Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 3, p. 11-26, set-dez. 2006
11
Uso de plantas medicinais pela comunidade de Enfarrusca, Bragança, ParáUse of medicinal plants by the Enfarrusca community in Bragança, Pará
Jussara Costa de Freitas I
Marcus Emanuel Barroncas Fernandes I
Resumo: A Etnobotânica enfoca a forma como diferentes grupos humanos interagem com a vegetação. O presente estudofoi realizado na comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará, com o objetivo de documentar a importância da utilizaçãodas espécies de plantas medicinais locais. A coleta de dados ocorreu entre novembro de 2004 e junho de 2005. Foramaplicados 47 questionários através da Técnica de ‘Listagem Livre’ (entrevistas através de questionários estruturados) eda Técnica de Check List (lista de plantas inventariadas). Para todas as espécies de plantas medicinais do inventáriopreviamente realizado pelo Projeto Manejo de Capoeira, foram coletados exemplares para a produção de exsicatas,as quais estão depositadas no herbário da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) Oriental, Belém,Pará. A maioria dos entrevistados nasceu e reside em Enfarrusca e possui como atividade principal a agricultura. As 28espécies de plantas medicinais utilizadas nessa comunidade parecem ser úteis como método paliativo contra doençasditas ‘leves’. As cascas e folhas das plantas foram as partes mais utilizadas na preparação de remédios caseiros, sendoúteis em diversas técnicas de tratamento, como fricção, emplastro, chá, banho e asseio. O conhecimento sobre essasplantas e seus procedimentos terapêuticos é transmitido em nível familiar, principalmente pelos pais. Tal sistematerapêutico comunitário encontrado em Enfarrusca é basicamente sincrético, misturando elementos da cultura indígenae européia. Uma vez alcançado o conhecimento, ele pode trazer resultados práticos, fornecendo uma base para aimplantação de sistemas de saúde mais adaptados à cultura e às condições da região.
Palavras-chave: Etnobotânica. Plantas medicinais. Comunidade de Enfarrusca. Bragança. Pará.
Abstract: The Ethnobotany focalizes the way how different human groups interact with vegetation. The current study wascarried out at the community of Enfarrusca, Bragança, Pará, aiming to register the importance of utilization of localmedicinal plant species. Data colletcion occurred between November, 2004 and June, 2005. Fourty-seven questionarieswere applied by using two different techniques: ‘Listagem Livre’ (enterview by structured questionaries) and ‘CheckList’ (list of inventoryed plants). For all medicinal plant species from the inventory previously carried out by the projectProjeto Manejo de Capoeira speciemens to produce exsicatas were collected, which are deposited at the herbariumof EMBRAPA Oriental, Belém, Pará. Most of interviewees were born and live at Enfarrusca, and has agriculture as themain activity. The 28 species of medicinal plants used by this community seem to be useful as palliative method againstdiseases called ‘not serious’. Barks and leaves were the parts of the plants more used in the preparation of homemademedicines, that are useful in many different treatment techniques, such as: ‘fricção’, ‘emplastro’, tea, ‘banho’ and‘asseio’. The knowledge on these plants and their therapeutical procedures is transmitted at familiar level, mainly byparents. Such a therapeutical system found at Enfarrusca is basically syncretic, mixing elements from indigenous andEuropean cultures. Once the knowledge is reached, it can bring practical results, giving a basis to implement healthysystems more adapted to the culture and conditions of the region.
Keywords: Ethnobotany. Medicinal plants. Community of Enfarrusca. Bragança. Pará.
I Universidade Federal do Pará. Campus de Bragança. Instituto de Estudos Costeiros. Laboratório de Ecologia de Manguezal.Bragança, Pará, Brasil ([email protected]) ([email protected]).
12
Uso de plantas medicinais pela comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará
INTRODUÇÃO
Os estudos etnobotânicos, com ênfase no aspectomedicinal, vêm sendo bastante enfatizados naAmazônia brasileira, pois ressaltam a importânciacultural e o significado das plantas medicinais na vidados povos (RIOS, 2002). Begossi, Hanazaki e Silvano(2002) ressaltam que os estudos etnobotânicoscontribuem, em especial, para o desenvolvimentoplanejado da região onde os dados foram coletados.
As plantas medicinais, na região amazônica, são oprincipal meio de tratamento de doenças para amaioria das populações pobres devido às influênciasculturais e ao custo proibitivo dos produtosfarmacêuticos. Para um grande número de pessoaspobres da zona rural e urbana nessa região, as plantasmedicinais oferecem o único meio de tratamentodisponível, tanto para as doenças menos graves quantopara as mais sérias (ELISABETSKY; WANNAMACHE,1993). Embora as plantas medicinais sejam colocadasem evidência pelos meios de comunicação e usadaspor milhões de brasileiros, surpreendentemente hápoucas pesquisas de campo sobre sua ecologia. Poroutro lado, a literatura etnobotânica produzida naregião amazônica inclui uma série de estudos botânicose bioquímicos sobre essas plantas (ALBUQUERQUE,1989; SCHULTES; RAFFAUF, 1990; BERG, 1993;DUKE; VASQUEZ, 1994), incluindo o trabalhorealizado por Coelho-Ferreira (2000) na costa lestedo estado do Pará.
Nos últimos anos, numerosas investigaçõesetnobotânicas, que priorizam os inventários de plantasúteis, foram realizadas no intuito de estudar asrelações entre as plantas e a cultura, além depromover interpretações sobre o impacto dessasplantas na cosmovisão da sociedade e na suaeconomia (ESTRELLA; CRESPO, 1993).
Em todos os países e sistemas de saúde, é freqüenteo uso de plantas ou de seus princípios ativos na áreaterapêutica. A identificação do valor curativo dessasplantas acrescenta muitas informações para o saber
médico tradicional, que igualmente tem sido a fontepara a investigação fitoquímica por meio daidentificação dos princípios ativos e, em alguns casos,do desenvolvimento de novas drogas (ESTRELLA;CRESPO, 1993).
De acordo com Rios (2002), a capoeira ou sucessãosecundária, do ponto de vista do uso de recursosvegetais, parecia ser um ‘primo pobre’ no universoda riqueza dos ecossistemas da Amazônia. A autoraainda enfatiza que a partir da década de 1980, como incremento da pesquisa em etnobotânica no nortedo Brasil, foi constatado o quanto as plantas dacapoeira oferecem benefícios às populações rurais,especialmente àquelas que manejam essesecossistemas para o seu uso. Tal constatação trouxeà luz a necessidade imperiosa de conservação ascapoeiras, já que muitos grupos indígenas ecomunidades de pequenos agricultores encarregaram-se de conferir-lhe um status de utilidade, até entãopouco conhecido pela comunidade científica. Alémdo mais, existem evidências arqueológicas e ecológicasde que as capoeiras, na Amazônia, têm sido altamentevalorizadas, uma vez que essas florestas secundáriassão capazes de produzir produtos vegetais que auxiliamna subsistência das populações humanashistoricamente residentes na região. Assim, o objetivodo presente trabalho é documentar o uso e aimportância das espécies de plantas medicinaisoriundas das matas de capoeira pelos moradores dacomunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
O estudo foi realizado na comunidade de Enfarrusca,localizada nas coordenadas geográficas (01º07’37,6”S 46º41’70,4” W), a 13 km do município deBragança, Pará (Figura 1). O clima da região bragantinaé equatorial superúmido, com temperatura médiaanual de aproximadamente 26ºC, umidade relativado ar variando entre 80 e 91% e pluviosidade anual
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 3, p. 11-26, set-dez. 2006
13
de 3.000 mm (MARTORANO et al., 1993).Predominam nessa região os seguintes tipos devegetação: floresta de terra firme, representadas emsua maioria pelas capoeiras; florestas de mangue; ecampos naturais (IDESP, 1977).
A comunidade de Enfarrusca
De acordo com os informantes Sr. Antônio Assunçãoe Sr. Henrique Assunção, Enfarrusca é uma dascomunidades mais antigas de Bragança e teve comoseu primeiro habitante, em 1905, um agricultorchamado Antonio Regino de Assunção que,juntamente com sua família, vivia da agricultura desubsistência. Hoje, essa comunidade possui um total
de 60 unidades domésticas, ocupadas por famíliascuja economia baseia-se principalmente no cultivode milho, mandioca e feijão, sendo os dois últimosprodutos o objetivo da associação dos agricultoresem promover uma produção rentável às famíliaslocais. Em termos de desenvolvimento, Enfarruscapossui uma escola de ensino fundamental (EscolaMunicipal Camila Assunção), uma igreja católica, luzelétrica, água encanada e um campo de futebol,embora não exista posto de saúde.
Levantamento etnobotânico
O trabalho de campo foi realizado entre os mesesde novembro de 2004 e junho de 2005 e baseou-se
Figura 1. Mapa localizando a comunidade de Enfarrusca, no município de Bragança, Pará. Fonte: Laboratório de SensoriamentoRemoto, Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).
14
Uso de plantas medicinais pela comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará
em informações sobre o uso de plantas medicinaise a produção de exsicatas, de acordo com o métododescrito por Amoroso (1993).
As informações etnobotânicas foram coletadas apartir da utilização de um questionário-estruturado(Técnica de ‘Listagem Livre’), consistindo de umalista de questões fixas formuladas de acordo com afinalidade da pesquisa (ALEXIADES, 1996). Foramutilizados dois questionários: um com dados sobreos informantes e outro com dados relativos àsespécies vegetais.
A Técnica de Check List, segundo Alexiades (1996),foi aplicada para verificar quais as espécies vegetaiseram utilizadas para uso medicinal. A lista de espéciesvegetais, usada no presente trabalho, foi produzidapelo projeto Manejo de Capoeira, realizado pelaEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(EMBRAPA), Center for International ForestyResearch (CIFOR) e Universidade Federal Rural daAmazônia (UFRA) (Anexo 1).
Exsicatas foram produzidas a partir de trêsexemplares de cada espécie botânica coletada nascapoeiras de entorno à comunidade de Enfarrusca,utilizando o método descrito por Ming (1996).As plantas coletadas foram herborizadas eidentificadas, sendo posteriormente depositadasno Herbário da Universidade Federal do Pará(UFPA), Campus de Bragança.
Análise de dados
O teste do Qui-Quadrado de Partição (LxC) foiutilizado para averiguar a diferença quanto à origeme à classe etária dos homens e mulheres residentesna comunidade. A análise comparativa considerandoo número de homens e mulheres de toda acomunidade (incluindo os imigrantes), bem como aanálise incluindo apenas os informantes nascidos emEnfarrusca foram realizadas através do teste do Qui-Quadrado (uma amostra de proporções esperadasiguais). Este teste também foi utilizado para analisaros dados referentes ao tempo de vivência dos
moradores na comunidade, à profissão dessesinformantes, à transmissão do conhecimento sobreas plantas medicinais, ao número de plantasmedicinais usadas e à parte da planta mais utilizada,à via de administração dos remédios caseiros e aograu de conhecimento sobre as plantas medicinaisentre homens e mulheres da comunidade. As análisesforam realizadas no pacote estatístico BioEstat 3.0(AYRES et al., 2003).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos informantes
Do universo amostral de 47 unidades domésticas,que representou quase 80% das residências dessacomunidade, em cada domicílio apenas o responsávelpresente foi entrevistado, correspondendo onúmero de unidades amostrado ao número depessoas entrevistadas.
A Tabela 1 mostra que 34 (72,34%) dos moradoresentrevistados são nativos de Enfarrusca e apenas 13(27,66%) são provenientes de outras localidades.Os motivos pelos quais as pessoas passaram a adotarEnfarrusca como seu novo endereço são, em boaparte, devido a algum membro da família já residirnessa comunidade. As justificativas mais comunsregistradas nas entrevistas são a qualidade da terrapara o plantio, a existência de luz elétrica, águaencanada, igarapés, ausência de poluição e aproximidade à cidade de Bragança. Os dados foramobtidos com os informantes nativos, pois estesdetêm maior conhecimento sobre as plantasmedicinais do que os informantes oriundos de outraslocalidades.
O teste do Qui-Quadrado mostrou que não houvediferença significativa (X2=5,81; gl=7; p>0,05)entre os informantes do sexo masculino e femininocom respeito à sua origem, ou seja, o número dehomens e mulheres que migraram para Enfarruscaa partir de outras localidades é equivalente, bemcomo não houve um lugar especial de onde esses
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 3, p. 11-26, set-dez. 2006
15
moradores tivessem imigrado. Por outro lado, onúmero de mulheres foi significativamente maior doque o de homens (X2=7,68; gl=1; p<0,01) napopulação entrevistada (n=47), quando não seconsidera a origem dessa população. Da mesmaforma, foi constatada uma diferença muito significativa(X2=7,52; gl=1; p<0,01) quando a proporçãosexual entre os moradores nascidos em Enfarruscafoi comparada.
Tabela 1. Valores absolutos e percentuais do número deinformantes de ambos os sexos da comunidade de Enfarrusca,Bragança, Pará e suas localidades de origem.
Local de Nascimento Feminino Masculino Total %
Enfarrusca 25 9 34 72,3Bragança 3 2 5 4,3Belém 0 1 1 2,1Treme 1 1 2 2,1Laranjal 1 0 1 2,1Augusto Corrêa 1 0 1 2,1Ourém 0 1 1 2,1Quatro Bocas 1 0 1 10,6São João do Enfarrusca 1 0 1 2,1
Total 33 14 47 100
De acordo com as entrevistas, as mulheres têmmaior conhecimento das espécies vegetais dacapoeira devido a estarem, freqüentemente,fabricando vários tipos de remédios caseiros. Omaior número de informantes do sexo femininodeve-se ao fato de que as entrevistas foramrealizadas, em sua maioria, pela manhã, coincidindocom o período em que as mulheres encontram-sena unidade doméstica, enquanto os homenstrabalham na roça.
A Figura 2 apresenta o percentual de todas ascategorias referentes às atividades exercidas pelosinformantes. A categoria Agricultor representa desseuniverso amostral 64%, ao passo que Professor é acategoria que teve menos representantes.
A maioria desses entrevistados (n=30) trabalha naagricultura (75%), sendo que 57% são mulheres e
43% são homens. A razão pela qual muitas mulheresresponderam que são agricultoras deve-se ao fatode que muitas vezes elas ajudam seus maridos notrabalho agrícola, não significando, no entanto, queelas tenham a mesma carga de trabalho no campo.O restante dos entrevistados (n=17) está divididonas seguintes categorias: Domésticas (52,9%),Aposentados (23,5%), Estudantes (17,7%) eProfessores (5,9%). A análise estatística mostrou quea diferença entre o número de entrevistados paracada atividade exercida na comunidade foi bastantesignificativa (X2=25,12; gl=5; p<0,001).Considerando todas as categorias, poucos foram osprofessores e estudantes entrevistados. Os primeiroscontam apenas em número de dois em toda acomunidade. Os estudantes, por sua vez, têmnecessidade de ajudar os pais no trabalho agrícola,ausentando-se do centro da comunidade no horárioem que as entrevistas foram realizadas. As donas decasa e os aposentados formam as maiores categoriasde informantes, sendo que as mulheres, além deserem maioria no conjunto dos agricultores, tambémsomam alto valor dentre o restante dos entrevistados.De fato, as mulheres parecem ter um importantepapel tanto na agricultura quanto nos afazeresdomésticos. Tal resultado é similar ao encontradopor Amorozo e Gély (1988) em duas vilas depequenos agricultores no município de Barcarena,Pará e por Roman (2001) que trabalhou com famíliasde pescadores de Algodoal, no município deMaracanã, Pará.
Figura 2. Valores percentuais das categorias que representam asatividades dos informantes da comunidade de Enfarrusca,Bragança, Pará.
16
Uso de plantas medicinais pela comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará
Na Tabela 2 estão indicadas as faixas etárias dosentrevistados com suas respectivas porcentagens. Oteste do Qui-Quadrado mostrou que a diferençaentre as faixas etárias dos informantes, em geral émuito significativa (X2=19,33; gl=7; p<0,01), masquando a análise é realizada com a separação dosinformantes por sexo, os resultados não sãosignificativos (X2= 6,30; gl = 6; p>0,05). A faixaetária mais freqüente foi a de 37 a 47 anos (23,4%),seguida pela faixa de 14 a 25 anos (21,3%). Estesresultados indicam que, embora a maioria dosinformantes possua idade madura, outro segmentojovem também compõe boa parte desse universoamostral. Neste caso não há muita evidência de queos jovens estejam deixando a comunidade emdetrimento de outra atividade, como estudar emum centro urbano próximo, fato este descrito porRoman (2001) para as famílias de pescadores deAlgodoal, no município de Maracanã, Pará. Emboraa comunidade de Enfarrusca ofereça apenas aformação escolar básica, os mais jovens não precisamdeixar esta comunidade para cursar o nívelfundamental, pois fica apenas a 13 km da cidade deBragança e o acesso é facilitado pela oferta decondução gratuita pela prefeitura municipal.
Tabela 2. Valores absolutos e percentuais das categorias querepresentam as diferentes faixas etárias dos informantes de ambosos sexos da comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará.
Faixa Etária Feminino Masculino Total %
14–25 9 1 10 21,326–36 4 4 8 7,037–47 8 3 11 23,448–58 5 2 7 4,959–69 4 4 8 7,070–80 2 0 2 4,381–90 1 0 1 2,1
Total 33 14 47 100
De acordo com as informações das entrevistas, aclasse etária de 37 a 47 anos possui umconhecimento bem maior sobre as plantasmedicinais do que as outras classes, sendo que o
número de citações de espécies vegetais foiaproximado ao número citado pelos idosos (a partirde 60 anos).
Tempo de vivência na comunidadeA partir da variação do tempo em que osinformantes vivem na comunidade foram criadasoito classes de tempo de vivência, com base notrabalho de Roman (2001). Os resultadosmostraram que o tempo de vivência dosentrevistados em Enfarrusca varia entre 6 e 93 anos(Tabela 3). A análise comparativa dessas classes detempo foi bastante significativa (X2=20,57; gl=7;p<0,01) para os entrevistados em geral, mesmocom distinção sexual (X2=2,82; gl=7; p>0,05),demonstrando que a maioria está incluída na classede 17 a 27 anos. É importante ressaltar que algunsinformantes moram na comunidade desde quenasceram, outros se instalaram depois de passaruma temporada em diferentes cidades oucomunidades. No entanto, a maioria dessesindivíduos (n=39) mora a pelo menos 17 anosem Enfarrusca, o que sugere uma comunidadeantiga e com pouco fluxo de moradores. Istotambém é corroborado pelo fato de que acomunidade é composta de um grupo familiarpequeno, com apenas três famílias principais(Assunção, Quadros e Borges), representantes damaior parte das residências entrevistadas.
Tabela 3. Valores absolutos e percentuais das categorias querepresentam os diferentes tempos de vivência dos informantes deambos os sexos da comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará.
Tempo Feminino Masculino Total %
6–16 5 3 8 17,017–27 10 3 13 27,728–38 2 1 3 6,439–49 7 2 9 19,150–60 3 3 6 12,861–71 4 2 6 12,872–82 1 0 1 2,183–93 1 0 1 2,1
Total 33 14 47 100
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 3, p. 11-26, set-dez. 2006
17
Doenças mais comunsSegundo o agente comunitário de saúde que atende acomunidade de Enfarrusca, Sr. Valdemar de BritoQuadros, as doenças mais freqüentes, ditas como‘graves’ e que precisam de acompanhamento médico,são diabetes, gripe, malária, hipertensão e parasitoses.Essas mesmas doenças foram registradas nas entrevistas,sendo parasitoses e diarréia as mais freqüentes, com27% e 23%, respectivamente (Figura 3).
Embora haja acompanhamento mensal pelo agentecomunitário, essas doenças são oriundas do descuidodos pais em relação aos filhos, pois a comunidadede Enfarrusca não dispõe de água tratada etratamento de esgoto. O Anexo 2 apresenta a listadas doenças mais citadas pelos informantes.
Através das entrevistas pode-se verificar que, noscasos de doenças menos complexas, o uso deremédios caseiros e a procura ao posto de saúdesão as providências imediatas mais adotadas. Noentanto, quando esses casos não são passíveis desolução por esses meios, os moradores deEnfarrusca recorrem à assistência médica dos centrosurbanos mais próximos, como Bragança e Belém.De fato, na zona rural da cidade de Bragança hácarência de atendimento médico, ou seja, não existeposto de saúde que atenda às comunidades maisafastadas. Por essa razão, o emprego de plantasmedicinais torna-se tão necessário, agindo como umpaliativo no tratamento de doenças ditas leves comofebre, dor de barriga, dor no estômago, dor de dente,
enjôo, torções, inflamações, diarréia etc. Da mesmaforma, Roman (2001) encontrou os mesmosresultados durante o seu estudo no litoral paraense.
As plantas medicinaisO estudo de Rios (2002), realizado na comunidadede Benjamin Constant, município de Bragança,revelou um número bastante expressivo de espéciesbotânicas da capoeira úteis para esta comunidade.Das 135 plantas úteis inventariadas por esta autora,39 são medicinais. No presente trabalho foramidentificadas 28 espécies de plantas medicinais paraa comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará.
A partir dos questionários aplicados, obteve-se onome das espécies de plantas mais citadas pelosmoradores, registradas na Tabela 4. O teste do Qui-Quadrado mostrou que a diferença entre as citaçõesefetuadas pelos moradores de Enfarrusca sobre asplantas mais usadas foi bastante significativa(X2=29,26; gl=9; p<0,001). Grande parte dosentrevistados afirmou que poucas plantas medicinaiscontidas nessa lista podem ser encontradas tanto nacapoeira quanto no igapó.
Partes das plantas mais usadasA Figura 4 mostra que algumas partes das plantassão empregadas no preparo dos remédios, comoflor, folha, caule, casca, raiz, seiva, semente e fruto.
Figura 3. Valores percentuais dos tipos de doenças ditas ‘graves’pelos informantes da comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará.
Figura 4. Valores percentuais das partes mais usadas das plantasmedicinais pelos informantes da comunidade de Enfarrusca,Bragança, Pará
18
Uso de plantas medicinais pela comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará
Casca, folha e raiz foram as partes mais utilizadas(29,1, 28 e 17%, respectivamente). O Teste doQui-Quadrado mostrou que a diferença entre onúmero de citações das partes da planta é bastantesignificativa (X2=484.54; gl=10; p<0,001). Estesdados são semelhantes aos encontrados porAmorozo e Gély (1988) em duas comunidadescaboclas de Barcarena, Pará, nas quais as principaispartes das plantas utilizadas foram folhas (49%), raízes(15%) e casca (13%).
Na comunidade de Enfarrusca não existe sinais decorte seletivo de madeira para comércio de espéciesvegetais, existindo apenas a prática da queimada parao replantio de feijão, mandioca e milho. Nessacomunidade já haviam sido proferidas várias palestrassobre conscientização, manejo e preservação deprodutos naturais oriundos da vegetação secundária.Portanto, é importante ressaltar que os moradoresde Enfarrusca apresentam hábitos de exploraçãoracional dos recursos vegetais úteis da capoeira.
Uso das plantas medicinaisAs observações registradas sobre os moradoresda comunidade de Enfarrusca demonstraram queeles têm uma grande convivência com o mundo
vegetal, o que certamente promoveu o uso daexperimentação e investigação constante daspropriedades terapêuticas das plantas. De fato, osinformantes, ao longo das entrevistas, mostraramgrande conhecimento sobre o estado de maturaçãodas espécies vegetais, o preparo e a conservaçãodos remédios. Para conservar as propriedades do‘leite de Amapá’ (Brosimum parinarioides Ducke.),por exemplo, deve-se fervê-lo com água e depoiscoado, ou, então, deve ser ingerido puro oumisturado com leite condensado. De acordo comos informantes, “não se pode consumir o leite doAmapá (Brosimum parinarioides Ducke) quando aárvore ainda estiver dando fruto, pois é venenoso”.A casca da verônica (Dalbergia monetária L. f.) e dasucuba (Himatanthus sucuuba (Spruce) Woodson.),por exemplo, só devem ser empregadas bem secas,senão “fazem mal ”.
De acordo com os relatos dos informantes, outrouso interessante é o da planta medicinal Capitiú(Siparuna decipiens (Tul.) A. D.), preparada como umbanho, podendo trazer benefícios, como ‘limpeza daalma’ e retirada de ‘mal olhado’. Já a Vassourinha-de-botão (Borreria verticillata (L.) G. Mey.), ervamedicinal muito encontrada à beira de caminhos e
Tabela 4. As espécies de plantas medicinais mais importantes para os informantes da comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará.
Nº do coletor Nome científico Nome vernacular Nº de citações %
JCF – 0015 Stryphnodendron barbatimam Mart. barbatimão 38 13.8JCF – 0016 Dalbergia monetaria L. f. verônica 32 11.6JCF - 0007 Cinnamomum zeylonicum Nees canela 27 9.8JCF – 0005 Parahancornia fasciculata (Poir) Benoist. amapá amargoso 25 9.5JCF – 0010 Cecropia obtusa Trécul embaúba-branca 26 9.1JCF – 0004 Scoparia dulcis L. vassourinha 19 6.9JCF – 0008 Uncaria guianensis (Aubl.) J. F. Gmel. cipó-unha-de-gato 19 6.9JCF – 0028 Geissospermum sericeum Berth. & Hook. f. ex Mieis quinarana 18 6.5JCF – 0001 Abuta grandifolia (Mart.) Sandw. abuta amarela 15 5.5JCF – 0003 Borreria verticillata (L.) G. Mey. vassourinha-de-botão 13 4.7JCF – 0022 Verbena sp L. perpétua 12 4.4JCF – 0027 Pilocarpus carajaensis (Skorupa) jaborandi 11 4.0JCF – 0013 Himatanthus sucuuba (Spruce ex Müll. Arg.) Woodson sucuba 10 3.6JCF - 0017 Davilla rugosa Poir cipó-de-fogo 10 3.6
Total 275 100
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 3, p. 11-26, set-dez. 2006
19
estradas, é usada pelas ‘benzedeiras’ na prática da‘benzedura’ de crianças contra muitos males. Por fim,as plantas medicinais podem também exercer outrafunção, como é o caso do banho da casca deMarapuama (Clavija lancifolia Desfontaines), que,segundo os informantes, “tem efeito sobre feitiço”.Tais resultados também são encontrados no trabalhode Amorozo (1993), onde a ‘puxação’ e a ‘benzeção’são os dois procedimentos mais utilizados para otratamento de vários males entre os habitantes deItupanema e Vila Nova, município de Barcarena, Pará.
Outras utilidades das plantas medicinais tambémforam registradas, como madeira para construçãode casas e móveis, lenha, aromatizante e ornamental.
Procedimentos terapêuticosConsiderando que a terapêutica estuda e põe emprática os meios adequados para aliviar ou curar osdoentes, alguns procedimentos práticos foramregistrados em Enfarrusca para o tratamento dediferentes doenças, como o uso de fricção, aplicaçãode emplastros, uso de chá via oral, aplicação debanhos e asseios.
O modo de preparo dos remédios utilizados nosprocedimentos terapêuticos também apresenta ouso combinado de plantas nesses tratamentos,sendo utilizados outros ingredientes, como o mele o leite condensado.
Os tipos de tratamento registrados para acomunidade de Enfarrusca não são limitados ao serhumano, pois cães domésticos também são passíveisde serem assistidos. A planta Jaborandi-da-mata(Piper ottonoides Yuncker), por exemplo, quandomacerada por completo, é colocada no focinho doscães para facilitar a retirada de secreções,restabelecendo o faro do animal.
De acordo com Amorozo e Gély (1988), as razõesapresentadas para o uso de uma determinada plantaestão de acordo com o sistema de pensamento dosinformantes, com concepções de causa e efeitopróprias. Embora diferenciem-se de uma explicação
causal científica, elas não excluem a possibilidade deuma ação farmacológica da planta. Um estudo maisdetalhado sobre os procedimentos de administraçãoe das razões pelas quais os informantes ministramdeterminadas preparações para certos fins, além defornecer pistas para as pesquisas farmacológicas sobreos princípios ativos dessas plantas, seria muito útilpara a compreensão do sistema de saúde doscolonos e para a implantação de programas de saúdemais eficientes.
O Anexo 3 apresenta os usos das espécies medicinaisencontradas no presente estudo. O termo ‘medicinal’designa aqui todas as espécies que têm um valorcurativo para os moradores de Enfarrusca. De acordocom Maués (1977), as doenças dividem-se em doisgrupos: ‘doenças naturais’ e ‘doenças não-naturais’,conforme os conceitos nativos de causalidade.
No entanto, a análise destes conceitos é fundamentalpara entender o funcionamento do sistematerapêutico e da sua complexidade, o qualnecessitaria de estudos mais aprofundados. OAnexo 3 mostra, ainda, as partes das plantas quesão empregadas no preparo dos remédios caseiros.Os resultados apresentados nesse anexocomprovam a importância de considerar os dadosetnobotânicos em pesquisas farmacológicas. Váriasespécies de plantas medicinais citadas nessa lista játiveram ação farmacológica comprovada emestudos de laboratórios, como a vassourinha(Scoparia dulcis Linnaeus), verônica (Dalbergiamonetaria Linnaeus f.) e canela (Aniba canelilla(Kunth) Mez) (UNESCO, 1984).
A via oral foi a mais mencionada como viaadministrativa para o tratamento terapêutico demuitos males (244 citações, 64%), seguida pela viatópica (136 citações, 34%), sendo este umresultado bastante significativo (X2=30,69; gl=1;p<0,001), além de corroborar com os achadosde Amorozo (1993), nos quais a via externarepresentou 79% das receitas caseiras, enquantoa via tópica apenas 21%.
20
Uso de plantas medicinais pela comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará
Transmissão do conhecimento
O teste do Qui-Quadrado mostrou que houvediferença significativa (X2=14,02; gl=3; p<0.01)entre os diversos responsáveis pela transmissão doconhecimento na comunidade. Os conhecimentossobre o uso de plantas como remédios foramtransmitidos, principalmente, através dos pais (44%)(Figura 5).
CONCLUSÃO
A maneira como os moradores da comunidade deEnfarrusca utilizam as plantas e outros produtos nasua medicina tradicional está subordinada não apenasà procura de uma eficácia consagrada pela experiênciade uso, mas também como eles percebem aetiologia das doenças e a terapêutica dos remédios.
Pode-se salientar que a rede familiar de transmissãode conhecimento é relevante nessa comunidade,mesmo sendo esta uma comunidade jovem e bemestabelecida próximo a Bragança e outros povoados.O sistema terapêutico comunitário encontrado emEnfarrusca é basicamente sincrético, com a presençade elementos da cultura indígena e européia. Oconhecimento, uma vez alcançado, além dointeresse puramente acadêmico, poderia trazerresultados práticos ao fornecer uma base em que sealicerçasse a implantação de sistemas de saúde maisadaptados à cultura e às condições da região.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, J. M. 1989. Plantas medicinais de usopopular. Brasília, DF: ABEAS/MEC. 100 p.
ALEXIADES, M. 1996. Collecting Ethnobotanical Data: an introdutionto basic concepts and techniques. In: ALEXIADES, M.; SHELDON, J.M. (Ed.). Selected Guidelines for Ethnobotanical Research:a field manual. New York: New York Botanical Garden Press. p. 53-94. (Advences in Economic Botany, 10).
AMOROZO, M. C. M. 1993. A abordagem etnobotânica na pesquisade plantas medicinais. In: DI STASI, L. C. (Org.). PlantasMedicinais: arte e ciências: um guia de estudos interdisciplinar.Botucatu: UNESP. p. 47-68.
AMOROZO; GÉLY, A. 1988. Uso de plantas medicinais por caboclosdo Baixo Amazonas, Barcarena, PA, Brasil. Boletim do MuseuParaense Emílio Goeldi, série Botânica, v. 4, n. 1, p. 47-131.
AYRES, M. et al. 2003. Bio Estat 3.0: aplicações estatísticas nasáreas das ciências biológicas e médicas. Mamirauã: Sociedade CivilMamirauã/MCT-CNPq/Conservation International. 291 p.
BEGOSSI, A.; HANAZAKI, N.; SILVANO, R. A. M. 2002. Ecologiahumana, etnoecologia e conservação. In: AMOROZO, M. C. M.;MING, L. C.; SILVA, S. M. P. (Org.). Métodos de coleta eanál ise de dados em etnobiologia, etnoecologia edisciplinas correlatas. Rio Claro: UNESP/CNPq. p. 93-128.
Todos os informantes afirmaram que costumamtransmitir seus zconhecimentos para os filhos,vizinhos, amigos e a quem necessite domedicamento tradicional. Na comunidade nãoexiste a prática da venda de preparados medicinais‘garrafadas’, pois eles não constituem uma fontede renda alternativa para os informantes em funçãode não serem produzidos com muita freqüência.A maioria dos preparos caseiros é trazida de outrascomunidades próximas. Esta prática parece sermuito comum em outras comunidades, como járegistrado por Roman (2001), na ilha de Algodoal,município de Maracanã, Pará.
A maioria dos informantes afirmou que nunca tentouplantar as espécies medicinais da capoeira, devidoao fácil acesso em consegui-las.
Figura 5. Categorias que especificam a forma de transmissão doconhecimento sobre as plantas medicinais utilizadas nacomunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará.
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 3, p. 11-26, set-dez. 2006
21
BERG, M. E. Van den. 1993. Plantas medicinais da Amazônia:Contribuição ao seu Conhecimento Sistemático. Belém: CNPq. 223 p.
COELHO-FERREIRA, M. R. 2000. Identificação e valorizaçãodas plantas medicinais de uma comunidade pesqueirado litoral paraense (Amazônia brasileira). Tese (Doutorado)–UFPA/MPEG/EMBRAPA. 269 p.
DUKE, J. A.; VÁSQUEZ, R. 1994. Amazonian EthnobotanicalDictionary. Boca Raton, FL.: CRC Press. 224 p.
ESTRELLA, E.; CRESPO, A. (Org.). 1993. Memoias del ISimposio Salud y Población Indígena de la Amazônia.Quito: TCA, Comission de las Comunidades Europeas, MuseoNacional de Medicina Del Equador. v. 2.
ELISABETSKY, E.; WANNAMACHER, L. 1993. The Status ofEthnopharmacology in Brazil. Journal of Ethnopharmacology,v. 38, p 137-143.
IDESP. 1977. INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOSOCIAL DO PARÁ. Diagnóstico do Município de Bragança.Belém: IDESP, Coordenadoria de Documentação e Informação. p.123.
MARTORANO, L. G. et al. 1993. Estudos climáticos do Estadodo Pará, classi f icação cl imática (Köppen) e deficiênciahídrica (Thornthwhite, Mather). Belém: SUDAM/EMBRAPA,SNLCS. 53 p.
Recebido: 05/12/2005Aprovado: 15/03/2006
MAUÉS, R. H. 1977. A ilha encantada: medicina e xamanismonuma comunidade de pescadores. 235 f. Dissertação (Mestrado) –Universidade de Brasília, Brasília.
MING, L. C. 1996. Coleta de plantas medicinais. In: DI STASI, L. C.(Org.). Plantas medicinais: arte e ciência, um guia de estudointerdisciplinar. São Paulo: EDUSP. p. 69 -86.
RIOS, M. 2002. La Comuniadad Benjamim Constant y lasPlanta Utiles de la “Capoeiras”: um enlace etnobotânico emla região Bragantina Pará, Amazônia Brasileira. 539 f. Tese(Doutorado em Ciências e Desenvolvimento Sócio Ambiental) –Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos,Belém.
ROMAN, André Luis Cote. 2001. Plantas Medicinais naRestinga da Princesa, i lha de Algodoal, Município deMaracanã, Estado do Pará, Brasi l. 104 f. Dissertação(Mestrado) – Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, Belém.
SCHULTES, R. E.; RAFFAUF, R. 1990. The healing Forest:Medicinal and Toxic Plants of the Northwest Amazon.Portland: Dioscorides Press. 236 p.
UNESCO. 1984. Médecine et pharmacopée populaire dansla Caribe. [S.l.:s.n.]. Seminaire Tramil. Rappont final. 20-26 nov.
22
Uso de plantas medicinais pela comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará
Anexo 1. Tabela das espécies de plantas medicinais inventariadas na comunidade de Enfarrusca, Pará, registrada por nome vernacular,por família, nome científico, hábito e doenças para as quais são utilizadas como terapia. Para os nomes regionais das doenças registradas,consultar Glossário (Anexo 2). Hábito: A-árvore; a-arbusto; H-herbáceo; L-liana.
N° de coletor Nome Vernacular Família Nome Científico Hábito Doenças
JCF-0001 abuta-amarela Menispermaceae Abuta grandifolia (Mart.) Sandw. A baque, torções e inflamação
JCF - 0026 açoita-cavalo Tiliaceae Leuhea divaricata Mart. A diabetes, ferimento,inflamação e reumatismo
JCF - 0005 amapá-amargoso Apocynaceae Parahancornia fasciculata (Poir) Benoist. A baque, diabetes, inflamação,desinteria, diarréia,hemorróida, dor de barriga,ameba, anemia, gastrite, gripe,problemas respiratóriose fraqueza
JCF - 0024 amapá-doce Moraceae Brosimum parinarioides Ducke A inflamação, diarréia, hemorróida,dor de barriga, fraqueza, peitoaberto e desnutrição
JCF – 0025 apuí Guttiferae Clusia insignis Mart. A/a torções e inflamação
JCF – 0015 barbatimão Leguminosae Stryphnodendron barbatimam Mart. A baque, ferimento, inflamação,diarréia, hemorróida, dor debarriga, ameba, gastritee corrimento
JCF – 0014 camembeca Polygaceae Polygala spectabilis DC. H/L/a diarréia e hemorróida
JCF – 0007 canela Lauraceae Cinnamomum zeylonicum Nees A diarréia, empachamento, dor debarriga, vômito, dores e tambématua como calmante
JCF – 0021 capitiú Monimiaceae Siparuna decipiens (Tul.) A. DC. A dores e fraqueza
JCF - 0018 cipó-abuta Menispermaceae Abuta parvifolia Rusby & Moldenke L baque, inflamação e carne
JCF - 0017 cipó-de-fogo Dilleniaceae Davilla rugosa Poir L inflamação, desinteria, diarréiae verruga
JCF - 0002 cipó-escada-de-jabuti Leguminosae Bauhinia guianensis Aubl. L desinteria, reumatismo, diarréia,hemorróida, ameba e dorde barriga
JCF - 0008 cipó-unha-de-gato Rubiaceae Uncaria guianensis (Aubl.) J.F. Gmel. L diabetes, inflamação, câncer,reumatismo, diarréia, dor de dente
JCF - 0009 embaúba-vermelha Cecropiaceae Cecropia palmata Willd A anemia e tosse
JCF - 0010 embaúba-branca Cecropiaceae Cecropia obtusa Trécul A diabetes, ferimento, inflamação,albumina, enxume, anemia, tossee hepatite
JCF - 0019 falso-barbatimão Leguminosae Dimorphandra mollis Benth. A inflamação
JCF - 0027 jaborandi Rutaceae Pilocarpus carajaensis Skorupa L inflamação, reumatismo, dor dedente, dores e queda de cabelo
JCF - 0006 jamborani-da-mata Piperaceae Piper ottonoides Yuncker L reumatismo
JCF - 0020 jasmim-de-cachorro Rubiaceae Psychotria olorata Mull.Arg. A carne crescida no olho,ferimento, alergia e dores
JCF - 0023 mangirioba Leguminosae Cassia fruticosa Mill. A ferimento, tosse e derrame
JCF - 0011 marapuama TheophrastaceaeClavija lancifolia Desfontaines A impotência e reumatismo
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 3, p. 11-26, set-dez. 2006
23
Anexo 2. Glossário do nome das doenças citadas no Anexo 1, referente às doenças mais citadas pelos informantes do presente estudo.
Peito aberto a região do peito (apêndice xifóide do esterno) abre-se porque a pessoa carregou muito pesoSintomas: fraqueza e emagrecimento
Albumina “a pessoa fica amarela, dá canseira, urina fica grossa; dá mais comumente em gestanteNão pode comer sal ”
Enxume corpo inchado
Empachamento estômago desconfortável e alto
Dor de urina “dor nos rins. Não é só quando urina, é o tempo todo” (pedra nos rins)
Corrimento problema de mulher
Cuúba coceira, forte comichão, prurido
Rasgadura no músculo, carne rasgada “carne que se abre por dentro, não precisa sair sangue”; pode ser causada por carregar peso
Baque hematoma
Anexo 1. Continuação.
N° de coletor Nome Vernacular Família Nome Científico Hábito Doenças
JCF - 0022 perpétua Verbenaceae Verbena sp. L. H inflamação, albumina, hemorróida,dor de urina, respiraçãoe corrimento
JCF - 0012 pimenta-longa Piperaceae Pothomorphe peltata Miq. A enxume, tosse e derrame
JCF - 0028 quinarana Apocynaceae Geissospermum sericeum Benth. A inflamação, febre, enxume,& Hook. F. ex Miers dor de urina e alergia
JCF - 0013 sucuba Apocynaceae Himatanthus sucuuba A diabetes, ferimento, inflamação,(Spruce ex Müll. Arg.) Woodson diarréia, ameba, gastrite e dores
JCF - 0003 vassourinha-de-botão Rubiaceae Borreria verticillata (L.) G. Mey. H diarréia, hemorróida,dor de urina e gripe
JCF - 0004 vassourinha Scrophulariaceae Scoparia dulcis L. H ferimento, inflamação, diarréia,dor de dente e enxume
JCF - 0016 verônica Leguminosae Dalbergia monetaria L. L inflamação, diarréia, dor debarriga, vômito e corrimento
24
Uso de plantas medicinais pela comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará
Uso
loca
l
baqu
e e
torç
ões
infla
maç
ão/c
onju
tivite
infla
maç
ão
reum
atism
o
diab
ete
diar
réia,
fraq
ueza
, am
eba,
gas
trite
, gr
ipe,
prob
lem
as in
test
inais
e r
espi
rató
rios
infla
maç
ão,
fraq
ueza
, de
snut
riçã
o,he
mor
róid
as e
diar
réia
torç
ões
infla
maç
ão
infla
maç
ão,
úlce
ra,
dor
de b
arri
ga,
ferim
ento
, am
eba
e co
rrim
ento
diar
réia
e he
mor
róid
a
fraqu
eza
e em
pach
amen
to
fraqu
eza
dor
de c
abeç
a
Nom
e ve
rnac
ular
abut
a-am
arel
a
açoi
ta-c
avalo
amap
á-am
argo
so
amap
á-do
ce
apuí
barb
atim
ão
cam
embe
ca
cane
la
capi
tiú
Anex
o 3.
Util
izaçã
o da
s pl
anta
s m
edici
nais
em E
nfar
rusc
a, B
raga
nça,
Par
á. Parte
da
plan
taut
ilizad
ara
iz e
casc
a
casc
a
casc
a
raiz
e ca
sca
casc
a
leite
leite
raiz
(bat
ata)
casc
a
raiz
folh
a
toda
a p
lanta
Mod
o de
Pre
paro
e A
plica
ção
Pos
olog
ia
Soca
r a
raiz
ou a
cas
ca, p
or n
a ág
ua p
ara
cozin
har
e co
ar.
Faze
r um
em
plas
to e
col
oca
no b
aque
.
Ferv
er a
cas
ca e
coa
r. Pi
ngar
got
as n
o ol
ho d
uas v
ezes
ao
dia.
Ferv
er a
cas
ca p
ara
fazer
o c
há. T
omar
três
vez
es a
o di
a.
Bate
r e
tirar
o s
umo
para
faze
r fri
cção
, ou
chá
.To
mar
três
vez
es a
o di
a.
Pega
r a
casc
a e
porn
a ág
ua. B
eber
com
o ág
ua.
Pode
-se
inge
rir o
leite
pur
o ou
mist
urar
com
mel
e v
inho
ou,
ainda
, mist
urar
com
mas
truz.
Dep
ende
ndo
da g
ravid
ade
dopr
oble
ma,
inge
rir a
mist
ura
duas
ou
três
veze
s ao
dia.
Pode
-se
tom
ar p
uro
ou m
istur
ar c
om le
ite m
oça.
Inge
rir u
ma
colh
er d
e ch
á um
a ve
z ao
dia.
Soca
r a ra
iz, ti
rar o
sum
o e
faze
r o e
mpl
asto
.Ra
spar
a r
aiz e
col
ocar
na
água
. Tom
ar c
omo
água
.
Coz
inha
r a c
asca
par
a fa
zer o
chá
e to
mar
três
vez
es a
o di
a,ou
ras
par
a ca
sca
e m
istur
ar c
om á
gua
e be
ber.
Coz
inha
r ca
sca
para
faze
r ba
nho
de a
ssei
o.
Coz
inha
r a ra
iz pa
ra fa
zer o
chá.
Tom
ar co
nfor
me
a gra
vidad
edo
pro
blem
a.
Coz
inha
r a
folh
a pa
ra f
azer
o c
há.
Tom
ar c
onfo
rme
agr
avid
ade
do p
robl
ema.
Por a
folh
a no
álco
ol p
ara
faze
r inf
usão
.Fe
rver
a p
lanta
par
a m
olha
r a
cabe
ça.
Uso
med
icina
l
med
icina
l
med
icina
l /co
nstr
ução
med
icina
l /fa
zem
col
her
de p
au
med
icina
l
med
icina
l /co
nstru
ção
epr
oduç
ão d
ele
nha
med
icina
l
med
icina
l /ar
omat
izant
e
med
icina
l
Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 3, p. 11-26, set-dez. 2006
25
Uso
loca
l
baqu
e e
rasg
adur
a no
mús
culo
tira
verr
uga
desin
teria
e in
flam
ação
diar
réia,
hem
orró
ida,
pres
são
alta
e re
umat
ismo
infla
maç
ão, d
iabet
e e
dor
de d
ente
infla
maç
ão, a
lbum
ina
e en
xum
e
enxu
me
(cor
po in
chad
o) e
ane
mia
infla
maç
ão
reum
atism
o, q
ueda
de
cabe
lo, i
nflam
ação
e do
r de
den
te
dor
de d
ente
cólic
as
toss
efe
rimen
to
reum
atism
o e
impo
tênc
ia
Nom
e ve
rnac
ular
cipó-
abut
a
cipó-
de-fo
go
cipó-
esca
da-d
e-ja
buti
cipó-
unha
-de-
gato
emba
uba-
bran
ca
emba
uba-
verm
elha
falso
-bar
batim
ão
jabor
andi
jambo
rand
i-da-
mat
a
jasm
im-d
e-ca
chor
ro
man
girio
ba
mar
apua
ma
Anex
o 3.
Con
tinua
ção.
Parte
da
plan
taut
ilizad
ara
iz e
leite
caul
e/cip
ó
água
do
cipó
raiz
e ca
sca
casc
a e
folh
a
folh
a
folh
a
casc
a
raiz
e fo
lha
raiz
flor
sem
ente
casc
a e
raiz
Mod
o de
Pre
paro
e A
plica
ção
Pos
olog
ia
Soca
r a ra
iz, ti
rar o
sum
o e
faze
r o e
mpl
asto
, ou
tam
bém
tira
ro
leite
e m
istur
ar c
om o
sum
o da
raiz
para
faze
r o e
mpl
asto
e co
loca
r no
loca
l afe
tado
.
Faze
r fri
cção
com
o c
ipó
para
ser
rar
a ve
rrug
a.Be
ber
a ág
ua d
o cip
ó.Ti
rar a
águ
a do
cip
ó e
bota
r no
loca
l da
infla
maç
ão.
Rasp
ar a
cas
ca, m
acer
ar a
raiz
e co
loca
r na
água
par
a faz
er o
chá.
Tom
ar tr
ês v
ezes
ao
dia
ou b
eber
com
o ág
ua.
Ferv
er a
folh
a ou
o cip
ó pa
ra fa
zer o
chá.
Tom
ar tr
ês v
ezes
aodi
a ou
beb
er c
omo
água
.
Mac
erar
a fo
lha
seca
e p
o na
águ
a pa
ra fe
rver
.
Coz
inha
r a
folh
a pa
ra fa
zer
o ch
á e
o ba
nho.
Ferv
er a
cas
ca p
ara
fazer
o c
há. T
omar
dua
s ve
zes
ao d
ia.
Mac
erar
a r
aiz,
soc
ar a
fol
ha e
col
ocar
no
álco
ol.
Para
reum
atism
o, p
assa
r a in
fusã
o no
loca
l dol
orid
o. P
ara
qued
a de
cabe
lo, l
avar
com
o c
há d
a ra
iz e
folh
a. P
ara
dor
de
dent
e,so
car a
raiz
e a
folh
a, p
or n
a ág
ua, c
oar e
faze
r gar
gare
jo.
Soca
r a ra
iz, c
oloc
ar n
o alg
odão
, por
no
dent
e e
deixa
agir
.
Coz
inha
r a flo
r, fa
zer o
chá e
tom
ar se
mpr
e qu
e de
r von
tade
.
Torr
ar a
sem
ente
e fa
zer
o ch
á.Ra
lar, t
irar o
sum
o e
colo
car n
o fe
rimen
to.
Col
ocar
no
álcoo
l par
a fa
zer i
nfus
ão e
dep
ois c
oloc
ar n
o lo
cal
dolo
rido.
Por
na á
gua
e de
pois
bebe
r co
mo
água
.
Uso
med
icina
l
med
icina
l /co
nstr
ução
med
icina
l /co
nstr
ução
med
icina
l
med
icina
l
med
icina
l / o
caul
e é
para
carv
ão e
pólvo
ra
med
icina
l
med
icina
l
med
icina
l
med
icina
l
med
icina
l
med
icina
l
26
Uso de plantas medicinais pela comunidade de Enfarrusca, Bragança, Pará
Uso
loca
l
infla
maç
ão, d
imin
uiçã
o de
men
stru
ação
e he
mor
ragia
ute
rina
enxu
me
toss
e
infe
cção
urin
ária,
inch
aço
nas
pern
ase
coce
ira
ameb
a, in
flam
ação
, diar
réia
e m
icose
ferim
ento
hem
orró
ida
grip
e
dor
de d
ente
coce
ira
infla
maç
ão e
vôm
itofe
rimen
to
Nom
e ve
rnac
ular
perp
étua
pim
enta
-long
a
quin
aran
a
sucu
ba
vass
ourin
ha-d
e-bo
tão
vass
ourin
ha
verô
nica
Anex
o 3.
Con
tinua
ção.
Parte
da
plan
taut
ilizad
aflo
r
folh
ato
da a
plan
ta
folh
a e
caul
e
folh
a
leite
casc
a
raiz
toda
a p
lanta
folh
a
raiz
folh
aca
sca
Mod
o de
Pre
paro
e A
plica
ção
Pos
olog
ia
Ferv
er a
flor e
pre
para
r o ch
á. To
mar
dua
s ou
três v
ezes
ao
dia.
Ferv
er a
folh
a e
prep
arar
o b
anho
.C
ozin
har
para
faze
r o
chá.
Ferv
er a
folh
a e
o ca
ule
para
pre
para
r o
chá.
Tom
ar tr
ês v
ezes
ao
dia.
Soca
r a fo
lha,
tira
r o su
mo
e pa
ssar
no
corp
o.
Por o
leite
na
água
par
a di
luir.
Tom
ar c
omo
água
.Pi
lar p
ara
faze
r o p
ó. C
oloc
ar o
pó
na fe
rida
ou fa
zer o
chá
eto
mar
dua
s ve
zes
ao d
ia.
Coz
inha
r a ra
iz e
mist
urar
com
mel
, alh
o e
geng
ibre
e p
repa
rar
o ch
á.
Faze
r xa
rope
.
Soca
r co
m s
al e
depo
is po
r no
den
te c
om a
lgodã
o ou
só
afo
lhin
ha c
om sa
l.C
ozin
har
a ra
iz pa
ra fa
zer
o ch
á e
prep
arar
o b
anho
.
Ferv
er a
folh
a e
prep
arar
o c
há o
u ba
nho
de a
ssei
o.Ra
spar
, fer
ver,
coar
e fa
zer
o ch
á.
Uso
med
icina
l /or
nam
enta
l
med
icina
l
med
icina
l
med
icina
l
med
icina
l /us
ada
para
benz
er
med
icina
l
med
icina
l
Top Related