A Utilização do Planejamento como Instrumento de Desenvolvimento Turístico - Estudos de caso:...

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0 GRADUAÇÃO EM TURISMO NORMAS PARA TRABALHOS ACADÊMICOS, MONOGRAFIAS E ARTIGO DE ESTÁGIO CAMPO MOURÃO MAIO DE 2006.

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GRADUAÇÃO EM TURISMO

NORMAS PARA TRABALHOS ACADÊMICOS,

MONOGRAFIAS E ARTIGO DE ESTÁGIO

CAMPO MOURÃO

MAIO DE 2006.

1

INTEGRADO COLÉGIO E FACULDADE

ANA PAULA WALTER

A UTILIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE

DESENVOLVIMENTO TURISTICO – ESTUDOS DE CASO:

JERICOACOARA –CE E BONITO –MS

CAMPO MOURÃO

2006

2

INTEGRADO COLÉGIO E FACULDADE

ANA PAULA WALTER

A UTILIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE

DESENVOLVIMENTO TURISTICO – ESTUDOS DE CASO:

JERICOACOARA –CE E BONITO –MS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a

Faculdade Integrado de Campo Mourão como

requisito parcial para obtenção de Título de

Bacharel em Turismo Rural, Sob Orientação da

Professora Ana Cláudia Periçaro.

CAMPO MOURÃO

2006

3

APRESENTAÇÃO

A elaboração desse guia visa a qualificação das monografias e trabalhos desenvolvidos no

curso de turismo. Pretende-se facilitar o entendimento dos acadêmicos em relação às normas

de elaboração de trabalhos, bem como padronizar a apresentação estética desses trabalhos.

A normatização adotada neste guia tem como base as Normas de Documentação da

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, bem como o guia de Elaboração de

Projetos de Pesquisa e Monografias elaborado pelo Cesumar – Centro Universitário de

Maringá.

Como dica aos acadêmicos, fica apresentar as referências utilizadas para a elaboração deste

guia no momento de citar as referências utilizadas para a produção e formatação de seu

trabalho ou monografia.

Professora Ana Cláudia Periçaro

4

SUMÁRIO

NORMAS GRÁFICAS PARA APRESENTAÇÃO DE MONOGRAFIA E

ARTIGO DE ESTÁGIO .................................................................................................

04

NUMERAÇÃO DAS PÁGINAS ..................................................................................... 04

CAPÍTULOS E PARÁGRAFOS .................................................................................... 0

NUMERAÇÃO PROGRESSIVA DAS SEÇÕES DO TEXTO.................................... 05

ESTRUTURA FÍSITCA DE MONOGRAFIA (NBR 14724:2002) ............................. 06

1 ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS ................................................................ 07

1.1 CAPA ............................................................................................................. 07

1.2 FOLHA DE ROSTO ...................................................................................... 07

1.3 ERRATA ........................................................................................................ 07

1.4 FOLHA DE APROVAÇÃO .......................................................................... 08

1.5 DEDICATÓRIA ............................................................................................ 08

1.6 AGRADECIMENTOS ................................................................................... 09

1.7 EPÍGRAFE ..................................................................................................... 09

1.8 RESUMO EM LÍNGUA VERNÁCULA ...................................................... 10

1.9 RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA 10

1.10 LISTA DE ILUSTRAÇÕES .......................................................................... 10

1.11 LITA DE TABELAS ..................................................................................... 10

1.12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................... 11

1.13 LISTA DE SÍMBOLOS ................................................................................. 11

1.14 SUMÁRIO ..................................................................................................... 11

2 ELEMENTOS PÓS TEXTUAIS ................................................................ 12

2.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12

2.2 DESENVOLVIMENTO ................................................................................ 12

2.3 CONCLUSÃO ............................................................................................... 12

3 ELEMENTOS PÓS TEXTUAIS ................................................................ 13

3.1 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 13

3.1.1 Definições ...................................................................................................... 13

3.1.2 Modelos de Referências ............................................................................... 14

3.1.2.1 Obra escrita por um autor .............................................................................. 14

3.1.2.1.1 Obras do mesmo autor ................................................................................... 15

3.1.2.2 Obra escrita por dois ou três autores .............................................................. 15

3.1.2.3 Obra escrita por mais de três autores ............................................................. 15

3.1.2.4 Casos particulares .......................................................................................... 15

3.1.2.5 Obras anônimas .............................................................................................. 16

3.1.2.6 Periódicos (revistas e jornais) em partes ou no todo ...................................... 16

3.1.2.7 Trabalhos Acadêmicos (monografias, dissertações, etc.) .............................. 16

3.1.2.8 Enciclopédias e dicionários ............................................................................ 17

3.1.2.9 Trabalhos apresentados em congressos, conferências e outros ...................... 17

3.1.2.10 Referências Legislativas ................................................................................ 17

3.1.2.11 Documentos Eletrônicos ................................................................................ 18

3.2 GLOSSÁRIO ................................................................................................. 18

3.3 APÊNDICES .................................................................................................. 18

5

3.4 ANEXOS .......................................................................................................

19

4 CITAÇÕES ................................................................................................... 20

4.1 SISTEMA DE CHAMADA ........................................................................... 20

4.1.1 Sugestões de chamada ....................................................................................

21

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 23

1 INTRODUÇÃO

Este estudo tem como foco principal a utilização do planejamento turístico como

instrumento de crescimento econômico municipal, e é embasado nos estudos de

caso dos municípios de Jericoacoara-CE e Bonito-MS.

Esta pesquisa visa analisar a importância da utilização do planejamento e do

planejador para o desenvolvimento do turismo, evidenciando de que forma a falta de

planejamento pode afetar uma localidade receptora.

Para melhor fundamentação e exemplificação da importância do planejamento

turístico com base em dados obtidos por meio de pesquisa bibliográfica,

apresentam-se os estudos de casos do município Bonito e Jericoacoara, onde o

turismo se iniciou sem planejamento.

Em decorrência do turismo desordenado, os municípios sofreram com problemas

como o turismo de massa, especulação imobiliária, degradação ambiental, poluição,

6

falta de fiscalização, crescimento acelerado do turismo e falta de estrutura, entre

muitos outros problemas.

Pretende-se também, por meio dos estudos de caso, identificar quais são os

principais problemas detectados a partir do choque de culturas que a massificação

do turismo pode causar aos núcleos receptores.

O objetivo principal deste estudo é identificar através de bibliografias e dos estudos

de caso, as conseqüências da falta de planejamento do turismo. Serão propostas

estratégias para um planejamento adequado, não apenas nos dois municípios

apresentados, mas procedimentos básicos para qualquer localidade que pretenda

implantar o turismo.

Pretende-se ainda ressaltar a proporção dos impactos causados pela falta da

utilização de uma equipe especializada, que verifique todos os meios e os possíveis

erros antes de se implantar o turismo, evidenciando a importância do profissional de

turismo no processo de planejamento de novos produtos turísticos.

A referência à utilização do capital humano em turismo é muito importante, já que o

planejador turístico atua desde o momento de identificação do potencial turístico de

uma região, até a determinação da capacidade de carga que ela possui para que o

turismo se desenvolva sem saturá-la.

A discussão se iniciará com uma síntese a respeito das origens do turismo mundial

com colocações a respeito do início da atividade no Brasil. Na seqüência serão

apresentados alguns benefícios que o turismo pode trazer tanto para a localidade

onde se desenvolve, quanto para a região que a cerca.

Em seguida algumas conceituações de turismo de diversos autores serão

apresentadas e discutidas. Na seqüência abordam-se os conceitos de planejamento,

enfatizando a importância do planejamento turístico para o desenvolvimento local,

regional, estadual, enfim, em todas as situações onde exista o desejo da

implantação do turismo.

7

O terceiro capítulo apresentará os municípios de Jericoacoara – CE e Bonito – MS,

visando demonstrar os modelos de desenvolvimento turístico implantado nas duas

localidades, e as principais alterações no modo de vida das populações locais e

meio ambiente natural que a prática do turismo desencadeou.

Será realizada uma análise dos estudos de caso com discussões a respeito dos

pontos fortes, pontos fracos, ameaças e oportunidades detectados no processo de

implantação do turismo nos municípios em estudo. Essa análise subsidiará a

elaboração de propostas, para a solução ou melhoria da atividade nos dois locais.

Em seguida será feita uma análise comparativa dos dois estudos de caso, onde

serão verificados através do diagnóstico realizado anteriormente, os pontos positivos

ou negativos em comum entre Jericoacoara e Bonito, assim como pontos fortes de

um município que poderiam se tornar uma oportunidade no outro.

Finalmente, serão feitas discussões sobre todos os temas e estudos abordados,

visando elaborar um roteiro básico para que o turismo se desenvolva de forma

organizada e responsável. Este roteiro ou dicas constituem procedimentos básicos

que são essenciais para qualquer tipo de turismo que se deseje implantar, em

especial para o turismo municipal, seguido pelas propostas, para que isto aconteça

da maneira ordenada e sustentável.

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2 TURISMO E PLANEJAMENTO TURÍSTICO

Neste capítulo serão abordados dados importantes para a compreensão do

fenômeno turismo, como conceituações, origens e a evolução do turismo no Brasil e

no Mundo. Aborda-se também, o tema planejamento turístico, elemento essencial

para o desenvolvimento sustentável da atividade, e que constitui um dos principais

focos de estudo desta pesquisa.

O objetivo deste estudo é apresentar os impactos que podem ser causados pela não

utilização de um criterioso processo de planejamento turístico de um município ou de

uma propriedade, bem como enfatizar a importância do profissional de turismo

inserido em todas as fases de formatação do produto turístico, desde a identificação

do potencial, passando por todo o processo de planejamento, até à comercialização

e acompanhamento do ciclo de vida do produto.

Também serão abordadas as vantagens do turismo, as possibilidades de

crescimento econômico, social e cultural para uma comunidade que decide utilizar

este segmento como fonte de renda e desenvolvimento, seguidas das propostas

para o bom desenvolvimento das idéias apresentadas. O intuito aqui é mostrar que o

turismo pode ser um grande aliado para o desenvolvimento social e econômico de

9

uma população, desde que esta o utilize de forma responsável e correta, buscando

sim o crescimento econômico, mas sempre cuidando para que os impactos

negativos não destruam sua atratividade.

2.1 ORIGENS E O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO MUNDIAL

O homem viaja desde os tempos antigos, quando antepassados primitivos

percorriam freqüentemente longas distâncias em busca da caça que lhes

proporcionava o alimento e o agasalho que eram necessários à sua sobrevivência.

Segundo Theobald (2002, p. 27), durante todo o curso da história as pessoas têm

viajado por diversos motivos, sejam por transações comerciais, ou ainda

econômicas, motivações religiosas, guerras, migrações, e por muitas outras razões

de igual importância. O autor ainda exemplifica que, nos tempos de Roma ricos e

funcionários do alto escalão do governo já viajavam por prazer. Nos balneários da

Pompéia e Herculano era proporcionada aos cidadãos a oportunidade de se

refugiarem em vilas de veraneio para se protegerem do verão romano. E com isso

as viagens foram se intensificando ao longo dos séculos, e em toda a história foram

muito importantes para a evolução das civilizações.

O turismo conhecido nos dias atuais é um fenômeno do século XX. Historiadores

sugerem que o turismo de massa teve início na Inglaterra durante a Revolução

Industrial, devido à ascensão da classe média e também dos meios de transporte

relativamente baratos (THEOBALD, 2002, p.27). O autor explica ainda que este

crescimento se deve à criação de linhas aéreas comercias implantadas após a

Segunda Guerra Mundial e a evolução dos aviões a jato na década de 1950, que

fortaleceram o crescimento intenso e o aumento das viagens internacionais. Tudo

isto veio proporcionar o desenvolvimento de um novo e importante fenômeno

econômico e social - o turismo.

Segundo Fourastié (apud RUSCHMANN, 2004, pg. 13), a palavra turismo surgiu no

século XIX, e a atividade estende suas raízes pela história. Certas formas de turismo

existem desde as mais antigas civilizações, mas foi a partir do século XX, e mais

10

precisamente após a Segunda Guerra mundial, que a atividade evoluiu, como

conseqüência dos aspectos relacionados à produtividade empresarial, ao poder de

compra das pessoas e ao bem estar resultante da restauração da paz no mundo.

Nota-se que há certa contradição entre os autores Theobald e Fourastié, quando se

diz respeito ao surgimento do turismo, já que Fourastié afirma que a palavra turismo

surgiu no século XIX e Theobald, que o Turismo surgiu no século XX. Porém, os dois

autores concordam que a atividade turística teve um notável crescimento após a

Segunda Guerra Mundial. No entanto, é importante ressaltar, que Theobald fala em

seu texto do turismo de massa enquanto Fourastié trata do turismo de uma forma

geral, entretanto, a obra pesquisada não deixa clara a posição da autora em relação

à contradição.

Para Rabahy (2003, p.01) a evolução dos acontecimentos econômicos e sociais do

mundo moderno transformou o turismo em uma atividade muito promissora e com

grandes possibilidades de expansão. E isto provoca alterações no cotidiano das

comunidades e principalmente na sua economia, provocando mudanças radicais de

todos os tipos. O autor afirma ainda que

o desempenho do setor turístico está intimamente relacionado ao comportamento da renda e sua distribuição, bem como da disponibilidade de tempo livre e outras facilidades propiciadas pelo progresso tecnológico, até mesmo dos meios de transporte, encurtando as distâncias, o que implica, em última análise, uma maior liberação do tempo para lazer.

Este desenvolvimento tecnológico propiciou às pessoas um maior tempo livre, assim

como uma maior disponibilidade financeira, fazendo com elas que pudessem se

dedicar mais ao lazer, aumentando assim a prática do turismo e conseqüentemente,

fazendo girar a economia de municípios receptores.

Neste contexto ainda, o autor ressalta que:

o turismo está entre os cinco maiores geradores de receita de divisas na economia mundial, liderado apenas pelas exportações de armamentos e pelo petróleo. Mesmo depois das recentes crises econômicas mundiais o turismo vem registrando taxas de crescimento de receita que giram em torno de 8% ao ano, isto nos anos de 1980 a 2000, e isto lhe assegura a sua manutenção e participação total das exportações. (RABAHY p. 02, 2003).

11

Analisando todo este contexto, percebe-se que o turismo é uma prática existente

desde os tempos mais antigos, e que foi evoluindo no decorrer dos séculos. Fica

claro que a sua ascensão se iniciou após a Segunda Guerra Mundial, mas que

continua a evoluir até os tempos atuais.

Percebe-se então, que é um fator econômico de extrema importância tanto para o

Brasil, quanto para o mundo, sendo este um dos setores que mais geram renda na

atualidade. Além proporcionar a possibilidade de trabalho familiar, onde desde que

haja incentivo é possível envolver toda uma família ou até mesmo uma comunidade

no circuito do turismo em uma localidade.

2.2 CONCEITUAÇÕES DE TURISMO

Não existe uma definição única de turismo, mas sim diversas conceituações,

capazes de deixar muito explícitos, quais são os interesses do turismo e também

qual é a sua área de abrangência. Barretto (1999, p.9), em seu livro Manual de

Iniciação ao Estudo do Turismo, propõe diversos conceitos de turismo como, por

exemplo, a de Schattenhofen que descreveu o turismo como uma atividade que

compreende todos os processos, especialmente os econômicos, que se manifestam

na chegada, na permanência e na saída do turista de um determinado município,

estado ou país, definição esta que data de 1911. Para Robert Glücksmann, turismo

é um vencimento do espaço por pessoas que vão para um local no qual não tem

residência fixa. Esta definição foi mais tarde revisada tomando o seguinte formato:

Quem interpreta o turismo como um problema de transporte, confunde este com o tráfego de turistas. O turismo começa onde o tráfego termina no ponto de turismo, no lugar de hospedagem. O tráfego de viajantes conduz o turismo, porém não é turismo propriamente, nem sequer em parte. Turismo é a soma das relações existentes entre pessoas que se encontram temporariamente num lugar e os naturais deste local. (BARRETTO, 1999, p. 09).

Neste ponto, porém, deve-se ressaltar que o autor não considera dentro da prática

do turismo o acesso, o transporte e a recepção. Seguramente pode-se dizer que

fazem sim parte do processo turístico, já que este engloba uma cadeia de serviços,

pois é impossível fazer turismo sem o processo de deslocamento, por exemplo.

12

Inicialmente a OMT - Organização Mundial de Turismo (apud BARRETTO, 1999,

p.12), conceituava a atividade como “a soma de relações e serviços resultantes de

um câmbio temporário e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou

profissionais”. Porém, devido à existência de outros tipos de turismo como turismo

de negócios, turismo de eventos e saúde entre outros, a conceituação de turismo da

OMT levou o conceito para além da imagem do sair de férias, e a aceita oficialmente

apresenta o turismo como “as atividades de deslocamento e permanência em locais

fora do seu ambiente de residência, por período inferior a um ano consecutivo, por

razões de lazer, negócios ou outros propósitos” (BARRETTO, p. 12, 1999).

Neste ponto, porém, deve-se ressaltar que o autor não considera dentro da prática

do turismo o acesso, o transporte e a recepção. Seguramente pode-se dizer que

fazem sim parte do processo turístico, já que este engloba uma cadeia de serviços,

pois é impossível fazer turismo sem o processo de deslocamento, por exemplo.

Inicialmente a OMT - Organização Mundial de Turismo (apud BARRETTO, 1999,

p.12), conceituava a atividade como “a soma de relações e serviços resultantes de

um câmbio temporário e voluntário motivado por razões alheias a negócios ou

profissionais”. Porém, devido à existência de outros tipos de turismo como turismo

de negócios, turismo de eventos e saúde entre outros, a conceituação de turismo da

OMT levou o conceito para além da imagem do sair de férias, e a aceita oficialmente

apresenta o turismo como “as atividades de deslocamento e permanência em locais

fora do seu ambiente de residência, por período inferior a um ano consecutivo, por

razões de lazer, negócios ou outros propósitos” (BARRETTO, p. 12, 1999).

Existem diversas conceituações de turismo, e Barretto em seu livro Manual de

Iniciação ao Estudo do Turismo (1999, p. 10) cita outras conceituações muito

interessantes, como a de Josef Strander que trata de turismo como:

o tráfego de viajantes de luxo (aqueles que possuem condução própria) que se detêm num local fora do seu local fixo de residência e com sua presença naquele país não perseguem nenhum propósito econômico, mas buscam a satisfação (STRANDER apud BARRETTO, 1999, p. 10).

13

Apesar de ser uma citação muito interessante deve ser repensada, já que o autor

deixa claro que apenas pessoas que possuem condução própria poderiam ser

chamadas de viajantes de luxo. Entretanto, nem sempre isto pode ser aceito como

verdadeiro, pois muitas pessoas viajavam independente de possuírem ou não

condução, esta prática não necessita e nem depende apenas disto e menos ainda

de automóveis. Além do mais, existem muitas outras formas de locomoção,

principalmente quando se trata dos tempos atuais.

Porém, Barretto pode estar utilizando este exemplo de Strander para tratar de

pessoas com poder aquisitivo maior que o de muitas outras, mas neste caso, deve-

se também levar em consideração que nem todos os turistas que possuem

condução própria, necessariamente, tenham um poder aquisitivo maior. Além disso,

várias conceituações, inclusive a da OMT já citada, discutem o fato de o turismo não

incluir em seu conceito viagens de negócios e trabalho.

Analisando as considerações apresentadas, nota-se que alguns itens como o tempo

de permanência nos locais visitados, e o fato de que o turismo é uma atividade não

lucrativa, são características muito comuns em conceituações de turismo:

Os elementos mais importantes de todas estas definições são o tempo de permanência, o caráter não lucrativo da visita e, uma coisa que é pouco explorada pelos autores, analisados , a procura do prazer por parte dos turistas. O turismo é uma atividade em que a pessoa procura prazer por livre e espontânea vontade. Portanto, a categoria de Livre Escolha deve ser incluída como fundamental no estudo do turismo (BARRETTO, p.13, 1999).

Deve-se lembrar também que há o turismo de eventos1, turismo técnico - cientifico2 ,

turismo de negócios3 e também o turismo de saúde4 que nem sempre são feitos por

1 Turismo de Eventos – é o conjunto de atividades exercidas pelas pessoas que viajam a fim de participar de congressos, convenções, assembléias, simpósios, seminários, reuniões, ciclos, sínodos, concílios e demais encontros (...) para atingi-lo, de objetivos profissional-cultural, técnico-profissional, de aperfeiçoamento setorial ou de atualização (ANDRADE, 1995)

2 Turismo Técnico Científico ou de Convenções – É aquele praticado com interesse profissional - cultural, visando a participação em congressos, convenções, simpósios, reuniões internacionais, encontros culturais, etc. (BRAGA, 2003, p.228). 3 Turismo de Negócios – É aquele praticado em busca de contatos e negócios no campo industrial e comercial, (...) visando conhecer novas técnicas de processos de fabricação, a entabular negócios ou abrir novas perspectivas de fazê-lo; também denominado turismo técnico (BRAGA, 2003, p.228).

14

livre escolha, mas muitas vezes, por outros motivos que podem ser caracterizados

por saúde, trabalho, estudo, etc.

É importante ressaltar que pessoas também viajam e se utilizam dos meios turísticos

para fins alheios a ele. É o caso de homens de negócios ou até mesmo de pessoas

que viajam a trabalho e que muitas vezes levam consigo o cônjuge, para

compartilhar de momentos em que estão liberados do trabalho e dedicá-los à pratica

do turismo, e é importante dizer que em congressos e eventos similares já existem

atendimento turístico especial para acompanhantes dos participantes (BARRETTO,

p.13, 1999).

Outro ponto a ser observado, tratando-se dos conceitos de turismo é que alguns

autores consideram como turismo apenas viagens inferiores há 90 dias, mas deve-

se salientar que existem viagens com durações superiores, especialmente entre as

classes mais altas da sociedade. (BARRETTO, p.14, 1999). Neste caso, nota-se que

este conceito perde seu valor quando comparado ao considerado atualmente pela

da OMT, que ao invés de 90 dias reconhece como turismo viagens com duração

inferior a um ano.

Pelo que foi exposto até o momento, percebe-se que o turismo é um fenômeno

social e econômico, e que há ainda muito a ser discutido e agregado a essa

atividade que tem o poder de unificar povos, disseminar novas culturas e

conhecimentos, além de desenvolver econômica, social e culturalmente os núcleos

receptores, desde que bem planejado e calcado nos conceitos de sustentabilidade.

2.3 PLANEJAMENTO TURÍSTICO: CONCEITOS E RELEVÂNCIA

É notável atualmente a necessidade de planejar de forma adequada e responsável

um determinado espaço para que este se desenvolva. Isto se dá para que o valor do

produto turístico seja reconhecido e para que o empreendimento apresente um

4 Turismo de Saúde – É aquele praticado por pessoas em busca de climas, estações ou centros de tratamento onde possam recuperar a saúde (BRAGA, 2003, p.229).

15

crescimento considerável, assim como uma movimentação relevante para a

economia.

Conceituando planejamento, Petrocchi (2000, p.19) explica que o planejamento é

praticado pelas pessoas no seu dia-a-dia, isto implica até mesmo em escolher as

peças de roupa para vestir, e no decorrer de um dia de trabalho, utiliza-se

intuitivamente mecanismos de planejamento durante todo o tempo. Cotidianamente

as pessoas analisam as condições do tempo avaliando a temperatura e as

probabilidades ou não de chuva; organizam os compromissos para o dia,

logicamente que neste caso, trata-se de um planejamento informal. Enfim, o

planejamento faz parte da rotina das pessoas, quase tudo o que se faz no decorrer

de um dia, tem um planejamento prévio.

O planejamento consiste em uma análise da situação atual e determinação de uma

situação desejada – objetivo, bem como a definição das estratégias que auxiliarão o

alcance desse objetivo. Para Robbins (apud PETROCCHI, 2001. p.210) “os objetivos

são os fins em torno dos quais se dirige toda a atividade”, ou seja, uma atividade

deve ser muito bem planejada, e a sua execução deve acontecer de acordo com

aquilo que foi planejado, visando sempre a conservação tanto do ambiente quando

da cultura da qual se está utilizando.

Em um breve comentário sobre o surgimento do planejamento, Barretto (2003, p.85)

explica que o primeiro plano econômico real foi executado no Japão no fim do século

XX. Segundo a autora, na União Soviética o planejamento começou a ser utilizado

na forma de planos qüinqüenais após a revolução socialista na década de 20 e em

planos seteniais na década de 30. “Uma preocupação de Mannheim muito legitima e

bastante atual era saber quem planeja os planejadores” (MANNHEIM apud

BARRETO, 2003, p.85). Para Mannheim, alguém ter para si o poder de decidir os

rumos da sociedade era assustador. É notável então que mesmo em tempos mais

antigos havia a preocupação com o planejamento e principalmente com a

capacidade e formação de quem o faria.

Para conceituar planejamento turístico, apresenta-se o posicionamento da OMT, que

apresenta o termo como:

16

o resultado de um processo complexo, dada a variedade de fatores relativos ao destino. Por isso, envolve a necessidade de manusear muitas informações adequadas relativas aos recursos, infra-estrutura e equipamentos da região, que permitam a segmentação posterior da demanda em nichos diferenciados e facilitem a tarefa de conservar o entorno, não só em beneficio dos moradores, como também em benefício dos investidores a longo prazo (OMT, 2001, p.177)

Assim, pode-se dizer que o processo de planejamento ajuda na ordenação da oferta

turística, visando a sustentabilidade ambiental, cultural, econômica e social dos

núcleos receptores.

Neste contexto, é importante salientar que um aspecto indispensável do

planejamento turístico, é o papel fundamental que é reservado ao poder público, já

que o turismo não é uma atividade inteiramente privatizável (DIAS, 2002, p. 119).

Segundo Petrocchi, (apud, DIAS e AGUIAR, 2002. p. 119): “empresas privadas

podem atuar em investimentos turísticos e em setores de infra-estrutura. Mas está

reservado ao Poder Público o papel de regulador e / ou provedor de serviços

públicos indispensáveis ao turismo”.

O autor explica que neste caso podem estar assinalados itens que dizem respeito à

organização do espaço urbano, os sistemas viários, de comunicação e de proteção

ao meio ambiente. Para Petrocchi (2002. p. 119), há a necessidade de promoção da

regulamentação do uso do solo e principalmente, a educação e conscientização da

população. Além de que “cabe também ao setor público o papel de fiscalizador das

ofertas turísticas de regulador do mercado”.

Ruschmann sugere diversos conceitos de planejamento como, por exemplo, o de

Harry e Spink que diz que:

O planejamento é uma atividade que envolve a intenção de estabelecer condições favoráveis para alcançar objetivos propostos. Ele tem por objetivo o aprovisionamento de facilidades para que uma comunidade atenda seus desejos e necessidades ou, então, o “desenvolvimento” de estratégias que permitam a uma organização comercial visualizar oportunidades de lucros em determinados segmentos em ambos os casos (RUSCHIMANN, 2004, p. 83).

17

Segundo a autora, em ambos os casos, a bibliografia é bastante ampla, apesar de

poucas obras falarem especificamente sobre o planejamento do turismo, e quando o

fazem, abordam de forma assistemática e fragmentada. Ruschmann explica que isso

se dá porque as técnicas e as estruturas do planejamento, tanto no setor público

como nas organizações privadas, são difíceis de abordar em conjunto, já que, na

comparação dos dois tipos percebem-se os diferentes objetivos de cada um.

Existem diversas conceituações para planejamento, e com isso muitas contradições

entre eles, por exemplo, para Baptista (apud BARRETTO, 2003, p. 11),

planejamento se refere ao processo permanente e metódico de abordagem racional

e científica de problemas. Para Newman (apud BARRETTO, 2003 p. 11), planejar

significa decidir antecipadamente o que deve ser feito, já que para ele o

planejamento é uma linha de ação preestabelecida. Porém, segundo Barretto (2003

p. 12), a conceituação que melhor sintetiza o planejamento é a de Munõz Amato que

conceitua planejamento como:

a formulação sistemática de um conjunto de decisões, devidamente integrado, que expressa os propósitos de uma empresa e condiciona os meios de alcançá-los. (...) consiste na definição dos objetivos, na ordenação dos recursos materiais e humanos, na determinação dos métodos e das formas de organização, no estabelecimento das medidas de tempo, quantidade e qualidade, na localização espacial das atividades e em outras especificações necessárias para canalizar racionalmente a conduta de uma pessoa ou de um grupo.

Assim, a importância do planejamento turístico consiste em “permitir uma gestão

racional dos recursos evitando o desenvolvimento desequilibrado dos mesmos, ou o

desperdício, e desta maneira, ajuda a preservar as vantagens econômicas, sociais e

ambientais do turismo e a diminuir custos” (OMT, 2001, p. 177). O planejador deve

estar sempre focado em trabalhar visando utilizar tanto o ambiente natural, quanto

cultural de determinada localidade, sem deturpá-lo, mantendo-o o mais intacto

possível.

A matéria-prima principal do turismo são atrativos naturais e culturais, ambos de

extrema fragilidade. No turismo, a interpretação economicista dos recursos naturais,

que o considera simplesmente como bem de consumo, implica em uma sucessão de

problemas para o meio ambiente o que pode comprometer a atividade turística no

18

futuro. O desenvolvimento de atividades turísticas demanda um planejamento

adequado, que envolve profissionais das mais diversas áreas e, caso isso não

ocorra, pode gerar uma degradação no meio ambiente natural, social e cultural,

acarretando assim em uma diminuição de competitividade e provocando a perda de

visitantes de outras regiões (DIAS e AGUIAR, 2002, p. 118).

Além do fato de provocar a perda dos visitantes, existe ainda o problema da

degradação ambiental que muitas vezes é irreversível, e cabe principalmente ao

poder público cuidar e fiscalizar para que isto não aconteça.

O turismo não planejado ou mal planejado, pode ser fatal para um empreendimento

ou até mesmo para todo um núcleo receptor, e neste caso, deve-se pensar com

muita cautela quando se tem a idéia de criar um empreendimento, sempre com

intuito de preservar ao máximo o ambiente que irá promover o turismo naquele local,

levando-se sempre em consideração que esta é uma fonte que pode se esgotar, e

que esgotada uma vez, os danos causados são irreversíveis.

Segundo a OMT o planejamento deve assegurar que:

os objetivos buscados pelas autoridades locais, pela população receptora, pelas empresas e pelos visitantes, possam ser alcançados com harmonia (...) o principal objetivo deve ser maximizar a contribuição do turismo ao bem-estar humano (OMT, 2001, p. 235).

Neste caso, é imprescindível que todas as partes interessadas no desenvolvimento

do turismo estejam de acordo em relação aos requisitos a serem utilizados e

principalmente, devem estar conscientes que o objetivo do turismo é trazer

benefícios para um local e não destruí-lo ou utilizá-lo de forma que se acabe.

Porém, para que o planejamento turístico seja completo, ele deve estar calcado na

sustentabilidade. Um planejamento que não esteja voltado para desenvolvimento

sustentável, corre o risco de não decolar, ou ainda de que suas fontes se esgotem

rápida e irreversivelmente.

Segundo a OMT:

19

a indústria turística se caracteriza por sua grande complexidade, não só pela grande quantidade de elementos pelos quais é composta, mas também, pelos diferentes setores econômicos do seu desenvolvimento. Nesse sentido, o turismo é considerado geralmente como uma exportação de uma região ou nação até o lugar de destino (país receptor, lugar de recebimento), no qual gera renda, favorece a criação de empregos, entrada de divisas que ajudam a equilibrar a balança de pagamentos, aumenta os impostos públicos e aquece a atividade empresarial. Assim sendo, a atividade turística tem uma grande importância na economia devido a sua elevada contribuição para a geração de Valor Agregado Bruto – VAB na região receptora (OMT, 2001, p.10).

Ou seja, a indústria turística tem um grande poder de geração de divisas fazendo

assim com que aconteça o efeito multiplicador do turismo, além dos impactos diretos

que é quando a despesa do visitante circula pela mão de empreendedores, e os

impactos indiretos acontecem quando ela re-circula, passando pela mão do

empreendedor turístico e vai para o comércio da localidade.

Percebe-se, desta forma que, no impacto direto o turista gera renda para os

empreendedores que por sua vez, gastam parte deste lucro no município onde se

localiza o empreendimento turístico, o que irá gerar o impacto indireto. O

empreendedor por sua vez acabará por contratar mais mão-de-obra, começam a

gerar renda também para os moradores da localidade e assim por diante, fazendo

com que o capital recircule. Isto é o efeito multiplicador do turismo, a geração e

distribuição de renda através dele.

Assim, os estabelecimentos comercias que irão receber os gastos diretos gerados

pelos turistas precisarão de mais fornecedores, ou seja, têm que comprar bens e

serviços para que estes sejam distribuídos para outros setores dentro da economia

local. Como por exemplo:

Hotéis contratarão serviços como os de construção civil, bancos, contadores, alimentação e bebidas. Parte destes gastos sairá de circulação, pois os fornecedores precisarão comprar produtos importados para cobrir suas necessidades. Ou seja, estes fornecedores precisarão comprar produtos importa os para cobrir suas necessidades. A atividade econômica gerada em conseqüência das rodadas de compras e gastos é conhecida como efeito indireto (BARBOSA, 2006, p.04).

Além disso, existe o efeito induzido do turismo que é aquele gerado através dos

salários, aluguéis e juros recebidos da atividade turística que resultam em outros

20

tipos de atividade econômica. Como por exemplo, “os juros pagos ao banco por um

empréstimo gerarão mais recursos para futuros empréstimos e, consequentemente,

ocorrerá um aumento da atividade econômica” (BARBOSA, 2006, p.04). Outro fator

importante quando se fala em efeito multiplicador do turismo é que com o fato da

atividade turística movimentar a economia de um local, o turismo também contribui

para a geração de empregos. Já que com a economia em movimento, a procura pela

mão-de-obra qualificada aumenta.

Tratando-se de planejamento no Brasil, Barretto (1991, pg. 94) explica que a Política

Nacional de Turismo no Brasil insere-se tardiamente na história do planejamento no

país (o livro mais completo sobre planejamento setorial de autoria de Jorge Costa,

não faz menção à palavra Turismo até 1965), e ainda não tem contornos muito

delineados. O que foi planejado e realizado abordou o turismo apenas como um

fenômeno econômico gerador de divisas. Porém, o turismo é mais do que uma

mercadoria para equilibrar a balança de pagamentos. Uma política nacional de

turismo deve abranger o aspecto social e psicológico dessa atividade, para que seja

entendida como uma atividade humana que deve como lazer, ser parte essencial da

vida.

Em termos de planejamento turístico, o país articulou ações como a criação do

Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, difundido em todos os

estados brasileiros na intenção de identificar potencial e desenvolver a atividade ao

longo do país. O PNMT foi implantado pela Embratur em março de 1992, e foi um

Programa desenvolvido e coordenado pela EMBRATUR, de acordo com a

metodologia da Organização Mundial do Turismo, adaptada à realidade brasileira,

com o propósito de implementar um novo modelo de gestão da atividade turística,

simplificado e uniformizado para os Estados e Municípios, de maneira integrada,

buscando maior eficiência e eficácia na administração da atividade turística, de

forma participativa, mas que devido à mudanças de governo foi interrompido

(SENAC, 2006).

No ano de 2003 foi criado o Ministério do Turismo, e atualmente é desenvolvido o

Programa de Regionalização do turismo que segundo o Portal Brasileiro de Turismo

(Embratur, 2006), “é um modelo de gestão descentralizada, coordenada e integrada,

21

com base nos princípios da flexibilidade, articulação, mobilização, cooperação

intersetorial e interinstitucional e na sinergia de decisões”. Este modelo visa

transformar a ação centrada na unidade municipal em uma política pública

mobilizadora de planejamento e coordenação para o desenvolvimento turístico local,

regional, estadual e nacional de forma articulada e compartilhada.

Em suma, o turismo repercute tremendamente na economia dos países e das

regiões nas quais se desenvolve. O turismo não apenas contribui com divisas, como

também suaviza a questão do desemprego nas comunidades onde existe. Mas para

que o efeito multiplicador e os impactos positivos aconteçam, é de suma importância

que haja um processo criterioso de planejamento, onde é imprescindível também a

figura do planejador capacitado.

2.4 O PAPEL E A IMPORTÂNCIA DO PLANEJADOR NO PROCESSO DO

PLANEJAMENTO TURÍSTICO

Efetivamente, quando se fala em turismo, se fala em serviços, e consequentemente

existe a referência às pessoas, ou desde um ponto de vista mais descritivo, quanto

ao valor intrínseco que representa para as empresas e para os governos, o capital

humano (PEIRÓ apud OMT, 2001, p.345).

O planejador de turismo é capaz de elaborar um trabalho para determinar a

quantidade de turistas que poderão ocupar um mesmo lugar sem saturá-lo e sem

que estes invadam o espaço da população local. Juntamente com outros

profissionais, como historiadores, arqueólogos, sociólogos, arquitetos, geógrafos

entre muitos outros, tem a incumbência de resgatar o patrimônio histórico e preparar

a localidade para o recebimento de turistas. E principalmente, sem degradar o

ambiente e nem deturpar os fatos do passado.

Spinelli, no livro Currículo e Formação Profissional nos Cursos de Turismo explica

que:

22

O turismo é um setor de serviços que requer elevados índices de força de trabalho, além de uma crescente modernização e de uma apurada implementação da tecnologia, e que logo deverá enfrentar um mercado em expansão e cada vez mais exigente. Isso implica necessariamente um incremento da eficácia e da produtividade das pessoas que trabalham nesse setor (SPINELLI in NETO E MACIEL, 2002, p.106)

Analisando o contexto apresentado, se o profissional não estiver devidamente

preparado, pode não conseguir o seu lugar no mercado de trabalho. Além disso, o

ambiente onde o turismo acontece corre sérios riscos de não se desenvolver ou, em

uma pior hipótese, crescer muito rápido, mas não suportar os impactos do turismo,

tendo abreviado o seu ciclo de vida.

Um profissional responsável e com formação em turismo, deve estar apto a

desenvolver as seguintes funções:

colaborar na elaboração e implantação da Política Nacional de Turismo; elaborar e operacionalizar inventários turísticos (...) e diagnósticos turísticos; elaborar o planejamento do espaço turístico; elaborar planos municipais, estaduais e federais de turismo; interpretar legislação pertinente; identificar, analisar e avaliar os possíveis efeitos positivos e negativos provocados pela atividade turística em determinados espaços e comunidades; estabelecer normas, detectar, aplicar e gerenciar a qualidade de serviços turísticos; apoiar ações voltadas à formação, treinamento e capacitação dos recursos humanos de turismo em nível técnico e superior; fazer estudo de mercados turísticos prioritários. Interpretar, avaliar e selecionar informações geográficas, históricas, artísticas, esportivas recreativas e de entretenimento, folclóricas, artesanais, gastronômicas, religiosas, etc.; gerir empreendimentos turísticos, utilizar a metodologia científica no desenvolvimento de estudos e pesquisas básicas e aplicadas (NETO e MACIEL, 2002, p. 17).

Neste caso, fica claro que para que haja o envolvimento de qualquer pessoa na

atividade turística, não basta que haja apenas boa vontade, mas indiscutivelmente

capacitação, para que o desenvolvimento do turismo seja de boa qualidade, bem

planejado consequentemente rentável.

Para Carlzon (apud OMT, 2001, p.348) a importância da profissionalização da mão-

de-obra se dá por que;

todas essas características criam uma certa insegurança na entrega dos serviços que somente pode ser minimizada com um alto grau de profissionalismo por parte dos trabalhadores do setor. Devido ao elevado número de elementos intangíveis, e durante o encontro do cliente com a organização (...) por meio do pessoal de contato, quando o provedor do serviço deve demonstrar sua habilidade para satisfazer o consumidor.

23

Portanto, a formação de qualidade em todos os níveis do estudo do turismo é

indispensável para se obter profissionais flexíveis, que sejam capazes de satisfazer

as necessidades dos clientes e as da própria indústria turística, sentindo-se, ao

mesmo tempo, motivados e envolvidos na organização da qual fazem parte.

Levando-se em consideração as características do produto turístico como, por

exemplo, a sua intangibilidade, ou o fato de ser inseparável e heterogêneo, a

complexidade que envolve toda a ação humana e a importância que têm para

empresas de serviços, as pessoas que formam seu mercado, que por sinal deve ser

entendido em um sentido muito amplo, estabelece-se um sistema interativo de

participação entre todos os agentes vinculados, com o propósito de orientar toda a

sua atuação à satisfação do cliente.

Assim conclui-se que um profissional, não apenas em turismo, mas em qualquer

área deve estar preparado para resolver os problemas que virão pela frente. Esta

pessoa deve estar apta a atuar em qualquer área do grande leque de oportunidades

que o segmento turístico proporciona, e ainda deve ser levado em consideração que

o turismo mexe com as emoções e com os sonhos das pessoas e, portanto deve

partir também da emoção do profissional.

2.5 IMPACTOS POSITIVOS CAUSADOS PELA PRÁTICA DO TURISMO

O turismo, sob a ótica de um fenômeno econômico, social e cultural, é uma atividade

capaz de proporcionar diversos benefícios aos núcleos receptores e comunidades

locais. Um aspecto importante dos efeitos positivos do turismo é a geração de

empregos, que podem ser diretos ou indiretos:

Os empregos gerados pelo turismo podem ser vistos como diretos, isto é, os que colocam o empregado frente a frente com o turista, como é o caso de hotéis, restaurantes, agências de viagem, entre outros. Já os empregos indiretos são os que não aparecem de forma explícita, mas estão igualmente contribuindo para o funcionamento da indústria do turismo; como exemplo, temos os fornecedores de alimentação, os serviços de lavanderia, a construção de aviões, entre outros (DIAS E AGUIAR, 2002, p. 162).

24

Nota-se então que os impactos econômicos do crescimento do turismo em relação

ao número de empregos são importantíssimos para a economia. Com isto os

empregos começam a crescer e consequentemente acontece o giro do efeito

multiplicador do turismo

Além disso, o turismo parece ser mais eficiente do que outras indústrias para gerar emprego e renda nas regiões menos desenvolvidas, (...). Na verdade, é nessas áreas que o turismo pode ter o seu impacto mais significativo. Em tais lugares a grande parte da população vive da agricultura e da subsistência ou são pescadores, e quando se envolvem na indústria do turismo sua renda familiar sofre um acréscimo bastante grande em termos relativos. (...). Na verdade, a introdução de uma indústria do turismo (...) pode ter um efeito proporcionalmente muito maior sobre o bem-estar da população residente do que o resultante da mesma quantidade de turismo em partes mais desenvolvidas do país (ARCHER E COOPER in THEOBALD, 2002, p. 85)

A circulação e a recirculação de divisas em um município receptor provocam

impactos econômicos indiretos, caracterizando o já citado efeito multiplicador do

turismo. Beni (2000, p. 269) explica que “este efeito não é uma exclusividade do

turismo, mas aparece também em outros setores da economia”.

A OMT (2001, p. 201) explica que:

Os defensores da atividade turística argumentam que o turismo não só contribui com divisas, como, também suaviza o problema do desemprego e, a longo prazo, pode fornecer um substituto das exportações tradicionais, cujo futuro é mais inseguro que o do turismo.

A Organização Mundial de Turismo salienta ainda que se pode “considerar o turismo

como uma atividade de exportação invisível de bens e serviços, por parte dos países

receptores de turistas e viajantes” (OMT, 2001, p. 201), e tudo isso com a diferença

de que esses turistas consomem bens e serviços no próprio país receptor, ou seja, o

turismo nacional poderia ser considerado uma exportação entre todas as regiões do

país.

Outro ponto relevante dos impactos positivos que o turismo proporciona, é o impacto

político, já que “o turismo interno (...) pode agir como uma força integradora que

fortalece o sentimento nacional. A população das áreas distantes é tradicionalmente

mais preocupada com as questões locais das aldeias (...)”, e isto facilita tanto o

25

entendimento de que aquele local deve ser preservado, quanto à exaltação do

orgulho da herança nacional (ARCHER E COOPER in THEOBALD, 2002, p. 91).

A circulação de pessoas em âmbito nacional colabora para que haja da parte do

turista o orgulho do seu país das belezas que ele possui. Além disso, também faz

com que estes turistas entendam o quanto é importante que este local seja

preservado. É válido salientar que o orgulho, contribui para que o compromisso com

a preservação exista.

E quando se trata de viagens internacionais, o turista entende que muitas vezes as

belezas vistas pela televisão, nem sempre são tão reais assim, e que é necessário

um comprometimento da parte de governantes civis e até mesmo de turistas, para

que aquela realidade seja melhorada, e que sejam melhoradas também as

condições de vida daquela população.

Quando se fala em impactos positivos do turismo, deve-se pensar também nos

impactos causados ao meio ambiente, já que, a indústria turística pode colaborar

com a preservação por meio de contribuições financeiras, pela melhoria do

planejamento e gerenciamento ambiental. Isto pode ser feito ainda através da

conscientização ambiental, da geração de empregos e também do estabelecimento

de limites para a visitação.

O turismo tem um potencial de criar efeitos benéficos ao meio ambiente,

contribuindo para a proteção e conservação. É um caminho para o crescimento da

consciência dos valores ambientais e pode servir como ferramenta para financiar a

proteção das áreas naturais (DIAS, 2003, p.87).

O turismo pode contribuir significativamente para a proteção ambiental, conservação e restauração da diversidade biológica e do uso sustentável dos recursos naturais. Devido à atração que exercem, os locais naturais são considerados de valor inestimável para o turismo, e a necessidade de mantê-los preservados, pode levar a criação de Unidades de Conservação e de outras áreas de preservação ambiental, nos vários níveis de organização do estado – municipal, estadual e federal (DIAS, 2003, p.99).

26

Para Dias, um bom exemplo é o caso do material de divulgação de Bertioga – SP,

onde 85% do seu território é protegido, e acabou se tornando um forte atrativo

turístico, e completa a principal atividade turística do município que é o sol e o mar.

Tratando-se de impactos ambientais, Ruschmann (2004, p. 22) explica que:

Os ambientes naturais conservados ganham força no contexto turístico internacional, no qual a concorrência é intensa, e constituirão a grande força mercadológica para os turistas das décadas de 1990 e 2000, cada vez mais sensíveis diante dos acidentes naturais e políticos do planeta.

Além de fazer bem à natureza que serve de fonte para o turismo, os impactos

ambientais positivos ainda ajudam no marketing, tanto do local preservado quanto

do país onde este ambiente se encontra.

O turismo é muito importante quando se trata de preservação de espécies, pois

propiciou que um grande número de pessoas passasse a apreciar animais silvestres

em seus ambientes naturais, que acabam deixando recursos suficientes para que

essas áreas sejam protegidas.

O turismo sustentável, do ponto de vista do meio ambiente, demonstra a importância dos recursos naturais (...), e pode ajudar a preservá-lo; o turismo sustentável monitora, assessora e administra os impactos do turismo, desenvolvendo métodos confiáveis de obtenção de respostas e opondo-se a qualquer efeito negativo (SEABRA apud Gonçalves, 2006).

Analisando este contexto, percebe-se que uma série de variáveis devem ser levadas

em consideração sempre que se quiser implantar o turismo em um local ou que se

pensar em avaliar os impactos causados por ele. Nunca deve ser deixada de lado

qualquer possibilidade de impacto positivo, desde que este não cause os impactos

negativos e assim não destruam o potencial que é a base da sua subsistência.

2.6 IMPACTOS NEGATIVOS CAUSADOS PELA IMPLANTAÇÃO E PRÁTICA DO

TURISMO

O turismo pode causar impactos positivos para a região onde se desenvolve, porém,

quando é feito sem a participação de profissionais responsáveis e capacitados, para

que os cuidados, principalmente com o meio ambiente, preservação da cultura local

27

e envolvimento da comunidade, sejam tomados, o turismo pode se tornar um grande

vilão para a localidade onde está sendo implantado.

Percebe-se então que a atividade turística é também geradora de impactos

negativos, quer sejam ambientais, sociais ou culturais. E reduzir esses impactos é

garantir o desenvolvimento sustentado do turismo conservando o patrimônio cultural

e natural da região. Assim, Dias (2003, p. 67) explica que “o desenvolvimento da

atividade turística sem um planejamento adequado, envolvendo profissionais das

mais diversas áreas, gera uma degradação no meio ambiente”.

Dias explica ainda que podem existir muitos impactos negativos do turismo no meio

ambiente e que

esses impactos surgem, por exemplo, no desenvolvimento da infra-estrutura para o turismo, num incorreto manejo dos resíduos gerados pela atividade, nas cicatrizes da paisagem geradas pelo crescimento da infra-estrutura nas áreas naturais e pelo volume de visitantes que afeta os ecossistemas mais

frágeis (DIAS apud GONÇALVES, 2006, p.1).

Antes de se pensar em implantação turística deve-se levar em consideração todos

os possíveis impactos, tanto negativos, quanto positivos, e medir assim a viabilidade

do empreendimento, visando não apenas os lucros mas principalmente a

preservação do local.

Ruschmann (apud Gonçalves, 2006, p.1) aponta o grave problema de que muitas

vezes “valorizam-se excessivamente os impactos positivos ou benefícios da

atividade, deixando de lado as conseqüências indesejáveis e o custo”. Assim,

percebe-se a importância da implantação turística visando à preservação e a

minimização dos impactos negativos causados por ele.

Reinaldo Dias, em seu livro Turismo Sustentável e Meio Ambiente explica que

o turismo foi durante muito tempo considerado uma atividade econômica limpa, não poluente, geradora de amplo leque de oportunidades e de empresas que não lançam fumaça na atmosfera, como as fábricas características da Revolução Industrial. (DIAS, 2003, p. 72)

28

Mas o que tem se tornado cada vez mais óbvio é que o turismo também polui. A

prática do turismo pode causar destruição tanto quanto as fábricas que todos os dias

jogam na natureza poluentes de todos os tipos.

O turismo pode gerar poluição através do lixo deixado pelos turistas, da poluição

sonora, da água, a destruição da fauna e da flora, entre muitos outros. O segmento

turístico envolve muitas pessoas de diversas culturas diferentes, o que torna difícil a

conscientização de que enquanto houver a conservação, haverá o produto turístico.

Um outro ponto negativo que não pode ser esquecido é a especulação imobiliária,

que vem junto com o crescimento do turismo:

Gradualmente os nativos com menor poder aquisitivo, passam a vender o terreno que lhes pertence, alguns até parte de sua casa, buscando poder oferecer uma melhor condição ao visitante que se hospeda na sua residência e, com isso melhorar a sua renda. (...) Todos querem melhorar a renda familiar no sentido de poder comer melhor, morar decentemente, vestir-se bem, passear, enfim, ter uma vida mais digna consumindo os bens que a modernidade lhes proporciona. Infelizmente vários moradores que venderam sua propriedade, não tiveram condições de implementar o novo projeto e acabaram se mudando da comunidade ou procurando área periféricas à vila, o que ocorre, geralmente, em função da especulação imobiliária, à semelhança de processos ocorridos em outros lugares apropriados pelo turismo (FONTELES, 2004, p. 161).

Este trecho foi retirado do livro Turismo e Impactos Sócio-ambientais de José Osmar

Fonteles, fonte do estudo de caso sobre o crescimento turístico de Jericoacoara no

estado do Ceará que será apresentado no próximo capítulo desta abordagem. Com

esta citação o autor explica que os nativos se desfazem de suas propriedades na

vila, vendendo-as para turistas que a destroem para construir a sua casa de

temporada, o que acaba alterando a fisionomia do local, e ainda, gera a expansão

da periferia.

A especulação imobiliária traz consigo também a entrada de muitas pessoas que

não são nativos daquele local, e muitas vezes por receberem terras como herança,

constroem casas, normalmente apenas para temporadas, e passam a se considerar

nativos. O que faz com que a maior parte da população de uma localidade em

expansão turística já não seja mais de nativos, pois estes acabam perdendo seu

espaço para o desenvolvimento.

29

Os efeitos políticos também têm relevante importância no cenário turístico, pois “as

viagens entre países desenvolvidos e em desenvolvimento estão aumentando

anualmente e põem em contato direto povos de origens muito diferentes e com

estilos de vida e níveis de renda muito contrastantes”, e estas diferenças são muito

grandes, o que pode trazer graves conseqüências políticas e socioculturais

(ARCHER E COOPER in THEOBALD, 2002, p. 90).

Apesar de em alguns pontos como os citados no item 1.5, nem sempre mesclar

povos é benéfico, podendo em alguns casos gerar tensões culturais, sociais e

morais. Propiciar a mistura de pessoas de diferentes regiões de um país, “por um

lado pode resultar numa compreensão melhor do modo de vida de vários grupos

distintos e numa avaliação mais correta dos problemas particulares e regiões

específicas, mas por outro lado podem gerar mal-entendidos e até mesmo

desconfiança” (ARCHER E COOPER in THEOBALD, 2002, p. 90).

Em uma avaliação geral dos impactos negativos do turismo, entende-se que o

turismo é um segmento muito importante tanto para a economia, quanto para a

geração de empregos, questões sociais, culturais e até mesmo ambientais. Porém,

não se pode deixar de considerar os perigos que o turismo apresenta. Não se pode

esquecer que se o planejamento turístico não for executado de uma forma

extremamente responsável e muito bem feita, onde se deve analisar cada

possibilidade, tanto boa quanto ruim, os impactos negativos podem ser muito

grandes e muitas vezes irreversíveis.

No decorrer deste capítulo foram abordadas diversas conceituações de turismo,

onde diversos autores expuseram suas opiniões, e percebeu-se inclusive que

existem muitos pontos onde não há concordância entre estes autores, o que

colaborou para um melhor embasamento com a utilização de opiniões diferentes.

Estudou-se também as conceituações de planejamento assim como o processo

histórico de desenvolvimento tanto do turismo, quanto do planejamento no Brasil e

no mundo.

30

Buscou-se destacar também, a importância da utilização do profissional de turismo

em todo o processo de planejamento, além de suas funções e obrigatoriedades. E

para finalizar, foram apresentados os impactos positivos e negativos do turismo,

assim como suas causas, boas ou ruins e suas vantagens. O próximo capítulo

apresentará dois estudos de caso ressaltando a forma de implantação e prática do

turismo no município de Jericoacoara – CE e Bonito – MS, buscando evidenciar na

prática, todos os pontos abordados até o presente momento ao longo desta

explanação.

3 APRESENTAÇÃO DOS ESTUDO DE CASO: IMPLANTAÇÃO DO TURISMO EM

JERICOACOARA–CE E EM BONITO–MS

Neste capítulo serão apresentados estudos de casos de localidades, onde apesar de

o planejamento turístico ter sido implantado, foi feito tardiamente. Em um dos

estudos de casos, será possível notar que o planejamento foi utilizado na fase inicial

do desenvolvimento da atividade turística e por isso os resultados obtidos foram bem

melhores que no segundo caso, onde os processos de planejamento foram inseridos

mais tarde.

31

Pretende-se com as informações apresentadas neste capítulo demonstrar casos de

localidades onde o turismo se desenvolveu rápido demais e os danos que isto

causou aos atrativos naturais e comunidade local. Será enfatizado também o fato de

estas comunidades terem conseguido dar a volta por cima, estruturando ainda que

tardiamente o turismo e fazendo dele uma fonte de renda.

Aqui serão apresentados dois estudos de caso de regiões diferentes do Brasil. O

primeiro dele é o estudo de Jericoacoara, no estado do Ceará onde o turismo se

iniciou por acaso, e assim como em Bonito, não havia estrutura para o recebimento

destes turistas, criando-se um impasse com a população autóctone, que poderia ter

custado o futuro deste paraíso. O segundo caso é o de Bonito no Mato Grosso do

Sul, onde o turismo teve um crescimento muito acelerado e causou sérios danos ao

local, ameaçando inclusive a continuidade do segmento turístico na região.

O objetivo principal deste estudo como um todo, é demonstrar a importância do

planejamento turístico para o desenvolvimento sustentável da atividade, assim como

a importância de uma equipe especializada no processo de planejamento, o que

será demonstrado a partir de relatos sobre a implantação do planejamento turístico

nos municípios de Bonito e Jericoacoara, e as conseqüências desse processo no

resultado final da atividade.

3.1 IMPACTOS DO TURISMO EM JERICOACOARA – CE

A autora Deise Maria Fernandes Bezzerra, em seu livro Planejamento e Gestão em

Turismo, coloca em pauta o processo de planejamento no município de

Jericoacoara, no estado do Ceará. O município na época em que o turismo começou

a se desenvolver era ainda uma comunidade de Jijoca – CE. O município abriga um

dos lugares de maior beleza em termos de paisagem natural do Brasil, e tem um

fluxo intenso de turistas na praia de Jericoacoara. A comunidade começou no início

dos anos 80 a receber turistas, e em pouco tempo, se tornou conhecida

mundialmente, despertando assim o interesse do poder público e da iniciativa

privada.

32

No início os acessos eram feitos através dos municípios de Jijoca ou por Camocim.

Quem optava por Jijoca, tinha que enfrentar uma caminhada de mais de 2 horas, já

que não havia carros para fazer o transporte.

Apoiados por turistas e um vereador, a comunidade resolveu transformar o local em

APA5 – Área de Proteção Ambiental, após uma campanha cujo slogan era: Salve

esta Praia. O ambientalismo que nesta época já ocupava um espaço significativo na

opinião mundial, já contagiava também o Brasil.

Em pouco tempo os resultados começaram a aparecer, como quando um decreto-lei

declarou a região como uma área de utilidade pública, para fins de desapropriação e

preservação paisagística. E em 1984, uma UC6 – Unidade de Conservação foi criada

por um decreto federal que tinha a extensão de 5.430 hectares, 23 km de praia e

seu objetivo era preservar as praias, mangues e restingas; as dunas; formações

geológicas de grande potencial paisagístico e científico; as espécies vegetais e

animais, principalmente quelônios marinhos; e as aves de rapina e praieiras. Além

disso, a APA de Jericoacoara foi a primeira reserva ecológica de praia, reconhecida

por Decreto Federal no Brasil.

A comunidade de pescadores passou a ser vista como um verdadeiro paraíso. Uma

revista de circulação nacional em 1984 publicou uma matéria onde os aspectos

naturais e a forma de vida de seus habitantes eram enaltecidos. Com isso, os

especuladores começaram a se interessar por Jericoacoara, invadindo a área e

comprometendo o equilíbrio ecológico, cultural, social e sanitário. A população foi

descartada da política de gerenciamento, mesmo sendo um dos principais agentes

interessados.

A UC não foi criada para se tornar um empecilho ao desenvolvimento da região, mas

sim como um instrumento de crescimento por meio do turismo. Entretanto,

questionamentos e conflitos foram inevitáveis:

5 APA – Área de Proteção Ambiental. De interesse do Turismo de Natureza (BRAGA, 2003, p.25). 6 UC – Unidades de conservação são porções delimitadas do território nacional, especialmente protegidas por lei, pois contém elementos naturais de importância ecológica ou ambiental (MENDEL JÚNIOR et. al. 2006, p.01)

33

Preservação ou turismo eis a questão. A maior atração de Jericoacoara está na preservação ambiental. É por esse motivo que atrai turistas, gerando a ambição de nativos e de pessoas de fora para explorar a florescente comercialização de hospedagem, alimentos e produtos da terra, o que paradoxalmente contribuirá para a descaracterização dos costumes e modus vivendi da população, que ainda encanta visitantes, não obstante os cientistas já haverem observado a degenerescência desse contatos social díspar (O POVO apud FONTELES, 2003, p. 145). (...) Estão acabando com Jericoacoara. Jericoacoara é a primeira praia cujo patrimônio ambiental foi preservado por leis municipal, estadual e federal. Essa providencia paradoxal e ironicamente, vem contribuindo dentre outros muitos aspectos para aumentar o fluxo turístico (...) Antes da criação da APA não se falava nesse fluxo de turismo, nesse turismo dentro da área, na região de Jericoacoara (...) Eu acho que a APA de Jericoacoara não foi criada exatamente para preservar (...) e a idéia inicial não era uma Área de Proteção Ambiental. Era um Parque Nacional (CARVALHO JÚNIOR apud FONTELES, 2004, p. 146).

Estas informações divulgadas pela imprensa e também o depoimento do ex-

presidente do Conselho Comunitário, José Augusto de Carvalho Júnior, reforçam a

hipótese da APA como atração turística, o que se contrapõe aos objetivos das UCs:

Pertencendo ao município de Acaraú, Jericoacoara passaria a jurisdição de Cruz que estava em processo de emancipação. Assim como esta área fazia parte do projeto político-econômico dos administradores do município, a criação da APA ou outro tipo de UC seria uma solução definitiva para o problema. A população motivada pela possibilidade de melhorar o seu nível de renda, comprou a idéia da preservação e abraçou a campanha, embora alguns moradores desconfiassem e temessem o desfecho do movimento (FONTELES, 2004, p.146)

Assim, diversos empreendimentos foram montados no município para atender a

demanda turística. Entretanto a exploração do turismo pelo poder público e pela

iniciativa privada era feita sem a devida preocupação com o meio ambiente e com a

cultura local.

Em 1987, equipes de televisão de vários países registraram imagens de

Jericoacoara, considerada como um santuário ecológico. Além disso, uma

reportagem exibida pela Rede Globo, remeteu milhares de pessoas àquela vila, sem

que a população estivesse preparada para recebê-los, não havia infra-estrutura.

Segundo Bezerra, (2003, p.148), era notável ao observar a população nativa que ao

menos parte dela sentia-se incomodada com a presença dos turistas. Além disso,

parte dos ecossistemas foram alterados e não havia respaldo político para minimizar

estes efeitos que ainda poderão se agravar.

34

3.1.1 Alteração do Cotidiano dos Moradores Nativos

O marketing em torno de Jericoacoara ocasionou um aumento de turistas nacionais

e internacionais, que eram incompatíveis com a capacidade do local. Isso trouxe

problemas para os ecossistemas e criou um turismo desordenado e começou a

comprometer a qualidade de vida dos autóctones.

Quando os problemas começaram a surgir por causa do crescimento acelerado do

turismo, os moradores começaram a se dar conta que a realidade começou a se

modificar e a comunidade não acompanhou esta evolução. Com isto os nativos

começaram a se preocupar com a situação que ajudaram a criar, as proibições

fizeram com que as pessoas se dessem conta de que não era aquele tipo de projeto

que queriam para a sua comunidade.

Com a inserção do turismo na comunidade de Jericoacoara, os moradores passaram

a vivenciar outras formas de vida e, adquirir outros conhecimentos, constituíndo-se

assim outras relações sociais, culturais, econômicas e políticas.

Esta mudança tem trazido outros problemas para a população local, como a

especulação imobiliária, o aumento do consumo de drogas e da prostituição, assim

como a descaracterização cultural e arquitetônica e a degradação ambiental.

Outro fato importante é o de que a comunidade não tem sido orientada de forma

adequada para enfrentar esta realidade e acaba se decepcionado ao perceber que

toda aquela mudança, não é aquilo que sonhou, como é o caso de um morador em

entrevista para o Jornal O Povo em 13 de novembro de 1987:

Vocês da cidade não querem que venha energia elétrica, que se construam casas confortáveis, restaurantes e coisas assim em Jericoacoara porque vêm aqui só para “brincar de primitivismo” no fim de semana, voltando para os seus confortos logo depois (FONTELES, 2004, p. 152).

Desde então, segundo o presidente José Augusto de Carvalho Júnior do conselho

em 1989, a chegada do turista na cidade acarretou “uma ruptura brusca da cultura,

ou um inchaço da modernidade”. As casas viraram hospedarias, e em muitos casos

35

fora dos padrões arquitetônicos determinados pela Unidade de Conservação, a

população é obrigada a conviver com a poluição sonora proveniente de geradores

de energia, entre muitos outros problemas, que são resultado deste crescimento

desordenado (FONTELES, 2004, p. 152),

3.1.2 Alterações nas Formas de Trabalho

Quando se trata de geração de empregos e renda, o turismo é visto como uma

alternativa para a comunidade. Com a demanda dos empregos, os nativos se

sentiram economicamente fortalecidos.

Mulheres agora não são mais apenas donas de casa, trabalham nas pousadas,

como rendeiras ou até mesmo fabricando e vendendo doces na beira da praia, onde

há um maior fluxo de turista. As crianças também trabalham como vendedores

ambulantes ou como guias de turismo. Os empregos para os jovens também

aumentaram, mas as funções que exigem maior especialização são ocupadas por

pessoas de fora, como por exemplo, a gerência de hotéis e pousadas. Isto tudo se

deve à falta de profissionalização dos nativos e também pela sua baixa

escolaridade. Assim, os moradores acabam ficando de fora da maior fatia deste

negócio.

As relações de trabalho são informais, e o poder público era conivente com esta

prática, uma vez que não criou mecanismos de fiscalização. Este fato deixa os

trabalhadores desprovidos de seus direitos trabalhistas, inclusive quando são

demitidos. Este fato ocorre em quase todas as pousadas da região com raras

exceções.

3.1.3 A Questão Cultural

No aspecto cultural as mudanças foram demasiadamente bruscas. Muitas pessoas

entenderam que não poderiam perder a oportunidade de investir no turismo,

adaptando-se à nova realidade. Outras, por não entenderem exatamente do que se

36

tratava, fecharam as portas para o turismo, inclusive impedindo a entrada de turistas

nas suas propriedades. Porém, com tempo e devido às mudanças que foram

acontecendo, estas pessoas foram se inserindo na atividade turística como

proprietários ou como empregados.

O turismo abriu muitas janelas do ponto de vista cultural, social e político. Assim

como os nativos se confrontaram com outros hábitos e acabaram por adquiri-los,

também incorporaram novas referências aos costumes de seus visitantes.

Há dois aspetos importantes que Fonteles (2004, p. 160) cita com relação à mistura

da cultura:

A respeito dos garotos que esquiavam na duna. Antes o “skibunda” era praticado com talo de coqueiro e servia apenas para o lazer local. Hoje feito com outros materiais, serve também para atrair e entreter o turista. Outro fato interessante é o de que a parteira fazia o seu trabalho na residência das parturientes. Após conhecer uma médica, as duas aliaram o saber letrado e o saber popular e hoje fazem os partos juntas no Centro de Saúde da Comunidade.

Ou seja, na disputa pelo controle dos espaços – territorial e social –, os

jericoacoarenses conseguiram obter mais representatividade junto ao poder político

institucionalizado e junto às entidades associativas. Pois, os nativos têm acesso a

algumas novas práticas introduzidas na comunidade pelo turismo, como ao lazer e

até mesmo às novas experiências econômicas e políticas.

3.1.4 Especulação Imobiliária e Uso de Drogas em Jericoacoara

Depois de todas essas modificações existem ainda outros problemas que se

desencadearam com o crescimento acelerado e desordenado do turismo em

Jericoacoara, como por exemplo, a especulação imobiliária. Ocorreu que aos poucos

os nativos com menor poder aquisitivo, começaram a vender os seus terrenos e

alguns até parte das suas residências para com isso melhorarem sua renda

buscando oferecer uma melhor condição aos visitantes que se hospedam em suas

residências.

Além disso, muitos moradores ao vender parte de suas residências ou terrenos

buscando uma renda melhor acabam não conseguindo investir o suficiente no novo

37

empreendimento e precisaram ir embora da comunidade ou tendo que procurar as

regiões periféricas, o que ocorre em razão da especulação imobiliária, semelhante

por sinal, a outros casos que ocorrem em localidades que implantaram o turismo

sem um planejamento prévio e acabavam prejudicando a população que depende

muitas vezes dos imóveis que possuem.

Entretanto, há um problema ainda mais grave que ocorreu em conseqüência do

crescimento acelerado e desordenado no município de Jericoacoara, que foi o uso

de drogas que tomou uma dimensão assustadora. Este dado foi constatado por meio

de observações e entrevistas como moradores nativos e adventícios. E ainda existe

no município uma planta nativa denominada datura stramonium, conhecida por

todas como “zabumba”, uma espécie de papoula que tem efeito alucinógeno.

Segundo Fonteles, (2004, p. 172)

O uso da zabumba como droga foi admitida pelos nativos com a entrada do turismo. Antes os moradores, temendo o alto teor de veneno existente na planta, não a utilizavam como alucinógeno. Os turistas e adventícios estimularam os nativos a tomarem o chá (...). Era comum o consumo da bebida em rodas de jogos de “porrinha”. Utilizada ou não antes do turismo, sabe-se que a zabumba faz parte do cotidiano dos moradores de Jericoacoara com alucinógeno. Muitos nativos já experimentaram o chá e dizem sentir-se como se estivessem “voando como um passarinho”. Um deles, no seu “vôo”, entrou no mar e morreu afogado.

Apesar do que foi descrito, o consumo da planta tem diminuído, pois, tanto

traficantes quanto usuários passaram a dar preferência à maconha, cocaína e ao

crack. Bezzerra explica que o problema das drogas tem ganhado as páginas de

jornais de circulação estadual e envolvendo autoridades, turistas, população

tradicional e adventícia.

3.1.5 Gerenciamento da Unidade de Conservação

A Unidade de Conservação de Jericoacoara é gerenciada pelo IBAMA7, a

SEMACE8, e a Prefeitura Municipal, que representam a sociedade política em

7 IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. 8 SEMACE - Superintendência Estadual do Meio Ambiente.

38

âmbitos federal, estadual e municipal. Já a sociedade civil tem como representante o

Conselho Comunitário, que é formado por moradores nativos e outras entidades.

Estes órgãos juntamente com alguns representantes da comunidade começaram a

demonstrar preocupação com a autodestruição da comunidade por conta do turismo

predatório.

A paisagem de valor cênico, ecológico e cultural aos poucos tem se deteriorado. E

ainda os meios de subsistência da comunidade, apropriada por alguns

especuladores, vêm provocando a perda da identidade cultural e da base econômica

dos nativos.

No ano de 1987, foi encaminhado pela Procuradoria Geral da República uma Ação

Civil Pública à Justiça Federal, que solicitava o cumprimento do Decreto lei de

criação da APA. A ação civil solicitou a demolição de construções indevidas, a

restauração das que foram edificadas fora dos padrões arquitetônicos do local e a

suspensão imediata da pesca predatória.

A SEMACE no final de 1988 anunciou uma medida de impacto visando:

Proteger a vida silvestre, a manutenção de bancos genéticos e espécies raras dos animais e vegetais, praias, dunas, bem como os demais recursos naturais e possibilitar às comunidades locais suas atividades, dentro dos padrões culturais estabelecidos historicamente. Dentre as medidas anunciadas, destacam-se as seguintes: controle da área pelo Conselho Comunitário e pela SEMACE; não será permitida a instalação de indústrias potencialmente poluidoras; proibido o uso de qualquer veículo automotor em toda a extensão da praia, sendo permitido apenas o tráfego de cargas ou pessoas doentes; não será permitida a instalação de camping; a compra e venda de imóveis só será permitida com o aval da prefeitura municipal; proibida a retirada de areia ou qualquer outro material que prejudique os ecossistemas. Para a implantação de qualquer projeto de infra-estrutura turística na área, deverá ser feito um estudo e submetido à apreciação da SEMA9, da Prefeitura Municipal e da SEMACE, exigindo-se o RIMA10. Não será permitida a construção de edifícios, e todas as residências ou estabelecimentos comerciais terão fossa séptica; a criação de animais domésticos deverá ser distante da praia; não será permitida a instalação de rede elétrica de alta tensão, sendo preferida a implantação do sistema subterrâneo, devendo o projeto ser submetido à SEMACE (O POVO, apud FONTELES, 2004, p. 176)

9 SEMA – Secretaria do Estado de Meio Ambiente. 10 RIMA – Relatório de Impacto Ambiental.

39

Exceto pela instalação da rede elétrica, a SEMACE não conseguiu cumprir aquilo

que prometeu, e o IBAMA e os especuladores têm o maior controle sobre a área. E

embora não existissem indústrias em Jericoacoara, contava-se mais de 40

geradores de energia que poluíam sonoramente a maior parte da vila, e foram aos

poucos desativados após a instalação da energia elétrica.

Veículos automotores transitam livremente por toda a área, (...); terrenos são comercializados sem o aval da Prefeitura, (...); nas altas temporadas verifica-se o problema a presença de campings em espaços onde estão localizadas algumas pousadas; a retirada de material para construção também não foi sustada definitivamente; o estudo submetido à SEMA (hoje IBAMA), à SEMACE e à Prefeitura Municipal, com exigência do RIMA, também não é observado com rigor; existem várias edificações fora dos padrões arquitetônicos estabelecidos pelas Instruções Normativas, inclusive com relação à altura; não existem fossas sépticas em todas as edificações residenciais ou comerciais; por fim, animais andam soltos na vila e na praia (FONTELES, 2004, p. 176).

É difícil para a população que convive com todas estas contradições, acreditar que

os órgãos responsáveis pela administração do Parque consigam fazer uma

administração voltada para a preservação do meio ambiente.

Fonteles (2004, p. 177), ressalta que

muitas vezes o poder público que, a princípio deverias desempenhar o papel de protetor da natureza e defensor dos interesses da população, respaldado por um regime jurídico específico, acaba agindo de maneira contraditória nas suas ações cotidianas; e se os próprios governantes desconsideram a legislação referente à UC, como os empresários turísticos e parte da população _que não está preparada para conviver em uma área protegida_ iriam contribuir para que a comunidade não fosse descaracteriza?

Segundo o autor, observando ou conversando com a população não é difícil detectar

o nível de descontentamento com relação ao gerenciamento da área, explicitando o

conflito entre o poder público e a comunidade pelo controle do espaço social

(FONTELES, 2004, p. 178).

Fonteles explica que ao se encaminhar pelas ruas de Jericoacoara, não é difícil

encontrar lixo amontoado, animais soltos, Buggies andando em alta velocidade,

poluição sonora e uma série de problemas que precisam ser sanados em uma área

40

que era considerada um referencial do turismo ecológico e que é vendida enquanto

tal pelo marketing turístico (FONTELES, 2004, p. 178).

O autor questiona se este quadro já se refere à diminuição dos fluxos, mesmo nas

altas temporadas. E quanto a população nativa, o que terá que fazer para que o

turismo continue sendo uma alternativa de geração de emprego e renda, sem que

para isso sejam anuladas suas características, sua cultura e a sua identidade? Se

terá condições de interferir mais e melhor no gerenciamento do Parque, a fim de que

o turismo até certo ponto gestado por ela, não seja a causa da sua própria

destruição. Enfim, se é possível ainda desenvolver o turismo de forma que ele não

degrade os seus recursos naturais que são sensíveis e escassos, de uma forma

sustentável e preventiva.

3.2 A EVOLUÇÃO DE UM MODELO DE GESTÃO SUSTENTÁVEL PARA O

ECOTURISMO EM BONITO – MS

A autora Isa Ernani Mancini Cia no livro Planejamento e Gestão em Turismo, mostra

em um estudo de caso como foi o desenvolvimento do turismo no município de

Bonito, localizado no Estado do Mato Grosso do Sul, um município que está inserido

na entrada do Pantanal antes e depois da utilização do planejamento.

3.2.1 Os Recursos Naturais e a Reportagem

Bonito é reconhecido internacionalmente pelos seus recursos naturais, e também

pela utilização racional desses recursos. O município conseguiu implantar uma

administração adequada à exploração de recursos naturais. O sucesso deste projeto

é o resultado do trabalho conjunto de todos os segmentos representativos da

sociedade local.

O ecoturismo11 no município de Bonito começou a ser explorado aproximadamente

em 1988, quando poucas pessoas começaram a visitar a Ilha do Padre, a Gruta

11 Ecoturismo – Programas de atividade turística ligados ao meio ambiente, utilizando de forma adequada e sustentável o patrimônio natural e cultural (BRAGA, 2003, p. 97)

41

Lago Azul e ao Balneário municipal. Nesta época não havia controle da visitação e

nem cobrança de ingressos para as atrações, o que facilitava a entrada de qualquer

pessoa e possibilitava a degradação ambiental e a desorganização do turismo,

proporcionando ainda o turismo de massa.

No ano de 1992, reportagens na televisão sobre Bonito repercutiram nacional e

internacionalmente. Isto provocou um crescimento desproporcional em relação à

capacidade de atendimento ao turista, fato semelhante ao acontecido com

Jericoacoara, narrado no estudo de caso anterior.

Devido ao descontrole e à desorganização, cada setor envolvido na atividade

turística, fazia o que achava adequado. Então os resultados negativos do uso

excessivo, irresponsável e da degradação começaram a aparecer. Devido a estes

problemas autoridades e comunidade necessitaram de uma tomada de decisão para

resolver o problema e foi então que foram dados os primeiros passos para a

organização do turismo em Bonito.

3.2.2 Os Primeiros Passos para a Organização

No ano de 1993, o primeiro passo para uma organização do modelo de gestão do

município foi dado, quando o primeiro curso de guias de turismo regional com

especialização em atrativos naturais foi realizado por iniciativa da Embratur12, do

SENAC13 , do SEBRAE-MS14, da UFMS15, Prefeitura Municipal de Bonito e Governo

Estadual de Mato Grosso do Sul.

Nos anos subseqüentes alguns passos foram dados em prol do desenvolvimento do

turismo, que serão apresentados na tabela 1:

Tabela 1: Passos importantes dados pelo município de Bonito – MS, depois da implantação do planejamento turístico no município.

12 EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo. Órgão do Ministério dos Esportes e do Turismo (BRAGA, 2003, p. 99). 13 SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial .(BRAGA, 2003, p. 99). 14 SEBRAE-MS – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Mato Grosso do Sul. 15 UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

42

Ano Atividade Desenvolvida

1993 Foram criados os primeiros hotéis turísticos

1994 Realização do Seminário Estratégico de Turismo com as lideranças do SEBRAE-MS;

1994 A cidade associou-se ao PMNT (Programa Nacional de Municipalização do Turismo) do governo federal;

1995 São criadas as leis municipais preocupadas com a atividade turística;

1995 Lei 964/95 – proíbe a utilização de barco a motor;

1995 Lei 965/95 – cria o COMTUR – Conselho Municipal de Turismo e o FUTUR – Fundo de Turismo;

1995 Lei 689/95 – cria a obrigatoriedade de guias de turismo com formação profissional específica local.

Fonte: FONTELES, 2004, p. 179

A principal destas decisões foi a criação do COMTUR, que é o órgão responsável

por organizar e esquematizar e regulamentar a gestão que iria ser implantada no

município, normalizando e verificando o cumprimento das regras. Ele tem a função

de fiscalizar o turismo em todos os seus âmbitos.

Os recursos utilizados pelo COMTUR são provenientes do FUTUR, e são obtidos

com a receita gerada pela visitação da Gruta Lago Azul, que é uma das poucas

atrações que pertence ao poder público municipal, mas é certamente um dos

atrativos mais procurados do município. No ano de 2000 o fundo arrecadou cerca de

R$ 33.683,79 e esse dinheiro foi destinado conforme a figura.

Figura 1: Aplicações do COMTUR em 2000.

2%

55%

5%

15%

5%

18%

Administrativas

Divulgação

Equipamentos

Gruta

Formação

Profissional

Patrocínio

43

Fonte: BEZZERRA, 2003, p. 70

3.2.3 As Novas Regras

Para que um turista visite Bonito atualmente, ele deve obrigatoriamente se dirigir a

uma agência receptiva e adquirir o voucher16 de entrada para qualquer atrativo da

região. E através de um sistema on line, a secretaria de turismo pode saber se o

acesso aos atrativos está disponível ou não. Para todos os atrativos existem horários

e também capacidade limite de visitantes. Limites esses que foram estipulados de

acordo com estudos realizados por especialistas na área. Além disso, o turista é

cadastrado em um programa estatístico que indica o perfil da demanda, a

arrecadação, o número de visitantes, e outras informações pertinentes para melhoria

dos serviços, assim como a preservação do local.

Na agência o valor é pago e repassado para a prefeitura ou aos proprietários, já que

a maioria das atrações se encontra em propriedades privadas. Além disso, qualquer

passeio exige a presença de um guia local, inclusive para a mão-de-obra

especializada que ajuda na preservação ambiental fiscalizando as atividades dos

turistas e, ao mesmo tempo garantindo a segurança.

O produto turístico em Bonito tem um preço mais alto se comparado a outros

pacotes, por exemplo, o passeio na Gruta Lago Azul custa em torno de R$ 25,00 por

pessoa. Isto significa maior conforto para o turista e também para a população local,

já que esta medida controla a massificação do turismo. A razão do produto turístico

em Bonito ser tão cara, se deve ao fato do município possuir uma estrutura

organizada e com atendimento diferenciado, com a infra-estrutura necessária.

Apesar disto, este modelo de exploração vem sendo criticado, mas correto ou não

vem dando certo e sendo muito útil e eficaz. Enfim, este modelo de gestão tem

proporcionado resultados satisfatórios como, por exemplo, o aumento gradativo de

turistas (fig. 2). O que vai contra as teses de que este modelo prejudica o

crescimento do turismo.

16 VOUCHER – Comprovante correspondente a um valor prefixado para determinado serviço turístico (hospedagem, excursão, etc.), que a agência de viagem emite ao turista como meio de pagamento destes serviços em outra cidade.

44

Figura 2. Crescimento das visitas em atrativos turísticos.

R$ 8.000,00

R$ 50.000,00

R$

143.855,00

R$

186.092,00

Série1 1993 1995 1997 1999

Série2 R$ R$ R$ R$

1 2 3 4

Fonte: BEZZERRA, 2003, p. 70

3.2.4 O Início do Circuito Turístico de Sucesso

Outro ponto positivo foi o fato de que alguns municípios vizinhos também entraram

no circuito do ecoturismo, o que multiplicou a oferta turística na região, aumentando

assim a permanência do turista na região e consequentemente à geração de

recursos feita por ele.

Houve também o aumento considerável da arrecadação do Imposto Sobre Serviço -

ISS, entre os anos de 1995 e 2000 (fig. 3), o que beneficia tanto a população, quanto

os turistas, já que este recurso é utilizado para a melhoria da cidade, como por

exemplo: ampliação da rede de saúde, o saneamento de água e esgoto para 95%

da população, construção de uma central de reciclagem de lixo e compostagem de

lixo orgânico, a limpeza municipal, sinalização dos atrativos, a conservação das

estradas que levam aos atrativos e muitos ou outros benefícios.

Figura 3. Arrecadação do ISS do Município em R$.

45

R$ 3.457.039,00

R$ 11.434.858,00

R$ 19.439.711,00

R$ 22.160.209,00

R$ 27.698.181,00

R$ 35.769.302,00

Série1 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Série2 R$ R$ R$ R$ R$ R$

1 2 3 4 5 6

Fonte: BEZZERRA, 2003, p. 70

Entretanto, há também pontos negativos que o turismo traz consigo. Há a falta de

fiscalização de alguns setores devido à inexistência de uma regulamentação

específica na cidade. Por exemplo, por causa da demanda, os leitos de hotéis e as

agências de turismo têm aumentado desordenada e desproporcionalmente. E que é

um ponto negativo que pode ameaçar os atrativos do local, salientando que são

frágeis e podem desaparecer quando providencias não são tomadas.

Na figura 4 é possível verificar qual é o caminho que o dinheiro percorre em Bonito e

como ele é distribuído entre os responsáveis pelo turismo no município, para que

seja feita a destinação adequada.

Figura 4. Distribuição de recursos entre os responsáveis pelo turismo em Bonito.

46

Fonte: BEZZERRA, 2003, p. 70

Assim, existem várias questões que ainda devem ser discutidas e regulamentadas,

para que o município continue sendo um modelo. E isto inclui itens como o Plano

Diretor, o Código Municipal, um plano emergencial para a contenção do crescimento

sem planejamento, entre outras.

Outro ponto a ser revisado trata da questão do preço dos atrativos versus a

qualidade do serviço, estímulo a mais empreendimentos familiares, e entre muitos

outros a limitada capacidade empresarial e qualificação de mão-de-obra de alguns

cargos.

E será assim que o processo gestor irá se consolidar e que muitas idéias criadas

serão adaptadas à realidade, proporcionando ao homem a capacidade do homem

usufruir da natureza usando a sua inteligência para a preservação dos bens naturais

e da sociedade a sua volta.

4 ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO, DISCUSSÕES E PROPOSTAS

No quarto capítulo serão elaboradas as análises dos estudos de caso apresentados

anteriormente, assim como o desenvolvimento do turismo nos municípios de

Jericoacoara – CE e Bonito – MS.

47

Esta análise será feita através da verificação dos pontos fortes, pontos fracos, das

ameaças e das oportunidades para o desenvolvimento turístico dos municípios. O

objetivo de qualquer tipo de planejamento é potencializar ainda mais os pontos

fortes de determinado objeto de estudo; corrigir e minimizar os pontos fracos

identificados; aproveitar as oportunidades de mercado; e melhor ser preparar em

relação às ameaças macroambientais. Desta forma, pretende-se além de

simplesmente listar os pontos pertinentes ao diagnóstico, realizar uma análise

comparativa dos dois estudos de caso, onde serão verificados, por exemplo, pontos

positivos de um estudo de caso e que poderiam ser uma oportunidade para o outro.

Ainda neste capítulo serão apresentadas propostas e discussões, assim como

possíveis soluções para os problemas detectados nos estudos de caso.

E por fim será proposto aqui um modelo que planejamento, que poderá ser útil tanto

para os municípios em estudo, quanto para outras localidades que pretendem

usufruir dos inúmeros benefícios da atividade turística.

4.1 ANÁLISE DO MODELO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM

JERICOACOARA – CE

Neste momento será analisado o modelo de desenvolvimento turístico do município

de Jericoacoara – CE, onde o turismo se intensificou desordenadamente depois de

uma reportagem na televisão e o seu crescimento foi muito acelerado, causando

diversos problemas entre os turistas e a comunidade local, o que vem prejudicando

e que pode prejudicar ainda mais o futuro do turismo no município, como já foi

evidenciado no capítulo anterior.

Para melhor fundamentar essa análise, optou-se por dividi-la em quatro partes,

enfatizando separadamente os pontos fortes, pontos fracos, ameaças e

oportunidades do modelo de desenvolvimento turístico adotado pelo município de

Jericoacoara, conforme segue detalhadamente.

48

4.1.1 Pontos Fortes

Certamente o maior ponto forte de Jericoacoara17 são as beleza naturais (imagem

no anexo 1) e estruturas que o município possui. Dentre esses pontos pode-se citar

o farol que funciona à base de energia solar, e que talvez seja o melhor lugar para

se ver o nascer do sol em Jericoacoara, um verdadeiro espetáculo da natureza. A

Praia Malhada é um forte atrativo para pessoas que gostam de naturalismo, onde é

comum a prática do topless e até mesmo de nudismo.

Na praia de Jericoacoara encontram-se as mais diversas atrações. Entre elas estão

dunas de até 30 m de altura, recifes, o farol, a Pedra Furada entre outros. É dessa

praia que saem os passeios de bugue para outras atrações um pouco mais

distantes.

A Praia da Tajuba que tem uma vila de pescadores reconstruída, pois a original foi

engolida pelas dunas. E é uma boa opção para aqueles que querem conhecer a

cultura local. Já a Praia do Preá é reta, com areia fofa e águas azuis, e muito

procurada pelos surfistas.

Enquanto o Farol é o ponto ideal para se ver o nascer do sol, a Duna do pôr-do-sol,

como já diz o próprio nome, é o lugar perfeito para assistir ao crepúsculo.

A Lagoa da Jijoca, também conhecida por Lagoa Azul ou do Paraíso, é muito

procurada para prática de Windsurf18 e vela e fica a apenas 5 km de Jericoacoara.

Ainda pode-se citar o Mangue Seco, que tem como principal atrativo as dunas. Para

chegar até lá se pode ir a pé, a cavalo ou de bugue.

A noite em Jericoacoara é regada de muito forró e ritmos regionais. É possível

encontrar bares para conversar e beber.

17 UOL Destino Aventura – Jericoacoara. Disponível em: http://webventureuol.uol.com.br/destinoaventura/index.php?destino=destino_mostra&mdireito=nao&id_destinos=31&pid= Acessado em: 11/10/2006 18 Windsurf: Manobra em que o velejador salta bem alto, sem soltar os pés das alças, gira a prancha 180º e vira a vela no ar, caindo com a prancha virada para o outro lado e com a vela pronta para sair planando. Fonte: Terra 360º . Disponível em: http://360graus.terra.com.br/windsurf/default.asp?did=2093&action=dica. Acesso em: 16/10/2006

49

Nada disso seria possível se Jericoacoara não tivesse um clima de acordo e em

Jericoacoara o sol brilha o ano inteiro, entretanto entre março e maio chove mais,

enchendo as lagoas. Quem quer praticar o windsurf, deve ir entre julho e novembro,

quando os ventos estão mais fortes. A temperatura pode chegar até 34ºC.

A vegetação dessa área conta com a presença de coqueirais, manguezais e

caatinga. Jericoacoara tem seu relevo caracterizado por planície litorânea e as

imensas dunas que estão sempre se movendo pela região. Possui formações

rochosas de formas curiosas como a Pedra Furada que é um dos atrativos mais

famosos da cidade.

A cultura também é muito forte, Jericoacoara conta com uma população de apenas 2

mil habitantes. Até 1985 era uma vila de pescadores ainda menor. Descoberta há

pouco tempo pelo turismo foi criada em 1984 a APA (Área de Proteção Ambiental), a

fim de preservar o patrimônio natural. Hoje, a principal atividade econômica é o

turismo, mas sempre realizado de maneira a preservar a região.

Outro ponto forte muito interessante identificado em Jericoacoara foi o envolvimento

e o empenho da comunidade em transformar o município em Área de Proteção

Ambiental - APA com o objetivo de preservar as belezas naturais do município. Além

disso, a APA de Jericoacoara foi a primeira reserva ecológica de praia reconhecida

por Decreto Federal no Brasil.

Com a chegada do turismo os moradores começaram a vivenciar e conhecer outras

culturas, o que proporcionou a eles novos conhecimentos e construiu-se outras

relações sociais, culturais, econômicas e políticas, o que é excelente para a

população, desde que para isso não tenham que mudar a sua forma de viver e não

acarrete outros tipos de problemas para a comunidade. E assim como os autóctones

se confrontam com outras culturas, também incorporam a sua aos seus visitantes.

É importante ressaltar como um ponto forte o fato de que os cidadãos de

Jericoacoara conquistaram uma representatividade significativa junto ao poder

público e as entidades associativas, e com isso, têm acesso às novas práticas

50

introduzidas pelo turismo na comunidade como o lazer e novas experiências

econômicas e políticas.

O fato de a população ter o Conselho Comunitário como representante no

gerenciamento da Unidade de Conservação, demonstra uma preocupação com o

problema da autodestruição da comunidade por causa do turismo predatório. E

ainda a instalação da energia elétrica que proporcionou a retirada de mais de 40

geradores de energia que poluíam sonoramente a maior parte da vila. Além disso,

no ano de 1987 foi determinado que se cumprisse um decreto lei que solicitou a

demolição de construções indevidas, a restauração das que foram edificadas fora

dos padrões arquitetônicos do local e ainda a suspensão imediata da pesca

predatória.

4.1.2 Pontos Fracos

Apesar dos tantos pontos fortes apresentados em relação ao modelo de

desenvolvimento turístico de Jericoacoara, o turismo se tornou um problema para a

comunidade local, e uma sucessão de pontos fracos que podem se tornar ameaças

para a comunidade foram detectados com relação ao desenvolvimento do turismo no

município e serão apresentados a seguir.

Segundo o estudo de caso apresentado no capítulo anterior era notável ao observar

a comunidade local que ao menos parte dela se sentia incomodada com a presença

de turistas. E isto pode acarretar problemas sérios como a falta de hospitalidade

para com os turistas, além da especulação imobiliária que será explicada mais

adiante, o aumento do consumo de drogas, e ainda causar atritos entre o turista e os

nativos e muitos outros problemas.

A incompatibilidade do número de turistas com a capacidade de carga do município

também causa problemas graves como a criação de um turismo desordenado e que

além de degradar muito mais os recursos naturais, ainda pode comprometer a

qualidade de vida dos autóctones.

51

Além disso, não existe uma orientação adequada para que a comunidade aprenda a

lidar com a situação, o que acaba decepcionando os moradores que não estavam

preparados para as mudanças que se iniciaram desde que o turismo começou a se

desenvolver no município.

Outro ponto fraco notável é o inchaço da modernidade e a ruptura brusca da cultura

local, já que casas viraram hospedarias e a comunidade passou a conviver com a

poluição sonora devido aos geradores de energia que existiam antes da instalação

da energia elétrica.

Apesar de ter havido um crescimento no mercado de trabalho para os jovens, estas

vagas eram para garçons, recepcionistas, entre outros, porém, as vagas que exigem

uma maior qualificação como a gerência de hotéis e pousadas acabam sendo

ocupadas por pessoas de fora. Isto se deve à baixa escolaridade e

consequentemente à falta de qualificação dos nativos. Este fato se agrava ao

considerar que os trabalhos são normalmente informais o que desobriga os

proprietários de apoiarem os trabalhadores deixando-os desprovidos de seus direitos

trabalhistas, inclusive quando são demitidos. Isto ocorre em praticamente todas as

pousadas e estabelecimentos da região com raras exceções.

A especulação imobiliária tem feito com que os nativos com menor poder aquisitivo

se desfaçam de suas residências, ou ainda na tentativa de proporcionar uma vida

melhor à família, vendem ou alugam parte de suas casas para pessoas de fora.

Sendo assim, muitas pessoas resolveram reformar suas residências, mas acabaram

não conseguindo manter financeiramente o seu projeto e tiveram que vender suas

moradias e se mudar para as áreas de periferia.

A descrença da comunidade com relação aos órgãos responsáveis pela

administração do parque é grande, pois devido a todas as contradições já

apresentadas, para a comunidade local fica difícil acreditar que se consiga fazer uma

administração voltada para a preservação do meio ambiente, como havia sido

proposto no início do desenvolvimento do turismo na região.

52

4.1.3 Ameaças

Entende-se como uma ameaça o fato de os especuladores imobiliários terem

começado a se interessar por Jericoacoara, e invadirem a sua área, já que este fato

compromete o equilíbrio ecológico, cultural, social e até mesmo sanitário, sem contar

que a população que é a maior e principal interessada foi descartada da política de

gerenciamento dos atrativos e recursos locais.

Tanto o poder público, quanto o privado montaram no município diversos

empreendimentos para atender à demanda turística, porém sem a devida

preocupação com o meio ambiente e com a cultura do local.

Uma reportagem de televisão exibida em diversos países no ano de 1987 sobre

Jericoacoara a considerou como um Santuário Ecológico, além disso, uma

Reportagem da Teve Globo remeteu milhares de turistas ao local, sem que

houvesse infra-estrutura ou que a população estivesse preparada para recebê-los. E

é visível atualmente o estrago causado por isso tudo, já que hoje a população e o

meio ambiente sofrem com os danos do turismo de massa no município. Neste

sentido ressalta-se a importância do marketing responsável, pois a divulgação de um

produto turístico sem o devido planejamento e capacidade de recepção desses

turistas pode gerar danos irreversíveis a estas localidades.

O próprio poder público não colaborou para a manutenção e preservação dos

ecossistemas já que boa parte dele foi alterado sem que houvesse respaldo político

para minimizar estes efeitos que podem ainda se agravar.

Quando os problemas com o crescimento acelerado começaram a surgir, os

moradores se deram conta de que não era aquele tipo de projeto que queriam, já

que a realidade começou a se modificar e a população não acompanhou estas

mudanças, e começaram a se preocupar com a situação que ajudaram a criar

quando começaram a vir as proibições.

A convivência com outras culturas ameaça a própria cultura do local, já que os

moradores começam assim a vivenciar outros costumes e a adquirir outros

53

conhecimentos, sendo incitados a buscar outras formas de vida. Porém, se

fundamentado num processo de planejamento e valorização da cultura local pelos

autóctones isto pode ser um ponto forte como já foi mencionado anteriormente.

Com o aumento do número de turistas cresceu também no local o consumo de

álcool e drogas, assim como a prostituição, e isso tudo é muito ruim para a

comunidade, já que pode manchar toda a beleza do local, e ainda causar a perda de

muitos turistas.

Além destes fatos, existe o problema da especulação imobiliária que já foi citado

como um ponto fraco, mas que se não for resolvido pode se tornar uma ameaça

para os nativos que possuem suas residências ainda no centro da cidade.

Outra tendência negativa da falta de planejamento em Jericoacoara é a

descaracterização cultural e arquitetônica, já que pessoas compram terrenos e

fazem construções fora do padrão do município. A paisagem cênica aos poucos foi

se deteriorando, e continua atualmente. Além disso, os meios de subsistência da

comunidade, da qual alguns especuladores se apropriaram provocou a perda

cultural e da base econômica dos nativos.

As mudanças no aspecto cultural foram demasiadamente bruscas já que muitas

pessoas entenderam que não poderiam deixar de aproveitar a oportunidade de

investir no turismo, adaptando-se à nova realidade, sem pensar naquilo que estavam

deixando para trás.

O conflito entre a comunidade e o poder público é visível em relação ao controle do

espaço social, o que ameaça o bom gerenciamento da área. Não é difícil encontrar

lixo espalhado pela cidade e animais soltos, isto a médio prazo pode acarretar

problemas graves como a transmissão de doenças e a descaracterização das

belezas do local.

4.1.4 Oportunidades

54

Uma grande oportunidade em Jericoacoara é a implantação do voucher que já é

utilizado em Bonito no Mato Grosso do Sul, pois proporciona a comodidade tanto

para o turista quanto para a administração. Além disso, o voucher é uma boa

oportunidade de controlar o fluxo de turistas por local visitado.

Pode-se apresentar como outra boa oportunidade para Jericoacoara a criação de

um plano Diretor de Turismo, que irá contribuir para que a organização do turismo

seja total no município. Além dessas oportunidades, pode-se ainda apresentar:

Criação de uma Central de informações Turísticas. Esta central seria o

primeiro contato do turista com o município;

Qualificar a mão-de-obra dentro do próprio município para que as vagas que

exigem maior qualificação possam ser ocupadas pelos nativos, incentivando

assim a melhora do atendimento ao turista;

Incentivo à criação de empresas familiares, que assim como a qualificação da

mão-de-obra é um incentivo tanto ao crescimento do turismo, quanto à

melhora do atendimento ao turista.

Criação de órgão como o Conselho Municipal de Turismo – COMTUR e do

Fundo de Turismo – FUTUR.

4.2 ANÁLISE DO MODELO DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO EM BONITO –

MT

Neste momento será analisado o desenvolvimento do turismo no município de

Bonito, onde o turismo se iniciou por acaso e teve um crescimento acelerado após

uma reportagem exibida por uma emissora de TV, fato semelhante ao ocorrido em

Jericoacoara. Será apresentada aqui uma análise diagnóstica com os pontos fracos,

pontos fortes, ameaças e oportunidades detectadas a partir do estudo de caso

apresentado.

4.2.1 Pontos Fortes

55

Alguns dos principais pontos fortes do município de Bonito19 são o clima do

município e seus atrativos naturais inigualáveis (imagem no anexo 2)

O clima em Bonito é um ponto forte, pois não há uma época certa para visitação. A

primavera e o verão são quentes e úmidos, com chuvas esparsas que enchem os

leitos dos rios. Durante o outono e inverno chove uma vez ou outra, mas o céu está

sempre azul e as noites são estreladas e geladas.

A vegetação da região de Bonito é basicamente o cerrado, com grande presença de

campos, muito característico do centro-oeste brasileiro, o que é um forte atrativo

para a região. O calcário presente em toda a área garante a beleza natural dos solos

e águas da região. Aliás, é esse calcário o responsável pela transparência das

águas locais.

A história e a cultura do município também é um ponto forte, pois foi habitado por

diversas tribos de índios (Guaianás, Tapetim, Chamacocos, Kadiwéus e Nelique) no

começo, Bonito era uma grande fazenda. Em 1915, a fazenda passou a ser o Distrito

de Paz de Bonito (pertencente ao município de Miranda). Só em 1948, o território

virou município e sua sede passou a ser Bonito. A população local conta com cerca

de 25 mil habitantes. As festas mais populares da região acontecem em junho, nas

festas juninas indo até dia 29, dia de São Pedro, o padroeiro da cidade.

Outro ponto forte no município de Bonito é o fato de ser reconhecido

internacionalmente pelos seus recursos naturais e principalmente por este

reconhecimento se dever à utilização racional desses recursos, e pela implantação

de uma administração adequada, além disso, este sucesso também se fundamenta

no trabalho conjunto de todos os segmentos representativos da sociedade local.

19 UOL Destino Aventura – Bonito: Disponível em: http://webventureuol.uol.com.br/destinoaventura/index.php?destino=destino_mostra_detalhes&mdireito=nao&id_destinos=2&secao=geografia. Acessado em: 11/10/2006.

56

O curso de guias que foi o primeiro passo para a organização do modelo de gestão

do município foi um ponto forte e principalmente o início da boa administração que

acontece atualmente.

A partir dos planos de desenvolvimento começaram a ser dados diversos passos

positivos para o desenvolvimento do município como a criação de hotéis turísticos. A

realização de um seminário com as lideranças do SEBRAE-MS e a associação ao

Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT foram passos

importantes para o desenvolvimento turístico municipal.

A criação de leis municipais com a preocupação de desenvolver a atividade turística

consciente e a proibição da utilização de barco a motor são pontos fortes, já que

proporcionam tanto a preservação do meio ambiente quanto a qualidade do

atendimento aos turistas.

A criação do Conselho Municipal de Turismo – COMTUR, que é o órgão responsável

por organizar a gestão que iria ser implantada no município e do Fundo de Turismo –

FUTUR, que são os fundos utilizados pelo COMTUR e são gerados pelos pela

receita obtida da visitação da Gruta Lago Azul, ambos responsáveis diretos pela

forma como se desenvolve o turismo o município. O COMTUR depende do FUTUR,

já que este é o responsável pela arrecadação de verbas através da visitação à Gruta

Lago Azul.

Outro ponto a se destacar foi o sancionamento da lei que obriga a contratação de

guias com formação profissional específica local. Além de assegurar a maioria das

vagas para os nativos ainda obriga estas pessoas a estarem bem capacitadas antes

de assumir a função.

A utilização do voucher é um ponto forte e uma estratégia importante que foi

utilizada para que houvesse um controle de visitação, o que evita a massificação do

turismo no local.

O preço do produto turístico em Bonito é um ponto forte, pois gera divisas que são

necessárias para manutenção dos atrativos, formação profissional, e a

57

administração em geral e, além disso, proporciona mais conforto ao turista e evita

também a massificação do turismo. A estrutura organizada e com um atendimento

diferenciado ao turista contribui para que haja um aumento gradativo do número de

visitantes no município.

Seguindo o exemplo de Bonito, diversos municípios vizinhos também entraram no

circuito turístico, o que torna o local mais atrativo, já que com isso aumentam as

alternativas de passeio para o turista, e amplia a rede de beneficiamento da

comunidade local pela atividade.

O aumento da arrecadação do Imposto Sobre Serviço – ISS proporcionou a melhoria

da cidade e também maior comodidade aos turistas, e consequentemente à própria

comunidade local. Através destes recursos foi ampliada a rede de saúde, implantado

o saneamento da água e esgoto para 956% da população, construída uma central

de reciclagem de lixo e compostagem de lixo orgânico, melhoria na limpeza

municipal, melhoria na sinalização para os atrativos e a conservação de estradas

que levam aos atrativos.

4.2.2 Pontos Fracos

Comparando-se ao modelo de desenvolvimento do turismo em Jericoacoara, o

município de Bonito não apresenta muitos pontos fracos a princípio, uma vez que é

considerado um dos modelos mais bem sucedidos do Brasil. O primeiro ponto fraco

detectado foi o fato de que o turismo começou a se desenvolver sem planejamento,

quando turistas começaram a visitar a Gruta Lago Azul, o Balneário Municipal e a

Ilha do Padre.

Outro ponto negativo que poderá inclusive se tornar uma ameaça, é a falta de

fiscalização por parte de alguns setores devido à falta de regulamentação específica

no município, como por exemplo, o aumento desordenado de leitos de hotéis e

agências de turismo.

58

4.2.3 Ameaças

Apesar de ter contribuído para que o turismo acontecesse em Bonito, uma

reportagem de televisão em 1992, repercutiu nacional e internacionalmente, e

remeteu um número desproporcional de turistas para o município, quando ainda não

possuía estrutura o suficiente para atender a uma demanda tão grande.

Devido ao descontrole e desorganização, os setores envolvidos no turismo do

município faziam o que achavam adequado, e não demorou muito para que os

resultados negativos começassem a aparecer, como por exemplo a degradação

ambiental, a massificação do turismo, entre muitos outros problemas graves.

Ressalta-se a importância da continuidade da política de gestão dos atrativos

naturais e culturais do município, visando sempre melhorias, minimizando dessa

forma, a ameaça de degradação ambiental, descaracterização dos atrativos e

culturas, e declínio no fluxo turístico.

4.2.4 Oportunidades

Pode-se apresentar como uma oportunidade viável para Bonito a criação de um

plano Diretor de Turismo, que irá contribuir para que a organização do turismo seja

total no município.

Criação de um código municipal de turismo, onde estejam dispostas todas as regras,

ou seja, tudo o que é permitido, tudo o que o turismo pode proporcionar assim como

as punições para o descumprimento destas leis.

Revisar os preços dos atrativos verificando se está de acordo com a qualidade do

que está sendo oferecido ao município.

Estimular o aumento de empreendimentos familiares para o atendimento aos

turistas. Isto pode fazer com que diminuam os problemas entre os autóctones e os

turistas, já que assim o turismo passará a gerar um lucro direto para os moradores.

59

Mais qualificação de mão-de-obra, não somente para guias, mas para todos os

setores do turismo, como funcionários de hotéis, restaurantes, pousadas, agências

receptivas de turismo, etc.

4.3 ANÁLISE COMPARATIVA DOS ESTUDOS DE CASO

Nada melhor para iniciar esta análise comparativa do que o fato de que os dois

municípios tiveram um crescimento acelerado depois que emissoras de televisão

terem exibido reportagens sobre eles, com repercussão nacional e internacional,

remetendo milhares de turistas para as duas localidades sem que estas estivessem

preparadas para atender a demanda. Isto provocou tanto em Jericoacoara, quanto

em Bonito, mudanças radicais de costumes e até mesmo de rotina.

No município de Jericoacoara houve, principalmente no início, um forte envolvimento

e empenho da comunidade local para transformar o município em APA, objetivando

preservar as belezas naturais. Em Bonito por sua vez existiu um envolvimento da

comunidade sim, mas não se buscou a APA, no entanto os nativos se envolveram

muito mais, tanto que atualmente o município é um modelo de desenvolvimento

organizado, enquanto Jericoacoara vive em um caus, devido à desorganização no

modelo de desenvolvimento turístico utilizado.

Tanto em Bonito, quanto em Jericoacoara houve no início uma incompatibilidade

entre o número de turistas e a capacidade de carga, o que acarretou um crescimento

desordenado nos dois municípios, que além de possibilitar a degradação dos

recursos naturais é prejudicial à qualidade de vida dos autóctones. Porém, Bonito

através de um Plano de Desenvolvimento conseguiu reverter parcialmente este

problema. Uma das ameaças detectadas foi um problema contrário; em Bonito

atualmente deve ser contido o crescimento dos leitos em hotéis e de agências de

turismo.

O município de Bonito adotou um sistema de controle de público muito interessante,

que foi a utilização do voucher, onde o turista deve se dirigir a uma agência

receptiva e adquiri-lo. O voucher é a entrada para qualquer atrativo da região. O

60

controle é simples, através de um sistema on line a secretaria pode saber se o

acesso aos atrativos está disponível ou não, já que todos eles têm horários e

capacidade limite de visitantes. É importante ressaltar que estes limites foram

estipulados de acordo com estudos realizados por especialistas. A implantação

deste sistema em Jericoacoara seria uma grande oportunidade de melhorias tanto

do atendimento e da qualidade do serviço, quanto dos cuidados com as belezas

naturais do local.

Acontece também e Bonito e seria importante que se implantasse em Jericoacoara,

um cadastro que é feito do turista no momento da aquisição do voucher em um

programa estatístico que indica o perfil da demanda, a arrecadação, o número de

visitantes e outras informações pertinentes para a melhoria dos serviços e

principalmente a preservação local.

A criação de um Plano Diretor seria muito importante tanto para Bonito, quanto para

Jericoacoara, pois é um instrumento básico de intervenção no setor turístico para

estabelecer as ações de planejamento, promoção e execução de sua política. Isto

subsidiaria a elaboração da política de turismo e ofereceria alternativas de

desenvolvimento para o setor.

A Elaboração de um Código Municipal de Turismo e Proteção ao Meio Ambiente

garantiria o cumprimento das leis de preservação do meio ambiente, fauna e flora,

protegeria documentos e outros bens de valor histórico, artístico e cultural,

monumentos, e sítios arqueológicos. Além disso, para os dois municípios, seria

muito importante a elaboração de um plano emergencial para a contenção do

crescimento sem planejamento.

A revisão dos preços dos atrativos comparados à sua qualidade seria interessante

para os dois municípios, o que tornaria mais justo para ambas as partes os

rendimentos versus as administrações públicas.

É muito importante que Bonito e Jericoacoara proponham incentivos para a criação

de mais empreendimentos familiares, o que melhoraria as condições econômicas da

população e consequentemente sua qualidade de vida, e ainda amenizaria os

61

problemas entre os nativos e os turistas como é o caso de Jericoacoara. Esta

medida poderia contribuir para a diminuição do problema da especulação imobiliária,

já que melhoraria as condições de vida da população, possibilitando que estes

fossem os proprietários da maioria dos imóveis no local.

4.4 DISCUSSÕES E PROPOSTAS

Através das revisões bibliográficas apresentadas no primeiro capítulo e das análises

dos dois estudos de caso, pode-se considerar que o envolvimento da comunidade é

imprescindível para o desenvolvimento local. Isto possibilita principalmente o bom

relacionamento entre o turista e o nativo.

Porém, o primeiro passo para o desenvolvimento do turismo, municipal, rural,

regional, ou até mesmo nacional, é a elaboração de um bom inventário, que ajudará

a identificar as fortalezas, as oportunidades, as debilidades e as ameaças que o

local possui e só então partir para a elaboração do plano de desenvolvimento.

Através deste inventário identifica-se os atrativos já existentes, avalia-se as suas

potencialidades, faz-se a análise da infra-estrutura básica, que é o primeiro alicerce

da atividade turística, e também a verificação do público-alvo. A partir do inventário e

do diagnóstico determina-se qual o segmento do turismo que poderá ser praticado

naquele local é a partir deste ponto que se verifica qual é o potencial e

principalmente, se ele existe na localidade em estudo.

A partir do momento que o turismo começa a movimentar diretamente a economia

da comunidade, ele passa a ser bem vindo. Isto é possível, por exemplo, através do

incentivo à abertura de empreendimentos familiares, que é uma das melhores

formas de envolver uma grande parte da população local, mesmo que seja através

da inserção dos autóctones no mercado de trabalho como empregados.

Uma boa forma de colocar esta comunidade no mercado de trabalho é promover a

capacitação das pessoas para que elas possam ocupar cargos de gerências,

recepções, etc., e não haja a necessidade de que pessoas de fora venham ocupar

62

estas vagas. Investir na formação profissional é um passo muito importante para o

desenvolvimento do turismo, pois envolve a comunidade e dá a ela a chance de

sobreviver através do turismo, usufruindo dos ganhos econômicos, sociais, culturais

e ambientais proporcionados pela atividade.

É importante que se criem mecanismos de preservação ambiental, pois as

potencialidades turísticas são muito frágeis e podem acabar. Em primeiro lugar a

elaboração de um Código Municipal seria muito interessante, pois ele propõe as leis

de preservação do meio ambiente, fauna e flora, a proteção de documentos e outros

bens de valor histórico, artístico e cultural, monumentos, sítios arqueológicos, além

disso, proibiria e fiscalizaria a poluição em qualquer uma de suas formas.

Em casos como o de Bonito e Jericoacoara é necessário que se crie um plano

emergencial para a contenção do crescimento sem planejamento. Este tipo de

desenvolvimento é prejudicial a todos os segmentos do turismo, e principalmente

aos atrativos naturais que o município possui. Porém é importante ressaltar que para

as localidades onde o turismo está começando, é imprescindível que o Plano de

Contenção do Crescimento sem Planejamento já esteja entre as primeiras ações,

deve ser uma das primeiras providências a fazerem parte do plano de

desenvolvimento.

Seria muito interessante que todo município que tem a intenção de implantar o

turismo, criasse um Conselho Municipal de Turismo – COMTUR, para que este

pudesse agir no momento do desenvolvimento, ajudando a fazer cumprir leis, e

assim com que se cumpra o Plano de Desenvolvimento Turístico.

Além do COMTUR, é importante que seja criado o FUTUR, que é o Fundo de

Turismo, que pode ser como em Bonito que é proveniente da visitação à Gruta Lago

Azul, um atrativo de poder do município, a manutenção do fundo pode ser originada

pela arrecadação do ISS – Imposto Sobre Serviço e também da visitação de

atrativos públicos.

Os atrativos turísticos são muito frágeis e existe a possibilidade de que acabem se

não houver regulamentação e leis para a sua preservação, mas acima de tudo,

63

turistas e comunidade nativa devem estar sempre conscientizados de que

dependem do turismo e de tudo o que o forma, como os atrativos, naturais, culturais

entre outros.

É imprescindível que se trabalhe com equipes especializadas e munidas de diversos

profissionais, como turismólogo, arquitetos, engenheiros, geógrafos, biólogos entre

outros para que o turismo seja feito de uma forma elaborada e organizada, sempre

visando a preservação do produto turístico. Além disso, a comunidade deve estar

sempre envolvida no momento das tomadas de decisão e principalmente na

fiscalização do processo turístico.

Depois de concluídas todas estas etapas, é importante que sejam criados programas

específicos como, por exemplo, programa de capacitação de mão-de-obra, a criação

de um plano diretor que regulamente o desenvolvimento do turismo e o uso e

ocupação do solo.

A cultura local deve ser valorizada, é interessante que se criem programas de

valorização da cultura local, enfatizando os costumes, culinária, artesanato entre

outros fatores de igual importância.

Finalmente para que tudo o que já foi citado seja um sucesso, elabora-se um plano

de marketing responsável que enfatize as qualidades do local. É importante que as

estratégias de marketing sejam também preparadas por profissionais capacitados

que saberão quais serão os melhores meios de fazê-lo de acordo com as

necessidades do local.

Como já foi dito anteriormente, todas estas etapas devem ser acompanhadas pela

comunidade e principalmente por uma equipe multidisciplinar com a capacitação

necessária para que o turismo seja benéfico e não se torne um vilão para o local

onde se desenvolve.

Acredita-se que incluindo as propostas apresentadas ao longo dos planos de

desenvolvimento turístico, as localidades terão maiores chances de obterem

sucesso e sustentabilidade. Desta forma o turismo poderá proporcionar ganhos a

64

todos os atores envolvidos na atividade: seja retorno financeiro aos investidores;

melhor qualidade de vida e remuneração à comunidade local; preservação e

valorização do patrimônio histórico, cultural e natural; e qualidade nos serviços

recebidos e satisfação aos turistas, que são o verdadeiro sentido da atividade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa fundamentou-se no problema da utilização do planejamento turístico

como instrumento de crescimento econômico, e buscou solidificar-se nos estudos de

caso dos municípios de Jericoacoara no estado do Ceará, e Bonito no Estado do

Mato Grosso do Sul.

65

Por meio das pesquisas bibliográficas e análise dos estudos de caso, pode-se

concluir que a atividade turística deve em qualquer situação ser acompanhada de

uma equipe de profissionais capacitados e aptos a desenvolvê-la da melhor forma

possível. Estes profissionais, em especial turismólogos, devem estar preparados

para elaborar e operacionalizar inventários, projetos, planos, interpretar leis, analisar,

identificar e avaliar possíveis efeitos positivos e negativos provocados pela atividade

turística, visando a melhor forma de desenvolvimento econômico e social para os

núcleos receptores.

O turismo pode ser um ator importante para o crescimento econômico em uma

determinada localidade, já que quando bem planejado envolve a comunidade local,

gerando empregos, o aumento de empreendimentos familiares e consequentemente

aumentando a renda familiar destas pessoas, e assim girando a economia local,

melhorando a qualidade de vida da população local.

Acredita-se ter evidenciado ao longo desta pesquisa que a atividade turística é um

segmento que vem crescendo rapidamente, mas que infelizmente não tem sido em

alguns lugares bem planejado, como é o caso do início da atividade em Bonito e

principalmente em Jericoacoara que são o foco principal deste estudo. Afirma-se isto

baseado no fato que os dois municípios sofreram as conseqüências da falta de

planejamento, observados nas alterações culturais, sociais e paisagísticas destas

localidades.

Ambos os municípios estudados tiveram um crescimento muito acelerado do turismo

após emissoras de televisão terem exibido reportagens que repercutiram nacional e

internacionalmente a respeito de suas belezas naturais, remetendo um fluxo muito

grande de turistas. Nenhuma das duas localidades estava preparada para receber

um número tão grande de pessoas, já que não existia infra-estrutura turística.

Com isso, as comunidades locais perceberam que seria uma oportunidade de

crescimento econômico, e assim as cidades começaram a crescer e o turismo a se

desenvolver em um ritmo muito acelerado, acima de suas capacidades, o que trouxe

66

conseqüências graves, causando inclusive problemas entre comunidade local e

turistas.

As mudanças acentuadas pelo turismo trouxeram também outros problemas como

especulação imobiliária, aumento do consumo de drogas e prostituição e

principalmente alterações dos aspectos culturais da comunidade. Além disso, os

empregos que exigem um pouco de especialização eram ocupados por pessoas que

não eram nativas, sobrando para os autóctones os empregos menos remunerados

como garçons, faxineiros, cozinheiras, entre outros.

Porém, os estudos de caso comprovaram que o turismo constitui uma atividade que

proporciona muitos benefícios, principalmente para Bonito que se organizou em um

curto período de tempo conseguindo transformar a atividade em uma fonte geradora

de renda, que atualmente é a principal atividade do município e remete milhares de

turistas todos os anos para o município. Além disso, os municípios vizinhos de

Bonito entraram também no circuito turístico, sendo este mais um benefício trazido

pela prática do turismo.

Entretanto, Bonito também possui problemas causados pelo turismo. Existe pouca

fiscalização em relação ao crescimento acelerado do turismo, e está havendo um

aumento significativo no número de leitos de hotéis, restaurantes e outros

empreendimentos que precisam ser controlados, para que isto não degrade o

ambiente.

O turismo pode ser um fator de crescimento econômico muito forte, desde que seja

organizado, planejado e principalmente idealizado e acompanhado por uma equipe

de profissionais capacitados para isso. A atividade planejada de maneira correta

pode gerar empregos, e a capacitação da mão de obra local, para que vagas como

gerências possam ser assumidas por pessoas da comunidade receptora. O turismo

também proporciona a possibilidade da ampliação dos empreendimentos familiares,

aumentando assim a renda das famílias, contribuindo ainda para que o turista seja

bem recebido, tornando-se um aliado da comunidade local e não um inimigo,

fazendo com que um dependa do outro para que o turismo aconteça.

67

Com o sucesso do turismo municípios vizinhos acabam muitas vezes entrando no

circuito, fazendo com que aumente o fluxo de turistas, e também as opções de

atratividades para visitação. Assim, ao invés de um município crescer e se

desenvolver através do turismo, toda uma região tem esta possibilidade.

Diante do conteúdo exposto, conclui-se que o turismo pode ser uma alavanca de

desenvolvimento tanto econômico, quanto social e cultural para os núcleos

receptores. Mas para tanto, um criterioso processo de planejamento deve ser

adotado, elaborado e acompanhado por profissionais devidamente capacitados.

Para gerar esses benefícios, o turismo deve ser desenvolvido com o apoio e

participação da comunidade local em todas as suas fases: desde a identificação do

potencial turístico, até a determinação do tipo de turismo a ser desenvolvido,

estruturação da oferta, gerenciamento de empreendimentos, e divisão das receitas

geradas. Acredita-se que as localidades que conseguirem articular ações de

planejamento primando pela integração da comunidade local, terão mais chances de

serem bem sucedidas com a prática do turismo.

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