Idade materna ao nascimento da criana
Idade materna 1 0-At 20 anos 1-20 anos ou mais
Idade materna 2 0-At 35 anos 1-35 anos ou mais
Escolaridade Escolaridade materna 0-1 grau incompleto 1-A partir do 1 grau completo
41
Quadro 1. Definio das variveis do estudo. (Continua)
Determinante Varivel Categoria
Renda Renda familiar mensal 0-At dois salrios mnimos 1-Mais que dois salrios mnimos
Tempo de ocupao do pai 0-Menor que 5 anos 1-Maior ou igual a 5 anos
Participao paterna na renda familiar
0-Sem renda 1-Com renda
Situao conjugal Situao conjugal 0-Separados 1-Casados/concubinato
Separao depois do nascimento da criana
0-No 1-Sim
Condies de moradia e saneamento
Tipo de acabamento residencial 0-Incompleto 1-Completo
Quantidade de quartos 0-Um 1-Mais que um
Quantidade de cmodos 0-At quatro 1-Mais de quatro
Aglomerao humana domiciliar 0-At cinco 1-Mais de cinco
Acesso gua potvel 0-No 1-Sim
Acesso rede de esgoto 0-No 1-Sim
Acesso coleta de lixo 0-No 1-Sim
Vedamento labial Vedamento labial 0-No 1-Sim
Respirador bucal Respirador bucal 0-No 1-Sim
Idade gestacional Menos de 22 semanas 0-No 1-Sim
De 22 a 27 semanas 0-No 1-Sim
De 28 a 31 semanas 0-No 1-Sim
De 32 a 36 semanas 0-No 1-Sim
De 37 a 41 semanas 0-No 1-Sim
42 e mais 0-No 1-Sim
42
Quadro 1. Definio das variveis do estudo. (Concluso)
Determinante Varivel Categoria
Peso ao nascer Menor que 1500 gramas 0-No 1-Sim
De 1500 a 2500 gramas 0-No 1-Sim
Maior que 2500 gramas 0-No 1-Sim
Desenvolvimento da Dentio
Erupo do 71/81 Numrica (em meses)
Erupo do 51/61 Numrica (em meses)
Erupo do 72/82 Numrica (em meses)
Erupo do 52/62 Numrica (em meses)
Erupo do 73/83 Numrica (em meses)
Erupo do 53/63 Numrica (em meses)
Erupo do 74/84 Numrica (em meses)
Erupo do 54/64 Numrica (em meses)
Erupo do 75/85 Numrica (em meses)
Erupo do 55/65 Numrica (em meses)
5.5 Anlises estatsticas
A anlise estatstica foi realizada a partir da reviso e adequao do banco de dados
digitado no programa SPSS for Windows v. 16.0 (SPSS Inc, Chicago, Estados
Unidos), selecionando as variveis de interesse.
5.5.1 Anlise descritiva
Foram realizados os clculos da mdia, mediana e desvio padro, para o tempo de
erupo dos dentes decduos de cada criana.
43
5.5.2 Anlise de Concordncia e Discordncia
Foram realizados testes para comparao dos tempos de erupo dos dentes
decduos na amostra e os tempos de erupo descritos pelos autores clssicos:
Minot (1873), Logan e Kronfeld (1939), Schour e Massler (1941) e Lunt e Law (1974)
e aplicados os testes de kappa, segundo Landis e Koch (1977) para mensurar os
nveis de concordncia. Verificou-se tendncia da discordncia com a aplicao dos
testes de McNemar e de kappa ajustado pela prevalncia, adotando-se nvel de
significncia estatstica menor que 5%.
5.5.3 Anlise de Sobrevivncia
Foi realizada a Anlise de Sobrevivncia, na qual a varivel de interesse foi o tempo
de erupo dos dentes decduos (em meses) e todas as outras variveis do estudo,
possveis fatores de risco relacionados a erupo dentria decdua. Calculou-se a
Curva de Sobrevivncia de Kaplan-Meier e o teste LogRank para diferenciar os
tempos entre as categorias das variveis. Em seguida, as anlises na Regresso de
Cox foram realizadas com as variveis independentes cujo p-valor foi menor que
0,10 na anlise univariada pelo teste LogRank e com a varivel dependente: tempo
de erupo dos 10 grupos de dentes decduos.
5.6 Consideraes ticas
O protocolo de pesquisa foi submetido ao Comit de tica em Pesquisa (CEP) do
Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Esprito Santo (UFES),
sendo totalmente aprovado na 43 reunio ordinria, em 25 de junho de 2003, sob
registro no CEP n 0020/2003 (ANEXO A). O TCLE foi assinado pelos pais antes do
desenvolvimento da pesquisa (ANEXO B).
44
Autorizado o acesso ao banco de dados provenientes do projeto de pesquisa
intitulado: Feche Sua Boca e Salve Sua Vida II pelo pesquisador responsvel pelo
mesmo, o professor Adauto Emmerich Oliveira (ANEXO C).
Autorizado pela Escola Tcnica e Formao Profissional de Sade ETSUS/Vitria
o acesso ao banco de dados do Sistema de Informao sobre Nascidos Vivos
(SINASC) para coleta de dados referente idade gestacional das crianas
participantes e peso ao nascer, alm de informaes sobre raa/cor no perodo de
2003 e 2004 (ANEXO D).
45
6 RESULTADOS
6.1 ARTIGO 1
Cronologia de erupo da dentio decdua: concordncia entre autores clssicos
46
6.1.1 Resumo
O objetivo desse trabalho foi avaliar a concordncia entre os tempos de erupo da dentio
decdua em amostra de crianas do municpio de Vitria-ES e os tempos de erupo relatados
por autores clssicos. Os dados utilizados foram provenientes de um estudo de coorte com 86
recm-nascidos acompanhados at a idade de 36 meses de vida. Calculou-se a idade mdia de
erupo dos dentes decduos de cada criana e testes foram realizados para comparao do
tempo de erupo decdua, descritos pelos autores clssicos. Em seguida, aplicou-se o teste de
kappa, McNemar e kappa ajustado pela prevalncia. A mdia de erupo dos dentes decduos
variou de oito a 29 meses de vida no arco inferior, e de 11 a 30 meses no arco superior. Houve
maior proporo de concordncia para o tempo de erupo do 71/81 (kappa = 0,82; IC95% =
0,72-0,93) e do 52/62 (kappa = 0,88; IC95% = 0,78-0,99) entre Minot (1873) e Shour e
Massler (1941). Seguido do tempo de erupo entre este ltimo autor e Logan e Kronfeld
(1939) para o 51/61 e 55/65 e entre Lunt e Law (1974) para o 53/63 e 73/83. Valores elevados
de McNemar foram encontrados para o tempo de erupo do 51/61 (McNemar = 54,0; p =
0,000), 72/82 e 75/85 entre Logan e Kronfeld (1939) e Lunt e Law (1974) e do 51/61 entre
este ltimo autor e Shour e Massler (1941). Nesse estudo a seqncia de erupo decdua
encontrada foi semelhante observada em diversas pesquisas, assim como a idade mdia de
erupo dos incisivos centrais superiores e inferiores decduos, contudo para os demais dentes
a idade mdia de erupo foi sempre mais tardia. Os maiores nveis de concordncia foram
para os tempos de erupo dos incisivos e caninos decduos do que para os molares decduos.
Descritores: Dente decduo; Cronologia; Erupo Dentria.
47
6.1.2 Abstract
This study aims to assess agreement between the eruption age of deciduous teeth eruption in a
children sample the City of Vitoria-ES and the eruption age reported by classical authors. The
data derive from a cohort study with 86 newborns until their 36th month of age. Average
deciduous teeth eruption age of each child was calculated and testing was performed to
comparing deciduous teeth eruption age described by classic authors. Then, kappa test,
McNemar and prevalence adjusted kappa were applied. Average deciduous teeth eruption
ranged between 8 and 29 months of age in the lower arch, and 11 to 30 months in the upper
arch. There was higher agreement proportion for deciduous teeth eruption age of 71/81
(kappa = 0.82; IC95% = 0.72-0.93) and 52/62 (kappa = 0.88; IC95% = 0.78-0.99) between
Minot (1873) and Shour e Massler (1941). Followed by deciduous teeth eruption age between
the latter author and Logan and Kronfeld (1939) for 51/61 and 55/65 and between Lunt and
Law (1974) for 53/63 and 73/83. High McNemar values were found for deciduous teeth
eruption age of 51/61 (McNemar = 54.0; p = 0.000), 72/82 and 75/85 between Logan and
Kronfeld (1939) and Lunt and Law (1974) and for 51/61 between the latter author and Shour
and Massler (1941). The sequence of deciduous teeth eruption found here was similar to that
reported in several studies, as well as average eruption age of deciduous upper and lower
central incisors. However, average age was always later for the other teeth. Levels of
agreement were higher for deciduous incisor and canine eruption than for deciduous molars.
Keywords: Deciduous tooth; Chronology; Tooth Eruption.
48
6.1.3 Introduo
Aps o nascimento, uma criana torna-se grande motivo de apreenso dos pais, familiares e
amigos acerca dos diversos aspectos da vida social, biolgica e comportamental do beb. A
partir do crescimento e desenvolvimento infantil a ateno aos aspectos da vida cotidiana
torna-se foco de dvidas e questionamentos para pais e/ou cuidadores.
Um dos momentos mais esperados e temidos o nascimento dos primeiros dentes na criana,
conhecido tambm como erupo dentria decdua, pois quando esse fenmeno no segue um
ciclo evolutivo regular ocasiona modificaes no padro mastigatrio da criana, com
possveis alteraes no crescimento dental e bucal1. Entretanto, tal momento torna-se menos
temido para os pais e profissionais de sade quando estes obtm o conhecimento do tempo, ou
seja, a idade mdia em que cada dente decduo surge na cavidade bucal. Isso funciona como
um indicador no diagnstico de possveis alteraes de crescimento e desenvolvimento geral e
bucal da criana1,2,3.
Deve-se considerar tambm que o surgimento dos dentes na cavidade bucal, obedece a certo
padro, havendo diferenas quanto ao sexo, alm da interferncia de fatores sistmicos e
principalmente ambientais4. De acordo com Corruccini e Beecher5 existe a hiptese da
associao entre a correlao das dimenses oclusofaciais e as relaes oclusais com a
alterao na demanda mastigatria. Fato este que torna oportuno o estudo comparativo da
cronologia e seqncia de erupo da dentio decdua em diferentes populaes e em
diferentes pocas.
Apesar de serem utilizadas metodologias diferentes, os resultados dos estudos cientficos
mostram divergncias quanto cronologia e sequncia eruptiva, principalmente com relao a
alguns grupos de dentes6. Isso demonstra a preocupao com a cronologia de erupo do
ponto de vista cientfico e a necessidade de continuar a pesquis-la.
49
A partir disso, o objetivo desse estudo avaliar a concordncia entre os tempos de erupo da
dentio decdua em amostra de crianas do municpio de Vitria-Esprito Santo (ES) e os
tempos de erupo relatados por autores clssicos.
6.1.4 Metodologia
Os dados utilizados neste trabalho so provenientes de um estudo longitudinal, que teve
durao de trs anos (2003 a 2006), com 86 recm-nascidos que foram acompanhados at a
idade de 36 meses de vida. Foram includas crianas residentes em reas que apresentaram os
piores indicadores de mortalidade infantil do municpio, So Pedro e Bonfim, segundo o
Plano Municipal de Sade no ano de 20017.
Foi utilizada amostragem por convenincia a partir de estudo realizado entre 2003 e 20067.
Para fins deste estudo a amostra foi recalculada por meio do programa BioEstat, verso 5.3
(http://www.mamiraua.org.br/ptbr/downloads/programas/) sendo o erro alfa de 5% e o poder
do teste variando entre 55% e 98%.
Foram includas todas as crianas nascidas nessas regies encaminhadas pelos Agentes
Comunitrios de Sade (ACS), sendo 86 crianas referendadas por trs unidades de sade de
duas regies diferentes de novembro de 2003 a maio de 2004. A partir da seleo dessas
crianas, quatro pesquisadores, realizaram visitas domiciliares peridicas acompanhados dos
ACS nas quais coletavam os dados clnicos dos sujeitos da pesquisa sobre hbitos de suco,
respirao bucal, padro de amamentao e desenvolvimento da dentio decdua por meio da
aplicao de um formulrio as mes e da realizao de um exame clnico nas crianas.
Durante essas visitas tambm eram transmitidas s mes orientaes em relao aos cuidados
com os bebs.
50
Como critrio para a avaliao da erupo dos dentes decduos, um dente foi considerado
irrompido, quando qualquer poro da coroa houvesse atravessado a barreira gengival e se
apresentasse visvel na cavidade bucal1,3,8,9. Informao est declarada pelas mes ou obtida
atravs do exame clnico realizado pelos pesquisadores a cada visita.
Foram realizadas oito visitas ao todo, sendo sete visitas domiciliares e uma visita no
consultrio. As visitas domiciliares ocorreram com uma periodicidade mdia de trs meses
nos dois primeiros anos do estudo e, posteriormente, de seis meses, no ltimo ano, na med
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