UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO
PEDRO HENRIQUE MILDEMBERGER EURICH
APLICAÇÃO DA FERRAMENTA SPM PARA ANÁLISE ERGONÔMICA DO
TRABALHO DOS COLETORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE
GUARAPUAVA - PR
MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO
PONTA GROSSA
2013
PEDRO HENRIQUE MILDEMBERGER EURICH
APLICAÇÃO DA FERRAMENTA SPM PARA ANÁLISE ERGONÔMICA DO
TRABALHO DOS COLETORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE
GUARAPUAVA - PR
Trabalho de Monografia apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Engenheiro de Segurança do Trabalho, Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos de
Francisco
PONTA GROSSA
2013
RESUMO
EURICH, Pedro Henrique Mildemberger. Aplicação da ferramenta SPM para
avaliação ergonômica do trabalho dos coletores de resíduos sólidos do
município de Guarapuava - PR. 2013. Número total de folhas. Monografia
(Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho - Universidade
Tecnológica Federal do Paraná. Ponta Grossa, 2013.
A presente monografia buscou aplicar a ferramenta SPM – Situação
Problemas e Melhoria, para se realizar uma análise ergonômica do trabalho dos
coletores de resíduos sólidos urbanos do município de Guarapuava – PR. Apesar de
ser considerada uma atividade hostil e, na maioria das vezes, ergonomicamente
inadequada, não existem registros de estudos sobre o tema na região. Para se
proceder a análise ergonômica do trabalho, após pesquisa e embasamento teórico,
aplicou-se a metodologia de análise SPM – Situação, Problemas e Melhorias, a qual
consiste em comparar a atividade prescrita e o trabalho realizado do dia a dia,
através de observações, entrevistas, registros fotográficos e vídeos. A coleta de
dados ocorreu nos meses de outubro e novembro de 2013. A partir destas análises,
observou-se que os trabalhadores realizam levantamentos de cargas excessivas,
percorrem grandes distâncias a pé, não possuem treinamentos, entre outros.
Finalmente, foram propostas recomendações para melhorar as condições
ocupacionais dos trabalhadores, com o objetivo de se adequar à legislação
trabalhista vigente.
Palavras-chave: Ergonomia. Risco Ocupacional. Limpeza Pública. Coleta de
Resíduos. Análise do Trabalho.
ABSTRACT
EURICH, Pedro Henrique Mildemberger. Application of SPM tool for ergonomic
evaluation of work of the solid waste collectors Guarapuava - PR. 2013. Número
total de folhas. Monografia (Especialização em Engenharia de Segurança do
Trabalho - Federal Technology University - Parana. Ponta Grossa, 2013.
This monograph investigates the working conditions with emphasis on
ergonomics of workers collecting solid waste in Guarapuava, Paraná. Although
considered hostile activity and, most often, ergonomically inadequate, there are no
records of studies on the topic in the region. To conduct ergonomic analysis after
research and theoretical, applied to analysis methodology SPM - Situation, Problems
and Improvements, which consists in comparing the activity prescribed and work day
to day, through observations, interviews, photographic records and videos. Data
collection occurred during the months of October and November 2013. From these
analyzes, it was observed that workers perform surveys of excessive loads, travel
great distances on foot, have no training, among others. Finally, recommendations
were proposed to improve the occupational workers, in order to fit the current labor
laws.
Keywords: Ergonomics. Occupational risks. Public Cleaning. Waste collecting. Job
Analysis.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas que me ajudaram na realização deste trabalho,
principalmente aos meus pais pelo apoio e suporte, à minha namorada Astrid pela
compreensão, ajuda e incentivo e ao meu professor orientador Antonio Carlos de
Francisco, por toda a dedicação e atenção despendida.
Além disso, agradeço também aos funcionários da Companhia de Obras de
Serviços de Guarapuava – SURG, pela ajuda na obtenção dos dados e aos meus
colegas de pós-graduação, pela colaboração durante todo o curso e pelo espírito
fraterno, por fim, meu muito obrigado a todas as pessoas que indiretamente
tornaram este trabalho possível.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01 – Método de Apreciação Ergonômica SPM – Situação, Problema e
Melhoria (Vidal, 2007) 25
Figura 02 – Fluxograma do trabalho prescrito de coleta de resíduos sólidos 37
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 10
1.1. OBJETIVOS 11
1.1.1 Objetivo principal 11
1.1.2. Objetivos específicos 11
1.2. JUSTIFICATIVAS 11
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 13
2.1. RESÍDUOS SÓLIDOS 13
2.2. CONSUMISMO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS 14
2.3. SITUAÇÃO DOS TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS 16
2.4. ERGONOMIA 18
2.4.1. Definições e objetivos 18
2.4.2. História da Ergonomia 19
2.5. ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO 21
2.5.1. Origem e definições 21
2.5.2. Trabalho prescrito e trabalho real 23
2.6. ERGONOMIA APLICADA AOS COLETORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS 24
2.7. FERRAMENTA SPM 24
2.8. LEGISLAÇÃO E NORMAS 26
3. MATERIAL E MÉTODOS 32
3.1. Tipo de estudo 32
3.2. Principais etapas da ferramenta SPM 32
3.3. Local de estudo e coleta de dados 33
3.4. População e amostra 33
3.5. Análise dos dados 34
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 35
4.1. Caracterização do local de trabalho 35
4.2. Coleta de resíduos: o trabalho prescrito 36
4.3. Aplicação da Ferramenta SPM – Identificação de problemas e proposição de
soluções das inconformidades do trabalho real 37
4.3.1. Inconformidade 01 – Excesso de horas extras 37
4.3.2. Inconformidade 02 – Excesso de esforço físico 38
4.3.3. Inconformidade 03 – Posturas inadequadas 39
4.3.4. Inconformidade 04 – Falta de treinamento 41
4.3.5. Inconformidade 05 – Falta de EPI’s adequados e uso incorreto 42
4.3.6. Inconformidade 06 – Após afastamentos os coletores retornam ao ritmo
normal 43
4.3.7. Inconformidade 07 – Grandes distâncias percorridas a pé devido ao método
de “redução” 44
5. CONCLUSÕES 46
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 47
10
1. INTRODUÇÃO
O setor de coleta de resíduos sólidos urbanos sempre foi considerado um
posto de trabalho hostil ao ser humano e de elevado risco ocupacional. Com o
crescimento constante na geração de resíduos sólidos e a falta de investimentos no
setor de coleta, estes trabalhadores encontram-se cada dia mais sobrecarregados e
cada vez mais expostos aos riscos inerentes à atividade.
Na sociedade pós-industrial, com a disseminação crescente dos alimentos
industrializados e produtos descartáveis, é perceptível a importância do trabalho dos
coletores de lixo para resolver um problema particularmente intenso devido ao
consumo massificado nas grandes cidades. Conhecidos também como lixeiros,
esses profissionais tema sua carteira assinada com a função de “garis”. A relevância
desta categoria no quadro urbano contemporâneo nem sempre tem sido
correspondida com análises do trabalho em geral ou estudos que se situem na
perspectiva da saúde dos coletores de lixo (VASCONCELLOS, 2008).
O município de Guarapuava está localizado na região Centro Sul do Paraná
e, segundo IBGE (2010), a estimativa populacional para o ano de 2013 é de 175.779
habitantes, ainda de acordo com os dados do IBGE, o município possui 52.083
domicílios em área urbana e outros 5.653 domicílios em área rural e, segundo os
gestores da limpeza pública municipal, todos possuem coleta de resíduos sólidos.
Segundo informações da administração da coleta de lixo, estima-se que hoje
o município produza diariamente oitenta e cinco toneladas de Resíduos Sólidos
Urbanos - RSU, as quais são coletadas através da Companhia de Serviços e
Urbanização de Guarapuava – SURG. Atualmente, a frota destinada para a coleta
de lixo de Guarapuava conta com nove caminhões compactadores e um quadro de
noventa e um funcionários, sendo vinte e três motoristas e sessenta e oito coletores
de lixo, também chamados de “operadores ecológicos”.
Por meio de reuniões com os administradores da coleta de lixo do município,
constatou-se que nunca foram realizados estudos ergonômicos neste setor, sendo
que, existe somente um Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, o
qual não contém qualquer citação sobre os riscos ergonômicos dos coletores.
Portanto, este estudo busca realizar uma análise ergonômica do trabalho
(AET) dos coletores de resíduos sólidos do município, através do método SPM –
Situação, Problemas e Melhorias, relacionando a atividade prescrita na qual estes
11
trabalhadores estão registrados e o trabalho real executado, averiguar as
desconformidades ergonômicas presentes no posto de trabalho e propor medidas de
correção e melhorias.
1.1. OBJETIVOS
1.1.1. Objetivo principal
O trabalho tem como objetivo principal aplicar a ferramenta SPM – Situação,
Problemas e Melhoria, para se realizar uma análise ergonômica do trabalho dos
coletores de resíduos sólidos urbanos do município de Guarapuava – PR.
1.1.2. Objetivos específicos
Os objetivos específicos são:
Examinar as diferenças entre o trabalho prescrito e o trabalho real executado
pelos coletores;
Averiguar as desconformidades ergonômicas no posto de trabalho estudado;
Propor melhorias para as desconformidades apontadas, através da realização
de uma ficha de desconformidades;
1.2. JUSTIFICATIVAS
Este estudo se justifica diante das más condições de trabalho a que os
coletores de lixo são expostos em todo o território nacional. É notório que o Estado e
as prefeituras municipais destinam verbas insuficientes para a manutenção da
limpeza pública e para a coleta de resíduos sólidos e, diante deste cenário, o coletor
torna-se o elemento mais prejudicado, já que muitas vezes, não possui condições
dignas de trabalho.
O ambiente laboral dos coletores de resíduos sólidos é classificado como
altamente insalubre, devido à exposição a riscos físicos, químicos, biológicos e de
acidentes. Além destes fatores preocupantes, existe o risco ergonômico e com ele,
há a necessidade de se avaliar as condições ergonômicas a que estes trabalhadores
estão expostos.
12
Durante a jornada de trabalho dos coletores de lixo ocorre o embarque e
desembarque constante, levantamento de cargas, percurso de grandes distâncias,
dentre outros fatores que exigem um elevado esforço físico dos trabalhadores e,
visando a saúde e segurança do trabalho desta classe, é de grande importância a
realização de estudos voltados à adaptação das condições destes postos de
trabalho.
A demanda deste trabalho também surgiu da ausência de pesquisas similares
no município de Guarapuava - PR e no interesse da Prefeitura Municipal e da
SURG, responsável pela limpeza pública, em avaliar a situação dos trabalhadores
da coleta de lixo e identificar os pontos a serem melhorados neste setor. Desta feita,
a realização deste trabalho vem a suprir esta necessidade do município, além de
servir como uma ferramenta para auxiliar os gestores municipais nas futuras
tomadas de decisões sobre o assunto, além de alertá-los sobre o tema, a fim de
melhorar as condições laborais dos coletores.
13
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. RESÍDUOS SÓLIDOS
Segundo Santos (2008), resíduo sólido ou lixo pode ser definido como todo e
qualquer resíduo oriundo das atividades humanas ou gerados pela natureza em
aglomerações urbanas. Além disso, o autor define resíduos sólidos como a gama de
produtos não aproveitados pelas atividades humanas, sejam elas domésticas,
comerciais, industriais, de serviço de saúde ou aqueles gerados naturalmente, como
folhas e galhos, os quais também necessitam de coleta e destinação final.
De acordo com Santos et al. (1995) a definição “lixo”, assim como a maior
parte das palavras de língua português, é originada do latim lix, que significa cinza.
Esse termo foi originado em uma época remota, quando eram usados fornos, fogões
e lareiras alimentados por lenha, os quais geravam cinzas.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, através da Norma
Brasileira 10.004, define resíduos sólidos como os resíduos nos estados sólido e
semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar,
comercial, agrícola, de serviços e de varrição, além disso, a norma define que ficam
incluídos os lodos de sistemas de tratamento de água, os gerados em equipamentos
e instalações de controle da poluição, assim como determinados líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento em rede pública de esgotos ou
corpos hídricos.
Além disso, a NBR 10.004 define que a periculosidade de um resíduo é
classificada em função de suas propriedades físicas, químicas ou
infectocontagiosas, para tanto, só definidos resíduos perigosos aqueles que
apresentam risco à saúde pública, provocando mortalidade, incidência de doenças
ou acentuação das mesmas, além de riscos ao meio ambiente, quando o resíduo for
destinado de maneira inadequada.
Esta Norma classifica os resíduos sólidos em resíduos classe I – Perigosos e
resíduos classe II – Não perigosos, sendo que esta segunda classe é dividida em
resíduos classe II A – Não Inertes e resíduos classe II B – Inertes. Além disso, a
Norma define que resíduos classe I – Perigosos, são aqueles que apresentam
periculosidade, inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou
patogenicidade.
14
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída através da Lei Federal n°
12.305 de 02 de agosto de 2010, define resíduos sólidos como qualquer material,
substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em
sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está
obrigado a proceder, nos estados sólido e semissólido, bem como gases contidos
em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na
rede pública de esgotos ou corpos hídricos, ou exijam para isso soluções técnicas
ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.
Levando-se em consideração as diferentes formas de classificação,
D’Almeida e Vilhena (2000) descrevem que o lixo é diferenciado principalmente
segundo a zona de produção, podendo ser considerado urbano ou rural e, de acordo
com as características químicas, em orgânico e inorgânico. A partir da origem ou
local de produção, as formas mais comuns de classificação são: resíduos
domésticos ou urbanos, comerciais, públicos, industriais e especiais.
2.2. CONSUMISMO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
O consumo cotidiano de produtos industrializados é responsável pela
contínua produção de lixo, nas cidades, este produção é de tal intensidade que não
é possível conceber um ambiente urbano sem considerar a problemática gerada
pelos resíduos sólidos, desde a etapa de coleta até a disposição final (MUCELON E
BELLINI, 2008).
A produção de lixo nas cidades adquiriu tamanha intensidade que não é
possível pensar no plano de desenvolvimento de uma cidade sem levar em
consideração a problemática dos resíduos sólidos, desde a etapa da geração até a
sua disposição final (EURICH, 2011).
Ferreira (1997) destaca que a sociedade atual chegava ao final do século XX
como sendo a civilização dos resíduos. Isto torna-se verdade devido ao desperdício
desenfreado e às contradições presentes no desenvolvimento industrial e
tecnológico, visto que, ao mesmo tempo em que os recursos naturais são utilizados
de maneira insustentável, constantemente são lançados nos ecossistemas novos
produtos sintéticos, os quais causam irreversíveis impactos ambientais.
Segundo D’Almeida e Vilhena (2000), o processo de urbanização acelerado,
em conjunto com o consumo crescente de produtos não duráveis e/ou descartáveis,
15
provocou um significativo aumento do volume, concentração e diversificação do lixo
gerado. Desta feita, a responsabilidade de gerenciar o lixo urbano transformou-se
em uma tarefa de demanda ações diferenciadas e articuladas, as quais devem ser
incluídas entre as prioridades de todos os municípios.
Silva (2005) comenta que, à medida que o dito “progresso” chega aos
grandes centros urbanos, modificam-se os hábitos e valores da população em geral
e impõe-se um estilo de vida baseado no consumismo e no desperdício
desenfreado, aumentando a geração de resíduos sólidos, os quais muitas vezes são
destinados de maneira inadequada e geram sérios prejuízos ambientais.
A Lei Federal n° 11.445 de 05 de janeiro de 2007, define que os trabalhadores
da coleta de lixo desempenham as atividades de limpeza urbana e manejo de
resíduos sólidos, visto que estas são classificadas como o conjunto de atividades,
infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza
de logradouros e veias públicas.
No território brasileiro, a prestação de serviços de limpeza urbana foi iniciada
oficialmente de 1880, na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, através do
Decreto n° 3024, o qual aprovava o contrato de “limpeza e irrigação” da cidade, tal
contrato foi executado por Francisco Gary, cujo sobrenome deu origem ao termo
“gari” que hoje denomina os trabalhadores da limpeza pública (MONTEIRO et al.;
2001).
O serviço de limpeza pública e coleta de resíduos, por vezes, são vistos como
fatores estéticos das vias públicas, entretanto, o tratamento e a destinação final de
resíduos são essenciais para a eliminação de vetores de doenças e para a
preservação do meio ambiente (MONTEIRO et al.; 2001).
O gerenciamento de resíduos sólidos de um município requer, além de
elevados investimentos financeiros, o uso de técnicas de engenharia sanitária
específicas para cada local. Geralmente, os Municípios, em virtude das limitações
financeiras e de mão de obra qualificada, enfrentam grandes dificuldades no
planejamento e execução destes serviços (MONTEIRO et al.; 2001).
Segundo a Constituição Federal de 1988, a responsabilidade sobre o
gerenciamento de resíduos sólidos municipais e resíduos perigosos compete às
esferas nacional, estadual e municipal. Em seu Artigo 23, a Constituição brasileira
estabelece as competências de cada esfera e, no seu Artigo 30, incisos I e V, ela
16
institui como de atribuição municipal, legislar sobre assuntos de interesse legal,
principalmente quanto à organização dos serviços de limpeza pública (MONTEIRO
et al.; 2001).
De acordo com D’Almeida e Vilhena (2000), em 1997, a coleta de lixo no
território brasileiro, considerando-se apenas os domicílios urbanos, atendia
aproximadamente 70% do total, este número, apesar de ser longe do ideal,
representava um avanço em comparação com os valores de 1990 (64%) e de 1981
(49%). Além disso, os dados de 1997 descrevem que os estados com o menor
percentual de domicílios não atendidos pela coleta de lixo eram Distrito Federal
(1,4%), São Paulo (3,2%) e Mato Grosso do Sul (5,4%), na época, o estado o
Paraná possuía 11,2% dos domicílios urbanos sem coleta de lixo.
2.3. SITUAÇÃO DOS TRABALHADORES DA COLETA DE RESÍDUOS
SÓLIDOS
Os profissionais encarregados da coleta e do destino final do lixo estão
incluídos, segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), na família dos
Trabalhadores nos Serviços de Coleta de Resíduos, de Limpeza e Conservação de
Áreas Públicas, que inclui o coletor de lixo domiciliar (agente de coleta de lixo,
coletor de lixo, lixeiro), o varredor de rua (gari, margarida), o trabalhador de serviços
de limpeza e conservação de áreas públicas e o coletor de resíduos sólidos de
serviços de saúde (MTE, 2004).
O trabalho de recolhimento do lixo, em geral sob responsabilidade de
departamentos de limpeza pública, tende a se tornar cada vez mais complexo, na
medida em que aumentam as populações, principalmente urbanas, caracterizando-
se como uma atividade sabidamente essencial dentro dos serviços públicos
(ROBAZZI et al., 1992; ROBAZZI et al., 1994).
Ao trabalhador do serviço de limpeza urbana cabe a coleta e
acondicionamento de resíduos, limpeza e conservação de áreas públicas, varrição
de calçadas, sarjetas e calçadões, e a conservação de áreas públicas lavando-as,
pintando guias, postes, viadutos ou muretas, etc (MTE, 2004).
Uma relação bastante delicada no sistema de limpeza urbana encontra-se na
imagem do profissional que atua diretamente das atividades operacionais do sistema
de coleta de lixo, os ditos garis (COELHO, 2012).
17
Outra nomenclatura dada a esses profissionais é a de “lixeiro” que, de certa
maneira, ridiculariza essa atividade. Normalmente esse trabalho é realizado de
maneira árdua e em condições precárias de segurança, ficando os trabalhadores
deste setor sujeitos às intempéries climáticas de os expõe às mais variadas
situações de risco, tanto físicos quanto psicológicos (MADRUGA, 2002).
O trabalho de limpeza urbana pode ser considerado de grande complexidade
para os coletores de lixo, devido a determinadas características como: gestão de
constrangimentos relacionados com certas variabilidades da produção e do
ambiente e a gestão de objetivos conflitantes entre qualidade, tempo, segurança e
economia do uso do corpo. Esses constrangimentos requerem o desenvolvimento
de competências específicas e estratégias de regulação, principalmente pelo fato da
atividade se desenrolar em condições não controladas, como: trânsito urbano,
intempéries, relação com a população, panes dos equipamentos, etc (PATARO,
2011).
Lazzari e Reis (2011) resumem as atividades realizadas pelos trabalhadores
da coleta de lixo, citando que, durante a jornada de trabalho, os coletores andam,
correm, sobem e descem ruas, levantam diferentes pesos e suportam sol, chuva, frio
e variações bruscas de temperatura.
Geralmente, o serviço de coleta de resíduos é realizado com tecnologia
precária, praticamente manual, em que o corpo do trabalhador transforma-se em um
instrumento de carregar lixo (VELLOSO, 1995).
Além disso, essa categoria de trabalhadores fica exposta, em seu período de
trabalho, a seis tipos diferentes de riscos ocupacionais: físicos, químicos,
mecânicos, ergonômicos, biológicos e sociais (FERREIRA, ANJOS, 2001).
Já Silva et al. (2009), escreve que os trabalhadores da coleta de lixo estão
expostos a diversos fatores, tais como: poeiras, ruídos excessivos, frio, calor,
fumaça, radiação solar, adoção de posturas forçadas e incômodas e também a
microorganismos patogênicos presentes dos resíduos municipais.
Se não bastasse os diversos riscos enfrentados em um espaço laboral amplo
e diversificados, que é a rua, o contato frequente com agentes nocivos à saúde torna
os agentes de limpeza pública, especialmente os coletores de lixo, vulneráveis a
acidentes (COELHO, 2012).
A carga de trabalho dos garis aumenta proporcionalmente ao crescimento
populacional das cidades e esses profissionais precisam responder às expectativas
18
de diferentes setores da sociedade: da empresa, da comunidade, bem como os
pessoais, ou seja, da própria classe profissional. Para atingir tais objetivos, os
trabalhadores precisam lidar com diferentes exigências de tempo, qualidade e
segurança, elaborando estratégias e métodos com o objetivo de manter sua carga
de trabalho aceitável (VASCONCELLOS, 2008).
Além disso, na maioria das vezes, os serviços de coleta de lixo são
executados por trabalhadores que não têm qualificação para exercer outra atividade,
o que reforça a grande rejeição por parte da sociedade; esse fato acaba por
influenciar na autoestima dessas pessoas, tornando-as, quase sempre, tristes e
rejeitadas (LIMA, 2001).
2.4. ERGONOMIA
2.4.1. Definições e objetivos
Segundo Vidal e Másculo (2011), a primeira definição de ergonomia surgiu
em 1857, através de um cientista polonês chamado Wojciech Jastrzebowski, durante
o período do movimento industrialista na Europa, ele definiu ergonomia a partir de
dois termos gregos, ergon = trabalho e nomos = leis naturais. A partir desta definição
primária, os pesquisadores da área têm procurado estipular as leis fundamentais
baseadas nas quais esta matéria em desenvolvimento pode ser classificada como
ciência.
Wisner (1972) define ergonomia como sendo um conjunto de conhecimentos
científicos relacionados ao homem, os quais são necessários para a compreensão
de ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo
de conforto, segurança e eficácia.
Santos (1997) comenta que esta definição de ergonomia evidência duas
características fundamentais na prática ergonômica: o conjunto de conhecimentos
científicos relacionados ao homem e a aplicação prática destes conhecimentos na
criação de ferramentas, máquinas e dispositivos que o homem utiliza na atividade
laboral.
Leplat (1980), define a ergonomia como sendo uma tecnologia, a qual tem por
objetivo principal, ordenar e arranjar os sistemas homem-máquina.
19
Já Iida (2005), diz que a ergonomia pode ser descrita como o estudo da
adaptação do trabalho ao ser humano. Nesta definição o trabalho possui uma
acepção bastante ampla, abrangendo não somente aqueles realizados através de
máquinas e equipamentos, para transformar materiais, mas também inclui toda a
situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e uma atividade produtiva.
Atualmente existem divergências sobre o papel da ergonomia no trabalho, há
autores que defendem a tese de que qualquer fator relacionado ao trabalho, também
está relacionado à ergonomia, em contrapartida, há pesquisadores que consideram
a ergonomia como uma ciência de mínima importância, argumentando que trata-se
apenas de readequação de postura, análise de levantamentos de cargas e
substituição de mesas e assentos.
Como descrito por Santos (1997), a ergonomia está em constante mutação e
transformação, adequando-se aos novos desafios tecnológicos e aos novos
constrangimentos a que os trabalhadores estão expostos, visto que, antigamente,
tratava-se muito mais dos problemas físicos do trabalho, evoluindo para a
preocupação nas questões perceptuais, enquanto que hoje trata-se muito de fatores
psíquicos e do diálogo homem-computador.
O objetivo prático da Ergonomia é a adaptação do posto de trabalho, dos
instrumentos, das máquinas, dos horários, do meio ambiente às exigências do
homem. A realização de tais objetivos, ao nível industrial, propicia uma facilidade do
trabalho e um rendimento do esforço humano. (GRANDJEAN, 1968).
2.4.2. História da Ergonomia
Vidal e Másculo (2011) escrevem que os primeiros estudos sobre as relações
inerentes ao homem e o trabalho se perdem na origem dos tempos, visto que, em
termos arqueológicos, é possível demonstrar que os utensílios de pedra lascada
deram origem à um processo de melhoria de da eficiência na caça e na pesca,
reduzindo a mortalidade da população da época. Segundo os autores, existem
também no Museu do Louvre, em Paris, papiros egípcios que contém
recomendações de caráter ergonômico para a construção de ferramentas de
construção civil, assim como desenhos de arranjos organizacionais para o canteiro
de obras das pirâmides.
20
De acordo com Santos (1997), ao longo do tempo, a Filosofia e a Psicologia
predominaram na Ergonomia e, a medida que o tralhado passava a ser executado
cada vez mais mentalmente e menos fisicamente, outras disciplinas passaram a
agregar valores para a expansão dos conhecimentos sobre o homem no trabalho.
Segundo Vidal e Másculo (2011), na Idade Média, conceitos relacionados a
posturas inadequadas, assim como trabalhos abordando riscos físicos como
temperatura e umidade, foram publicados por estudiosos como Lavoisier, Villeneuve
e Leonardo da Vinci.
Segundo Iida (2005), os estudos mais sistemáticos sobre o trabalho
começaram a ser realizados a partir do final do século XIX, nesta época surge, nos
Estados Unidos, o movimento da dita administração científica, este movimento ficou
conhecido como taylorismo.
Vidal e Másculo (2011), comentam que os estudos sobre as relações entre o
homem e o trabalho deram um grande salto no século XX, quando a partir de 1915
no período de expansão da indústria no planeta, na Inglaterra, foi formado um
comitê destinado a estudar a saúde dos trabalhadores empregados na indústria da
guerra, este comitê foi classificado como uma espécie de assistência técnica ao fator
humano na indústria. Segundo os autores, este comitê foi formado por médicos,
fisiologistas e engenheiros e apontou, na época, diversas questões de inadaptação
entre trabalho e os trabalhadores da produção. Os resultados obtidos se mantiveram
o breve período de paz entre as duas grandes guerras.
Iida (2005) comenta que, a partir de 1939, com o início da Segunda Guerra
Mundial, os conhecimentos tecnológicos e científicos da época foram utilizados ao
máximo, para construir armamentos relativamente complexos como tanques,
radares, submarinos e aviões. A operação destes instrumentos exigiam muitas
habilidades dos soldados, em condições bastante desfavoráveis e tensas, em pleno
campo de batalha. Erros e acidentes na operação das máquinas eram bastante
frequentes e muitos com consequências fatais. Todos estes fatores resultaram em
um significativo aumento dos esforços de pesquisa para se adaptar esses
instrumentos bélicos às características e capacidades dos operadores, melhorando
o desempenho e reduzindo os acidentes e a fadiga.
Segundo Iida (1990), os pesquisadores que haviam participado desses
esforços de guerra continuaram a empreitada dedicando-se à produção civil,
utilizando as técnicas, métodos e dados obtidos durante a guerra para a indústria.
21
Numa primeira forma de extensão universitária, são formados laboratórios dedicados
à adaptação do trabalho ao homem, para atender as demandas das indústrias, com
isso, é formada em 1947 a primeira sociedade de Ergonomia do planeta, a
Ergonomics Research Society e a corrente de Ergonomia chamade de Falores
Humanos, a Human Factors & Ergonomics ou HFE).
De acordo com Vidal e Másculo (2011), no pós-guerra, surgiu outra veia da
Ergonomia, criada plas necessidades da reconstrução do parque industria europeu
dizimado, este projeto de reconstrução abria uma oportunidade para o estudo das
condições de trabalho, tendo como principal exemplo a Fábrica de Automóveis da
Renault. Segundo os autores, a Renault é a primeira indústria francesa a criar um
laboratório dentro da indústria voltado para Ergonomia, a partir disso originou-se a
escola francesa, que tem uma questão própria: como criar adequadamente os novos
postos de trabalho a partir do estudo de uma situação existente? A partir disso,
nasce em 1949, com Suzanne Pacaud, a análise da atividade em situação real,
retomada em 1955 por Obrendame e Faverge como Análise do Trabalho. Todos
esses autores defendiam que o projeto de um novo posto de trabalho deveria ser
realizado a partir de um estudo etnográfico da atividade e mostravam o
distanciamento entre as suposições iniciais e o auferido em análises, esta proposta
foi formalizada somente em 1966, por Alain Wisner, já com o nome de Análise
Ergonômica do Trabalho (AET).
2.5. ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO
2.5.1. Origem e definições
De acordo com Vidal e Másculo (2011), Análise Ergonômica do Trabalho foi o
professor francês Alain Wisner e no início, a AET formalmente se constituiu em um
conjunto estruturado e intercomplementar de análises situadas, de natureza global e
sistemática, sobre os fatores determinantes da atividade das pessoas em uma
organização.
Segundo Wisner (1966), para aplicar mudanças de maior efeito não bastava
projetar os postos de trabalho apenas com base no conhecimento científico puro,
mas sim trabalhar o contexto onde esse projeto seria inserido, com o objetivo de
22
assegurar a implementação correta do estudo ergonômico e, a partir disso, obter
resultados mais satisfatórios.
Vidal e Másculo (2011), comentam que a partir dos diversos anos como
responsável pelo setor de Ergonomia da fábrica da Renault, Alain Wisner colecionou
inúmeros sucessos, como por exemplo, os primeiros estudos antropométricos para o
delineamento do cockpit dos carros de corrida, entretanto acumulou também alguns
fracassos, como a rejeição do modelo matemático de massas suspensas, o qual
atualmente é planamente aplicados nos ensaios de colisão com os bonecos
humanoides.
Os autores escrevem que a AET, como Wisner projetou naquela época e nas
circunstâncias específicas de um laboratório industrial, objetivava a formulação dos
fatores humanos em termos inteligíveis pela engenharia, setor este responsável pelo
produto industrial, a partir disso surge o conceito de recomendações ergonômicas
para o projeto do produto industrial.
Santos (1997) escreve que a Análise Ergonômica do Trabalho baseia-se em
técnicas comparativas que permitem uma amostragem bastante aproximada da
atividade de trabalho, mesmo que existam variabilidades intra e interindividuais.
Santos (1997) destaca que a análise ergonômica do trabalho é composta for
três fases principais: análise da demanda, análise da tarefa e análise das atividades,
segundo o autor, estas etapas devem ser cronologicamente abordadas de maneira a
garantir uma coerência metodológica para se evitar transtornos futuros.
Além disso, Santos (1997) explica as quais são as principais caracteristicas
de cada fase da análise ergonômica:
Análise da demanda consiste na delimitação do problema a ser estudado, a
partir de negociações e conversas com os inúmeros atores sociais envolvidos no
trabalho.
A análise da tarefa é o que os trabalhadores deveriam realizar normalmente,
levando-se em consideração as condições ambientais, técnicas e organizacionais
desta realização.
A análise das atividades é a verificação das atividades que o trabalhadores
efetivamente executam durante a jornada de trabalho, é a análise do trabalho real
praticado.
De acordo com Santos (1997), as considerações finais de uma análise
ergonômica devem levar à modificações a fim de melhorar as condições
23
ocupacionais sobre os pontos críticos apontados, assim como contribuir para o
aumento da produtividade e da qualidades dos produtos ou dos serviços prestados.
Segundo o autor, esta fase de recomendações é o principal objetivo da análise
ergonômica do trabalho.
2.5.2. Trabalho prescrito e trabalho real
Segundo Vidal e Másculo (2011), dentro do contexto de uma Análise
Ergonômica do Trabalho e da concepção teórica do trabalho e dos meios de
trabalho, existe a definição de trabalho prescrito, ou seja, a maneira que o trabalho
deveria ser executado, levando-se em consideração as formas de utilizar máquinas
e equipamentos de trabalho, o tempo despendido em cada operação e os modos e
normas operatórias.
Os autores destacam que esse trabalho prescrito nunca corresponderá
exatamente ao trabalho real, ou seja, aquele que é efetivamente executado pelo
trabalhador e, um dos interesses principais da Ergonomia é compreender e
identificar o distanciamento entre a prescrição e a realidade, visto que isto provoca
uma inadequação na carga de trabalho, sejam elas de ordem física devido à
inconformidade no posto e ambiente de trabalho, cognitivas devido a dificuldades no
raciocínio e nas tomadas de decisões ou organizacionais que acarretarão na
realização dos objetivos com baixa eficiência ou no não cumprimento destes.
Vidal e Másculo (2011) escrevem que o distanciamento entre a prescrição e a
realidade é o grande problema e é o que levou os estudiosos da Ergonomia a
estabelecer estes conceitos de trabalho prescrito e trabalho real, o primeiro conceito
simbolizando o desejo de que o trabalho realizado corresponda aos estudos teóricos
e o segundo representando a distância entre a vontade e os fatos reais. As
definições e conceitos expostos ao trabalhador nem sempre correspondem ao
possível na situação real e os motivos podem ser variados, sendo que um dos
papéis da Análise Ergonômica do Trabalho também é destacar tais motivos, a fim de
solucionar estes problemas e tentar manter o trabalho real o mais próximo da
prescrição.
24
2.6. ERGONOMIA APLICADA AOS COLETORES DE RESÍDUOS
SÓLIDOS
De acordo com Iida (2005), a ergonomia inicia-se através do estudo das
características físicas e psicológicas do trabalhador para, depois, projetar o trabalho
que ele é capaz de executar, preservando a sua saúde, desta forma, pode-se
observar que a adaptação sempre ocorre no sentido do trabalho para o homem,
visto que, se acontecer no sentido contrário, pode acarretar em consequências para
o trabalhador e diminuição da capacidade de produção.
2.7. FERRAMENTA SPM
Vidal e Másculo (2011) descrevem que a ferramenta de análise ergonômica
SPM – Situação, Problema e Melhorias é utilizada quando se realiza um diagnóstico
de uma vasta área de trabalho e onde se quer realizar um Mapeamento Ergonômico.
A ideia de um mapeamento consiste em elencar uma série de problemas em cada
situação de trabalho de uma área ou setor e posteriormente tratar esses dados a fim
de propor melhorias.
Segundo Rocha (2011), a análise ergonômica do tipo SPM pode ser
considerada uma metodologia de apreciação, já que o método consiste em realizar
um mapeamento inicial das situações desconfortantes as quais os trabalhadores são
expostos, permitindo uma maior contextualização, não somente das situações de
risco embutidas na execução das tarefas, mas também podem produzir um efeito
satisfatório ao trabalhador, visto que está proporcionando um ambiente mais
favorável à produção de acordo com medidas que foram observadas no próprio
ambiente laboral.
De acordo com Vidal e Másculo (2011), a ferramenta SPM foi elaborada para
proporcionar uma resposta rápida em casos onde existe pouca ou nenhuma
preocupação com aspectos ergonômicos no planejamento e execução das tarefas e
procedimentos de trabalho.
25
Figura 01 – Método de Apreciação Ergonômica SPM – Situação, Problema e
Melhoria (Vidal, 2007)
Segundo Rocha (2011), o método SPM desenvolveu-se sob a prática
consultiva em Ergonomia, buscando envolver situações de trabalho que
anteriormente não possuíam nenhuma atenção sob os aspectos ergonômicos e
tampouco nenhuma experiência que pudesse ser considerado uma Boa Prática.
Para Vidal e Másculo (2011), esta ferramenta é uma sistemática orientada
para a elaboração de laudos ergonômicos sobre a situação atual de um processo de
trabalho, abrangendo todo um segmento, setor ou área de uma empresa. Como
objetivo principal desta metodologia os autores destacam como uma ferramenta de
ação ergonômica, ou seja, esta ferramenta se caracteriza por ser utilizada em
situações onde não há orientação a um problema específico, queixa qualificada e
situação bem delimitada, entretanto, sem que se perca o direcionamento para as
transformações positivas e sem deixar de lado a possibilidade de uma apreciação
onde caibam diversas variantes da Análise Ergonômica do Trabalho.
26
2.8. LEGISLAÇÃO E NORMAS
Atualmente existem diversas normas e legislações vigentes que contemplam
a questão ergonômica do trabalho, entretanto, para o estudo em questão, aplica-se
a legislação brasileira vigente, neste caso a Portaria n° 3.214 de 08 de junho de
1978, do Ministério de Trabalho e Emprego, especificamente a NR – 17, a qual trata
exclusivamente de Ergonomia.
De acordo com Vidal e Másculo (2011), basicamente, a NR 17 é dividida em
três grandes campos: aspectos gerais, temas abordados e anexos. O primeiro
campo define as finalidades e o escopo da norma, o segundo trata dos cinco tópicos
normatizados (cargas, equipamentos, mobiliários, ambiente e organização), Já o
terceiro campo é constituído por anexos que, apesar de serem dirigidos a focos
específicos, agregam extensões e detalhamentos à norma básica.
O primeiro campo, o qual descreve os aspectos gerais da norma é
compostos pelos seguintes itens:
17.1. Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. 17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. 17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora.
O segundo campo da norma, que trata dos cinco tópicos normatizados,
citados anteriormente, é compostos pelos seguintes itens:
17.2. Levantamento, transporte e descarga individual de materiais. 17.2.1. Para efeito desta Norma Regulamentadora:
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17.2.1.1. Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a deposição da carga. 17.2.1.2. Transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de maneira contínua ou que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual de cargas. 17.2.1.3. Trabalhador jovem designa todo trabalhador com idade inferior a dezoito anos e maior de quatorze anos. 17.2.2. Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um trabalhador cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança. 17.2.3. Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que não as leves, deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar, com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes. 17.2.4. Com vistas a limitar ou facilitar o transporte manual de cargas deverão ser usados meios técnicos apropriados. 17.2.5. Quando mulheres e trabalhadores jovens forem designados para o transporte manual de cargas, o peso máximo destas cargas deverá ser nitidamente inferior àquele admitido para os homens, para não comprometer a sua saúde ou a sua segurança. 17.2.6. O transporte e a descarga de materiais feitos por impulsão ou tração de vagonetes sobre trilhos, carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico deverão ser executados de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a sua segurança. 17.2.7. O trabalho de levantamento de material feito com equipamento mecânico de ação manual deverá ser executado de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a sua segurança. 17.3. Mobiliário dos postos de trabalho. 17.3.1. Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para esta posição. 17.3.2. Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé, as bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização e operação e devem atender aos seguintes requisitos mínimos: a) ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade, com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento; b) ter área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador;
28
c) ter características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação adequados dos segmentos corporais. 17.3.2.1. Para trabalho que necessite também da utilização dos pés, além dos requisitos estabelecidos no subitem 17.3.2, os pedais e demais comandos para acionamento pelos pés devem ter posicionamento e dimensões que possibilitem fácil alcance, bem como ângulos adequados entre as diversas partes do corpo do trabalhador, em função das características e peculiaridades do trabalho a ser executado. 17.3.3. Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos de conforto: a) altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; b) características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento; c) borda frontal arredondada; d) encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar. 17.3.4. Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados sentados, a partir da análise ergonômica do trabalho, poderá ser exigido suporte para os pés, que se adapte ao comprimento da perna do trabalhador. 17.3.5. Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as pausas. 17.4. Equipamentos dos postos de trabalho. 17.4.1. Todos os equipamentos que compõem um posto de trabalho devem estar adequados às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. 17.4.2. Nas atividades que envolvam leitura de documentos para digitação, datilografia ou mecanografia deve: a) ser fornecido suporte adequado para documentos que possa ser ajustado proporcionando boa postura, visualização e operação, evitando movimentação frequente do pescoço e fadiga visual; b) ser utilizado documento de fácil legibilidade sempre que possível, sendo vedada a utilização do papel brilhante, ou de qualquer outro tipo que provoque ofuscamento. 17.4.3. Os equipamentos utilizados no processamento eletrônico de dados com terminais de vídeo devem observar o seguinte: a) condições de mobilidade suficientes para permitir o ajuste da tela do equipamento à iluminação do ambiente, protegendo-a contra reflexos, e proporcionar corretos ângulos de visibilidade ao trabalhador; b) o teclado deve ser independente e ter mobilidade, permitindo ao trabalhador ajustá-lo de acordo com as tarefas a serem executadas;
29
c) a tela, o teclado e o suporte para documentos devem ser colocados de maneira que as distâncias olho-tela, olho- teclado e olho-documento sejam aproximadamente iguais; d) serem posicionados em superfícies de trabalho com altura ajustável. 17.4.3.1. Quando os equipamentos de processamento eletrônico de dados com terminais de vídeo forem utilizados eventualmente poderão ser dispensadas as exigências previstas no subitem 17.4.3, observada a natureza das tarefas executadas e levando-se em conta a análise ergonômica do trabalho. 17.5. Condições ambientais de trabalho. 17.5.1. As condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. 17.5.2. Nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam solicitação intelectual e atenção constantes, tais como: salas de controle, laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos, dentre outros, são recomendadas as seguintes condições de conforto: a) níveis de ruído de acordo com o estabelecido na NBR 10152, norma brasileira registrada no INMETRO; b) índice de temperatura efetiva entre 20°C (vinte) e 23°C (vinte e três graus centígrados); c) velocidade do ar não superior a 0,75m/s; d) umidade relativa do ar não inferior a 40 (quarenta) por cento. 17.5.2.1. Para as atividades que possuam as características definidas no subitem 17.5.2, mas não apresentam equivalência ou correlação com aquelas relacionadas na NBR 10152, o nível de ruído aceitável para efeito de conforto será de até 65 dB (A) e a curva de avaliação de ruído (NC) de valor não superior a 60 dB. 17.5.2.2. Os parâmetros previstos no subitem 17.5.2 devem ser medidos nos postos de trabalho, sendo os níveis de ruído determinados próximos à zona auditiva e as demais variáveis na altura do tórax do trabalhador. 17.5.3. Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade. 17.5.3.1. A iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa. 17.5.3.2. A iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e instalada de forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos. 17.5.3.3. Os níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos locais de trabalho são os valores de iluminâncias estabelecidos na NBR 5413, norma brasileira registrada no INMETRO.
30
17.5.3.4. A medição dos níveis de iluminamento previstos no subitem 17.5.3.3 deve ser feita no campo de trabalho onde se realiza a tarefa visual, utilizando-se de luxímetro com fotocélula corrigida para a sensibilidade do olho humano e em função do ângulo de incidência. 17.5.3.5. Quando não puder ser definido o campo de trabalho previsto no subitem 17.5.3.4, este será um plano horizontal a 0,75m (setenta e cinco centímetros) do piso. 17.6. Organização do trabalho. 17.6.1. A organização do trabalho deve ser adequada às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. 17.6.2. A organização do trabalho, para efeito desta NR, deve levar em consideração, no mínimo: a) as normas de produção; b) o modo operatório; c) a exigência de tempo; d) a determinação do conteúdo de tempo; e) o ritmo de trabalho; .f) o conteúdo das tarefas. 17.6.3. Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho, deve ser observado o seguinte: a) todo e qualquer sistema de avaliação de desempenho para efeito de remuneração e vantagens de qualquer espécie deve levar em consideração as repercussões sobre a saúde dos trabalhadores; b) devem ser incluídas pausas para descanso; c) quando do retorno do trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15 (quinze) dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno gradativo aos níveis de produção vigentes na época anterior ao afastamento. 17.6.4. Nas atividades de processamento eletrônico de dados, deve-se, salvo o disposto em convenções e acordos coletivos de trabalho, observar o seguinte: a) o empregador não deve promover qualquer sistema de avaliação dos trabalhadores envolvidos nas atividades de digitação, baseado no número individual de toques sobre o teclado, inclusive o automatizado, para efeito de remuneração e vantagens de qualquer espécie; b) o número máximo de toques reais exigidos pelo empregador não deve ser superior a 8.000 por hora trabalhada, sendo considerado toque real, para efeito desta NR, cada movimento de pressão sobre o teclado; c) o tempo efetivo de trabalho de entrada de dados não deve exceder o limite máximo de 5 (cinco) horas, sendo que, no período de tempo restante da jornada, o trabalhador poderá exercer outras atividades, observado o disposto no art. 468 da Consolidação das Leis do
31
Trabalho, desde que não exijam movimentos repetitivos, nem esforço visual; d) nas atividades de entrada de dados deve haver, no mínimo, uma pausa de 10 minutos para cada 50 minutos trabalhados, não deduzidos da jornada normal de trabalho; e) quando do retorno ao trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15 (quinze) dias, a exigência de produção em relação ao número de toques deverá ser iniciado em níveis inferiores do máximo estabelecido na alínea "b" e ser ampliada progressivamente.
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3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Tipo de estudo
A metodologia de análise ergonômica utilizada para elaboração deste trabalho
foi a ferramenta SPM – Situação, Problema e Melhoria. A aplicação da ferramenta
SPM encaixa-se perfeitamente no posto de trabalho estudado, visto que, até a
presente data, não foram identificados estudos que contemplassem aspectos
ergonômicos, especificamente para a coleta de resíduos de Guarapuava.
A aplicação deste método pode ser resumida em seis passos básicos:
caracterização do local de trabalho; identificação dos problemas; enquadramento
legal e normativo; averiguação da causa-raiz; oportunidade de adequação e
justificativas. Através destas etapas, por meio de registros fotográficos, vídeos,
entrevistas e observações, pode-se analisar a atividade realizada pelo trabalhador,
identificar possíveis problemas ergonômicos no local e propor melhorias de acordo
com as normas vigentes.
3.2. Principais etapas da ferramenta SPM
Caracterização do Local de Trabalho: Nesta etapa inicial realiza-se um
diagnóstico completo do local de trabalho a ser estudado. Com o auxílio de registros
fotográficos, filmagens, entrevistas com trabalhadores e observações é possível
identificar as atividades laborais mais críticas durante a jornada diária.
Identificação de Problemas: Na segunda etapa do processo identificam-se os
pontos críticos do ambiente ocupacional e as principais desconformidades da
atividade, a partir deste passo é que se estudam as possíveis sugestões a serem
aplicadas para solucionar os problemas identificados.
Impacto: Esta etapa caracteriza-se pela identificação do impacto que o
problema observado irá gerar para o trabalhador, quais as principais consequências
que a não conformidade acarretará, seja do ponto de vista físico ou psicológico.
Averiguação da causa-raiz: Neste momento é realizada a caracterização
causal dos problemas identificados na segunda etapa do processo, este passo é de
suma importância, pois a proposição de medidas corretivas deve alterar diretamente
a causa-raiz da desconformidade.
33
Oportunidade de Adequação: Após todo o diagnóstico do ambiente laboral e
identificação dos problemas e suas respectivas causas, é necessário propor
melhorias e adequações. As sugestões propostas nesta etapa devem ser
preferencialmente baseadas em normas padrão e devem ser passíveis de aplicação
prática, caso contrário todo o processo de análise ergonômica do trabalho não
possuirá resultados concretos para os trabalhadores.
Justificativas: Finalmente realiza-se a descrição argumentativa para as
adequações propostas na etapa anterior, assim, explica-se a pertinência das
soluções propostas.
Enquadramento Legal e Normativo: Semelhante a um processo de auditoria,
nesta etapa estuda-se a legislação pertinente, geralmente a NR-17, para que seja
possível realizar o enquadramento legal dos problemas e também buscar padrões
pré-estabelecidos para propor melhorias no posto de trabalho.
3.3. Local de estudo e coleta de dados
O local deste estudo foi a cidade de Guarapuava, mais especificamente o
posto de trabalho dos coletores de resíduos sólidos do município. Os roteiros de
coleta foram acompanhados de carro, registrando-se os pontos críticos da rotina
laboral, através de fotografias e vídeos, além disso, foram realizadas entrevistas
com os coletores antes do expediente e durante a execução da tarefa, a fim de se
averiguar quais são as principais queixas desta classe no município.
Ressalta-se que, a coleta de material fotográfico e em vídeo foi realizada para
se averiguar as principais falhas na tarefa realizada, entretanto, não foi autorizada a
reprodução de tais imagens no presente trabalho ou apresentação, sendo somente
autorizada pelos gestores da coleta a descrição dos fatos observados e das
entrevistas realizadas.
3.4. População e amostra
Para execução da coleta de resíduos sólidos de Guarapuava, a SURG dispõe
de um total de 23 motoristas e 68 coletores, todos do sexo masculino, com idade
entre 23 e 46 anos. No que diz respeito a roteiros de coleta, a SURG possui 20
roteiros diferentes, sendo 12 diurnos e 8 noturnos, para a coleta de dados deste
34
estudo foram acompanhados 4 roteiros diurnos e 2 roteiros, representado 33% do
total dos roteiros diurnos e 20% do total dos noturnos.
Durante a coleta de dados, foram entrevistados 16 funcionários durante o dia,
e 8 funcionários que trabalham a noite, pois em cada equipe de guarnição existem
três coletores de resíduos sólidos e um motorista.
Ressalta-se que todos os funcionários estavam cientes do propósito deste
trabalho e estavam autorizados pelos gestores da coleta municipal a fornecer
informações e responder a perguntas realizadas durante o período de coleta de
dados.
3.5. Análise dos dados
A análise dos dados foi realizada a partir da metodologia de análise proposta
pela ferramenta SPM, onde se deve realizar as seis etapas descritas anteriormente,
ou seja, todos os dados fotográficos e as filmagens coletadas foram classificadas e
enquadradas em uma das seis categorias. Os dados não obtidos a campo foram
pesquisados em legislações específicas ou trabalhos especializados em cada
situação.
35
4. RESULTADOS
4.1. Caracterização do local de trabalho
Foi averiguado que para realização do serviço de coleta dos resíduos sólidos
em Guarapuava, são utilizados 9 caminhões compactadores, sendo 6 caminhões
terceirizados e 3 de propriedade da prefeitura municipal. Os três caminhões da
prefeitura são do modelo Volkswagem/17.210, ano de fabricação 2004 e
compactadores com capacidade para 15 m³ de lixo, já os seis caminhões
terceirizados são do modelo Ford Cargo/1722 e Volkswagem Constellation/17250,
todos com ano de fabricação 2012 e também possuem compactadores com
capacidade para 15 m³.
Constatou-se também que todos os funcionários da coleta são contratados
pela SURG, em regime de 6 horas diárias em 6 dias semanais, sendo que a
companhia conta com um quadro de 91 funcionários envolvidos diretamente na
coleta, destes, 23 são motoristas e os 68 restantes são operadores de guarnição, ou
coletores. Todos os funcionários trabalham em sistema de turnos, o turno diurno é
realizado das 07h30min às 13h30min e o noturno das 18h00min às 24h00min,
sendo que todos estão registrados por uma carga de 6 horas trabalhadas diárias.
Dos funcionários supraditos, 11 motoristas e 30 coletores trabalham no
período noturno, sendo que o restante, ou seja, 12 motoristas e 38 operadores
trabalham no período diurno. Para cada caminhão são necessários 4 funcionários,
um motorista e três coletores, cada grupo compõe uma guarnição.
Através de análises in loco, pode-se obervar que os caminhões de
propriedade da prefeitura, por possuírem quase 10 anos de uso, encontram-se em
péssimo estado de conservação, com as estruturas metálicas dos compactadores
danificadas pela ferrugem, as latarias possuem a pintura descascada, as estruturas
de plástico estão quebradas, pneus em péssimo estado de conservação e todos
estes caminhões operam sem a devida manutenção preventiva. Estes fatores,
somando-se com a sobrecarga operacional, contribuem para um significativo
aumento do risco de acidentes dos trabalhadores da coleta.
Já os caminhões terceirizados, por serem mais novos, encontram-se em
melhor estado de conservação, entretanto, observou-se alguns pneus em péssimo
estado, muito distante do padrão ideal.
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As ruas percorridas pelos caminhões são tanto vias asfaltadas quanto vias de
terra, nos locais onde não há revestimento asfáltico constatou-se uma elevada
quantidade de poeira, a qual inevitavelmente é inalada pelos coletores.
4.2. Coleta de resíduos: o trabalho prescrito
Teoricamente, o trabalho dos coletores de resíduos sólidos consiste em
acompanhar o caminhão compactador, coletar os resíduos sólidos gerados pelos
moradores e acionar o dispositivo de compactação do caminhão.
O planejamento de rotas, verificação de necessidade de manutenção dos
veículos, atendimento a emergências e demais problemas externos que possam vir
a ocorrer durante a coleta deve ser gerenciado pelos funcionários do setor de
administração da coleta de lixo.
Segundo os funcionários da administração da SURG, a coleta de lixo em
Guarapuava deve ser realizada pelo método porta a porta, sendo que os moradores
devem acondicionar seus resíduos em sacos plásticos e mantê-los em frente às
residências. Cabe aos coletores carregar tais sacos de lixo, arremessá-los ao
caminhão compactador e ativar o mecanismo de compactação, desta feita, de
acordo com o trabalho prescrito, o coletor deve deslocar-se junto com o caminhão
de lixo durante todo o percurso, sendo que a permanência dos funcionários nos
estribos se faz necessária somente no deslocamento de grandes distâncias.
Na prescrição do serviço não estão previstas paradas para separação de
materiais recicláveis, triagem e seleção de materiais oriundos do lixo ou métodos
diferenciados de coleta, como a metodologia chamada de redução ou bandeirada, a
qual, segundo Vasconcellos (2008), consiste em um método de coleta desenvolvido
pelos próprios trabalhadores e caracteriza-se pela atividade preparatória à coleta de
lixo, por meio da formação de “estoques temporários” que proporcionam a redução
dos pontos de parada dos caminhões para coleta de lixo, além de propiciar outros
benefícios para a regulação da carga de trabalho pela equipe.
O desenho esquemático do trabalho prescrito da coleta de resíduos sólidos,
demonstrado a seguir, foi desenvolvido por Vasconcellos, et al (2008), e explica as
etapas teoricamente desenvolvidas durante a coleta, a letra “V” no fluxograma
representa os momentos em que o coletor faz a compactação do lixo ou realiza
pausas.
37
Figura 02 – Fluxograma do trabalho prescrito de coleta de resíduos sólidos
4.3. Aplicação da Ferramenta SPM – Identificação de problemas e
proposição de soluções das inconformidades do trabalho real
Após a análise e descrição do trabalho prescrito, partiu-se para as
observações práticas da atividade, confrontando a maneira como o trabalho é
executado com as práticas adotadas na realidade.
Nesta etapa, através das observações e registros, foram identificados os
principais problemas ergonômicos da atividade realizada diariamente, portanto,
abaixo estão enumeradas tais inconformidades e nos itens subsequentes
desenvolveram-se sugestões de melhorias, enquadramentos legais e demais
justificativas pertinentes, conforme a proposta da metodologia adotada.
4.3.1. Inconformidade 01 – Excesso de horas extras
Descrição do Problema: Através da análise das planilhas de controle dos
horários de saída e chegada dos caminhões de coleta, observou-se que todos os
funcionários envolvidos na coleta de lixo realizam horas extras diariamente, sendo
38
que, segundo os dados fornecidos pela SURG, cada coletor de resíduos sólidos
trabalha em média 2,69 horas extras por dia.
Impacto: O excesso de horas trabalhadas pode ocasionar diversos
problemas de saúde nos trabalhadores, desde a fadiga muscular resultante do
esforço físico, até problemas de ordem psicológica, resultantes da ausência de
horas de descanso e acúmulo de estresse.
Averiguação da Causa-Raiz: O principal motivo para a realização das horas
extras excessivas é a elevada demanda de coleta de resíduos no município e o
número insuficiente de caminhões de coleta, visto que, segundo informações dos
próprios funcionários, existem roteiros que necessitam de até 12 horas para serem
completados. Além disso, de acordo com as entrevistas, os motoristas retornam à
garagem somente quando o roteiro for concluído e não quando o limite de horas
trabalhadas for cumprido.
Oportunidade de Melhoria: Para este caso, a solução imediata seria de
ordem organizacional, através da aquisição de novos equipamentos e contratação
de novos funcionários para suprir a necessidade de mão de obra, além disso, deve-
se estudar a possibilidade de diminuição dos roteiros de coleta através do aumento
da frequência semanal da mesma.
Justificativa: Através desta medida, é possível se realizar a diminuição e
readequação dos roteiros de coleta mais críticos, diminuindo a distância percorrida
pelos caminhões, a quantidade de resíduos coletada por cada funcionário e,
consequentemente, o tempo despendido diariamente para realização da atividade.
Enquadramento Legal e Normativo: O fato apresentado se enquadra como
uma inconformidade legal, visto que, segundo a Consolidação das Leis do Trabalho,
em seu artigo n° 59, institui que a jornada normal de trabalho pode ser acrescida de
horas suplementares, entretanto, em número não excedente de duas.
4.3.2. Inconformidade 02 – Excesso de esforço físico
Descrição do Problema: Através de entrevistas e do acompanhamento da
atividade realizada, observou-se que os coletores queixam-se constantemente de
cansaço físico, falta de ar, câimbras e lesões resultantes das grandes distâncias
percorridas em caminhada, além de tempo insuficiente para descanso, sendo que,
39
também foi observado que, em dias de calor, os trabalhadores tendem a transpirar
excessivamente e demonstram sintomas de exaustão física.
Impacto: A exaustão física diária dos coletores pode gerar consequências
graves em longo prazo, como surgimento de doenças crônicas em articulações e
ligamentos, lesões musculares graves e, em casos de esforço físico excessivo e
altas temperaturas, pode causar desidratação e até morte súbita, em casos
extremos.
Além disso, como constatado também por Ferreira (1996) em estudo
realizado junto aos coletores de lixo da cidade do Rio de Janeiro, o esforço físico
para executar a tarefa de coleta de lixo, combinado com a elevada temperatura
ambiente nas ruas provoca um excesso de sudorese que mantém a umidade
constante dos pés dentro dos calçados, assim como ocorre nas mãos dentro das
luvas, podendo causar dermatoses e reações alérgicas.
Averiguação da Causa-Raiz: A principal causa para o problema identificado
é a elevada quantidade de resíduos que cada coletor deve recolher diariamente,
além da excessiva distância percorrida em alguns roteiros de coleta de lixo, associa-
se ainda ao fato dos coletores estarem expostos à radiação solar nos horários mais
quentes do dia, mesmo em épocas de verão, contribuindo para a sudorese
excessiva e desidratação.
Oportunidade de Melhoria: A oportunidade de melhoria para este problema
assemelha-se à da primeira inconformidade descrita, visto que também se trata de
um problema de ordem organizacional, desta feita, a solução seria a contratação de
mais coletores para suprir a elevada demanda de coleta, além de se estudar a
possibilidade de criar novos roteiros, a fim de diminuir as distâncias percorridas
pelos roteiros atuais e, consequentemente, reduzir a quantidade de lixo coletado por
trabalhador.
4.3.3. Inconformidade 03 – Posturas inadequadas
Descrição do Problema: Visualizou-se que durante a jornada de trabalho os
coletores adotam, por diversas vezes durante o dia, posturas inadequadas para o
levantamento e transporte de cargas, sendo na coleta de sacos de lixo do chão ou
em alturas elevadas e de difícil acesso.
40
Impacto: O levantamento de cargas adotando-se posturas inadequadas pode
ocasionar lesões nos trabalhadores, principalmente na coluna vertebral e na região
lombar. Através das entrevistas observou-se que vários coletores queixam-se de
dores nas costas, principalmente na região lombar, esta dor pode estar associada ao
aparecimento de lombalgias.
Segundo Pataro (2011), no território brasileiro, dentre as Doenças
Relacionadas ao Trabalho (DRT), a lombalgia encontra-se descrita no grupo das
Dorsalgias, publicada na Portaria do Ministério da Saúde n° 1.339/1999, além disso
o autor cita que as lesões que atingem a região lombar podem advir de um trauma
agudo ou de um trauma acumulativo resultante da exposição repetida ou prolongada
a determinados fatores físicos, como a adoção de posturas inadequadas.
Identificação da Causa Raiz: De acordo com um estudo conduzido por
Pataro (2011) para identificação de prevalência de lombalgia nos trabalhadores da
limpeza urbana, o trabalho executado pelos coletores de lixo possui diversos fatores
associados à lombalgia, sobretudo aqueles relacionados às demandas físicas e
psicossociais no trabalho, visto que, durante a jornada ocorrem diversos movimentos
que envolvem flexão e rotação do tronco.
Durante o acompanhamento da atividade prática, observou-se a necessidade
da execução de diversos movimentos de flexão e torção de coluna, além disso,
constou-se também que diversos movimentos realizados de maneira prejudicial ao
trabalhador poderiam ser evitados através da adoção de posturas adequadas,
portanto, considerou-se a causa raiz deste problema a prática de levantamentos e
transportes de carga adotando-se posturas indevidas e perigosas.
Oportunidade de Melhoria: Uma solução imediata que pode surtir efeito
prático é a promoção de treinamentos e palestras específicos para a área
biomecânica dos trabalhadores, demonstrando as posturas mais adequadas para
realização do trabalho e as consequências que os trabalhadores podem sofrer caso
continuem adotando práticas incorretas.
Além disso, campanhas de conscientização junto à população, sobre o
correto acondicionamento do lixo e sobre os benefícios desta prática sobre a saúde
dos coletores podem surtir efeito, visto que, várias residências acondicionam os
resíduos de maneira prejudicial ao trabalhador da limpeza pública, mantendo os
sacos plásticos em lugares de difícil acesso ou com cargas excessivas, forçando os
coletores a adotarem posturas arriscadas à saúde.
41
Outra oportunidade de melhoria seria a adoção de paradas obrigatórias por
tempo de trabalho e adoção de práticas de ginástica laboral e alongamentos para os
funcionários.
Justificativa: As soluções propostas se justificam devido à ausência de
treinamento e de informação sobre o tema por parte dos trabalhadores, além disso,
campanhas desta natureza junto à população ainda não foram realizadas no
município, sendo que, diversos moradores não devem conhecer o método de
acondicionamento de lixo mais favorável ao coletor.
A adoção de pausas obrigatórias e métodos de ginástica laboral seria
passível de ser aplicada, pois, atualmente, não existem tais práticas na coleta de lixo
municipal e estas metodologias se mostram eficazes em casos de elevado esforço
físico durante a jornada de trabalho.
Enquadramento Legal e Normativo: No item 2.2. da NR-17, consta que não
deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, neste caso sacos
de lixo, por um trabalhador cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou
sua segurança.
4.3.4. Inconformidade 04 – Falta de treinamento
Descrição do Problema: Por meio das entrevistas realizadas tanto com os
trabalhadores, quanto com os gestores da coleta de lixo de Guarapuava, constatou-
se que os funcionários não recebem o treinamento adequado para exercer a função,
seja este abordando quais os procedimentos adequados para a realização da tarefa
ou explicando sobre os diversos riscos ocupacionais do posto de trabalho.
Impacto: A falta de treinamento é uma das principais causas de acidentes de
trabalho, além disso, o fato dos trabalhadores da coleta não estarem cientes dos
riscos desta atividade, pode gerar um descaso quanto ao uso correto dos
equipamentos de proteção individual, adoção de posturas adequadas, atenção para
as ações que possuem riscos de acidentes, entre outros.
Identificação da Causa Raiz: No planejamento da gestão da coleta de lixo
não existe um programa de treinamento dos funcionários, esta deficiência de caráter
organizacional é a principal causa da ausência de treinamento para os antigos e
novos funcionários da coleta.
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Oportunidade de Melhoria: A principal oportunidade de melhoria para esta
inconformidade é a adoção, junto ao técnico de segurança do trabalho da SURG, de
um programa de treinamento dos funcionários, contendo palestras periódicas para
os funcionários antigos e um treinamento completo adimensional. Estes
treinamentos devem conter aulas teóricas e práticas, expondo os corretos
procedimentos de execução da tarefa, correto uso dos equipamentos de proteção
individual, além de expor todos os riscos inerentes à atividade exercida, sejam eles
de caratês físico, químico, biológico, ergonômico ou de acidentes.
Justificativa: Esta oportunidade se justifica na ausência de um programa
como este na unidade estudada, além de cumprir uma exigência legal, contida nas
normas regulamentadoras do ministério do trabalho.
Enquadramento Legal e Normativo: A NR-17, em seu item 2.3, define que
todo trabalhador designado para o transporte manual de cargas, que não as leves,
deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de
trabalho que deverão ser utilizados, com o objetivo de salvaguardar a sua saúde e
prevenir acidentes.
4.3.5. Inconformidade 05 – Falta de EPI’s adequados e uso incorreto
Descrição do Problema: Durante as entrevistas, os coletores queixaram-se
dos equipamentos de segurança individual fornecidos a eles, alegando que alguns
equipamentos são inadequados para a função, são desconfortáveis e estão em
inadequado estado de conservação.
No acompanhamento da atividade realizada, observou-se que os coletores
dispõe de luvas de segurança, uniforme de identificação e calçados de segurança,
entretanto, observou-se a ausência de máscaras de proteção, filtro solar, boné ou
chapéu de proteção e óculos escuros para os turnos diurnos.
Além disso, os trabalhadores, muitas vezes não utilizam o EPI de maneira
correta ou durante todo o percurso, alegando desconforto ou falta de treinamento
para o uso correto dos equipamentos.
Impacto: A ausência de equipamentos de proteção individual adequados
pode ocasionar lesões nos trabalhadores, sejam bolhas ou dermatoses nos pés
oriundas de calçados inadequados para a função, cortes e arranhões nas mão,
provenientes da ausência de luvas e da presença de materiais perfuro-cortantes no
43
lixo coletado, queimaduras na pele originadas da exposição constante aos raios
solares, e até, em casos extremos, incidência de câncer de pele nos trabalhadores.
Identificação da Causa-Raiz: O principal motivo para a ausência de alguns
dos EPI’S necessários para os trabalhadores é a falta de planejamento e
investimento dos gestores da coleta de lixo para este assunto, além disso, a falta de
treinamento para os funcionários, sobre o uso correto destes equipamentos também
acarreta de uso indevido dos materiais fornecidos.
Oportunidade de Melhoria: Sugere-se que os administradores da coleta de
lixo de Guarapuava mantenham uma planilha de controle dos equipamentos de
proteção necessários a serem adquiridos, prevendo-se trocas periódicas dos
equipamentos danificados e, além disso, deve-se prever palestras e cursos
específicos sobre o uso adequado dos equipamentos, expondo as responsabilidade
do empregado e do empregador, além de instruir sobre a importância do uso destes
materiais.
Justificativa: A disponibilização de todos os equipamentos de proteção
individual adequados aos trabalhadores está previsto na Norma Regulamentadora
06 e, a adoção e planilhas de controle e de treinamentos para o correto uso destes
equipamentos se fazem necessárias visto que atualmente tais medidas inexistem na
coleta de resíduos municipal e são de grande importância para a administração
adequada do setor de segurança do trabalho da empresa.
Enquadramento Legal e Normativo: A NR-06 da Portaria n° 3214 do
Ministério do Trabalho e Emprego dispõe sobre os equipamentos de proteção
individual e, em seu item 6.3 define que a empresa é obrigada a fornecer aos
empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco existente, em perfeito estado de
conservação e funcionamento.
4.3.6. Inconformidade 06 – Após afastamentos os coletores retornam ao
ritmo normal
Descrição do Problema: Após a ocorrência de um afastamento de algum
funcionário da coleta, por motivo de acidente de trabalho, doenças ou em casos de
férias, não existe a preocupação de fazer com que este indivíduo retorne
gradativamente à sua função, o que foi observado e relatado é que o trabalhador
deve retornar às atividades normais logo no primeiro dia útil.
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Impacto: Por se tratar de uma atividade que exige elevado grau de esforço
físico, o retorno súbito à realização da tarefa pode causar lesões e desconforto no
trabalhador, sendo que, em casos extremos, pode gerar problemas de ordem arterial
ou cardíaca.
Identificação da Causa-Raiz: O principal motivo da ocorrência deste
problema foi a falta de atenção despendida pela administração da coleta para este
assunto ou até mesmo o desconhecimento sobre o fato, visto que inexistem
registros de retornos gradativos dos funcionários, ou planilhas contendo
programações de retorno parcial dos funcionários afastados ou em férias.
Oportunidade de Melhoria: Neste caso, a oportunidade de melhoria seria de
ordem administrativa, tendo em vista a implantação de um programa de retorno
gradativo à função, para casos de afastamentos dos coletores de lixo, desta
maneira, pode-se criar o procedimento interno que descreva como deve ser
realizado o retorno gradativo do funcionário ao seu trabalho habitual, pode-se prever
que no retorno do trabalhador afastado o mesmo realize atividade de menor esforço
físico e trabalhos em meio período, até se constatar as plenas condições de trabalho
desta pessoa.
Justificativa: Esta medida se justifica devido à ausência de planilhas e
orientações sobre o assunto dentro da administração da coleta de resíduos, desta
forma, a adoção desta oportunidade de melhoria pode evitar os riscos de lesões ou
acidentes de trabalho causados pelos funcionários que retornam de um período de
grande pausa.
Enquadramento Legal e Normativo: A NR-17, em seu item 6.3, na letra c,
dispõe que quando do retorno ao trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual
ou superior a 15 dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno gradativo
aos níveis de produção vigentes na época anterior ao afastamento.
4.3.7. Inconformidade 07 – Grandes distâncias percorridas a pé devido
ao método de “redução”
Descrição do Problema: Em Guarapuava, foi observado que os coletores de
lixo muitas vezes realizam o trabalho através do método de “redução”. Como
descrito por VASCONCELLOS, et al (2008), este “método de trabalho”, o qual é
desenvolvido pelos próprios coletores, caracteriza-se pela atividade preparatória à
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coleta de lixo, por meio da formação de “estoques temporários” que proporcionam a
redução dos pontos de parada dos caminhões para coleta de lixo, além de propiciar
outros benefícios para a regulação da carga de trabalho pela equipe.
Entretanto, como foi descrito anteriormente na caracterização do trabalho
prescrito, não existe nenhuma orientação oficial aos coletores para realizar tal
prática, sendo que ela é repreendida pelos gestores, deste modo, a utilização deste
método é realizada de maneira não autorizada e não é prevista no trabalho prescrito
da atividade.
Impacto: A adoção desta técnica de coleta faz com que os trabalhadores
percorram grandes distâncias a pé, longe do caminhão de coleta, ocasionando
esforço físico elevado, aumento da sudorese e elevação do risco de lesões nos
membros inferiores. Além disso, durante o acompanhamento do percurso, observou-
se que após formadas as pilhas de resíduos pelo trabalhador que percorre o trajeto
a pé, ocorre a atração de cães até a pilha, os quais rompem os sacos de lixo e
espalham os resíduos pela rua, gerando reclamações dos moradores e risco de
ataques de cães aos coletores.
Identificação da Causa-Raiz: A principal causa desta não conformidade é a
falta de fiscalização da administração da coleta de lixo e a ausência de pontos
estratégicos de destinação de resíduos no município.
Oportunidade de Melhoria: A administração da coleta pode criar
ferramentas para repreender os coletores que forem observados realizando a prática
de redução, ou criar um procedimento operacional padrão para regular tal
ferramenta de trabalho, além de, em conjunto com a Prefeitura Municipal, estudar a
instalação de pontos estratégicos distribuídos pela cidade para a população destinar
os resíduos e facilitar o trabalho da coleta, reduzindo custos, tempo de execução da
tarefa e o esforço físico dos coletores.
Justificativa: As adequações citadas têm por objetivo aproximar o trabalho
real do trabalho prescrito previamente, a fim de evitar acidentes ocorridos por
ingerência ou por ações não previstas pela administração da coleta de resíduos.
Enquadramento Legal e Normativo: A NR-17, no item 6.1, descreve que a
organização do trabalho deve ser adequada às características psicofisiológicas dos
trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.
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5. CONCLUSÕES
Após a análise dos resultados obtidos com este trabalho, conclui-se que a
implantação da ferramenta SPM para análise ergonômica se mostrou eficiente para
o caso estudado, visto que através dela foi possível identificar as falhas do trabalho
executado pelos coletores de resíduos, além de possibilitar a proposta de melhorias
passíveis de aplicação.
A partir deste trabalho, observou-se que existem diversas falhas de ordem
organizacional e gerencial no trabalho dos coletores de resíduos sólidos de
Guarapuava, além disso, através desta ferramenta foi possível propor diversas
medidas corretivas analisando-se as causas-raiz dos problemas e o impacto destas
falhas sobre os trabalhadores.
Portanto, através dos resultados obtidos, conclui-se que a aplicação da
ferramenta SPM neste caso específico foi satisfatória, visto que foi capaz de detectar
falhas e efeitos não analisados em outros trabalhos realizados junto ao setor de
coleta de resíduos de Guarapuava.
Finalmente, ressalta-se que existe a necessidade, principalmente no Estado
do Paraná, de se realizar estudos aprofundados na área ergonômica e nos demais
setores da Engenharia de Segurança do Trabalho, sobre as condições ocupacionais
a que os coletores de resíduos sólidos urbanos estão expostos, visto que através da
pesquisa bibliográfica foi possível observar a carência de estudos voltados para este
setor nos municípios paranaenses.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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