UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÀRIO DE SANTARÉM
CENTRO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMNAS
CURSOS DE CIENCIAS SOCIAIS E LICENCIATURA PLENA
E BACHARELADO
FOLCLORE E POLITICA: UM ESTUDO SOBRE AS RELACOES DE PODER
NA AGREMIACAO FOLCLORICA BOI-BUMBA GARANTIDO EM PARINTINS-AM
POR
RAMIRO THAMAY YAMANEMAT: 9111034008-8
Trabalho apresentado como exigência para a
conclusão do Curso de Licenciatura Plena e Bacharelada em
Ciências Sociais, do Campus Universitário de Santarém, sob
a orientação da professora:Mestra . Hecilda Veiga.
SANTAREM PARA
1997
1
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a Deus, pela saúde e forca espiritual que me deu durante
todo o decorrer do curso.
A minha segunda mãe, Raimunda Pereira Rodrigues, seu esposo Francisco,
aos filhos Damião, Antonio, Leonardo, que muito me ajudaram como verdadeiros irmãos
em Cristo.
Ao meu filho Rennan que tem me acompanhado nesta jornada de lutas.
A família Bettoni e, em especial a minha grande amiga Clarice Bettoni por sua
incansável ajuda neste trabalho.
O presente trabalho é resultado de uma série de pesquisas feitas sob a
orientação da professora Mestra .Hecilda Veiga, a quem dirijo meus sinceros
agradecimentos.
2
APRESENTACAO
O presente trabalho tem como objetivo principal uma analise das relações de
poder existentes no interior da estrutura do grupo Folclórico Boi-bumbá Garantido.
A questão fundamental que nos orienta é a de averiguar como se dá o
processo das relações de poder entre os membros dessa Agremiação de um modo geral.
Em qualquer grupo constituído sempre haverá os que dominam e os que são
dominados, e á medida que esse grupo venha a crescer, as relações de poder se efetivarão
de forma mais contundente, deixando bem claro a posição de cada um dentro do grupo.
A idéia original deste trabalho surgiu quando começamos a estudar as
disciplinas de ênfase política. Foi, então, que começamos a observar os grupos folclóricos
da cidade de Parintins, no Estado do Amazonas.
Nossa escolha por esse tema das relações de poder se deu em dois momentos;
primeiro, por estarmos fazendo uma ênfase política, e, segundo, por observamos uma
acirrada luta política dentro da Agremiação Folclórica Boi-bumbá Garantido.
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INDICE
Introdução .......................................................................................................06
Capitulo I – A gêneses do Boi-bumbá Garantido no Município de Parintins.08
1.a – A origem do Boi-bumbá.
1.b – A origem do Festival Folclórico.
1.c – Recursos de que dispõe o Garantido para apresentação do Festival.
1.d – Significado do Festival para o Turismo no Município.
Capitulo II – As relações de Poder Manifestos na Agremiação Folclórica Boi-
bumbá Garantido.................................................................................................................16
2 - As relações de poder instituídas:
2.a - A hierarquia existente no Grupo Folclórico Boi-bumbá Garantido.
2.a.1-A hierarquia sócio econômica.
2.a.2-A hierarquia de funções:
2.a.2-1.A função em si.
2.a.2-2.Poder de barganha.
2.a.2-3.As relações de parentesco.
2.a.2-4.A relação entre condição social e posição no interior da agremiação.
2.b – Na disputa pelo poder:
2.b-1.Os interesses internos e externos.
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2.c- Na disputa pelo poder:
2.c-1.Entre o discurso ideológico e a realidade.
Conclusão:........................................................................................................34
Bibliografia:.....................................................................................................37
Consultas Complementares............................................................................40
Anexos:............................................................................................................41
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INTRODUCAO
Para a conclusão de Licenciatura Plena e Bacharelado em Ciências Sociais,
foi exigida a presente pesquisa na área de Ciências Políticas. Escolhemos fazer uma
monografia sobre as relações de poder existentes na Agremiação Folclórica Boi-bumbá
Garantido, devido nos últimos anos terem ocorrido verdadeiras lutas pelo poder no seio
desta Agremiação folclórica; portanto, levantamos alguns pressupostos apresentados a
seguir.
Aa relações de poder no interior da referida agremiação são determinadas, em
primeira instancia, pela posição social ou financeira que a liderança desfruta diante da
sociedade parintinense; em segunda instancia, esse poder se dá pelas relações de
parentesco; em terceiro lugar, o poder exercido por alguns de seus membros decorre do
carisma que os mesmos possuem junto ao povo, que torcem pelo Boi-bumbá; em quarto
lugar, esse poder é devido a normas estatuídas. Isso permite que o exercício de funções
tenha um caráter legal e eletivo. Nos empenhamos durante este estudo em analisar essas
formas de poder em comparação com o poder exercido pelos coronéis do temp do império
e da Velha Republica.
Começamos nosso estudo verificando, no primeiro capitulo, a gênese do Boi-
bumbá Garantido no Município de Parintins, no Estado do Amazonas; a origem do festival
folclórico no referido Município; os recursos de que dispõe o Garantido, para fazer suas
apresentações; o significado do festival folclórico para o turismo no Município e para o
Estado do Amazonas.
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-No segundo capitulo, nos preocupamos e, analisar as relações de poder no
grupo Boi-bumbá Garantido, tais como: as relações de poder instituída;
-as relações de parentesco existentes no grupo;
-a relação entre a condição social e a posição ocupada pelo individuo no
grupo;
-como se dá a disputa pelo poder em relação aos interesses internos e externos.
-por fim, se fez uma analise entre o discurso ideológico e a realidade.
Para a elaboração desta pesquisa cientifica foram adotados os seguintes
procedimentos metodológicos: Pesquisa documental, entrevistas, observação sistemática,
etc...
Neste simples e rápido trabalho, infelizmente devido ao tempo, não nos é
possível fazer um estudo das demais agremiações folclóricas existentes no Município. Por
esse motivo nos detivemos apenas em uma delas que será analisada durante este trabalho,
mas deixamos claro que é nossa intenção, em um futuro próximo, tomarmos tempo para
que se possa fazer uma pesquisa mais aprofundada sobre as outras Agremiações folclóricas
do Município de Parintins.
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I- A GENESE DO BOI BUMBA GARANTIDO NO MUNICIPIO DE
PARINTINS. AM.
1.a- A origem do Boi-bumbá Garantido:
O Boi-bumbá é originário do Nordeste brasileiro e em especial do Estado do
Maranhão. Segundo historiadores do local, a brincadeira do Boi-bumbá foi trazida do
Estado da Paraíba, mas há alguns que afirmam que essa forma de brincar foi trazida de
Manaus; o certo é que se torna difícil categoricamente de onde veio essa forma de se
brincar o Boi-bumbá. De todo o modo, o fato é que o Boi-bumbá e sua forma de
brincar chegou a Parintins e aqui se instalou, definitivamente, e hoje já é conhecido no
Brasil inteiro, pois os meios de comunicação, tem feito a sua parte na divulgação do
evento.
Cabe inferir que o termo ´` Boi-bumbá ´`, em sentido restrito, é a figura de um
boi de pano com armação de madeira, oco, que traz no seu interior a ´`tripa ou miolo
´`{01}.
O grupo folclórico que estamos pesquisando, segundo o que consta no seu
estatuto, surgiu em 1913, como podemos ver na citação que segue: ´` A existência do
Boi-bumbá Garantido como grupo de manifestação folclórica cultural remonta aos idos
de 1913, ano em que foi organizado nesta cidade pelo fundador, o saudoso poeta
popular Lindolfo Monte Verde ´` [02].
Conforme o próprio Lindolfo Monte Verde, seu fundador, o Boi-bumbá
Garantido sucedeu ao Boi ´` Fita Verde´`, de Izidoro Passarinho, do Aninga. Naquela
época, Lindolfo reunia no terreno de sua propriedade os brincantes com diversos tipos
de instrumentos, que formavam a batucada do boi.
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O jornal do Norte, comentando sobre a primeira vez que o Boi-bumbá
Garantido se apresentou na cidade de Parintins diz: ´` O Garantido se exibiu pela
primeira vez em Parintins com 40 figuras entre cantadores, caboclos, vaqueiros, pajé,
bicho do folharal, Pai Francisco, Catirina, dona Maria e o Padre´`{03}.
Ao longo dos anos que se seguiram, a Agremiação Folclórica Boi-bumbá
Garantido foi vendo crescer o numero de admiradores, que se aglomeravam para assistir
os seus ensaios em seu curral, pois queriam ver de perto aquele espetáculo de lindas
toadas e versos interpretados pelos próprios autores que eram, na maioria, humildes
pescadores que no mês de junho se entregavam aos prazeres da gostosa brincadeira do
Boi-bumbá.
O Boi-bumbá Garantido vem mantendo as tradições, ate hoje ensaiando no
mesmo lugar em que foi fundado, Como diz uma de suas toadas, nunca mudou de
fazenda, nem de dono ou de curral; tem conservado sua tradicionalidade desde sua
fundação.
O Garantido, alem de cultivar suas tradições, tem procurado introduzir em
suas apresentações novas figuras como: ´` Neguinho do Campo Grande´`, o ´`
Tapyraiaura ´`, o ´` Jurupari ´`, o ´` Juma ´`, a ´` Cobra Grande´`, e muitas outras
lendas da região amazônica.
Outro fato interessante é a indumentária dos componentes da batucada: calcas
brancas e camisas vermelhas, que leva como parte do conjunto uma póla com emblema
do grupo folclórico e o boi, figura principal da apresentação ; é de cor branca com
algumas manchas leves pelo corpo, trazendo na testa um coração pintado de vermelho
com tradição ao longo dos anos.
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O Garantido tem um grupo de renomados artistas que preparam as alegorias e
ornamentações para as grandes disputas. Entre estes artistas podemos destacar os
seguintes: Valdir Santos, Sérgio Santos, Arlindo Teixeira, Luiz Carlos, Paquita, Ito
Neto, Neto II, Edmar, Gilson Azevedo, Adnelson Souza, Pedrinho Pauleta,Burica,
Ozeas Gil Bola, Maguila, José Carlos, Gudu, Vivaldo,Jair Mendes. [04]
Todos esses artistas citados acima, em sua maioria, são filhos da terra, como
se pode ver são artistas natos, pois na cidade de Parintins ainda não foi implantado um
curso de artes a nível superior pela Universidade Federal do Amazonas, apesar de a
mesma possuir um Campus Universitário na cidade.
Confirmando suas tradições, como se pode observar nos documentos
pesquisados, na verdade há mais de 15 anos que os `´amos ´´ [figura Folclórica do boi],
são os irmãos João Batista e Antonio Monteverde , filhos de Lindolfo. Seu
apresentador oficial é Paulo Faria. [05]
1.b- A origem do festival folclórico no Município:
O festival folclórico teve seu inicio no ano de 1965, e o grande responsável
pela organização, e porque não dizer o criador, foi o Sr Raimundo Muniz Rodrigues,
que contou com a participação de Xisto Pereira , Lucinor Barros e padre Augusto. Em
reunião na sede da JAC{ Juventude Alegre Católica }, lançaram as bases daquele que
seria um dos maiores festivais do gênero no Brasil. Naquele ano,os bumbas se
apresentaram na JAC, mas na oportunidade não houve uma disputa, pois os bumbas e
seus representantes brincavam sem nenhuma preocupação por vitória.
Segundo o historiador Toninho Saunier, pessoa com quem tive a
oportunidade de dialogar sobre o assunto, ele me disse que o veradeiro festival
10
folclórico de Parintins iniciou-se no dia 12 de junho de 1966, com o I Festival
Folclórico. [06].
Este primeiro festival foi realizado na quadra da Catedral,e neste mesmo local
foram realizados mais 8 Festivais.
O festival foi crescendo e com ele as dificuldades foram surgindo; no ano de
1980, o então Prefeito do Município, Sr. Raimundo Reis Ferreira, propôs a realização
do festival em parceria com a Prefeitura. Com essa união JAC e Prefeitura se realizou
o 15° Festival Folclórico de Parintins; o local escolhido para a apresentação do evento
foi o Estádio de futebol Tupy Cantanhede.
No ano de 1983 o Prefeito Gláucio Gonçalves transferiu o festival para o
Tabladrão do Povo, local onde é hoje o Bumbódormo. Em 1984 foi construído p
Anfiteatro Messias Augusto e em 1988 o Governador do Amazonas, Sr. Amazonino
Mendes construiu o Bumbódormo, onde foi realizado o 23 ° festival.
Algo interessante aconteceu no ano de 1975, quando foram realizados dois
festivais, um promovido pela Comissão Central de Esportes [CCE], no parque das
Catanholeiras e outro promovido pela JAC na Jonathas Pedrosa. Neste ano o Garantido
venceu os dois festivais.
Já em 1978, a JAC realizou o 13° festival em sua nova Quadra na Av.
Amazonas, onde é hoje um Clube de dança denominado Ilha Verde, O Caprichos, Boi-
bumbá considerado o maior rival do Garantido, em protesto, não participou e o
Garantido foi Campeão, disputando como Boi-bumbá Campineiro do bairro do
Palmares.
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O Jornal do Norte publicou um artigo acerca do Bumbódormo, que diz: ``
``Cerca de oito toneladas de equipamentos de som no Bumbódormo garantem 70 mil
watts de potencia que podem atingir 120 decibéis ´´ [07].
Todo esse aparato garante a qualidade do som que será utilizado pelos grupos
para o referido evento folclórico; como podemos perceber o evento vem realmente
tomando proporções imagináveis a anos atrás, quando da fundação e criação dos
primeiro festivais folclóricos em Parintins.
O Boi-bumbá Garantido, pelo que contam os historiadores do local, nunca
deixou de participar de nenhum festival folclórico desde o ano em que teve inicio, e
vem somando vitórias, que perfazem um total de 18 campeonatos, ate a presente data.
Na ultima disputa que foi o 31° festival no mês de 1996, o Caprichoso conquistou o seu
tricampeonato.
1.c. Recursos de que dispõe o Garantido para a apresentação do festival:
A Associação Folclórica Boi-bumbá Garantido, desde sua fundação em 1913,
vem procurando incentivar a cultura e o folclore no Município de Parintins. No
principio,o grupo se apresentava na rua, em residências, e recebia em troca certas
quantias em dinheiro que serviam para o grupo fazer as vestimentas e indumentárias da
época. Mas, com o tempo, o festival foi ganhando uma maior conotação, não só local,
mas também a nível nacional e internacional. Portanto, exigindo uma estrutura mais
sólida e, obviamente, mais organizada para, corresponder ás expectativas de todos que
aqui vem para prestigiar o evento folclórico.
O Boi-bumbá Garantido tem uma estrutura semelhante a de uma escola de
samba, com presidente, vice-presidente, tesoureiro e diversas diretorias, que
administram dos seguintes setores: artistas, batucada, o Pajé, o Vaqueiro, o Boi-bumbá,
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que é sem duvida a atração principal, e muitas outras coisas, como fantasias, as
alegorias, as tribos indígenas etc...]; é uma verdadeira luta para que todo fique em
ordem.
Os recurso para confecções de fantasias e alegorias são conseguidas através
da venda das cadeiras numerada e camarotes do Bumbódormo; das doações de
comerciantes, fazendeiros e simpatizantes do Boi-bumbá; da Prefeitura Municipal de
Parintins , dos CD´s com toadas do boi , que são vendidos ao publico , dos Shows do
bar do Boi que funciona em Manaus e Santarém; da Multinacional Coca Cola que
também promove o evento, ajudando financeiramente, e com isso ganha o direito de
′promover seus produtos usando a imagem do Boi-bumbá Garantido.
O Boi-bumbá Garantido, através de sua diretoria, se preserva contra os que
pretendem usar a imagem do Garantido, sem uma prévia autorização, conforme o
Artigo 37 de seu Estatuo, que diz:
`` é vedada a utilização por parte de terceiros, sob pena de responsabilidade civil e criminal do infrator, do nome da marca e da imagem do Boi-bumbá em Shows e apresentações folclóricas e musicas de caráter público e com fins de lucro, sem prévia autorização da Diretoria da Associação, assegurando-se, sempre, a contrapartida financeira em favor da Associação e a manutenção das tradições do Boi-bumbá Garantido`` [08].
O Boi-bumbá também conta com outros recursos financeiros muito
importantes, que são os contratos que o grupo faz com canais de televidao, vendendo o
direito de transmissão da imagem do Boi Garantido no festival para todo o mundo,
divulgando assim a cultura do Boi-bumbá, a nível nacional e internacional.
Outra importante ajuda que o grupo folclórico boi Garantido recebe é do
Governador do Estado do Amazonas, que nos últimos anos tem participado com uma
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cota substancial de dinheiro, e também com a organização do evento através da
EMANTUR- Empresa Amazonense de Turismo.
Devido a falta de recursos para a reposição dos materiais utilizados na
confecção das fantasias e alegorias, observa-se um fato interessante que ocorre no final
de cada festival: os Bois guardam parte do material usado, que será reciclado, para ser
usado novamente no próximo festival, diminuindo com isso os gastos para o próximo
evento, que será realizado no ano seguinte.
1.d- Significado do festival para o turismo do Município:
Comentando acerca do festival folclórico de Parintins, uma colunista da
Revista Veja observou: `` Em Parintins, todo mês de junho é dedicado ao maior festival
folclórico da região Norte. A cidade, de 70.000 habitantes, é completamente tomada
pela festa, que atraiu este ano 20.000 turistas.`` [09]
Essa reportagem foi escrita em junho de 1994, e de lá para cá o número de
turistas tem crescido. No último festival, realizado em junho de 1996, compareceram ao
evento folclórico cerca de 100.000 turistas, vindos de todas as partes do país e do
mundo; ou seja, houve um aumento de mais de 80% em relação ao ano de 1994 para o
ano de 1996. Esse grande número de turistas que tem aumentado a cada ano , é sem
dúvida devido á promoção que tem sido feita pela televisão, pela venda dos CD´S ,
fitas de vídeos , shows do grupo em vários lugares, entre outros fatores.
O turismo tem crescido no Município e a grande preocupação do Prefeito tem
sido a de incentivar a iniciativa privada a investir em redes hoteleiras, bares e
restaurantes; daí o surgimento de empresários interessados em aplicar capitais na Ilha
do folclore, isso porque o retorno de seus investimentos não tardará, pelo que se pode
notar, devido ao aumento de turistas a cada ano que passa.
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Outra preocupação do Prefeito tem sido em melhorar o nível da frota de táxis
e criar facilidades para que a parado dos navios de cruzeiros marítimos seja obrigatória
no porto da cidade, e já é normal s ver os grandes navios cruzeiros , vindos dos Estados
Unidos da América, atracarem no porto de Parintins com o objetivo de apreciar a
brincadeira do Boi-bumbá. Os grupos dos Bois recepcionam os turistas, com musicas
típicas e dança de Boi-bumbá.
Ainda neste capitulo se faz necessário definirmos alguns termos, que surgirão
ao longo de nosso trabalho:
`` Tripa do Boi- responsável pelos movimentos do bumbá fica embaixo do
Boi; Galera- é o mesmo que torcida; Toada- músicas cantadas durante a apresentação
dos bois; QG quartel general onde são feitas as alegorias; curral- local de ensaio dos
passos do boi; contrario- é como é chamado o boi adversário; marujada de guera-
nome dado á bateria do Boi Capricho; batucada –nome dado á bateria do Boi
Garantino; Figura- personagem apresentado durante a festa [ ex; Mãe Catirina, Pai
Francisco, etc..]; encarnado- cor do BOI Garantido; Bumbódormo- o centro cultura de
Parintins, situado entre a avenida das Nações e a rua Paraíba, inaugurado em 1988
possui o formato de um boi estilizado, onde a cabeça é representada pela tribuna, os
chifres pelos acessos laterais, o os contornos do animal pela arena e arquibancadas``
[10].
Todos esses nomes tem um significado muito importante, não só para os que
fazem o Boi, mas também para a galera, que torce pelo seu Boi preferido, e quando
qualquer destes nomes que acima citamos é mencionado, os seus torcedores abem
muito bem o seu significado, e qualquer pessoa que aqui chegou, logo vai se
familiarizar com esses nomes e seus significados.
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II- AS RELACOES DE PODER MANIFESTADAS NA AGREMIACAO BOI-
BUMBA GRANTIDO
2.a- As relações de poder instituídas:
Para compreendermos melhor como ocorrem essas relações de poder, se faz
necessário conhecer a infra estrutura administrativa da Agremiação Folclórica Boi-
bumbá Garantido, e como a mesma funciona. Foi então que visitamos por algumas
vezes, a sede da Agremiação; na primeira visita, constatamos que a determinada
Agremiação não tinha um escritório próprio para a sua administração, porem na
segunda visita já se pode constatar algo bem diferente a Associação Folclórica Boi-
bumba Garantido já havia adquirido um sede própria, local onde a muito tempo atrás
funcionava a única industria da cidade Grupo União Brasil Juta, empresa que entrou
em decadência e não mais funcionou. Na verdade o local é um verdadeiro complexo
de prédios, que há algum tempo atrás eram utilizados pela fabrica, mas agora o Boi-
bumbá Garantido passou a utilizar, para a confecção de suas fantasias e alegorias e é
este o local, onde ficam guardadas todo o material que é reciclado para o próximo
festival, na realidade nem todos os prédios são utilizados, pois os mesmos, estão em
péssimas condições e ainda estão sendo reformados pelo grupo do Boi Garantido. Na
atualidade os prédios já recuperados são usados como QG. [ local onde se
confecciona, fantasias e alegorias que serão usadas nas apresentações do Boi-bumbá].
2.a- A hierarquia no Grupo Folclórico Boi-bumbá Garantido:
Analisaremos a questão da hierarquia em dois momentos, para que se possa
compreender melhor esse estudo; primeiramente, trataremos da hierarquia sócio-
econômica das pessoas envolvidas direta ou indiretamente com o referido grupo
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folclórico, e, por último, veremos a hierarquia de função no setor administrativo.
Dessa maneira, poderemos ter uma visão mais concreta da questão em evidencia.
2.a-1. Hierarquia sócio-econômica.
A brincadeira do Boi-bumbá, de certa forma, nivela as classes sociais, onde
praticamente não se pode distinguir as diferenças sócio-econômicas de seus
participantes, isso porque aquelas pessoas que costumam participar do evento, fazem
um preparo todo especial durante o ano inteiro, os mesmos economizam seu dinheiro
com a finalidade de prepararem suas próprias fantasias, e , então nos dias em que se
apresentarão, estão lindos e maravilhosos, o que se torna praticamente impossível se
perceber as diferenças sócio-econômicas entre os participantes.
Segundo Roberto da Matta, o carnaval brasileiro possui esse tipo de
características, e pelo podemos constatar, esse é um fenômeno que se pode observar
também ocorre na brincadeira do Boi-bumbá, a hierarquia cotidiana desaparece em um
passo de mágica, confirma o referido autor, no seguinte trecho:
``Neste quadro, a inversão carnavalesca brasileira situa-se como um principio
que suspende temporariamente a classificação precisa das coisas, pessoas, gestos,
categorias e grupos no espaço social, dando margem para que tudo e todos possam estar
deslocados`` [11].
Isso é uma realidade contundente, que se pode observar nos carnavais em todo
o território brasileiro; na verdade, as pessoas nesta época festiva se transformam e é
muito difícil se fazer qualquer distinção entre as classes sociais.
Foi por esse motivo que resolvemos comparara a brincadeira do Boi-bumbá
de Parintins com os carnavais, que são realizados por todo o Brasil. Na realidade há
muitas semelhança que merecem ser estudadas e comparada, e essa que acabamos de
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salientar faz justiça á nossa comparação entre os dois eventos folclóricos: o carnaval
brasileiro e a brincadeira do Boi-bumbá de Parintins..
E é precisamente por poder colocar tudo fora do lugar, que a brincadeira do
Boi-bumbá é, normalmente, associada a uma grande ilusão ou até mesmo a uma
loucura, que as desigualdades sociais desaparecem pelo menos passageiramente durante
o evento folclórico que se realiza anualmente no Município de Parintins. No Estado do
Amazonas.
2.a.2- A hierarquia de funções:
2.a.2.1- A função em si.
Como salientamos anteriormente, o Boi-bumbá Garantido possui uma
estrutura administrativa semelhante a escola de sambas. Isso porque o grupo possui um
corpo administrativo muito bem organizado, segundo o próprio Estatuto no Art. 22 diz:
´´ A administração da Associação é exercida pela Diretoria, eleita peal
Assembléia Geral, para um mandato de 02[dois] anos, assim constituída:
I- Presidente;
II- -Vice-presidente;
III- Diretor-Secretário;
IV- Diretor Administrativo;
V- Diretor Artístico-Cultural;
Parágrafo único- Junto com a Diretoria serão os eleitos os 03 [três] Suplentes
[1°, 2°, 3° ], vinculados aos cargos de Diretor, Secretario, Diretor Administrativo-
Financeiro e Diretor Artístico-Cultural, respectivamente, para substituí-los nos casos de
impedimento ou vacância´´[12].
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Toda esta estrutura organizacional deixa bem claro que há uma hierarquização
de funções dentro do grupo Boi-bumbá Garantido, onde cada um desempenha suas
funções, mas que acima de todos esta a figura do presidente para organizar e comandar o
grupo.
Em uma entrevista que fizemos com o senhor José Walmir, que atualmente é
o presidente, ele nos disse: `` Não sou de Parintins, mas desde que aqui cheguei me
entrosei ao grupo Folclórico Boi-bumbá Garantido e já fui eleito por três vezes presidente
desse grupo folclórico, e tenho trabalhado junto com os demais para elevar a cultura e
propagar a arte do Boi-bumbá não só para os parintinenses, mas também a todos que aqui
vierem´´ [13].
O Sr. Walmir fala de suas preocupações em elevar a cultura parintinense, isso
é muito importante, mas é bom lembrar o que diz o escritor José Luiz Santos a esse
respeito: ´´ O que não podemos fazer é discutir sobre cultura ignorando as relações de
poder dentro de uma sociedade ou entre sociedades´´ [14].
Cultura e poder andam juntas porque, na verdade, a cultura é um produto da
historia e suas transformações, e essas transformações só se efetivam, através do poder
político.
O senhor José Walmir, atual presidente da Associação Folclórica Boi-bumbá
Garantido, também ocupa um junto ao Legislativo Municipal uma cadeira como Vereador
há vários mandatos e inclusive foi reeleito no ultimo pleito eleitoral para mais um
mandato.
Segundo o Estatuto anterior, o presidente detinha maior poder, podendo
escolher pessoas de suas relações para ocuparem cargos de confiança do presidente: tal era
o poder, pois o mesmo após eleito escolhia o diretor administrativo, o diretor cultural e o
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conselho fiscal. Mas, atualmente, esses poderes foram diminuídos no novo Estatuto e o
presidente perdeu o antigo direito de escolher quem ele desejasse para lhe auxiliar na
administração da agremiação.
Obviamente, alguém que ocupa tal função em um grupo como esse, goza de
um certo prestigio político que pode lhe render votos em uma eleição a nível Municipal ou
até mesmo a nível Estadual e ai por diante. Isso é contundente e não pode ser negado, pois
é só observarmos o número de vezes que o Sr. José Walmir se reelegeu como vereador
no Município de Parintins e também como presidente do grupo folclórico Boi-bumbá
Garantido.
Em entrevista que fizemos, o Sr. Ronildo Pedro Batista Monteverde ele
disse: ´´ Os poderes são de representar o Boi junto ás autoridades nacionais e
internacionais, fazer convênios, projetos que venham beneficiar a Associação´´ [15].
Alem destes poderes de que falou o filho do fundador do Boi, e, ex-presidente
da Associação Folclórica Boi-bumbá Garantido, existem outros tipos de poderes que um
presidente desfruta quando está no cargo, mas isso foi negado pelo atual presidente como
podemos ver em um trecho da entrevista que fizemos com o Sr, José Walmir e como
outros da atual diretoria.
Nesta mesma oportunidade em que falamos com o presidente Walmir
também conversamos com outros membros da diretoria, e tanto o presidente como os
demais foram unânimes em afirmar de que dentro do grupo não há interesses políticos e
nem disputa pelo poder e, que tudo o que o grupo faz é por amor as cores do Boi do
coração.
2.a.2- Poder de barganha:
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As relações interpessoais são, na verdade importantes no processo de
consolidação da autoridade e poder; saber relacionar-se é fundamental a umpolítico.
Todo ser humano é um ser de relações. Em outras palavras, ninguém vive
para si e em si, mas numa inter-relação com outros e quem ocupas algum cargo deve
saber se relacionar com os outros que lhe são subordinados ou mesmo superiores. Então, o
que vem a ser o prestígio pessoal ?
Tratando desse tema, diz Weber:
´´ ....a autoridade que se funda em dons pessoais e extraordinárias de um
individuo [carisma]- devoção e confiança estritamente pessoais depositadas em alguém
que se singulariza por qualidades prodigiosas, por heroísmo ou por outras qualidades
exemplares que dele fazem o chefe. Tal é o poder ´´ carismático´´, exercido pelo profeta ou
– no domínio político- pelo dirigente guerreiro eleito, pelo soberano escolhido através de
plebiscito, pelo grande demagogo ou pelo dirigente de um partido político´´ [16].
No grupo folclórico Boi-bumbá Garantido, o apresentador Paulo Faria pode
ser considerado um chefe carismático, um mito , como alguém que todos respeitam. Ele
conta com o apoio incondicional não só da diretoria, como também da ´´galera´´ do Boi-
bumbá Garantido.
Paulo Faria tem sido o apresentador oficial do Boi-bumbá Garantido por 19
anos e no último festival de 1995 encontrava-se afastado por problemas internos com a
diretoria, ou seja, desavenças quanto ao que receberia pela apresentação do Boi-bumbá
Garantido. Paulo Faria exigia uma certa quantia para fazer a referida apresentação, mas a
diretoria não concordou, então esse foto levou o apresentador a se afastar do cargo de
apresentador oficial do Boi.
21
Como Paulo estava afastado, outro apresentador foi escolhido para as três
noites de festival, mas o novo apresentador não conseguiu ganhar a empatia da galera do
Garantido, que ficou apática por diversas ocasiões durante a sua apresentação. Desse
modo, segundo o noticiário:
´´ A poucas horas da última apresentação, a diretoria do Boi-bumbá
Garantido, para tentar apagar a má apresentação da segunda noite, decidiu substituir o
apresentador oficial, Bené Siqueira, por Paulo Faria que havia se afastado do grupo depois
de 19 anos nesta função´´ [17].
Bené Siqueira, muito constrangido pela situação que passou no momento do
episódio, com muita tristeza fez um verdadeiro desabafo, admitiu que não foi bem como
apresentador do Garantido diante d responsabilidade de substituir Faria, ´´ uma espécie de
mito do bumbá ´´. Na ocasião, responsabilizou sua má performance usando como
argumento a desorganização no Garantido´´[18].
Pelo enunciado acima, se pode ver claramente que, de certa forma, o poder
carismático de que fala Bené Siqueira existe no Boi-bumbá de Parintins, existe na pessoa
de seu apresentador, o Sr. Paulo Faria, que tem o total apoio da ´´galera´´, ou seja, um
verdadeiro carisma.
2.a.3. As relações de parentesco:
Pelas pesquisas feitas em torno do caso, pode-se constatar que são muitos os
laços de parentesco dentro do grupo estudado, tal como a velha organização oligárquica
do Estado da Paraíba, onde, segundo Lewin, os laços de parentela são muito antigos, ou
seja dos tempos do Império e do surgimento da Republica Velha, como podemos ver no
trecho que segue:
22
´´ A Paraíba; fornece um modelo. A influencia dos vínculos de sangue e
casamentos sobreviveu com particular vigor na vida política desse Estado. Acentuando-se,
nas primeiras décadas deste século, uma dependência com relação a laços de família e
parentesco que outrora havia caracterizado de modo mais manifesto a organização política
em todo o Brasil´´ [19].
O Estado da Paraíba supera a todos os outros estado da Federação em relação
aos laços de parentesco como salienta Linda Lewin em seu livro, no qual, nos baseamos
para fazer essas comparações com o grupo que estamos estudando e é claro que se pode
concluir que existem, na realidade, muitos laços de parentescos, prova disto são as
famílias: Faria, Monteverde, a Cohen e outras. O vinculo familiar é algo bem visível,
conforme podemos constatar como diz Souza:
´´Na linha de frente da ala masculina é composta das seguintes pessoas:
Zezinho Faria, Emerson Maia, Marcos Cohen, Eduardo Façanha , Amaro Melo, Aurindo
Silva, Algenor Teixeira, Ruy Faria, José Walmir de Lima, Mário Pinheiro, Moacir Pinheiro
e muitos outros. Na linha de frente feminina se destacam: Graça Faria, Aldiva Perrone, Sol
Cohen, Maria do Carmo Marinho, Maria Célia Valente, Rosana Novo, Ester Cohen, Sonia
Teixeira, Aymé Faria, Cilene Faria, Lina e muitas outras´´[20].
Hoje, as relações consangüíneas, além de fazerem parte do grupo, podem até
ser decisivas em certos momentos importantes, como na época de eleições de uma nova
diretoria. Algo que foi dito pelo ex-presidente do grupo, em uma entrevista exclusiva que
fizemos no dia 29.11.1996 ele diz: ´´ Há famílias que estão no poder há mais de vinte anos,
e se mantém com forca política á frente do Boi, no caso de alguns desses grupos de
famílias apoiarem, a uma determinada chapa na eleição, as possibilidades de vitória dessa
chapa são muito grandes´´ [21].
23
Para que se possa entender o termo parentela no contexto, vejamos a definicao
de Maria Isaura Pereira de Queiroz, no texto que segue: ´´ ....um grupo de parentesco de
sangue formado por várias famílias nucleares e algumas famílias grandes [ isto é, que
ultrapassam, o grupo pai-mae] , vivendo cada qual em sua moradia, regra geral
economicamente independentes ´´[22].
Segundo o enunciado acima citado, esta é a condição para termos um grupo de
parentesco unido por meio dos laços consangüíneos. Assim, o grupo de parentesco alcança
dimensões muito amplas, um verdadeiro emaranhado de famílias que se tornam parentes,
devido as misturas consangüíneas; esse fato pode ser observado não só no grupo como na
própria cidade de Parintins, onde é muito natural ocorrer esse fenômeno, pois se trata de
um lugar afastado dos grandes centros urbanos, e esse fenômeno fica mais evidente, por
se tratar de uma comunidade não muito grande em relação a outros centros urbanos; algo
semelhante ás oligarquias do Estado da Paraíba.
Como é natural, os laços de parentesco podem ser visto como elo na formação
das alianças, com base nos laços afetivos e na semelhança de interesses econômico e
políticos, mas deve ser lembrado que, em alguns casos, também podem ser de rivalidade e
competição em competição em comunidades pequenas e médias tem contribuído na
formação de uma elite política local e regional.
Essa prática política vem do Império, no tempo em que a política brasileira era
dominada pelos coronéis, que se aproveitavam dos laços de parentela para aumentar seus
poderes políticos, locais e até a nível nacional. Eram comuns os casamentos entre as
grandes famílias, buscando um maior fortalecimento político e econômico; muitos chefes
políticos de uma região procuravam casamentos para seus parentes em outras regiões
geográficas, visando a ampliação de seus domínios políticos e econômicos.
24
Como observa Maria Isaura Pereira de Queiro, além de instrumento de defesa
de posições sociais para os grupos existentes, o casamento se constituía um importante
meio de integrar e de ascensão social para os ambiciosos e forasteiros que almejavam uma
posição de destaque. Sendo assim, a diz a autora:
´´ A distancia geográfica não era empecilho para os casamentos
interparentelas, muito pelo contrário: buscar mulher ou marido em regiões afastadas erqa
estabelecer nelas uma ponta de lança, uma possibilidade de ingerência nos negócios ou na
política de outros locais´´[23].
Como na época dos coronéis que se uniam para obter o pode político, não é de
se estranhar que o mesmo ocorra hoje na política brasileira, de um modo geral; na
Agremiação Folclórica Boi-bumbá Garantido, os grupos consangüíneos tem se unido em
certos momentos e também se desunido conforme a ocasião. Bem, mas tudo isso é muito
natural em se tratando de obtenção de poder político.
2.a.4- As relações entre a condição social e a posição ocupada no interior da
Agremiação:
Em nossa pesquisa, nos preocupamos em detectar até que ponto a condição
social tem determinado o grau de poder de um líder dentro do Grupo Folclórico Boi-bumbá
Garantido, e se essa posição social tem também determinado a posição de um líder do
grupo.
Ao esclarecer que não utiliza o conceito de ´´grande proprietário´´ para
definir o coronel, Maria Isaura Pereira de Queiros faz o seguinte:
´´Não raro, no Brasil, o poder decorrente de outros bens de fortuna superou o poder trazido exclusivamente pela posse da terra. Em primeiro lugar, sendo esta muito abundante, só se tornou fonte de poder para quem, possuía capitais para explorá-la, ou para quem conseguia reunir gente que, em troca de uma parcela, se obrigasse a servir e a defender o proprietário. Regra geral, os primeiros, os que possuíam capitais, sempre se
25
colocavam na escala socioeconômica acima dos segundo, isso é, que se apoiavam em seus agregados unicamente e os tinham ao mesmo tempo como fonte de lucro e como fonte de poder. Por isso as ricas regiões de monoculturas de exportação – tipo de agricultura que exigia muito capital par se organizar e produzir- constituíram também no país, e desde a época colonial, as sedes efetivas do poder político´´[24].
O enunciado acima refere-se ao tempo dos coronéis da Velha Republica, que
tinham ao seu controle grandes fortunas, não só em terras mas também em bens, muitos
agregados submissos ao coronel; para aquela época condição que significava poder político,
e econômico, fazendo com que o coronel fosse respeitado e tivesse grande poder político
na região. A dependência dos grandes coronéis para os de nível imediatamente inferior e
destes para com os de nível seguinte até a sitiante, permitia que o voto se tornasse
realmente em ´´bem de troca´´, levando ´´os grandes e médios coronéis a todo um
comportamento de paternalismo diplomático e de etiquetas refinada, com relação a seu
imediatos, comportamentos ainda hoje longe de terem sido totalmente identificados,
estudados e interpretados´´ [25.
Na realidade, esse tipo de coronel detinha uma certa quantidade de votos que
lhe rendiam prestigio e poder diante dos outros coronéis inferiores e superiores. Eles eram
como uma espécie de cabo eleitoral; essa pratica existiu entre os pequenos coronéis, os
médios coronéis, os grandes coronéis que eram, na sua maioria, chefes dispondo de uma
clientela subordinada, a qual podia trazer-lhes a vitória ou a derrota.
Os pequenos e médios coronéis, devido ao número de votos que detinham em
seus domínios podiam , com isso, usufruir certos privilégios que recebiam dos coronéis
superiores por serviços prestado, ou seja, era uma espécie de troca. Como lembra Maria
Isaura Pereira de Queiros: ´´ pode-se dize, pois, que o mando político do coronel era
26
resultado de sua posição econômica, em primeiro lugar, quedava ao individuo a
possibilidade de exercício do poder colocando-o em situação de fazer favores´´ [26].
Em seu estudo sobre as relações entre participação política e o ´´coronelismo
´´ no interior do Brasil, Victor Nunes Leal analisa a relação de compromisso entre o poder
privado e o poder público, da qual resultou o mandonismo, o filhotismo, o falseamento do
voto, a desorganização dos serviços públicos locais, chamando a atenção para o seguinte:
´´ Qualquer que seja, entretanto, o chefe municipal, o elemento primário desse
tipo de aliança ed o ´´coronel´´ , que comanda discricionariamente um lote considerável de
votos de cabresto. A forca eleitoral empresta-lhe prestígios políticos, natural coroamento
de sua privilegiada situação econômica e social de dono de terras. Dentro da esfera própria
de influencia, o ´´ coronel ´´ como que resume em sua pessoa, sem substituí-las,
importantes instituições sociais. Exerce, por exemplo, uma ampla jurisdição sobre seus
dependentes, compondo rixas e desavenças e proferindo ás vezes, verdadeiros
arbitramentos, que os interessados respeitam. Também se enfeixaram em suas mãos, com
os sem caráter oficial, extensa funções políticas, de que freqüentemente se desincumbem
com a sua ausência social, mas que eventualmente pode tornar efetivas com o auxilio de
empregados, agregados ou capangas´´[27].
Na verdade, a política brasileira atual mudou quase daquela praticada na
época da Velha Republica, porque se observa que nas pequenas cidades interioranas ainda
persistem no voto de cabresto, ou seja, as pessoas votam em quem os cabos eleitorais lhes
ordenam. Ou mesmo nos chefes políticos locais. O fenômeno do ´´coronelismo´´ não está
morto mesmo em nossos dias, apesar de ter sofrido um certo enfraquecimento; hoje, os
coronéis se apresentam na forma de grandes empresários, advogados, políticos e muitas
outras formas, mas com a mesma intenção: a obtenção do poder.
27
O que conta em uma eleição de fato, é sem dúvida, a posição sócio-econômica
do individuo, no interior da sociedade em que o mesmo convive. Isso que acabamos de
dizer pode ser detectado em uma entrevista que fizemos com o Sr. Ronildo Monteverde,
ex-presidente do Boi-bumbá Garantido. O mesmo, apesar de se da família do fundador do
Boi-bumbá Garantido, sofreu graves represálias quando de sua administração. Segundo
ele, sentiu na pele as perseguições por não pertencer á elite econômica local.
Vejamos o que ele nos respondeu, quando lhe perguntamos se a situação
econômica ou social, poderiam influienciar ou determinar o poder de mando dentro do
grupo: ´´ Sim, o presidente, quando tem dinheiro, pode comprar a diretoria e, os sócios e
sem dúvida, a posição social pode determinar o grau de poder do individuo dentro da
Associação ´´[28].
Segundo o Sr. Ronildo, por ele ser oriundo de uma classe social menos
favorecida e ser da família Monteverde, sofreu durante sua gestão á frente a referida
Associação do boi, enfrento tremendas perseguições da elite dominante , chegando a ser
demitido do cargo de presidente, acusado de ter praticado atos irregulares, mas ele
recorreu á justiça e conseguiu sua reintegração no cargo de presidente do grupo, podendo
desta forma cumprir seu mandato.
Perguntamos ainda ao Sr. Ronildo como vez sua defesa diante de tais
acusações e o mesmo respondeu: ´´ Procuramos nos defender diante da justiça, pelos
jornais, no rádio e na televisão, para desbancar o fato ocorrido´´[29].
Na oportunidade, lhe perguntamos se pretendia retornar á direção do referido
grupo folclórico e quais seriam suas estratégias, ele afirmou que não pretendia voltar á
direção, mas que seu irmão seria candidato no próximo pleito eleitoral, concorrendo ao
cargo de presidente do Boi-bumbá Garantido; o Sr. Ronildo disse que iria apoiar na
28
campanha usando , como estratégia, reuniões com lideranças da Associação , conversas no
corpo a corpo com os sócios, debates no rádio, jornais e televisão.
No dia 25 de janeiro de 1997, teve lugar o referido pleito eleitoral, no qual
concorreram dois candidatos, um da família Monteverde, Sr. Linaldo Monteverde, e o
outro, Sr. José Walmir, atual presidente da agremiação, vereador reeleito por três mandatos
consecutivos no Município de Parintins, pessoa integrada á elite local, pois sua família
possui negócios na cidade.
Bem, o pleito ocorreu de forma conturbada, com acusações d ambas as partes.
O candidato da família Monteverde fez graves denúncias contra seu opositor na televisão,
dizendo que o mesmo estava comprando votos dos sócios para conseguir sua reeleição.
Esse é um fato lamentável, mas sem dúvida, essa prática não é recente, como
se pode observar no texto escrito por Domingos Velasco. ´´ e, é o fazendeiro, local o ´´
coronel´´ , quem assiste o jeca nas suas dificuldades de vida, e quem lhe dá um trecho de
terra para o cultivo, é quem lhe fornece remédios, e quem o protege das arbitrariedades dos
governos, é o seu intermediário, junto as autoridades´´[30].
O sr. Walmir, como um velho coronel,,comprou votos para a sua reeleição,
segundo seus opositores, que lhe denunciaram através da televisão, na época da campanha
para o cargo de presidente do Boi-bumbá Garantido.
O resultado saiu logo, e o Sr. Walmir foi o grande vitorioso, sendo reeleito
para o cargo de presidente da agremiação, por mais um mandato; todavia, o resultado não
foi aceito pela família Monteverde, que assim que soube demonstrou publicamente sua
insatisfação diante do resultado anunciado.
2.b. N a disputa pelo poder:
2.b.1- Os interesses internos:
29
O que há no interior de qualquer grupo organizacional é sem duvida, um luta
pelo poder, que pode se manifestar até mesmo de forma invisível , mas que na realidade
existe, queiramos ou não. Obviamente, esse jogo de interesses políticos, podemos observar
no interior do grupo Folclórico Boi-bumbá Garantido; isso ficou evidente na última eleição
para presidente da Agremiação, quando se travou uma verdadeira batalha com o objetivo de
chegara ao poder.
Quais seriam os motivos para tantas lutas? Bem, não devemos nos esquecer
que o Festival Folclórico de Parintins se tornou conhecido a nível nacional e internacional,
e é claro que alguém que consiga chegar ao poderem um grupo tão renomado como é o
Boi-bumbá Garantido, certamente conquistará grande prestigio não só dentro do grupo mas
fora do mesmo, principalmente poderes político, que lhe poderão render muitos votos em
um pleito eleitoral a nível Municipal ou até mesmo Estadual e Federal.
O Boi-bumbá de hoje é muito diferente do tempo de sua origem; naquela
época, as pessoas faziam ass coisa por amor ás cores do Boi do coração, faziam tudo pelo
Boi sem esperar nada em troca. Hoje a realidade é outra, há muito dinheiro envolvido no
evento, isso sem contar o prestigio político que pode render uma eleição para o cargo de
presidente do grupo. A estrutura do Boi hoje é outra e, obviamente, o jogo de interesses
são outros, como salientamos anteriormente.
2.b.2- Os interesses externos:
Dentre os interesses externos, podemos começar citando a classe dos
empresários de um modo geral, que contam com o evento para faturarem alto durante os
dias de festival no Município.
Há pessoas de todas as partes do Estado do Amazonas e até do exterior, que
vem á Parintins durante o festival para venderem sues produtos; são diversos os produtos
30
comercializados, tais como: artesanatos, bebidas, alimentos, calcados, chapéus típicos do
festival, bois de madeira e uma infinidade e souvenires são exibidos na ocasião. Quem
lucra com isso?
A Prefeitura Municipal lucra muito com o evento, cobrando impostos por
pequenos pedaços de terra que são alugados para esses comerciantes explorarem a venda
de seus produtos legalmente no festival. Na verdade, a Prefeitura Municipal consegue uma
boa arrecadação com esses alugueis de terrenos e esse dinheiro, posteriormente, serve para
a realização de obras e benefícios para a comunidade no Município.
O governo do Estado do Amazonas também tem muito interesse no festival de
Parintins e tem contribuído nos últimos anos com recursos financeiros aos Bois-bumbás do
Município. E é obvio que esse interesse do governo não é á toa, pois o mesmo tem visto a
propagação de evento crescer ano após ano , e entendemos que esse apoio dado aos grupos
folclóricos lhe põem render prestigio e futuros apoios políticos do Município em um pleito
eleitoral, portanto entendemos que tudo é um jogo de interesses políticos que vem atrás de
um apoio.
Há um outro motivo pelo interesse do Governador, em ajudar os Bois-bumbás
de Parintins, é que o Município de Parintins é atualmente um dos maiores colégios
eleitorais do Estado e seus aliados políticos locais possuem uma forte liderança, e é claro
que essa contribuição que o Governador presta ao grupos folclórico podem lhe render
muitos votos em um pleito eleitoral.
A mídia é outra que tem grande interesse no festival, porque ao divulgar o
evento pode alcançar maior audiência, que na verdade é o que lhes interessa.
2.c- A manifestação das relações de poder:
2.c.1- Entre o discurso ideológico e a realidade.
31
O que se observa é um grande contraste entre o discurso e a realidade; na luta
pelo poder, o discurso pode até ser muito bonito, sem aparentes pretensões, mas por trás de
cada ato praticado, o que se observa são apenas falácias.
Na entrevista concedida a nós pelo dirigente do Boi-bumbá Garantido,
pudemos constatar claramente em suas falas esse contraste entre o discurso e a realidade; o
atual presidente da Agremiação chegou a declarar que a sua função como dirigente , não
lhe dava poderes, nem prestigio na comunidade parintinense, algo sem dúvida muito
contestável. Isso na realidade é uma incoerência, pois o mesmo, como já citamos
anteriormente, se reelegeu varias vezes como presidente do Boi e também como vereador
no Município. Acreditamos que se o mesmo não ocupasse cargo de destaque no Boi, talvez
não fosse por tantas vezes reeleito como vereador, e seu prestigio seria menor, pois como
já sabemos pelo estudo em questão, quem ocupa cargos de destaque no Boi tem grandes
possibilidade de crescer politicamente no Município, porque o Boi é algo extraordinário, e
tem grandes torcidas não só no Município mas também fora do mesmo.
Portanto a realidade é bem diferente do discurso ideológico, pois quem hoje
está em posição de mando no grupo Folclórico, é na verdade um grupo de pessoas que
pertencem á elite dominante do Município. Se não fosse assim, na eleição para presidente
do Boi-bumbá Garantido, o grupo liderado pela família do fundador do Boi-bumbá
Garantido, ou seja os Monteverde, teriam chegado á presidência do Boi, mas o que se viu
foi uma verdadeira guerra pelo poder, ou seja, uma luta política entre a elite dominante e
os Monteverde, considerados pessoas simples e incapazes de dirigir o Boi, isso segundo a
elite local.
O que está por trás do Boi é sem dúvida um poder do qual muitos nem se dão
conta. O presidente de um grupo folclórico como é hoje o Garantido possui uma forte
32
influencia em todos os níveis sociais, não só no Município, isso porque o Boi-bumbá se
tornou conhecido mundialmente. Isso que acabamos de dizer se concretizou na última
viagem em que o grupo fez, convidado pela Coca Cola para fazerem uma apresentação em
New York; quem na verdade teve o poder de escolher os que deveriam ir na viagem,
foram justamente o presidente, o tesoureiro, o chefe administrativo e outros lideres que
estão junto a presidência.
Mas que poder é esse que todos buscam e lutam para obtê-lo? Lembrando a
clássica definição de Max Weber sobre o tema, diz que o poder é marcado pela situação de
desigualdade e, sendo mercadoria rara, só podemos possuí-lo ´´ as custas de outra pessoa´´.
Em suma, quem tem esse poder dispõe de uma autoridade e, sem dúvida, prestigio diante
da comunidade em está inserido´´ [31].
33
CONCLUSAO
Ao analisarmos as relações de poder existentes na Agremiação Boi-bumbá
Garantido, podemos encontrar uma verdadeira luta pelo poder, que tem se dado ao longo
dos anos. Portanto, podemos concluir que essas lutas são oriundas dos mais diversos
motivos e interesses, como se pode vê.
Um dos motivos constatados é, claro, a luta pelo poder demando dentro do
grupo; de um lado, está a família Monteverde fundadores do Boi, oriundas de uma classe de
pessoas simples, que tem as suas vidas ligadas ao Boi, por estarem diretamente vinculadas
ao seu ancestral e fundador do boi, o saudoso Lindolfo Monteverde.
A família Monteverde vem por muitos anos procurando um espaço junto a
administração do Boi-bumbá Garantido, mas essa condição tem-lhes sido negada por serem
considerados incapazes de liderarem o grupo. Na realidade, é a elite dominante que assim
os considera.
Apesar de tudo isso, Ronildo Monteverde, um integrante da família, veio a se
tornar presidente do Boi, mas devido a pressões das elites locais que compõem o quadro de
sócios eletivos, o mesmo mal para cumprir seu mandato enfrentou sérios problemas.
Neste último pleito eleitoral para a eleição da diretoria, outro membro da família
Monteverde veio a concorrer para o cargo de presidente, mas foi derrotado pelo, José
Walmir que foi reeleito para o cargo de presidente do Boi.
Como já falamos anteriormente, José Walmir pertence a elite dominante no
Município de Parintins, o mesmo é vereador com vários mandatos consecutivos á frente do
Legislativo, mantendo desta forma um prestigio muito grande na sociedade local e,
34
obviamente, em confronto direto como os Monteverde leva vantagens, isso não se pode
negar, apesar do discurso contrario do próprio Walmir.
Outro motivo dos entraves políticos que se pode detectar no grupo, são os
interesses internos e externos que, de certa forma, tem contribuído para ocorrências dessas
lutas políticas, isso porque há muito dinheiro envolvido no evento folclórico e é, lógico
que todos queiram uma fatia deste bolo.
De outro lado, o poder executivo municipal e estadual, que brigam por mais
autonomia e até querem mandar nos grupos folclóricos do Município, isso porque os
benefícios políticos que lhes podem advir são muitos, e isso conta muito em uma eleição,
tanto a nível de município como a estadual . Com certeza quem consegue ter domínio de
liderança política terá mais poderes em se eleger como também eleger seus aliados políticos
a cargos de importância, nas duas esferas que salientamos, municipal e estadual, e porque
não dizemos também a nível nacional.
Como no tempo dos coronéis da Velha Republica ; a coisa se repete em nossos
dias, o pequeno coronel mantinha seus privilégios para com os coronéis maiores através do
numero de votos que comandavam em uma região. Essa forca eleitora, é lógico, lhe traz
prestigio político e um natural coroamento de sua privilegiada situação econômica e social.
Tudo isso vem-nos comprovar que, na verdade, o coronelismo foi uma força
política muito grande não só no inicio de nossa historia, mas é algo presente na maioria dos
Municípios brasileiros. Pela analise que fizemos em nossa pesquisa, esse fato se
manifestou na última campanha para presidente da Associação Folclórica Boi-bumbá
Garantido. Concluímos, portanto, que muitas destas lutas políticas que acontecem no grupo
em estudo, são oriundas do desejo de obtenção do poder por parte de seus integrantes.
35
Acredito que essa lutas irão continuar, porque a luta pelo poder é algo que
empolga a qualquer que se envolva na mesma.
OBS. ESTE TRABALHO FOI REVISADO EM 02.09.2008.
36
BIBLIOGRAFIA
......................................................
(01) Jornal A ilha; 28 de junho de 1994. Parintins. Am. p.06.
(02) Idem.
(03) Jornal do Norte; 28 de junho de 1996. Parintins. Am. p.05.
(04) Jornal A Ilha; 28 de junho de 1994. Parintins. Am. p.05.
(05) Idem.
(06) SIQUEIRA, Antonio Pacifico. O Magnífico Folclore de Parintins. Parintins:
Editora Parintins, s/d, p.34.
(07) Jornal do Norte; 28 de junho de 1996. Parintins. Am. p.03.
(08) ESTATUTO da Associação Folclórica Boi-bumbá Garantido. ( Aprovado pela
Assembléia realizada no dia 18.06.1996)Parintins. Am. p.09.
(09) CAMARGO, Lúcia. Tudo pelo Boi. Revista Veja; 13 de junho de 1994. p.58.
(10) Jornal do Norte; 28 de junho de 1996. p.03.
(11) DA MATA, Roberto. Carnavais da Igualdade e da Hierarquia. In: Carnavais,
Malandros e Heróis. Rio de Janeiro: Editora Guanabara. 1990.p.139.
(12) ESTATUTO da Associação Folclórica Boi-bumbá Garantido. (Aprovado pela
Assembléia realizada no dia 18.06.1996) Parintins. Am. p.05.
(13) WALMIR, José. (Presidente do Boi-bumbá Garantido). Entrevista realizada no dia
12.04.1996. Parintins. Am.
(14) SANTOS, José dos. O que é Cultura? 5º Edição. São Paulo: Editora Brasiliense,
1986. p.80.
37
(15) MONTEVERDE, Ronildo Pedro Batista. (Ex-presidente do Boi-bumbá Garantido)
Entrevista realizada no dia 29.11.1996. Parintins. Am.
(16) WEBER, Max. Ciência e Politica-Duas Vocações. São Paulo: Cultrix, 1993, p.57.
(17) GOMES, Eduardo. Jornal A Ilha. 29 de junho de 1995. Parintins. Am. p.08.
(18) Idem.
(19) LEWIN, Linda. Política e Parentela na Paraíba. São Paulo: E ditora Record, 1990,
p.09.
(20) SOUZA, João Jorge. Parintins: A Ilha do Folclore. Manaus: Editora Grafitec. 1987.
p.128.
(21) MONTEVERDE, Ronildo Pedro Batista. (Ex-presidente do Boi-bumbá
Garantido). Entrevista realizada no dia 29.11.1996. Parintins. Am.
(22) QUEIROZ, Maria Isaura de. O Coronelismo Numa Interpretação Sociológica. In:
Historia Geral da Civilização Brasileira. Tomo III. 1º vol. (Brasil
Republicano).p.165.
(23) Op.cit.173.
(24) Op.cit.172.
(25) Op.cit.163.
(26) Op.cit.p.178.
(27) LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, Enxada e Voto. 6º Edição. São Paulo: Editora
Alfa-Omega. 1993.p.23.
(28) MONTEVERDE, Ronildo Pedro Batista. (Ex-presidente do Boi-bumbá Garantido).
Entrevista realizada no dia 29.11.1996. Parintins. Am.
(29) Idem.
(30) Apud LEAL, Victor Nunes. Op.cit., p.124.
38
CONSULTAS COMPLEMENTARES
_ AMANONIA ILUSTRADA. Edição Comemorativa da Inauguração do Centro
Educativo e Esportivo. Manaus, A& M Editores. Junho de 1988.
_AMAZONIA EM TEMPO. Manaus. 1988/1989.
_ASSAYAG, Simão. A festa do Boi-bumbá. 08.03.1993. Parintins. Am.
_SAES, Décio. A formação do Estado Burguês no Brasil ( 1888-1891). 2º Edição. Rio
de Janeiro: Paz e Terra. 1989.
40
ANEXO
ANEXO 01.
História do Boi Garantido
_____A história do Garantido começa em 24 de junho de 1913, quando o filho de
pescador Lindolfo Monteverde resolveu por em prática uma das histórias que
ouvia de seu avô, ex-escravo de origem maranhense que veio para a Ilha de
Parintins em busca de um espaço para a sua família viver e produzir.
_____Dentre as inúmeras histórias, Lindolfo ouviu a história de um boi que
dançava visitando famílias e alegrando as pessoas. Havia muitas lendas em torno
deste boi contado pelo avô. A que mais chamava a atenção do neto era sobre o
roubo da língua do boi e os versos cantados durante o ritual do boi que envolvia
Pai Francisco, Mãe Catirina, o Amo do Boi, o Pajé e outras figuras. Antes de
concretizar a idéia para lembrar as histórias do avô, foram realizados vários
ensaios, até chegar o momento da primeira apresentação que começou como
uma simples brincadeira junina. Contam os mais antigos que a apresentação foi
antecedida de uma ladainha e depois houve distribuição de Aluá, bolo de
macaxeira, tacacá e, no final, muito forró.
_____Mais tarde, ao servir o exército, Lindolfo Monteverde adoeceu e a gravidade
de sua doença o levou a fazer promessa a São João Batista, prometendo que, se
ficasse bom e enquanto tivesse vida, seu bumba jamais deixaria de sair nas ruas.
Foi então que o Garantido passou a ser chamado de “Boi da Promessa”.
_____A partir de então, todos os anos os torcedores do Boi se reúnem na noite de
24 de junho para rezar a ladainha e festejar São João Batista e em seguida saem
pelas ruas da cidade, dançando em frente às casas que tiverem fogueiras acesas.
Segundo os mais antigos, esta saída do Garantido pelas ruas da cidade era
normal durante a época das festas juninas.
41
_____Contam que Lindolfo Monteverde era um cantador e repentista que causava
admiração em quem o ouvia cantar, por causa do timbre de voz que dominava os
terreiros e era ouvido à distância sem utilizar nenhum tipo de aparelho sonoro
mecânico. Lindolfo também incomodava os torcedores do boi contrário com sua
firmeza de voz e a inteligência dos desafios que criava. Até hoje, é considerado o
melhor compositor de toadas que o boi-bumbá de Parintins registrou.
_____Desde a sua criação, o Garantido se apresenta com um coração na testa e
as cores Vermelha e branca foram adotadas pela torcida. A cor Vermelha, do
coração e a branca, do boi.
_____O nome Garantido surgiu do próprio criador, Lindolfo Monteverde, que em
suas toadas sempre lembrava aos bois contrários que seu bumbá sempre saía
inteiro dos confrontos de ruas que, na época, eram rotineiros. Dizia Lindolfo que
nas “brigas” com os contrários a cabeça de seu boi nunca quebrava ou ficava
avariada, “isso era garantido”.
_____A brincadeira foi evoluindo e em 1965 aconteceu o primeiro Festival Folclórico de Parintins, mas não houve participação dos bumbás. A primeira disputa veio no segundo Festival quando o Garantido enfrentou o Caprichoso (o contrário). O primeiro empate da disputa aconteceu no ano de 2000.
_____Em sua história, lhe foram atribuídos vários slogans carinhosos, como: “Boi da Promessa”, “Boi do Coração”, “Brinquedo de São João”,
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“Boi do Povão” e outros. O mais popular é “Brinquedo de São João”, de autoria de Lindolfo Monteverde para homenagear o santo a quem se apegou para curar a doença que o ameaçava quando servia o exército. Os dirigentes preservam até os dias atuais este slogan como forma de reconhecimento a Lindolfo, o poeta maior da Nação Vermelha e Branca._____O Garantido surgiu na antiga estrada Terra Santa, hoje Av. Lindolfo Monteverde, na tradicional Baixa do São José. Atualmente, um complexo arquitetônico da antiga Fabriljuta, localizado no Km 1 da Rodovia Odovaldo Novo, adquirido pela agremiação, abriga toda a estrutura de galpões, a diretoria e demais coordenadorias que fazem parte da administração do boi que, hoje, é a brincadeira mais séria dos habitantes de Parintins, a Ilha do Boi-bumbá.
http://www.canalgarantido.com/curiosidades.php
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ANEXO 02
FESTIVAL FOLCLORICO DE PARINTINS.
loreFestival Folclórico de Parintins
O Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas tem sua história representada pelos grupos de boi-bumbá ou bumba meu boi. É possível identificar nas apresentações folclóricas componentes de várias culturas, como a ibérica e a árabe. No entanto, a cultura indígena, é que dá as mais fortes características do
folguedo, considerado a maior festa popular amazônica.
O espetáculo grandioso atrai milhares de turistas do Brasil e do mundo, não só pela riqueza cênica, como pela criatividade dos artistas que a cada ano, inovam suas criações, levando para a arena do bumbódromo a riqueza do folclore da região.
O boi é representado, durante todo o mês de junho, em todos os estados amazônicos como parte das festejos juninos. São Festas mais animadas no Norte do País, do que o próprio Carnaval.
Parintins: Em Parintins, no entanto, a festa ganhou maior projeção, com a realização do Festival Folclórico de Parintins. A beleza exuberante e exótica da região já justifica a visita ao festival folclórico de Parintins.
Com mais de cem mil habitantes, o município de Parintins fica a 420 Km de Manaus, na ilha fluvial de Tupinambara, e está localizado no Baixo Amazonas, quase na fronteira com o estado do Pará.
Como chegar: Pode-se chegar à cidade por vias aérea e fluvial. Os vôos saem de Manaus ou de Santarém, no Estado do Pará, e têm duração de
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aproximadamente uma hora.
De barco, a viagem até Parintins dura, em média, de 12 a 24 horas, dependendo do tipo de embarcação e do percurso escolhido.
O trecho Manaus-Parintins, que desce o rio, é normalmente feito em 12 horas. O retorno leva muito mais tempo, pois navega-se contra as águas do rio.
A maioria desses barcos funciona como hotéis, pois eles permanecem ancorados em Parintins
Primeira etapa da festa: Durante os primeiros dez dias de festival, apresentam-se vários grupos folclóricos, com suas representações de lendas ao som de toadas e cantos indígenas, teatralizações de rituais, fantasias, figuras engraçadas e curiosas do imaginário da região.
Apoteose da festa: A apoteose acontece no último final de semana do mês de junho, quando se apresentam as grandes atrações da Festa, os bois Garantido e Caprichoso.
Há décadas eles, e só eles, disputam a condição de melhor boi de Parintins. E quem escolhe é o público, que se divide entre o vermelho (cor do Garantido) e o azul (símbolo do Caprichoso). Ganha quem mais fizer vibrar a platéia. Razão pelo qual os grupos não poupam esforços nem economizam animação, levando para a arena do bumbódromo luxuosas fantasias, toadas e alegorias repletas de criatividade.
Garantido e Caprichoso: Os bois-bumbás de Parintins, Caprichoso e Garantido, existem desde 1913, mas o festival foi oficializado em 1966, transformando-se no maior espetáculo folclórico do Brasil e a segunda maior festa popular do mundo.
Bumbódromo: O Bumbódromo de Parintins, ou Centro de Convenções Amazonino Mendes, foi inaugurado em 24 de junho e aberto para o 22º Festival Folclórico, em 1988. O Bumbódromo tem 35 mil lugares, entre camarotes, arquibancadas especiais e arquibancadas gratuitas. Essas representam 95% dos lugares e são divididas em duas partes rigorosamente iguais para as torcidas do Caprichoso, representada pela cor azul, e a do Garantido, cor vermelha. Cada um dos lados da arquibancada é pintado com a cor de um Boi.
Os quatro mil brincantes ( foliões ) e cada um dos grupos cantam e contam na arena do Bumbódromo a lenda do Boi-Bumbá. As fantasias e as alegorias, que podem chegar a 30 metros de altura, revelam a criatividade do povo local. Penas, cores, luzes e brilhos fazem um espetáculo apoteótico nos três dias de apresentações.
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Os dois Bois dançam e cantam por um período de três horas, com ordem de entrada na arena alternada em cada dia.
Disputa pacífica dos bois: O último final de semana de junho é dedicado exclusivamente aos espetáculos dos dois bumbás rivais, Caprichoso (azul) e Garantido (vermelho), que encenam um verdadeiro ritual amazônico com Pai Francisco, Mãe Catirina, Tuxauas, Cunhã Poranga, Pajé e suas inúmeras tribos, lendas e rituais indígenas. Nos três dias do Festival, a arena do Bumbódromo se divide meio a meio em azul e vermelho. As torcidas jamais se misturam e, durante a apresentação de um grupo, a torcida do outro não pode se manifestar.
Garantido: O Boi Bumbá Garantido foi fundado em 1913, por Lindolfo Monteverde, na baixa do São José, onde fica o seu curral. Tornou-se uma associação em maio de 1982.
Caprichoso: O Boi Bumbá Caprichoso também foi fundado em 1913, por Emídio Rodrigues Vieira. O Caprichoso é conhecido como o boi da parte de baixo da cidade, onde está o seu curral.
Importante saber: Em Parintins, um torcedor jamais fala o nome do outro Boi, e usa apenas a palavra "contrário" quando quer se referir ao opositor. São proibidas vaias, palmas, gritos ou qualquer outra demonstração de expressão quando o "contrário" se apresenta. Cada torcida contrária permanece em silêncio, pois qualquer manifestação pode originar na perda de pontos.
Música: A música, que acompanha durante todo o tempo é a toada, acompanhada por um grupo de mais 400 ritmistas.O canto das toadas vem da pequena ilha de Parintins. Os dois Bois dançam e cantam por um período de três horas, com ordem de entrada na arena alternada em cada dia. As letras das canções resgatam o passado de mitos e lendas da floresta amazônica. Muitas das toadas incluem também sons da floresta e canto de pássaros.
Ritual: O ritual dos Bumbás mostra a lenda de Pai Francisco e Mãe Catirina que conseguem, com a ajuda do Pajé, fazer renascer o boi do patrão. Conta a lenda que Mãe Catirina, grávida, deseja comer a língua do boi mais bonito da fazenda. Para satisfazer o desejo da mulher, Pai Francisco manda matar o boi de estimação do patrão. Pai Francisco é descoberto, tenta fugir mas é preso. Para salvar o boi, um padre e um médico são chamados (o pajé, na tradição indígena) e o boi ressuscita. Pai Francisco e Mãe Catirina são perdoados e há uma grande comemoração O Garantido, considerado o "boi do povão", acumula 21 vitórias contra 15 do Caprichoso, "o boi da elite".
Personagens da Festa
Apresentador: A ópera do Boi tem um apresentador oficial, que comanda todo o espetáculo. O levantador de toadas faz a trilha sonora e dá um show de
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interpretação, transmitindo empolgação à sua Galera (torcida).
Batucada do Garantido e Marujada de Guerra do Caprichoso: A bateria com suas batidas precisas e contagiantes, cadencia o ritmo da toada, de letras épicas, poéticas e sedutoras.
Amo do Boi : O Amo do Boi, com seu jeito caboclo, exalta a originalidade e a tradição do folclore, fazendo soar o berrante e tirando o verso em grande estilo. É a chamada do Boi, que vem para bailar.
Sinhazinha da Fazenda : E para saudar o Boi, vem aí a Sinhazinha da Fazenda, que chega toda brejeira, com seu vestido rendado e sua dança faceira. Pai Francisco e Mãe Catirina, juntamente com os bonecos gigantes, trazidos pela Dona Aurora, figura tradicional do Boi de Parintins, também participam. Figuras Típicas Regionais e Lendas Amazônicas encantadoras fazem aflorar os sentimentos de amor e paixão. Alegorias gigantes se movimentam. Coreografias e fantasias originais, com luz teatral e fogos, dão um brilho especial ao espetáculo.
Porta Estandarte, Rainha do Folclore e Cunhã Poranga: Porta Estandarte e Rainha do Folclore dão um banho de charme, beleza e simpatia. E na sequência, o grande mito feminino do nosso folclore: Cunhã Poranga! A moça mais bela da tribo dá um show de magia, irradiando toda a sua beleza nativa, de olhar selvagem, com seu lindo corpo emoldurado de penas. Aparece aqui o elemento indígena, incorporado à festa do Boi no folclore amazônico.
Tribos: Dezenas de Tribos Masculinas e Femininas, com suas cores vibrantes, compõem um cenário tribal delirante, de coreografias deslumbrantes. Os Tuxauas Luxo e Originalidade são um primor de beleza.
Ritual: No apogeu da apresentação, acontece o Ritual, uma dramatização teatral comovente, culminando sempre com a mágica e misteriosa intervenção do Pajé, o poderoso curandeiro e temido feiticeiro, que faz a dança da pajelança. É a grande apoteose da noite.
Galera: A Galera (torcida) dá um show à parte. Enquanto um Boi se apresenta, sua Galera participa com todo entusiasmo. Seu desempenho também é julgado. Do outro lado, a Galera do contrário (adversário) não se manifesta, ficando no mais absoluto silêncio, num exemplo de cordialidade, respeito e civilidade.
Jurados: Os jurados são sorteados na véspera do Festival e todos vêm de outros estados. Pela proximidade, pessoas do norte são vetadas. O requisito é ser estudioso da arte, da cultura e do folclore brasileiro. Mais de 20 itens são julgados, à luz de um regulamento simples, claro e preciso.
Vencedor: Depois da apuração, o Boi com maior pontuação nas 3 noites é proclamado campeão. E faz uma grande festa. Ao perdedor, resta o bem humorado protesto. E aturar as gozações do vencedor.
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Principais palavras em Tupi e expressões típicas do local: Aluá - bebida fermentada, feita a partir do arroz ou do milho Arraial - Comércio de comidas típicas e atividades sócio-culturais Asa-dura - avião Banzeiro - ondas de rio muitos altas Borduna - cassetete Brincante - folião do Boi-Bumbá Caqueado - estilo Carapanã - muriçoca Contrário - Denominação dada ao torcedor do outro boi, em época de festival a rivalidade é tão grande que se recusam a pronunciar o nome do boi "contrário" Cunhã - mulher Cunhã-poranga - mulher bonita Figura - Personagem do boi, exemplo: Bicho folharal, Dona Aurora, Neguinho do Campo Grande etc... Galera - Torcida Marujada de Guerra - Nome dado a batucada do Caprichoso Palminha - Dois pedaços de madeira retangular (itaúba ou sucupira) usado para marcar o ritmo das toadas Panuveiro - confusão QG - local onde são confeccionadas as fantasias Quiriri - tristeza Toada - Música Tripa - pessoa que dança vestido de boi Tacanhoba - tanguinha.
Fonte: O Magnífico Folclore de Parintins, de Tonzinho Saunier e Embratur
BOMBODROMO NA HORA DA FESTA FOLCLORICA DO BOI-BUMBA
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