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MINISTÉRIO DA DEFESA

EXÉRCITO BRASILEIRO

SECRETARIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA CARTOGRÁFICA

DIOGO DOS SANTOS ADELINO

VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS

Rio de Janeiro

2006

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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

DIOGO DOS SANTOS ADELINO

VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia Cartográfica do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia Cartográfica.

Orientador: Prof. Luiz Felipe Coutinho Ferreira da Silva

- D.E.

Rio de Janeiro

2006

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c2006

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha

Rio de Janeiro - RJ CEP: 22290-270

Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-lo

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do(s) orientador(es).

A229 Adelino, Diogo dos Santos Variáveis Táteis para Representações Cartográficas / Diogo dos Santos Adelino. - Rio de Janeiro : Instituto Militar de Engenharia, 2006.

128 f. : il., graf., tab. : - cm. Dissertação (mestrado) - Instituto Militar de Engenharia, 2006. 1. Variáveis Visuais. 2. Cartografia Tátil. 3. Deficiência Visual. 4. Percepção

Visual e Tátil.

CDD 526

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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

DIOGO DOS SANTOS ADELINO

VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES CARTOGRÁFICAS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia Cartográfica do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia Cartográfica.

Orientador: Prof. Luiz Felipe Coutinho Ferreira da Silva - D.E.

Aprovada em 06 de abril de 2006 pela seguinte Banca Examinadora:

_______________________________________________________________

Prof. Luiz Felipe Coutinho Ferreira da Silva - D.E. do IME - Presidente

_______________________________________________________________

Prof. Oscar Ricardo Vergara - D. E. do IME

_______________________________________________________________

Prof. Manoel do Couto Fernandes - D. C. da UFRJ

Rio de Janeiro

2006

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AGRADECIMENTOS

Um trabalho desta magnitude jamais poderia ter sido realizado através dos esforços de uma única pessoa. Ele é resultado de várias pessoas, uma união de dedicação, trabalho, amor e amizade de diferentes indivíduos, que direta e indiretamente contribuíram de alguma forma para esta dissertação. Assim, a única forma que há de retribuir é dedicando este trabalho a estas pessoas, agradecendo-as, pois a contribuição dada para a elaboração deste trabalho jamais poderá ser recompensada. Assim, agradeço, em primeiro lugar a Deus, por permitir mais esta vitória pessoal, essa conquista, mesmo depois de tantos problemas, dificuldades e obstáculos. A minha família um agradecimento especial. Aos meus pais, Cida e Luiz; aos meus irmãos, Thiago, Luiz Carlos (Russo), Vitor e Valeria; a minha avó Marinalva e a minha tia Ademilde; e a minha madastra Célia, um obrigado especial para todas estas pessoas que mesmo sem ter a dimensão desta conquista, me apoiaram e estiveram comigo em todos os momentos desta jornada. A minha noiva Carla, agradeço pela compreensão e pelo conforto emocional que foram fundamentais nesta minha caminhada. Aos meus sogros Vera Lucia e Antonio Carlos, que sempre me receberam bem, e ajudaram-me através de conversas, conselhos e da farta culinária de minha sogra, carinhosamente chamada de "tia". Aos meus amigos, que na verdade são meus irmãos, Eduardo, Vinícius, Alexandre, Cleber um agradecimento de joelhos pois em todo o momento desta jornada lá estavam eles ao meu lado, ora ajudando na dissertação, ora descontraindo o ambiente através das mais diversas brincadeiras. Aos meus quatro irmãos um muito obrigado pela possibilidade em ter vocês como amigos e, com certeza, por ser pela vida toda. A minha "mãe acadêmica", Maria Naíse, que com seu perfeccionismo e com sua fala mansa muito me ensinou nesta vida científica, sendo responsável pelo meu crescimento tanto profissional quanto como pessoa. Aos amigos e colaboradores do NEQUAT/UFRJ que indiretamente contribuíram para a elaboração da dissertação, desde a infra-estrutura até ao ambiente descontraído de trabalho. A amiga Alessandra que quanto necessário me cobriu, lecionando nos dias que estava mais enrolado que linha em carretel. Aos professores do IME que sempre se mostraram disponíveis, e travam uma batalha diária para manter os cursos de graduação e pós-graduação com recursos praticamente inexistente. Ao meu orientador, Luis Felipe, que esteve comigo em todos os momentos, principalmente nas horas de desespero. Obrigado por me apoiar e acreditar no meu trabalho, mesmo nos momentos que nem eu acreditava. A todas as demais pessoas que, não menos importante, mas que seria inviável descrevê-las o meu agradecimento, o meu muito obrigado. A todos vocês meus amigos, que participaram direta e indiretamente, agradeço-os eternamente, e sintam-se vitoriosos também, pois esta vitória não é só minha, mas de todos vocês.

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“... Só posso levantar as mãos pro céu; agradecer e ser fiel; ao destino que Deus me deu. Se não tenho tudo que preciso; com o que tenho, vivo; de mansinho, lá vou eu. Se a coisa não sai do jeito que eu quero; também não me desespero; o negócio é deixar rolar. E aos trancos e barrancos, lá vou eu; e sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu. E deixa a vida me levar (vida leva eu)...”.

Trecho da música “Deixa a Vida

Me Levar” de Serginho Meriti e Eri do Cais,

interpretado por Zeca Pagodinho.

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“... Mas digo sinceramente; na vida coisa mais feia. É gente que vive chorando de barriga cheia...”.

Trecho da música “Maneiras” de

Sylvio da Silva, interpretado por Zeca

Pagodinho.

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SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES.................................................................................. 10

LISTA DE TABELAS............................................................................................ 13

LISTA DE SIGLAS............................................................................................... 14

1 INTRODUÇÁO.......................................................................................... 17

1.1 Posicionamento do Trabalho..................................................................... 17

1.2 Objetivos................................................................................................... 19

1.3 Justificativa do Estudo............................................................................... 20

1.4 Desenvolvimento do Trabalho................................................................... 23

2 DEFICIÊNCIA VISUAL E A PERCEPÇÃO.............................................. 26

2.1 A Deficiência Visual................................................................................... 26

2.1.1 Definições e Classificações....................................................................... 26

2.1.2 Representatividade dos Deficientes Visuais............................................. 27

2.1.3 Tecnologias de Acessibilidade para os Deficientes Visuais...................... 29

2.2 A Percepção.............................................................................................. 31

2.2.1 O Sentido da Visão................................................................................... 32

2.2.1.1 A Anatomia do Globo Ocular..................................................................... 32

2.2.1.2 O Processo de Visualização..................................................................... 34

2.2.2 O Sentido do Tato..................................................................................... 37

2.2.2.1 A Anatomia da Pele................................................................................... 37

2.2.2.2 O Sistema Tátil.......................................................................................... 39

2.3 A Percepção Tátil...................................................................................... 39

3 CARTOGRAFIA TÁTIL............................................................................. 45

3.1 A Importância dos Mapas.......................................................................... 45

3.2 Contextualização Histórica........................................................................ 53

3.3 Cartografia Tátil: Uma Definição............................................................... 57

3.4 Mapas Táteis............................................................................................. 59

3.5 Métodos de Produção............................................................................... 63

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4 VARIÁVEIS VISUAIS................................................................................ 69

4.1 Cor............................................................................................................. 73

4.2 Valor.......................................................................................................... 76

4.3 Forma........................................................................................................ 78

4.4 Tamanho................................................................................................... 80

4.5 Textura...................................................................................................... 81

4.6 Orientação................................................................................................. 85

5 METODOLOGIA 88

5.1 A Concepção das Matrizes-Bases............................................................ 88

5.2 As Matrizes-Bases.................................................................................... 91

5.2.1 Símbolos Pontuais.................................................................................... 91

5.2.2 Símbolos Lineares..................................................................................... 102

5.2.3 Símbolos Poligonais.................................................................................. 104

5.3 Aplicação dos Testes................................................................................ 106

6 RESULTADOS..................................................................................... 110

6.1 Símbolos Pontuais................................................................................ 110

6.2 Símbolos Lineares................................................................................ 112

6.3 Símbolos Poligonais............................................................................. 113

7 CONCLUSÕES.................................................................................... 117

BIBLIOGRAFIA........................................................................................................ 122

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIG. 2.1 Anatomia do olho humano................................................................. 33

FIG. 2.2 Processo de visualização de um determinado objeto no globo ocular................................................................................................. 35

FIG. 2.3 Estrutura de um globo ocular e as regiões do cérebro que processam as informações provenientes destes órgãos................... 36

FIG. 2.4 Estrutura da pele com as suas três camadas.................................... 37

FIG. 2.5 Epiderme com suas sub-divisões...................................................... 38

FIG. 2.6 Derme com suas sub-divisões........................................................... 38

FIG. 2.7 Sensores hápticos do corpo humano utilizados na percepção tátil... 41

FIG. 3.1 Exemplos de representações classificadas como mapas. A) mapa de localização de um sítio; B) mapa de localização de lojas; C) mapa de riscos ambientais................................................................ 48

FIG. 3.2 Mapa do tempo, com a previsão do tempo para o estado do Rio de Janeiro, ocupando meia página com mais outros dois mapas.......... 49

FIG. 3.3 Mapa turístico de Ilha Grande (RJ), com as principais praias e as áreas de proteção ambiental da ilha.................................................. 50

FIG. 3.4 Mapas dos sistemas de transporte coletivo ferroviário (A) e metroviário (B) da cidade do Rio de Janeiro, encontrados em cada uma das estações.............................................................................. 50

FIG. 3.5 Comparação entre uma frase constituída por letras convencionais e sua correspondência, abaixo, com o alfabeto Braille..................... 60

FIG. 3.6 Mapa tátil das rodovias federais de Santa Catarina, feito em barbante cordonê sobre papel........................................................... 62

FIG. 3.7 Características primárias (A) e secundárias (B) da classificação de mapas táteis....................................................................................... 63

FIG. 3.8 Elaboração de um mapa tátil baseado em um mapa convencional.. 65

FIG. 3.9 Ilustração do equipamento thermoform, responsável por moldar a película plástica. As três máquinas acima são destinadas para braillons de dimensões distintas, da menor (esquerda) para maior (direita)............................................................................................... 66

FIG. 3.10 Processo de reprodução de material em alto relevo através do thermoform: (a) a matriz-base é inserida no thermoform, (b) e o braillon é colocado sobre a matriz, (c) depois a matriz e o braillon são fixados com o enquadramento e em seguida é deslocado (d) a câmara de vácuo e temperatura sobre as duas. Dado o tempo e a 67

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temperatura determinado no equipamento, retira-se a câmara e o enquadramento para, assim, (e) destacar o braillon, moldado, da matriz-base........................................................................................

FIG. 3.11 Reprodução de mapas táteis utilizando o braillon. Na parte superior, o mapa tátil base, com as fronteiras entre os países representadas por linhas e as capitais determinadas por alfinetes, além da textura distinguindo o Brasil dos demais países sul-americanos. Na parte inferior o braillon moldado com as características do mapa tátil base..................................................... 68

FIG. 4.1 Elementos Gráficos (Ponto, Linha e Área)........................................ 69

FIG. 4.2 Variação da representação por meio dos elementos gráficos........... 70

FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra intitulada de Semiologie Graphique, aplicadas nos elementos gráficos ponto, linha e área................................................................ 73

FIG. 4.4 Paleta de cores, com as cores primárias e secundárias................... 74

FIG. 4.5 Paleta de cores ilustrando a variação de tonalidades, entre o preto e o branco, nas cores azul (A), vermelho (B) e cinza (C).................. 77

FIG. 4.6 Comparação entre diferentes tamanhos e espessuras. No primeiro conjunto distingue-se o tamanho na forma linear. Já no segundo conjunto, diferencia-se a espessura ou largura em linhas de mesmo tamanho................................................................................ 81

FIG. 4.7 Exemplos de variações de texturas, segundo BERTIN (1983).......... 82

FIG. 4.8 Diferentes tipos de superfícies que determinará texturas distintas e percepções diferenciadas. Da esquerda para direita: mármore, esteira, tela, papel amassado, cortiça e gotas de água ou ar........... 83

FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares, o que conseqüentemente altera o espaçamento entre eles........................ 84

FIG. 4.10 Variação apenas no espaçamento entre os elementos lineares, permitindo que visualmente se perceba a distância entre as linhas.................................................................................................. 84

FIG. 4.11 Variações de orientação com elementos lineares preenchendo símbolos............................................................................................. 85

FIG. 4.12 Exemplo de TYNER (1992) ilustrando um mapa com símbolos pontuais cuja orientação não possui significado algum..................... 86

FIG. 4.13 Proposta de adaptação das variáveis visuais para as variáveis táteis.................................................................................................. 87

FIG. 5.1 Dimensões da matriz a ser reproduzida, com o tamanho original e a área útil........................................................................................... 89

FIG. 5.2 Esquema e a matriz 01, referente às formas pontuais regulares 92

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básicas...............................................................................................

FIG. 5.3 Esquema e a matriz 02, referente às formas pontuais regulares derivadas do quadrado e do triângulo............................................... 92

FIG. 5.4 Esquema e a matriz 03, referente às formas pontuais regulares derivadas do círculo........................................................................... 93

FIG. 5.5 Esquema e a matriz 04, referente às formas pontuais regulares básicas e derivadas........................................................................... 94

FIG. 5.6 Matrizes 05, 06 e 07, referentes às formas pontuais irregulares....... 95

FIG. 5.7 Esquema e a matriz 08, referente aos diferentes tamanhos de quadrados.......................................................................................... 96

FIG. 5.8 Esquema e a matriz 09, referente aos diferentes tamanhos de símbolos triangulares......................................................................... 97

FIG. 5.9 Esquema e a matriz 10, referente aos diferentes tamanhos de símbolos circulares com três tamanhos distintos.............................. 98

FIG. 5.10 Esquema e a matriz 11, referente aos diferentes tamanhos de símbolos circulares, com três tamanhos distintos............................. 98

FIG. 5.11 Esquema e a matriz 12, referente às avaliações da orientação de símbolos quadrangulares regulares................................................... 99

FIG. 5.12 Esquema e a matriz 13, referente às avaliações da orientação de símbolos triangulares regulares......................................................... 100

FIG. 5.13 Esquema e a matriz 14, referente às avaliações da orientação de parte dos símbolos circulares regulares............................................ 101

FIG. 5.14 Esquema e a matriz 15, referente às avaliações da orientação de parte dos símbolos circulares regulares............................................ 102

FIG. 5.15 Matriz 16, referente às avaliações da variável forma em representações lineares..................................................................... 103

FIG. 5.16 Matriz 17, referente às avaliações da variável forma em representações lineares..................................................................... 103

FIG. 5.17 Esquema com as distintas granulações e a matriz 18 referente às avaliações da extensão lixa da variável textura em representações em áreas............................................................................................ 104

FIG. 5.18 Matriz 19, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com diversos tipos de superfícies........... 105

FIG. 5.19 Matriz 20, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com diversos tipos de superfícies........... 105

FIG. 5.20 Matriz 21, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com diversos tipos de superfícies oriundas de papelão corrugado......................................................... 106

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LISTA DE TABELAS

TAB. 2.1 População residente com cegueira por regiões geográficas, segundo censo 1991. Adaptado de IBGE, 2006b............................. 29

TAB. 2.2 População residente com deficiência visual por regiões geográficas, segundo censo 2000. Adaptado de IBGE, 2006b......... 29

TAB. 2.3 Estímulos recebidos em condições normais pelos seres humanos.. 43

TAB. 2.4 Capacidade de retenção de dados retidos após três horas.............. 43

TAB. 2.5 Capacidade de retenção de dados retidos após três dias................. 43

TAB. 6.1 Variáveis e suas respectivas extensões avaliadas e consideradas perceptíveis através do sistema tátil.................................................. 115

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LISTA DE SIGLAS

CAEG Centro de Atendimento Educacional ao Cego

CM Centímetros

CIE Comissão Internacional de Iluminação

DPME Divisão de Pesquisa e Produção de Material Especializado

EEPG Escola Estadual de Primeiro Grau

IBC Instituto Benjamin Constant

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICA Associação de Cartografia Internacional

LDB Lei de Diretrizes e Bases

NCE Núcleo de Computação Eletrônica

OMS Organização Mundial da Saúde

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

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RESUMO

A Cartografia utiliza a visualização como forma de transmissão das informações contidas em seus documentos, trazendo como conseqüências não só a segregação de um segmento da população, os deficientes visuais, mas também limitando as formas de representação. Desta forma, o presente trabalho apresenta uma proposta de variáveis táteis a partir das variáveis visuais de Bertin, e suas respectivas extensões definidas através de testes de percepção háptica. Esta proposta tem como objetivo a determinação de um conjunto de variáveis que sirva de base para a construção de documentos cartográficos táteis e, assim, contribuir para a geração de mapas mais eficazes no que concerne a comunicação cartográfica, através da sistematização da construção de simbologia tátil.

Para a determinação do conjunto destas variáveis, foram realizados levantamentos bibliográficos sobre os temas relacionados, uma discussão conceitual sobre as variáveis visuais e a elaboração de um conjunto testes de validação. Os testes realizados com os deficientes visuais permitiram avaliar a percepção das variáveis táteis e suas extensões, determinando quais são possíveis de serem implementadas em documentos cartográficos que utilizem o tato para a leitura e interpretação das informações cartográficas contidas. Além disso, indicaram as deficiências a serem corrigidas e as limitações da percepção tátil a serem levadas em consideração na construção de mapas táteis.

Desta forma, espera-se que este trabalho contribua não só para o aperfeiçoamento dos documentos cartográficos, mas também para a melhora da qualidade de vida dos deficientes visuais, bem como o desenvolvimento da ciência cartográfica.

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ABSTRACT

The Cartography uses the visualization as a form of transmission of the information contained in its documents, bringing as consequences not only the segregation of a segment of the population, the blind people, but also limiting the representation forms. This work presents a proposal of tactile variables from the visual variable of Bertin, and its respective extensions defined throughout tests of haptic perception. The aim of this proposal is the determination of a set of variables that can be the bases for the construction of tactile cartographic documents and this way contribute for the creation of more efficient maps in that it concerns the cartographic communication, through the systematization of the tactile construction of symbology.

For the determination of the set of these variable, bibliographical surveys on the related subjects had been carried through, a conceptual quarrel on the visual variable and the elaboration of a set validation tests. The tests made with the deficient appearances had allowed to evaluate the perception of the táteis variable and its extensions, determining which are possible to be implemented in cartographic documents that use the tato for the reading and interpretation of the contained cartographic information. Moreover, they had indicated the deficiencies to be corrected and the limitations of the tactile perception to be led in consideration in the construction of tactile maps.

In such a way, one expects that this work not only contributes for the perfectioning of cartographic documents, but also for the improvement of the quality of life of the deficient appearances, as well as the development of cartographic science.

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1 INTRODUÇÃO

1.1 POSICIONAMENTO DO TRABALHO

A Cartografia tanto como ciência quanto como técnica, e até mesmo como arte,

sempre se baseou, quase que exclusivamente, no sentido da visão para realizar o

seu objetivo principal, que é o de transmitir as informações geográficas1 através das

representações contidas nos mais variados documentos cartográficos, seja através

dos signos, das convenções, seja através das toponímias, seja através das cores,

dos gráficos, dentre outros.

Como ciência, a Cartografia na busca por novas metodologias de representação

do globo terrestre e as informações relacionadas ao mesmo, em geral, se apóia

somente no campo visual.

Já como técnica, os métodos de produção dos documentos cartográficos no

intuito de se alcançar uma maior eficiência utilizam como parâmetro a visualização

do mesmo, já que através da visualização ocorre a leitura e interpretação das

representações cartográficas.

Por fim, como arte, DUARTE (2002), ao comentar sobre a Cartografia como arte,

afirma que

“... não podemos esquecer que um mapa deve respeitar determinados aspectos estéticos, pois se trata de um documento que precisa ser agradável às vistas, razão pela qual necessita de uma boa disposição de seus elementos (traços, símbolos, cores, legenda, margens, etc.)”.

Desde a antiguidade, o homem vem utilizando mapas para diversos fins, tais

como conhecer melhor a área, armazenar rotas, caminhos, administrar e gerir o

território, dentre outros. DUARTE (op cit.) afirma que a confecção dos mapas parece

ser anterior à escrita, ou seja, a história da Cartografia acompanha, desde os

primórdios da raça humana, o desenvolvimento da humanidade.

1 Toda aquela de natureza física, biológica ou social, que possua um relacionamento com um sistema de referência sobre a superfície terrestre (MENEZES, 2000).

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Entretanto, ao longo de todo o desenvolvimento da Cartografia, um ponto é

mantido por toda a sua história, a sua dependência na visão como o canal de

comunicação entre a informação geográfica e a representação cartográfica.

Essa dependência do canal visual, por parte da Cartografia, pode ser entendida

pelo próprio comportamento do ser humano, que depende cada vez mais da visão,

principalmente nos dias de hoje onde as constantes mudanças no meio dificultam a

utilização dos demais sentidos, tais como a poluição sonora, diversidades de odores

artificiais originadas das indústrias, lixões, dentre outros focos.

A visão é o principal meio utilizado pelo homem para se perceber o espaço e

suas relações existentes, isso explica a preocupação predominante da visualização

na elaboração dos documentos cartográficos, já que a Cartografia representa

justamente esse espaço que o homem procura entender e perceber melhor.

A importância da visão, no processo de apreensão do conhecimento, é

demonstrada por BARROS (2006), que apresenta o estudo sobre a capacidade de

captação e retenção de informações pelos seres humanos através dos sentidos.

Segundo o referido autor, os estímulos recebidos pelos seres humanos em

condições normais captados pela visão são de 83%, enquanto que a audição,

segundo sentido que mais estímulos recebe, a porcentagem é de apenas 11%.

VASCONCELLOS (1993) afirma que a percepção do espaço e as relações

espaciais dependem basicamente do sentido visual, sendo o olho o único canal de

comunicação da informação visual. Vale ainda ressaltar que a visão é responsável

por 80%, aproximadamente, da aquisição de conhecimento obtido pelo homem,

como afirma LOUZADA (2004).

Entretanto, a utilização predominante do canal visual justificado tanto pela

dependência do homem quanto pela eficiência na transmissão das informações

geográficas traz consigo conseqüências na leitura e interpretação de informações

representadas nos documentos cartográficos realizada por pessoas que possuem

deficiência visual, seja esta deficiência parcial ou total (cegos).

A linguagem escrita por ter como uma de suas principais características a sua

estruturação, possibilitou a elaboração de um sistema de códigos que representasse

os signos utilizados na escrita, como as letras e os números, na forma tátil, sendo

este conjunto de códigos denominado de sistema braile, criado em 1829 pelo

francês Louis Braille. Contudo, com relação à imagem espacial, a sua complexidade

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torna a transcrição e comunicação na forma tátil um processo de maior

complexidade, o que justifica o baixíssimo número de material tátil desta natureza.

Assim, dentro do presente contexto, torna-se necessário o desenvolvimento de

metodologias que possibilitem e auxiliem na elaboração não só de documentos

cartográficos, mas também de material didático na forma tátil, com o intuito de

atender a este segmento da sociedade, tão carente e ao mesmo tempo desprovido

de ferramentas que os ajudem no conhecimento e na percepção do espaço

geográfico2.

Ao mesmo tempo, trata-se de ampliar as possibilidades da Cartografia, através

de novas formas de representação e transmissão da informação. Desta forma, o

desenvolvimento da representação cartográfica através da percepção tátil não pode

ser limitado apenas a ser uma forma de atender e possibilitar o acesso à informação

aos deficientes visuais, mas sim de buscar formas alternativas e complementares às

já existentes, objetivando uma representação mais fidedigna possível da realidade e

uma transmissão cada vez mais eficiente da informação no que tange ao

entendimento dos códigos cartográficos.

1.2 OBJETIVOS

A presente dissertação tem como objetivo principal propor um conjunto de

variáveis táteis, bem como definir as extensões3 respectivas de cada variável que,

aplicadas aos três elementos gráficos básicos (ponto, linha e área) servirão de base

para a construção de simbologias que permitirão a transmissão de informações

espaciais, nos documentos cartográficos que serão identificados e interpretados por

meio da percepção tátil.

Desta forma, essas simbologias táteis poderão ser uma forma alternativa de

representação cartográfica, e terão a possibilidade de serem implementadas

unicamente ou em conjunto com os códigos tradicionais já utilizados amplamente.

Assim, os documentos que adotarem as simbologias táteis não só atenderão aos

2 Conjunto de objetos geográficos distribuídos sobre um território (SANTOS, 1985). 3 Corresponde ao número de divisões de uma componente, factível de serem percebidas.

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deficientes visuais, mas também poderão ser utilizados pelos não-deficientes, uma

vez que a representação tátil não impossibilita a representação visual.

O processo de elaboração das variáveis táteis, bem como suas respectivas

extensões, estará baseado no conjunto de variáveis visuais criado e sistematizado

por BERTIN (1983). A partir destas variáveis visuais, serão realizadas adaptações

com o objetivo de possibilitar a percepção, agora, através do tato.

Entretanto, como não será possível a adaptação de todas as variáveis visuais

devido a incompatibilidade das características com a representação tátil, como a

variável cor por exemplo, será necessário a criação de variáveis, bem como a

exclusão de outras. Desta forma, espera-se formar o conjunto de variáveis táteis que

servirá de base para as representações cartográficas que serão utilizadas em

documentos cartográficos voltados para a percepção tátil.

1.3 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

A Cartografia Tátil vem crescendo e ganhando cada vez mais espaço no cenário

acadêmico-científico, com um número crescente de centros de pesquisa e núcleos

de estudos que adotam-na como objeto de estudo e buscam o seu desenvolvimento.

Este fato pode ser demonstrado pelo número de trabalhos publicados nos encontros

científicos. Em um deles, o Congresso Internacional de Cartografia, realizado em

2003, houve apenas quatro trabalhos apresentados. Diferentemente da última

edição do mesmo congresso, realizado em 2005, onde o número de trabalhos

apresentados que contemplava o tema foi de dezoito, demonstrando assim um

crescimento de trabalhos desenvolvidos na área de Cartografia Tátil (ICA, 2003;

ICA, 2005).

No entanto, esse desenvolvimento está concentrado na Europa, sendo mais da

metade dos trabalhos publicados desenvolvidos em países europeus. Dos quatros

trabalhos apresentados na edição de 2003 do Congresso Internacional de

Cartografia, três eram oriundos da Europa. Já na última edição do mesmo

congresso, em 2005, dos dezoito trabalhos registrados dez deles eram de origem

européia (ICA, 2003; ICA, 2006).

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Na América do Sul, o Chile se destaca no desenvolvimento de alternativas de

representação cartográficas baseado no tato. Sua presença está registrada nos

anais do Congresso Internacional de Cartografia de 2005, com duas publicações.

Além disso, os centros de pesquisas chilenos ligados ao desenvolvimento da

Cartografia Tátil participam de encontros e seminários com outros países da América

Latina, como a Argentina, Uruguai e o Brasil, trazendo contribuições através de

discussões, debates e apresentações de produtos didáticos e mapas táteis

(BRANDÃO, 2005).

No Brasil, a Cartografia Tátil vem sendo caracterizada e restringida a formas

artesanais de se elaborar mapas táteis, desenvolvidas, principalmente, por núcleos

especializados na educação de deficientes visuais, como o Instituto Benjamin

Constant (IBC), no Rio de Janeiro, motivados pela necessidade imediata por

materiais didáticos que possam ser trabalhados através do sentido do tato.

Desta forma, como há uma carência de material tátil de um modo geral, as

instituições ligadas à educação de deficientes visuais desenvolvem e elaboram

formas alternativas que minimizem as dificuldades do ensino voltado aos portadores

de deficiência visual e aumentem a capacidade de reprodução.

Dentre esses materiais desenvolvidos encontram-se os mapas táteis, utilizados,

principalmente, nas disciplinas de Geografia e História, que, em geral, são

elaborados sem nenhum conhecimento cartográfico. Normalmente são

confeccionados com retalhos de diversas texturas e bijuterias, manualmente, sem

nenhuma padronização e com avaliações do sistema de comunicação cartográfica

restringida. Vale destacar que estas avaliações são realizadas com voluntários

deficientes, que testam os materiais ao término de sua elaboração. Através do relato

da percepção tátil relativa ao material gerado, o profissional identifica se as

informações representadas estão sendo identificadas e as possíveis deficiências a

serem corrigidas, em um processo de “tentativa e erro” (BRANDÃO, 2005).

Em suma, o processo de produção de material cartográfico tátil é caracterizado

por ser artesanal, com baixa tiragem de cópias, sem rigor cartográfico. Vale lembrar

que ainda não há o estabelecimento de técnicas de produção de mapas táteis que

orientem o processo de elaboração desse tipo de documento cartográfico, como há

na Cartografia tradicional. Técnicas estas que determinem regras, padrões e formas

de se representar em um formato tátil eficazmente no que tange a comunicação

Page 22: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

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cartográfica, ou seja, o entendimento da informação geográfica pelo usuário através

do documento cartográfico.

Estes fatores apresentados que caracterizam a Cartografia tátil no país trazem

como conseqüência a inviabilização da disseminação de material tanto cartográfico

quanto didático aos portadores de deficiência visual, bem como a implementação do

processo de alfabetização cartográfica e a difusão da própria Cartografia tátil e a sua

respectiva importância.

Além disso, a preocupação com estas dificuldades e a importância dada a este

segmento da sociedade se justifica por dois aspectos. O primeiro, pela maior

necessidade dos mesmos de se conhecer o espaço, principalmente o que está

relacionado ao seu cotidiano, uma vez que a ausência, completa ou parcial, do

campo visual, dificulta a percepção e o conhecimento do espaço; segundo, pela

dimensão desta parcela da sociedade, que vem obtendo taxas de crescimento a

cada ano.

Nesta última década houve um crescimento de quase 10% referente ao número

de deficientes visuais no Brasil, segundo dados dos censos de 1991 e 2000,

chegando a, aproximadamente, 9% da população brasileira no início desta década

(IBGE, 2006a; SONZA & SANTAROSA, 2005; VASCONCELLOS, 1993).

Assim, o desenvolvimento de novas metodologias que auxiliem na busca por

processos mais eficientes de elaboração de mapas táteis será de grande valia para

o desenvolvimento da Cartografia tátil. Isto se refere tanto ao processo de

comunicação entre o usuário deficiente, a informação geográfica e a percepção

espacial, quanto a produção em série, em larga escala, que possibilite a difusão de

um material adequado para todo o país.

Além disso, haverá uma contribuição no que tange a inclusão social, uma vez

que hoje, a legislação em vigor garante o acesso ao ensino de todo e qualquer

portador de necessidades especiais, dentre eles o deficiente visual, como

determinam a Constituição Brasileira de 1988 (BRASIL, 1988), em seu sexto

capítulo, e a Lei de Diretrizes e Bases, a LDB-9394/96 (BRASIL, 1996), que

estabelece as diretrizes para educação, em seu quinto e qüinquagésimo nono

artigos, respectivamente:

“São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

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maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.

“O acesso ao ensino fundamental é direito Público subjetivo,

podendo qualquer cidadão, grupos de cidadão, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério público, acionar o Poder Público para exigi-lo”.

“Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com

necessidades especiais: I- currículos, métodos e técnicas, recursos educativos e

organização específicos, para atender às suas necessidades;...”.

Vale ressaltar que, atualmente, mais do que garantir o acesso à educação é o de

possibilitar a integração dos portadores de deficiência na rede pública de ensino,

alterando o procedimento de “isolar” os alunos com necessidades especiais em

centros especializados.

Na verdade, a própria Constituição Brasileira de 1988 já determina isso, em seu

artigo 288, onde contempla o dever do Estado com a educação, no terceiro inciso:

“atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino”. O plano nacional de educação

especial, do Ministério de Educação, coloca que na diretriz atual que é a de plena

integração dessas pessoas, uma das questões em voga é o direito da educação,

sempre que possível junto com as demais pessoas nas escolas “regulares” (MEC,

2006a).

Assim, a política de inclusão social torna-se mais um fator que justifica o

desenvolvimento de pesquisa na Cartografia Tátil, buscando atender essa carência

e contribuindo para melhora na qualidade de vida dos deficientes visuais.

1.4 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

No intuito de atingir os objetivos propostos deste estudo, o mesmo foi

estruturado em sete capítulos, cujo conteúdo, em linhas gerais, será apresentado a

seguir.

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O presente capítulo, o primeiro, constitui-se de um texto introdutório sobre o

tema. Apresenta o trabalho em linhas gerais, contextualizando-o. Aborda não só os

objetivos propostos para esta dissertação, mas também os argumentos que

justificam a realização deste trabalho.

O capítulo posterior, o segundo, tem em seu corpo constituinte uma abordagem

sobre a deficiência visual, uma vez que o trabalho está voltado ao desenvolvimento

de formas que auxiliem, principalmente, pessoas que possuam este tipo de

deficiência. Assim, são apresentadas as definições bem como as classificações para

considerar um indivíduo como deficiente visual ou não.

Além da deficiência visual, o segundo capítulo também contempla os tipos de

percepção visual e tátil, abordando suas características e, desta forma, as

diferenças entre si. Isso se explica pela necessidade de se conhecer a forma de

funcionamento dos dois tipos de percepção, uma vez que o objetivo do trabalho é

adaptar a forma de representação visual para a tátil.

O terceiro capítulo é composto por uma abordagem sobre a Cartografia tátil. A

proposta deste capítulo é de realizar uma simplificada revisão conceitual sobre o

tema em questão, buscando apresentar uma definição que represente por completo

o termo, bem como delimitar o mesmo dentro da própria Cartografia.

Já o quarto capítulo tem como foco principal as variáveis visuais. Este capítulo

consiste em apresentar o referido tema, definindo cada variável juntamente com

suas características peculiares. Posteriormente, são propostas modificações que

possibilitem que as variáveis visuais possam ser percebidas através do tato, e desta

forma, ser aplicadas em documentos cartográficos táteis. Logo, será possível

constituir um conjunto de variáveis táteis que seja viável a sua utilização na

composição de simbologia tátil.

O quinto capítulo aborda a metodologia adotada para a elaboração e a

realização dos testes de validação das variáveis adaptadas ao formato tátil. Este

capítulo contempla as características de cada matriz gerada, abordando as

propostas de modificações realizadas, o processo de elaboração dos testes, a

montagem e a constituição do grupo de teste e a aplicação do mesmo.

O sexto capítulo refere-se aos resultados obtidos pela aplicação dos testes

montados. Neste capítulo apresenta-se não só as extensões percebidas pelo tato

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mas também as deficiências indicadas pelos voluntários e os problemas de

identificação através do sentido háptico4 de alguns símbolos utilizados.

O sétimo capítulo é constituído pelas conclusões, que serão elaboradas a partir,

não só de todo o levantamento realizado na bibliografia existente, mas também na

experiência prática adquirida no desenvolvimento e na aplicação dos testes de

validação. Além disso, serão apresentadas sugestões de trabalhos futuros que

contribuirão na continuação deste trabalho e no desenvolvimento do tema em voga.

Desta forma, através desta sistematização, o presente trabalho espera contribuir

com o desenvolvimento de novas metodologias que proporcionem não só uma maior

inclusão social no que tange aos deficientes visuais, possibilitando a estas pessoas

acesso à informação e uma melhor qualidade de vida, mas também ao crescimento

da Cartografia como ciência e como técnica, ampliando sua área de influência,

estendendo suas formas de aplicação e, assim, auxiliando o seu desenvolvimento.

Vale ressaltar que são conhecidas as dificuldades de todo deficiente visual no

que diz respeito ao acesso de qualquer tipo de informação e as suas dificuldades na

percepção e no conhecimento do espaço geográfico, mesmo aquele referente ao

seu cotidiano. Logo, o presente trabalho não tem a pretensão de resolver todos

esses problemas, muito menos de preencher toda esta lacuna na Cartografia,

referente ao déficit no desenvolvimento de formas de representação tátil.

Contudo, espera-se contribuir na busca de soluções que venham minimizar os

problemas enfrentados por este segmento significativo da sociedade. Além disso,

espera-se auxiliar no desenvolvimento da Cartografia Tátil, contribuindo não só na

construção de novos conhecimentos, mas também estimulando novas pesquisas

sobre o presente tema e, desta forma, difundindo a própria Cartografia Tátil e a sua

importância, para que mais pessoas venham a se beneficiar e contribuir com a

mesma.

4 O termo háptico está diretamente associado ao sentido do tato, conforme apresenta CARNEIRO (2003)

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2 A DEFICIÊNCIA VISUAL E A PERCEPÇÃO

2.1 A DEFICIÊNCIA VISUAL

2.1.1 DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES

Um indivíduo pode ser considerado como sendo um deficiente visual se o

mesmo possui um severo comprometimento no seu campo visual (na capacidade de

visualizar em várias direções) ou na capacidade de perceber detalhadamente uma

imagem (problemas na sua acuidade visual), mesmo com a implementação de

correções óticas (óculos e lentes de contato, por exemplo) ou cirúrgicas, conforme

explicita LAZARO (2002).

A deficiência visual não se restringe somente à cegueira, termo este que não

significa a incapacidade total de visualizar, mas sim, o prejuízo dessa aptidão em

níveis incapacitantes para o exercício de tarefas rotineiras (CONDE, 2005).

A deficiência em questão pode variar desde a cegueira total, passando pela

cegueira parcial até a visão subnormal. A primeira também é conhecida como

cegueira funcional ou amaurose que se caracteriza pela ausência por completo de

sensibilidade luminosa. Já a segunda pode ser denominada também como cegueira

legal ou profissional onde o deficiente é capaz apenas de contar os dedos a curta

distância e perceber vultos, além de fazer a distinção entre claro e escuro. A visão

subnormal se caracteriza pelo razoável resíduo visual de um indivíduo

(CONGRESSO BRASILEIRO DE PREVENÇÃO DA CEGUEIRA, 1980 e CONDE,

2005).

Desta forma, uma pessoa é considerada como cega se a sua visão corrigida é

de 20/200 ou menos, ou seja, se a mesma tem condições de visualizar a 20 pés de

distância, o equivalente a 6 metros, o que é detectado por uma pessoa sem

deficiência a 200 pés, o que corresponde a 60 metros. Outra forma de se identificar

a cegueira é através do diâmetro do seu campo visual, onde no caso do diâmetro

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mais largo subtender um arco de até 20 graus, ainda que sua acuidade visual nesse

estreito campo possa ser superior a 20/200 (CONDE, 2005).

Já os fatores que caracterizam um indivíduo como sendo portador de visão

subnormal são a acuidade visual de 6/60 e 18/60 (escala métrica) e/ou um campo

visual entre 20 e 50 graus, conforme afirma (CONDE, 2005).

O referido autor ainda apresenta uma classificação baseada na questão

pedagógica

“Pedagogicamente, delimita-se como cego aquele que, mesmo possuindo visão subnormal, necessita de instrução em Braille e como portador de visão subnormal aquele que lê tipos impressos ampliados ou com o auxílio de potentes recursos ópticos”.

Outra classificação de grau de deficiência, bastante aplicada nas práticas

esportivas, mas informal, divide os indivíduos em B1, que são as pessoas totalmente

ou praticamente cegas, B2, que é composto por pessoas que ainda possuem um

resíduo visual mínimo, e o B3, que são aquelas pessoas com bastante resíduo

visual (CONDE, 2002).

Vale registrar que todas as pessoas que não possuem nenhum tipo de

deficiência visual são denominadas como videntes, ou seja, a deficiência visual pode

distinguir dois grupos, os que a possuem, denominados de deficientes visuais, e

aqueles que não a possuem, conhecidos como videntes.

2.1.2 REPRESENTATIVIDADE DOS DEFICIENTES VISUAIS

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 1% de toda a

população mundial possui algum tipo de deficiência visual, e desse contingente,

mais de 90% se encontram nos países em desenvolvimento. Somente a China, a

Índia e os países africanos possuem, dois terços dos cegos de todo o mundo. Já nos

países desenvolvidos, a título de comparação, a população de deficientes visuais é

composta de 5% de crianças e 75% de idosos (FOLHA DE SÁO PAULO, 2001).

No Brasil, baseado no censo demográfico de 2000 do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que existam, aproximadamente, cerca de

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16,5 milhões de deficientes visuais, ou seja, 9,76% de toda a população brasileira.

Desse contingente, 159.823 são cegos (0,96%), 2.398.471 possuem grande

dificuldade permanente de enxergar (14,47%) e 14.015.641 têm alguma dificuldade

permanente de enxergar (84,56%). Em relação a população brasileira, os

percentuais ficariam em 0,09% de cegos, 1,41% de pessoas que possuem grande

dificuldade permanente de enxergar e 8,25% de indivíduos que têm alguma

dificuldade permanente de enxergar (IBGE, 2006a; REDE SACI, 2004). A

distribuição dos deficientes visuais por regiões brasileiras são expressas nas tabelas

2.1 e 2.2.

Vale ressaltar que esses números comprovam um aumento expressivo no

contingente de pessoas que possuem deficiência visual, uma vez que a estimativa

do número de deficientes visuais no início da década de noventa era de 1% do

número total da população brasileira, segundo o censo realizado no ano de 1991

(IBGE, 2006b; VASCONCELLOS, 1993; SONZA e SANTAROSA, 2005).

Entretanto, é necessária extrema cautela na adoção dessas estimativas, uma

vez que devido à diferença considerável entre os dois percentuais, registrando um

crescimento de quase 10% em apenas uma década, há, provavelmente, uma

diferença de metodologias entre os dois censos no que tange à determinação de

deficientes visuais.

O censo de 2000 define a variável deficiente visual como toda pessoa incapaz,

com alguma ou grande dificuldade permanente de enxergar. Esta definição traz

como conseqüência uma generalização da deficiência visual, uma vez que engloba

qualquer indivíduo que tenha alguma dificuldade no campo visual, mesmo que seja

mínima, como, por exemplo, todas as pessoas que utilizam óculos ou lentes de

contato com grau, diferentemente dos conceitos mencionados na seção anterior.

Já em relação ao censo de 1991, não há registro da metodologia ou da definição

adotada para a identificação de deficientes visuais. Esta informação foi buscada no

sítio do IBGE e, posteriormente, foi enviada uma mensagem eletrônica (e-mail) ao

mesmo órgão requisitando esta informação, mas também sem sucesso.

Contudo, há alguns indícios que nos levam a supor a distinção entre os termos

adotados nos dois censos. Um deles é que no censo de 1991 o termo utilizado foi

cegueira e no censo de 2000 o termo adotado foi o de deficiente visual. Desta forma,

pode-se inferir que no censo de 1991 foram contabilizados apenas os portadores de

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cegueira total, ou seja, aqueles que não possuem nenhum resquício de visão, e no

censo de 2000 contabilizou-se todas as pessoas que possuíam algum tipo de déficit

no campo visual.

População residente com cegueira por regiões – Censo 1991

Brasil e Região

Geográfica População (Habitante) População (Percentual)

Brasil 145.857 0.10

Norte 10.414 0.10

Nordeste 52.689 0.12

Sudeste 59.238 0.09

Sul 16.991 0.08

Centro-Oeste 6.525 0.07

População residente com deficiência visual por regiões geográficas

- Censo 2000

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-

Oeste

16.644.842 1.415.370 5.747.461 6.031.472 2.326.259 1.124.279

2.1.3 TECNOLOGIAS DE ACESSIBILIDADE PARA OS DEFICIENTES VISUAIS

Devido ao número de pessoas que possuem algum tipo de deficiência visual, há

uma preocupação no que tange ao desenvolvimento de novas tecnologias que

permitam o acesso destas pessoas a ambientes, antes, exclusivos aos videntes. O

desenvolvimento de novas tecnologias é, em sua maioria, focado na área da

Tab 2.1: População residente com cegueira por regiões geográficas, segundo censo 1991. Adaptado de IBGE, 2006b.

Tab 2.2: População residente com deficiência visual por regiões geográficas, segundo censo 2000. Adaptado de IBGE, 2006b.

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informática, principalmente, no que se trata de ambientes virtuais. Desta forma, será

abordado, sucintamente, os principais sistemas utilizados no Brasil voltados para os

deficientes visuais, que são, segundo SONZA & SANTAROSA (2005) o Dosvox, o

Virtual Vision e o Jaws.

O DOSVOX é um sistema para microcomputadores que tem a potencialidade de

se comunicar com o usuário através de síntese de voz. Desenvolvido pelo Núcleo de

Computação Eletrônica (NCE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

desde 1993, o sistema, elaborado em sua totalidade com tecnologia nacional, é

composto por mais de setenta programas, incluindo desde editor de texto até

navegadores de internet, e com mais de cinco mil usuários em todo o território

nacional.

Uma das limitações do sistema Dosvox é no que diz respeito ao acesso à

internet, isso devido ao fato da maioria das páginas possuírem gráficos, figuras e

fotos, dificultando para o deficiente visual o entendimento do conteúdo da página,

uma vez que o sistema identifica o texto e digitaliza o som em português, mas ainda

não interpreta as imagens.

O Virtual Vision, desenvolvido pela empresa paulista MicroPower, é uma

aplicação da tecnologia de síntese de voz, podendo ser adaptado em qualquer

programa Windows. Em outras palavras, o virtual vision, segundo SONZA e

SANTAROSA (2005) é um “leitor de telas” capaz de informar aos usuários quais

controles estão ativos em determinado momento, como botões, lista dentre outros,

tendo suas potencialidades e outras características apontadas pelos autores

supracitados.

O JAWS também é um sistema que tem como objetivo fazer a “leitura da tela”.

Apesar de se tratar de um programa estadunidense5, desenvolvido pela empresa

Henter-Joyce, o software possui sintetizador de voz em diversos idiomas, incluindo o

português. As demais características e peculiaridades do programa também podem

ser encontradas na página do fabricante ou em SONZA e SANTAROSA (op cit).

Além dos sistemas apresentados, pode-se destacar outras formas de auxílio ao

deficiente visual no que tange a acessibilidade de informação, como os programas

de ampliação de telas de computador, que permitem um aumento no tamanho da

5 Natural dos Estados Unidos da América

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fonte das letras, como o zoom text6 e o LentePro (criado pelo projeto Dosvox, sendo

sua disponibilização gratuita), os sistemas de translação para impressão em Braille

de textos em língua portuguesa, como o Duxburg e o próprio sistema Dosvox, além

dos sistemas de transcrição para o Braille, como o Tactus que realiza a tarefa em

textos editados no Word para Windows7. Outro software de grande auxílio ao

deficiente visual é o Open Book, programa este que lê materiais impressos através

de um scanner. Além dos programas, pode-se citar também as máquinas Braille

portáteis eletrônicas, como a Mountbatten Brailler, que permitem a conexão aos

microcomputadores e assim ser utilizados até nos processos de inclusão e/ou

iniciação digital (MENEGUETTE & MÁXIMO, 1997; MEC, 2006b).

2.2 A PERCEPÇÃO

A palavra percepção é definida como sendo um ato, efeito ou faculdade de

perceber; recepção, pelos centros nervosos, de impressões colhidas pelos sentidos,

que pode ser do tipo externo, faculdade de perceber pelos sentidos; interno, a

consciência; natural ou primária, a que é dada imediatamente pelos sentidos; ou

adquiridas deduções imediatas (MICHAELIS, 2005).

SIMÕES e TIEDEMANN (1985 apud MONIZ 1997) entendem percepção como a

porta de entrada para toda a informação que a pessoa recebe e processa. MONIZ

(1997) define a percepção como sendo um processo de interpretação de dados

sensoriais. BALLONE (2006) contribui para a conceituação do termo afirmando que:

“a percepção não identifica o mundo exterior como ele é na realidade, e sim como as transformações, efetuadas pelos nossos órgãos dos sentidos nos permitem reconhecê-lo. Assim é que transformamos fótons em imagens, vibrações em sons e ruídos e reações químicas em cheiros e gostos específicos. Na verdade, o universo é incolor, inodoro, insípido e silencioso, excluindo-se a possibilidade que temos de percebê-lo de outra forma”.

Contudo, o objetivo deste trabalho não é discutir a conceituação do termo

percepção, mas sim demonstrar, dentre os vários tipos de percepção, as duas

6 Fabricante Telesensory dos EUA 7 Primeira versão lançada pela Universidade Estadual de Santa Catarina.

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formas que possuem ligação com o desenvolvimento do trabalho, a visual e a tátil,

apresentando as principais diferenças entre elas.

Somente desta forma, conhecendo-se o funcionamento das duas formas de

percepção e a distinção entre elas será possível o desenvolvimento de uma

metodologia que permita a transformação da forma de transmissão da informação

gráfica. Em outras palavras, permitir que uma determinada informação gráfica possa

ser compreendida não somente pela forma visual, mas também possa ser

transmitida e entendida pela forma tátil.

Assim, será explicitado, simplificadamente, a anatomia básica dos sentidos da

visão e do tato, bem como o seu sistema de funcionamento, com o objetivo de se

entender, mesmo que resumidamente, não só as características peculiares de cada

sentido, mas também a sua forma de perceber e apreender as informações do

mundo externo. Assim, espera-se obter um conhecimento básico que possa calcar o

desenvolvimento do presente trabalho.

2.2.1 O SENTIDO DA VISÃO

2.2.1.1 A ANATOMIA DO GLOBO OCULAR

Os globos oculares situam-se dentro de cavidades ósseas, que são chamadas

de órbitas, formadas de partes de diversos ossos faciais, como o frontal, palatino e o

maxilar. Os globos oculares constituem o sistema da visão humana juntamente com

outras estruturas associadas que são as pálpebras, os supercílios (sobrancelhas),

conjuntiva, músculos e o aparelho lacrimal.

Dentre os principais elementos constituintes do sistema, apresentados na figura

2.1, segundo VILELA (2005a) e TRAVI (2006), estão:

a) Esclerótica: é a túnica resistente de tecido fibroso e elástico que envolve

externamente o olho. A córnea é a parte anterior da esclerótica e atua

como uma lente convergente.

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b) Úvea: constitui-se de três elementos, a coróide, o corpo ciliar e a íris. A

coróide é formada por pigmentos que absorvem a luz que chega até a

retina. Já a íris é uma estrutura muscular que possui um orifício central, a

pupila, que tem como uma de suas principais funções o poder de

determinar a quantidade de luz que penetra no olho, de acordo com a

iluminação do ambiente.

c) Retina: Possui dois tipos de células fotossensíveis, os cones e os

bastonetes.

Os cones são células capazes de distinguir cores. Os bastonetes são

mais sensíveis à luz que os cones. Em situações de pouca luminosidade,

a visão passa a depender exclusivamente dos bastonetes (visão noturna

ou visão de penumbra).

A fóvea (uma das regiões da retina) contém apenas cones e permite que a

luz atinja os fotorreceptores sem passar pelas demais camadas da retina,

maximizando a acuidade visual.

Em suma, a retina é composta de células receptoras e fibras nervosas que

tem como função transformar a imagem em sinais elétricos. Desta forma,

Fig 2.1: Anatomia do olho humano. Extraído de curlygirl.naturlink.pt/ sentidos.htm

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34

a retina é o destino final da imagem que agora se transforma em impulsos

que serão transmitidos ao cérebro.

d) Córnea: porção transparente da esclerótica. Constitui a primeira interface

que a imagem deve atravessar para poder chegar ao seu destino final.

e) Cristalino: lente biconvexa que orienta a passagem da luz até a retina. O

cristalino fica mais espesso para a visão de objetos próximos e, mais

delgado para a visão de objetos mais distantes, permitindo que nossos

olhos ajustem o foco para diferentes distâncias visuais. A essa

propriedade do cristalino dá-se o nome de acomodação visual.

2.2.1.2 O PROCESSO DE VISUALIZAÇÃO

A visão é a principal forma de provimento de conhecimentos e informações.

Estima-se que metade do potencial de processamento cerebral humano seja

utilizada para lidar com informações visuais. Segundo LOUZADA (2004) a visão nos

proporciona mais de 80% das informações que nos chegam, sendo por isso o

principal sentido do ser humano.

A visualização é algo que pode ser considerado inerente ao ser humano, seja

por ser algo que nos acompanha desde a nossa inconsciência, seja por ser algo tão

espontâneo, por ser um sentido que nós utilizamos involuntariamente. Entretanto, a

visão corresponde a um processo complexo, que necessita do funcionamento de

inúmeros órgãos e elementos, que vai desde a simples captação da luz até o

processamento pelo cérebro.

Segundo VILELA (2005b), o processo de visualização inicia-se com a captação

dos raios luminosos, que ao penetrarem na córnea e no humor aquoso, passando

pela pupila, chegam ao cristalino, levando a imagem mais para trás ou para frente,

permitindo que ela se projete sobre a retina.

Fazendo uma analogia com a máquina fotográfica, o meio transparente é a lente

e a superfície sensível à luz, o filme. No olho, a luz atravessa a córnea, o humor

aquoso, o cristalino e o humor vítreo e se dirige para a retina, que funciona como o

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filme fotográfico; a imagem formada na retina também é invertida, como na máquina

fotográfica, conforme ilustra a figura 2.2 (VILELA, 2005b).

O nervo óptico conduz os impulsos nervosos para o centro da visão, no cérebro,

que o interpreta e nos permite ver os objetos nas posições em que realmente se

encontram.

Outro ponto importante a ser considerado é a questão da acuidade visual, que é

definida, segundo VILELA (2005a), como sendo a capacidade do olho de distinguir

dois pontos próximos, a qual dependerá de outros fatores tais quais o espaçamento

dos fotorreceptores na retina e da precisão da refração do olho.

VASCONCELLOS (1993), baseada em HYVARINEN (s/d), afirma que ao

nascermos, todo o ser humano possui uma baixa visão, sendo a acuidade visual de

um recém-nascido de 0,03 ou 6/200. Essa característica vai se modificando a partir

das primeiras semanas de vida, quando há o desenvolvimento dos contatos

celulares da retina, das vias ópticas e do córtex visual.

Outra importante característica da visão humana é o fato que apesar de dois

globos oculares a visão é de apenas uma imagem, pois a captação de uma

determinada imagem pelos dois olhos é fundida em uma única imagem, processo

este denominado de estereoscopia, que permite que possamos ter uma visualização

tridimensional, e ter a sensação de profundidade.

Fig 2.2: Processo de visualização de um determinado objeto no globo ocular. Fonte: www.medonline.com.br/med_ed/med6/download1.htm, com adaptações

Page 36: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

36

A informação visual da porção direita de ambas as retinas é transferida para a

porção direita do cérebro, e a informação visual da porção esquerda de ambas as

retinas é encaminhada para a porção esquerda do cérebro, possibilitando assim que

a informação visual de ambos os olhos chegue às células corticais que combinam a

dupla informação em uma única imagem, como ilustra a figura 2.3 (HYVARINEN, s/d

apud VASCONCELLOS, 1993).

Fig 2.3: Estrutura de um globo ocular e as regiões do cérebro que processam as informações provenientes destes órgãos.

Fonte: www.medonline.com.br/med_ed/med6/download1.htm, com adaptações

Page 37: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

37

2.2.2 O SENTIDO DO TATO

2.2.2.1 A ANATOMIA DA PELE

Como o maior órgão do corpo humano, a pele tem como principal objetivo a

proteção do corpo através do seu revestimento, que funciona como mecanismo

contra a perda excessiva de água, o atrito e os raios ultra-violetas. Constitui-se de

três camadas, entretanto apenas as duas mais importantes para a percepção tátil

serão explicitadas, sendo elas a epiderme e a derme. A figura 2.4 apresenta as

estruturas da pele juntamente com alguns elementos constituintes do sistema tátil.

A epiderme é a camada mais superficial da pele, a que está sempre em contato

com o exterior do corpo, sendo esta a parte visível. É formada por um revestimento

de camadas de células sobrepostas, sendo a divisão destas camadas com baixa

nitidez pelo processo contínuo de renovação da pele, conforme apresenta a figura

2.5 (ESTAÇÃO DIGITAL MÉDICA, 2005).

Fig 2.4: Estrutura da pele com as suas três camadas. Fonte: http://www.saudeparavoce.com.br/pintanapele/histoepiderme.htm

Page 38: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

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Já a derme é definida como sendo a camada intermediária da pele, sendo um

tecido conjuntivo sobre o qual se apóia a epiderme, conforme apresenta a figura 2.6.

Pêlos, glândulas (sebáceas e sudoríparas) e unhas são as estruturas anexas da

pele. São derivadas da epiderme, mas acham-se imersas na derme. Além disto há

diversos tipos de receptores nervosos, cada qual responsável por um tipo de

sensação, o que faz da pele um órgão sensorial (ESTAÇÃO DIGITAL MÉDICA, op

cit.).

Fig 2.6: Derme com suas sub-divisões. Fonte: http://www.saudeparavoce.com.br/pintanapele/histoderme.htm

Fig 2.5: Epiderme com suas sub-divisões. Fonte: http://www.saudeparavoce.com.br/pintanapele/histoderme.htm

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2.2.2.2 O SISTEMA TÁTIL

Toda a superfície cutânea possui inúmeras terminações nervosas, que são

capazes de captar estímulos de naturezas térmicas, mecânicas ou de dor.

Segundo VILELA (2005a), especificamente na área da pele onde encontramos

os pelos há dois tipos de terminações nervosas, uma específica nos folículos

capilares que captam as forças mecânicas aplicadas contra o pêlo, e a outra

denominada de receptores de Ruffini, que são responsáveis pela captação térmica

de calor.

Já nas regiões da pele que não há pelos, mas que são cobertos por ele existem

outros três tipos de receptores que são os corpúsculos de Paccini, que captam

estímulos vibráteis e táteis (além de serem capazes de captar aplicação de pressão,

sendo enviada aos centros nervosos correspondentes); discos de Merkel,

responsável pela sensibilidade tátil e de pressão; terminações nervosas livres,

sensíveis aos estímulos mecânicos, térmicos e especialmente aos dolorosos.

Há ainda outros dois receptores na pele sem pêlo que são os corpúsculos de

Meissner, que se localizam nas saliências da pele sem pêlos, como nas partes mais

altas das impressões digitais, e possuem sensibilidade tátil; e bulbos terminais de

Krause, que são receptores térmicos de calor, localizadas nas áreas limítrofes da

pele com as membranas mucosas, como por exemplo, ao redor dos lábios e dos

genitais.

Todos esses receptores ao serem estimulados, emitem informações ao cérebro,

através de células nervosas, que são processados e produzem a sensação de calor,

frio, pressão, áspero, liso, dentre outros.

2.3 A PERCEPÇÃO TÁTIL

O desenvolvimento de uma metodologia que tem como intuito adaptação da

transmissão de informação da forma visual para forma tátil necessita, primeiramente,

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conceber que se tratam de dois sistemas completamente distintos, cada uma com

suas particularidades, vantagens e limitações.

SMITH (2001) afirma que um indivíduo completamente cego, quando bem

treinado, locomove-se facilmente sem precisar de auxílio em um ambiente

conhecido. Os deficientes visuais, mesmo com a ausência do canal visual,

apreendem o conhecimento relativo ao ambiente que os cercam através de outros

mecanismos sensoriais. O conhecimento do ambiente é feito, principalmente,

através do tato, que é utilizado para identificar as propriedades que sejam passíveis

de serem percebidas, como a forma, tamanho, textura, posição, disposição espacial,

dentre outras (CARNEIRO, 2003).

Segundo OAKLEY et al. (2000 apud CARNEIRO, 2003), o ser humano, no

sentido tátil, possui dois componentes independentes: cutâneo e cinético. O primeiro

está ligado aos sensores localizados na superfície da pele e são responsáveis por

sensações como pressão, temperatura, vibração e dor. Já o segundo, está ligado

aos sensores encontrados nos músculos, tendões e juntas e por isso são

responsáveis pelas sensações de movimento e força.

Desta forma, o indivíduo tem a possibilidade de identificar em um objeto

qualquer as propriedades como textura, através da análise da informação cutânea, e

peso e forma, através da análise da informação cinética. A figura 2.7 apresenta os

sensores hápticos do corpo humano que são utilizados na percepção tátil.

KLATZKY et al (1993b apud CARNEIRO, 2003), realizou uma experimentação

que consistia em mostrar para uma pessoa vidente um par de objetos e

posteriormente questioná-la qual dos dois objetos possui maior peso e a maior

dimensão, além de outros questionamentos. Percebeu-se que para avaliação das

propriedades geométricas, tais como forma, área e volume, os indivíduos

necessitavam apenas de aproximar de si os objetos para a análise. Já na avaliação

das propriedades materiais, como a textura, rigidez e peso e outros, era necessária

a utilização efetiva do sentido do tato em detrimento da visão.

Desta forma, foi possível inferir que há a tendência de se utilizar o sentido do

tato quando há a necessidade de se perceber propriedades materiais, mesmo que

exista a disponibilização do sentido da visão.

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41

O mesmo autor (KLATZKY et al 1985 apud CARNEIRO, 2003), a partir de outro

experimento realizado, afirmava que o sistema háptico é bastante eficiente no

processo de identificação de objetos. Seu experimento constituiu-se em apresentar

objetos de simples identificação visual para que usuários videntes8 pudessem

reconhecê-los apenas utilizando o tato. Os resultados apresentados indicam que

96% das respostas foram corretas, sendo que 68% delas foram emitidas em menos

de três segundos e apenas 6% foram emitidas após 5 segundos de teste. Logo, este

trabalho demonstra a eficiência e agilidade do sentido do tato na identificação de

8 Pessoas que não possuem nenhum tipo de deficiência visual.

Fig 2.7: Sensores hápticos do corpo humano, utilizados na percepção tátil. Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO, 2005.

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42

objetos familiares. Contudo, ressalta o autor dos experimentos, que não

necessariamente será obtida a mesma eficiência em outras situações.

LEDERMAN e CAMPBELL (1982) desenvolveram experimentos com o intuito de

medir a utilidade de gráficos de linha em alto relevo para a representação de dados

científicos bidimensionais. O trabalho tinha como característica a intenção de

investigar a possibilidade do tato humano em inferir propriedades estruturais de

objetos, tais como curvatura, inclinação, posição etc.

Os resultados do trabalho constataram que as representações em alto relevo

são úteis aos deficientes visuais, tendo sido possível, com razoável precisão, a

percepção das informações locais sobre a configuração de curvas, tais como

inclinação, convergência, paralelismo e outras.

Vale ressaltar, ainda sobre o trabalho anterior, que apesar dos resultados

demonstrarem a eficácia das representações em alto relevo, não se pode afirmar

que os mesmos são suficientes para a construção de um modelo mental da estrutura

espacial dos objetos como um todo.

Dentre as diversas diferenciações entre a forma visual e a tátil,

VASCONCELLOS (1993) destaca como uma das principais distinções entre as duas

formas de percepção a capacidade de síntese. A visão tem a capacidade de captar

a informação do todo instantaneamente, para depois iniciar uma análise das partes

ou detalhes desse todo. Ao contrário ocorre com a forma tátil, que permite a

percepção da parte, e somente depois de se processar as informações de todas as

partes é possível analisar o todo. Essa característica diferenciadora entre as duas

formas será determinante na aplicação de qualquer metodologia de transmissão de

informação que se baseie em uma das duas formas ou nas duas simultaneamente.

Outra importante característica, também apontada por VASCONCELLOS (op.cit)

que necessita ser levada em consideração é na resolução da percepção. A visão

permite a percepção de uma quantidade de detalhes muito maior que a forma tátil.

Logo, através do campo visual há a possibilidade de se trabalhar tanto com um

número maior de detalhes quanto um maior número de informações em um único

plano, ao mesmo tempo em que no campo tátil surge a necessidade de uma maior

generalização e simplificação da informação, uma vez que a percepção feita desta

forma não permite o processamento de um número elevado de detalhes e

informações.

Page 43: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

43

Outras comparações entre as formas de percepção são mensuradas por

BARROS (2006) que apresenta dados, em tabelas, calcados em estudos sobre a

capacidade de captação e retenção de informações pelos seres humanos através de

seus sentidos. Este estudo tem como objetivo a minimização de custos de

treinamento de pessoal em companhias estadunidense que totaliza algo em torno de

cinqüenta bilhões de dólares.

SENTIDO PORCENTAGEM

Paladar 1%

Tato 5%

Olfato 3,5%

Audição 11%

Visão 83%

FORMA DE

APRESENTAÇÃO

CAPACIDADE DE

RETENÇÃO

SOMENTE ORAL 70%

SOMENTE VISUAL 72%

VISUAL E ORAL 85%

FORMA DE

APRESENTAÇÃO

CAPACIDADE DE

RETENÇÃO

SOMENTE ORAL 70%

SOMENTE VISUAL 72%

VISUAL E ORAL 85%

Além da mensuração dos estímulos recebidos em condições normais que

aponta, em BARROS (op cit.), uma predominância do canal visual, vale ressaltar

Tab 2.3: Estímulos recebidos em condições normais pelos seres humanos (BARROS, 2006).

Tab 2.4: Capacidade de retenção de dados retidos após três horas (BARROS, 2006).

Tab 2.5: Capacidade de retenção de dados retidos após três dias (BARROS, 2006).

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44

também a avaliação da capacidade de retenção em função do tempo, onde a visão

se destaca com um dos principais sentidos.

Em suma, há que se respeitar às limitações de cada forma de percepção toda

vez em que se buscar a transformação de uma dada forma de transmissão para

uma outra específica, pois caso contrário, o processo de comunicação estará

comprometido, uma vez que o receptor não terá condições de receber, ler e/ou

interpretar a informação veiculada.

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45

3 CARTOGRAFIA TÁTIL

3.1 A IMPORTÃNCIA DOS MAPAS

A necessidade de se conhecer e registrar o espaço é algo que acompanha o

homem desde os primórdios da humanidade. Dentre as pinturas encontradas nas

paredes da caverna de Lascaux, no sudoeste da França, datadas da Era Glacial, há

retratações diagramáticas que podem ser interpretadas como representações da

localização de armadilhas e laços para a caça do bisão, conforme afirma LOCH e

ALMEIDA (2006). Segundo ALBUQUERQUE (2006), a Cartografia como atividade já

aparece nas descobertas pré-históricas, antes mesmo da invenção da escrita.

A partir das pinturas rupestres, registros nas paredes das cavernas em geral,

estas necessidades vêm se intensificando a medida em que novas áreas são

descobertas, conquistadas e exploradas. Ao mesmo tempo, novas técnicas e

métodos vão surgindo, instrumentos e ferramentas são desenvolvidos para que este

registro do espaço seja realizado o mais próximo da realidade e/ou buscando

transmitir de forma cada vez mais clara e direta a informação representada ao

usuário.

Constitui-se então um dos principais objetivos da ciência cartográfica, a

representação do espaço, da superfície terrestre. ALBUQUERQUE (2006), afirma

que a Cartografia foi a principal ferramenta usada pela humanidade para ampliar os

espaços territoriais e organizar sua ocupação.

A Cartografia, então, busca saciar esta necessidade do homem, de conhecer o

espaço através das representações, por meio dos seus documentos. Dentre estes

documentos podemos destacar o mapa, que a cada dia vem sendo cada vez mais

disseminado e popularizado por diversos setores da sociedade, que o utilizam em

um formato mais ilustrativo, direto e didático de transmitir as informações, sendo

trabalhado desde as escolas primárias até nos meios de comunicação.

O mapa pode ser entendido como uma representação gráfica de parte ou de

toda a superfície terrestre e dos fenômenos que ocorrem sobre ela, utilizando

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46

convenções cartográficas (ou elementos de composição cartográficos), ou seja,

escala, orientação, coordenadas, legenda, dentre outros. São estas convenções que

diferem o mapa de outros tipos de representações como o cartograma, croqui,

desenho ou esboço.

Entretanto não há um consenso em relação a uma definição única, tendo assim

a existência de uma gama de conceitos sobre mapa, dentre os quais podemos citar

ROSSATO (2006) que apresenta uma proposta de conceituação e hierarquização

dos termos referentes aos documentos cartográficos. DENT (1999) define mapa

como representações gráficas de ambientes físicos e culturais; TYNER (1992) define

mapa como meios de comunicação e organização dos pensamentos que são

criados para transmitir alguns tipos de informações espaciais para o usuário, além

de permitir a sistematização do pensamento espacial e análises espaciais; e uma

das mais completas, do IBGE, que tem como definição:

“A representação no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos geográficos, naturais, culturais e artificiais de toda a superfície (Planisfério ou Mapa Mundi), de uma parte (Mapas dos Continentes) ou de uma superfície definida por uma dada divisão político-administrativa (Mapa do Brasil, dos Estados, dos Municípios) ou por uma dada divisão operacional ou setorial (bacias hidrográficas, áreas de proteção ambiental, setores censitários)” (IBGE, 2006a).

Vale destacar que, atualmente, há diferentes formas de se perceber um mapa,

devido aos demais tipos de apresentação do mesmo, como os mapas digitais, táteis,

sonoros, dentre outros. Desta forma, as maneiras de percepção de um mapa não

devem alterar seu conceito, ou seja, o mapa tem que ter sua conceituação baseada

não na forma de percepção e sim no objeto em si, no que ele representa.

Em suma, quando se define uma representação cartográfica como um mapa,

esta definição deverá ser mantida independentemente do meio utilizado pelo usuário

para ler e interpretar as informações cartográficas (visual, tátil, sonoro, etc.).

Apesar de um conjunto extenso e heterogêneo de definições sobre o mapa e

suas diferenciações dos demais tipos de representações cartográficas, como o

cartograma, carta e etc., o termo mapa será utilizado neste trabalho para englobar

todos estes tipos de documentos cartográficos, apesar de se entender que há

características que os distinguem. Logo, para o conceito mapa neste trabalho

entende-se qualquer tipo de representação cartográfica.

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47

Esta adoção do conceito mapa para referenciar todo o tipo de representações

visa não somente o melhor entendimento do trabalho, cabendo ao leitor a escolha

da conceituação que melhor o convém, apesar do autor entender que há distinções

que caracterizam o mapa e o diferencia dos demais documentos cartográficos,

conforme exposto anteriormente. Mas também a preocupação de não se esquivar do

foco principal do mesmo, uma vez que, apesar de certas definições diferenciarem os

tipos de documentos cartográficos, qualquer representação da superfície terrestre,

bem como seus fenômenos, é denominado como mapa. Isso pode ser ilustrado com

alguns exemplos de denominações utilizados cotidianamente, como: mapa de clima,

mapa para se chegar a casa de alguém, mapa do shopping-center, mapa das

seções de uma loja, mapa de riscos ambientais, e outros, ilustrados na figura 3.1.

A utilização dos mapas e de outros documentos cartográficos semelhantes,

como os cartogramas, tem sido, principalmente a partir da última década, ampliada e

intensificada. Na verdade, o momento histórico tem contribuído para ressaltar o

papel dos mapas, devido aos acontecimentos e transformações que vêm ocorrendo

no espaço geográfico e nos campos político, social e cultural.

Isso se deve, principalmente, à possibilidade de se registrar em tempo real a

ocorrência dos fatos e fenômenos, mas também à viabilidade de se disponibilizar a

notícia para um maior número de pessoas ao mesmo tempo, seja devido ao

desenvolvimento das formas de comunicação de massa, seja devido a possibilidade

de acesso da informação a qualquer lugar do planeta.

Indícios apontam uma maior presença da Cartografia no cotidiano, que são

percebidos, principalmente, na mídia, tanto escrita quanto a transmitida.

VASCONCELLOS (1993) afirma que a preocupação com a representação gráfica

provoca uma valorização dos recursos visuais, e cita os jornais paulistas como prova

desta preocupação.

Na verdade, esta valorização e a maior preocupação na elaboração dos mapas

veiculados na imprensa, que também são denominados como infográficos, é um fato

que vem ocorrendo de uma forma geral, dos jornais e revistas aos telejornais.

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Fig 3.1: Exemplos de representações classificadas como mapas extraídas de anúncios publicitários. A) mapa de localização de um sítio; B) mapa de localização de lojas; C) mapa de

riscos ambientais.

A

B

C

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49

Esta valorização vem acompanhada, também, de uma preocupação em localizar

a área representada através de referências espaciais, como continentes, países,

estados, municípios, dentre outros.

Esse fato pode ser ilustrado nos jornais impressos, que não se limitam somente

aos da cidade de São Paulo, como os mapas (ou cartogramas) do tempo, diários,

que passaram a serem compostos com cores, a ocupar um maior espaço no jornal

e, assim, a adotar novas simbologias com o intuito de tornar a informação mais

legível e direta ao leitor, conforme exemplifica a figura 3.2.

Outro exemplo são os telejornais, que utilizam mapas, principalmente no que se

refere às notícias internacionais, com o objetivo de informar ao telespectador a

localização da ocorrência do fato. Esses mapas, geralmente, apresentam escalas

distintas, objetivando referenciar desde a localização do continente até o estado ou

região. Da mesma forma ocorre na exposição da previsão do tempo, onde o

apresentador informa o tempo previsto através de mapas ou imagens de satélites

com animações das movimentações das massas de ar.

Fig 3.2: Mapa do tempo, com a previsão do tempo para o estado do Rio de Janeiro, ocupando meia página com mais outros dois mapas. Fonte: O Globo (2006).

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50

Além da mídia, as representações cartográficas podem ser encontradas nos

parques ecológicos através dos mapas turísticos, nas estações ferroviárias e

metroviárias com os mapas das estações e suas conexões, os totens com a

localização das lojas nos shopping-centers, dentre outros. Algumas destas

representações estão exemplificadas nas figuras 3.3 e 3.4.

Fig 3.3: Mapa turístico de Ilha Grande (RJ), com as principais praias e as áreas de proteção ambiental da ilha. Fonte: www.ilhagrande.org

Fig 3.4: Mapas dos sistemas de transporte coletivo ferroviário (A) e metroviário (B) da cidade do Rio de Janeiro, encontrados em cada uma das estações.

Fonte: Supervia e MetrôRio.

A

B

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51

Esta “redescoberta” do mapa como um instrumento de grande potencial também

traz como conseqüência à inserção de novos profissionais no processo de produção

de documentos cartográficos, o que era, em geral, restrito, principalmente, aos

cartógrafos.

Na verdade, o que se percebe hoje é uma abertura no processo de construção

de mapas, uma vez que a construção desse tipo de documento cartográfico era

realizada, em geral, apenas por cartógrafos e alguns profissionais de áreas afins,

cabendo aos demais profissionais o papel de usuários. Contudo, o desenvolvimento

e a popularização não só de programas, mas também dos próprios computadores

pessoais possibilitaram que antigos usuários pudessem construir seus próprios

mapas, tornando-se produtores de material cartográfico.

De certa forma, este maior acesso torna-se importante por proporcionar uma

maior democratização e popularização da Cartografia. Contudo, ao mesmo tempo

permite que pessoas não especializadas, sem nenhuma base técnica e

conhecimento cartográfico, possam produzir documentos cartográficos com

qualidade duvidosa.

Concomitantemente, são desenvolvidos e aperfeiçoados programas que

possibilitam a produção de mapas, em geral temáticos, pois permitem a

manipulação de dados e informações espaciais e a representação destes em uma

base cartográfica, como os sistemas de informações cartográficas (SIC), os sistemas

de informações geográficas (SIG), os programas de tipo CAD (AutoCad), dentre

outros.

Vale lembrar que, normalmente, esses programas desenvolvidos e

aperfeiçoados, de uma forma geral, têm como uma de suas características a

simplificação e facilitação dos processos e mecanismos, ou seja, a tendência das

novas versões é serem mais acessíveis a todo tipo de usuário, fato este que

também contribui para que pessoas não especializadas e sem o conhecimento

necessário possam gerar documentos cartográficos.

Outro ponto importante a ser destacado é a questão legal, uma vez que há uma

legislação vigente que regulamenta as atividades dos profissionais relacionados à

Cartografia, atribuindo atividades específicas e responsabilidades exclusivas a este

segmento (CONFEA, 1973).

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52

Destaca-se que não cabe ao presente trabalho discutir e expor as

conseqüências desta abertura do processo de construção de documentos

cartográficos, muito menos qualificar como benéfico ou maléfico o fato exposto.

Contudo, trata-se de um fato relevante no que tange ao uso dos mapas e, desta

forma, importante o seu registro, cabendo, assim, trabalhos futuros para maiores

discussões sobre o tema.

Nota-se assim que o mapa, atualmente, tem extrema importância, pois se

configura como uma forma eficiente de transmissão de informações. Entretanto, a

evolução do processo de elaboração dos mapas se baseia, quase que

exclusivamente, na visão para a leitura e interpretação visual do mesmo, como foi

visto no primeiro capítulo.

Isto traz como principal conseqüência a exclusão de uma parte considerável da

sociedade, os deficientes visuais, sendo que estas pessoas são as que possuem

uma maior necessidade de instrumentos de orientação e localização, devido à

ausência total ou parcial do principal meio de percepção e orientação espacial que é

o canal visual.

Outra conseqüência seria uma limitação da Cartografia no processo de

representação do espaço geográfico e seus fenômenos. Isto se deve porque a

inclusão de outros sentidos além da visão ampliaria as formas de representação

utilizadas pela Cartografia, permitindo assim não só a possibilidade de pessoas

portadoras de deficiência terem acesso aos documentos cartográficos, mas também

a elaboração e adoção de novas formas de leitura e interpretação de mapas, o que

tornaria viável até um maior número de informações a serem veiculadas em um

único documento cartográfico apenas, sem trazer problemas para o entendimento da

informação codificada.

Assim, a Cartografia Tátil tem a sua importância constituída, por desenvolver

meios de representação na forma tátil não só visando o acesso aos portadores de

deficiência visual, como a elaboração de novas formas de codificação que possam

ser adicionadas às tradicionais e, com isso, ampliar os meios de representação

oferecendo ao profissional responsável pela produção dos mapas uma maior gama

de possibilidades para que o processo de comunicação cartográfica seja realizado

sem interferências e o entendimento se torne mais simplificado e direto ao usuário.

Page 53: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

53

3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

A Cartografia, como ciência, possui diversas definições, das restritas às

abrangentes, das simplistas às complexas, que tentam defini-la e caracterizá-la.

Consensualmente, há apenas a origem da palavra, derivada do grego “graphein”,

que significa escrita ou descrita, e do latim “charta”, referente ao significado de

papel. O surgimento do termo se deu através do historiador português Visconde de

Santarém, e foi utilizada pela primeira vez em uma carta, datada de 8 de dezembro

de 1839, escrita em Paris e encaminhada ao historiador brasileiro Adolfo Varnhagem

(OLIVEIRA, 1980 apud MENEZES, 2000).

O conjunto heterogêneo de definições existente para o termo Cartografia é

composto por significados de autores de diferentes áreas até a determinação de

órgãos e instituições, que direta ou indiretamente estão ligados a esta ciência.

Assim, podemos citar algumas destas definições em tempos cronológicos distintos, o

que irá possibilitar não só comparações entre os significados, mas também a

evolução e as modificações do termo referido ao longo do tempo. Vale ressaltar que

ROSSATO (2006) apresenta um levantamento e analisa a evolução da conceituação

do termo cronologicamente.

“Cartografia é a ciência que trata da elaboração de todos os tipos de cartas, incluindo todas as fases do trabalho, dos primeiros levantamentos até a sua impressão” (ONU, 1949 apud MENEZES, 1999).

“Conjunto de estudos e operações científicas, estatísticas e

técnicas, realizadas a partir dos estudos de observações diretas, ou de exploração de documentos, visando a elaboração de cartas, plantas e outros meios de expressão (cartogramas, gráficos e diagramas), bem como a sua utilização” (ICA, 1966 apud MENEZES, 1999; ICA, 1966 apud IBGE, 2006a).

“Ciência que trata da organização, apresentação,

comunicação e utilização da geoinformação, sob uma forma que pode ser visual, numérica ou tátil, incluindo todos os processos de elaboração, após a preparação dos dados, bem como o estudo e utilização dos mapas ou meios de representação em todas as suas formas” (ICA 1991 apud MENEZES, 1999).

Dentre as definições apresentadas, pode-se perceber que ao definir a

Cartografia não há uma preocupação de se contemplar as formas do produto final,

Page 54: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

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seja ela um mapa, uma carta, uma planta ou outro material cartográfico. Essa

abordagem só vem ser introduzida nas definições, principalmente, a partir da década

de 90, o que torna possível inferir que surge, de uma forma mais abrangente, uma

preocupação no que diz respeito às outras formas de percepção de um material

cartográfico, ou seja, percebe-se que há a necessidade de se desenvolver novas

formas de comunicação na Cartografia, como a auditiva, a olfativa e a tátil, e não

mais se basear predominantemente na visão para a construção de documentos

cartográficos.

Dentro desse contexto, é dado um forte impulso ao desenvolvimento da

Cartografia Tátil, onde se dissemina uma maior preocupação na elaboração de

material cartográfico em que o processo de comunicação cartográfica baseia-se na

percepção tátil e não na visual.

Essa nova abordagem é percebida nas duas últimas décadas, principalmente

nos anos noventa. VASCONCELLOS (1993), em sua análise sintetizada das

principais fases da história da Cartografia, aponta três épocas divididas por dois

períodos de transição:

- década de 20 a 40: advento do avião e da fotografia aérea: cartas topográficas

- década de 50: transição (primeiros satélites e computadores)

- década de 60 e 70: advento dos satélites e dos computadores, estudos sobre a

comunicação cartográfica.

- década de 80: transição (aplicação das novas tecnologias: sistemas de

informação geográfica e outros).

- década de 90: grandes transformações nas bases teóricas e técnicas e

ampliação da Cartografia, novas abordagens e novas perspectivas.

No final da década de 80, especificamente no ano de 1986, surge na Associação

Cartográfica Internacional, a ICA (International Cartographic Association), a

comissão de mapas e gráficos para pessoas cegas ou de visões parciais, com os

objetivos de troca e disseminação de informações; produção de tecnologias

incluindo desenvolvimento e apropriação destas e recursos; prover orientação e

fomento a prática adequada de utilização, produção e design; além de desenvolver

comunicação e cooperação com organizações que envolvem Cartografia,

comunicação, educação e assistência a pessoas portadoras de deficiências visuais

(cegueira e visão parcial).

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O surgimento desta comissão consolida assim uma maior preocupação em se

desenvolver esta área da ciência cartográfica, proporcionar novas tecnologias para

sua aplicação e atender, em princípio, uma parcela da população excluída da

percepção do espaço por meio do material cartográfico tradicional.

Na verdade, apesar de WIEDEL e GROVES (1969) afirmar que há um

crescimento no número de pessoas dedicadas ao processo de elaboração de mapas

táteis, GARDINER e PERKINS (1996) destacam a escassez de literatura

especializada sobre o tema, bem como a inexperiência dos próprios usuários, além

de ressaltar a inexistência de literatura que examina o envolvimento dos deficientes

visuais no processo de concepção e elaboração dos mapas táteis, algo de grande

valia para a eficácia dos documentos cartográficos deste tipo e considerado como o

primeiro passo na produção do design dos mapas táteis (PERKINS e GARDINER,

1997).

No Brasil não se tem um marco desta preocupação da questão tátil na

Cartografia. A realidade da Cartografia Tátil no país se constitui de alguns núcleos

que desenvolvem pesquisas nesta área e de centros dedicados à educação de

deficientes visuais.

Dentre as instituições que desenvolvem algum tipo de trabalho na Cartografia

Tátil podemos destacar a EEPG Profa. Maria Luiza Formosinho Ribeiro, de

Presidente Prudente, São Paulo, que durante seus 18 anos vem oferecendo

atividades de alfabetização cartográfica e disponibilizando materiais didáticos junto à

sala de recursos especiais (MENEGUETTE e EUGÊNIO, 1998), com o apoio do

Departamento de Cartografia da UNESP de Presidente Prudente, São Paulo, que

realizam projetos no bojo da linha de pesquisa “Educação Cartográfica”, como o

projeto “A Cartografia Tátil e o ensino de Geografia” (MENEGUETTE e EUGENIO,

1998).

Outro exemplo é o Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP de Rio

Claro, São Paulo, que vem desenvolvendo um projeto de pesquisa denominado

“Cartografia Tátil: Elaboração de Material Didático de Geografia para Portadores de

Deficiência Visual”, com o objetivo de elaborar e divulgar materiais didáticos que

facilitem a utilização da linguagem tátil no tratamento e comunicação da informação

geográfica (VENTORINI e FREITAS, 2004).

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No Rio de Janeiro, o Instituto Benjamin Constant (IBC) destaca-se por ser uma

referência nacional para questões de deficiência visual. Dentre seus objetivos estão

a manutenção da escola voltada para o ensino dos deficientes, a capacitação de

profissionais para o trabalho com deficientes, assessoria a instituições de ensino e

consultas oftalmológicas. Além disso, o instituto, criado em 1854 pelo então

imperador Dom Pedro II, é responsável pela produção e distribuição de materiais

didáticos para todo o território nacional, dentre eles os mapas táteis, e também de

desenvolver técnicas de produção e novos materiais que auxiliem no processo de

educação e apreensão do conhecimento pelo deficiente visual, o que, normalmente,

é realizado pela Divisão de Pesquisa e Produção de Material Especializado (DPME).

O desenvolvimento de pesquisas científicas, em âmbito nacional, sobre este

referido tema, ainda se apresenta de forma iniciante, com ocorrências pontuais, não

recebendo a devida atenção que o tema exige. Além disso, a produção de mapas se

caracteriza pela forma artesanal e de baixa produtividade, pela falta de

desenvolvimento de técnicas e métodos que busquem a automatização e produção

em escala.

O principal encontro científico nacional sobre Cartografia e áreas afins, o

Congresso Brasileiro de Cartografia, em sua vigésima primeira edição, realizada em

2003, registrou apenas um único trabalho sobre Cartografia Tátil. Já a última edição,

a vigésima segunda, ocorrida no ano de 2005, também teve em seus anais apenas

um trabalho sobre o mesmo tema (SBC, 2005).

Já em âmbito internacional, o Congresso Internacional de Cartografia, realizado

pela ICA, apresenta um crescimento no número de trabalhos publicados. Em 2003,

houveram apenas quatro trabalhos apresentados, em contraposição com os dezoito

trabalhos registrados nos anais da edição do ano de 2005 (ICA, 2003; ICA, 2005).

Contudo, o desenvolvimento de produções científicas, tais como monografias,

dissertações e teses, juntamente com o desenvolvimento de tecnologia nacional que

auxiliem a educação dos deficientes visuais, como o projeto DOSVOX do Núcleo de

Computação Eletrônica (NCE-UFRJ), que será apresentado posteriormente,

mostram que já há uma maior preocupação em relação ao assunto, e que a

perspectiva é de crescimento e, conseqüentemente, de uma melhora da qualidade

de vida destas pessoas, além de uma nova vertente a ser explorada pela

Cartografia.

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3.3 CARTOGRAFIA TÁTIL: UMA DEFINIÇÃO

Pode-se, então, determinar que a Cartografia Tátil é uma área de conhecimento

dentro da ciência cartográfica, possuindo o mesmo objetivo da Cartografia que é o

de transmitir as informações geográficas, mas com necessidades e metodologias

peculiares que as distingue das demais áreas. Áreas estas como a Cartografia

Temática, Cartografia na Internet ou webcartografia (webcartography), Cartografia

para crianças, dentre outras que possuem comissões específicas na Associação de

Cartografia Internacional (ICA) para o seu desenvolvimento, disseminação e

aplicação.

Como definição, a Cartografia Tátil pode ser entendida como uma área de

conhecimento dentro da Cartografia que possui como objetivo a representação de

informações geográficas através de símbolos cartográficos, sendo estes

construídos, percebidos e identificados por meio da forma tátil, e não pela forma

visual como ocorre no processo de elaboração destes símbolos na Cartografia

convencional.

Assim, a Cartografia Tátil tem como particularidade a necessidade de utilizar e

aplicar o sentido tátil como meio de transmissão das informações geográficas nos

documentos cartográficos. Em outras palavras, o processo de comunicação

cartográfica ocorre utilizando o tato como forma ou meio que possibilita a leitura,

decodificação e interpretação das informações que estão codificadas, na forma de

símbolos táteis, nos mapas, cartas, plantas e outros documentos da mesma espécie.

Esta forma de transmitir as informações baseando-se pelo tato, traz consigo a

necessidade de se buscar novas formas de aplicação da representação cartográfica,

novas metodologias de elaboração de documentos cartográficos, novos processos

de construção de símbolos e uma nova maneira de pensar a ciência cartográfica

com o intuito de permitir que parcelas da sociedade, antes excluídas, possam

romper barreiras e desfrutar dos benefícios que a Cartografia pode oferecer.

Logo, essa nova mentalidade que vem sendo construída possibilita que a

Cartografia Tátil possa constituir-se como uma área dentro da Cartografia, com

metodologias e necessidades próprias.

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Esse novo desafio da Cartografia, a codificação e decodificação da

representação de informações espaciais através da percepção tátil, se faz

indispensável devido às diferenças entre as percepções oriundas da forma visual e

da forma tátil. A percepção visual se caracteriza pela sua capacidade de síntese, ou

seja, visualiza-se o todo para posteriormente analisar as partes, ao contrário da

forma tátil que só é possível processar as informações das partes para depois

formar o todo (VASCONCELLOS, 1993). São essas particularidades, dentre outras

existentes, que fazem a necessidade de se buscar técnicas, metodologias e

processos distintos de elaboração de material cartográfico.

VASCONCELLOS (1993) afirma que para a produção de material cartográfico

tátil para deficientes visuais há a necessidade de um maior grau de generalização

com omissões, exageros e distorções nunca imaginados pelo cartógrafo, uma vez

que alguns problemas a serem evitados na Cartografia convencional tornam-se

condições necessárias para o design de mapas táteis eficazes. Assim, a Cartografia

tátil necessita de novos parâmetros e regras, com técnicas distintas para o processo

de elaboração de mapas.

Vale ressaltar que, apesar de necessidades e metodologias peculiares que

caracterizam a Cartografia Tátil, a mesma não se limita ou se restringe apenas à

forma tátil para estabelecer a comunicação cartográfica, excluindo totalmente a

forma visual do processo de elaboração de seus documentos cartográficos, ou seja,

uma integração com a representação cartográfica convencional. Isso se deve ao fato

de a representação tátil não inviabilizar a geração de símbolos visuais em um

mesmo documento e assim, ter a possibilidade de se gerar mapas híbridos,

explorando os dois tipos de percepção.

Outro ponto a ser destacado é que o público-alvo principal constitui-se além dos

cegos, também de pessoas que possuem visões parciais que tem a possibilidade de

visualização de cores com alto contraste. Além disso, os usuários que não possuem

deficiência visual também podem decodificar as representações cartográficas

através da percepção tátil, logo, um documento cartográfico com informações

visuais e táteis poderá ser de grande valia não só aos deficientes visuais, mas

também a outros indivíduos que não possuem ausência do campo visual.

Isto torna-se possível devido ao processo de construção dos mapas táteis

adotado. Um desses processos que possibilitam esta integração entre o deficiente e

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o vidente, adotado pelo IBC, é a elaboração do mapa que tenha tanto a simbologia

visual quanto a tátil. Como o mapa tátil é construído em uma película plástica

transparente (braillon), há a possibilidade de sobrepor com o mapa convencional

(com simbologia visual) que serviu de base para sua elaboração. Desta forma, em

um mesmo produto haverá dois mapas, um convencional e outro tátil, permitindo a

sua utilização não só pelos deficientes como aos videntes, contribuindo, desta

maneira, para a inclusão social e a interação entre os alunos independente da sua

acuidade visual.

Independente das características de uma pessoa, só a visão, por si só, não

garante a leitura, interpretação e análise de um material cartográfico utilizado, como

afirma OKA (2003), sendo necessário o conhecimento prévio do usuário e da sua

habilidade de ler e interpretar as informações codificadas e contidas em um mapa.

Assim, da mesma forma essa necessidade se aplica aos deficientes visuais, ou seja,

é de extrema valia a alfabetização cartográfica dos usuários de mapas, e outros

tipos de representações, independente da forma de percepção da informação

cartográfica.

Logo, a importância do processo de alfabetização cartográfica aos deficientes

visuais se faz necessário paralelamente a elaboração de novas formas de

representações cartográficas táteis, pois esta alfabetização deve possibilitar a estes

usuários não somente ler, mas entender o “porquê”, “para quem”, “como”, “quando”

e “para qual finalidade” um mapa foi produzido.

Estas cinco perguntas são, segundo TYNER (1992), as novas questões a serem

respondidas pelos mapas, nesta nova era da informação, que deverão também

transmitir para o usuário a compreensão de uma variedade mais ampla de temas do

que era necessário anteriormente, e não mais ficar restrito simplesmente à função

de localização, ou seja, responder apenas a questão “onde”.

3.4 MAPAS TÁTEIS

Os mapas táteis são o principal documento cartográfico que utiliza a percepção

tátil como forma de decodificação da representação do espaço geográfico e de seus

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fenômenos. Segundo KOCH (1997), os primeiros mapas táteis foram desenvolvidos

em meados do século XIX, por Martin Kunz.

Como a forma predominante de se transmitir as informações espaciais se dá pelo

tato, a construção desse tipo de documento deve ser diferenciada dos mapas

convencionais, uma vez que as percepções visual e tátil possuem características

distintas no seu processo de apreensão das informações.

As distinções entre os mapas tátil e convencional começam na fase de

planejamento. A área necessária para a construção de um mapa tátil, geralmente, é

mais extensa do que para um mapa que se baseia na visualização. Isso porque a

legenda referente ao mapa é composta pelo alfabeto Braille, no qual cada código

tem uma dimensão maior que a sua representação, ou seja, sua letra ou número

correspondente. A figura 3.5 ilustra esta diferença, tendo na primeira linha uma frase

formada por letras convencionais, nas linhas posteriores a mesma frase no alfabeto

Braille, sendo a segunda linha sem acentuação e a terceira linha com acentuação.

Além de um espaço maior para a legenda, normalmente há a necessidade de

uma área maior também para a representação, pois como os mapas táteis, em

geral, são elaborados por texturas e peças de bijuterias, missangas e outros

materiais, a simbolização de informações ou áreas muito pequenas torna-se inviável,

uma vez que existe uma limitação no tamanho dos tipos de peças utilizadas, bem

como a inviabilidade da percepção ou da distinção das texturas através de um

fragmento de tamanho muito reduzido de qualquer tipo de superfície.

Esta limitação pode ser exemplificada através da construção de um mapa político

do território nacional. As fronteiras em um mapa convencional, por exemplo, serão,

normalmente, representadas por linhas com baixa espessura. Já em um mapa tátil,

Fig 3.5: Comparação entre uma frase constituída por letras convencionais e sua correspondência, abaixo, com o alfabeto Braille.

A cartografia tátil e sua aplicação A cartografia tatil e sua aplicacao

A cartografia tátil e sua aplicação

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as mesmas fronteiras serão simbolizadas por linhas de qualquer natureza (como de

costura, barbante, dentre outros) que deverão ter uma espessura suficiente para que

seja possível a sua percepção através do tato, pois linhas muito finas,

provavelmente, passarão despercebidas pelo usuário.

Desta forma, a representação das informações fica limitada, uma vez que a

variação de linhas que podem ser aplicadas no mapa tátil, por exemplo, é bem mais

restrita que no caso do processo de elaboração de um mapa convencional, onde se

tem uma gama maior de variáveis de formas lineares.

Além da questão da área a ser utilizada, o nível de generalização também é mais

elevado. Isso se explica devido ao fato das representações cartográficas serem

constituídas por símbolos em alto relevo, que possuem normalmente dimensões

maiores que as utilizadas em mapas convencionais, o que restringe o número de

informações a ser veiculado, bem como o nível de detalhamento das mesmas.

Aproveitando o mesmo exemplo, em um processo manual, a construção do

contorno das fronteiras, com o material escolhido para esta finalidade (linha de

costura, barbante, linha de crochê, etc.), é realizado com um baixo nível de

detalhamento, pois além de ser um processo complexo a etapa de agregar o

material nas linhas que representam a informação espacial (ou seja, colar a linha

exatamente sobre a representação das fronteiras), dependendo da espessura do

material torna-se inviável a geração de certas nuanças e contornos representativos.

Assim, pode-se concluir que os mapas táteis possuem características

particulares, como a necessidade de uma maior área para representação, um maior

nível de generalização, uma quantidade menor de informação além de outros pontos

relevantes que serão apontados e explicitados ao longo do desenvolvimento deste

trabalho, como ilustra a figura 3.6.

Além disso, pode-se acrescentar a questão do armazenamento, uma vez que se

trata de documentos maiores, cuja estrutura é rígida, inviabilizando a sua redução

através de dobras e dificultando o seu transporte, bem como a sua despesa, pois

todas essas características e cuidado tornam o custo mais elevado que o mapa

convencional.

Essas limitações devem ser levadas em consideração no processo de geração

de um documento cartográfico tátil, independente das características da construção

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dos mapas convencionais, para que a transmissão da informação ocorra de forma

direta e eficaz, baseado, principalmente, na percepção tátil.

O número de pessoas que vem se dedicando a produção de mapas táteis vem

crescendo, como afirma WIEDEL & GROVES (1969). Contudo, PERKINS &

GARDINER (1997), criticam a forma de produção desses mapas táteis, uma vez

que, segundo os autores referidos, a maioria dos mapas voltados a percepção tátil

são transliterações de mapas convencionais. Em outras palavras, os mapas táteis

são, em geral, elaborados através de adaptações de mapas visuais,

desconsiderando as limitações e dificuldades relativas ao deficiente visual. Os

autores supracitados destacam que a transferência da prática cartográfica existente

não oferece a melhor solução para o usuário deficiente visual, não apresentando

bons resultados no que tange aos designs dos mapas táteis.

PERKINS & GARDINER (op cit.) ainda enfatizam as distinções entre os mapas

visuais e táteis, destacando a necessidade, dos deficientes visuais, de um ponto de

referência fixo nos mapas táteis. Além disso, os autores supracitados destacam a

Fig 3.6: Mapa tátil das rodovias federais de Santa Catarina, feito em barbante cordonê sobre papel (LOCH e ALMEIDA, 2006).

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importância do envolvimento dos deficientes visuais na concepção e elaboração dos

mapas táteis, uma vez que os mesmos são os usuários deste tipo de documento

cartográfico, logo, será a partir da resposta da interpretação deles que será possível

a definição da melhor forma de representação tátil nos mapas a serem produzidos.

Outro ponto a ser destacado são as propostas de sistemas de classificação de

mapas táteis. Anteriormente, a classificação dos mapas era baseada na escala

utilizada, contudo, atualmente já há propostas que levam em consideração outros

fatores em conjunto. KOCH (1997), apresenta uma proposta constituída de

classificação de características primárias e secundárias. As características primárias

correspondem aos campos tema, propósito específico, área descrita, escala, grau de

complexidade e comunicabilidade da informação. Já as secundárias são os campos

método de representação, forma de uso, tipo de construção de mapa, construção

mestre, reprodução de mapa e características adicionais, conforme ilustra a figura

3.7.

3.5 MÉTODOS DE PRODUÇÃO

A elaboração de um mapa necessita ser baseado em duas questões

fundamentais, o objetivo e o tipo de usuário. No caso do mapa tátil isso não difere,

MAPAS TÁTEIS

Tema do mapa

Propósito Específico

Área Descrita

Escala Complexidade Comunicabilidade da Informação

A

Método de Representação

Forma de uso

Tipo de construção de mapa

Construção Mestre

Reprodução de Mapa

Características Adicionais

B

Fig 3.7: Características primárias (A) e secundárias (B) da classificação de mapas táteis

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assim, a representação cartográfica deverá levar em conta os limites do usuário e

possibilitar que o mesmo decodifique as informações codificadas no mapa.

A confecção de um mapa tátil inicia-se na definição da base cartográfica a ser

utilizada, tanto se for o caso de adaptação de uma representação convencional para

uma tátil, como se for o caso de se construir um mapa diretamente baseado na

percepção háptica.

É necessário um cuidado com a definição da escala do mapa a ser gerado, uma

vez que as informações ou áreas de tamanho reduzido terão sua representação

inviabilizada. Isso se deve ao fato da simbolização ser realizada com base em

retalhos de diversos tipos de texturas e peças de bijuterias, missangas e outros tipos

de materiais, além de uma maior necessidade de generalização das informações a

serem representadas cartograficamente. Logo, torna-se necessária uma área

mínima de representação para que o usuário possa identificar a superfície e associá-

la a uma dada informação através da sensibilidade do tato.

Definido a base e a escala inicia-se a montagem da matriz, que é base para a

reprodução de cópias em folhas de pvc, que são películas plásticas também

denominadas de braillon. No primeiro momento, será gerado na matriz um mapa

convencional, em tinta, com as informações e formas pré-definidas, uma vez que há

a necessidade de uma maior generalização e simplificação nas informações

codificadas, conforme já explicitado anteriormente. A partir do mapa convencional,

insere-se os elementos que representarão em alto relevo e com texturas distintas as

informações registradas em tinta.

Normalmente, as informações pontuais são representadas por pequenos botões,

peças de bijuterias e missangas em geral, nas representações lineares são

utilizadas linhas como barbante, arame, linhas de costuras e outros, e nas

representações poligonais utilizam-se retalhos de tecidos e de lixas para que cada

área seja identificada por uma textura diferente. Desta forma, para cada informação

existente na matriz utiliza-se um objeto, como os citados anteriormente, são fixados

na matriz (geralmente com cola), formando assim o mapa tátil base.

Com o mapa tátil base elaborado, uma das formas de se construir réplicas é de

realizar o mesmo procedimento, utilizando o mapa convencional como base e

adicionando sobre as representações em tinta os objetos com alto relevo e texturas

diferenciadas. A figura 3.8 ilustra o processo de elaboração de um mapa

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convencional com ruas e quadras (lado esquerdo) que foi adaptado para a forma tátil

(lado direito) com as ruas representadas com carpete de borracha, em marrom, e as

quadras preenchidos com E.V.A.9, em amarelo.

A outra forma é através da reprodução em braillon, onde o mesmo é moldado de

acordo com as características estruturais dos símbolos contidos na matriz-base

através do thermoform.

A figura 3.9 apresenta três máquinas distintas do thermoform, utilizadas para

dimensões diferenciadas do braillon, da menor (esquerda) para maior (direita).

O thermoform é um equipamento que gera um ambiente a vácuo e eleva a

temperatura, fazendo com que o pvc torne-se maleável e se molde conforme as

formas e características estruturais dos objetos que estão fixados no mapa

convencional. Desta forma, ao final as representações estarão representadas no

braillon em alto relevo, com texturas e estruturas distintas, conforme os elementos e

materiais utilizados para a representação das informações geográficas (ver figuras

3.10 e 3.11).

Há, ainda, outras formas de produção de mapas táteis além do equipamento

thermoform, como swell paper, que é um tipo de papel especial com cápsulas

contendo álcool que dilatam ou contraem com a temperatura moldando formas em

alto relevo. O filme alemão (german film), plástico semi-transparente, também é

uma outra forma de confecção de gráficos em alto relevo, contudo possui uma

9 Espécie de borracha sintética, muito utilizada para a fabricação de solas de sapato.

Fig 3.8: Elaboração de um mapa tátil baseado em um mapa convencional (LOCH e ALMEIDA, 2006).

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limitação no que concerne as variações de altura das formas em alto relevo, o que

ocorre também com o swell paper (SHEPPARD e ALDRICH, 2000; GARDNER,

1996).

Fig 3.9: Ilustração do equipamento thermoform, disponível na DPME/IBC.

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Fig 3.10: Processo de reprodução de material em alto relevo através do thermoform: (a) a matriz-base é inserida no thermoform, (b) e o braillon é colocado sobre a matriz, (c) depois a matriz e o braillon são fixados com o enquadramento e em seguida é deslocado (d) a câmara de vácuo e temperatura sobre as

duas. Dado o tempo e a temperatura determinado no equipamento, retira-se a câmara e o enquadramento para, assim, (e) destacar o braillon, moldado, da matriz-base.

e

b a

c d

e

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Fig 3.11: Reprodução de mapas táteis utilizando o braillon. Na parte superior, o mapa tátil base, com as fronteiras entre os países representadas por linhas e as capitais determinadas por alfinetes,

além da textura distinguindo o Brasil dos demais países sul-americanos. Na parte inferior o braillon moldado com as características do mapa tátil base. Disponível na DPME/IBC.

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4 VARIÁVEIS VISUAIS

Como visto anteriormente, a Cartografia é uma ciência que se baseia

predominantemente no canal visual para transmitir as informações que estão

simbolizadas nos seus documentos. Ao mesmo tempo, estes mesmos documentos

cartográficos são, em geral, bidimensionais, ou seja, possuem apenas duas

dimensões, largura e comprimento.

Assim, a construção de símbolos para a representação cartográfica, em sua

maioria, é baseado em apenas três tipos de elementos gráficos, que são o ponto, a

linha e a área ou também chamado de polígono (figura 4.1). ROBINSON (1995)

denomina os três tipos gráficos como elementos gráficos básicos, pois através deles

podem ser criados todos os símbolos visuais.

Fig 4.1: Elementos Gráficos (Ponto, Linha e Área).

O ponto pode ser utilizado para simbolizar posições ou ocorrência de

determinados fenômenos, enquanto que a linha representa direções, fluxos ou até

mesmo feições contínuas, como vias terrestres e corpos hídricos. Já a área ou

polígono é atribuído a feições bidimensionais, representando extensões, áreas,

territórios, dentre outros.

Contudo, como afirma TYNER (1992), cada elemento gráfico pode ser utilizado

para representar feições ou fenômenos que não são característicos, ou seja, adotar

pontos para representar áreas, extensões e volumes, linhas para simbolizar um

conjunto de pontos de mesmo valor, como as isolinhas ou isobáricas, ou até mesmo

o polígono como uma representação de um conjunto de ocorrência de fenômenos

pontuais.

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Estas modificações nos tipos de elementos gráficos para as representações

cartográficas podem ocorrer principalmente devido à escala adotada. Em outras

palavras, a escala é um dos fatores determinantes para a escolha dos elementos

gráficos a serem utilizados na codificação das informações geográficas. Entretanto,

a quantidade de informações também pode ser um outro fator para a escolha dos

elementos gráficos. O fator quantitativo da informação a ser representada pode

definir se a mesma deverá ser generalizada ou detalhada e assim baseando a

escolha do elemento gráfico a ser utilizado para a representação da informação.

Estas modificações estão ilustradas na figura 4.2.

Os três elementos gráficos são a base para o processo de representação

cartográfica, pois a partir deles é realizada a codificação das informações

geográficas. Entretanto, somente os elementos gráficos não tornariam possível a

construção dos símbolos utilizados na linguagem cartográfica. Por isso, os

elementos gráficos, ponto, linha e área, sofrem variações gráficas com o objetivo de

transmitir da melhor forma possível à informação codificada. Estas variações são

denominadas de variáveis visuais.

Fig 4.2: Variação da representação por meio dos elementos gráficos.

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O termo variáveis visuais foi introduzido em 1967 pelo cartógrafo francês

Jacques Bertin, em sua obra intitulada de Semiologie Graphique, traduzido para o

inglês com o título de Semiology of Graphics: Diagrams networks maps, em 1983.

BERTIN (1983) define o conjunto de variáveis visuais como, simplesmente,

sendo os componentes do sistema gráfico, e ainda o denomina como a forma do

mundo das imagens. Já DUARTE (2002) considera variável visual toda

diversificação imposta aos símbolos, de modo a traduzir uma informação para a

linguagem gráfica, enquanto SLOCUM (1999) descreve as variáveis visuais apenas

como as várias percepções distintas dos símbolos dos mapas usados para

representar fenômenos espaciais.

As variáveis visuais foram determinadas por BERTIN (1983) em um conjunto de

seis no total, não incluindo as duas variáveis de posição que são utilizadas não para

mapas, mas sim para representação das informações em gráficos. As seis variáveis

visuais são: tamanho (size), valor (value), textura (texture), cor (color), orientação

(orientation) e forma (shape).

Segundo PRADO et al (2000) o ponto inicial de Bertin é a afirmação de que a

comunicação é feita através de marcas no papel, e as variações das características

destas marcas é que vão possibilitar a apresentação de um determinado dado ou

informação, como por exemplo, a posição, a forma, a cor, dentre outros.

Em outras palavras, o conjunto destas marcas são as variáveis visuais, e as

variações das características destas marcas são as extensões destas variáveis. O

conjunto das variáveis e suas extensões, aplicadas em conjunto ou isoladamente,

tornam possível a transmissão visual de qualquer tipo de informação que possua

duas características, bidimensionalidade e atemporalidade (duas limitações

impostas pelo próprio Bertin).

Vale ressaltar que as variáveis visuais, segundo MARTINELLI (2003),

apresentam perceptivas intrínsecas que devem ser consideradas no momento da

transcrição gráfica, sendo as principais, destacadas pelo próprio autor referenciado,

a percepção seletiva, onde o olho consegue isolar os elementos distintos (cor,

tamanho, valor, granulação e forma); percepção ordenada, onde as categorias se

ordenam espontaneamente (valor, tamanho, cores na ordem natural do espectro

visível); e a percepção quantitativa (onde a relação de proporção é imediata

(somente e tão-somente o tamanho).

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Contudo, a noção de variáveis visuais vem sendo modificada por outros autores

incluindo McCLEARY (1983), MORRISON (1984), DIBIASE et al (1991) e

MacEACHERN (1994), como aponta SLOCUM (1999).

Dentre as alterações ocorridas com base no conjunto de variáveis visuais de

Jacques Bertin podemos destacar DUARTE (2002) que utiliza granulação para

substituir o termo textura.

ROBINSON (1995) trabalha as variáveis visuais em dois conjuntos,

denominados de primário e secundário. O primeiro, é composto por seis itens, sendo

as cinco variáveis de BERTIN, exceto a variável textura, adicionando a variável

chroma. Já o segundo conjunto, das secundárias, tem em sua composição três

variáveis, textura, disposição (pattern) e a orientação.

Outro autor que podemos citar por alterar as variáveis visuais a partir do trabalho

de BERTIN é SLOCUM (1999) que define o conjunto das variáveis com o

espaçamento, tamanho, perspectiva de altura, orientação, forma, disposição e a cor

que se subdivide em cores, claridade e saturação.

Contudo, apesar de vários autores modificarem o conjunto das variáveis visuais,

implementando novas variáveis, excluindo outras ou reagrupando-as, o presente

trabalho se baseará apenas nas seis variáveis originais de BERTIN (figura 4.3).

A adoção das variáveis visuais de BERTIN como ponto de partida se deve,

primeiro, ao fato de o mesmo ter sido pioneiro na elaboração e sistematização do

conjunto das variáveis visuais e, por isso, ter servido de base para todos os outros

autores que desenvolveram trabalhos sobre este tema, uma vez que BERTIN é o

ponto comum de todos os autores citados anteriormente. Além disso, todos os

conjuntos de variáveis visuais, levantados e conhecidos, são modificações do

conjunto das variáveis de BERTIN, tendo autores que apenas substituíram os

termos até aqueles que excluíram ou adicionaram outras variáveis.

Vale ressaltar que apesar deste trabalho adotar como ponto de partida o

conjunto de variáveis visuais de BERTIN, as possíveis e prováveis modificações a

serem realizadas, com o intuito de atingir o objetivo deste trabalho, poderão ser

semelhantes ou até mesmo iguais às que alguns autores já implementaram.

Contudo, as alterações que aqui forem colocadas terão como foco a questão da

percepção tátil, diferentemente dos demais autores, alguns aqui mencionados

anteriormente, que não possuíam este tipo de preocupação e/ou objetivo.

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4.1 COR

Trata-se de uma variável que corresponde à percepção visual da reflectância de

luz sobre um objeto. DUARTE (2002) define a variável cor como sendo

Fig 4.3: As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, aplicadas nos elemetos gráficos ponto, linha e área.

COR

VALOR

FORMA

TAMANHO

TEXTURA

ORIENTAÇÃO

PONTO LINHA ÁREA

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“a sensação subjetiva das pessoas ao perceberem uma radiação eletromagnética com determinado comprimento de onda e que depende da intensidade do fluxo luminoso e da composição espectral da luz.”

BERTIN (1983) define variação de cor como a sensação visual resultante da

diferença entre áreas uniformes. Através da diferenciação de uma ou mais cores

pode-se fazer a representação de diferentes informações hierarquizadas (figura 4.4).

SLOCUM (1999), baseado em BREWER (1994), entende a variável cor como

um conjunto de três sub-variáveis, que são luminosidade (nível de claridade ou

obscuridade de uma determinada cor), tonalidade (comprimento de onda de luz que

produz a cor) e saturação (mistura entre a cor propriamente dita, “cor pura”, com a

cor cinza).

As propriedades ou o comportamento das cores em um contexto particular são

explicados por um método denominado de sistemas de cores, segundo afirma

TRAINA e OLIVEIRA (2005). Ainda baseado nos mesmos autores, não existe um

sistema que explique todos os aspectos relacionados à cor, assim, existem

diferentes tipos de sistemas para descrever as diferentes características da cor que

são percebidas pelo ser humano. Dentre eles, podemos destacar três principais

sistemas de cores, que são RGB, XYZ, CMY, que serão abordados resumidamente,

baseado em TRAINA e OLIVEIRA (2005) e MOREIRA e MACEDO (2006) para que

o presente trabalho não fuja do foco principal.

Amarelo

Vermelho

Magenta Azul

Verde

Cyan

Fig 4.4: Paleta de cores, com as cores primárias e secundárias.

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O modelo RGB (Red, Green e Blue) é um sistema aditivo10, estando baseado na

teoria dos três estímulos, proposta por Young-Helmholtz, que afirma que o olho

humano percebe a cor através da estimulação de três pigmentos visuais presentes

nos cones da retina, isto é, o olho é baseado na amostragem das faixas vermelha,

verde e azul do espectro visível. Contudo, algumas cores existentes na natureza não

podem ser mostradas nesse sistema devido a resposta do olho humano aos

estímulos espectrais.

Conforme explicita MOREIRA & MACEDO (2006), o monitor não reproduz todos

os comprimentos de onda de luz visível, ou seja, não reproduz todas as cores pela

combinação ponderada de luzes vermelha, verde e azul. Devido a este problema,

em 1931 a CIE (Comissão Internacional de Iluminação) resolveu adotar um novo

modelo de representação padrão, o sistema XYZ, que também é um sistema aditivo

que descreve as cores através de três cores primárias virtuais X, Y e Z. Tendo sido

criado devido a inexistência de um conjunto finito de cores primárias que produza

todas as cores visíveis possíveis, o sistema é formado por cores imaginárias,

definidas matematicamente.

Já o modelo CMY, também denominado de CMYK, é um tipo de modelo

subtrativo, baseado nas cores complementares, que são o azul (cyan), magenta

(magenta) e o amarelo (yellow). A variável K representa o preto, que é adicionado

aos pigmentos para obtenção de maior ou menor saturação, visto que, não

encontramos pigmentos puros na natureza (LABORATÓRIO DE ILUMINAÇÃO,

2006).

Ainda pode-se destacar os modelos HSV (Hue, Saturation e Value), também

chamdo de IHS (sendo o I referente a intensidade) e o HLS (Hue, Lightness e

Saturation), que são sistemas de cores de grande utilização na computação gráfica.

A variável cor é utilizada com freqüência para diferenciar símbolos com formas e

tamanhos similares, distinguindo tipos e valores em representações gráficas

pontuais, lineares e de áreas. Na verdade, a Cartografia utiliza com freqüência a cor

como forma de padronizar determinadas simbologias nas representações, sendo

estas padronizações denominadas de convenções cartográficas.

10 As intensidades das cores primárias são adicionadas para produzir outras cores, como o branco sendo a mistura das intensidades máximas das três cores primárias aditivas: vermelha, verde e azul (TRAINA E OLIVEIRA, 2005)

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Como exemplos de convenções que são distinguidas através de cores, podemos

citar em casos de símbolos lineares, linhas vermelhas para representação de

rodovias e linhas azuis para simbolizar rios e canais, e no caso de informação em

áreas, polígonos verdes para áreas vegetadas e polígonos azuis para corpos

hídricos como lagoas e baías. Além das convenções, a variável cor também é

utilizada para diferenciar informações diversas como, por exemplo, em um mapa de

uso e ocupação do solo, onde cada tipo distinto de uso e ocupação terá uma cor

para sua representação, ou em caso de simbolização pontual, diferenciando a

localização de objetos distintos como o local de colheita de diferentes produtos

agrícolas.

Em relação à forma de representação tátil, que é o foco deste trabalho, a

variável cor não será incorporada neste estudo. Isto se deve ao fato da

incompatibilidade de percepção da variável cor, bem como suas extensões, por meio

do tato.

Deve-se ressaltar que os deficientes que possuem a visão subnormal

(classificação de deficiência visual que será tratada no capítulo posterior), ou seja,

apenas parte da visão, podem perceber distinções de cores, uma vez que haja alto

grau de contraste, ou seja, que haja dessemelhança acentuada entre as cores, uma

variação bem distinta com uma proporção em intensidade entre as partes claras e

escuras, como por exemplo, a cor amarela com um fundo preto.

Contudo, a consideração da cor como uma variável tátil não poderá ser aplicada

aos demais deficientes, que perderam por completo seu canal visual. Logo, serão

adotadas apenas as variáveis que possam ser aplicadas a todos os deficientes

visuais, ou seja, que possam ser identificados através do tato.

4.2 VALOR

A variável valor, segundo BERTIN (1983), constitui-se nas diferentes tonalidades

de cinza, diversificando desde os tons mais claros, próximo ao branco, aos tons

mais escuros, próximo do preto.

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Na verdade, a variável valor é a intensidade de luz ou pigmento, o que irá,

conseqüentemente, influenciar a tonalidade de uma dada cor. Logo, a variável valor

não trata apenas da variação do cinza, mas sim da variação de uma dada cor, do

seu tom mais claro ao mais escuro, como ilustra a figura 4.5.

Esta variável pode confundir-se com a anterior, cor. Entretanto, sua

diferenciação torna-se clara uma vez que a variável cor está relacionada ao

comprimento de onda de luz, enquanto que a variável valor refere-se a intensidade

de luz de uma determinada cor. Em suma, em cada cor (vermelho, verde, azul, etc.)

há uma variação de valor (vermelho claro, vermelho escuro, verde claro, azul escuro,

etc.).

As atribuições de diversas tonalidades de cores para representar diferentes

informações já são amplamente utilizadas na Cartografia, como por exemplo, os

mapas de densidade populacional, onde geralmente são representadas as

concentrações populacionais através da cor vermelha e quanto menor a

concentração mais claro é o tom da cor vermelha.

Vale ressaltar que, independente do número de cores utilizadas, geralmente os

tons mais claros são utilizados para a representação de valores menores ou mais

fracos, enquanto que os tons mais escuros são aplicados na representação de

valores maiores ou mais fortes.

Por isso, a variável valor, em geral, é utilizada para simbolizar informações

ordenadas ou hierarquizadas, ou como afirma DUARTE (2002) para mostrar a

ordenação ou seqüência de um fenômeno.

Contudo, a referida variável não é aplicada somente em representações

quantitativas. A variação de tonalidade de uma ou mais cores também é utilizada

para a diferenciação de informações dentro de uma mesma classe ou agrupamento.

Fig 4.5: Paleta de cores ilustrando a variação de tonalidades, entre o preto e o branco, nas cores azul (A), vermelho (B) e cinza (C).

A

B

C

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Um exemplo pode ser demonstrado através de um mapeamento de vegetação, onde

todas as informações relativas a esse tema terão a cor verde atribuída. Dentro do

grupo ou classe vegetação poderá haver sub-classes ou sub-grupos identificando os

diferentes tipos de vegetação (porte, espécie, origem, etc.), que serão simbolizados

por tonalidades diferentes da cor verde. Logo a distinção dos diferentes sub-

grupos/classes será feita pela variável valor e não pela variável cor.

Como a variável valor é expressa, originalmente, através de tonalidades de

cores, também não será possível o seu desenvolvimento neste trabalho pela

incompatibilidade com a percepção na forma tátil.

4.3 FORMA

Forma é uma variável que provém da variação geométrica de um símbolo,

podendo ser regular, no caso de triângulos, quadrados e círculos, ou irregulares no

caso de símbolos denominados pictórios.

As variações nas formas dos símbolos não são normalmente utilizadas para

distinguir quantidades variadas, mas sim para a identificação de objetos distintos,

como por exemplo, círculos para identificar cidades e estrelas para localizar capitais

ou linhas contínuas para simbolizar rodovias e linhas tracejadas para representar

estradas e vias vicinais.

TYNER (1992) classifica em três tipos de representação pela variável forma,

pictória, associativa e abstrata. A forma pictória, também denominada de replicativa

ou de símbolos miméticos, é designada quando ela é representacional, ou seja,

quando o símbolo tem relação com a forma do objeto representado, como por

exemplo o símbolo de um avião para representar a localização de um aeroporto ou

uma árvore para simbolizar uma floresta ou bosque.

Já as formas associativas, ou símbolos semimiméticos, estabelecem uma

associação indireta entre a forma do símbolo e o objeto representado, como um

triângulo para simbolizar um pico de uma montanha, ou pontos verdes regularmente

espaçados representando uma horta ou plantação.

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Por fim, as formas abstratas, também conhecidas como arbitrárias ou símbolos

geométricos são caracterizados quando não há nenhuma relação entre o símbolo e

o objeto representado, como um ponto identificando uma cidade ou um triângulo

localizando capitais de estado.

Vale ressaltar que há alguns autores, como ROBINSON et al (1995), que não

aplicam a variável forma em símbolos poligonais, limitando-a apenas aos símbolos

pontuais e lineares. Outros, como TYNER (1992), colocam em suas obras que a

forma não é diretamente aplicada a símbolos de área, pois a forma corresponde a

área representada. Entretanto, o mesmo tipo de símbolo pode ser constituído por

uma variedade de símbolos menores em seu interior que possuam variações em sua

forma, como pode ser observado na figura 4.3.

No presente trabalho, a variável forma será aplicada apenas nos elementos

gráficos ponto e linha. Conforme ROBINSON (op cit.) e TYNER (op cit.), já

mencionado anteriormente, a variável forma nas representações em áreas será

correspondente à composição geométrica do polígono, ou seja, a forma da área

propriamente dita.

A exclusão da variável forma nas representações poligonais se deve à

adaptação para a percepção tátil. Os diferentes formatos que compõem o interior de

um polígono e definem a variável forma, conforme apresenta BERTIN (1983),

representam diferentes texturas ao se perceber tatilmente.

Em outras palavras, se o interior de um polígono é composto por um conjunto de

quadrados ou círculos, tatilmente, se houver esta possibilidade de percepção, o que

será detectado são superfícies distintas, texturas diferentes e não formas

heterogêneas.

Vale ressaltar que o conceito textura a que se refere o texto anteriormente não

se assemelha ao que é definido por BERTIN (1983) em sua obra onde sistematiza

as variáveis visuais. Posteriormente, serão explicitadas as diferenças entre a

conceituação do referido autor e a que se baseia o presente trabalho.

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4.4 TAMANHO

A variável tamanho é a que se refere à mudança na dimensão geométrica do

símbolo, ou seja, variação no comprimento, largura , área e volume. Através desta

variável torna-se possível representar informações relativas à grandeza dos

componentes, sendo assim apropriada para a simbolização de informações

quantitativas ou hierarquizadas.

O tamanho em símbolos pontuais pode ser utilizado para a representação de

informações quantitativas como a localização de cidades e o tamanho dos pontos

variando em relação à taxa populacional de cada cidade, por exemplo. No caso de

representações lineares, o tamanho pode significar maior importância ou valor

relativo a uma determinada informação, como fluxos, vias de transportes, entre

outros.

Nas informações de áreas, a variável tamanho está relacionada não ao polígono

que delimita uma determinada área, mas sim ao preenchimento deste mesmo

polígono, como pode ser observado na figura 4.3. Alguns autores como ROBINSON

et al (1995) afirmam que a variável tamanho é aplicada somente a símbolos pontuais

e lineares, não sendo aplicado a símbolos de áreas ou poligonais.

A aplicação da variável tamanho neste trabalho será restringida apenas para as

representações pontuais, excluindo tanto os elementos gráficos lineares quanto os

poligonais ou de área.

O fato da variável tamanho não ser representada em área é devido as mesmas

características que impossibilitaram a representação da variável forma em

polígonos. O preenchimento do interior dos polígonos por formas de tamanhos

heterogêneos representa, por meio do tato, texturas distintas, pois há de se

considerar toda a superfície do polígono e não apenas uma forma isolada com o seu

tamanho.

Em relação às representações lineares, a variável tamanho também não é

utilizada para distinguir elementos gráficos. Na verdade, o fator diferenciador entre

os símbolos lineares é a sua espessura e não o seu tamanho, pois não há como

alterar a dimensão do objeto a ser representado para diferenciar a sua

representação cartográfica, como ilustra a figura 4.6.

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Em outras palavras, o elemento gráfico linear que representará um canal hídrico

terá o seu tamanho definido pela dimensão do canal com a escala adotada no

documento cartográfico. Desta forma, o tamanho não poderá ser utilizado como

forma de distinguir as representações lineares, ou seja, esse mesmo rio não terá um

tamanho maior ou menor em relação a outro rio de característica distinta. A distinção

poderá ser feita pela espessura da representação, ou por outras formas como a cor,

por exemplo.

Um exemplo que pode ilustrar a afirmação é o caso das cartas topográficas,

onde as vias são informações codificadas em forma linear e possuem algumas

classes, como estradas ou rodovias, pavimentadas ou não-pavimentadas, federais

ou estaduais, dentre outros. Estas classes são diferenciadas umas das outras não

pelo seu tamanho, mas sim pela espessura, além das cores e símbolos.

Geralmente, as vias de maior importância são representadas por linhas mais

espessas, enquanto as de menor importância são codificadas através de linhas mais

finas ou menos espessas.

4.5 TEXTURA

A textura é definida, segundo BERTIN (1983), como a variação da espessura

dos elementos que compõem uma área com um dado valor. Geralmente, estes

elementos se tratam de linhas que preenchem um determinado símbolo (figura 4.7).

Fig 4.6: Comparação entre diferentes tamanhos e espessuras. No primeiro conjunto distingue-se o tamanho na forma linear. Já no segundo conjunto, diferencia-se a espessura

ou largura em linhas de mesmo tamanho.

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Alguns autores utilizam além de textura o termo padrão (pattern), como

ROBINSON et al (1995) e TYNER (1992). TYNER (op cit.) diferencia os dois termos,

definindo a textura como um composto de pequenos elementos agregados que

produzem uma impressão visual de maior ou menor largura, enquanto que o padrão

seria o arranjo espacial dos pequenos elementos que compõem o símbolo.

ROBINSON et al. (op cit.) classifica a variável textura/modelo como sendo

variáveis visuais secundárias, não pertencendo ao grupo das variáveis visuais

primárias, que são compostas pelas demais variáveis anteriormente explicitadas.

Isso se deve pelo autor entender que a textura é uma das três características de um

padrão (pattern), que é definido como o efeito gráfico de área, originado de várias

combinações das variáveis visuais primárias.

Vale ressaltar que acerca do uso do termo textura não há um consenso entre os

autores. DUARTE (2002), ao definir as variáveis visuais, utiliza o termo granulação,

no qual o define como a repartição do preto no branco, ou seja, a largura de linhas

pretas em uma área branca, como ARCHELA (1999) que salienta na definição do

termo a necessidade de se manter a mesma proporção de preto e branco.

A utilização de outros termos com o intuito de substituir a denominação textura,

dado por BERTIN (op cit.), ocorre por entender que a mesma não expressa o real

sentido da variável em questão.

Entende-se por textura a variação de uma superfície, tanto pela sua composição

como pela sua estrutura. Esta variação pode resultar em diversas classificações das

quais podemos citar liso, áspero, rugoso, entrelaçado, veludo, dentre outros,

conforme pode-se perceber pela figura 4.8.

A percepção da textura pode ser feita pelo campo visual, identificando algumas

das variações, entretanto somente através da sensibilidade tátil é que se torna

possível uma identificação detalhada e precisa das variações de texturas. Desta

Fig 4.7: Exemplos de variações de texturas, segundo BERTIN 1983.

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forma, pode-se entender que a textura seria uma variável muita mais tátil que visual,

por ter como principal meio de percepção das variações o tato, e não a visão.

Em substituição ao termo textura, adotado por BERTIN (op cit.), as

denominações que melhor expressariam a idéia da variável em questão seria

espaçamento e espessura, isto porque a principal variação perceptível visualmente é

em relação ao espaçamento e à espessura dos elementos que compõem um

determinado símbolo, sejam eles elementos lineares ou pontuais, e não a textura do

símbolo, como a denominação sugere.

Em outras palavras, o fator que possibilita a distinção de áreas, no caso desta

variável, é o espaço e a largura entre uma linha e outra ou entre um ponto e outro.

O conceito espaçamento também é utilizado por alguns autores que não adotam

o termo textura, dentre eles podemos citar SLOCUM (1999) que justifica a mudança

do termo pelo mesmo possuir diferentes usos na literatura.

Vale ressaltar que, geralmente, a variação de espaçamento é expresso através

de comparação entre linhas com diferentes larguras. Na verdade, a variação da

largura implica na diferenciação do espaçamento entre linhas ou pontos, pois quanto

mais largo é o símbolo maior será à distância entre o outro símbolo de mesma

forma. Contudo, neste caso a percepção que é dada é na distinção entre as

espessuras dos elementos e não no espaçamento entre eles.

Assim, a variação de espaçamento só ocorre quanto os elementos, ou seja, as

linhas e os pontos possuem a mesma espessura, logo, quando são iguais em forma

e largura.

No caso de variação da espessura de linhas, por exemplo, apesar de também

variar o espaçamento entre elas a principal alteração é na largura dos elementos.

Visualmente, a diferenciação notada, o fator que irá distinguir a informação

Fig 4.8: Diferentes tipos de superfícies que determinará texturas distintas e percepções diferenciadas. Da esquerda para direita: mármore, esteira, tela, papel amassado, cortiça e

gotas de água ou ar.

Page 84: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

84

representada será a espessura e não o espaçamento. Logo, não há possibilidade de

representação com o cruzamento entre estas duas variáveis, espessura e

espaçamento (figuras 4.9 e 4.10).

Visualmente, a variável textura é substituída por duas outras variáveis,

espessura e espaçamento, que normalmente são aplicadas em símbolos em áreas.

Entretanto, tatilmente, o que se percebe são as diferentes variações de superfície,

ou seja, as diferentes composições e estruturas de um símbolo. Logo, o

espaçamento e a espessura serão formas de representar diferentes texturas.

As diferentes composições do interior de um símbolo poligonal representarão

diferentes percepções através do tato. O preenchimento do interior com símbolos

circulares ou quadrangulares, com linhas mais espessas ou menos espessas, com

figuras maiores ou menores, mais espaçadas ou mais próximas, significará a

identificação de áreas distintas, ou seja, informações heterogêneas.

Desta forma, no que tange a percepção tátil, a variável textura é uma das mais

complexas, principalmente em símbolos de área, pois é um conjunto de outras

variáveis visuais, como o tamanho e a forma.

Ressalta-se que nas representações pontuais e lineares, as variáveis forma e

tamanho/espessura são aplicadas e percebidas, conforme já explicitado

anteriormente. Entretanto, o mesmo não ocorre nas representações poligonais

Fig 4.9: Variação na espessura dos elementos lineares, o que conseqüentemente altera o espaçamento entre eles.

Fig 4.10: Variação apenas no espaçamento entre os elementos lineares, permitindo que visualmente se perceba a distância entre as linhas.

Page 85: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

85

devido à percepção não ser de um símbolo isolado, mas sim do conjunto desses

mesmos símbolos preenchendo uma dada superfície.

4.6 ORIENTAÇÃO

Corresponde à inclinação dos elementos que constituem os símbolos. No caso

de elementos lineares, a variação vai se dar de acordo com a direção da linha. Já no

caso de elementos pontuais, a variação só será possível dependendo da forma dos

mesmos, uma vez que no caso de símbolos circulares não há como definir sua

inclinação (orientação).

Para ROBINSON et al (op cit.) a variável orientação esta incluída no grupo de

variáveis visuais secundárias, juntamente com a variável textura. O mesmo autor

afirma que a orientação só ocorre através de elementos lineares, não sendo possível

em símbolos pontuais (figura 4.11). Já TYNER (op cit.) incluem elementos pontuais

como passíveis de variação de orientação, citando um exemplo através de um mapa

com símbolos pontuais com forma triangular (figura 4.12). O autor ainda ressalva a

possibilidade de haver orientações distintas em um mapa sem nenhum significado

que justifique a diferença.

Vale destacar que a orientação em símbolos lineares (ou seja, não sendo

aplicadas no preenchimento de um polígono) não se caracteriza como uma variável,

isso porque as orientações das linhas serão estabelecidas de acordo com a

informação a ser representada e não como forma de distinguir informações.

Exemplificando a afirmação acima, quando se representa um canal fluvial, a

orientação da linha será de acordo com a representação do leito do rio. Da mesma

forma quando se representa uma rodovia ou ferrovia, que representa linearmente a

informação baseado apenas no traçado dos mesmos. Logo, a variável orientação é

aplicada aos símbolos pontuais e poligonais, excetuando os lineares.

Fig 4.11: Variações de orientação com elementos lineares preenchendo

símbolos.

Page 86: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

86

Conforme já mencionado anteriormente, tomou-se por base as seis variáveis

visuais de BERTIN (1983), cor, valor, forma, tamanho, textura e orientação.

Contudo, percebeu-se que havia necessidade de se adaptar essas variáveis visuais,

estabelecidas pelo referido autor, nos três tipos de elementos gráficos, ponto, linha e

área. Desta forma, estabeleceram-se as seguintes variáveis: valor, forma, tamanho,

espessura, espaçamento, textura e orientação, que poderão ser representadas nos

três tipos gráficos.

Assim, a proposta de variáveis táteis, baseada nas adaptações das variáveis

visuais de BERTIN (1983), é apresentada na figura 4.13, ilustrando as

características definidas para cada variável neste capítulo.

Os quadros preenchidos com NA significam as variáveis não aplicadas. As

representações relativas ao elemento gráfico ponto devem ser consideradas como

símbolos pontuais, uma vez que a dimensão exagerada foi adotada para efeitos

didáticos.

Fig 4.12: Exemplo de TYNER (1992) ilustrando um mapa com símbolos pontuais cuja orientação não possui significado algum.

Page 87: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

87

Fig 4.13: Proposta de adaptação das variáveis visuais para as variáveis táteis.

TEXTURA

ORIENTAÇÃO

PONTO LINHA ÁREA

ESPAÇAMENTO

FORMA

TAMANHO

ESPESSURA NA NA

NA NA

NA NA

NA NA

NA NA

NA NA

NA NA

NA NA

Page 88: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

88

5- METODOLOGIA

Após a elaboração da proposta do conjunto de variáveis táteis, gerada a partir

das variáveis visuais de BERTIN (1983), surge a necessidade de realizar testes que

verifiquem e atestem a possibilidade da percepção, através do tato, de cada variável

proposta, ou seja, para a aplicação destas variáveis em documentos cartográficos é

necessário, primeiro, averiguar se as mesmas são passíveis de se perceber

tatilmente.

Desta forma foi concebido um conjunto de testes onde cada variável será

exposta à sensibilidade tátil de um grupo de deficientes visuais, que definirá se estas

variáveis, bem como suas extensões, são perceptíveis ao sentido háptico.

5.1 A CONCEPÇÃO DAS MATRIZES-BASES

A matriz-base, onde serão inseridos os símbolos e reproduzida dando origem

aos testes de validação, será construída em um papel tipo quarenta quilos, com as

dimensões de 29,5 por 27,5 centímetros. Contudo, devido às limitações técnicas do

equipamento que produzirá as cópias, será necessária a inclusão de bordas de dois

centímetros para cada lado, reduzindo as dimensões da matriz para 25,5 cm por

23,5 cm (este procedimento será detalhado posteriormente), conforme ilustra a

figura 5.1.

A matriz será constituída por linhas com três colunas cada, sendo o número de

linhas definido pela quantidade de símbolos a ser representados ou pela limitação

da dimensão da matriz. As linhas serão distanciadas por medidas que podem variar

de 1,5 cm a 2 cm, com o objetivo de que o deficiente visual possa identificar cada

linha de representação, sem confundir os símbolos de linhas distintas.

Cada coluna representa um símbolo a ser reproduzido, logo, em cada linha

haverá três representações a serem identificadas pelo deficiente visual. Desta forma,

a matriz será implementada no formato retrato, ou seja, com sua maior dimensão

Page 89: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

89

correspondente a altura e sua menor dimensão relativo a largura, uma vez que como

será representado apenas três símbolos em cada linha, não há necessidade de uma

maior extensão, além de que haverá a possibilidade de implementar um número

maior de linhas de representação e, assim, avaliar um número maior de variáveis em

uma única matriz.

O número de representações por linha na matriz foi definido a partir das análises

de experimentos realizados por BRANDÃO (2005), na Divisão de Pesquisa e

Produção de Material Especializado (DPME), responsável pelo desenvolvimento e

reprodução de materiais não só relativos a Cartografia, mas voltados para a

29,5 cm

27,5 cm

ÁREA ÚTIL 25,5 cm

23,5 cm

2 cm

2 cm

2 cm

2 cm

Fig 5.1: Dimensões da matriz a ser reproduzida, com o tamanho original (29,5 por 27,5 cm) e a área útil.(25,5 por 23,5 cm)

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90

educação em geral dos deficientes visuais, tanto dos que compõem o corpo discente

do Instituto Benjamin Constant como aqueles que integram os vários centros

especializados na educação de cegos no território nacional, uma vez que o IBC

distribui os materiais desenvolvidos a estes centros.

Segundo a referida pesquisadora, um número elevado de representações em

uma única linha poderá impossibilitar a identificação e comparação entre os

símbolos táteis. Isso se deve ao fato do deficiente visual utilizar a sua memória tátil,

que possui uma maior limitação que a memória visual. Em outras palavras, o

deficiente visual pode identificar e comparar uma quantidade limitada de símbolos

táteis, pois o mesmo necessita de reconhecer um símbolo por vez, avaliando todas

as suas características geométricas e de textura. Logo, um conjunto extenso de

símbolos não permitirá que o deficiente avalie e compare cada uma das

representações, devido à limitação da percepção tátil.

Baseado nessas informações foi definido que cada linha terá apenas três

representações, e desta forma, os testes de validação foram realizados por linhas,

ou seja, o deficiente visual testará as representações em cada linha por vez, e não

avaliando toda a matriz de uma única vez.

Em cada linha haverá três tipos de representações táteis, que poderão ser

distintos ou repetidos. A repetição dos símbolos táteis tem como objetivo induzir o

deficiente visual ao erro e, desta forma, constatar a real percepção ou não das

representações.

A concepção das matrizes foi baseada na análise de uma variável por vez, ou

seja, cada matriz foi elaborada para que o deficiente visual pudesse identificar

apenas um único tipo de variação nos símbolos táteis, bem como suas extensões.

Assim, para cada variável visual que possua características que permitam a

adaptação para a percepção tátil será gerada uma ou mais matrizes para constatar a

possibilidade de percepção por meio tátil, bem como identificar as extensões que

possam ser utilizadas.

Desta forma, foram concebidas 21 matrizes com o intuito de se avaliar as

variáveis forma, tamanho, orientação, espessura e textura. Além das variáveis, as

matrizes também foram elaboradas levando em consideração os elementos gráficos,

logo, cada matriz além de se limitar a uma variável também estará avaliando esta

Page 91: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

91

mesma variável em apenas um único tipo de elemento gráfico, ou seja, ponto, linha

ou área.

Entretanto, vale ressaltar que devido ao número de matrizes geradas, a variável

textura, no que tange aos elementos gráficos ponto e linha, será levada em

consideração no conjunto com as demais variáveis. Em outras palavras, a textura

será utilizada nas matrizes correspondente as variáveis de forma, tamanho,

orientação e espessura, como maneira de auxiliar na diferenciação dos símbolos.

Logo o deficiente visual, por exemplo, deverá perceber as formas das

representações de uma determinada matriz e posteriormente, nos mesmos

símbolos, deverá também identificar as texturas existentes.

Assim, a título de um melhor entendimento da construção das matrizes, serão

explicitadas cada uma com suas características peculiares, seguido de figuras

ilustrativas da mesma.

5.2 AS MATRIZES-BASES

5.2.1 SÍMBOLOS PONTUAIS

A primeira matriz foi concebida com o objetivo de se avaliar a variável forma em

representações pontuais (ver figura 5.2). Esta matriz foi constituída de cinco linhas

com representações com formas regulares básicas, ou seja, formas regulares que

servirão de base para a geração de outras formas derivadas destas. Os símbolos

utilizados nesta matriz são o círculo, o quadrado e o triângulo eqüilátero.

A segunda matriz é constituída de representações de diferentes formas

regulares derivadas, em símbolos pontuais (figura 5.3). Especificamente nesta

matriz, as formas regulares são derivadas das figuras de um quadrado e um

triângulo eqüilátero, ambas representadas e testadas na primeira matriz.

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92

A referida matriz contém cinco linhas de representações táteis, sendo as duas

primeiras referentes a derivações do quadrado, tendo as figuras do quadrado e do

retângulo. As duas linhas seguintes contêm representações derivadas do triângulo

eqüilátero, tendo além do mesmo o triângulo isósceles. A última linha contém

representações derivadas dos dois tipos de estruturas geométricas.

A matriz seguinte se refere aos símbolos cuja forma deriva da figura do círculo,

completando as três formas básicas da primeira matriz. No caso do círculo, optou-se

Fig 5.2: Esquema e a matriz 01, referente às formas pontuais regulares básicas.

1

2

3

4

5

Fig 5.3: Esquema e a matriz 02, referente às formas pontuais regulares derivadas do quadrado e do triângulo.

1

2

3

4

5

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93

por uma matriz só com as representações derivadas desta figura, isso devido ao

número de derivações elaborado, em um total de quatro (figura 5.4).

Além do círculo completo a matriz contém os símbolos com formas de meio, um

quarto (1/4) e três quartos (3/4) de círculo, distribuídos em cinco linhas que

constituem a matriz.

A quarta matriz foi elaborada para se avaliar todos os tipos de representações

com formas pontuais regulares, básicas e derivadas. Logo, esta matriz é constituída

de símbolos pontuais com as três formas pontuais básicas e as respectivas

derivações, em oito linhas ao todo (figura 5.5).

Esta matriz foi concebida com o intuito de se avaliar todas as representações

pontuais de formas regulares em uma mesma área de análise, uma vez que cada

matriz anterior avalia um tipo de forma pontual regular. Desta forma, há a

necessidade de se avaliar a percepção destes tipos de formas isoladamente e em

conjunto com os demais formatos descritos anteriormente, uma vez que nos

documentos cartográficos esses tipos de representações não serão utilizados

isoladamente, mas sim em conjunto com uma diversidade de outras formas e

variações a serem avaliadas nas matrizes seguintes.

1

2

3

4

5

Fig 5.4: Esquema e a matriz 03, referente às formas pontuais regulares derivadas do círculo.

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94

Assim, estas quatros primeiras matrizes elaboradas possuem o objetivo de

avaliar a percepção da variável forma em símbolos pontuais, mas limitando-se aos

formatos regulares, tanto os básicos quanto os derivados.

As três matrizes seguintes, a quinta, sexta e a sétima foram concebidas para se

avaliar as formas irregulares de símbolos pontuais, uma vez que as matrizes

anteriores limitaram-se a testar apenas as formas regulares.

As formas irregulares, em sua totalidade, compreendem de formatos oriundos de

peças de diversas origens, como brincos, miçangas, enfeites, dentre outros, que são

adquiridos e utilizados para elaboração de mapas táteis elaborados pelo IBC. Assim,

como são formas de peças únicas não há a possibilidade de se avaliar as demais

variáveis, como, por exemplo, a variável tamanho. Os testes se limitarão a avaliar

apenas os diversos tipos de formatos existentes, identificando somente as formas

passíveis de percepção tátil.

Logo, estas três matrizes serão utilizadas para constatar a percepção destas

formas irregulares, validando ou não sua aplicação em representações cartográficas.

A escolha de três matrizes em vez de uma única é devido ao elevado número de

peças que geram formas diferenciadas (ver figura 5.6).

1

2

3

4

5

6

7

8

Fig 5.5: Esquema e a matriz 04, referente às formas pontuais regulares básicas e derivadas.

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95

Vale ressaltar que a idéia não é limitar e sim identificar uma maior quantidade

possível de extensões que possam ser utilizadas nos documentos cartográficos,

uma vez que quanto maior forem as variáveis e suas respectivas extensões, maior

será a liberdade do profissional responsável em criar um documento cartográfico

com mais informações e com uma maior eficácia no que tange o objetivo da

comunicação cartográfica.

Fig 5.6: Matrizes 05, 06 e 07, referentes às formas pontuais

irregulares.

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96

As matrizes seguintes têm como foco a variável tamanho e o principal objetivo é

a avaliação dos tamanhos dos símbolos pontuais com formatos regulares. Em outras

palavras, as matrizes foram geradas para identificar a variação perceptível de

tamanho dos três tipos de símbolos com formas pontuais regulares, que são o

círculo, o quadrado e o triângulo eqüilátero, os mesmos utilizados na primeira matriz.

Para se fazer esta avaliação, foram elaborados quatro matrizes para se testar os

diversos símbolos em diferentes dimensões. A primeira desta série é a oitava do

grupo de testes, gerada para se avaliar os diferentes tamanhos de um quadrado.

Foram escolhidos três tamanhos diferentes, cada um com medidas dos lados de

dois, quatro e seis milímetros de comprimento, distribuídos por cinco linhas de

representações (ver figura 5.7).

Vale ressaltar que os três valores não esgotam a problemática, entretanto,

servirão de parâmetro para que outros trabalhos e testes, que venham a ser

realizados, possam ter uma referência. Logo, o objetivo dos testes com estes três

tamanhos pré-definidos é iniciar uma delimitação das características da percepção

háptica no que tange a tamanhos distintos.

Fig 5.7: Esquema e a matriz 08, referente aos diferentes tamanhos de quadrados.

1

2

3

4

5

2 4 6

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A nona matriz do grupo de teste avalia os tamanhos nos símbolos triangulares.

Com características semelhantes da matriz anterior, a matriz se constitui em cinco

linhas com representações de triângulos eqüiláteros com medida de lados variando

de dois, quatro e seis milímetros de lado (ver figura 5.8).

As duas matrizes seguintes, a décima e a décima primeira, foram utilizados para

se avaliar os diferentes tamanhos de símbolos circulares, contendo a mesma

variação de dimensão que as matrizes anteriores utilizaram, dois, quatro e seis

milímetros de diâmetro (figuras 5.9 e 5.10).

Contudo, vale destacar que novamente os símbolos circulares foram avaliados

em um número de representações maior que os símbolos quadrangulares e

triangulares. Para se testar os símbolos circulares foi necessária a concepção de

duas matrizes, uma vez que como as derivações do círculo possuem uma maior

variação geométrica, uma única matriz não seria suficiente.

Detalhadamente, a décima matriz é constituída de representações de um círculo

inteiro e de um quarto de círculo, distribuídas em seis linhas de representações,

sendo três linhas de cada tipo de representações.

Fig 5.8: Esquema e a matriz 09, referente aos diferentes tamanhos de símbolos triangulares.

1

2

3

4

5

6 2 4

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98

Já a décima primeira matriz, é composta pelas representações de metade de

círculo e três quartos de círculo. Da mesma forma que a anterior, a matriz contém

seis linhas de representações, com as três primeiras contendo as representações de

meio círculo, e as três linhas posteriores tendo as simbologias de três quartos de

círculo.

Fig 5.10: Esquema e a matriz 11, referente aos diferentes tamanhos de

símbolos circulares, com três tamanhos distintos.

1

2

3

4

5

6

1

2

3

4

5

6

Fig 5.9: Esquema e a matriz 10, referente aos diferentes tamanhos de símbolos circulares, com três tamanhos distintos.

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99

Nas formas irregulares, a variável tamanho não foi avaliada uma vez que os

símbolos com formatos irregulares, geralmente, possuem um único tamanho. Em

outras palavras, as peças utilizadas nas representações táteis, como miçangas,

elementos de bijuterias, dentre outros, normalmente, possuem um único tamanho

para cada forma, o que inviabiliza a avaliação da percepção da variável tamanho

neste tipo de peças.

As quatro matrizes seguintes têm como objetivo a avaliação da percepção tátil

da variável orientação, em símbolos pontuais regulares.

Igualmente ao realizado com a variável tamanho, a avaliação da variável

orientação também adotou um número determinado de orientação que não extingue

a problemática, mas permitirá uma primeira avaliação da percepção desta referida

variável através do tato.

A décima segunda matriz possui como finalidade o teste da orientação dos

símbolos pontuais quadrangulares. Logo, esta matriz foi constituída de dois tipos de

formas quadrangulares, o quadrado e o retângulo. O quadrado será disposto em

duas orientações distintas, com sua base na horizontal e inclinado, na disposição de

um losango. Já o retângulo, será trabalhado em quatro orientações diferentes, uma

com sua base maior na horizontal, outra com sua base menor na horizontal e com

inclinações tanto para direita, como para esquerda, ou seja, com orientações

variando 450 graus (ver figura 5.11).

1

2

3

4

5

6

7

Fig 5.11: Esquema e a matriz 12, referente às avaliações da orientação de símbolos quadrangulares regulares.

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100

A matriz seguinte se encarrega de testar, da mesma forma que a anterior, as

representações pontuais triangulares. Esta matriz foi composta de triângulos

eqüiláteros em quatro orientações distintas, sendo uma com um de seus lados como

base, a outra com um de seus lados para cima, e as demais com um de seus lados

na vertical, em lados opostos, formando a figura de uma seta, uma apontando para o

lado direito, e a outra para o lado esquerdo, distribuídas em cinco linhas de

representações (figura 5.12).

A duas matrizes seguintes, a décima quarta e décima quinta, foram elaboradas

para se avaliar as simbologias pontuais circulares. Como nas demais variáveis,

devido não só ao número de derivações adotadas da forma de um círculo, mas

também às diferentes orientações de cada derivação testada, a utilização de apenas

uma única matriz tornaria esta avaliação inviável. Logo, foram geradas duas

matrizes com o intuito de dar condições para a avaliação das derivações e suas

diversas orientações.

Torna-se óbvio que não foi utilizada a forma básica, ou seja, a circunferência

inteira devido ao fato de não haver distinção de orientação desta forma.

A décima quarta matriz contém as orientações das formas de um semi-círculo e

de um quarto de círculo colocadas em quatro posições cada uma. O semi-círculo,

1

2

3

4

5

Fig 5.12: Esquema e a matriz 13, referente às avaliações da orientação de símbolos triangulares regulares.

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101

representado nas quatro primeiras linhas, está orientado na horizontal, com a parte

esférica voltado para cima e para baixo, e na vertical, com a parte esférica voltado

para esquerda e para direita. Já a forma de um quarto de círculo está com a parte

convexa da forma voltada para a esquerda superior e inferior, e para a direita

superior e inferior, nas quatro linhas finais de representação (figura 5.13).

Já a matriz seguinte, a décima quinta, foi dedicada exclusivamente para a forma

de três quartos de círculo, composta de seis linhas de representações. Esta forma

se apresenta em quatro tipos de orientações distintas, sendo a primeira com o um

quarto ausente do lado direito superior, a segunda com um quarto direcionado para

o lado direito inferior, a orientação seguinte com o um quarto ausente na parte

superior do lado esquerdo e a última no lado esquerdo na parte inferior (figura 5.14).

As formas irregulares mais uma vez foram excluídas deste tipo de avaliação,

uma vez que os formatos utilizados não necessitariam deste tipo de teste, pois suas

formas, independentemente da orientação, não sofrem alterações.

1

2

3

4

5

6

7

8

Fig 5.13: Esquema e a matriz 14, referente às avaliações da orientação de parte dos símbolos circulares regulares.

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102

5.2.2 SÍMBOLOS LINEARES

As duas matrizes seguintes foram concebidas e desenvolvidas para a avaliação

das simbologias lineares, no que concernem às variáveis forma, espessura e textura

(ver figuras 5.15 e 5.16). Vale lembrar que, conforme explicitado no capítulo de

variáveis visuais, a variável tamanho não será aplicada nas representações lineares,

sendo avaliada a apenas a variável espessura e forma. Além disso, a variável

orientação também não foi aplicada nos testes de símbolos lineares, uma vez que

esses tipos de representações não possuem uma única orientação, devido a sua

própria estrutura geométrica.

Outro ponto importante a ser ressaltado é que as variáveis espessura e textura

não foram sistematizadas para serem avaliadas, devido à ausência de símbolos que

fossem semelhantes e que se diferenciassem apenas pela espessura e pela textura.

Entretanto, serão utilizadas pelos deficientes visuais como um dos fatores de

distinção entre os símbolos lineares, ou seja, na verdade a identificação das

representações se dará pelas três variáveis, mas apenas a variável forma será

tabulada nos resultados.

1

2

3

4

5

6

Fig 5.14: Esquema e a matriz 15 referente às avaliações da orientação de parte dos símbolos circulares regulares.

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103

As duas matrizes seguintes, a décima sexta e décima sétima, foram compostas

por oito linhas de símbolos lineares com formas, espessuras e texturas distintas.

Fig 5.16: Matriz 17, referente às avaliações da variável forma e espessura em representações lineares.

Fig 5.15: Matriz 16 referente às avaliações da variável forma e espessura

em representações lineares.

Page 104: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

104

5.2.3 SÍMBOLOS POLIGONAIS

As quatro matrizes finais foram concebidas para avaliar a variável textura,

principalmente, em símbolos de áreas. Desta forma, as matrizes foram constituídas

de polígonos com texturas distintas, compostas por diversos tipos de superfícies.

A décima oitava matriz foi composta apenas com texturas referentes a lixa,

tendo em sua constituição granulações diferentes, variando da 40 até a 120,

conforme ilustra a figura 5.17 com os tipos descritos na própria figura.

As duas matrizes seguintes foram concebidas para avaliar a variável textura

através de um conjunto heterogêneo de tipos de superfícies, incluindo papelão,

telas, tecidos, veludo, dentre outros tipos de materiais, que estão ilustrados nas

figuras 5.18 e 5.19.

A matriz 19 se caracteriza pela sua composição apenas de tipos de telas e a

matriz 20 tendo em seu interior uma gama mais heterogênea, com papelão, tecido,

tela, emborrachado compactado e veludo, com variações desses materiais descritos.

120 40 80

100 120 120

80 40 80

120 80 120

80 100 100

Fig 5.17: Esquema com as distintas granulações e a matriz 18 referente às avaliações da extensão lixa da variável textura em representações em áreas.

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105

Fig 5.19: Matriz 20, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com diversos tipos de superfícies.

Fig 5.18: Matriz 19, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com diversos tipos de superfícies.

Page 106: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

106

A última matriz gerada, a vigésima primeira, também tem como objetivo a

avaliação da variável textura. Entretanto, a sua composição é caracterizada apenas

por papelão corrugado, tendo a diferenciação entre eles através da variação de

formas em seu interior, como polígonos irregulares e tipos de linhas, conforme ilustra

a figura 5.20.

5.3 APLICAÇÃO DOS TESTES

Para a aplicação dos testes de percepção tátil, foi concebida a montagem de um

grupo de deficientes visuais do Instituto Benjamin Constant. Este grupo seria

composto, em uma primeira etapa, apenas por cegos, ou seja, por pessoas que não

tivessem nenhum resquício do campo visual, o que não acontece com os deficientes

Fig 5.20: Matriz 21, referente às avaliações da variável textura em representações em áreas, com diversos tipos de superfícies oriundas de papelão corrugado.

Page 107: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

107

de visão subnormal, conforme já exposto anteriormente. A adoção somente dos

cegos na formação do grupo de teste se explica pelo fato de que a potencialidade de

percepção tátil do cego é a mesma que uma pessoa de visão subnormal. Na

verdade, o deficiente com visão subnormal tem uma “vantagem” sobre o cego, uma

vez que o mesmo possui, mesmo que de maneira deteriorada, o seu campo visual,

logo, há possibilidade de visualizar vultos, cores com fortes contrastes e outros

elementos, dependendo da deterioração da visão.

O grupo de deficientes visuais tem como uma de suas características a

heterogeneidade, isso devido a diversos fatores, como a idade da perda da visão,

que irá influenciar até na aprendizagem do deficiente visual. Quando a ausência da

visão é de nascença, geralmente, o deficiente não tem a assimilação de alguns

conceitos e conhecimentos que uma pessoa que tenha perdido o campo visual na

fase adulta possua, como o conhecimento das cores, por exemplo. Outros fatores

que contribuem para a heterogeneidade são a realfabetização através do sistema

Braille, introdução à alfabetização cartográfica, sensibilidade para a percepção de

texturas, dentre outros.

Desta forma, a constituição do grupo de teste teria que levar em consideração

estas diversidades para que os resultados dos testes e as conclusões consigam

abranger grande parte deste heterogêneo grupo que é o dos deficientes visuais. A

tabulação dos resultados da aplicação de todos os testes, ou seja, das matrizes

geradas e expostas anteriormente, possibilita a identificação das variáveis

perceptíveis ao tato, bem como a determinação e a mensuração da quantidade de

extensões, de cada variável tátil, que tenham a possibilidade de serem reconhecidas

através do sistema háptico. Assim, haverá condições de se tomar conhecimento da

quantidade de variáveis e extensões que poderão ser aplicadas na geração de

documentos cartográficos táteis e, logo, dimensionar a quantidade de informações

que poderão ser expostas, além de contribuir, também, para determinar formas de

apresentação destes documentos.

Entretanto, apesar de ser evidente a importância da aplicação destas matrizes-

testes para se alcançar o objetivo deste presente trabalho, conforme exposto

anteriormente, a montagem do grupo de deficientes para testá-las não foi possível.

Isso se justifica devido à impossibilidade da composição do grupo, devido ao fato da

indisponibilidade dos deficientes visuais do Instituto Benjamin Constant.

Page 108: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

108

Os deficientes visuais que formariam o grupo de teste são, em sua maioria,

alunos da escola existente dentro do Instituto, que é especializada na educação

especial neste tipo de deficiência. Além dos alunos, contribuiriam professores e

colaboradores que possuem experiência não só na educação para os deficientes

como também na leitura e interpretação de objetos e superfícies através do sentido

do tato.

Sendo assim, a época de aplicação dos testes elaborados coincidiu com o

período de avaliações e provas finais do ano letivo. Posteriormente, seguiu-se a

época de férias onde não só os alunos não se encontrariam no Instituto, mas

também grande parte dos funcionários e colaboradores, o que inviabilizou a

aplicação dos testes.

Desta forma, buscou-se alternativas para que o presente trabalho não ficasse

restringido apenas na concepção e elaboração dos testes, mas também que

produzisse os resultados, mesmo que parciais. Os resultados parciais podem

permitir um conhecimento prévio das potencialidades e limitações da percepção tátil

além de um levantamento superficial das matrizes, indicando deficiências e pontos a

serem aperfeiçoados.

Entretanto, a série de testes elaborada é composta por vinte e uma matrizes,

cada uma com no mínimo cinco linhas, e em cada linha três símbolos táteis a serem

analisados, identificados e comparados. Logo, além da problemática de encontrar

pessoas com deficiência visual, havia a necessidade que estas pessoas tivessem

disponibilidade para realizar toda a série de testes.

Assim, enquadrando-se nestas características, foi possível a aplicação dos

testes em dois voluntários que se disponibilizaram a testar as vinte e uma matrizes.

O primeiro voluntário pertence ao Instituto Evangélico dos Cegos, entidade

particular fundada em 1927 e atualmente sediada em Jacarepaguá, na cidade do

Rio de Janeiro (RJ). Advogado por formação possui total deterioração no campo

visual. De acordo com o voluntário, até os 20 anos possuía a visão, quando sofreu

uma atrofia na retina que iniciou o processo de deterioração da visão. Como seus

pais eram primos, a genética favoreceu a perda total da visão três meses depois.

O segundo voluntário, de 25 anos, pertencente ao Centro de Atendimento

Educacional ao Cego (CAEG) do Núcleo de Computação Eletrônica (UFRJ).

Graduado em informática possuía visão parcial até os 14 anos, quando perdeu por

Page 109: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

109

completo seu campo visual, devido também a uma herança genética, já que os pais

são deficientes visuais.

Diferentemente do primeiro voluntário, o segundo deficiente estudou no IBC até

a oitava série, aprendendo o sistema Braille e tendo acesso aos diversos

equipamentos de auxílio à educação dos deficientes. Contudo, ele afirma que havia

grandes dificuldades quando a informação estava associada a uma representação

gráfica (figura, foto, esquema, etc.) principalmente quando se tratava de mapas.

Assim, os testes de validação foram realizados com estes dois voluntários que

possibilitaram não só a identificação de pontos a serem melhorados nas matrizes

como também as dificuldades, limitações e características do processo de

percepção do sistema tátil.

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110

6 RESULTADOS

Os testes realizados com os deficientes visuais geraram resultados

correspondentes às percepções dos símbolos táteis. Estes resultados serão

apresentados mantendo a mesma ordem das matrizes, ou seja, seqüencialmente os

resultados da percepção na simbologia pontual, linear e poligonal.

6.1 SÍMBOLOS PONTUAIS

A identificação e distinção entre as três formas primárias (quadrado, triângulo e

círculo), referente à primeira matriz, foi realizada com êxito, não havendo na

avaliação dubiedade em nenhum momento.

Já em relação às formas derivadas, que corresponde às matrizes 2, 3 e 4, as

avaliações constataram dificuldades em relação ao processo de identificação das

mesmas. Estas dificuldades concentraram-se principalmente nas variações

triangulares e circulares, uma vez que os formatos quadrangulares (quadrado e

retângulo) foram identificados e distinguidos sem problemas.

Os dois tipos de triângulos utilizados (eqüilátero e isósceles) não foram, na

maioria das respostas obtidas, distinguidos. O formato triangular era identificado,

entretanto não se percebia as variações distintas deste formato, ou seja, não era

possível, através do tato, a identificação dos dois diferentes tipos de triângulos

utilizados.

Da mesma forma ocorria nos formatos circulares (círculo inteiro, semi-círculo,

um quarto de círculo e três quartos de círculo), onde houve grande dificuldade para

se identificar as diferentes variações desta forma, excetuando o círculo inteiro e em

alguns testes o semi-círculo. Por vezes o um quarto de círculo se confundia com a

forma triangular pelos dois lados retilíneos existentes. Já a forma três quartos de

círculo era diferenciado das demais variações, mas não identificado com tal.

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111

No que diz respeito às formas irregulares, no geral, foram passíveis da

percepção através do tato, sendo possível a identificação e distinção entre as

diferentes formas utilizadas nas matrizes 5, 6 e 7. Contudo, algumas dubiedades

foram constatadas, como na matriz 5 os formatos circulares nas linhas 3 e 7. Na

matriz 6 houve uma maior dificuldade na distinção das formas, devido a mesma

possuir semelhanças de estrelas e triângulos, num total de nove tipos de variações.

Entretanto, a distinção das formas foi percebida, com exceção das linhas 5 e 7 onde

as variações do formato estrelar levaram a interpretar semelhanças em formas

distintas na percepção de um dos voluntários. As formas utilizadas na matriz 7 foram

todas identificadas e diferenciadas sem maiores problemas, com exceção da última

linha, onde ocorreu dificuldades na identificação e comparação entre os três

elementos da linha.

Após avaliar a forma nas primeiras sete matrizes, a variável testada foi o

tamanho, que compreendeu da oitava a décima matriz. Os três tamanhos adotados

nos símbolos táteis (2, 4 e 6 mm) foram identificados sem nenhum problema, tendo

a percepção de um mesmo símbolo com três tamanhos diferentes. Contudo, um

ponto foi destacado pelos deficientes visuais, que os símbolos de 2 mm, apesar de

ser possível a percepção do tamanho diferenciado dos demais, não permite a

identificação da forma. Em outras palavras, os símbolos utilizados com o menor

tamanho não tiveram sua forma identificada, pois além do tamanho a moldagem no

braillon suaviza as arestas, mascarando as características estruturais dos símbolos

adotados.

Em relação à variável orientação, compreendida entre a décima segunda matriz

e a décima quinta, os resultados obtidos variaram conforme o formato dos símbolos

(quadrangular, triangular e circular). Com o formato quadrangular (matriz 12) houve

a mesma dificuldade com os símbolos de 2 mm, impedindo assim a identificação das

respectivas orientações. Nos demais símbolos a determinação da orientação foi

realizada sem dubiedade.

No caso das formas triangulares (matriz 13) a determinação das diferentes

orientações foi acompanhada de vários erros e dúvidas. Pelo formato do triângulo

apresentar três lados iguais a identificação da orientação dos mesmos foi

problemática, não sendo possível nem mesmo se o símbolo estaria apontado para

cima, para baixo ou para os lados. Em grande parte das respostas, após a

Page 112: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

112

percepção, se indicava que os triângulos estariam inclinados, mesmo aqueles que

estavam com sua base na horizontal (“de pé”). Além disso, os símbolos triangulares

de 2 mm também tiveram os mesmos problemas de percepção.

Apesar das matrizes 14 e 15 abrangerem os símbolos com formato circular, os

resultados dos testes foram bastante diferenciados. Isso se deve ao fato de que a

matriz 14, que possui as formas de semi-círculo e um quarto de círculo, tinha, em

grande parte, símbolos com tamanho de 2 mm, logo, a identificação da forma foi

inviabilizada (conforme os resultados das matrizes anteriores constataram) e

conseqüentemente a determinação da orientação também foi impossibilitada. Os

símbolos de maior tamanho tiveram suas respectivas orientações identificadas, que

foram os semi-círculos com a curvatura voltado para as partes superior, inferior e

esquerda. Vale ressaltar que mesmo com maior tamanho, os símbolos que

correspondem à forma de um quarto de círculo não tiveram suas orientações

identificadas.

Já a décima quinta matriz foi constituída por símbolos de tamanho maior, o que

permitiu que os deficientes pudessem perceber as características estruturais dos

símbolos (três quartos de círculo) e assim a sua orientação. Vale destacar que nesta

mesma matriz, a forma não foi identificada, a determinação da orientação se fez

através das características estruturais do símbolo, ou seja, os deficientes através da

ausência do restante do círculo (um quarto de círculo) percebiam que havia duas

arestas no círculo e através delas identificava-se para onde apontava estas arestas

e assim se determinava a orientação do símbolo.

6.2 SÍMBOLOS LINEARES

Os testes nas matrizes 16 e 17 permitiram avaliações na variável forma em

símbolos lineares, utilizando para isso as variáveis textura e espessura. Os

resultados das duas matrizes mostraram que as formas semelhantes não são

diferenciadas pela percepção tátil, ou seja, se duas formas forem parecidas, a

percepção destas identificará um único tipo de forma. Este resultado ocorreu em

diversos pontos das matrizes, como por exemplo, na matriz 16, na primeira linha, os

Page 113: VARIÁVEIS TÁTEIS PARA REPRESENTAÇÕES … · FIG. 4.3 As seis variáveis visuais definidas por Jacques Bertin, em sua obra ... FIG. 4.9 Variação na espessura dos elementos lineares,

113

dois primeiros símbolos da segunda e da quinta linha, e na matriz 17, com a

segunda, quinta e oitava linha, e os dois primeiros símbolos da terceira linha.

Vale destacar que, no que concerne a variável espessura, apesar de terem sido

utilizadas como uma das maneiras de diferenciação dos símbolos lineares, a mesma

não foi sistematizada visando sua avaliação nos testes realizados. Isso se deve ao

fato de não haver símbolos disponíveis com mesmas características e espessuras

distintas, ou seja, não houve a disponibilidade de símbolos lineares que tenham

variação apenas na variável espessura e semelhança nas demais variáveis,

permitindo assim a avaliação da variável espessura.

Contudo, como os símbolos lineares possuem espessuras distintas (além das

formas diferenciadas) esta variável também foi utilizada como um dos meios de

distinção entre os símbolos, uma vez que os deficientes visuais além de perceberem

as formas para identificar os símbolos também percebiam a espessura, outro ponto

diferenciador das representações utilizadas. Da mesma forma ocorreu com a

variável textura, que não houve uma sistematização para avaliá-la, mas foi utilizada

como variável para distinção entre os símbolos lineares.

6.3 SÍMBOLOS POLIGONAIS

As quatros últimas matrizes correspondem à avaliação de símbolos poligonais,

mais especificamente à variável textura. A primeira desta série, a décima oitava, é

constituída apenas de variações de lixas, tendo os números 40, 80, 100 e 120 de

granulação da lixa. Os resultados obtidos constatam que a percepção destas

variações de lixas ocorreu sem nenhuma dúvida ou problema, tendo os deficientes

conseguidos identificar e diferenciar os quatros tipos de lixas adotados.

As matrizes 19 e 20 foram formadas a partir de tipos de telas, tecidos e

emborrachados. A décima nona teve todas as suas telas identificadas e

diferenciadas sem nenhuma dubiedade. Já a vigésima matriz apresentou, no

processo de percepção, maiores problemas de identificação da simbologia. Os

símbolos que provocaram dúvidas quanto a sua identificação foram os dois últimos

símbolos da primeira (emborrachados) e da segunda linha, e a terceira linha.

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114

A última matriz, a vigésima primeira, foi constituída de tipos de papel corrugado,

tendo em todas as suas simbologias as texturas identificadas e diferenciadas. O

único problema constatado foi uma dificuldade entre os dois últimos símbolos na

terceira linha, devido à orientação diferenciada da textura (os quadrados formados

na superfície dos símbolos estão em diferentes orientações).

Em suma, baseado nestes resultados, pode-se então mensurar, em um primeiro

momento, as extensões de cada variável passíveis de percepção através do tato.

Isto possibilitará não só a determinação da quantidade de informação a ser

veiculada nos documentos cartográficos, mas também como representar as

informações a serem veiculadas.

De uma forma sucinta podemos apresentar os resultados preliminares da

seguinte forma, sendo os pontos positivos indicados por um visto e os pontos

negativos indicados por uma cruzeta:

a) Símbolos Pontuais

� Formas regulares primárias (quadrado, círculo e triângulo)

� Formas derivadas primárias (exceto as variações quadrangulares)

� Formas irregulares

� Tamanhos de 4 e 6 milímetros

� Tamanho de 2 milímetros

� Orientação das formas quadrangulares e circulares

� Orientação das formas triangulares

b) Símbolos Lineares

� Formas e texturas com características distintas

� Formas e texturas semelhantes

c) Símbolos Poligonais

� Lixas

� Telas

� Papel corrugado

� Tecidos

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115

Na tabela 6.1, as extensões descritas são aquelas que no processo de avaliação

foram identificadas pelos deficientes visuais sem dubiedade ou erro. As demais

extensões que baseado na percepção tátil tiveram sua identificação errada,

confundidas ou igualadas a outras distintas não foram consideradas nesta tabela.

EXTENSÕES PERCEPTÍVEIS PELO SISTEMA TÁTIL

VARIÁVEL ELEMENTOS GRÁFICOS

EXTENSÕES N0 DESCRIÇÃO

FORMA PONTO 31 4 regulares (quadrado, retângulo, triângulo e círculo); 27 irregulares

LINHA 24 14 (matriz 16); 8 (matriz 17)

TAMANHO PONTO 2 4 e 6 milímetros

ORIENTAÇÃO PONTO 10 2 quadrangulares (quadrado e losângo);

1 triangular; 7 circulares (4 três quartos de círculo e 3 semi-círculo)

TEXTURA POLÍGONO 18 4 tipos de lixa (n0 40, 80, 100 e 120);

5 tipos de telas (da matriz 19); 6 tipos de papel corrugado (da matriz 21); 3 tipos de tecidos (40 e 50 linha da matriz 20)

Vale destacar que esta tabela não encerra o trabalho pela identificação das

variáveis e extensões possíveis de serem utilizadas em documentos cartográficos

táteis. Isto se deve ao fato deste conjunto de avaliações não testarem as variáveis e

suas respectivas extensões em conjunto, sendo realizadas isoladamente.

Desta forma, faz-se necessário não só novas avaliações que ratifiquem esses

resultados e refinem outros, mas também testem as variáveis e as extensões em

conjunto, num contexto, ou seja, implementadas em um documento cartográfico tátil,

para que assim possam ser definidas como variáveis e extensões táteis. Além disso,

também é de suma importância ampliar o número de avaliações, ou seja, um maior

número de deficientes que possam analisar o material gerado e testar sua

viabilidade.

Desta forma, esta tabela é um resumo do quadro construído a partir dos

resultados dos testes de avaliação realizados, servindo como passo inicial para o

Tab 6.1: Variáveis e suas respectivas extensões avaliadas e consideradas perceptíveis através do sistema tátil.

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116

desenvolvimento de novas pesquisas que venham detalhar o tema principal. Logo,

trata-se de resultados preliminares, que necessitam de maiores avaliações, com o

intuito de ratificá-los ou não, bem como avaliar sua aplicação nos documentos

cartográficos.

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7 CONCLUSÕES

O levantamento bibliográfico realizado, bem como a experiência adquirida na

confecção dos testes de validação (matrizes) juntamente com os resultados obtidos,

permitem a descrição de algumas considerações sobre o presente tema, além de

conclusões iniciais, que serão desenvolvidas mediante o prosseguimento deste

trabalho.

Em primeiro lugar, há uma necessidade de se desenvolver metodologias de

produção de documentos cartográficos, pois o que se encontra atualmente são

formas artesanais, de baixa escala produtiva e apenas com a preocupação dos

símbolos serem passíveis de identificação pelo tato. Também existe uma

necessidade de se conciliar formas que atendam não só a sensibilidade tátil, mas

também aos fundamentos da ciência cartográfica, principalmente, no que tange ao

sistema de comunicação cartográfica.

Ao mesmo tempo, se torna indispensável que a Cartografia reveja seus

fundamentos, princípios, normas e convenções para sua representação na forma

tátil, uma vez que, como já exposto anteriormente, as necessidades, limitações e

formas de representação para o sistema háptico são distintas da Cartografia

convencional, que se baseia, quase que na sua totalidade, na visualização.

No que tange a representação, ou seja, a simbologia tátil, algumas

considerações cabem serem expostas, e deverão ser confirmadas ou refutadas,

mediante a aplicação de novos testes de validação que darão prosseguimento a

este trabalho. Assim, cabe ressaltar que a percepção tátil possui limitações e

peculiaridades que devem ser respeitadas e levadas em consideração na concepção

e elaboração de qualquer documento cartográfico tátil.

A partir disso, um ponto a ser ressaltado é o fato de que nem toda simbologia

em alto relevo e nem toda textura utilizados em símbolos táteis são passíveis de

identificação e, logo, da leitura e interpretação da informação representada pelo

deficiente visual. Em outras palavras, a determinação dos símbolos e das texturas a

serem utilizados necessita de um conhecimento prévio da compatibilidade com a

percepção tátil, ou melhor, precisa-se saber se através do tato é possível a

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118

identificação dos mesmos, pois há símbolos e texturas que não são passíveis de

identificação isoladamente ou em conjunto com outros tipos em um mesmo

documento.

Em relação aos símbolos pontuais constatou-se que as extensões avaliadas da

variável forma são passíveis de identificação através do sistema tátil, excetuando as

formas derivadas triangulares e circulares. Logo, através dos testes realizados,

pode-se considerar que as diferentes formas empregadas na composição das

matrizes poderão ser identificadas através do tato pelo deficiente visual.

No que se refere à variável tamanho, nos símbolos pontuais, a composição de

simbologia com a medida de dois milímetros ou menor torna inviável a sua

identificação através do sistema háptico. Isto porque o tamanho menor que dois

milímetros impede a identificação das características estruturais dos símbolos, o que

inviabiliza não só a determinação da forma, mas também de outras variáveis como a

orientação, por exemplo. Vale destacar que esta limitação ocorre tanto com formas

quadrangulares, como triangulares e circulares; assim, conclui-se que a simbologia a

ser adotada deve ter tamanho superior a dois milímetros.

Em relação à orientação dos símbolos pontuais, constatou-se que há uma

inviabilidade na determinação desta variável em formas triangulares. Contudo, nas

formas quadrangulares e circulares esta limitação não ocorre, uma vez que os

símbolos possuam um tamanho maior que dois milímetros, pois ao contrário há

também uma inviabilidade na determinação da orientação dos símbolos pontuais.

Outro importante ponto a destacar é que a referida variável necessita de uma

maior avaliação para a sua aplicação. Isso se deve porque o manuseio dos mapas

táteis e de outros tipos de documentos por parte do deficiente visual, normalmente,

não é realizado orientado convencionalmente, ou seja, com o norte na parte

superior. Devido à deficiência visual, o usuário, em geral, ao utilizar um mapa tátil

não tem como orientar o documento, assim, a variável orientação ao ser identificada

pode sofrer influências na decodificação do símbolo e, logo, a variável em questão

poderá ter limitações no que tange as suas respectivas extensões.

A aplicação da variável textura em símbolos pontuais, em geral, deve levar em

consideração a dimensão do mesmo, principalmente os tipos constituídos de

superfícies com formas em alto relevo ou vazados (como por exemplo, telas, papel

corrugado, dentre outros). Isto se deve, pois normalmente o tamanho destes

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119

símbolos impede o reconhecimento do tipo de textura utilizada. Os tipos de textura

utilizados nestes casos são de superfícies contínuas, sem formas vazadas, e sem

variações (como ondulações ou formas e desenhos), como, por exemplo, veludos,

lixas, e outros.

Já nos símbolos lineares, após a execução dos testes de validação, pode-se

afirmar que as formas semelhantes tendem a serem interpretadas como iguais, ou

seja, se o formato de uma linha tiver características parecidas com uma outra linha,

a percepção tátil tenderá a identificar como uma única linha e não duas distintas. Isto

foi constatado nos testes, nas comparações entre dois tipos de correntes, barbantes,

cordas, etc. Entretanto, quando se compara símbolos lineares de naturezas distintas

a identificação e a distinção é realizada através do tato, como, por exemplo, entre

um barbante e um arame, ou entre uma corrente e uma corda. Desta forma, a

utilização da simbologia linear deve levar em conta as semelhanças de materiais a

fim de não gerar dubiedade de interpretações, levando ao usuário a leitura de

informação erradamente.

Outra limitação é de se implementar distintas texturas nos símbolos lineares,

ficando limitada às texturas próprias das peças utilizadas na confecção do mapa

tátil, como linha de costura, arames e outros.

Por fim os símbolos poligonais, onde foram avaliadas as variações do diferentes

tipos de texturas. A textura é um dos principais meios de distinção, uma vez que

outras variáveis não são aplicadas aos símbolos de áreas como a forma e o

tamanho, conforme já exposto anteriormente.

No que se refere a textura proveniente da lixa, os quatros tipos utilizados (40, 80,

100 e 120) foram todos identificados sem nenhuma dubiedade nas avaliações.

Entretanto, vale ressaltar que apesar da percepção dos diferentes tipos de lixa

utilizados sem dificuldades no processo de identificação, as superfícies ásperas, em

destaque a lixa, são pouco aprazíveis aos deficientes visuais. Isto se deve ao fato de

que estes tipos de superfícies são incômodas ao deficiente, sendo agressivas à

sensibilidade háptica.

Como a lixa, as variações de telas e papel corrugado também obtiveram

excelentes resultados no que tange a identificação dos diferentes tipos destas

texturas, sendo todas identificadas, apesar da semelhança visual. Já as variações

de emborrachados e de tecidos apresentaram dubiedade em algumas comparações,

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120

constatando que, mesmo sendo perceptíveis, é necessário uma maior avaliação

para a determinação deste tipo de superfícies.

Sobre os tipos de texturas utilizados nos mapas táteis, cabem algumas ressalvas

sobre determinados materiais. Primeiramente, há de se determinar a forma de

reprodução dos documentos cartográficos táteis, ou seja, se os mapas táteis serão

reproduzidos da mesma forma que o original ou se as cópias serão feitas através da

película plástica thermoform. Esta definição é fundamental para se determinar os

tipos de materiais que serão utilizados na produção dos mapas táteis, uma vez que

há materiais incompatíveis com o método de produção como certos tipos de

emborrachado, que não podem ser utilizados no thermoform devido ao processo de

moldagem ser realizado em alta temperatura.

Outro exemplo que se pode citar são as peças e símbolos com baixa altura e

texturas com rugosidades e superfícies com variações suaves, que, normalmente,

não são registrados na película plástica depois do processo de moldagem.

Enfim, apesar do quadro atual requisitar maior desenvolvimento e disseminação,

a questão da deficiência visual, bem como a busca por formas de favorecer a

acessibilidade da informação ao deficiente, além da própria Cartografia tátil, vem

crescendo, se disseminando e popularizando. Isto pode ser percebido, além do

crescimento do número de artigos publicados sobre o tema, através de ações

tomadas pelo Estado, pela Academia e pela sociedade como um todo. Para ilustrar

esta afirmação, citaremos alguns exemplos, como a construção de um mapa tátil da

área central da cidade de Florianópolis (ALMEIDA e LOCH, 2004, e LOCH e

ALMEIDA, 2006), a elaboração de mapas táteis para uma maior acessibilidade aos

deficientes visuais nas estações metroviárias da cidade de São Paulo (AME, 2006) e

em eventos públicos como a Casa Cor SP, em sua edição de 2005 (TERRA, 2006).

Em suma, o presente trabalho, espera contribuir não só através de uma

discussão conceitual sobre alguns pontos que baseiam o tema, mas também através

dos testes realizados, permitindo assim um maior entendimento da percepção das

representações táteis. Desta forma, espera-se que este trabalho seja mais um passo

para o desenvolvimento de novas metodologias que auxiliem a este segmento

significativo da população brasileira e mundial na busca por uma melhora na

qualidade de vida, uma democratização no acesso a informação e uma maior

inclusão social.

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Destaca-se que os testes de validação propostos neste trabalho constituem uma

primeira parte, uma vez que os mesmos avaliam apenas as variáveis e suas

respectivas extensões isoladamente, o que constituirá em um tipo de resultado ao

final da aplicação. Assim, faz-se necessário a continuação deste trabalho e a

concepção de um conjunto de testes que avaliem a percepção tátil das variáveis e

de suas extensões inseridos em um contexto, ou seja, aplicados a um documento

cartográfico.

Além disso, há necessidade de se refinar os testes realizados a fim de ratificar

os resultados obtidos e desenvolver as conclusões parciais geradas. Isso se justifica

devido a, primeiro, o número reduzido de avaliações, uma vez que só houve a

possibilidade de realizar os testes com apenas dois deficientes. Segundo, a

impossibilidade de se conhecer, através dos testes, todas as limitações e

peculiaridades da percepção tátil, que deverão nortear a concepção da simbologia a

ser utilizada na elaboração de documentos cartográficos táteis.

Desta forma, se faz necessário a formação de um grupo de testes formados por

deficientes visuais com o objetivo de ampliar o universo de avaliações realizadas e

assim ratificar ou não os resultados obtidos. Outro ponto é a necessidade de se

refinar os testes concebidos, uma vez que os resultados obtidos não responderam a

todos os questionamentos, como por exemplo, o tamanho mínimo a ser adotado

pelos símbolos pontuais, a diferença mínima entre os tamanhos dos símbolos, quais

outras formas derivadas que podem ser percebidas, qual a variação de orientação

possível de ser utilizada, dentre outros.

Em suma, o presente trabalho constitui-se apenas como uma contribuição inicial

para o desenvolvimento de novas pesquisas sobre o tema. Assim, espera-se que

esta dissertação além de contribuir para o crescimento da ciência Cartográfica e de

auxiliar na minimização dos problemas e na melhora da qualidade de vida dos

deficientes visuais estimule a produção de novos trabalhos, dando continuidade ao

desenvolvimento de um importante tema com reflexos acadêmicos e sociais.

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