1
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
LUCIANA LINHARES KINTOPP
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CURITIBA - Pr
2006
2
LUCIANA LINHARES KINTOPP
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP, como requisito parcial para obtenção do título de
Médica Veterinária. Orientadora e Supervisora: Profª. MSc Carmen
Lucia Scortecci Hilst Professora Orientadora:Profª.Dra.Neide Mariko
Tanaka
CURITIBA - Pr 2006
3
LUCIANA LINHARES KINTOPP
DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DOS FELINOS
ASSOCIADA À OBSTRUÇÃO URETRAL POR TAMPÕES URETRAIS
E URÓLITOS
Monografia de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP , como requisito parcial para obtenção do título de
Médica Veterinária. Professora Orientadora :Profª. Dra. Neide Mariko
Tanaka
CURITIBA - Pr 2006
4
TERMO DE APROVAÇÃO
Luciana Linhares Kintopp
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C)
Esse trabalho de conclusão de curso foi julgado e aprovado para obtenção do título (grau) de Médico
Veterinário no Programa (Curso) de Medicna Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, 24 de novembro de 2006
_________________________________________
Medicina Veterinária
Universidade Tuiuti do Paraná
_____________________________________
Orientadora: Profª. Dra. Neide Mariko Tanaka
Universidade Tuiuti do Paraná
_____________________________________
Profª. Dra. Simone Monteiro
Universidade Tuiuti do Paraná
_____________________________________
Prof. Dr. Ricardo Maia
Universidade Tuiuti do Paraná
5
Reitor
Luiz Guilherme Rangel Santos
Pró-Reitor Administrativo
Carlos Eduardo Rangel Santos
Pró-Reitora Acadêmica
Carmen Luiza da Silva
Pró-Reitor de Planejamento
Afonso Celso Rangel Santos
Secretária Geral
Bruno Carneiro da Cunha Diniz
Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Sa úde
Prof. João Henrique Faryniuk
Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária
Profª. Neide Mariko Tanaka
Coordenador de Estágio Curricular do Curso de Medic ina Veterinária
Profª. Elza Maria Galvão Ciffoni
CAMPUS CHAMPAGNAT
Rua Marcelino Champagnat, 505
CEP 80710- 250 – Mercês
Fone: (41) 3331-7803
6
APRESENTAÇÃO
Este trabalho de conclusão de curso é composto por um relatório de estágio
realizado no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina (UEL) no
período de 01 de agosto a 29 de setembro de 2006 e também uma monografia com
o tema Doença do trato urinário inferior dos felinos associada a obstrução uretral por
tampões uretrais e urólitos, que se encontra logo após a descrição das atividades
desenvolvidas no estágio curricular obrigatório.
7
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me lembrar do poder que possuo, por me dar saúde e
disposição para alcançar todos os meus objetivos, e pela pessoa que sou.
Aos meus pais: Walter João Tatarem Kintopp e Lindaura Linhares Kintopp,
sempre acreditando na minha pessoa, me apoiando, me ouvindo, orientando e
incentivando.
Ao meu irmão e principalmente a minha cunhada, que sempre me incentivou
e acreditou em mim.
Às minhas grandes amigas Daniella Ribeiro da Cunha e Cândi Luzia Krul,
que muitas vezes me fizeram acreditar que era possível, e que compartilhei toda a
minha vida acadêmica ao lado delas e grande parte da minha vida particular.
À minha amiga e exímia orientadora Neide Mariko Tanaka, pela orientação
precisa, apoio e estímulo, por ter me viabilizado escolher os meus próprios caminhos
e neles ter trilhado comigo.
Aos animais da minha vida, in memoriam: Teco, Zelda, Wine, minha querida
Wendy, e aqueles que ainda vivem comigo Baco, Colé , e o meu raio de luz, sempre
ao meu lado mesmo em silêncio minha amada gata Ágata, obrigado por me
trazerem para esta profissão.
Aos proprietários que permitiram que seus animais participassem do período
do meu estudo.
À todos os professores da Universidade Tuiuti do Paraná, pelo incentivo e
apoio.
E a todos que contribuíram de forma direta ou indireta para a realização
deste trabalho.
8
Somos aprendizes de uma arte na qual ninguém se torna mestre.
Ernest Hemingway (1898-1961)
9
SUMÁRIO
RESUMO 1
1. INTRODUÇÃO 2
2. FUNÇÃO URETRAL NORMAL 3
2.1 ANATOMIA DA URETRA
2.2 FISIOLOGIA DA URETRA
2.3 NEUROFISIOLOGIA DA URETRA
3. DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DOS FELINOS (D TUIF)
3.1 ETIOLOGIA DA DTUIF
3.2 EPIDEMIOLOGIA DA DTUIF
3.2.1 Fatores predisponentes
3.2.1.1 Idade
3.2.1.2 Sexo
3.2.1.3 Raça
3.2.1.4 Estilo de vida
3.2.1.5 Dieta
3.2.1.6 Freqüência de refeições
4. CRISTAIS DE ESTRUVITA
5. TAMPÕES URETRAIS
5.1 COMPOSIÇÃO DOS TAMPÕES URETRAIS
5.1.1 Composição da matriz amorfa dos tampões
5.1.2 Composição mineral dos tampões
5.2 TAMPÕES URETRAIS DE CRISTAIS DE ESTRUVITA
5.3 LOCALIZAÇÃO DOS TAMPÕES URETRAIS
6. URÓLITOS
6.1 URÓLITOS DE ESTRUVITA
6.1.1 Tipos de urólitos de estruvita
6.2 URÓLITOS DE OXALATO DE CÁLCIO
6.2.1 Fatores predisponentes
6.2.2 Fatores de risco
6.3 OXALATO DE CÁLCIO X ESTRUVITA
3
4
5
5
5
6
7
7
7
7
7
8
8
8
9
9
10
10
11
13
13
14
15
16
17
18
18
10
7. OBSTRUÇÃO URETRAL
7.1 ETIOLOGIA
7.2 EPIDEMIOLOGIA
7.3 HISTÓRICO E SINAIS CLÍNICOS
7.4 DIAGNÓSTICO DA OBSTRUÇÃO URETRAL
7.4.1 Diagnóstico por imagem
7.4.2 Exames laboratoriais
7.4.2.1 Urinálise
7.4.2.2 Urocultura
7.4.2.3 Exames bioquímicos e hemograma
7.4.2.4 Análise dos urólitos
7.5 TRATAMENTO DA OBSTRUÇÃO URETRAL
7.5.1 Correção das alterações sistêmicas
7.5.1.1 Hipotermia
7.5.1.2 Azotemia pós-renal
7.5.1.3 Hipercaliemia
7.5.1.4 Hipocaliemia
7.5.1.5 Acidose metabólica
7.5.1.6 Hipocalcemia ionizada
7.5.1.7 Hipoglicemia
7.5.1.8 Catabolismo
7.5.2 Contenção do paciente
7.5.3 Desobstrução uretral
7.5.3.1 Massagem suave da uretra peniana
7.5.3.2 Compressão manual da bexiga
7.5.3.3 Cistocentese
7.5.3.4 Desobstrução por propulsão hídrica
7.5.3.5 Cateter de espera
7.5.4 Procedimentos cirúrgicos
7.5.4.1 uretrostomia perineal
7.5.4.2 Uretrostomia pré-púbica
7.5.4.3 Uretrostomia subpúbica
20
20
21
21
23
23
25
25
25
26
26
27
27
27
27
28
29
30
30
31
31
31
32
33
33
33
34
36
37
37
40
40
11
7.6 PREVENÇÃO DA OBSTRUÇÃO URETRAL
8. COMCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
40
42
43
12
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Disposição da uretra do gato macho
Figura 2. Cristais de estruvita
Figura 3. Composição mineral dos tampões felinos, 2005
Figura 4. Distribuição dos tampões felinos de 1981 – 2005
Figuras 5 e 6. Urólitos de estruvita
Figuras 7, 8, 9 e 10. Urólitos de oxalato de cálcio
Figura 11. Composição dos urólitos felinos
Figura 12. Distribuição dos urólitos felinos de 1981 – 2005
Figura 13. Locais corretos e incorretos de inserção da agulha dentro da
bexiga
Figura 14. Exposição do pênis
Figura 15. Soluções de irrigação
Figura 16. Posição do animal na mesa operatória
Figura 17. Preparação do animal na mesa operatória
Figura 18. Liberação do pênis
Figura 19. Incisão da uretra
4
9
12
12
15
17
19
20
34
36
36
38
38
39
39
13
DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DOS FELINOS ASSOC IADA À
OBSTRUÇÃO URETRAL POR TAMPÕES URETRAIS E URÓLITOS
RESUMO
O trato urinário inferior dos felinos, que consiste em bexiga e uretra, está
sujeito à ocorrência de várias enfermidades, das quais merece grande destaque a
obstrução uretral, causada pela formação de tampões uretrais e urólitos pelo
acúmulo de cristais de estruvita e oxalato de cálcio e mucosecreções, em várias
seções da uretra, podendo inclusive ter um comprometimento sistêmico, onde o
prognóstico poderá ser bastante desfavorável. Sendo assim, este trabalho tem por
objetivo apresentar alguns importantes aspectos relacionados à ocorrência,
diagnóstico, prevenção e tratamentos da obstrução uretral em felinos machos.
Palavras-chave: Obstrução uretral, tampões uretrais, urólitos, felinos.
14
1. INTRODUÇÃO
A principal causa de obstrução urinária nos felinos domésticos é a obstrução
uretral secundária à doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF), que já foi
considerada por alguns autores como a enfermidade mais comum nos gatos.
(SESHANDRI, 2002).
A associação de achados clínicos e epidemiológicos, associados ao
emprego de exames complementares, torna possível diferenciar a DTUIF de outras
enfermidades que acometem o trato urinário inferior dos felinos, assim como prever
um tratamento diferenciado para gatos obstruídos. (SILVA, 2005).
A interrupção do fluxo urinário pode ser em virtude da obstrução física,
sendo as causas mais comuns os urólitos e os tampões uretrais. Tal interrupção leva
a um efeito prejudicial sobre a função renal, fazendo com que as condutas
terapêuticas sejam de caráter emergencial.
As metas da terapia de gatos com obstrução uretral são a restauração do
fluxo uretral normal e a correção das anormalidades bioquímicas e clínicas que se
desenvolvem. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
15
2. FUNÇÃO URETRAL NORMAL
2.1 ANATOMIA DA URETRA
O trato urinário inferior dos felinos é composto da vesícula (bexiga) e da
uretra. A vesícula urinária é dividida em três porções: ápice que constitui a parte
cranial, o corpo localizado entre o ápice e o colo; e o colo localizado entre as
junções uretrovesicais e vesicouretral.
A uretra dos gatos machos é dividida anatomicamente em quatro
segmentos: uretra pré-prostática, uretra prostática, uretra pós-prostática e uretra
peniana. A uretra pré-ptostática estende-se desde o colo da vesícula urinária até a
próstata A uretra prostática localiza-se na região correspondente à glândula
prostática até as glândulas bulbouretrais, e a uretra peniana situa-se entre as
glândulas bulbouretrais e a extremidade peniana, como pode ser observada na
figura 1. O diâmetro uretral interno é de 2,4 milímetros na junção vesicouretral, 2,0
milímetro na porção pré-prostática, 2,3 milímetros na porção pós-prostática, 1,3
milímetros na altura das glândulas bulbouretrais e 0,7 milímetros na porção peniana,
o que justifica a maior incidência de obstrução nesta região. (CORGOZINHO e
SOUZA, 2003).
A uretra das fêmeas é um conduto que une a bexiga urinária com a vagina,
este conduto tem um comprimento muito menor que nos machos e seu diâmetro é
constante, por estas características a apresentação da DTUIF na sua forma
obstrutiva é pouco freqüente, e corresponde à parte da uretra do macho craniana à
próstata. A mucosa da uretra de machos e fêmeas é predominantemente formada
por epitélio de transição; gradualmente o epitélio transforma-se num epitélio
16
pavimentoso estratificado nas proximidades do orifício uretral externo. (HOSGOOD e
HEDLUND, 1996).
FIGURA 1 : DISPOSIÇÃO DA URETRA DO GATO MACHO
1. Uretra pélvica
2. Testículo
3. Parte esponjosa da
uretra
4. Glande
5. Ducto deferente
FONTE: WWW.PUBLICATIONS.ROYALCANIN.COM, 2006
O ápice e o corpo vesical são constituídos de musculatura lisa, formando o
músculo detrusor que é responsável pelo esvaziamento vesical. A musculatura lisa
localizada no colo vesical e na uretra pré-prostática forma o esfíncter uretral interno.
O músculo uretralis envolve a uretra pós-prostática constituindo o esfíncter uretral
externo. A uretra prostática é a região de transição entre os dois esfíncteres.
(CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
2.2 FISIOLOGIA DA URETRA
As principais funções da uretra são (1) a manutenção da continência pelo
fornecimento da resistência ao fluxo urinário no estado de não-eliminação, (2) a
possibilitação da passagem não obstruída da urina durante as eliminações urinárias,
e (3) a contribuição às defesas normais do hospedeiro contra a infecção do trato
urinário. (HOSGOOD e HEDLUND, 1996).
17
A resistência ao fluxo urinário é efetuada pela musculatura lisa da uretra pré-
prostática, pelas musculaturas lisa e estriada da uretra prostática e pela musculatura
estriada da uretra pós-prostática e peniana.
A eliminação normal da urina requer o relaxamento do esfíncter uretral
externo e interno e a contração do músculo detrusor.(CORGOZINHO e SOUZA,
2003).
2.3 NEUROFISIOLOGIA DA URETRA
A inervação simpática da vesícula urinária e da uretra é efetuada pelo nervo
hipogástrico originado dos segmentos da medula espinhal entre as vértebras L1 e
L4. As inervações parassimpática colinérgica é realizada pelo nervo pélvico que
emerge das raízes nervosas entre os segmentos das vértebras S1 e S3. O nervo
pélvico atua sobre o músculo detrusor estimulando a contração vesical. O nervo
pudendo é originado das raízes nervosas entre S1 e S3 e é responsável pela
inervação somática da uretra e pela inervação do esfíncter uretral externo.
A continência urinária é denominada fase simpática. A micção é controlada
pela inervação parassimpática. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
3. DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR DOS FELINOS – DTUIF
3.1 ETIOLOGIA DA DTUIF
A DTUIF pode ser causada por uma única causa ou por uma combinação
delas. Já foram motivos de estudos etiológicos alguns tipos de vírus, bactérias,
18
traumas, neoplasias, doenças uretrais tampões uretrais e urolitíases, embora, na
maioria das vezes, não tenha sido possível identificar sua origem. (BUFFINGTON,
1997). Estes casos com origem desconhecida são classificados como idiopáticos.
(SHAW e IHLE, 1999). Da mesma forma, Osborne et al, (2004) diz, se a causa da
DTUIF felina não puder ser identificada após avaliação apropriada, sugere-se o
nome de doença idiopática do trato urinário inferior dos felinos.
Os pacientes felinos acometidos pela DTUIF podem ser classificados em
dois grupos principais, dos quais o primeiro é composto por pacientes em que o
processo inflamatório das vias urinárias é acompanhado da presença de minerais
(cristais e/ou cálculos), e o segundo, nos quais agentes infecciosos (bacterianos e
virais), trauma, neoplasias de bexiga e uretra ou ainda outros fatores não elucidados
podem estar envolvidos no desenvolvimento da DTUIF. (SENIOR, 1993).
3.2 EPIDEMIOLOGIA DA DTUIF
Estudos norteamericanos e britânicos relatados na década d 1970 e início de
1980 estimaram que a incidência global de DTUIF felina é de 0,5% a 10% ao ano.
(OSBORNE et al, 2004).
Um estudo brasileiro de 50 felinos com DTUIF comprovam achados
referentes à incidência da doença, uma vez que 88% dos animais avaliados eram
machos, 92% recebiam ração seca e 52% apresentaram quadros recidivantes da
doença. Setenta e dois por cento apresentavam obstrução uretral, sendo todos
machos. (RECHE JR. et al., 1998).
19
3.2.1 Fatores predisponentes
3.2.1.1 Idade
Os gatos adultos jovens de 2 a 6 anos de idade (variação entre 1 a 10 anos)
são mais comumentes afetados, é raro acometer gatos com menos de 12 meses.
(SHAW e IHLE, 1999).
3.2.1.2 Sexo
Os machos e fêmeas são igualmente afetados, mas os machos são mais
suscetíveis à obstrução uretral. Os gatos castrados, de ambos os sexos, são mais
freqüentemente afetados do que os não-castrados. (SHAW e IHLE, 1999).
3.2.1.3 Raça
Há uma maior freqüência em gatos Persas e menor em gatos Siameses.
(SHAW e IHLE, 1999).
3.2.1.4 Estilo de vida
Os gatos obesos sedentários e confinados têm maior risco. Tem sido
registrado um aumento da ocorrência no final do outono e no inverno. O estresse
pode ser um fator em alguns gatos, especialmente se alteram a ingestão de comida
e água. (SHAW e IHLE, 1999).
20
3.2.1.5 Dieta
A comida de gatos parece aumentar o risco, possivelmente por seu teor
mais alto em magnésio, pelo aumento da ingesta devido à densidade calórica e pela
digestibilidade mais baixa, ou por indução de menor volume urinário (devido ao
aumento de perda de água fecal). A urina concentrada favorece a supersaturação
dos minerais e subseqüentemente precipitação. (SHAW e IHLE, 1999).
3.2.1.6 Freqüência de refeições
A alimentação freqüente ou ad libitum resulta em fluxos urinários pós-
prandiais alcalinos mais regulares, que podem causar um aumento sustentado no
pH urinário e conseqüente precipitação de cristais de estruvita. Os cristais de
estruvita podem levar à formação de tampões uretrais ou de urólitos. (SHAW e IHLE,
1999).
4. CRISTAIS DE ESTRUVITA
Os cristais de estruvita são uma das principais causas de afecções do trato
urinário inferior dos felinos, sendo um complexo mineral (fosfato-amônico-
magnésico), cuja solubilidade depende das concentrações de Mg +2, NH4+e PO4 -3.
(FUNABA et al, 2001). (Figura 2).
De acordo com O’Flaherty (2006), a formação, crescimento e dissolução de
cristais de estruvita na urina depende da atividade dos constituintes da estruvita e da
atividade do soluto na solução. A cristalização de estruvita na urina pode ser assim
21
considerada: zona alta de saturação: os cristais se formam espontaneamente e
desenvolvem-se rapidamente, mas há presença de cristais pré-formados; zona de
supersaturação: não há formação de cristais espontaneamente, mas os cristais pré-
formados não se dissolvem; zona de baixa saturação: os cristais não se formam e os
cristais pré-formados se dissolvem.
FIGURA 2: CRISTAIS DE ESTRUVITA
FONTE: WWW.GETTOKNOWHILLS.COM, 2006
5. TAMPÕES URETRAIS
5.1 COMPOSIÇÃO DOS TAMPÕES URETRAIS
Segundo Osborne et al (1997), os tampões uretrais são objetos de qualquer
composição que fecham ou obstruam as vias de passagem ou ductos.
A formação de tampões uretrais pode ocorrer na DTUIF por qualquer causa.
Os tampões são geralmente formados pela associação de uma matriz protéica e
uma cristalina, apesar de existirem os de matriz única ou amorfa (HORTA, 2006).
A ocorrência concomitante de inflamação do trato urinário e cristalúria
persistente podem levar à formação de tampões de matriz cristalina, especialmente
de felinos machos. Este processo de formação dos tampões uretrais de matriz
cristalina também pode ser comparado com a preparação de uma gelatina de fruta: a
22
matriz (comparável à gelatina) captura diversos tipos de cristais (comparável à fruta).
(OSBORNE et al, 2004).
5.1.1 Composição da matriz amorfa dos tampões
A matriz amorfa dos tampões uretrais são formadas pelas células
descamadas de urotélios, células e restos celulares do sangue (hemácias),
espermatozóides, tecidos esfacelados, exudatos inflamatório, glicoproteínas,
partícula semelhantes a vírus e bactérias envoltos por materiais amorfo, etc.
(OSBORNE et al, 2004).
A glicoproteína de Tamm-Horsfall tem sido citada como componente da
substância amorfa dos tampões uretrais. Mas a glicoproteína Tamm-Horsfall é
produzida nos túbulos renais e no começo da doença o rim é um órgão que não é
afetado. As substâncias produzidas pelas células epiteliais devem ser nomeadas
como glicoproteínas do muco. (RODRIGUEZ, 1995).
5.1.2 Composição mineral dos tampões
Uma variedade de diferentes minerais é encontrada nos tampões uretrais,
como: Fosfato de amônio e magnésio 6H2O (estruvita), newberita, oxalato de cálcio
mono e diidratado, fosfato de cálcio, urato ácido de amônio, xantina. (OSBORNE et
al 2004). Embora atualmente os cálculos de oxalato de cálcio sejam os mais
habituais em gatos, a base da matriz cristalina mais comum ainda são os cristais de
estruvita. (SPARKES, 2006).
23
5.2 TAMPÕES URETRAIS DE CRISTAIS DE ESTRUVITA
Os tampões uretrais de estruvita têm características físicas próprias como a
coloração branca, creme ou castanho-clara, freqüentemente têm forma cilíndrica ou
algumas vezes formam massas gelatinosa sem forma, são frágeis, moles e
facilmente compressíveis, geralmente isolados e ocasionalmente múltiplos, seu
diâmetro conforma-se ao diâmetro da uretra e o comprimento varia, desde alguns
milímetros até vários centímetros. (OSBORNE et al, 1997).
De acordo com Lazzarotto (2005), há um mecanismo, que está ligado aos
tampões uretrais de estruvita, é sugerido por diversos autores como resultante de
uma associação dos fatores predisponentes dos cristais de estruvita estéreis e dos
induzidos por infecção. E este mecanismo é uma das causas mais comum de
obstrução uretral em gatos.
Segundo Osborne et al (2006), um estudo realizado em 2005, onde
veterinários da Minnesota Uroliths Center submeteram a uma análise 593 tampões
uretrais, e seu resultado foi: a composição mineral de quase 87 por cento eram
primeiramente estruvita, menos de 1 por cento foi composto do oxalato de cálcio,
9,8% de matriz e os 2,4 restantes de outros minerais. Desde 1981, a estruvita foi
consistentemente o mineral o mais comum em tampões uretrais felinos; e a
prevalência de oxalato de cálcio em tampões uretrais sempre foi infrequente, como
pode ser observado nas figuras 3 e 4.
24
FIGURA 3: COMPOSIÇÃO MINERAL DOS TAMPÕES FELINOS, 2005.
• MAP (estruvita), CaOx (Oxalato de cálcio), Matrix (Matriz) e Other (Outros).
FONTE: OSBORNE, 2006 MINNESOTA UROLITH CENTER
FIGURA 4: DISTRIBUIÇÃO DOS TAMPÕES FELINOS DE 1981 – 2005
Estruvita (MAP) Oxalato de cálcio Fosfato de cálcio Matriz Misto Outros
IDADE
FONTE: OSBORNE, 2006 MINNESOTA UROLITH CENTER
25
5.3 LOCALIZAÇÃO DOS TAMPÕES URETRAIS
As seções da uretra descrito como localização mais freqüente dos tampões
uretrais é a uretra peniana, a uretra ao nível das glândulas bulbouretrais e no canal
de entrada da bexiga.(CHEW et al, 2002).
6. URÓLITOS
Os urólitos podem ser catalogados segundo sua composição mineral,
localização ou forma. As formas características dos cristais e urólitos são
principalmente influenciadas pela estrutura interna dos cristais e pelo ambiente no
qual se formam.
A presença de fatores que promovem a formação de cristais e o crescimento
na urina, na ausência de concomitante infecções do trato urinário causadoras da
produção de grandes quantidades de mucoproteína e reagentes inflamatórios, levam
a formação dos urólitos clássicos. (OSBORNE et al, 1996).
Segundo Osborne et al (2004), os urólitos são concreções policristalinas
compostas basicamente de minerais (cristalóides orgânicos e inorgânicos) e com
quantidades menores de matriz. Uma variedade de diferentes minerais é encontrada
nos urólitos clássicos, como: fosfato de amônio e magnésio 6H2O (estruvita), fosfato
de hidrogênio e magnésio 3H2O, hidrato de fosfato de magnésio, oxalato de cálcio,
fosfato de cálcio, ácido úrico e uratos, xantina, cistina, sílica, uréia. De acordo com
Buffington et al (1997), os gatos possuem uma alta capacidade de concentração
urinária (densidade 1.050-1.080) e que a simples presença de cristais na urina não
significa que o animal irá desenvolver urolitíase.
26
Os gatos podem ter diversos tipos de urólitos, mas o mineral mais comum
encontrado é o fosfato amônico magnésico (estruvita). (ROBERTSON et al, 2002).
Entretanto, nos últimos dez anos, o número de urólitos de oxalato de cálcio
aumentou de modo que agora os dois tipos ocorrem quase com a mesma
freqüência. (BUFFINGTON et al, 1997; PEQUENO, 2006).
Em anos recentes, a porcentagem de urólitos composto de estruvita vem
diminuindo, por conseqüência das dietas formuladas para reduzir o mineral, mas
com isso a porcentagem dos urólitos de oxalato de cálcio aumentou. (RICHARDS,
2006).
De acordo com Gonzáles et al (2003), a incidência de urólitos é relacionada
à alimentação, principalmente em função dos índices de magnésio na dieta, pois a
homeostase do magnésio é mantido basicamente através de excreções na urina.
Há diferenças físicas e, provavelmente, etiopatogênicas entre os urólitos e
os tampões uretrais felinos. Portanto, esses termos não devem ser empregados
como sinônimos. (OSBORNE et al, 2004).
6.1 URÓLITOS DE ESTRUVITA
De acordo com Funaba et al (2001), os urólitos de estruvita são vistos com
mais freqüência em gatos alimentados com alimentos secos, e quando o pH urinário
excede 7, mas somente o pH não determina a ocorrência de urólitos de estruvita.
Um pH urinário alcalino e um magnésio dietético elevado são geralmente
considerados os fatores mais importantes na formação dos urólitos de estruvita, com
tudo o pH da urina é muito mais importante, pois os urólitos de estruvita não se
formam em um pH abaixo de 6,5. A habilidade da dieta em induzir a urina ácida
27
depende dos ingredientes usados na adição de acidificantes tais como a metionina,
cloreto de amônio e ácido fosfórico. Os alimentos equilibrados atuais mantêm o
magnésio a uma porcentagem de 0.08 a 1 na matéria seca. (BIORGE, 2001).
Os urólitos de estruvita são brancos, cor de creme, ou castanho-claro. Em
geral a superfície dos urólitos é vermelha, devido a hematúria concomitante.
(OSBORNE et al, 1997). (Figuras 5 e 6).
FIGURA 5 E 6: URÓLITOS DE ESTRUVITA
FIGURA 5 FIGURA 6
FONTE: WARRAK, 2006 6.1.1 Tipos de urólitos de estruvita
Os urólitos de estruvita estéreis ou assépticas, contém pouca matriz, e
caracteristicamente são densos e quebradiços. Estão associados a um conjunto
multifatorial, que se destacam os seguintes fatores: queda no volume e aumento na
densidade específica urinária, secundários à baixa ingestão de água; consumo
excessivo de alimentos, podendo resultar em obesidade e a alta excreção de
minerais (alguns calculogênicos) pela urina.
28
Os urólitos de estruvita induzida por infecção contém uma quantidade
superior de matriz se comparada ao urólito de estruvita estéril. A formação deste tipo
de urólito está relacionada à urease microbiana. Mediante tal urease ocorre a
hidrólise da uréia. Com isso, tem-se uma alcalinização da urina e origem de uma
grande quantidade de íons fosfato e amônio, que fazem parte da composição do
cristal de estruvita. (OSBORNE et al, 2004).
6.2 URÓLITOS DE OXALATO DE CÁLCIO
Os urólitos de oxalato de cálcio são seqüelas de um grupo de distúrbios
subjacentes que resultam na precipitação do oxalato de cálcio na urina. Alterações
no equilíbrio entre as concentrações urinárias de minerais calcinogênicos (cálcio e
oxalato) e inibidores da cristalização (como o citrato, fósforo, magnésio, sódio,
potássio) foram associados ao início e crescimento dos urólitos de oxalato de cálcio.
(OSBORNE et al, 1997).
Os gatos com urolitíase por oxalato de cálcio tipicamente apresentam uma
urina ácida, pH urinário de 6,3 a 6,7. (OSBORNE et al, 2004).
Os urólitos de oxalato de cálcio, tem como características físicas, geralmente
tem um formato irregular, tamanho pequeno, superfície lisa e esférica, as cores
variam de branco, creme à marrom. (OSBORNE et al, 1996). (Figuras 7, 8, 9 e 10).
29
FIGURA 7, 8, 9 e 10: URÓLITOS DE OXALATO DE CÁLCIO
FIGURA 7 FIGURA 8
FIGURA 9 FIGURA 10
FONTE: WARRAK, 2006
6.2.1 Fatores predisponentes
Os gatos predispostos são gatos moradores de apartamento em centros
urbanos, fazem uso de um único tipo de dieta, consomem dieta acidificada,
alimentam-se de ração seca, a faixa etária é de 4 a 8 anos, animais da raça Persa,
Himalaia e Birmanês, a maioria são machos e estão acima do peso corporal ideal.
Observa-se, que na maioria das vezes, os fatores predisponentes são múltiplos e
podem ser necessários mais de um fator atuando. (SOUZA, 2006).
30
6.2.2 Fatores de risco
Os fatores de risco que são associados com o urolitíase do oxalato de cálcio
incluem a hipercalciúria, a hipercalcemia, a hiperoxalúria, hipocitraturia,
hipomagnesemia, acidose, diminuição dos inibidores macromoleculares e redução
do volume urinário. (ELLIOTT, 2003).
Os fatores de risco relacionados com a dieta para o desenvolvimento do
urólito de oxalato de cálcio incluem uma superacidificação, o conteúdo de umidade
abaixo, excesso de vitamina C, excessiva restrição de cálcio, excessiva restrição de
fósforo e níveis baixos de fibra, (SOUZA, 2006) e ainda relacionado com a dieta,
uma dieta com excesso de oxalato e teores excessivos de proteína, sódio e vitamina
D, dietas deficientes em piroxina (vitamina B6). O consumo de dietas secas está
associado com o risco mais alto de formação de urólitos de oxalato de cálcio que as
dietas enlatadas. (LULICH et al, 2003).
6. 3 OXALATO DE CÁCIO X ESTRUVITA
Segundo Osborne et al (2006), em 1981, o oxalato de cálcio foi detectado
em somente 2 por cento de urólitos felinos submetidos ao centro de Minnesota
Urolith Center, visto que a estruvita foi detectado em 78 por cento. Entretanto, em
meados dos anos 80 começou, um aumento dramático na freqüência de urólitos de
oxalato de cálcio, ocorrendo uma associação com uma diminuição na freqüência de
urólitos de estruvita. De 1994 a 2002, aproximadamente 55 por cento dos urólitos
felinos submetidos ao centro de Minnesota Urolith Center foram compostos do
oxalato de cálcio, quando somente 33 por cento foram compostos de estruvita. Em
31
2003, a freqüência de urólitos de oxalato de cálcio declinou a 47 por cento, quando a
freqüência dos urólitos de estruvita se levantou a 42 por cento. Durante 2004, o
número de urólitos de estruvita (44.9%) que foram submetidos ao Minnesota Urolith
Center cutucou aqueles que no passado continham o oxalato de cálcio (44.3 por
cento). Em 2005, o número de urólitos de estruvita (48.1%) ultrapassava aqueles
que continham oxalato de cálcio (40.6%) na freqüência da ocorrência, como pode
ser observado nas figuras 11 e 12.
A diminuição progressiva na ocorrência de urólitos naturais de oxalato de
cálcio durante os três anos passados pôde ser associada com: reformulação da
dieta de manutenção do gato adulto, melhorias na formulação de dietas terapêuticas
e aumento no consumo de formulações terapêuticas, todos projetados para
minimizar a formação de urólitos de oxalato de cálcio.
FIGURA 11: COMPOSIÇÃO DOS URÓLITOS FELINOS
• MAP (Estruvita), CaOx (Oxalato de cálcio), CaPO (Fosfato de cácio), Matrix (Matriz), Other
(Outros) e Purine
FONTE: OSBORNE, 2006 MINNESOTA UROLITH CENTER
32
FIGURA 12: DISTRIBUIÇÃO DOS URÓLITOS FELINOS DE 1981 A 2005
Estruvita (MAP) Oxalato de cálcio Fosfato de cálcio Matriz Misto Outros
IDADE FONTE: OSBORNE, 2006 MINNESOTA UROLITH CENTER
7. OBSTRUÇÃO URETRAL
7.1 ETIOLOGIA
A obstrução do lúmen uretral pode ocorrer por oclusão mecânica através de
debris no sítio de obstrução, denominada de obstrução intramural. As causas de
obstrução uretral são comumente classificadas de primária, perpetuante e
iatrogênica. Uma ou mais afecções intraluminal localizada em um único ou diferentes
locais podem levar ao desenvolvimento da uropatia obstrutiva. (CORGOZINHO e
SOUZA, 2003).
As principais causas de afecções intramurais compreendem os tampões
(mucoproteínas e/ou cristais, coágulos, restos teciduais, corpo estranho) e urólitos.
(CORGOZINHO e SOUZA, 2003). As outras causas de obstrução uretral são as
33
estenoses, as lesões da próstata e as massas extraluminais que comprimem a luz
uretral. (BOJRAB et al, 2005).
7.2 EPIDEMIOLOGIA
A maior prevalência da obstrução uretral em gatos machos é justificada pela
menor elasticidade e diâmetro da uretra, como também, pelo maior comprimento
quando comparada com a uretra da fêmea. (SILVA, 2005).
Os fatores contributivos são a expansão de volume decorrente do líquido
administrado durante o período anúrico, o acúmulo de solutos deficientemente
reabsorvidos durante o período anúrico, e um defeito tubular na reabsorção de sódio
e água. (DIBARTOLA et al, 1998).
7.3 HISTÓRICO E SINAIS CLÍNICOS
O histórico e os sinais clínicos de gatos obstruídos dependem da duração da
doença e do grau da obstrução uretral. De um modo geral, os proprietários de felinos
que apresentam obstrução uretral parcial relatam que o gato inicialmente demonstra
várias tentativas para urinar com emissão de pouca urina (em gotas) e com
coloração avermelhada. O felino permanece por um longo período na posição de
micção, dentro da bandeja sanitária ou lugares inapropriados da casa, o que leva o
proprietário a relatar que o animal está constipado. Entre as repetidas tentativas de
urinar a dor fica evidenciada, o gato lambe incessantemente o pênis ou o abdome, a
postura de dorso arqueado e mia alto. (DIBARTOLA et al, 1998; CORGOZINHO e
SOUZA, 2003).
34
Nos casos mais graves, os proprietários notam a impossibilidade total do
felino expelir a urina, o que demonstra obstrução total. Os gatos ficam débeis, não
comem e se escondem.
Na inspeção clínica evidencia-se o pênis hiperêmico e edemaciado. À
palpação, observa-se uma vesícula urinária distendida, o que gera desconforto ao
animal. Na obstrução parcial, nota-se o fluxo urinário com pequeno diâmetro após a
compressão da bexiga. Quando a obstrução é total, o gato não permite o exame
clínico demonstrando dor grave e ausência de fluxo urinário. Deve-se tomar cuidado
com a pressão exercida sobre a bexiga em virtude da fragilidade da musculatura,
podendo ocorrer a sua ruptura. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
A urina retida na bexiga ocasiona uma pressão retrógrada aos ureteres e
aos rins. Assim sendo, ocorre alteração na filtração e no fluxo sangüíneo renal e
alteração na função tubular renal. Caso o gato permaneça obstruído por 24 a 36
horas, aparecerão sinais clínicos de azotemia pós-renal como vômito, anorexia,
depressão, desidratação, hipotermia e até colapso. Fraqueza generalizada, arritmia
cardíaca, e/ou bradicardia indicam uma obstrução de longa duração em função da
hipercalemia.(BARSANTI, 1994; CORGOZINHO e SOUZA, 2003). Se houver
obstrução uretral completa, deve-se avaliar a magnitude da azotemia e da
hipercaliemia pós-renal. (NELSON e COUTO, 2001).
O efeito da obstrução uretral é a redução e, eventualmente, a interrupção de
filtração glomerular, levando a um rápido acúmulo de metabólitos de excreção, como
a uréia, e a uma insuficiência dos rins em manter o equilíbrio iônico e ácido-básico.
(CHANDLER et al, 1988 ). Sinais de uremia indicam que a obstrução completa está
presente no mínimo 48 horas. (BARSANTI et al, 1994).
35
7.4 DIAGNÓSTICO DA OBSTRUÇÃO URETRAL
Segundo Barsanti (1994), quando a obstrução uretral é suspeitada com base
no exame físico, a tranqüilidade e a história dos pacientes ajudará determinar a
duração e a severidade da obstrução.
O diagnóstico de gatos com obstrução uretral associada a DTUIF é realizado
através do histórico e da anamnese, concomitantemente à avaliação clínica e aos
exames complementares. A palpação e compressão manual da bexiga para indução
da micção deverão preceder avaliação radiográfica do trato urinário inferior para
confirmação da obstrução uretral. Nos felinos obstruídos deve-se adiar qualquer
tentativa imediata de investigação diagnóstica nos animais que apresentam sinais
clínicos de desidratação, uremia e hipercalemia, priorizando a estabilização das
funções vitais, além do restabelecimento do fluxo urinário normal. (CORGOZINHO e
SOUZA, 2003).
7.4.1 Diagnóstico por imagem
Os exames radiográficos são recomendados em pacientes com obstrução
uretral para identificar com precisão o sítio ou os sítios da obstrução, e também, as
anormalidades do trato urinário pertinentes. As radiografias simples podem
comprovar a existência de cálculos radiopacos na uretra, como também na vesícula
urinária e nos rins. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
Os urólitos de matriz podem ser radiotransparentes, ou podem ter alguma
radiodensidade. Coágulos sangüíneos são radiotransparentes e podem ser
erroneamente tomados por urólitos radiotransparentes. Os urólitos
36
radiotransparentes podem ser diferenciados dos coágulos sangüíneos, quando
avaliado pela ultra-sonografia bidimensional em escala-cinza. Comumente os
urólitos produzem sombras nitidamente marginadas contendo poucos ecos, estando
ainda associados a sombreamento acústico. (OSBORNE et al, 2004).
O estudo radiológico contrastado é efetivo na identificação de cálculos
radiolucentes, ruptura uretral ou vesical, estenose uretral, divertículo uracral,
neoplasias e processos inflamatórios.
A técnica radiológica contrastada empregada em felinos freqüentemente é a
uretrocistograma retrógrada de contraste positivo para determinar os possíveis sítios
de obstrução uretral. O contraste positivo é injetado através de um cateter urinário
(Soreveign 3 ½ Tom Cat Catheter®) com o orifício na extremidade proximal com 3,5
French de diâmetro. Nos gatos machos, o cateter deve ser introduzido lubrificado no
início da uretra peniana. O volume de contraste irá depender se o lúmen está ou não
completamente ocluído. Quando todo o lúmen uretral encontrar-se patente, o
procedimento é realizado utilizando 2 a 3 ml de contraste à base de diatrizoato de
meglumina ou tri-iodo aquoso orgânico diluído em solução fisiológica estéril numa
porção de 1:3. O cateter deve ser mantido no interior do lúmen uretral através da
compressão digital da uretra peniana evitando que contraste positivo reflua durante
a administração.
A avaliação ultra-sonográfica dos gatos obstruídos tem a vantagem de
verificar a integridade do trato urinário inferior, além de averiguar a presença de
tampões e urólitos na vesícula urinária que possam migrar para uretra, e dessa
forma perpetuar a obstrução intramural. Contudo, o trajeto da uretra não é
totalmente visualizado pela presença do púbis. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
37
7.4.2 Exames laboratoriais
Os exames laboratoriais são fundamentais para escolha da conduta
terapêutica adequada dos gatos obstruídos.
7.4.2.1 Urinálise
De um modo geral, a urinálise realizada de gatos obstruídos demonstra uma
intensa hematúria, principalmente pela distensão da vesícula urinária e pelo
processo inflamatório. Posteriormente, o exame de urina irá proporcionar
informações importantes tais como o pH urinário, o grau de hematúria, a presença
de células inflamatórias, bactérias e se há ou não presença de cristais.
(CORGOZINHO e SOUZA, 2003). No contexto da urolitíase, a avaliação do pH
urinário, da cristalúria, da densidade e se a ITU (infecção do trato urinário) é
causada ou não por bactérias produtoras de ureases é de particular importância.
(OSBORNE et al, 2004). Preferencialmente, o pH deve ser avaliado 4 a 6 horas após
a refeição, pois se a urina estiver ácida, provavelmente será ácida ao longo do dia.
(CORGOZINHO e SOUZA, 2003). A urina felina, de um modo geral, só tende a
tornar-se alcalina após as refeições em função da maré alcalina pós-prandial.
(SOUZA, 2006).
7.4.2.2 Urocultura
A cultura da urina deve ser realizada quando a urinálise for indicativa de
piúria e/ou bacteriúria, além da hematúria. Preferencialmente, a urina deve ser
38
colhida por cistocentese. A análise de urina é feita de forma quantitativa e
qualitativa. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
7.4.2.3 Exames bioquímicos e hemograma
Os exames laboratoriais mais importantes na avaliação inicial de gatos
obstruídos são a dosagem de uréia e creatinina séricas, glicose, cálcio, fósforo,
sódio, potássio e proteínas totais. Deve-se também determinar o hematócrito e, se
possível fazer gasometria venosa. Se o suporte laboratorial for limitado, pode-se
determinar o hematócrito e as proteínas totais e estimar o grau de azotemia (uréia)
com o azostix, a glicose com glicostix.(MORAES, 2004).
Gatos com obstrução uretral podem apresentar-se com leucocitose com
distribuição normal dos leucócitos, ou com padrão de tensão. Os aumentos do
hematócrito e da concentração das proteínas plasmáticas totais refletem a
ocorrência de hemoconcentração. Podem ocorrer: azotemia, hiperfosfatemia,
hipocalcemia, hipermagnesemia, leve hiponatremia, acidose metabólica com
compensação respiratória inadequada, hiperproteinemia, hiperglicemia, e
hipercalemia. (DIBARTOLA et al, 1998).
7.4.2.4 Análise dos urólitos
A análise do urólito colhido é importante para detectar sua composição com
intuito de selecionar protocolos terapêutico que promovam a dissolução e prevenção
dos mesmos. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
39
A localização dos urólitos removidos do trato urinário deverá ser registrada,
além da sua quantidade, tamanho, forma, cor e consistência. Se for obtido vários
urólitos, um deles poderá ser colocado em um recipiente contendo formalina
tamponada 10%, para exame microscópico. (OSBORNE et al, 1996).
7.5 TRATAMENTO DA OBSTRUÇÃO URETRAL
Os objetivos do tratamento de gatos obstruídos são a correção das
alterações sistêmicas com reposição de fluídos e eletrólitos e a restauração da
permeabilidade do lúmen uretral, viabilizando a excreção urinária. (CORGOZINHO e
SOUZA, 2003).
7.5.1 Correção das alterações sistêmica
7.5.1.1 Hipotermia
Gatos urêmicos geralmente são hipotérmicos, e devem ser aquecidos com colchão
térmico, bolsas de água quente ou fluídos intravenosos mornos. (CORGOZINHO e
SOUZA, 2003).
7.5.1.2 Azotemia pós-renal
Felinos azotêmicos sem sinais clínicos podem ser tratados através da
fluídoterapia por via subcutânea na dosagem de 80 a 110 mL/Kg/dia. O volume
inicial de fluído; e calculado usando o peso do gato e o grau de desidratação, sendo
40
administrado aproximadamente em quatro a seis horas. Perdas hídricas como
vômito ou diarréia devem ser corrigidas. O requerimento hídrico para a manutenção
durante as primeiras 24 horas é calculado em 66 mL/Kg de peso.
A fluidoterapia por via intravenosa tem também, como objetivo, compensar à
diurese pós-obstrutiva que ocorre dentro de 12 a 24 horas após a desobstrução.
(CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
7.5.1.3 Hipercaliemia
A hipercaliemia é um achado comum em animais obstruídos em virtude da
incapacidade de eliminação dos íons de potássio pela urina, sendo uma ameaça
para vida do paciente. O eletrocardiograma pode fornecer uma evidência presuntiva
de hipercaliemia, na impossibilidade de mensurar a concentração sérica de potássio
nas primeiras duas horas de tratamento. A hipercaliemia induz a arritmia cardíaca
por distúrbios da condição supraventricular. As mudanças no traçado
eletrocardiográfico são verificadas quando os níveis de potássio sérico estão acima
de 7 mEq/L, embora nem todas as anormalidades sejam observadas no mesmo
animal. Evidencia-se, dependendo da elevação do íon potássio, as seguintes
alterações: bradicardia, onda T elevada (onda T maior em 50% do que a onda R),
diminuição da onda P, aumento do intervalo P-R, e nos casos mais graves ausência
da onda P denominada de “atrial standstill”, ou seja, paralisia atrial. (LORENZ et al,
1996; CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
O restabelecimento do fluxo urinário e a administração de fluídos pela via
intravenosa são os primeiros e mais importantes passos no tratamento da
hipercaliemia. Bicarbonato de sódio administrado na dosagem de 1 a 2 mEq/Kg, via
41
intravenosa, durante 5 a 15 minutos, faz com que o potássio do espaço extracelular
entre no meio intracelular. A terapia com insulina regular é indicada quando há risco
de vida pela hipercaliemia, e pode ser feita na dosagem de 1 UI/Kg associada a 2
gramas de glicose para cada unidade de insulina por via intravenosa em “bolus”. A
solução de gluconato de cálcio a 10% (50 – 100 mg/Kg em 2 – 3 minutos)
antagoniza os efeitos do potássio no coração, mas não diminui o potássio sérico, e
pode ser injetada pela via intravenosa lentamente não excedendo a dosagem de 1
mL/Kg. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003; MORAES, 2004).
Segundo Moraes (2004), o bicarbonato e insulina com glicose aumentam a
entrada de potássio nas células, diminuindo o potássio sérico. Estas drogas
começam atuar em 15 a 30 minutos e o efeito pode se manter pó 6 a 24 horas. O
bicarbonato tem a vantagem de melhorar a acidose, pode agravar a hipocalcemia
(diminui o cálcio ionizado).
7.5.1.4 Hipocaliemia
Gatos inicialmente hipercaliêmico pela obstrução podem se tornar
hipocaliêmico durante a fluidoterapia. Além do mais, um período de intensa diurese
ocorre após a desobstrução uretral, podendo levar a perda excessiva de potássio.
No felino hipocalêmico observa-se fraqueza muscular, letargia, poliúria e polidipsia,
redução da capacidade de retenção da urina. A terapia é indicada quando o potássio
sérico está abaixo de 3,5 a 3,8 mEq/L, embora os sinais clínicos sejam visíveis
quando esse se encontra abaixo de 2,5 mEq/L. A hipocaliemia pode ser corrigida
acrescentando cloreto de potássio nos fluidos intravenosos. A quantidade depende
da gravidade da hipocaliemia, não podendo ultrapassar 0,5 mEq/Kg/hora. O potássio
42
pode ser empregado via oral na ausência de vômito, na dosagem de 1 a 2 mEq/Kg
dividido em três administrações ao dia. (SHAW et al, 1999; CORGOZINHO e
SOUZA, 2003)
7.5.1.5 Acidose metabólica
A acidose metabólica é causada pela retenção de ácidos, pelo consumo de
bicarbonato para estabilizar o pH do plasma pela produção de lactato, associada à
hipovolemia a hipoxia, e pela mínima conservação de bicarbonato no período
obstrutivo e pós-obstrutivo. O pH do sangue, o dióxido de carbono e os níveis de
bicarbonato são avaliados para realizar a terapia alcalinizantes. A terapia é indicada
quando o pH sangüíneo está abaixo de 7,2, utilizando a seguinte fórmula: mEq de
bicarbonato de sódio necessária = Kg x 0,3 x déficit de bicarbonato (mEq/L), sendo
50% administrado durante as primeiras doze horas. Caso não haja disponibilidade
de dados laboratoriais, cerca de 1,5 a 2 mEq/Kg de bicarbonato podem ser
restituído. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003; MORAES, 2004).
7.5.1.6 Hipocalcemia ionizada
A diminuição do cálcio ionizado agrava os efeitos celulares da hipercaliemia
e é um fator prognóstico negativo em gatos obstruídos. Tratamento de paciente
sintomático para hipocalcemia (tremores musculares, tetania) ou que também
estejam hipercaliêmicos deve feito com gluconato de cálcio, o mesmo empregado
para hipercaliemia. (MORAES, 2004).
43
7.5.1.7 Hipoglicemia
A hipoglicemia é um problema comum em muitos gatos na emergência
porque gatos hipotensos tendem a ficar hipoglicêmicos. A presença de hipoglicemia
limita a resposta cardiovascular para correção da hipotensão, bem como favorece o
aparecimento de hipotermia, criando vários ciclos que se retroalimentam. É
imperativo o tratamento com glicose (0,5 – 1 g/Kg). (MORAES, 2004).
7.5.1.8 Catabolismo
O gato obstruído encontra-se em estado catabólico, o que predispõe a
lipidose hepática principalmente nos animais obesos. Uma dieta altamente palatável
e calórica deve ser oferecida após o término dos episódios de vômito. Mudanças
para rações terapêutica só devem ser efetuadas após o retorno da apetência e
estabilidade metabólica e hidroeletrolítica. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
7.5.2 Contenção do paciente
A contenção física em combinação com anestesia tópica pode ser adequada
para gatos que são particularmente dóceis ou que estão gravemente deprimidos.
A contenção farmacológica é recomendada quando as tentativas de
desalojamento do material obstrutor estão provavelmente associadas às lesões
adicionais à uretra, e quando há risco elevado de infecção iatrogênica do trato
urinário. As cateterizações da uretra realizadas sem a devida sedação podem
44
acarretar em ruptura uretral com conseqüente extravasamento de urina para o tecido
periuretral.
Os anestésicos são administrados cautelosamente, visto que as dosagens
inferiores às recomendadas para pacientes com função renal normal são exigidas
naqueles com azotemia pós-renal, principalmente os fármacos excretados pelos rins.
O cloridrato de cetamina é o anestésico dissociativo comumente utilizado em
gatos, porém produz rigidez muscular o que dificulta a cateterização uretral. Dessa
forma, tem sido empregada a associação do cloridrato de cetamina na dosagem de
1 a 2 mg/Kg, com o diazepam na dosagem de 0,2 mg/Kg, por via intravenosa, o que
melhora o relaxamento muscular. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
Segundo DiBartola et al (1998), a contenção adequada pode ser conseguida
pelo uso de cetamina (1 a 2 mg/Kg IV) ou tiamilal sódico (4 a 10 mg/Kg IV), ou ainda
atropina (0,05 mg/Kg IM) mais tiamilal sódico. Também se pode considerar o uso de
Tiletamina-zolazepam (1 a 3 mg/Kg IV).
7.5.3 Desobstrução uretral
Os procedimentos recomendados na tentativa de restauração do lúmen
uretral em um gato macho obstruído seguem uma ordem de prioridades que são:
massagem uretral distal, tentativa de indução de micção pela suave palpação da
bexiga, cistocentese, desobstrução do lúmen uretral por propulsão hídrica,
combinação da massagem uretral distal com a desobstrução do lúmen uretral por
propulsão hídrica, estudo radiográfico para determinar a causa da obstrução uretral:
intraluminal, mural e/ou extramural, e procedimento cirúrgico. (CORGOZINHO e
SOUZA, 2003).
45
7.5.3.1 Massagem suave da uretra peniana
Essa etapa inicial implica na retração do prepúcio e exposição do pênis para
detectar a presença de material obstrutor. A massagem suave do pênis entre o
polegar e o dedo indicador ajuda a desalojar e fragmentar os tampões localizados na
uretra peniana, a tal ponto que a subseqüente palpação da vesícula urinária induz a
remoção dos mesmos. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003). Este procedimento evita o
traumatismo uretral causado pela cateterização e jateamento retrógrado.
(DIBARTOLA et al, 1998).
7.5.3.2 Compressão manual da bexiga
Essa técnica é empregada em seguida à massagem uretral, pois uma
pressão intraluminal gerada pode ser suficiente para deslocar precipitados uretrais.
A compressão é efetuada com cautela para prevenir trauma iatrogênico na vesícula
urinária. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
7.5.3.3 Cistocentese
O estado de repleção da bexiga é verificado quando não se obtém sucesso
com as etapas já citadas. A ruptura da bexiga pode ocorrer em função da fragilidade
da parede vesical em animais obstruídos por muito tempo. É recomendada a
descompressão da bexiga por meio da cistocentece, quando esta se encontra
superdistendida. A cistocentese pode ser realizada utilizando-se uma agulha de
calibre 22G, uma torneira de três vias e uma seringa de 20 a 60 mL. A bexiga é
46
segurada firmemente entre os dedos, fazendo uma tração para posicioná-la de
contra a parede abdominal (CORGOZINHO e SOUZA, 2003), e a seguir, a agulha de
calibre 22 deve ser inserida através da parede ventral ou ventrolateral da bexiga
para minimizar o trauma aos ureteres e aos principais vasos abdominais adjacentes
(Figura 13). A agulha deve ser inserida no meio do trajeto entre o ápice da superfície
vesical e a junção da bexiga com a uretra, retirando o máximo de urina possível.
(OSBORNE et al, 2004)
FIGURA 13: LOCAIS CORRETOS E INCORRETOS DE INSERÇÃO DA AGULHA
DENTRO DA BEXIGA
FONTE: WASHINGTON STATE UNIVERSITY, 2006
7.5.3.4 Desobstrução por propulsão hídrica
Em um grande número de casos, são necessárias a irrigação e
cateterização uretral, para promover a desobstrução. Isto deve ser efetuado sob
anestesia geral em todos os animais. (CHANDLER et al, 1988). O cateter urinário de
polipropileno com extremidade aberta é preferido para cateterização da uretra distal
47
em gatos. As soluções de irrigação à temperatura ambiente são injetadas através do
cateter no intuito de dissolver o material obstrutor e/ou empurrá-lo para o interior da
vesícula urinária. A solução salina a 0,9% ou de Ringer com Lactato são atóxicas,
estéreis e não irritantes.
O cateter urinário estéril lubrificado é gentilmente introduzido na uretra
peniana até o ponto da obstrução, após a exposição do pênis. As soluções de
irrigação são impelidas em grande quantidade (50 a 200 ml), pelo lúmen uretral,
permitindo que reflua através do orifício uretral externo, como mostra as figuras 14 e
15. Em virtude dessa manobra, os tampões uretrais obstrutores são gradualmente
fragmentados, deslocados e expelidos pela irrigação em torno do cateter, e para fora
do lúmen uretral. O cateter não deve ser forçado para o interior do lúmen uretral até
remoção do material obstrutor devido à possibilidade de ruptura da parede uretral.
As irrigações do lúmen da bexiga com soluções isotônicas são válidas para
minimizar uma nova obstrução uretral na presença de grandes quantidades de
debris, coágulos ou cristais. Emprega-se um cateter flexível de borracha, com
abertura lateral, estéril, com 3,5 French de diâmetro, que é introduzido até o ponto
onde é observada a saída de urina, e esta é obtida por aspiração. Cerca de 50 ml de
solução isotônica estéril são injetadas e removidas, até que se obtenha uma urina
clara e livre de cristais ou sangue. O cateter é removido.
Caso o material obstrutor permaneça no interior do lúmen uretral, após
tentativas de removê-lo pelas manobras já citadas, deve-se efetuar uma suave
compressão digital da uretra peniana sobre o cateter, e enviar o tampão e/ou urólitos
para o interior da vesícula urinária através da solução de irrigação. (CORGOZINHO
e SOUZA, 2003).
48
FIGURA 14: EXPOSIÇAO DO PÊNIS FIGURA 15: SOLUÇÕES DE IRRIGAÇÃO
FONTE: GATTI, 2006
7.5.3.5 Cateter de espera
O cateter de espera é indicado nos casos severos de hematúria, uremia, nos
procedimentos de difícil cateterização e desobstrução, na presença de fluxo urinário
fino e/ou curto, na presença de grande quantidade de debris após várias irrigações
vesicais e na disfunção do músculo detrusor secundária a distenção da vesícula
urinária. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
O cateter é introduzido até o ponto onde se observa a saída de urina, e é
conectado ao circuito fechado (equipo e frasco de soro vazio estéril) para minimizar
a infecção bacteriana ascendente. É recomendada a permanência do cateter por um
período de 24 a 48 horas. (BARSANTI et al, 1994; CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
49
7.5.4 Procedimentos cirúrgicos
Ocasionalmente, os métodos clínicos indicados para corrigir ou impedir a
obstrução uretral recidivante são ineficazes. Nestes casos, as uretrostomias
perineais e outros métodos cirúrgicos destinados a desviar a uretra peniana muitas
vezes são considerados independente da causa subjacente. A cistouretrografia
anterógrafa ou a uretrocistografia retrógrada, ambas com contraste, devem ser
realizadas para localizar o(s) ponto(s) de obstrução uretral antes de se considerar
esta técnica. (OSBORNE et al, 2004).
7.5.4.1 Uretrostomia perineal
O gato é posicionado em decúbito esternal, com a cauda fletida em direção
à linha média da coluna vertebral, e os membros pélvicos pêndulos formando um
ângulo de 90º com a mesa operatória. Uma sutura em forma de bolsa de tabaco é
realizada ao redor do ânus, evitando contaminação do campo operatório, como pode
ser observado nas figuras 16 e 17. Preferencialmente, a uretra deve ser sondada
com um cateter de polipropileno. Se o animal não for castrado deve-se realizar a
orquiectomia.
Uma incisão cutânea elíptica vertical é realizada para excisão do prepúcio e
escroto. Os vasos escrotais são ligados, assim como a artéria e veia dorsal do pênis.
O pênis é fletido no sentido dorsolateral para ambos os lados, permitindo a
dissecção do tecido celular subcutâneo. A dissecação se estende em direção lateral
e ventral, permitindo a mobilização do pênis no arco isquiático.
50
FIGURA 16: POSIÇÃO DO ANIMAL NA FIGURA 17: PREPARAÇÃO DO ANIMAL
MESA OPERATÓRIA NA MESA OPERATÓRIA
FONTE: TOBIAS, 2006
Os músculos isquiocavernosos e isquiouretralis estão laterais a uretra, e são
incisados próximos às suas inserções na tuberosidade isquiática, minimizando
hemorragia e lesões nos ramos do nervo pudendo.
O pênis é fletido no sentido ventral para expor a superfície dorsal. É
realizado a divulsão e elevação do músculo retrator do pênis, posteriormente este é
incisado. Neste ponto realiza-se toda a dissecção dorsal da uretra. Em seguida, uma
incisão na superfície dorsal da uretra peniana é feita no sentido longitudinal com
uma lâmina de bisturi, seguida de uma tesoura de íris, até um centímetro após as
glândulas bulbouretrais (Figuras 18 e 19). Para avaliar se o diâmetro uretral até
51
adequado, uma pinça hemostática, tipo Halsted fechada, sem resistência é
introduzida até o final das ranhuras. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003; BOJRAB e
CONSTANTINESCIU, 2005).
FIGURA 18: LIBERAÇÃO DO PÊNIS FIGURA 19: INCISÃO DA URETRA
FONTE: TOBIAS, 2006
Uma sutura mucocutânea é realizada com a mucosa da uretra pélvica e a
pele do períneo usando pontos simples separados, com fio inabsorvível de nº 4-0 ou
absorvível. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003; BOJRAB e CONSTANTINESCIU,
2005).
As suturas proximais são feitas colocando os dois primeiros pontos no ápice
da abertura da uretra num ângulo de 45º com a pele. Estes pontos tracionam a
uretra pélvica, ampliando a uretrostomia. Em seguida, a uretra peniana
remanescente é amputada sendo realizada uma sutura contínua com fio absorvível
para coibir a hemorragia do tecido cavernoso. As últimas suturas ventrais também
devem ser colocadas em um ângulo de 45º. A pele é fechada com fio inabsorvível e
52
pontos simples separados. A sutura do ânus é retirada. A bexiga é manualmente
comprimida para se assegurar do fluxo urinário. (CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
As complicações decorrentes da uretrostomia perinal podem ser: infecção
bacteriana do trato inferior, estenose uretral, urolitíases, incontinência fecal ou
urinária, hemorragias, extravasamento de urina e deiscência de sutura.
(CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
7.5.4.2 Uretrostomia pré-púbica
A uretrostomia pré-púbica é indicada em processo de estenose e/ou
obstrução grave na uretra pélvica. A via de acesso é a uretra pélvica dá-se através
de uma laparotomia retroumbilical.
As complicações observadas com maior freqüência após a uretrostomia pré-
púbica são: constrição do estoma, dermatite periestomal pela ação cáustica da urina,
incontinência urinária, infecção bacteriana do trato inferior. (CORGOZINHO e
SOUZA, 2003).
7.5.4.3 Uretrostomia subpúbica
A uretrostomia subpúbica é indicada quando ocorre estenose recidivante
após a uretrostomia perineal ou quando o processo obstrutivo se localiza na uretra
pélvica caudal. O acesso cirúrgico à uretra pélvica dá-se através de uma laparotomia
retroumbilical com o prolongamento da incisão até a altura do púbis.
As complicações observadas são: estenose e infecção bacteriana do trato
inferior recorrente e dermatite amoniacal.(CORGOZINHO e SOUZA, 2003).
53
7.6 PREVENÇÃO
Segundo DiBartola et al (1998), sugere-se as seguintes recomendações
conservadoras, para gatos não obstruídos :
- Mudar a dieta para ração enlatada para gatos que tenham elevado teor de energia
(> 4 Kcal/g de matéria seca), e menos de 0,2% de magnésio por matéria.
- Monitorar o pH urinário 4 horas após o fornecimento da refeição, e acrescentar
cloreto de amônio ao alimento, apenas em caso de necessidade, para que o pH
urinário pós-prandial (4 horas) seja mantido dentro da faixa de 6,0 a 6,5.
- Determinar a densidade específica da urina e considerar a possibilidade do
acréscimo direito de água à ração, caso este parâmetro se revele consistentemente
acima de 1,050.
- Fornecer água fresa em todas as ocasiões.
- Promover diariamente a higiene da caixa de defecação/micção.
- Evitar a obesidade, mediante a limitação da ingestão de calorias.
54
8. CONCLUSÃO
A obstrução uretral e a estase do fluxo urinário, tem um grande efeito
prejudicial sobre a função renal dos felinos, devendo receber uma terapia
emergencial.
A cateterização da uretra com posterior fixação da sonda uretral deve ser
visto com muita cautela, pois pode acarretar uma infecção bacteriana secundária
bem como uma reação inflamatória intensa na mucosa peniana.
O tipo de dieta e a freqüência com que o animal a recebe também podem
interferir diretamente no pH urinário, podendo ir de uma urina alcalina a uma urina
ácida.
Mediante a revisão bibliográfica referente a DTUIF, obstrução uretral e
urolitíase felina, pode-se afirmar que a sua ocorrência está, em grande parte,
associada à falta de atenção e cuidados com vários fatores predisponentes, cuja
maior parte está relacionada à alimentação que é proporcionada aos animais. Por
isso, é fundamental que os proprietários de gatos, sejam esclarecidos a respeito de
como proceder para prevenir tais patologias.
55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARSANTI, J. A.; FINCO, D. R.; BROWN, S. A. Diseases of the Lower Urinary Tract.
In: SHERDING, R. G. The Cat : diseases and clinical management. 2nd ed. New
York: Churchill Livingstone, 1994. p.1769 – 1823.
BIORGE, V. Feline nutrition update. In: Congress World Small Animal Veterinary
Association – Vancouver 2001. Disponível em: http://www.vin.com . Acessado em:
19 out. 2006.
BOJRAB, M. J.; CONSTANTINESCU, G. M. Tratamento da obstrução no gato. In:
BOJRAB et al. Técnicas atuais em cirurgia de pequenos animais. 3 ed. São Paulo:
Roca, 2005. p. 363 – 369.
BUFFINGTON, C.A.; CHEW, D.J.; KENDALL, M.S. et al. Clinical evaluation of cats
with non-obstructive urinary tract disease. Journal of the American Veterinary
Medical Association. Schaumburg, 1997. v. 210, n° 1 , p. 46-50.
CHANDLER, E. A.; HILBERY, A. D. R; GASKELL, C. Doença do trato urinário
inferior. In: Medicina e terapêutica de felinos. São Paulo: Manole, 1988. p. 159 –
169.
CHEW, J. D.; BUFFINGTON, T. Magnagement of male cats with urethral obstruction.
The Ohio State University College of Veterinary Medicine. Columbus: 2002.
56
Disponível em http://www.ceprograms/Obstructionurethral.htm. Acessado em: 16 out.
2006.
GATTI, R. M. Obstrucción uretral felina. Disponível em:
http://www.aamefe.org/obstruccion_uretral_felina_gatti.htm. Acessado em: 16 out.
2006.
CORGOZINHO, B.; SOUZA, H. J. M. de. Condutas na desobstrução uretral. In:
SOUZA, Heloiza Justen M.de. Coletâneas em medicina e cirurgia felina. Rio de
Janeiro: L. F. Livros, 2003. p. 67 – 86.
DIBARTOLA, S.P.; BUFFINGTON, T.C.A. Síndrome Urológica Felina. In: SLATTER,
D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 2 v. 2 ed. São Paulo: Editora Manole,
1998. p. 1750 – 1765.
ELLIOTT, D. A. Managing calcium oxalate urolithiasis in cats. In: WALTHAM Feline
Medicine Symposium. Vernon, 2003. Disponível em: http://www.vin.com/proceedings
Acessado em: 16 out. 2006.
FUNABA, M.; YAMATE, T,; NARUKAWA, Y. et al. In: Effect of supplementation of
dry cat food with d,l-methionine and ammonium chloride on struvite activity product
and sediment in urine. Journal of Veterinary Medical Science. v. 63, n. 3, p. 337 –
339, 2001.
57
GONZÁLEZ, F.D; DUARTE, F.; BRUM, A. et al. Plasma and urine of calcium,
phosphorus and magnesium in growing cats. Acta Scientiae Veterinariae, v. 31, n.1,
pub.551, p. 39 – 43, 2003.
HORTA, P. V. P. Alterações clínicas, laboratoriais e eletrocardiográficas em gatos
com obstrução uretral. 2006. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) –
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2006.
HOSGOOD, G.; HEDLUND, C. S. Moléstia uretral e uropatia obstrutiva. In: BOJRAB,
M. Joseph. Mecanismos da moléstia na cirurgia dos pequenos animais. 2 ed. São
Paulo: Manole, 1996. p. 617 – 628.
TOBIAS, K. Urethral obstruction cats. Disponível em:
http://www.acvs.org/animalowners/healthconditions/smallanimaltopics. Acessado em:
16 out. 2006.
LAZZAROTTO, J. J. Doenças do trato urinário inferior dos felinos associada aos
cristais de estruvita. Revista da Faculdade de Zootecnia Veterinária e Agronomia de
Uruguaiana, v.7, n.1, p. 53 – 56, 2005.
LORENZ, M. D.; CORNELIUS, L. M.; FERGUSON, D. C.; Distúrbios urogenitais. In:
Terapêutica clínica em pequenos animais. 1 ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996. p.
241 – 250.
58
LULICH, J. P.; OSBORNE, C. A. Urolitíase de oxalato de cálcio. In: TILLEY &
SMITH. Consulta veterinária em 5 minutos, espécies canina e felina. 2 ed. São
Paulo: Manole, 2003. p. 1278 – 1279.
MORAES, H. A. de. Manejo emergencial do gato obstruído. In: IV Conferência Sul-
Americana de Medicina Veterinária. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em :
http://www.abma.com.br . Acessado em: 13 out. 2006.
NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Manifestações clínicas dos distúrbios urinários. In:
Medicina interna de pequenos animais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p.
454 – 465.
O’FLAHERTY, J. X. Doenças do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF/FLUDT).
Disponível em: http://www.ncvonline.com.br . Acessado em: 13 out. 2006.
OSBORNE, A.C.; KRUGER, M.J.; LULICH, P.J. et al. Afecção do trato urinário
inferior dos felinos. In: ETTINGER, S.J. & FELDMAN, E.C. Tratado de medicina
interna veterinária: moléstia do cão e do gato. 4 ed. São Paulo: Manole, 1997. p.
2496-2534.
OSBORNE, A.C.; KRUGER, M.J.; LULICH, P.J. et al. Doenças do trato urinário
inferior dos felinos. In: ETTINGER, S.J. & FELDMAN, E.C. Tratado de medicina
interna veterinária: doenças do cão e do gato. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004. p. 1802 – 1841.
59
OSBORNE, A.C; LULICH, P.J.; UNGER, K.L. et al. Urolitíase canina e felina: relação
da etiopatogenia com o tratamento e prevenção. In: BOJRAB, M. J. Mecanismos da
moléstia na cirurgia dos pequenos animais. 2 ed. São Paulo: Manole, 1996. p. 543 –
596.
OSBORNE, C. A.; LULICH, J. P. Changing trends in composition of feline
uroliths and urethral plugs. In : Newmagazine of Veterinary Medicine.
Cleveland, abril, 2006. Disponível em: http://www.dvmnewmagazine.com.
Acessado em: 19 out. 2006.
PEQUENO, S. Feline bladder stones and urinary obstruction. Winn Feline
Foundation, 2006. Disponível em: http://www.winnfelineheath.org Acessado em 13
out. 2006.
RECHE JR, A.; HAGIWARA, M. K.; MAMIZUKA, E. Estudo clínico da doença do
trato urinário inferior em gatos domésticos de São Paulo. Brazilian Journal of
Veterinary Reserch and Animal Science, v. 35, n. 2, p. 69-74, 1998.
RECHE JR, A.; HAGIWARA, M. K. Semelhanças entre a doença idiopática do trato
urinário inferior dos felinos e a cistite intersticial humana. Ciência Rural. Santa Maria,
v. 34, n.1, jan./fev.2004.
RICHARDS, J. Cat urinary tract information. Cornell University College of Veterinary
Medicine. Disponível em : http://thecatconnection.com/care/utinary . Acessado em: 7
out. 2006.
60
ROBERTSON, W.G.; JONES,J.S.; HEATON, M.A. et al. Predicting the crystallization
potential of urine from cats and dogs with respect to calcium oxalate and magnesium
ammonium phosphate (struvite). The Journal of Nutrition. v. 132, n. 6, june, 1637s –
1641s, 2002.
RODRÍGUEZ, A.B. Cristaluria felina. Cuantificación de gliciproteínas urinárias bajo
diferentes condiciones de a alimentación. 1995. Tese (Doutorado em patologia
animal). Universidade Complutense de Madrid – Facultad de Veterinária. Madri,
1995.
SENIOR, D. F. Transtornos del sistema urinario. In: WILLS & WOLF. Manual de
medicina felina. Zaragoza: Acribia, 1993. p.223 – 244.
SESHANDRI, R. Urethral obstruction: stabilization of the critical patient. Proceedings
International Veterinary Emergency and Critical Care Symposium, v. 8, p.408, 2002.
SHAW, D.; IHLE, S. Doença do trato urinário inferior do felinos (DTUIF). In: Medicina
interna de pequenos animais. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1999. p.387 –
391.
SILVA, V. D. S. Doença do trato urinário inferior dos felinos. In: Anuário de pesquisa
acadêmica. Espírito Santo do Pinhal: Editora Unipinhal, 2005. p. 24.
61
SPARKES, A. H. An update on management of feline lower urinary tract disease. In:
Congresso Nazionale Multisala SCIVAC. 53º. 2006. Rimini-Italia. p. 115 – 116.
Disponível em: http://www.ivis.org/proceeding/scivac/2006/toc.asp. Acessado em: 9
out. 2006.
SOUZA, H. J. M. de. Síndrome urológica felina. Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Disponível em: http://www.anclivepa-sp.org.br . Acessado em: 16 out. 2006.
WARRAK, A. EL. Urolithiasis. 2006. Disponível em:
http://www.acvs.org/animalowners/healthconditions/smallanimaltopics . Acessado
em: 16 out. 2006.
WASHINGTON STATE UNIVERSITY. Feline urologic syndrome. 2006. Disponível
em: http://www.courses.vetmed.wsu.edu/vm552/urogenital/fus.htm. Acessado em 16
out. 2006.
WWW.GETTOKNOWHILLS.COM/FELINE/FELINE/CRUSTALLS_FELINE.HTML.
Acessado em: 13 out. 2006.
WWW.PUBLICATIONS.ROYALCANIN.COM/RENVOIE.ASP . Acessado em: 13 out.
2006.
62
RESUMO
O trabalho de conclusão de curso de Luciana Linhares Kintopp, teve como
objetivo relatar os casos clínicos de animais de companhia em medicina veterinária
acompanhados na Universidade Estadual de Londrina. Os casos são relatados de
acordo com o interesse pessoal, com o acompanhamento parcial dos atendimentos
e, com os dados obtidos em ficha dos animais registrados pelos profissionais
responsáveis. Além da descrição de cada caso, há uma breve revisão de literatura e
após o relato sua discussão e conclusão. O estágio contribuiu para uma
aprendizagem prática da profissão de Médico Veterinário, e de como proceder
adequadamente diante dos mais diversos casos , desde os mais corriqueiros aos
mais complexos.
63
LISTA DE TABELAS
TABELA 1. Casos clínicos acompanhados no setor da clínica cirúrgica de
animais de companhia do HV-UEL no período de agosto e se-
tembro de 2006.
8
TABELA 2. Resultados de exames histopatológico dos nódulos
TABELA 3. Auxílio nos procedimentos cirúrgicos, referente aos casos clíni-
cos listados na tabela 1.
10
10
64
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. Entrada do Hospital Veterinário
FIGURA 2. Entrada do Hospital Veterinário
FIGURA 3. Sala de procedimento
FIGURA 4. Gatil
FIGURA 5. Sala de cirurgia
FIGURA 6. Setor de radiologia
FIGURA 7. Anatomia cirúrgica dos músculos que compõem o diafragma
pélvico do cão
FIGURA 8. Raio X simples
FIGURA 9. Raio X contrastado
FIGURA 10. Radiografia de necrose asséptica da cabeça femoral, no
posicionamento ventrodorsal
FIGURA 11. Contorno irregular de cabeça e colo femoral esquerdo de
Paciente com necrose asséptica da cabeça femoral
FIGURA 12. Raio X pós-operatório em posição, ausência de cabeça e colo
femoral esquerdo
FIGURA 13. À esquerda uma articulação coxofemoral normal e à direita
Uma articulação anormal
FIGURA 14. Radiografia em posição ventrodorsal do paciente - perda da
profundidade acetabular com remodelamento de colo e cabeça
femoral severa, com proliferação de osteófitos em articulação
coxofemoral bilateral, compatível com displasia coxofemoral
FIGURA 15. Radiografia em posição ventrodorsal do paciente – presença de
fragmentos ósseos em área de espaço articular coxofemoral
esquerdo
FIGURA 16. Procedimento cirúrgico do paciente – ressecção da cabeça e
colo femorais - afastamento dos músculos
FIGURA 17. Procedimento cirúrgico do paciente – ressecção da cabeça e
colo femorais - exposição da cabeça femoral
FIGURA 18. Procedimento cirúrgico do paciente – ressecção da cabeça e
2
2
3
3
4
4
12
16
16
21
23
25
27
32
36
39
39
39
65
colo femorais - exposição da cabeça femoral
FIGURA 19. Procedimento cirúrgico do paciente – ressecção da cabeça e
colo femorais - remoção das protuberâncias ósseas
FIGURA 20. Fratura completa transversa em terço médio de diáfise no fêmur
esquerdo - posição ventrodorsal
FIGURA 21. Fratura completa transversa em terço médio de diáfise no fêmur
esquerdo – posição lateral
FIGURA 22. Radiografia do paciente em posição ventrodorsal e lateral,
pós-operatório do dia 02/08/2006
FIGURA 23. Radiografia do paciente em posição lateral e ventrodorsal do
paciente no dia 01/09/2006 – reação periosteal em terço médio
distal, junto ao foco da fratura, com linha de fratura
FIGURA 24. Radiografia do paciente no dia 26/09/2006 – reação exacerbada
adjacente ao foco da fratura e esclerose do canal medular ,
compatível com não-união - posição lateral
FIGURA 25. Radiografia do paciente no dia 26/09/2006 – reação exacerbada
adjacente ao foco da fratura e esclerose do canal medular ,
compatível com não-união - posição ventrodorsal
FIGURA 26. Radiografia controle, pós-operatório dia 27/09/2006 – fixador
tipo Kirschner com auxílio de cimento cirúrgico - posição
ventrodorsal
FIGURA 27. Radiografia controle, pós-operatório dia 27/09/2006 – fixador
tipo Kirschner com auxílio de cimento cirúrgico – posição lateral
FIGURA 28. Radiografia do paciente, pré-operatório – fratura completa em
terço médio de diáfise de fêmur - posição lateral
FIGURA 29. Radiografia do paciente, pré-operatório – fratura completa em
terço médio de diáfise de fêmur - posição ventrodorsal
FIGURA 30. Radiografia em posição lateral do paciente, pós-operatório - pino
de Steinmann posicionado
FIGURA 31. Paciente com uma bandagem no MPE
FIGURA 32. Paciente com atadura no MPD
FIGURA 33. Radiografia de crânio do paciente
FIGURA 34. Radiografia de crânio do paciente
39
45
45
47
49
50
50
50
50
52
52
55
62
62
65
65
66
FIGURA 35. Posicionamento da focinheira no paciente
FIGURA 36. Posicionamento da focinheira no paciente
FIGURA 37. Confecção da focinheira em esparadrapo
FIGURA 38. Confecção da focinheira em esparadrapo
FIGURA 39. Hemilaminectomia com exposição do canal medular
FIGURA 40. Abordagem cirúrgica ao canal medular
FIGURA 41. Abordagem cirúrgica ao canal medular
FIGURA 42. Mielografia do paciente, interrupção da coluna de contraste
FIGURA 43. Mielografia do paciente, interrupção da coluna de contraste
FIGURA 44. Pinça Kerrinson
FIGURA 45. Microretífica
FIGURA 46. Progressão do tratamento da ferida dia 18/08
FIGURA 47. Progressão do tratamento da ferida dia 18/08
FIGURA 48. Progressão do tratamento da ferida dia 08/09
FIGURA 49. Progressão do tratamento da ferida dia 08/09
FIGURA 50. Progressão do tratamento da ferida dia 13/09
FIGURA 51. Progressão do tratamento da ferida dia 13/09
FIGURA 52. Progressão do tratamento da ferida dia 23/09
FIGURA 53. Progressão do tratamento da ferida dia 23/09
66
66
67
67
70
71
71
73
73
75
75
84
84
84
84
85
85
85
85
67
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS “ ®
Segundos Marca registrada
% °C < > BID Bpm C.C.A.C cm C.M.A.C et al g/dl HV IV Kg MAE mEq/L mg/dl mg/Kg mg/ml mg/m² mm³ MPA Mpm p. PO PS PVPI QID RG SC SID SRD TAC TID TPC UEL UI/L UNESP USP VO
Percentagem Graus Celsius Menor Maior Do latim bis in die, duas vezes ao dia (a cada 12 horas) Batimento por minuto Clínica cirúrgica de animais de companhia Centímetros Clínica médica de animais de companhia Do latim et alii, que significa e outros Gramas por decilitro Hospital Veterinário Intravenoso Kilograma Membro anterior esquerdo Miliequivalente por litro Miligrama por decilitro Miligrama por quilo Miligrama por mililitro Miligrama por metro quadrado Milímetros cúbicos Medicação pré anestésica Movimentos por minuto Página Por via oral Pronto socorro Iodo-povidona Do latim quarter in die, quatro vezes ao dia (a cada 6 horas) Registro geral Subcutâneo Do latim semel in die, uma vez ao dia (a cada 24 horas) Sem raça definida Teriogenealogia de animais de companhia Do latim ter in die, três vezes ao dia (a cada 8 horas) Tempo de preenchimento capilar Universidade Estadual de Londrina Unidade internacional por litro Universidade Estadual de São Paulo Universidade de São Paulo Via oral
68
LISTA DE VALORES DE REFERÊNCIA DE EXAMES PARA CÃES 1. HEMATÓCRITO Eritrócitos: 5,5 – 8,5 milhões/mm³. Hematócrito: 37 – 55%. Leucócitos: 6 – 17 milhares/mm³. Bastonetes: 0 – 3%. Segmentados: 60 – 77%. Linfócitos: 12 – 30%. Monócitos: 3 – 10%. Eosinófilo: 2 – 10%. Plaquetas: 200 – 500 milhares/mm³. Hemoglobina: 12 – 18 g/dl. 2. BIOQUÍMICOS Alanina-aminotrasferase (ALT): 5,0 – 20,0 UI/L. Aspartato-aminotransferase (AST): < 30 UI/L. Bilirrubina direta: < 0,14 mg/dl. Bilirrubina total: 0,05 – 0,60 mg/dl. Colesterol: 100 – 200 mg/dl. Creatinina: 0,5 – 1,9 mg/dl. Fosfatese alcalina: < 80 UI/L. Glicose: 60 – 100 mEq/L. Triglicerídeos: 50 – 100 mg/dl. Uréia: 15 – 40 mg/dl. Proteínas totais: 6,0 – 7,5 g/dl.
69
SUMÁRIO
RESUMO
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
LISTA DE VALORES DE REFERÊNCIA DE EXAMES PARA CÃES
1. INTRODUÇÃO 1
2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO 1
2.1 PLANTA FÍSICA
2.2 DOCENTES DA CLÍNICA CIRÚRGICA DE PEQUENOS ANIMAIS
2.3 COORDENAÇÃO DE ESTÁGIO
2.4 METODOLOGIA
2.5 ATIVIDADE DE ESTÁGIO
2.6 OBJETIVO DO RELATÓRIO DE ESTÁGIO
3. CASUÍSTICA DOS CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS
4. RELATOS DE CASOS ACOMPANHADOS
4.1 AFECÇÕES DE TECIDOS MOLES
4.1.1 Hérnia perineal
4.1.1.1 Revisão de literatuta
4.1.1.2 Caso Clínico 1
4.2 AFECÇÕES DO SISTEMA ÓSSEO
4.2.1 Afecções de Legg-Calvé-Perthes
4.2.1.1 Revisão de literatura
4.2.1.2 Caso Clínico 2
4.2.2 Displasia Coxofemoral
4.2.2.1 Revisão de literatura
4.2.2.2 Caso Clínico 3
4.2.2.3 Caso Clínico 4
4.2.3 Fratura de fêmur
4.2.3.1 Revisão de literatura
4.2.3.2 Caso Clínico 5
2
4
5
5
6
7
8
11
11
11
11
14
19
19
19
21
26
26
30
34
40
40
43
70
4.2.3.3 Caso Clínico 6
4.2.4 Fratura de tíbia
4.2.4.1 Revisão de literatura
4.2.4.2 Caso Clínico 7
4.2.5 Fratura de mandíbula
4.2.5.1 Revisão de literatura
4.2.5.2 Caso Clínico 8
4.2.6 Doença do disco intervertebral
4.2.6.1 Revisão de literatura
4.2.6.2 Caso Clínico 9
4.3 AFECÇÕES DO SISTEMA TEGUMENTAR
4.3.1 Manejo de feridas abertas
4.3.1.1 Revisão de literatura
4.3.1.2 Caso Clínico 10
5. CONCLUSÃO
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
51
57
57
58
62
62
64
68
68
71
76
76
76
79
87
88
71
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho visa relatar todas as atividades desenvolvidas e acompanhadas
pela acadêmica Luciana Linhares Kintopp, no estágio curricular obrigatório realizado
no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina (HV - UEL) na área de
Clínica Cirúrgica de Animais de Companhia e desenvolvido durante o período
compreendido entre os dias 01 de agosto a 30 de setembro de 2006, totalizando 320
horas.
O estágio referido acima, também teve como objetivo, o aprimoramento dos
conhecimentos prático e condutas de trabalho na área de cirurgia de animais de
companhia, e conhecer o funcionamento e a rotina de um hospital veterinário em
outra instituição como a UEL, que proporciona aos alunos e estagiários um ensino e
vivências das situações encontradas no campo profissional.
Assim sendo, este trabalho tem como objetivo relatar o estágio obrigatório de
conclusão de curso, enfocando local de estágio, seu funcionamento, atividades
realizadas, casos acompanhados e a discussão dos mesmos.
2. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO
O estágio curricular de conclusão de curso foi realizado no Hospital
Veterinário da Universidade Estadual de Londrina (UEL), na área de Clínica
Cirúrgica de Animais de Companhia, no período de 01 de agosto a 30 de setembro
de 2006.
O Hospital Universitário Estadual de Londrina encontra-se localizado na
Rodovia Celso Garcia Cid - PR 445, s/nº - Km 379, Campus Universitário na cidade
72
de Londrina – PR, CEP: 86051-990. Telefone: (043) 3371-4000/ Fax; (043) 3371-
4644. (Figuras 1 e 2).
FIGURAS 1 e 2: ENTRADA DO HOSPITAL VETERINÁRIO
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
2.1 PLANTA FÍSICA
Os animais de companhia são recebidos por um docente de plantão do setor
de triagem, que após uma avaliação e diagnóstico inicial, encaminha-os para o
atendimento especializado. Este atendimento é conduzido conforme sua
necessidade por residentes e estagiários e supervisionados pelos docentes dos
respectivos setores: Pronto Socorro (PS), Clínica Médica de Animais de Companhia
(CMAC), Obstetrícia ou Teriogenealogia de Animais de Companhia (TAC), Clínica
Cirúrgica de Animais de Companhia (CCAC).
O setor de Clínica Cirúrgica, no qual foi realizado este estágio curricular, é
constituído: por dois ambulatórios, onde são realizadas as consultas, conduzidas a
anamnese e exame físico, solicitados os exames laboratoriais e diagnósticos por
73
imagem, feitas as orientações e prescrições de receitas aos proprietários, indicados
procedimentos e internamentos, e reavaliações; uma sala de procedimento, onde
são realizadas coletas para exames laboratoriais e procedimentos rápidos.
Em outro bloco do setor de Clínica Cirúrgica encontra-se o Centro Cirúrgico,
com duas salas para procedimentos estéreis, sendo uma delas para cirurgia
ortopédica; as salas de esterilização e instrumental, duas salas de internamento,
sendo uma para o gatil, com capacidade para 5 animais e outra para os cães, com
capacidade para 16 animais, sala para procedimentos, onde são realizados
imobilizações, curativos e tratamento para os animais que estão internados; uma
sala para cirurgias de animais que chegam pelo Pronto Socorro.
O hospital conta também com uma área de vários laboratórios de análises
clínicas e patológicas e uma infra-estrutura para exames radiográficos. (Figuras 3, 4,
5 e 6).
FIGURA 3: SALA DE PROCEDIMENTOS FIGURA 4: GATIL
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
74
FIGURA 5: SALA DE CIRURGIA FIGURA 6: SETOR DE RADIOLOGIA
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
2.2 DOCENTES DA CLÍNICA CIRÚRGICA DE PEQUENOS ANIMAIS
• Professora: Carmen Lucia Scortecci Hilst.
Graduação em Medicina Veterinária: UEL. Residência: Cirurgia UNESP Botucatu.
• Professora: Mirian Siliane Batista de Souza.
Graduação em Medicina Veterinária: UEL. Residência Cirurgia UNESP
Jaboticabal. Mestrado Medicina Veterinária – Cirurgia UNESP Jaboticabal e
Doutora em Medicina Veterinária – Cirurgia – USP.
• Professora: Mônica Vicky Bahr Arias.
Graduação em Medicina Veterinária: UEL. Mestrado em Medicina Veterinária –
Cirurgia USP. Doutora em Medicina Veterinária – Cirurgia – USP.
• Professora: Nilva Maria Feres Mascarenhas.
Graduação em Medicina Veterinária: UNESP Botucatu. Especialização:
Metodologia de Ensino Superior – UEL. Mestrado Ciências Biológicas (Histologia)
UEL. Doutorado: Ciências Biológicas (Anatomia) UNESP Botucatu.
75
2.3 COORDENAÇÃO DE ESTÁGIO
• Coordenadora da Comissão de Estágio em Medicina Veterinária:
Professora Carmen Lucia Scortecci Hilst
• Vice-Coordenador:
Professor Antônio Carlos Faria dos Reis
2.4 METODOLOGIA
A clínica cirúrgica de animais de companhia possui uma divisão a qual dá
origem a três subáreas: atendimento ambulatorial, atendimento aos animais
internados (móvel) e acompanhamento de procedimentos cirúrgicos (centro
cirúrgico). Os médicos veterinários residentes e estagiários acompanham uma
escala realizada para que haja rotação dos mesmos entre as três subáreas.
O atendimento ambulatorial se responsabiliza pelos casos novos triados por
afecções cirúrgicas não emergenciais e retornos programados dos animais que já
passaram por consultas ou procedimentos cirúrgicos. Os atendimentos são
realizados pelos médicos veterinários residentes supervisionados pelos docentes da
área e auxiliados pelos estagiários, que assistem ao recebimento do animal,
anamnese e exame físico, condução e contenção para exames radiográficos, auxílio
na coleta de materiais para exames laboratoriais, preenchimento de guias,
solicitações, prescrições e receitas, condução para o internamento.
O atendimento aos animais internados tem a função de acompanhar os
pacientes do setor, realizando exames clínicos diários, troca de curativos,
76
administração de medicações prescritas, coleta de materiais biológicos para exames
de acompanhamento e pré-operatórios (hemogramas, urinálises, perfil bioquímicos,
entre outros), oferta de alimentação enteral e parenteral (se necessário), colocação e
acompanhamento dos animais na fluidoterapia, fisioterapia (se prescrito), limpeza
das gaiolas, breves passeios pela área externa, do HV - UEL, entre outras.
Os estagiários designados ao acompanhamento dos procedimentos cirúrgicos
(centro cirúrgico) têm a responsabilidade de receber e preparar os animais para as
cirurgias, providenciar exames pré-operatórios e materiais específicos a serem
utilizados nos procedimentos, bem como o de auxiliar o residente ou o docente
durante o procedimento cirúrgico e a condução do paciente pós-cirurgico para o
internamento.
2.5 ATIVIDADES DE ESTÁGIO
Durante o período de estágio, foi proporcionado à acadêmica, o
acompanhamento de todas as atividades e serviços que dispõe o setor da Clínica
Cirúrgica do Hospital Veterinário da UEL, como:
- acompanhamento do atendimento ambulatorial, de casos novos e casos de
reavaliação de prescrições conservativas ou pós-cirúrgicas, fazendo anamnese e
exame físico, sob supervisão de residentes e docentes;
- acompanhamento da rotina hospitalar da área de clínica cirúrgica de animais
de companhia;
77
- coleta de materiais biológicos como sangue, urina e secreções de feridas
para encaminhamento de hemograma, sorologia, cultura, citologia, histopatologia
entre outros.
- acompanhamento de exames de diagnóstico por imagem como exame
radiográfico e mielografias, auxiliando no preparo, posicionamento e contenção dos
animais.
- acompanhamento de procedimentos cirúrgicos diversos, instrumentando,
auxiliando ou como ajudante de sala, tudo com a supervisão do docente responsável
pela semana do centro cirúrgico;
- monitoramento e cuidados de enfermagem dos animais internados no setor
de clinica cirúrgica de animais de companhia, como limpeza de feridas e troca do
curativo, troca de talas entre outros;
- participação como ouvinte de reuniões clínicas semanais entre docentes e
residentes, para discussão dos casos ocorridos na semana anterior.
2.6 OBJETIVO DO RELATÓRIO DE ESTÁGIO
Este trabalho tem como objetivo, a apresentação descritiva de dez casos
clínicos acompanhados pela acadêmica Luciana Linhares Kintopp, na área de clínica
cirúrgica de animais de companhia, fornecendo informações gerais de todos os
casos acompanhados, uma breve revisão de literatura e discussão dos casos
descritos.
78
3. CASUÍSTICA DOS CASOS CLÍNICOS ACOMPANHADOS
TABELA 1 – Casos clínicos acompanhados no setor da clínica cirúrgica de animais
de companhia do HV – UEL no período de agosto e setembro de 2006.
AFECÇÕES CANINOS FELINOS TOTAL
Afecções do Sistema neuromuscular Síndrome toracolombar Síndrome cervical grau 1 Síndrome cervical grau 2 Síndrome de Wobbler ou do bamboleio Síndrome lombossacra Tetraplegia Tetraparesia Síndrome da cauda eqüina Fratura compressiva T 2
Má-formação vertebral
Afecções do Sistema ósseo Fraturas pélvicas Fraturas umerais Fraturas radio-ulnares Fraturas tibiais Displasia coxofemoral Luxação coxofemoral Fraturas mandibulares Necrose avascular da cabeça do fêmur Fraturas do metatarso Fraturas femorais Fraturas do metacarpo Fratura de tarso Luxação patelar Luxação articular úmero/radio/ulnar Luxação tarso-metatarso Fratura de costelas Cisto ósseo Ruptura de tendão Ruptura da cápsula articular Avulsão da cauda Afecções do Sistema urogenital Obstrução urinária Cisto na bexiga Ruptura de uretra Ruptura de bexiga Miíase em vulva Fístula perianal
6 1 2 2 3 1 - 2 1 1
14 3 5 3 1 3 2 2 1 5 1 2 1 2 2 1 1 1 1 - 2 - 2 1 1 1
- - - - - - 1 - - - - - - 2 - - 2 - - 2 - - - - - - - - - 1 6 1 1 - - -
6 1 2 2 3 1 1 2 1 1
14 3 5 5 1 3 4 2 1 7 1 2 1 2 2 1 1 1 1 1
8 1 3 1 1 1
Continua
79
AFECÇÕES CANINOS FELINOS TOTAL
Afecções do Sistema respiratório Perfuração de tórax Contusão pulmonar Osso em orofaringe Afecções dos sentidos especiais Olho Glaucoma Perfuração Uveíte Úlcera de córnea Protrusão da glândula da 3ª pálpebra Catarata Hifema Entrópio Ouvido Otite Otohematoma Miíase no ouvido Afecções do Sistema digestório Massa em cavidade oral Fístula do 4º pré-molar Evisceração Intussuscepção Fecaloma Hérnias Hérnia perineal Afecções do Sistema tegumentar Feridas lacerantes e/ou mordedura Farmacodermia Escaras no cotovelo Deiscência de sutura Flegmão Afecções Oncológicas Nódulo em cotovelo Nódulo em tórax Nódulo em mandíbula Nódulo palpebral Nódulo em membro posterior Nódulo em membro anterior Nódulo no baço TOTAL
2 1 1 5 1 3 1 3 1 1 1 - 2 1 3 1 1 1 1 4
14 1 3 2 3 1 3 1 2 3 1 1
146
- - - - - - - - - - - 1 1 - - - - - - - 4 - - - - - - - - - - -
22
2 1 1
5 1 3 1 3 1 1 1
1 3 1
3 1 1 1 1
4
18 1 3 2 3
1 3 1 2 3 1 1
168
80
TABELA 2 – RESULTADO DE EXAMES HISTOPATOLÓGICO DOS NÓDULOS
HISTOPATOLÓGICO CANINOS FELINOS TOTAL
Mieloma múltiplo Mastocitoma Fibrohistiocitoma maligno Carcinoma sólido Histiocitoma Processo inflamatório neutrofílico Melanoma maligno
1 4 1 1 1 1 1
10
- - - - - - - 0
1 4 1 1 1 1 1
10
TABELA 3 – AUXÍLIO NOS PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS, REFERENTE AOS
CASOS CLÍNICOS LISTADOS NA TABELA 1.
Afecções Procedimentos Cirúrgico Número de casos
Hérnia perineal Obstrução urinária Fratura de fêmur Fratura de úmero Fratura de tíbia Fratura de mandíbula Fratura de rádio e ulna Fratura de pelve Fratura múltipla exposta Protrusão da gl. da 3ª pálpebra Protrusão do globo ocular Otohematoma Feridas abertas Síndrome toracolombar Displasia coxofemoral
Herniorrafia
Cistorrafia
Osteossíntese Excisão da cabeça e colo
Osteossíntese do úmero
Osteossíntese de tíbia
Cerclagem
Osteossíntese de rádio e ulna
Placa e parafusos
Amputação de membro e dígitos
Sepultamento da glândula
Enucleação
Drenagem
Síntese de ferida
Hemilaminectomia c/ Fenestração
Denervação
2
1
4 2
1
1
1
2
1
3
2
1
1
3
4
1
29
81
4. RELATOS DE CASOS ACOMPANHADOS
4.1 AFECÇÕES DE TECIDOS MOLES
4.1.1 Hérnia perineal
4.1.1.1 Revisão de literatura
Hérnia é uma protrusão anormal de um órgão ou tecido através de uma
abertura corporal normal. As hérnias apresentam um anel hernial e um saco formado
de peritônio circundando o conteúdo hernial; as hérnias falsas não têm saco
peritoneal. As hérnias são redutíveis ou irredutíveis. As hérnias irredutíveis podem
ficar estranguladas se a circulação para o conteúdo for interrompida. (DEAN et al,
1996).
A hérnia perineal resulta da incapacidade do diafragma pélvico em suportar
a parede retal que se distende e sofre desvio. O conteúdo pélvico e,
ocasionalmente, abdominal, pode projetar-se entre o diafragma pélvico e o reto.
Ocorre tumefação ao ânus, e em casos bilaterais, também é observada projeção
caudal do ânus. (BELLENGER e CANFIELD, 1998).
Com base na anatomia cirúrgica o períneo é a parte da parede do corpo que
cobre a saída pélvica e circunda os canais anal e urogenital. Os limites laterais são
formados pelo ligamento sacrotuberoso, que se estende desde o ângulo lateral da
tuberosidade isquiática até o processo transversal da primeira vértebra caudal, e
extremidade caudal do sacro. A principal estrutura do períneo é o diafragma pélvico,
que consiste dos músculos coccígeo e elevador do ânus, juntamente com suas
82
coberturas faciais, externas e internas. (Figura 7). Um aspecto topográfico da área é
a fossa isquiorretal, e suas paredes são formadas pelo esfíncter anal externo, pelos
músculos coccígeos e elevador do ânus medialmente, pelo músculo obturador
interno ventralmente, e pela parte caudal do músculo glúteo superficial lateralmente.
Ocupam este espaço quantidades variáveis de tecido adiposo, que está incorporado
a fáscia perineal superficial. (BELLEGER e CANFIELD, 1998).
FIGURA 7: ANATOMIA CIRÚRGICA DOS MÚSCULOS QUE COMPÕEM O
DIAFRAGMA PÉLVICO DO CÃO
FONTE: MORTARI E RAHAL, 2005
Muitos são os fatores implicados na etiopatogenia da doença. Existem
teorias que sugerem predisposição genética, uma fraqueza estrutural do diafragma
pélvico, um desequilíbrio hormonal e uma constipação crônica. Devido à inexistência
de fortes evidências que sustentem uma dessas teorias, a origem desta doença
deve envolver uma combinação de vários fatores. (BOJRAB et al, 1991).
Qualquer cão de raça pura ou SRD pode ser afligido por hérnia perineal,
porém certas raças exibem com maior freqüência: Boston Terriers, Collies, Boxers,
Welsh Corgis, Kelpies e mestiços Kelpies, Dachshunds puros e mestiços, Old
83
English sheepdog, e SRD. Cães com caudas curtas podem estar predispostos a esta
condição. A hérnia perineal quase que exclusivamente afeta os cães machos
(sexualmente não castrados e castrados) com 5 anos ou mais; porém, alguns casos
foram descritos em cadelas. (MANN, 1996).
Com base nos sinais clínicos a maioria dos animais são apresentados com
tumefação perineal redutível, e com um ou mais dos sinais seguintes: constipação
(defecação difícil ou defecação a intervalos prolongados), obstipação (constipação
intratável), tenesmo (esforço para defecar ou urinar, sem que ocorra a eliminação), e
disquezia (defecação dolorosa). O edema na região perineal é normalmente
evidente e pode ser unilateral ou bilateral. Pode ocorrer estrangúria (micção
dolorosa) em associação com afecção prostática, outros sinais clínicos ocasionais
são a ulceração da pele na massa herniada, incontinência fecal, incontinência
urinária, e atitude alterada da cauda. (BELLEGER e CANFIELD, 1998).
O diagnóstico baseia-se na história clínica, sinais clínicos, bem como
exames físicos, radiográficos e ultra-sonográficos. A palpação retal é um dos
exames mais importantes, visto possibilitar a determinação das estruturas que
formam o aumento de volume, verificar a presença de deslocamento ou dilatação
retal, e avaliar a textura e tamanho da próstata, se esta estiver envolvida.
Radiografias não contrastadas podem indicar a posição da bexiga urinária, próstata,
bem como deslocamento e dilatações retais, desde que o reto esteja preenchido por
fezes. A ultra-sonografia é efetiva na determinação dos conteúdos herniários
dispensando muitas vezes o exame radiográfico. (BELLENGER e CANFIELD, 1998).
No que se refere aos diagnósticos diferenciais, devem excluir-se as
seguintes possibilidades: neoplasia perineal, hiperplasia das glândulas perineais,
inflamação ou neoplasia dos sacos anais, atresia ani e tumores vaginais. No caso de
84
existir disquezia, deve descartar a hipótese da presença de um corpo estranho no
reto, de uma fístula perianal, de uma constrição anal ou retal, de um abscesso dos
sacos anais, de uma neoplasia anal ou retal, de um trauma anal, de um prolapso
anorretal ou ainda de uma dermatite anal. (FERREIRA e DELGADO, 2002).
Existem três tipos principais de técnicas usadas como herniorrafia citadas. A
herniorrafia tradicional, a por transposição do músculo obturador interno e por meio
de implantação de membranas biológicas. As técnicas basicamente consistem na
redução do conteúdo herniário e fechamento do defeito. Durante a herniorrafia, é
importante a correção dos fatores etiológicos. A castração de rotina de todos os
pacientes de hérnia perineal é recomendada. Muitos cirurgiões acham indicado o
reparo simultâneo das hérnias bilaterais. (BELLENGER e CANFIELD, 1998).
4.1.1.2 Caso Clínico 1
NOME: Baco
ESPÉCIE: Canina
RAÇA: Rottweiller
SEXO: Macho
RG Nº: 2139/06
IDADE: 6 anos
PESO: 32 Kg
DATA: 11/08/2006
SETOR DE ATENDIMENTO: Clínica Cirúrgica de Animais de Companhia (CCAC)
ANAMNESE
O proprietário relatou que o animal estava urinando aos poucos e com muita
dificuldade há mais ou menos 1 mês, e que há poucos dias sente dor ao tocar na
região perineal, com isso o animal não fica na posição de sentar. Fezes normais,
85
animal dócil, mas não permite manipulação no local, não é castrado e nunca cruzou,
come ração seca de boa qualidade, vacinas atrasadas, tomou vermífugo há mais de
4 meses. Vive com mais uma fêmea da mesma raça e saudável, em um quintal com
grama e metade de cimento, sai para passear toda noite.
EXAME FÍSICO
O animal apresentou temperatura retal de 38,7°C, f reqüência cardíaca de
152 bpm, estava em taquicardia, e TPC não foi possível avaliar, hidratação normal.
Pulso arterial regular, mucosas congestas, nível de consciência alerta, estado
nutricional normal, comportamento agressivo. Esclera avermelhada e com secreção
ocular bilateral. Aumento de volume macio de 12 a 15 cm de diâmetro e com
temperatura levemente elevada em região perineal bilateral, flacidez na musculatura
local.
EXAMES COMPLEMENTARES
Raio-X simples e contrastado, hemograma, creatinina e proteínas totais.
Resultados:
Proteínas totais 9,0 g/dl
Creatinina 0,55 mg/dl
Hemograma dentro das normalidades.
86
Realizado raio-x simples em posição lateral, observa-se o aumento de
tamanho de tecido mole em região perineal e a posição da bexiga urinária está bem
caudal. (Figura 8).
Raio-x contrastado realizado em posição lateral com a técnica da cistografia
retrógrada positiva, observa-se o aumento de tamanho de tecido mole em região
perineal (com presença de gás). (Figura 9).
FIGURAS 8: RAIO-X SIMPLES FIGURA 9: RAIO-X CONTRASTADO
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
DIAGNÓSTICO
Hérnia Perineal
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Neoplasias (adenocarcinoma, adenoma), corpo estranho, abscessos.
87
TRATAMENTO
Herniorrafia perineal.
PROTOCOLO ANESTÉSICO
O paciente foi pré-medicado com neozine na dose 0,15 mg/ Kg (0,3 ml/kg)
de peso pela via intramuscular. Após indução anestésica com propofol na dose de 5
mg/Kg e diazepam na dose 0,3 mg/Kg pela via intravenosa, o paciente foi mantido
em plano anestésico com isofluorano, volume total de 35 ml, pela via inalatória.
Realizado uma epidural com lidocaína 1 ml/Kg mais morfina na dose 0,2 mg/Kg.
DESCRIÇÃO DA TÉCNICA OPERATÓRIA
Animal em decúbito ventral, com os membros posteriores sobre o final da
mesa e o quadril levemente inclinado. O acesso foi realizado com uma incisão em
meia lua na região perineal direita, incisando a pele, subcutâneo e musculatura. No
interior encontrou-se muito epiplon e líquido abdominal, em seguida realizado a
redução deste conteúdo, com o auxílio de um tampão (pinça e gaze). Feito o pré-
posicionamento dos fios de nylon 2-0 com auxílio das pinças para após realizar a
sutura dos músculos esfíncter externo do ânus e obturador interno, esfíncter externo
do ânus e elevador do ânus, coccígeo e elevador do ânus, e coccígeo e obturador
interno. Antes de amarrar-se às extremidades de sutura é retirado o tampão nos
últimos pontos. Após sutura-se o subcutâneo com fio nylon 0,30, cushing e pele com
88
pontos simples interrompidos e com fio nylon 0,30. O mesmo procedimento foi
realizado do lado esquerdo.
Foi realizado uma orquiectomia, segundo a técnica das três pinças,
transfixado com fio de sutura nylon 0,30.
PÓS-OPERATÓRIO
Animal permaneceu internado durante 4 dias com prescrição de Cefalexina
na dose de 30mg/Kg (5 ml), SC, TID, Cetoprofeno 1mg/Kg (0,7 ml), SC, SID,
Lactulona® 7 ml, VO, BID e a limpeza dos pontos com aplicação de gelo por 10
minutos, BID. Manteve em casa por 7 dias as seguintes medicações: Cefalexina e a
Lactulona®, fazendo a limpeza e compressas geladas, o animal permaneceu
sempre com colar elizabetano.
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
A herniorrafia foi o tratamento de escolha e de melhor eficácia para o caso,
pois quanto mais precoce for feito a correção cirúrgica mais favorável será o
prognóstico. A castração foi realizada para que diminua a probabilidade de
recorrência da hérnia, pois segundo Belleger e Canfield (1998), a glândula prostática
influencia nos desequilíbrios hormonais os quais são fatores que podem ter certo
papel na patogênese da hérnia perineal.
A ultra-sonografia não foi realizada por falta de recursos do proprietário e o
Hospital Veterinário da UEL não dispõem dos aparelhos para realizar este exame.
89
4.2 AFECÇÕES DO SISTEMA ÓSSEO
4.2.1 Afecção de Legg-Calvé-Perthes
4.2.1.1 Revisão de literatura
Também pode ser denominada como afecção de Legg-Perthes ou Calvé-
Perthes, osteocondrite juvenil, necrose avascular, e coxa plana, a afecção de Legg-
Calvé-Perthes é uma necrose asséptica não inflamatória da cabeça e colo femorais
em cães de pequeno porte. A causa de tal necrose não é conhecida com certeza,
mas tem sido proposta como isquemia resultante de compressão vascular e
atividade hormonal sexual precoce. (PIERMATTEI e FLO, 1999).
Em todos os casos, o osso da cabeça e colo femorais sofre necrose e
deformação durante as quais a dor é manifestada pelo animal. A cartilagem articular
crepita, como resultado de colapso do osso subcondral. O osso eventualmente pode
formar-se novamente na área necrótica, mas a cabeça e colo femorais estão
deformados, com incongruência articular e instabilidade resultantes. Esta condição
leva a graves mudanças degenerativas dentro de toda articulação coxofemoral e a
desenvolvimento de acentuada ósteo-artrose. (PIERMATTEI e FLO, 1999).
Animais machos e fêmeas são igualmente afetados. O envolvimento bilateral
tem sido relatado como 16,5%. Os animais de raças “toy” e terrier são os mais
suscetíveis. O pico de incidência do aparecimento de sintomas é de 5 a 8 meses de
idade, com a amplitude de 3 a 13 meses. (PIERMATTEI e FLO, 1999).
Freqüentemente, o primeiro sinal notado é a irritabilidade. O animal pode
morder a área do flanco e coxal. A dor pode ser determinada na articulação
90
coxofemoral, particularmente na abdução, a crepitação pode estar presente, com
taxa de movimentação restrita e encurtamento do membro. A atrofia dos músculos
glúteos e quadríceps tornam-se aparente. A ocorrência de claudicação é geralmente
gradual, e seis a oito semanas são necessárias para progressão até a incompleta
impotência funcional. (PIERMATTEI e FLO, 1999).
As radiografias da articulação coxofemoral devem ser realizadas no
posicionamento ventrodorsal. (Figura 10). Os sinais radiográficos são: deformidade e
irregularidade de cabeça e colo femorais, depressões radioluscentes no osso
subcondral da cabeça femoral, diminuição da radiopacidade de epífise e metáfise
femorais, subluxação coxofemoral, fragmentação de cabeça femoral, fraturas
patológicas (secundárias) e sinais de doença articular degenerativa secundária
(principalmente osteofitose em colo femoral). (OLMSTEAD, 1998).
Apesar da afecção poder ocorrer bilateralmente, os sinais radiográficos
podem não se apresentar simultaneamente. Uma alternativa para o diagnóstico é o
uso da ressonância magnética com contraste. (OLMSTEAD, 1998).
O diagnóstico diferencial para animais jovens é a luxação patelar medial e
para animais senis é a ruptura de ligamento cruzado cranial e a displasia
coxofemoral. (CARPENTER, 2003).
Com base no tratamento, a excisão da cabeça e colo femorais produz
resultados mais favoráveis do que o tratamento conservativo, que consiste de
repouso e analgésicos. Com a técnica cirúrgica adequada, leve claudicação pode
permanecer porque o membro é encurtado pela remoção da cabeça e colo femorais,
e os músculos da coxa e articulações coxofemoral permanecem de alguma maneira
atrofiados. Em raras circunstâncias onde as radiotransparências são vistas sem
91
colapso femoral, pode-se tentar aplicar bandagem de Ehmer por três a quatro dias.
(GAMBARDELLA, 1996).
FIGURA 10: RADIOGRAFIA DE PACIENTE COM NECROSE ASSÉPTICA DA
CABEÇA FEMORAL, NO POSICIONAMENTO VENTRODORSAL
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
4.2.1.2 Caso Clínico 2
NOME: Snoopy
ESPÉCIE: Canina
RAÇA: SRD
SEXO: Macho
RG Nº: 2064/06
IDADE: 7 meses
PESO: 6,7 Kg
DATA:08/08/2006
SETOR DE ATENDIMENTO: Clínica Cirúrgica de Animais de Companhia (CCAC)
92
ANAMNESE
O paciente estava com claudicação no membro posterior esquerdo há mais
ou menos 10 dias, às vezes apoiava o membro mas não soltava o peso, o
proprietário nega qualquer tipo de trauma, e o animal tem momentos que parece
melhor. Foi tratado com ¼ de comprimido de Voltarem® e depois mais ¼ de
comprimido de Dorflex®, com isto apresentou vômito e suspendeu a medicação há
uma semana. Comportamento dócil, vacinado, vermífugo foi administrado há 3
meses, come ração seca com comida caseira, vive em ambiente com piso de
cimento, e não tem acesso à rua.
EXAME FÍSICO
Ao exame físico o animal apresentou temperatura retal de 39,1°C,
freqüência cardíaca de 176 bpm, freqüência respiratória de 40 mpm, tempo de
preenchimento capilar de 1”, boa hidratação, mucosas rosadas, pulso normal, nível
de consciência alerta, estado nutricional normal, comportamento dócil, membro
posterior esquerdo parcialmente flexionado e dor na extensão e flexão da articulação
coxofemoral do membro posterior esquerdo.
EXAMES COMPLEMENTARES
Radiografia da região articular coxofemoral, hemograma + plaqueta,
creatinina + proteínas totais.
93
Resultados:
Radiografia em posição ventrodorsal observou arrasamento da cabeça e
colo femoral esquerdo, com áreas de osteólise em colo femoral.(Figura 11).
Creatinina 1,27 mg/dl
Proteínas totais 8,5 g/dl
Segmentados 49%
Linfócitos 49%
Eosinófilos 2%
FIGURA 11: CONTORNO IRREGULAR DE CABEÇA E COLO FEMORAL
ESQUERDO DE PACIENTE COM NECROSE ASSÉPTICA DA
CABEÇA FEMORAL
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
DIAGNÓSTICO
Necrose Avascular da Cabeça do Fêmur.
94
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Fratura de colo femoral, fratura de acetábulo, luxação coxofemoral, ruptura
do ligamento cruzado cranial, trauma, luxação patelar, displasia coxofemoral.
TRATAMENTO
Ostectomia ou Artroplastia por excisão da cabeça e colo do fêmur.
PROTOCOLO ANESTÉSICO
O paciente foi pré-medicado com Neozine® na dose de 0,15 mg/ Kg (0,2
ml/kg) de peso pela via intramuscular. Após indução anestésica com propofol,
volume de 4 ml pela via intravenosa, o paciente foi mantido em plano anestésico
com isofluorano, volume total de 10 ml, pela via inalatória. Foi feito anestesia
epidural com lidocaína 1 ml/Kg mais morfina na dose 0,2 mg/Kg.
DESCRIÇÃO DA TÉCNICA OPERATÓRIA
Animal em decúbito lateral. Acesso dorso-caudal, com uma incisão de pele e
subcutâneo em meia lua, tendo como referência o trocanter maior. Incisou-se a
fascia lata, afastando os músculos glúteos superficiais e bíceps femoral e do nervo
ciático, incisão dos músculos gêmeos expondo a cápsula articular, incisando a
cápsula articular, extravasando o líquido sinovial. Com uma leve rotação do membro
95
luxou-se a cabeça do fêmur, com isso a cabeça fica exposta promovendo-se a
artroplastia por excisão da cabeça e colo femorais, com auxílio de um osteótomo e
martelo, em seguida retirou-se esquírolas ósseas através de uma goiva. Lavou o
local com solução fisiológica. Em seguida, sutura do subcutâneo com cushing e fio
nylon 0,25, sutura da pele com pontos simples contínuo e fio nylon 0,25.
PÓS-OPERATÓRIO
Pós-cirurgia realizou-se uma radiografia em posição ventrodorsal, para
constatar o sucesso da artroplastia. (Figura 12).
FIGURA 12: RAIO-X PÓS-OPERATÓRIO EM POSIÇÃO VENTRODORSAL,
AUSÊNCIA DE CABEÇA E COLO FEMORAL ESQUERDO
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
96
O paciente ficou internado por dois dias com as seguintes medicações e
cuidados: Cefalexina® na dose 30mg/Kg - 1 ml, SC, TID, Cetaprofeno® na dose 1
mg/Kg - 0,14 ml, SC, SID, Tramal® na dose 1 mg/Kg - 0,14 ml, SC, TID, gelo por 10
minutos, BID, curativo com PVPI nos pontos, SID, e fisioterapia com movimentos de
flexão e extensão, BID. A prescrição para o paciente em casa foi Cefalexina 250mg,
um comprimido, VO, TID, Meloxicam 0,5 mg, um comprimido, VO, SID, manter a
fisioterapia, gelo e curativo e colar protetor até retorno.
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
A escolha pele artroplastia por excisão da cabeça e do colo femoral foi a
melhor, pois como já foi descrito este procedimento cirúrgico elimina o contato
doloroso do osso com osso além de ter um prognóstico excelente. O tratamento
conservativo só é realizado caso o proprietário não tenha condições de financiar a
cirurgia, pois só amenizará a dor do animal e não resolverá o problema.
4.2.2 Displasia Coxofemoral
4.2.2.1 Revisão de Literatura
A articulação coxofemoral é uma articulação esferoidal em que a cabeça
femoral hemisférica encaixe-se num receptáculo/cavidade elipsóide situado no
interior do osso pélvico. A configuração anatômica desta articulação permite grande
97
amplitude de movimentos, ao mesmo tempo em que proporciona máxima
estabilidade. (MANLEY, 1998)
A displasia coxofemoral é o desenvolvimento ou o crescimento anormal da
articulação coxofemoral. Ela se manifesta por vários graus de frouxidão dos tecidos
moles ao redor, instabilidade, malformação da cabeça femoral e acetábulo, e ósteo-
artrose. (PIERMATTEI e FLO, 1999). (Figura 13)
Uma das afecções mais prevalentes na articulação coxofemoral, a displasia
coxofemoral é a causa mais importante de ósteo-artrite coxofemoral do cão. A
afecção raramente ocorre em cães que tem um peso corpóreo abaixo de 11 a 12 Kg,
quando adultos. (PIERMATTEI e FLO, 1999).
FIGURA 13: À ESQUERDA UMA ARTICULAÇÃO COXOFEMORAL NORMAL E À
DIREITA UMA ARTICULAÇÃO ANORMAL
FONTE: FRATOCCHI E SOMMER, 2006
A transmissão pode ser hereditária, recessiva, intermitente e poligênica
(alguns autores consideram 20 genes). Fatores nutricionais, biomecânicos e de meio
ambiente (multifatorial), associados à hereditariedade, pioram a condição da
displasia. Recomenda-se fundamentalmente evitar os traumas, sejam eles da
obesidade, dos trabalhos precoces, dos exercícios forçados, dos locais
escorregadios. (PIERMATTEI e FLO, 1999; FRATOCCHI e SOMMER, 2006).
98
Os achados clínicos da displasia coxofemoral variam com a idade do animal.
Há dois grupos clinicamente reconhecíveis : Os animais jovens entre 5 e 8 meses de
idade e os animais adultos que apresentam a forma crônica da doença. Nos animais
jovens é constatado um curso unilateral da doença que ocasionalmente se
apresenta bilateralmente. Clinicamente observa-se claudicação, redução das
atividades do animal, sensibilidade nos membros pélvicos, dificuldade de erguer-se,
redução do desejo de andar, correr subir escadas, além do fato da maioria dos
pacientes apresentarem sinal de Ortolani positivo (este sinal se apresenta como um
“clique” produzido pela cabeça femoral quando ela escorrega para dentro e para fora
do acetábulo em conseqüência de movimentos de adução seguido de abdução). Os
animais idosos apresentam um quadro clínico diferente devido à degeneração
articular crônica. A claudicação pode ser uni ou bilateral após exercícios prolongados
ou forçados, o seu andar se assemelha a requebros havendo freqüente crepitação e
limitação na amplitude do movimento da articulação. O animal prefere sentar-se ao
invés de posicionar-se em estação, apresentando dificuldade ao se levantar, e o faz
lentamente. Visualiza-se atrofia muscular do membro afetado e hipertrofia dos
músculos que envolvem a escápula e o úmero. (WALLACE e OLMSTEAD, 1995).
O exame clínico baseia-se na observação do animal em estação,
caminhando e trotando, na constatação de aumentos de volumes e assimetrias nos
membros e na busca da presença da dor, crepitação e amplitude do movimento
articular, maior na fase aguda e menor na crônica, já que nesta última intensificam-
se as alterações articulares degenerativas, tomando lugar à fibrose capsular e
muscular circundante. (FRATOCCHI e SOMMER, 2006)
O diagnóstico definitivo é obtido através do exame radiográfico, mediante
posicionamento correto do paciente e imagens de qualidade. Este posicionamento
99
normalmente é alcançado através da anestesia geral, já que estamos frente a uma
alteração muitas vezes dolorosas e de raças geralmente grande. (FRATOCCHI e
SOMMER, 2006).
O tratamento poderá ser medicamentoso ou cirúrgico. Neste último
relacionam-se várias possibilidades, desde as mais simples, tais como, por exemplo,
a pectineotomia e a ressecção de cabeça e colo femorais (artroplastia excisional),
até as mais complexas, como as correções de desvios do tipo geno valgo e
antiversão, a denervação da cápsula articular, a acetabuloplastia extracapsular, a
osteotomia tripla de pelve, a osteotomia intertrocantérica, o alongamento de colo
femoral, a prótese total coxofemoral, mais recentemente a sinfisiodese púbica
juvenil, etc. e as associações cirúrgicas, como a osteotomia tripla de pelve com o
alongamento de colo femoral. Modernamente tem-se tratado a displasia
coxofemoral, mediante produtos com a propriedade de proteger e regenerar
(anabolizar) a cartilagem articular danificada, produzindo analgesia natural. A
associação dos antiinflamatórios só deve ser preconizada na fase inicial do
tratamento. A ação anabolizante dos produtos pode resultar ainda melhor se
acompanhada de medidas apropriadas de manejo, tais como manter o animal em
locais restritos para que o mesmo reduza sua atividade física, assim como evitar a
obesidade do paciente e os locais escorregadios. Hidroginástica e natação também
são recomendadas. (FRATOCCHI e SOMMER, 2006).
100
4.2.2.2 Caso Clínico 3
NOME: Mickey
ESPÉCIE: Canina
RAÇA: Pastor Alemão
SEXO: Macho
RG Nº: 0291/04
IDADE: 14 anos
PESO: 34 Kg
DATA:23/09/2006
SETOR DE ATENDIMENTO: Clínica Cirúrgica de Animal Companhia (CCAC)
ANAMNESE
O proprietário observou que o animal estava bem apático, só ficava deitado,
e só se levantou com muita dificuldade para comer, e hoje pela manhã não queria se
movimentar, se cansa muito fácil, urina mesmo deitado, não é castrado. Foi
atropelado há uns 5 anos atrás e depois desse episódio sempre claudica um pouco
com o membro posterior direito. O animal apresenta uma infestação de carrapato,
olhos avermelhados com secreção, comportamento dócil, alimentado com ração
seca (pacote fechado), vacina nacional comprada em agropecuária, o vermífugo é
administrado duas vezes ao ano, vivem em ambiente que tem jardim e piso de
cimento, juntamente com uma cadela, só tem acesso à rua junto com o proprietário.
EXAME FÍSICO
O animal apresentou temperatura retal de 39,8°C, f reqüência cardíaca de 92
bpm, freqüência respiratória de 72 mpm, e TPC 1”, hidratação normal. Pulso arterial
101
normal, mucosas rosadas, nível de consciência alerta, estado nutricional normal,
comportamento dócil. Animal com infestação de carrapato, ao se movimentar tem
muita dor no membro posterior esquerdo, não foi possível a palpação pois sentia
muita dor. Muito tártaro na cavidade oral.
EXAMES COMPLEMENTARES
Raios-X, hemograma + plaqueta, glicose, creatinina + proteínas totais.
Resultados:
Raios-X em posição ventrodorsal, observa-se perda da profundidade
acetabular bilateral com remodelamento de colo e cabeça femoral severa, com
proliferação de osteófitos em articulação coxofemoral bilateral, compatível com
displasia coxofemoral com DAD (doença articular degenerativa) avançada. (Figura
14)
Glicose: 80 mg/dl
Creatinina: 0,8 mg/dl
Proteínas totais: 6,7 mg/dl
Plaquetas: 940 m/mm³
Segmentados: 69%
Eosinófilos: 5%
Linfócitos: 26%
102
FIGURA 14: RADIOGRAFIA EM POSIÇÃO VENTRODORSAL – PERDA DA
PROFUNDIDADE ACETABULAR COM REMODELAMENTO DE
COLO E CABEÇA FEMORAL SEVERA, COM PROLIFERAÇÃO DE
OSTEÓFITOS EM ARTICULAÇÃO COXOFEMORAL BILATERAL,
COMPATÍVEL COM DISPLASIA COXOFEMORAL
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
DIAGNÓSTICO
Displasia coxofemoral bilateral com DAD.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Luxação coxofemoral, fratura do colo femoral, fratura de pelve, artrite.
103
TRATAMENTO
Denervação da cápsula articular coxofemoral.
PROTOCOLO ANESTÉSICO
O paciente foi pré-medicado com Neozine® na dose de 0,15 mg/ Kg de peso
pela via intramuscular. Após indução anestésica com propofol na dose de 5mg/Kg
de peso pela via intravenosa, o paciente foi mantido em plano anestésico com
isofluorano, volume total de 25 ml, pela via inalatória. A respiração por circuito semi-
fechado e espontâneo.
DESCRIÇÃO DA TÉCNICA OPERATÓRIA
Animal em decúbito lateral direito. Acesso cranial ao trocanter maior, incisão
da pele de 3 a 4 cm, seguida da fascia muscular para divulsionar entre o bíceps e
tensor da fascia lata e glúteos, tendo acesso à articulação coxofemoral. Realizando
em seguida a raspagem do periósteo em meia lua crânio dorsal ao acetábulo.
Lavagem do local com solução fisiológica, para que não fique fragmentos de
periósteo. Sutura-se a fascia muscular com pontos simples isolados, a fascia
gordurosa em padrão contínuo, o subcutâneo com cushing e a pele com contínua
simples, todas as suturas com fio nylon 0,30. O mesmo procedimento foi realizado
do lado oposto.
104
PÓS-OPERATÓRIO
O paciente permaneceu internado por 6 horas, assim que retornou da
anestesia recebeu alta assistida a pedido do proprietário. O tratamento prescrito foi
Cefalexina® 1000mg, na dose 30mg/Kg - 1 ml, VO, TID, até novas recomendações,
Previcox® um comprimido, VO, SID, por dez dias, colar protetor, caminhadas leves e
curativo dos pontos com PVPI, SID.
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
O paciente foi submetido ao procedimento de denervação da cápsula
articular coxofemoral para somente aliviar a dor, pois as mudanças degenerativas
continuaram, mas foi o tratamento de escolha e de melhor eficácia para este caso,
por que o paciente está com uma displasia coxofemoral muito avançada e
juntamente com uma doença articular degenerativa, e pela avançada idade de 14
anos.
Não foi possível o acompanhamento do paciente, pois este não voltou para o
retorno.
4.2.2.3 Caso Clínico 4
NOME: Falcão
ESPÉCIE: Canina
RAÇA: Mestiço Pastor Alemão
SEXO: Macho
RG Nº: 1431/06
IDADE: 1 ANO
PESO: 27 Kg
DATA:17/08/2006
105
SETOR DE ATENDIMENTO: Clínica Cirúrgica de Animais de Companhia (CCAC)
ANAMNESE
Proprietário relata que há dois dias o animal “gritou” e depois ficou com o
membro posterior esquerdo suspenso, apático e em bradipnéia. O paciente está em
tratamento para uma dermatite, está sendo administrado Meticortem® e shampoo
Alerdog®. Não é castrado, comportamento dócil, come ração seca de boa qualidade,
vacina nacional de agropecuária, vermífugo Drontal®, no ambiente em que vive tem
piso de lajota, com dois degraus e depois cimento. Não tem acesso à rua. Os
proprietários não viram o que aconteceu, dizem que o animal é muito ativo e corre
muito, por isto não descartam a possibilidade de ter se machucado no quintal.
EXAME FÍSICO
Ao exame físico o animal apresentou temperatura retal de 38,6°C,
freqüência cardíaca de 112 bpm, freqüência respiratória com taquipnéia, tempo de
preenchimento capilar de 1”, boa hidratação, mucosas rosadas, pulso normal, nível
de consciência alerta, estado nutricional normal, comportamento dócil, não apóia o
membro posterior esquerdo, apresenta pontos de eritema na pele, já está sendo
tratado, impotência do MPE e está rotacionado para fora.
EXAMES COMPLEMENTARES
Raios-X, hemograma + plaquetas e creatinina + proteínas totais
106
Resultados:
Na radiografia em posição ventrodorsal se percebe perda de profundidade
acetabular com remodelamento e cabeça e colo femoral e proliferação e osteófitos
em articulação coxofemoral bilateral, com luxação da articulação coxofemoral à
esquerda – imagem compatível com displasia coxofemoral à esquerda com DAD
avançada. Presença de fragmentos ósseos em área de projeção de espaço articular
coxofemoral esquerdo, em vista ventrodorsal – fratura de osteófito. (Figura 15)
Creatinina: 1,07 mg/dl
Proteínas totais: 4,6 g/dl
Segmentados: 63%
Linfócitos: 37%
FIGURA 15: RADIOGRAFIA EM POSIÇÃO VENTRODORSAL – PRESENÇA DE
FRAGMENTOS ÓSSEOS EM ÁREA DE ESPAÇO ARTICULAR
COXOFEMORAL ESQUERDO
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
107
DIAGNÓSTICO
Displasia Coxofemoral bilateral com DAD avançada e luxação da articulação
coxofemoral à esquerda.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Fratura de pelve, ruptura do ligamento cruzado, luxação de patela,
neoplasias.
TRATAMENTO
Ressecção da cabeça e colo femorais + orquiectomia
PROTOCOLO ANESTÉSICO
O paciente foi pré-medicado com Neozine® na dose de 0,15 mg/ Kg de peso
pela via intramuscular. Após indução anestésica com propofol na dose de 5mg/Kg e
Diazepam® na dose 0,3 mg/Kg de peso pela via intravenosa, o paciente foi mantido
em plano anestésico com isofluorano, volume total de 25 ml, pela via inalatória. A
respiração foi por circuito fechado. Foi feito epidural com lidocaína mais morfina.
108
DESCRIÇÃO DE TÉCNICA OPERATÓRIA
Animal foi colocado em decúbito lateral esquerdo, após anti-sepsia padrão.
Foi realizada uma incisão cutânea, em torno de 8 cm, na região craniolateral
centralizada sobre a articulação coxofemoral, incisou-se o subcutâneo, a hemostasia
de pequenos vasos foi feita com pinças hemostáticas. Afastando os músculos bíceps
do fêmur, o tensor da fascia lata e o músculo glúteo médio que foi trasionado (figura
16) para expor a cabeça femoral esquerda, como pode ser observado nas figuras 17
e 18. Com auxílio de um osteótomo e um martelo foi realizada a ressecção da
cabeça e colo femoral, e com uma goiva foram removidas as protuberâncias ósseas
remanescentes(Figura 19). A sutura da musculatura na cápsula articular foi com fio
vicryl 3-0, padrão interrompido simples. Reposicionou-se os músculos vasto lateral e
o glúteo profundo e se suturou com fio nylon 0,30, padrão interrompido simples. A
sutura do subcutâneo com fio nylon 0,30 com padrão cushing modificado e pele com
fio nylon 0,30, em padrão interrompido simples.
A orquiectomia foi realizada com o animal em decúbito dorsal. Acesso pré-
escrotal, incisão de 4 cm em pele e subcutâneo. Com uma pressão mecânica ocorre
a exposição do testículo, incisou-se a cápsula do testículo, pinçou o cordão
espermático, com três pinças hemostáticas, ligadura dos vasos com fio nylon 3-0, o
mesmo procedimento foi realizado no outro testículo, sutura com fio nylon 0,30 o
subcutâneo com padrão cushing modificado e a pele com nylon 0,30 em padrão
interrompido simples.
109
FIGURAS 16, 17, 18 e 19: PROCEDIMENTO CIRÚRGICO - Ressecção da cabeça e
colo femorais
16: AFASTAMENTO DOS MÚSCULOS 17: EXPOSIÇÃO DA CABEÇA FEMORAL
18: EXPOSIÇÃO DA CABEÇA FEMORAL 19: REMOÇÃO DAS PROTUBERÂNCIAS ÓSSEAS
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
PÓS-OPERATÓRIO
O paciente permaneceu internado por dois com as seguintes prescrições,
Cefalexina® na dose 30mg/Kg - 4 ml, SC, TID, Tramal® na dose de 1mg/Kg - 0,54
ml, SC, TID, curativo dos pontos com PVPI, SID e gelo por 10 minutos, BID.
110
Manteve a seguinte medicação, Tramal® gotas na dose 11 gotas, VO, TID, por 5
dias, Cafalexina 500mg, na dose 1 ½ comprimido, VO, TID, por 10 dias, PVPI tópico
para os pontos, colar protetor, e foi sugerido ao proprietário o uso de Osteo Syn® ou
Condroton® ou Condromax® .
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
Com base no diagnóstico de displasia coxofemoral que pode ser confirmada
através dos sinais clínicos e dos achados radiográficos, frente ao caso a conduta do
tratamento cirúrgico é a correta, assim como sugere a literatura.
4.2.3 Fratura de fêmur
4.2.3.1 Revisão de literatura
As fraturas femorais geralmente são causadas por trauma. Lesões por alta
velocidade são o tipo mais comum de trauma com fraturas femorais em pacientes
veterinários, a maioria destas é de acidentes automobilísticos. (FOSSUM, 2002).
A incidência de fraturas de fêmur é de aproximadamente 20 a 25% de todas
as fraturas na maioria das clínicas veterinárias; esta taxa é a mais alta do que todas
as fraturas de ossos do corpo. O fêmur também tem a maior incidência de não união
e osteomielite de todas as fraturas. A redução aberta e fixação interna são indicadas
em praticamente todas as fraturas femorais. (PIERMATTEI e FLO, 1999).
111
As quatro forças fisiológicas primárias que atuam sobre o osso são
compressão axial, tensão axial, envergamento (flexão) e torção. Cada uma destas
forças isoladamente ou em conjunto, resulta num padrão complexo de pressões e
deformações interna no âmbito do osso. (HULSE e HYMAN, 1998).
Vários dispositivos de fixação interna de fraturas femorais estão descritos na
literatura, como colocação de fios de aço ortopédico em cerclagem, placa e
parafuso, pinos intramedulares e fixação esquelética externa, pinos travados e
combinações destas. (GILMORE, 2005).
As fraturas diafisárias de fêmur são geralmente o resultado de traumatismo
direto e são acompanhadas por vários graus de lesão de tecidos moles e hematoma.
O padrão de fratura pode ser bem variado: transverso, oblíquo, múltiplo,
fragmentado, ou, ocasionalmente, em galho verde no animal jovem. (PIERMATTEI e
FLO, 1999).
O trauma pode ou não ter sido observado, muitas vezes, verifica-se no
animal a claudicação. Geralmente os pacientes com fraturas diafisárias femoral são
incapazes de sustentar o peso e apresentam graus variados de edema do membro.
Dor e crepitação quase sempre são desencadeados com a manipulação do membro,
é possível que a propriocepção seja anormal, já que não levanta a pata quando
colocada sobre seu dorso. (FOSSUM, 2002).
Radiografias craniocaudal e lateral do fêmur são necessárias para avaliação
da extensão do osso e lesão de tecido mole. (FOSSUM, 2002).
A aplicação de pino intramedular é o método prático e econômico de
tratamento das fraturas diafisárias transversais do fêmur, mas a prejudicial força de
rotação não é neutralizada pela fixação por apenas um pino (MILTON, 1998), e
segundo Gilmore (2005), este método obtém sucesso mais provavelmente com
112
animais imaturos cuja seja rápida e com adultos de tamanho pequeno a médio em
que o pino único tenda a preencher uma parte significativa do canal medular.
O uso de um dispositivo de fixação externa de Kirschner – Ehmer, uma tala
de dois pinos e meio, em associação com o pino intramedular aumenta a
estabilidade rotacional. (GILMORE, 2005).
Embora considerada uma fratura “simples”, este tipo (transversa) é um dos
mais comuns a resultar a não-união, sem dúvida à subestimação das forças
biomecânicas envolvidas. A idade e o tamanho do paciente são determinantes
importantes, assim como o tipo de fixação. (PIERMATTEI e FLO, 1999).
As fraturas oblíquas e espirais são reparadas com mais sucesso com pinos
intramedulares com estabilidade adicional proporcionada por pinos transcorticais e
um fio de aço de hemicerclagem ou por um fio de aço ortopédico de cerclagem
completa. A fratura é estabilizada inicialmente com pinos intramedulares, pode-se
colocar o fio de aço ao redor dos pinos transcorticais em um padrão de “oito” para
proporcionar um aumento na estabilidade rotacional, alternativamente, podem-se
utilizar fios de aço de cerclagem completa. (GILMORE, 2005).
De modo ideal seria permitido ao animal ter uso ativo prematuro do membro.
Isto requer fixação interna totalmente instável, boa cooperação do proprietário com
confinamento e restrição ao exercício, e paciente que não produza esforço excessivo
ao aparelho devido à hiperatividade. O exercício deve ser rigorosamente restrito por
quatro a seis semanas, com retorno gradual a atividade irrestrita em oito a doze
semanas. (PIERMATTEI e FLO, 1999).
113
4.2.3.2 Caso Clínico 5
NOME: Pitoco
ESPÉCIE: Canina
RAÇA: SRD
SEXO: Macho
RG Nº: 2067/06
IDADE: 8 meses
PESO: 3,5 Kg
DATA:02/08/2006
SETOR DE ATENDIMENTO: Clínica Cirúrgica de Animais de Companhia (CCAC)
ANAMNESE
O paciente foi atropelado no dia anterior às 16:30 min por um carro e acredita-
se que bateu do lado esquerdo do animal, porém não pode afirmar. Urinou após o
atropelamento e não consegue ficar de pé. O proprietário administrou Dipirona® (1
comprimido, a cada 6 horas, total 3 comprimidos) e tintura de arnica. Não é castrado.
Permaneceu em estação com dificuldade, sentiu dor e perdeu o equilíbrio, observou-
se escoriações em membro posterior esquerdo face medial e não apóia o membro,
está apático desde ontem. Come comida caseira. Está na segunda dose da vacina
nacional. Vermífugo administrou Petzi® (irá repetir a dose). Ambiente em que vive
com mais dois cães é quintal com terra e cimento, tem acesso à rua sem a guia.
EXAME FÍSICO
O animal apresentou temperatura retal de 38,3° C, freqüência cardíaca de
172 bpm, freqüência respiratória de 40 mpm, e TPC 2”, leve desidratação. Pulso
arterial normal, mucosas rosadas, nível de consciência deprimido, estado nutricional
114
normal, comportamento dócil. Animal com presença de pulga, dificuldade para
manter-se em estação e não apóia o MPE. Desvio de eixo ósseo no fêmur esquerdo
com crepitação na manipulação.
EXAMES COMPLEMENTARES
Raios-X, hemograma + plaquetas, creatinina
Resultados:
Bastonetes: 0,6%
Segmentados: 73%
Eosinófilos: 0,8%
Linfócitos: 13%
Creatinina: 0,66 mg/dl
Nas radiografias tanto em posição ventrodorsal (Figura 20) como em posição
lateral (Figura 21) observa-se fratura completa transversa em terço médio de diáfise
no fêmur esquerdo.
115
FIGURAS 20 E 21: FRATURA COMPLETA TRANSVERSA EM TERÇO MÉDIO DE
DIÁFISE NO FÊMUR ESQUERDO.
20: POSIÇÃO VENTRODORSAL 21: POSIÇÃO LATERAL
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
DIAGNÓSTICO
Fratura completa transversa de fêmur esquerdo.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Fratura de tíbia proximal, fratura de acetábulo, ílio, junção sacro-ilíaca
TRATAMENTO
Osteossíntese de fêmur esquerdo com pino intramedular e cerclagem.
116
PROTOCOLO ANESTÉSICO
Realizada indução anestésica com Propofol® na dose de 4mg/Kg de peso
pela via intravenosa, o paciente foi mantido em plano anestésico com Isofluorano®,
volume total de 10 ml, pela via inalatória. A respiração por circuito aberto. Realizada
anestesia epidural com lidocaína mais morfina.
DESCRIÇÃO DE TÉCNICA OPERATÓRIA
Animal posicionado em decúbito lateral direito. Acesso realizado em região
crânio lateral do músculo vasto lateral, feita incisão de pele, em seguida da fascia
lata. Afastou-se o músculo bíceps femoral caudalmente e o músculo vasto lateral
cranialmente acessando assim o foco da fratura. Redução da fratura com a inserção
de um pino intramedular no sentido retrógrado seguido de cerclagem com fios
metálicos em dois pontos. A hemostasia foi realizada por meio de torção (com
pinças hemostática) e por compressão com auxílio de gaze. Suturada a fascia lata
com padrão simples contínuo seguido de sutura tipo cushing no subcutâneo para
aproximação dos bordos de pele e dois pontos simples separados na pele no local
onde saiu o pino, todas as suturas foram realizadas com fio de sutura nylon 0,25.
Realizado exame radiográfico pós-cirurgia, o qual demonstrou a boa realização do
procedimento cirúrgico com boa estabilidade do pino intramedular.(Figura 22)
117
FIGURA 22: RADIOGRAFIA DO PACIENTE EM POSIÇÃO VENTRODORSAL E
LATERAL, PÓS-OPERATÓRIO DO DIA 02/08/2006
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
PÓS-CIRÚRGICO
O paciente permaneceu internado apenas um dia e foi administrado
cetoprofeno na dose 1mg/Kg - 0,07 ml, SC, SID, morfina na dose 0,2mg/Kg - 0,06
ml, SC, de 4 em 4 horas, cefalexina na dose 30mg/Kg - 0,5 ml, SC, TID e aplicação
de compressa gelada no local por 10 minutos, BID. As orientações foram passadas
ao proprietário que o paciente deveria fazer repouso absoluto, usar colar
elizabetano, fazer compressa gelada no local da cirurgia e administrar Meloxivet® na
dose ½ comprimido, VO, SID, por cinco dias e Dicural® na dose ¼ de comprimido,
VO, SID, por sete dias, e retornar em 10 dias.
118
Retorno dia 11/08/2006:
Proprietário relata que o animal está melhor, continua com a medicação,
teve vômito há dois dias (acha que comeu algo diferente), está comendo ração para
filhotes e ganhou peso(4,3 Kg). O animal mexeu na tala já no primeiro dia e ficou em
repouso apenas 2 dias. Recomendou-se repouso absoluto.
Retorno dia 18/08/2006
Animal piorou, pois pulou da cama e voltou a apresentar claudicação do
MPE, sugerido ao proprietário a necessidade de um novo exame radiográfico, mas
preferiu esperar. Recomendação de repouso absoluto.
Retorno dia 01/09/2006:
Paciente retornou para uma reavaliação, está com uma leve claudicação do
MPE. Foi realizado um exame radiográfico. Laudo revelou que houve reação
periostal em terço médio distal, junto ao foco da fratura, com linha de fratura
evidente em terço médio de fêmur esquerdo – evolução insatisfatória de
consolidação óssea. Recomendação de repouso absoluto. (Figura 23).
Retorno dia 26/09/2006:
Paciente veio para reavaliação, foi solicitado um novo exame radiográfico.
No laudo, linha de fratura evidente e ampla com cerclagem em foco de fratura,
reação periostal exacerbada adjacente ao foco da fratura e esclerose do canal
medular, compatível com não-união óssea, ocorreu migração do pino e osteomielite.
(Figuras 24 e 25). Uma nova cirurgia foi marcada para o dia seguinte.
119
FIGURA 23: RADIOGRAFIA EM POSIÇÃO LATERAL E VENTRODORSAL DO
PACIENTE NO DIA 01/09/2006 – REAÇÃO PERIOSTEAL EM
TERÇO MÉDIO DISTAL, JUNTO AO FOCO DA FRATURA, COM
LINHA DE FRATURA.
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
Retorno dia 27/09/2006:
Foi realizado um novo procedimento para recolocar o pino no seu local
original e a colocação de ½ fixador tipo Kirschner com auxílio de cimento cirúrgico,
para dar mais estabilidade ao processo de consolidação ao foco de fratura. Após a
cirurgia foi realizado um raios-X de controle pós-operatório. (Figura 26 e 27).
120
FIGURAS 24 E 25: RADIOGRAFIA DO PACIENTE NO DIA 26/09/2006 – REAÇÃO
PERIOSTEAL EXACERBADA ADJACENTE AO FOCO DA
FRATURA E ESCLEROSE DO CANAL MEDULAR,
COMPATÍVEL COM NÃO-UNIÃO.
24: POSIÇÃO LATERAL 25: POSIÇÃO VENTRODORSAL
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
FIGURAS 26 E 27: RADIOGRAFIA CONTROLE, PÓS-OPERATÓRIO DIA
27/09/2006 – FIXADOR TIPO KIRSCHNER COM AUXÍLIO
DE CIMENTO CIRÚRGICO
26: POSIÇÃO VENTRODORSAL 27: POSIÇÃO LATERAL
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
121
4.2.3.3 Caso Clínico 6
NOME: Astolfo
ESPÉCIE: Canina
RAÇA: SRD
SEXO: Macho
RG Nº: 2125/06
IDADE: adulto
PESO: 11 Kg
DATA:09/08/2006
SETOR DE ATENDIMENTO: Clínica Cirúrgica de Animais de Companhia (CCAC)
ANAMNESE
Animal encontrado na rua naquele dia, o proprietário acha que foi
atropelado. Não tem outras informações, não deu água e nem alimentou.
EXAME FÍSICO
O animal apresentou temperatura retal de 38,4°C, f reqüência cardíaca de
136 bpm, freqüência respiratória de 36 mpm, e TPC 1”, hidratação normal. Pulso
arterial regular, mucosas rosadas, nível de consciência alerta, estado nutricional
normal, comportamento dócil. Animal com presença de pulga e carrapato.
Impotência funcional do MPE, feridas em região de articulação úmero-rádio-ulnar
esquerdo, e sente muita dor a palpação em região do fêmur esquerdo.
EXAMES COMPLEMENTARES
Raio-x, hemograma + plaquetas, creatinina
122
Resultados:
Neutrófilos segmentados: 73%
Linfócitos: 17%
Monócitos: 3%
Eosinófilos: 7%
Plaquetas: 66.000 m/mm³
Creatinina: 0,92 mg/d
No exame radiográfico pré-operatório observa-se uma fratura completa
oblíqua em terço médio de diáfise de fêmur em aposição, com esquírolas ósseas
próximas ao foco da fratura. (Figura 28 e 29)
FIGURAS 28 E 29: RADIOGRAFIA DO PACIENTE, PRÉ-OPERATÓRIO –
FRATURA COMPLETA EM TERÇO MÉDIO DE DIÁFISE
DE FÊMUR.
28 : POSIÇÃO LATERAL 29: POSIÇÃO VENTRODORSAL
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
123
DIAGNÓSTICO
Fratura completa oblíqua de fêmur esquerdo, com esta confirmação a
cirurgia foi marcada para o dia seguinte.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Luxação coxofemoral, fratura de pelve, lesão de ligamento de soldra,
contusão muscular.
TRATAMENTO
Osteossíntese de fêmur esquerdo com pino intramedular e a técnica “tie-in”.
Entre as estratégias para combater as forças axial e de envergamento no
local da fratura e ao mesmo tempo, minimizar o número de pinos de transfixação
estão a colocação de uma barra externa adicional, ou a conexão do pino
intramedular ao fixador em configuração denominada “tie-in”. Nesse tipo de
configuração, a extremidade proximal do fixador tipo I pode, por exemplo, ser
conectada na extremidade proximal de um pino intramedular de tamanho apropriado
usando uma barra adicional e grampos. Com isto, aumenta-se a força de
envergamento da montagem e reduz-se a incidência de complicações pós-
operatórias. (OLMSTEAD et al., 1995).
Um dia antes da cirurgia foi adiministrado cefalexina na dose 30mg/Kg - 1,65
ml, SC, TID, tramal na dose 1mg/Kg - 0,22 ml, SC, TID, Ivomec® 0,04 mg/Kg - 0,44
124
ml, SC, SID, imizol na dose 5mg/Kg - 0,45 ml, SC, SID, doxiciclina 100mg na dose 1
comprimido, VO, BID e o paciente recebeu a vacina Octa-Cino-Vacin® da Biovet.
PLANO ANESTÉSICO
O paciente foi pré-medicado com Neozine® na dose de 0,10 mg/ Kg de peso
pela via intramuscular. Após indução anestésica com propofol na dose de 5mg/Kg
de peso pela via intravenosa, o paciente foi mantido em plano anestésico com
isofluorano, volume total de 25 ml, pela via inalatória. A respiração foi por circuito
fechado. Foi feito anestesia epidural com lidocaína 2,2 ml e morfina na dose 0,22
mg/Kg.
DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA
O animal foi posicionado em decúbito lateral direito. Acesso cranial ao
músculo bíceps incisou-se a pele em mais ou menos 10 cm, após incisou-se a fascia
lata, expondo o foco da fratura. Foi introduzido através do canal medular do fêmur
um pino de Steinmann, passando retrogradamente a partir do foco de fratura, a
esquírola foi aposicionada com auxílio de três fios de cerclagem. Lavagem do local
com solução fisiológica. Procedeu-se a síntese de subcutâneo no padrão cushing e
pele com padrão simples contínuo, e todos suturados com fio nylon 0,30. Após o
término deste procedimento, introduziu-se um pino de Steinmann, com ponta
rosqueada, na epífise caudal e outro pino na epífise cranial. Em seguida, torceu-se
as pontas dos três pinos, unindo-os com cimento ortopédico (acrílico). Foi realizado
um exame radiográfico de controle pós-operatório, onde o laudo mostra que a
125
redução foi satisfatória mas com presença de esquírolas ósseas distantes do foco da
fratura. (Figura 30)
FIGURA 30: RADIOGRAFIA EM POSIÇAO LATERAL DO PACIENTE, PÓS-
OPERATÓRIO – PINO DE STEINMANN POSICIONADO.
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
PÓS-OPERATÓRIO
O animal ficou internado por 10 dias, sendo administrada a medicação pré-
operatória acima (menos a vacina e o imizol) e adicionando o cetaprofeno na dose
30mg/Kg - 0,22 ml, SC, SID, e mais limpeza e troca de bandagem, nos últimos três
dias de internamento só permaneceu a cefalexina e a doxiciclina na dose acima. A
prescrição recomendada para casa foi doxiciclina 100 mg na dose 1 comprimido,
VO, BID, por 30 dias, limpeza dos parafusos junto aos pontos com solução
fisiológica e aplicar Furacin®, por 10 dias. Retorno em 10 dias.
126
Retorno dia 31/08/2006:
Proprietário relata que o animal está ativo, mas só apóia o membro posterior
esquerdo quando vai defecar. Nota-se pequena secreção amarelada quando faz o
curativo. Continua a medicação (doxiciclina). De resto tudo normal. Não quis fazer
uma radiografia de controle. Retorno em 10 dias.
Retorno dia 13/09/2006
Proprietário relata que o animal está melhorando e apoiando o MPE, e está
bem ativo, a medicação está sendo administrada conforme prescrição (doxiciclina).
Continua notando a secreção amarelada quando troca o curativo. Foi realizado um
hemograma e raio-x de controle, resultados: bastonetes 1%, neutrófilos
segmentados 67%, eosinófilos 8%, linfócitos 24%, plaquetas 280 m/mm³, hipocromia
(+), laudo radiográfico, fratura reduzida, sem sinais de complicação.
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
O fixador externo do tipo “tie-in” foi acrescido à fixação do pino intramedular
e a cerclagem para ajudar a aumentar a estabilidade, pois reduz o movimento e
rotação no foco da fratura. Como o paciente ficou em repouso, em 34 dias o animal
já estava caminhando, com restrição de movimento, pôde-se perceber que a
conduta teve eficácia para o tipo de fratura.
127
4.2.4 Fratura de tíbia
4.2.4.1 Revisão de Literatura
As fraturas da tíbia são decorrentes de traumatismo, em sua maioria, as
fraturas da tíbia envolvem também a fíbula. Acidentes automobilísticos são
responsáveis pela grande percentagem, outras causas de tíbia fraturada são:
projéteis de armas de fogo, brigas entre cães, quedas, e traumatismos de origem
desconhecida. Vários animais sofrem fraturas tibiais bilaterais. (JOHNSON e
BOONE, 1998).
Com base na anatomia, a tíbia articula-se proximalmente com o fêmur,
distalmente com o tarso, e o seu lado lateral, tanto proximalmente quanto
distalmente, com a fíbula. (JOHNSON e BOONE, 1998).
O diagnóstico das fraturas tibiais se faz por meio dos exames físico e
radiográfico. Comumente os animais afetados não sustentam o peso com membro
lesionado, e apresentam tumefação e crepitação palpável à altura da fratura. Duas
incidências radiográficas da tíbia, incluindo o joelho e o tarso, confirmam o
diagnóstico e identificam o tipo de fratura. (JOHNSON e BOONE, 1998).
A escolha de um procedimento de reparo para fraturas tibiais depende do
tipo e da localização da fratura, da idade do animal, da presença de defeitos ou
infecções dos tecidos moles associados e das considerações econômicas. (POPE,
2005).
As fraturas do segmento proximal não são comuns, compreendendo apenas
aproximadamente 7% das fraturas tibiais. A maioria das fraturas clínicas são fraturas
simples, com os tipos multifragmentários sendo extremamente raros. (PIERMATTEI
128
e FLO, 1999). Comumente estas fraturas são transversais ou oblíquas. É cabível a
aplicação de bandagem gessada, se for possível a redução fechada estável, há
casos de necessidade de redução aberta, a fixação é com pino intramedular,
complementado pela fixação com fios de Kirschiner e metálico ortopédico.
(JOHNSON e BOONE, 1998).
As fraturas diafisárias contam de 75 a 81% de todas as fraturas tibiais. Os
padrões de fratura oblíquos e em espiral são os mais comuns em animais de todas
as idades, enquanto as fraturas multifragmentárias são mais vistas em cães adultos,
como também as fraturas abertas. (PIERMATTEI e FLO, 1999).
4.2.4.2 Caso Clínico 7
NOME: Preta
ESPÉCIE: Canina
RAÇA: SRD
SEXO: Fêmea
RG Nº: 2594/06
IDADE: adulta
PESO: 9,8 Kg
DATA:20/09/2006
SETOR DE ATENDIMENTO: Clínica Cirúrgica de Animais de Companhia (CCAC)
ANAMNESE
Animal atropelado por um carro no campus da UEL ao lado do Hospital
Veterinário, não consegue apoiar o MPE, não tendo mais informações do paciente.
129
EXAME FÍSICO
O animal apresentou temperatura retal de 38,4°C, f reqüência cardíaca de
124 bpm, freqüência respiratória de 44 mpm, e TPC 2”, hidratação normal. Pulso
arterial regular, mucosas hiperêmicas, nível de consciência alerta, estado nutricional
obesa, comportamento dócil. Animal com presença de pulga. Apresenta claudicação
sem apoio do membro posterior esquerdo, ferida cutânea em região dorsal de
articulação tíbio-társica direita, com aproximadamente 5 cm de comprimento, bulhas
cardíacas normofonéticas irregulares sem sopro.
EXAMES COMPLEMENTARES
Raio-x, hemograma + plaquetas, creatinina e proteínas totais
Resultados:
No exame radiográfico pré-operatório o laudo foi de uma fratura completa
em diáfise de tíbia esquerda.
Bastonetes: 1%
Neutrófilos segmentados: 78%
Linfócitos: 19%
Eosinófilos: 2%
Plaquetas: 503 m/mm³
Creatinina: 0,6 mg/dl
Proteínas totais: 5,3 g/dl
130
DIAGNÓSTICO
Fratura completa em diáfise de tíbia esquerda.
TRATAMENTO
Osteossíntese de tíbia esquerda.
PROTOCOLO ANESTÉSICO
O paciente foi pré-medicado com Neozine® na dose de 0,10 mg/ Kg pela via
intramuscular. Após indução anestésica com propofol na dose de 5mg/Kg de peso
pela via intravenosa, o paciente foi mantido em plano anestésico com isofluorano,
volume total de 15 ml, pela via inalatória. A respiração foi por circuito semi-fechado e
espontâneo. Foi feito anestesia epidural com bupivacaína (1ml/5Kg) mais morfina na
dose 0,2 mg/Kg.
DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA
O paciente foi colocado em decúbito lateral esquerdo com o membro
posterior direito preso a um gancho (fica abaixo da mesa operatória). O acesso foi
dorsolateralmente, com uma incisão de pele em região medial da tíbia esquerda de
aproximadamente 3 cm. Em seguida, afastou-se a musculatura e se expôs o foco da
fratura, observou-se fratura longitudinal em fragmento distal da tíbia. Foi colocado
retrogradamente um pino intramedular e se fez a redução da fratura, e reinseriu-o
131
normogradamente. Em seguida , manteve-se a fratura reduzida com auxílio de pinça
óssea, e colocou-se três pontos de cerclagem com fio de aço caudalmente ao foco
da fratura. Reaproximou-se a musculatura com fio de nylon 0,25 em padrão simples
e walking suture. Procedeu-se a sutura de subcutâneo em padrão cushing e pele em
padrão cerzidura, todas com fio de nylon 0,25.
PÓS-OPERATÓRIO
Um dia antes (20/09) da cirurgia o animal foi internado e recebeu Tramal na
dose 1mg/Kg - 0,2 ml, SC, BID, cetoprofeno na dose 30mg/Kg - 0,2 ml, SC, SID, e
cefalexina na dose 30mg/Kg - 1,5 ml, SC, BID, logo após a cirurgia (21/09) foi
administrado a mesma medicação acima, uma bandagem no MPE composta de
gaze, atadura e esparadrapo para imobilizar e atadura no MPD, (Figuras 31 e 32),
curativo com PVPI, SID e gelo no local por dez minutos, BID.
No dia seguinte (22/09) foi mudada a prescrição, pois o proprietário é
carente e a medicação é de doação, Tramadon® gotas 0,1 ml, VO, TID, Maxican®
2mg, na dose de ½ comprimido, VO, SID, Cefalexina® 600mg na dose de ½
comprimido, VO, TID, curativo com PVPI tópico e compressa de gelo no local por
dez minutos. O paciente ficou internado por 15 dias, onde pode-se observar sua
recuperação e retorno de sua deambulação.
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
A técnica cirúrgica empregada para o caso foi satisfatória, pois apresenta
como vantagens a facilidade na execução, necessitando de materiais e
instrumentação cirúrgica simples e pouco tempo dispendido para execução do pós-
132
operatório, que restringe a aplicação de antibióticos, analgésicos, bandagem e
restrição dos movimentos.
FIGURAS 31 E 32: PACIENTE COM UMA BANDAGEM NO MPE E ATADURA NO
MPD
31: BANDAGEM EM MPE 32: ATADURA EM MPD
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
4.2.5 Fratura de mandíbula
4.2.5.1 Revisão de literatura
As fraturas da mandíbula são geralmente causadas por acidentes com carro
e outras formas de traumatismo, e são caracterizadas por edema, desvio dos
segmentos, má oclusão dos dentes, e saliva com estrias de sangue. Com poucas
exceções, todas as fraturas de mandíbula são abertas e contaminadas ou
133
infectadas. Estas fraturas podem ser uni ou bilaterais, com linhas de fratura única ou
múltiplas. (PIERMATTEI e FLO, 1999).
Segundo Rossi et al (2002), as fraturas de mandíbula em pequenos animais
representam 5 a 10% de todas as fraturas, e que as fraturas na região dos pré-
molares (31%) e na região molar (18%) da porcentagem global predominam em
cães. Este tipo de fratura em cães é de difícil imobilização por sua localização e de
fácil infecção por ser geralmente exposta, determinando união óssea inadequada.
O diagnóstico é geralmente baseado na história clínica de traumatismo,
ocorrência súbita, aspecto clínico, e presença de fratura palpável. A radiografia
também é útil no discernimento das linhas de fratura e deslocamento, mas é
suplementar ao exame completo sob anestesia ou sedação, por que as linhas de
fratura podem ser de difícil visualização e orientar radiograficamente. (PIERMATTEI
e FLO, 1999).
O objetivo do tratamento deve ser o restabelecimento da oclusão funcional
por fixação que permita que o animal tenha uso suficiente da boca para se alimentar
e ingerir líquidos após a redução e fixação. (PIERMATTEI e FLO, 1999).
A focinheira mantém a redução da fratura, ao manter intertravados os dentes
caninos superiores e inferiores. Comumente as focinheiras são aplicadas sob
anestesia geral, de modo que o alinhamento dos dentes possa ser utilizado na
redução da fratura. (EGGER, 1998).
Segundo Piermattei e Flo (1999), tipicamente as focinheiras não são
aplicadas apertadas o suficiente para fechar completamente a boca; ao invés, uma
abertura grande o suficiente para a passagem da língua é deixada rostralmente para
que líquidos possam ser ingeridos. A alimentação consiste de ração pastosa. A
pequena movimentação da mandíbula por esta abertura não cria problemas se a
134
fratura estiver razoavelmente estável. Entretanto, se a focinheira for usada para
fraturas instáveis, deve ser aplicada firmemente, e é necessária a alimentação
através de tubo gástrico. A fixação por três a quatro semanas é adequada em muitas
fraturas de terço médio do corpo da mandíbula, especialmente em pacientes
imaturos.
4.2.5.2 Caso Clínico 8
NOME: Laika
ESPÉCIE: Canina
RAÇA: SRD
SEXO: Fêmea
RG Nº: 2028/06
IDADE: 7 meses
PESO: 6 Kg
DATA:01/08/2006
SETOR DE ATENDIMENTO: Clínica de Cirurgia de Animais de Companhia (CCAC)
ANAMNESE
Animal atropelado por um carro, apresentou sangramento pela boca e
crepitação na região mandibular. O responsável achou o animal na rua, não tem
informações anteriores sobre a saúde deste.
EXAME FÍSICO
O animal ao exame físico apresentou temperatura retal 38,9°C, freqüência
cardíaca de 180 bpm, freqüência respiratória de 28 mpm, e TPC 1”, hidratação
normal. Pulso arterial regular, nível de consciência deprimido, estado nutricional
135
normal, comportamento medroso e agressivo. Animal estava apático, permanecia
em decúbito e sentia muita dor ao ser manipulado, lesão na mandíbula, luxação e
sangramento.
EXAMES COMPLEMENTARES
Raio-x
O exame radiográfico demonstra fratura completa de ramo horizontal de
mandíbula direita e deslocamento maxila. (Figura 33 e 34).
FIGURAS 33 E 34: RADIOGRAFIA DE CRÂNIO DO PACIENTE
FIGURA 33 FIGURA 34
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
DIAGNÓSTICO
Fratura completa de ramo horizontal de mandíbula direita.
136
TRATAMENTO
O paciente foi atendido na noite do dia 01/08, a esta hora o setor de raio-x
não funciona, foi indicado o internamento e imobilização provisória da cavidade oral
com analgesia, a medicação administrada foi Tramal® na dose 1MG/Kg - 0,12 ml,
SC, TID, cefalexina na dose 30mg/Kg - 0,9 ml, IV, TID e cetaprofeno na dose
30mg/Kg - 0,1 ml, SC, SID. No dia seguinte foi realizado o raio-x com o animal
anestesiado e a inspeção da cavidade oral onde visualizou-se fratura exposta. A
fratura foi reposicionada e colocada uma imobilização externa (focinheira) no
paciente (Figuras 35 e 36). A focinheira foi confeccionada com esparadrapo no
tamanho adequado para o tamanho exato do animal (Figuras 37 e 38), neste
momento passou-se um tubo esofágico (sonda Foley), para alimentar o paciente.
FIGURAS 35 E 36: POSICIONAMENTO DA FOCINHEIRA NO PACIENTE
FIGURA 35 FIGURA 36
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
137
FIGURAS 37 E 38: CONFECÇÃO DA FOCINHEIRA COM ESPARADRAPO
FIGURA 37 FIGURA 38
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
PÓS-OPERATÓRIO
O paciente ficou internado no HV por mais cinco dias, neste período recebia
alimentação à cada 4 horas via sonda (Sustagen®), que foi retirada um dia antes de
ir embora. Continuou com a medicação acima além da limpeza da cavidade oral com
Periogard®, TID, e a focinheira e o colar protetor para manter fratura estável. Após
sete dias (13/08) o animal retornou para uma avaliação, estava em bom estado
geral, alegre, comendo ração seca + úmida batida no liquidificador, no local onde
estava a sonda já cicatrizou (segunda intenção), a focinheira foi trocada, pois estava
muito suja. Recebeu alta no dia 03/09/2006.
138
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
Segundo Egger (1998) uma focinheira de esparadrapo pode ser utilizada no
tratamento das fraturas unilaterais na parte média do corpo mandibular que estejam
relativamente estáveis. No referido caso, foi utilizado uma focinheira por se tratar de
uma fratura unilateral e estável, e manteve-se por quatro semanas como também é
referido na literatura.
4.2.6 Doença do disco intervertebral
4.2.6.1 Revisão de literatura
Segundo Chierichetti e Alvarenga (1999), a afecção degenerativa do
disco intervertebral, conhecida como hérnia de disco, é a causa mais comum das
síndromes neurológicas em cães. A hérnia de disco pode ser classificada como
Hansen tipo I (extrusão), ou Hansen tipo II (protrusão). As lesões causadas por estes
tipos de herniações podem ser crônicas, nas quais há adaptação da medula e os
sinais clínicos são gradativos, ou agudas, nas quais não ocorre adaptação medular,
e a sintomatologia aparece rapidamente. Na DDIV observam-se paresia, ataxia,
hiper-reflexia nos membros pélvicos e diminuição ou ausência dos reflexos de dor
superficial e profunda.
Segundo alguns autores, os animais portadores de DDIV tóraco-lombar
podem ser classificados em 5 grupos. Grupo 1 - animais portadores de dor na coluna
tóraco-lombar caminham lentamente, relutam em saltar e algumas vezes
139
apresentam constipação; grupo 2 - animais portadores de dor tóraco-lombar e
paresia dos membros pélvicos podem apresentar ataxia e alteração da
propriocepção; grupo 3 – animais que se apresentam com paresia, incapacidade de
andar, ficar em pé e sustentar o peso, mas que possuem movimentos voluntários
nos membros pélvicos; grupo 4 - paralisia, animais com ausência de movimentos
voluntários, porém a dor profunda está preservada; grupo 5 - animais paraplégicos,
sem controle da micção e com ausência de dor profunda. (CHIERICHETTI e
ALVARENGA, 1999).
O diagnóstico pode ser feito a partir da história clínica, exame neurológico,
radiografias simples e contrastadas (mielografia) da medula espinhal, tomografia
computadorizada e ressonância magnética. O exame radiográfico contrastado do
canal medular (mielografia), é a técnica mais efetiva para delimitar e determinar o
local de afecção do disco. Ele opacifica o espaço subaracnóide e demonstra a
compressão extra-dural da medula espinhal. Deve-se proceder ao diagnóstico
diferencial entre essa patologia e fratura, luxação, discospondilite, malformação
congênita, neoplasia e osteomielite do corpo vertebral. (CHIERICHETTI e
ALVARENGA, 1999).
O tratamento conservador é feito com repouso absoluto, com ou sem a
administração de antiinflamatórios. No tratamento cirúrgico pode-se optar pelas
técnicas de hemilaminectomia, laminectomia dorsal, mini-hemilaminectomia,
pediculectomia e fenestração do disco intervertebral. Cães com evolução aguda da
afecção apresentam prognóstico reservado, enquanto que cães com evolução
crônica têm prognóstico favorável. Pacientes com perda da dor profunda por 24 a 48
horas têm prognóstico ruim. (CHIERICHETTI e ALVARENGA, 1999).
140
A hemilaminectomia proporciona uma exposição rápida e segura de um
lado da medula espinhal e do piso da coluna vertebral. Uma exposição unilateral é
geralmente adequada para a remoção de um material discal herniado que não
estiver fibrosado na medula espinhal e também proporciona um acesso fácil para
fenestração. (SIMPSON, 2005). Na figura 39 é possível observar que uma parcela
do osso sobre o canal espinhal foi removida (hemilaminectomia) a fim de expor a
medula espinhal e o disco herniado. O disco pode ser visto comprimir a medula
espinhal e a raiz do nervo.
FIGURA 39: HEMILAMINECTOMIA COM EXPOSIÇÃO DO CANAL MEDULAR
FONTE: MARSOLAIS, 2004
Tem-se descrito várias técnicas para se ganhar acesso ao canal vertebral. O
uso de uma broca elétrica e de uma rosca de perfuração é o método mais rápido
para produzir um grande defeito laminar. (SIMPSON, 2005). (Figuras 40 e 41).
A remoção adequada do material discal protraído é obtida com um extrator de tártaro
cego e estreito ou uma outra cureta. Após a remoção do material discal protraído do
canal espinhal, o cirurgião deve remover o resto do disco afetado e os discos
adjacentes, pode-se fenestrar o disco herniado. (SIMPSON, 2005).
141
FIGURAS 40 E 41: ABORDAGEM CIRÚRGICA AO CANAL VERTEBRAL
FIGURA 40 FIGURA 41
FONTE: WWW.ESPINOLAPEREIRA.PT/BIBLIOTECA/PATOLOGIA
4.2.6.2 Caso Clínico 9
NOME: Malu
ESPÉCIE: Canina
RAÇA: Cocker
SEXO: Fêmea
RG Nº: 2651/06
IDADE: 8 anos
PESO: 12,4Kg
DATA: 25/09/2006
SETOR DE ATENDIMENTO: Clínica de Cirurgia de Animais de Companhia (CCAC)
ANAMNESE
Desde sexta-feira (22/09) animal vem apresentando dificuldade de
locomoção com os membros posteriores, proprietário refere que o animal curvava os
membros ao caminhar e cambaleava, desde ontem pela manhã o animal não
caminha com os membros posteriores, além da dificuldade de locomoção o animal
está muito ofegante. No sábado (23/09) administrou ½ comprimido de Dorflex®, e
não se alimenta desde ontem (24/09). Proprietário relata que a quantidade de urina
142
diminuiu e ontem gotejava. Não é castrada e o proprietário não lembra quando foi o
último cio. Teve infestação de carrapato há mais ou menos 6 meses, proprietário
utilizou Ivomec®, come ração seca de boa qualidade, vacina está vencida há dois
anos e também o vermífugo, ambiente de quintal e piso liso e vive com outra cadela
em bom estado, tem acesso à rua junto com o proprietário.
EXAME FÍSICO
O animal ao exame físico apresentou temperatura retal de 38,3°C,
freqüência cardíaca de 132 bpm, freqüência respiratória estava em taquipnéia, e
TPC 1”, hidratação normal. Pulso arterial regular, mucosas rosadas, nível de
consciência alerta, estado nutricional normal, comportamento dócil, presença de
pulgas. Animal estava com paraplegia dos membros posteriores, a palpação sentiu
dor entre T12 e L1, abdômen tenso.
EXAMES COMPLEMENTARES
Raio-x simples, mielografia, hemograma + plaquetas, creatinina e uréia,
exame neurológico.
Na mielografia mostrou interrupção da coluna de contraste na área de
projeção de espaço intervertebral T13 – L1. (Figuras 42 e 43).
Neutrófilos segmentados: 93%
Linfócitos: 7%
Creatinina: 1,19 mg/dl
Uréia: 39,7 mg/dl
143
FIGURAS 42 E 43: MIELOGRAFIA DO PACIENTE, INTERRUPÇÃO DA COLUNA
DE CONTRASTE
FIGURA 42 FIGURA 43
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
DIAGNÓSTICO
Discopatia intervertebral (DDIV) na região tóraco-lombar.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Fratura vertebral, luxação vertebral, discoespondilite, erliquia, cinomose,
meningite, neoplasias, criptococose, toxoplasmose, neosporose.
TRATAMENTO
O animal foi internado um dia antes da cirurgia para tratamento pré-
operatório com Tramal® 0,25 ml, SC, BID e cetoprofeno 0,25 ml, SC, SID.
Tratamento cirúrgico: Hemilaminectomia seguida de fenestração profilática.
144
PROTOCOLO ANESTÉSICO
O paciente foi pré-medicado com neozine na dose de 0,15 mg/ Kg de peso
pela via intramuscular. Após indução anestésica com propofol na dose de 5mg/Kg
de peso pela via intravenosa, o paciente foi mantido em plano anestésico com
isofluorano, volume total de 38 ml, pela via inalatória. A respiração foi por circuito
controlado.
DESCRIÇÃO DA TÉCNICA OPERATÓRIA
O paciente foi colocado em decúbito ventral, e com auxílio de panos de
campo colocados entre a mesa e o abdomen, elevou-se a área toracolombar. Foi
realizada incisão sobre a área de T4 a L3, longitudinal de aproximadamente 15 cm em
pele, fascia gordurosa e muscular superficial, seguida da divulsão da musculatura
epaxial de lado, com exposição do processo articular de T13-L1 , realiza-se a remoção
do mesmo com pinça goiva e microretífica (Figuras 44 e 45), em seguida remove-se
a lâmina com pinça Kerrison expondo o canal medular, onde foi retirado
delicadamente uma grande quantidade de material extrusado. Em seguida realizou-
se a fenestração do disco intervertebral de T13-L1, a hemilaminectomia foi coberta
com enxerto de tecido gorduroso, e foi realizada a lavagem do local com solução
fisiológica. A fascia muscular e gordura foram suturadas com padrão contínuo, o
subcutâneo foi suturado com padrão cushing e pele padrão contínuo, todas as
suturas com fio de nylon 0,30.
145
FIGURAS 44: PINÇA KERRINSON FIGURA 45: MICRORETÍFICA
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
PÓS-OPERATÓRIO
Após a cirurgia e por mais dois dias de internamento foi administrado ao
paciente à seguinte medicação: cefalotina 0,8 ml, SC, TID, morfina 0,25 ml, SC, a
cada 4 horas, colar protetor, limpeza dos pontos. Foi prescrito para cuidados em
casa, Cefalexina® 500 mg, ¾ de comprimido, VO, TID, até novas recomendações,
Meloxican® 0,5 mg, na dose 2 comprimidos, VO, SID, por 4 dias, curativo com
Merthiolate®, gaze e atadura e o uso do colar protetor. O paciente recebeu alta
assistida.
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
A utilização da técnica da hemilaminectomia com fenestração terapêutica e
profilática foi a melhor escolha para o caso, pois segundo Fossum (2002) a
hemilaminectomia é preferível em relação a laminectomia, pois preserva melhor as
146
integridades estruturais e mecânicas da espinha, é menos traumática, é mais
cosmética, reduz a chance de formação de cicatriz causando compressão de cordão
espinhal, e a fenestração profilática elimina a dor nas costas e evita extrusão discal
adicional.
Não foi possível acompanhar a evolução do paciente, pois o mesmo não
retornou.
4.3 AFECÇÕES DO SISTEMA TEGUMENTAR
4.3.1 Manejo de feridas abertas
4.3.1.1 Revisão de Literatura
A pele é um dos maiores órgãos do corpo e pode atingir, tanto em humanos
como em animais, 16% do peso corporal. Possui múltiplas funções, tais como:
proteção do organismo contra à perda de água; armazenamento de gorduras,
carboidratos e proteínas; proteção contra atritos; termo regulação corporal; formação
de vitamina E; respostas imunitárias do organismo aos alérgenos; recepção
sensorial e circulação sangüínea. (PEREIRA e ARIAS, 2002).
Dois processos estão envolvidos na cicatrização da maioria das feridas:
reparo e regeneração. A regeneração é a substituição do tecido lesado por um
tecido semelhante àquele perdido na lesão. Já o reparo é o processo pelo qual os
defeitos teciduais são substituídos por uma cicatriz não funcional. (PEREIRA e
ARIAS, 2002).
147
Uma ferida é definida como uma injúria corporal provocada por um trauma,
com ruptura da continuidade normal das estruturas físicas.
Conforme a apresentação clínico-cirúrgica as feridas podem ser: fechada -
ocorre por contusão, onde a pele ou mucosa são lesionadas mas permanecem com
integridade aparente. Pode alcançar tecidos conectivos, muscular, tendíneo e ósseo;
aberta - apresenta-se como: a) lacerada - produzida por objetos pontiagudos que
rasgam o tecido formando bordas irregulares. Quando cutânea pode haver avulsão
ou arrancamento; b) penetrante - solução de continuidade da pele e tecidos
subjacentes alcançando cavidades como abdome, tórax, seios, etc. Podem acarretar
em perfuração de vísceras ou evisceração; c) punctória - são decorrentes de
elementos perfurantes como pregos, espetos ou estiletes. São profundos e com
pequena abertura superficial dificultando seu diagnóstico; d) ofídica - ferida punctória
com a ação de agentes peçonhentos inoculados por serpentes. e) por arma de fogo
- ferida penetrante ou punctória causada por diferentes tipos de projéteis. (SWAIM e
HENDERSON, 1990; WHITE, 1999).
A cicatrização por segunda intenção é o manejo no qual as feridas são
lavadas e tratadas com bandagens promovendo a cicatrização de dentro para fora
por granulação, contração e epitelização. A cicatrização por segunda intenção é
usualmente utilizada quando há perdas extensas de tecido e infecção. (PEREIRA e
ARIAS, 2002).
É recomendável que, tão logo o animal chegue ao ambulatório após um
trauma, a ferida seja coberta com uma compressa estéril, para evitar maior
contaminação por microrganismos presentes no ambiente hospitalar. A seguir, deve
ser realizado exame físico completo. Após a estabilização do paciente, a avaliação e
a classificação da ferida são implantadas. Realizar tricotomia ampla e prevenir que
148
caia pêlos na ferida através de tamponamento com gaze. As sujidades e crostas que
se aglutinam em volta da ferida podem ser removidas por meio de água com sabão
e, se necessário, pode-se escovar a região. A ferida deve ser lavada
abundantemente com solução salina isotônica pura ou adicionada de 0,1% de iodo
povidine. As sujidades e os tecidos necrosados superficiais são removidos com
auxílio de gaze umedecida. Não se recomenda a escovação direta da ferida, pois o
trauma das cerdas da escova pode favorecer a penetração de bactérias. (PEREIRA
e ARIAS, 2002).
As bandagens são aliadas essenciais no tratamento de feridas abertas, e
apresentam vantagens como: redução do edema e da hemorragia, absorção de
exudatos, controle do meio interno e proteção contra contaminação, permitindo
caracterizar a secreção. De modo geral, as feridas contaminadas com tecido
necrótico utilizam-se bandagens aderentes ou debridantes, enquanto que em feridas
com tecido de granulação utilizam-se bandagens não aderentes. (PEREIRA e
ARIAS, 2002).
Segundo Mathews e Binnington (2002), no tratamento de feridas, tem-se
intensificado a pesquisa de produtos naturais para auxiliar a cicatrização, como o
açúcar.
O açúcar granulado fornece uma limpeza tópica excelente no tratamento de
feridas abertas, especialmente aquelas feridas que são contaminadas. As vantagens
de usar o açúcar incluem sua rápida ação antibacteriana, acelera a formação do
tecido de granulação, e também por ser prontamente disponível e barato.
A terapia do açúcar é apropriada para tratar pacientes com os ferimentos
abertos causados por acidentes automobilísticos; feridas cirúrgicas infectadas; pele
necrosada devido a Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Streptococcus canis
149
e outros organismos; auto-mutilação; queimaduras. Nenhum efeito adverso foi
relatado no uso do açúcar granulado.
A sustentação científica para o tratamento das feridas que usam o açúcar
granulado é baseada no baixo índice de água (ou osmolaridade elevada) que esse
açúcar cria em uma ferida. Em acréscimo, porque a elevada osmolaridade do
açúcar drena a linfa do interior da ferida. E nutrientes dissolvidos junto com a linfa
fornecem a nutrição para o tecido regenerar. (MATHEWS e BINNINGTON, 2002).
4.3.1.2 Caso Clínico 10
NOME: Wendy
ESPÉCIE: Canina
RAÇA: Pitt Bull
SEXO: Fêmea
RG N°: 2173/06
IDADE: 1 ano e 3 meses
PESO: 21 Kg
DATA:11/08/2006
150
SETOR DE ATENDIMENTO: Clínica Cirúrgica de Animais de Companhia (CCAC)
ANAMNESE
O animal atropelado por um carro, não apresentou qualquer outra alteração
fisiológica e não recebeu nenhum tipo de medicação. Animal não castrado, não toma
contraceptivos. Apoiava o MPE com muito cuidado. Comportamento dócil. Recebe
ração seca uma vez ao dia. Foi vacinada com 6 meses de idade, e vermífugo
recebeu há 3 meses. Vive em uma oficina com quintal e cimento. Não tem acesso à
rua somente acompanhada do proprietário.
EXAME FÍSICO
Ao exame físico o animal apresentou temperatura retal de 39,3°C,
freqüência cardíaca de 160 bpm, freqüência respiratória 54 mpm, tempo de
preenchimento capilar de 1”, boa hidratação, mucosas rosadas, pulso normal, nível
de consciência alerta, estado nutricional normal, comportamento dócil e agitada,
escoriações em pálpebras bilaterais, apóia o membro posterior esquerdo com
dificuldades, laceração em pele em face anterior de MPE com exposição muscular e
tendões.
TRATAMENTO
Debridamento e lavagem de ferida em membro posterior esquerdo; curativo
diário e antibioticoterapia.
151
Dia 11/08 foi administrado:
1.Dieta: água + ração.
2.Fluidoterapia: 1x manutenção. Solução Ringer Lactato; microgotas.
3. Cefalotina 30mg/kg, 3ml IV TID.
4.Banamine® 1,1mg/Kg, 0,46ml SC SID (1ª dose).
Obs: Realizada anestesia do paciente com clorpromazina e propofol.
Limpeza e debridamento da ferida. Ocorreu perda de tecido mole em face anterior
de membro posterior esquerdo com ruptura de cápsula articular metatarso-
falanges. Realizada bandagem aderente.
Dia 12/08 foi administrado:
1.Dieta: água + ração.
2.Fluidoterapia: 1x manutenção. Solução Ringer Lactato; volume: 1295ml em
24h; volume/hora: 54ml, 1 gota / 1 segundo (microgotas)
3.Cefalin® 30mg/kg, 3,2ml IV TID.
4.Banamine® 1,1mg/Kg, 0,46ml SC SID (2ª dose).
5.Curativo: lavagem da ferida com solução fisiológica de 500ml, e bandagem
aderente úmida-seca e atadura.
Dia 13/08 foi administrado igualmente ao dia anterior mais a 3ª dose de
Banamine®
Dia 14/08 foi administrado:
1.Dieta: água + ração.
152
2.Fluidoterapia: 1x manutenção. Solução Ringer Lactato; volume: 1295ml em
24h; volume/hora: 54ml, 1 gota / 1 segundo (microgotas)
3.Cefalin® 30mg/kg, 3,2ml IV TID.
4.Curativo: utilização de açúcar cristal seguida de lavagem com solução
fisiológica e bandagem aderente úmida-seca, atadura.
Dia 15/08
1.Dieta: água + ração.
2.Fluidoterapia: 1x manutenção. Solução Ringer Lactato; volume: 1295ml em
24h; volume/hora: 54ml, 1 gota / 1 segundo (microgotas)
3. Cefalin® 30mg/kg, 3,2ml IV TID.
4. Cetoprofeno 1mg/kg, 0,42 ml SC SID.
5. Tramal® 1mg/kg, 0,42 ml SC BID.
6. Curativo: utilização de açúcar cristal, lavagem com solução fisiológica +
Furacin®, bandagem aderente úmida-seca e atadura.
Obs: Animal em bom estado geral. Ferida apresentando melhora gradual,
com média quantidade de secreção purulenta na gaze. Está comendo e bebendo
normalmente.
Dia 16/08 foi administrado:
1. Dieta: água + ração
2. Cefalin® 30mg/kg, 3,2ml IV TID.
3. Cetoprofeno 1mg/kg, 0,42 ml SC SID.
4. Tramal® 1mg/kg, 0,42 ml SC BID.
153
Obs: animal continua bem. A secreção purulenta na gaze diminuiu. Realizou-
se curativo com açúcar, lavagem com solução fisiológica e bandagem aderente com
Furacin® devido ao sangramento quando se retira o curativo. Melhora gradual.
No dia 17/08 foi administrado igualmente ao dia anterior.
Há aproximadamente 1 semana o animal começou a apresentar edema na
parte distal do membro afetado. Durante os 2 curativos diários, estava sendo feita
massagem para que houvesse drenagem linfática, a qual sempre apresentava
resultado imediato.
Dia 18/08 foi administrado todos os medicamentos idem ao dia anterior.
Obs: animal em bom estado geral, está mais animada; normoquesia,
normúria, normodipsia e normorexia. A ferida está evoluindo bem. Apresenta pontos
de tecido de granulação e nas bordas ainda um pouco de tecido necrosado. Feito
curativo com açúcar seguida de lavagem com solução fisiológica, bandagem
aderente nas bordas e não aderente com Furacin® no centro da ferida. Realizado
entorno da ferida um curativo tipo “tie over”, com fios de nylon 0,30. (Figuras 46 e
47)
Nos dias 19 e 20/08 a dieta, medicação e curativo, foram iguais ao dia
anterior.
Dia 21/08 foi administrado:
1. Dieta: água + ração
2. Amoxicilina 24mg/kg, 500mg, 1 comprimido VO TID.
3. Ciprofloxacina 24mg/kg, 1 comprimido VO SID.
154
4. Curativo: lavagem com solução fisiológica, bandagem aderente nas
bordas e não aderente com Furacin® no centro da ferida.
Obs: Foram realizados cultura e antibiograma da ferida. Encontrou-se
Staphylococcus sensível a Amoxicilina e Enrofloxacina; e Gram negativa oxidase
negativa sensível a Ciprofloxacina e Gentamicina. Decidiu-se pela associação de
Amoxicilina e Ciprofloxacina.
Do dia 22 ao dia 25 a dieta, medicação e curativo são iguais ao dia 21.
No dia 26/08 o animal recebeu alta, mas orientou-se o proprietário para
retornar diariamente para fazer curativo e observar evolução da cicatrização.
FIGURAS 46 A 47: PROGRESSÃO DO TRATAMENTO DA FERIDA – Realizado
curativo tipo “tie over” com fios de nylon 0,30, para
aproximação das bordas da ferida
FIGURA 46 – DIA 18/08 FIGURA 47 – DIA 18/08
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
155
FIGURAS 48 A 49: PROGRESSÃO DO TRATAMENTO DA FERIDA – Retorno do
paciente, a ferida apresenta área de cicatrização nas bordas
(área mais clara) e tecido de granulação no centro, curativo
tipo “tie over”.
FIGURA 48 – DIA 08/09 FIGURA 49 – DIA 08/09
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
FIGURAS 50 A 51: PROGRESSÃO DO TRATAMENTO DA FERIDA – Retorno do
paciente, ferida com áreas de cicatrização nas bordas e tecido
de granulação no centro, com curativo tipo “tie over”,região distal
do membro edemaciado.
FIGURA 50 – DIA 13/09 FIGURA 51 – DIA 13/09
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
156
FIGURAS 52 A 53: PROGRESSÃO DO TRATAMENTO DA FERIDA – Último retorno
do paciente, grande área de cicatrização e uma pequena área
de tecido de granulação no centro da ferida, região distal do
membro edemaciado, retirado o curativo tipo “tie over”
FIGURA 52 – DIA 23/09 FIGURA 53 – DIA 23/09
FONTE: KINTOPP, HV-UEL 2006
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO
A escolha pelo tratamento de ferida aberta através de cicatrização por
segunda intenção foi porque esse tipo de tratamento reduz significativamente os
índices de contaminação, por ter tido perdas extensas de tecido e por ser um
procedimento simples com custos menores.
157
5. CONCLUSÃO
O estágio curricular realizado no Hospital Veterinário da Universidade
Estadual de Londrina – UEL me permitiu enfrentar a verdadeira rotina de um hospital
veterinário, que é muito diferente de uma clínica particular, onde adquiri segurança,
novos métodos e condutas e aprimorar meus conhecimentos acadêmicos. É um
local adequado para explorar o abrangente universo da profissão de cirurgião
veterinário, e nos permite analisar possíveis afinidades para futuras especializações.
Pode-se concluir que é de grande importância a realização do estágio
curricular, pois é nele que nos aperfeiçoamos para tornarmos verdadeiros médicos
veterinários, e que somente exercendo a prática da medicina é que será possível a
fixação do conteúdo obtido na faculdade.
158
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA
BELLENGER, C. R.; CANFIELD, R. B. Hérnia perineal. In: SLATTER, D. Manual de
cirurgia de pequenos animais. 2 ed. São Paulo: Manole, 1998, p. 579-589.
BOJRAB, J. M.; TOOMEY, A. A. Hérnia perineal. In: BOJRAB et al. Cirurgia dos
pequenos animais. 2 ed. São Paulo: Roca, 1991, p. 436-441.
CARPENTER, L. Necrose asséptica da cabeça do fêmur. In: TILLEY e SMITH.
Consulta veterinária em 5 minutos. 2 ed. São Paulo: Manole, 2003, p. 888-889.
CHIERICHETTI, A. L.; ALVARENGA, J.; Afecção degenerativa do disco
intervertebral tóraco-lombar: revisão. In: Clínica Veterinária. São Paulo, n. 22, p. 25-
30, set/out. 1999.
DEAN, P. W.; BOJRAB M. J.; CONSTANTINESCU, G. M. In: BOJRAB et al.
Técnicas atuais em cirurgia de pequenos animais. 3 ed. São Paulo: Roca, 1996, p.
411-413.
EGGER, E. L. Fraturas do crânio e mandíbula. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia
de pequenos animais. 2 ed. São Paulo: Manole, 1998, p. 2253-2265.
FERREIRA, F.; DELGADO, E. Hérnias perineais nos pequenos animais. Revista
portuguesa de ciências veterinária. Lisboa, 2002, n° 98, p. 3-9.
159
FOSSUM, T.W. Tratamento de fraturas específicas. In:_______. Cirurgia de
pequenos animais. São Paulo: Roca, 2002. p. 947 – 957.
FOSSUM, T.W. Cirurgia da espinha toracolombar. In:_______. Cirurgia de pequenos
animais. São Paulo: Roca, 2002. p. 1217 - 1235.
FRATOCCHI, C.; SOMMER, E. Displasia coxofemoral canina. Disponível em:
http://www.redevet.com.br/artigos/dcf1.htm. Acessado em: 19 out. 2006.
GAMBARDELLA, P. C. Moléstia de Legg-Calvé-Perthes. In: BOJRAB, J.
Mecanismos da moléstia na cirurgia dos pequenos animais. 2 ed. São Paulo:
Manole, 1996, p. 933-937.
GILMORE, D. R. Fixação interna das fraturas femorais. In: BOJRAB et al. Técnicas
atuais em cirurgia de pequenos animais. 3 ed. São Paulo: Roca, 2005, p. 642-651.
HULSE, D.; HYMAN, B. Biologia e biomecânica das fraturas. In: SLATTER, D.
Manual de cirurgia de pequenos animais. 2 ed. São Paulo: Manole, 1998, p. 1891-
1900.
JOHNSON, A. J.; BOONE, E.G. Fraturas da tíbia e fíbula. In: SLATTER, D. Manual
de cirurgia de pequenos animais. 2 ed. São Paulo: Manole, 1998, p. 2202 -2213.
MANLEY, P. A. Articulação coxofemoral. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia dos
pequenos animais. 2 ed. São Paulo: Manole, 1998, p. 2113-2133.
160
MANN, F. A.. Hérnia perineal. In: BOJRAB, J. M. Mecanismos da moléstia na
cirurgia dos pequenos animais. 2 ed. São Paulo: Malone, 1996, p. 108-113.
MARSOLAIS, G. Intervertebral disc disease. 2004. Disponível em:
http://www.acvs.org/animalowners/healthconditions/smallanimaltopics. Acessado em:
19 out. 2006.
MATHEWS, K. A.; BINNINGTON, A. G. Wound management using sugar. In:
Compendium. v. 24, n. 1, p. 41-49, jan. 2002.
MILTON, J. L. Fraturas do fêmur. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia dos pequenos
animais. 2 ed. São Paulo: Manole, 1998, p. 2135-2333.
MORTARI, A.C.; RAHAL, S.C. Hérnia perineal em cães. Ciência Rural. Santa Maria,
v.35, n° 5, p. 1220 – 1228, set-out. 2005.
OLMSTEAD, M. L. Articulação Coxofemoral. In: BICHARD e SHERDING. Manual
Saunders clínica de pequenos animais. 1 ed. São Paulo: Roca, 1998, p. 1139-1141.
OLMSTEAD, M. L. Fractures of the bones of the hind limb. In:_________ . Small
animal orthopedics. St. Louis: Mosby, 1995. p.219-243.
OLMSTEAD, M. L. et al. Principles of fracture repair. In: OLMSTEAD, M.L. Small
animal orthopedics. St. Louis: Mosby, 1995. p.111-159.
161
PEREIRA, A. M.; ARIAS, M. V. B. Manejo das feridas em cães e gatos: revisão. In:
Clínica Veterinária. São Paulo, n. 38, p. 33-40, 2002.
PIERMATTEI, D. L.; FLO, G. L. A articulação coxofemoral. In: PIERMATTEI e FLO.
Manual de ortopedia e tratamento das fraturas dos pequenos animais. 3 ed. São
Paulo: Manole, 1999, p. 433-628.
___________________. Fraturas do fêmur e patela. In: PIERMATTEI e FLO. Manual
de ortopedia e tratamento das fraturas dos pequenos animais. 3 ed. São Paulo:
Manole, 1999, p. 437-479.
____________________. Fraturas da tíbia e fíbula. In: PIERMATTEI e FLO. Manual
de ortopedia e tratamento das fraturas dos pequenos animais. 3 ed. São Paulo:
Manole, 1999, p. 539-563.
_____________________. Fraturas e luxações da mandíbula e maxilar superior. In:
PIERMATTEI e FLO. Manual de ortopedia e tratamento das fraturas dos pequenos
animais. 3 ed. São Paulo: Manole, 1999, p. 613-628.
POPE, E. R. Fixação das fraturas tibiais. In: BOJRAB et al. Técnicas atuais em
cirurgia de pequenos animais. 3 ed. São Paulo: Roca, 2005, p. 678 – 683.
SIMPSON, S. T. Hemilaminectomia. In: BOJRAB et al. Técnicas atuais em cirurgia
de pequenos animais. 3 ed. São Paulo: Roca, 2005, p. 584-589.
162
SWAIM, S.F.; HENDERSON, R.A. Small animal wound management. Philadelphia:
Lea & Felbiger, 1990. 252 p.
WALLACE, L. J.; OLMSTEAD, M. L. Disabling conditions of the canine coxofemoral
joint. In: OLMSTEAD, M.L. Small animal orthopedics. St. Louis: Mosby, 1995. p. 361-
393.
WHITE, R. A. S. The aetiology and classification of wounds and skin deficits. In:
FOWER, D.; WILLIANS, J. Manual of canine and feline wound management and
reconstruction. Hampshire: BSAVA, 1999. p. 01-12.
Top Related