VULNERABILIDADE SOCIAL E JUVENTUDE: um estudo de suas dimensões e impactos
Raquel Correia de Oliveira1
Resumo O presente artigo tem por objetivo realizar uma análise das dimensões da vulnerabilidade social, assim como estabelecer seus impactos na vida dos jovens. Impactos estes que cresceram consideravelmente a partir da década de 1990, momento no qual a América Latina passou por um crescimento acentuado da pobreza e da concentração de renda. Os resultados obtidos foram à constatação de que a juventude é uma fase da vida na qual os índices de vulnerabilidade social estão crescendo consideravelmente, o que por sua vez vem desafiando o poder público a criar políticas públicas que venham atendê-la em suas especificidades.
Palavras-chave: Juventude. Vulnerabilidade Social.
Dimensões.
Abstract The purpose of this article is to analyze the dimensions of social vulnerability, as well as to establish its impact on the lives of young people. These impacts have grown considerably since the 1990, when Latin America underwent a marked increase in poverty and income concentration. The results obtained were based on the observation that youth is a phase of life in which social vulnerability indexes are growing considerably, which in turn has challenged the public power to create public policies that will serve it in its specificities.
Keywords: Youth. Social Vulnerability. Dimensions.
1 Bacharela em Serviço Social. Universidade Federal do Pará-UFPA. Email: [email protected]
I. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo realizar uma análise das dimensões da
vulnerabilidade social, assim como estabelecer seus impactos na vida dos jovens2. Impactos
estes que cresceram consideravelmente a partir da década de 1990, momento no qual a
América Latina passou por um crescimento acentuado da pobreza e da concentração de
renda.
Nesse sentido, apresenta-se o debate sobre a questão da vulnerabilidade social
na vida da juventude, buscando evidenciar que nos últimos anos verificamos o seu
crescimento acentuado, que por sua vez vem impactando negativamente na qualidade de
vida dos jovens. Diante deste cenário, é possível afirmar que a criação e a implementação
de políticas públicas sociais específicas para a juventude se colocam como um grande
desafio para o poder público, pois os jovens são sujeitos de direitos que passaram a
demandar tais ações.
Os resultados obtidos foram à constatação de que a juventude é uma fase da
vida na qual os índices de vulnerabilidade social estão crescendo consideravelmente, o que
por sua vez vem desafiando o poder público a criar políticas públicas que venham atendê-la
em suas especificidades.
II. VULNERABILIDADE SOCIAL E JUVENTUDE
O debate em torno do aumento da vulnerabilidade social entre o segmento
juvenil tem crescido bastante nos últimos anos, principalmente se levarmos em
consideração o aumento considerável do número de jovens no Brasil e no mundo. Segundo
dados estatísticos do IBGE, registrados no Censo Demográfico de 2010, neste ano o Brasil
tinha 51.340.478 milhões de jovens na faixa etária de 15 a 29 anos de idade, o que
representa um percentual de cerca de 26,91% da população.
É por conta disso que se justifica a atenção dedicada a este segmento,
principalmente no que diz respeito ao debate relacionado à desproteção por parte do
2 A temática discutida neste artigo foi abordada em um dos capítulos do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado a “Política de Assistência Social e o atendimento de jovens em situação de vulnerabilidade social: um estudo no CRAS – Cidade Nova – Breves/Marajó - Pa”, que foi apresentado a banca examinadora do curso de Serviço Social da Faculdade de Serviço Social do Campus Universitário do Marajó- Breves vinculado à Universidade Federal do Pará.
Estado, que tem acarretado dentre outros, o crescimento da situação de vulnerabilidade
social vivenciada por um grande contingente de jovens brasileiros.
Nesse sentido, o enfoque da vulnerabilidade social entre os jovens tem crescido
bastante na literatura relacionada ao assunto, e depois de muitos anos de estudos no qual
se buscou desenvolver um discurso analítico e conceitual acerca da vulnerabilidade social,
Abramovay (2002) afirma que os estudiosos sobre o tema na América Latina desenvolveram
uma construção metodológica sobre o enfoque da vulnerabilidade social. Desse modo, a
vulnerabilidade social pode ser entendida como:
[...] o resultado negativo da relação entre a disponibilidade dos recursos materiais ou simbólicos dos atores, sejam eles indivíduos ou grupos, e o acesso à estrutura de oportunidades sociais, econômicas, culturais que provêem do Estado, do mercado e da sociedade. Esse resultado se traduz em debilidades ou desvantagens para o desempenho e mobilidade social dos atores. (ABRAMOVAY, 2002, p. 29)
Nesse contexto, assistimos a um grande aumento das expressões da questão
social no Brasil como um todo, sendo que na juventude os reflexos dessas expressões tem
maior impacto, e isso acontece por que:
O não-acesso a determinados insumos (educação, trabalho, saúde, lazer e cultura) diminui as chances de aquisição e aperfeiçoamento desses recursos que são fundamentais para que os jovens aproveitem as oportunidades oferecidas pelo Estado, mercado e sociedade para ascender socialmente. (ABRAMOVAY, 2002, p. 33)
Essa falta de acesso a serviços imprescindíveis prejudica a vida de qualquer
segmento, mas na vida dos jovens tem um efeito ainda mais perverso, pois é exatamente
nesse período que ocorre não só o desenvolvimento de potencialidades, mas também o de
responsabilidades que são inerentes à vida adulta, sendo necessária uma boa rede de apoio
para que essa transição ocorra da melhor forma possível.
Nesse sentido, Abramovay (2002) afirma que a vulnerabilidade social se
apresenta como um elemento distintivo da realidade social latino-americana do final dos
anos 90, se tornando cada vez mais comum devido ao fato de que as condições de pobreza
e concentração de renda aumentaram gradativamente nos países subdesenvolvidos,
gerando por sua vez o aumento da insegurança para grande parte da população pobre
desses países.
Esses fatores são fundamentais para que possamos entender como o quadro de
vulnerabilidade social se tornou cada vez mais agudo, passando a atingir várias camadas da
sociedade, dentre as quais o segmento juvenil se destaca justamente por ser um
contingente bastante numeroso. Dentre as várias causas determinantes para o crescimento
da vulnerabilidade social entre os jovens, Abramovay e Castro (2005, p. 11-12) afirmam que:
[...] afeta a geração dos jovens hoje o desencanto, as incertezas em relação ao futuro, o distanciamento em relação às instituições, descrendo na legitimidade dessas, como a política formal, além de resistência a autoritarismos e ‘adultocracia’.
É quando a escola e a família já não teriam igual referência que tiveram para outras gerações de jovens, além de que há diversidades quanto a construções dessas referências em grupos em uma mesma geração. Por outro lado, apelo da sociedade de espetáculo e padrões de consumo conviveriam com chamadas para responsabilidade social e associativismo. Essas e outras tendências contraditórias também potencializariam vulnerabilidades negativas e positivas (no sentido de fragilidades, obstáculos, capital social e cultural e formas de resistência no plano ético cultural).
Sendo assim, Abramovay (2002) afirma que a vulnerabilidade social se expressa
na vida do segmento juvenil a partir das seguintes dimensões:
a) Os jovens não conseguem ter a oportunidade de inserção no mercado de
trabalho, devido ao fato de que a partir das mudanças operadas no âmbito de produção do
sistema capitalista o mesmo se tornou ainda mais restrito;
b) Os sistemas educacionais não conseguem fornecer uma educação de
qualidade que permita aos jovens acompanharem as mudanças ocorridas na sociedade,
bem como o atendimento das novas demandas requeridas pelo mercado de trabalho;
c) O acesso limitado a equipamentos de cultura, esporte e lazer, impossibilita os
jovens de interagirem com a sociedade;
d) A violência entre o segmento juvenil tem crescido de forma vertiginosa,
demonstrando a necessidade de interferência do governo com ações voltadas para a sua
prevenção. Nesse sentido, é preciso ressaltar que os jovens tanto são vítimas, quanto
praticantes da violência.
As dimensões da vulnerabilidade social podem ser percebidas em todas as
regiões do país, pois os jovens passam a ficar desacreditados diante da sociedade e
novamente passam a ser vistos como os maiores causadores dos problemas,
principalmente no que diz respeito ao crescimento da violência, no qual os jovens são tidos
como os seus principais agentes causadores. Nesse cenário de culpabilização da juventude
por esse e outros problemas, os jovens também passaram a ter consciência dos principais
problemas que vem afetando as suas vidas, fazendo a ligação deles com a falta de acesso
aos direitos fundamentais de todos os cidadãos.
Nesse sentido, vem sendo realizadas várias pesquisas com o objetivo de
investigar a percepção dos jovens a respeito da vulnerabilidade social que por eles é
enfrentada, e que em seus resultados nos levam a identificar que os jovens têm consciência
de que estão vivenciando um dos momentos mais críticos no que diz respeito à falta de
acesso aos direitos sociais.
III. AS DIMENSÕES DA VULNERABILIDADE SOCIAL NA VIDA DOS JOVENS
Pesquisa quantitativa realizada em 2008, que foi coordenada pelo Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) e pelo Instituto Pólis. Os resultados
dessa pesquisa nos demonstram de forma bastante clara, quais os principais problemas
identificados pelos jovens na atual conjuntura da sociedade brasileira, conforme tabela
abaixo:
Tabela 1 - Maiores problemas da juventude, em porcentagem
Fonte: IBASE/POLIS, 2008
Em síntese, são essas as principais dimensões da vulnerabilidade social
enfrentadas pelos jovens:
Pobreza:
A generalização da pobreza3 pode ser percebida em toda a América Latina, visto
que desde sua formação o continente tem sofrido com a exploração de suas riquezas, bem
como com a exploração de sua população pelo grande Capital.
Dessa maneira, as condições de vida de parte da população brasileira não
fogem a esta realidade, visto que sua condição socioeconômica tem se agravado cada vez
mais. Nesse contexto, a pobreza tem se caracterizado como um dos principais elementos
contribuintes para o agravamento da vulnerabilidade social na vida dos jovens brasileiros,
pois apesar do grande contingente de riqueza gerado no país, a sua socialização não
acontece.
Sendo assim, grande parte da população vivencia a cada dia as consequências
do crescimento da pobreza, sendo assim acabam vivendo à margem da sociedade, e
constantemente não tem acesso a direitos sociais. Neste contexto, os jovens são
imensamente atingidos pela generalização da pobreza, pois como estão em fase de
transição para a vida adulta, acabam por enfrentar diversos desafios.
O crescimento da pobreza faz com que as famílias sejam imersas em grandes
problemas que advém da mesma, como por exemplo, o crescimento da violência nas áreas
em que ela se concentra. Neste cenário, a juventude mais uma vez desponta como um dos
segmentos mais atingidos pelos reflexos da pobreza, pois os jovens passam a não ter
oportunidades que lhes possibilite sair da condição em que se encontram, sendo que é cada
vez maior o número de pessoas que são descartadas pelo mercado de trabalho.
Trabalho:
Nos últimos anos, a questão do trabalho para os jovens tem figurado dentre os
principais temas quando o que está em questão é o debate relacionado à criação e
implementação de políticas públicas específicas para o segmento juvenil. A questão do
acesso e da permanência no mercado de trabalho se constitui em uma das maiores
preocupações dos jovens na atualidade, visto que para a grande maioria do segmento a
inserção no mercado de trabalho se tornou cada vez mais incerta.
Nesse sentido, a inserção do jovem no mercado de trabalho “pode representar,
ao mesmo tempo, uma fonte de esperanças no futuro, pela possibilidade de mobilidade
social e/ou de frustrações, pois pode significar também rotinas, precariedade e exclusão
social.” (CAMARANO et al, p. 53)
3 O entendimento é de que o sistema de produção capitalista, centrado na expropriação e na exploração para garantir a mais valia, e a repartição injusta e desigual da renda nacional entre as classes sociais são responsáveis pela instituição de um processo excludente, gerador e reprodutor da pobreza, entendida enquanto fenômeno estrutural, complexo, de natureza multidimensional, relativo, não podendo ser considerada como mera insuficiência de renda. É também desigualdade na distribuição da riqueza socialmente produzida; é não acesso a serviços básicos; à informação; ao trabalho e a uma renda digna; é não participação social e política. (SILVA, 2010, p. 159)
Conforme a tabela acima, que é fruto da pesquisa realizada pelo IBASE e pelo
Instituto Pólis em 2008, a opção “Dificuldades” relativas a emprego/trabalho foi escolhida por
32,1% dos entrevistados, o que a define como sendo o 3º maior problema vivenciado pelos
jovens. A tendência a se considerar a inserção no mercado do trabalho com um dos maiores
problemas não se identifica somente na atualidade, mas é um problema existente há
décadas, sendo um dos principais fatores responsáveis pela vulnerabilidade social juvenil.
Os jovens passam a não ter oportunidade de inserção no mercado de trabalho, e
isso se deve principalmente as mudanças operadas no mundo do trabalho através do
processo de reestruturação produtiva, que se caracterizou pelo abandono do modo de
produção apoiado no padrão de acumulação fordista no qual a produção industrial em
grande escala era predominante.
Outro aspecto que diminui bastante as chances do jovem adentrar no mercado
de trabalho, é que na maioria das vezes os empregadores buscam trabalhadores que já
acumulam certa experiência profissional, o que não é possível no caso dos jovens, visto que
na maioria das vezes eles ainda estão em busca do seu primeiro emprego. Outro fator que
pesa bastante na hora da contratação é a qualificação profissional, sendo que nem sempre
os jovens a têm, pois em alguns casos eles não possuem condições de obter uma formação
pautada nas novas exigências do mercado.
A partir desses aspectos é possível afirmar que as oportunidades de inserção do
jovem no mercado de trabalho são ainda menores se comparadas aos demais segmentos,
pois podemos observar que sobre o segmento juvenil recaem os principais impactos desse
processo de reestruturação produtiva, tais como o desemprego, as precárias condições de
trabalho, baixa remuneração, dentre outras, que aliadas às novas exigências relacionadas à
qualificação profissional, acabam por excluir uma grande parcela da juventude do mercado
de trabalho.
Educação:
A importância da educação reside no fato de que na “[...] sociedade
contemporânea, a escolaridade cumpre um papel não apenas de formação, mas de
construção das identidades sociais. Além disso, cumpre a função de delimitar marcos
simbólicos nas fases de transição e transformação do jovem.” (SOARES, 2010, p. 76)
Devido à importância da educação para a sociedade como um todo, houve um
aumento na oferta de vagas para o ensino público, no entanto esse aumento não veio
acompanhado de uma qualidade de ensino que possibilitasse aos jovens aprender de forma
mais eficaz. Como resultado da falta de qualidade no ensino público, podemos assistir a um
crescente aumento das taxas de repetência, evasão escolar, bem como no entendimento
por parte dos próprios jovens de que os conhecimentos adquiridos durante a vida escolar
não são suficientes para o desenvolvimento de habilidades que o mercado de trabalho
requer, aumentando dessa forma a insatisfação dos jovens com os sistemas educacionais
existentes.
Nesse contexto, são muitos os jovens que consideram que a educação formal
não é mais tão importante para que eles consigam uma colocação no mercado de trabalho,
e sendo assim, eles passam a abandonar a escola cada vez mais cedo justamente para
adentrar no mercado de trabalho.
Mesmo que esses jovens não mais acreditem na importância da educação
formal, podemos perceber que em muitos casos é a falta dela que os impede de conseguir
uma colocação no mercado de trabalho formal, pois neste caso a escolaridade e a
experiência profissional contam muito, e sem estes dois requisitos o que lhes resta é o
trabalho informal, no qual passam a trabalhar em locais precários e recebendo salários
baixíssimos.
Também é preciso ressaltar que a partir do momento em que o jovem abandona
a escola para se inserir em um trabalho informal precário, as chances que ele tem de
conseguir um bom trabalho formal diminuem bastante, pois acabam por perder todas as
perspectivas de progredir a partir da educação.
Dessa maneira, a educação se constitui em um fator muito importante para que
o jovem consiga realizar sua transição para a vida adulta da melhor forma possível, pois a
partir do momento em que ele tem acesso a uma educação de qualidade suas chances de
conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho crescem bastante.
Além disso, a partir do momento em que muitos jovens não conseguem acessar
uma educação de qualidade, eles passam a não ter as oportunidades necessárias para o
seu crescimento como cidadãos portadores de direitos, pois eles também não se
reconhecem como tais. Devido a isso, muitos dos jovens que se encontram em situação de
vulnerabilidade social e abandonaram a escola muito cedo, não consideram a educação
importante para que consigam superar essa situação. Portanto, na atualidade a educação
também tem se destacado como uma das principais preocupações dos jovens, tanto pelo
não acesso dos mesmos ao sistema de ensino, quanto pela falta de qualidade do ensino
que lhes é destinado.
Cultura, Esporte e Lazer:
O acesso por parte dos jovens à cultura, ao esporte e ao lazer também se
destaca como uma das grandes demandas do segmento juvenil diante da sociedade e do
poder público. Isso ocorre não só devido à importância que os jovens atribuem ao exercício
de atividades recreativas, mas também pelo fato de permitirem o desenvolvimento da
personalidade do jovem a partir de sua interação com a sociedade.
Nesse sentido, não só os jovens, mas a sociedade como um todo, encontra no
exercício de atividades recreativas e culturais o prazer de desfrutar de momentos de
descontração que lhes proporcionam não só uma imensa satisfação, mas também o acesso
ao conhecimento produzido pela humanidade.
Por outro lado, é na prática de atividades recreativas e culturais que o jovem
pode construir laços de amizade, desenvolver sua criatividade e adquirir conhecimento, bem
como manter contato com pessoas de diversos locais aprendendo dessa forma a lidar com a
diferença de forma respeitosa.
A cultura, o esporte e o lazer entram com “um papel fundamental na formação
da visão de mundo, na construção da identidade e no enfrentamento dos tabus culturais"
(MINAYO et al., 1999 apud ABRAMOVAY, 2002, p.54) na vida do jovem, sendo de
fundamental importância para que ele possa se desenvolver como cidadão consciente de
seus direitos e deveres.
No entanto, apesar da importância que a cultura, o esporte e o lazer apresentam
para a vida dos jovens de uma forma geral, uma grande parte deles não consegue ter
acesso aos equipamentos culturais e desportivos existentes. Os jovens pobres são os mais
prejudicados em relação a esse aspecto, pois a grande maioria das áreas mais pobres das
cidades brasileiras não tem espaços destinados a esse fim, justamente pelo fato de não
contarem com a mínima infraestrutura necessária para isso. Nesse sentido, pesquisa
realizada pela SNJ no ano de 2013 demonstra que o acesso a atividades culturais por parte
dos jovens está intimamente relacionado com a renda familiar e o acesso à educação,
conforme tabela abaixo:
Tabela 2 - Determinação das práticas culturais por renda e escolaridade (frequências selecionadas)
Fonte: Barbosa (2016) a partir da Agenda Juventude Brasil, (SNJ, 2013) Elaboração: Disoc/Ipea
Portanto, podemos afirmar que na maioria dos casos os jovens pertencentes a
famílias pobres e de baixa escolaridade são os que menos têm acesso aos equipamentos
culturais existentes na sociedade. Os principais empecilhos encontrados são a falta de
dinheiro para participar de eventos que em sua grande maioria cobram uma taxa que os
jovens e suas famílias não têm condições de pagar. Por outro lado, também contribui para
que os jovens não participem das manifestações culturais, as longas distâncias de suas
residências até os locais em que elas acontecem, pois geralmente suas residências são
localizadas nas áreas periféricas, o que dificulta o deslocamento.
Violência:
O crescimento da violência certamente deve ser visto como uma das principais
expressões da vulnerabilidade social a que os jovens estão expostos, pois no decorrer dos
anos teve um crescimento exponencial. Houve um aumento tanto no número de jovens que
são vítimas de algum tipo de violência, quanto no número de jovens que praticam algum tipo
de violência, o que faz com que esse seja um dos assuntos mais debatidos na atualidade.
Os resultados do Censo Demográfico 2010 apontam que as altas taxas de
mortalidade entre jovens são decorrentes dos óbitos resultantes de causas externas ou
violentas, como homicídios e acidentes de trânsito, e que esses óbitos atingem com maior
intensidade a população jovem masculina. Esse contexto nos demonstra que o crescimento
da violência também deve ser visto como produto da vulnerabilidade social juvenil, devido
ao fato de que eles não conseguem ter acesso aos insumos necessários para que tenham
oportunidade de se desenvolver como adultos responsáveis. Sendo assim, podemos
perceber a relação entre juventude e violência:
[...] como o produto de dinâmicas sociais, pautadas por desigualdades de oportunidades, segregações, uma inserção deficitária na educação e no mercado de trabalho, de ausência de oportunidades de lazer, formação ética e cultural em valores de solidariedade e de cultura de paz e de distanciamento dos modelos que vinculam esforços a êxitos. A combinação desses fatores tem sido responsável por situar os jovens à margem da participação democrática que colabore na construção de identidades sensíveis à diversidade cultural e à solidariedade por compromissos de cidadania, assim como no fortalecimento de auto-estima e de um sentimento de pertencimento comunitário. Em decorrência, muitos ficam relegados às influências que nascem de sua interação cotidiana nas ruas, com outros que partilham das mesmas carências quando não são atraídos pelo mundo do crime e das drogas, inclusive por seus símbolos e práticas autoritárias de imposição de poder, ou de protagonismo negativo. (ABRAMOVAY, 2002, p. 56)
Dessa forma, não podemos nos esquecer de que em muitos casos os jovens
acreditam que o mundo da criminalidade os fará adquirir um status de superioridade perante
a sociedade, visto que anteriormente não contavam com nenhum tipo de reconhecimento
que os fizesse se sentir como pessoas importantes para a sociedade. Assim, nesse contexto
de marginalização do jovem pobre, a violência tem se alastrado de forma alarmante por todo
o país, demonstrando que a necessidade de efetivar ações que busquem atender as
demandas da juventude se faz cada vez mais necessária, sob pena de que se não forem
feitas os jovens e a sociedade sofrerão os efeitos desastrosos da banalização da violência.
IV. CONCLUSÃO
A partir do exposto, é possível afirmar que o enfoque da vulnerabilidade social é
de fundamental importância para que possamos entender as condições em que o jovem
está vivendo, pois a partir do mesmo poderemos ter uma visão de todos os aspectos que
permeiam a condição de ser jovem na sociedade contemporânea.
Mas não podemos esquecer que a vulnerabilidade social não deve ser o único
enfoque a ser analisado, pois se corre o risco de enfatizar apenas os aspectos que fazem da
juventude um segmento repleto de riscos e negatividades, esquecendo-se de apontar os
aspectos que podem propiciar transformações positivas tanto na vida do jovem, como na
comunidade que o cerca. Nesse sentido é preciso entender que:
As pessoas e famílias em condição de vulnerabilidade extrema – nunca é demais repetir – padecem de uma síndrome de privações e de carências, mas também apresentam potencialidades e ativos que podem ser mobilizados, desde que exista um suporte efetivo e articulado pelas estruturas e processos e traduzidos por meio das políticas públicas. (BRONZO, 2009 p. 176)
Dessa forma, enxergar as potencialidades dos jovens se torna um imperativo
para que possamos realizar um trabalho voltado para a superação da situação de
vulnerabilidade social, apostando para isso na efetivação das políticas públicas existentes
que tem por objetivo contribuir para o atendimento das demandas específicas do segmento.
Deste modo, entender a condição de vulnerabilidade social vivenciada pelos
jovens a partir do viés crítico, significa compreender que esses jovens estão inseridos em
uma sociedade capitalista que visa exclusivamente o lucro, e na qual aqueles que não se
“enquadram” nos padrões de apropriação ou de reserva de mão de obra ficam à margem da
sociedade, sendo que para romper com esse estigma que é reservado ao jovem é preciso
que se faça um trabalho voltado para a garantia de direitos instituídos nos marcos
regulatórios.
Para isso, a criação e a efetivação das políticas públicas já existentes é de
fundamental importância, pois elas poderão atender as demandas dos jovens que se
encontram em situação de vulnerabilidade social, de forma a permitir que eles não só
conheçam seus direitos, mas também que tenham acesso a serviços que são essenciais
para a aquisição de insumos necessários a superação das desvantagens sociais.
REFERÊNCIAS
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