InforANDES Agosto 2014

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Informativo Nº 37 Brasília (DF) Agosto de 2014 InformANDES SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR - ANDES-SN O s gritos uníssonos de “10% do PIB para a Edu- cação Pública, Já!” marcaram o término do En- contro Nacional de Educação (ENE), realizado no Rio de Janeiro, entre os dias 8 e 10 de agosto. O encontro, que reuniu mais de duas mil pesso- as, vindas de todas as regiões do país, foi aberto com uma grande marcha no centro da capital fluminense. Durante os debates, ficou evidente a necessidade de unificar e interna- cionalizar as lutas para barrar a mercanzação da Educação. Na avaliação de diversos parcipantes, o ENE representa um novo marco na unidade em defesa da educação pública. Con- fira a cobertura. 6 a 13 Encontro Nacional define plataforma de lutas em defesa da Educação Pública Entidades unificam a luta em defesa dos direitos na aposentadoria 3 59º Conad marca início da gestão 2014/2016 do ANDES-SN 4 e 5 Israel x Palestina: a gênese do conflito 14 a 16 ADUFF/Luiz Fernando Nabuco

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Informativo Nº 37

Brasília (DF) Agosto de 2014InformANDES

SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR - ANDES-SN

Os gritos uníssonos de “10% do PIB para a Edu-cação Pública, Já!” marcaram o término do En-contro Nacional de Educação (ENE), realizado no Rio de Janeiro, entre os dias 8 e 10 de agosto. O encontro, que reuniu mais de duas mil pesso-

as, vindas de todas as regiões do país, foi aberto com uma

grande marcha no centro da capital fluminense. Durante os debates, ficou evidente a necessidade de unificar e interna-cionalizar as lutas para barrar a mercantização da Educação. Na avaliação de diversos participantes, o ENE representa um novo marco na unidade em defesa da educação pública. Con-fira a cobertura. 6 a 13

Encontro Nacional define plataforma de lutas em defesa da Educação Pública

Entidades unificam a luta em defesa dos direitos na aposentadoria 3

59º Conad marca início da gestão 2014/2016 do ANDES-SN 4 e 5

Israel x Palestina: a gênese do conflito 14 a 16

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EXPEDIENTEO Informandes é uma publicação do ANDES-SN // site: www.andes.org.br // e-mail: [email protected] responsável: Luiz Henrique SchuchRedação: Renata Maffezoli MTb 37322, Nayane Taniguchi MTb 8228, Mathias Rodrigues MTb 10126/PR e Paola Rodrigues // Edição: Renata MaffezoliFotos: Renata Maffezoli // Infográfi cos: Paola Rodrigues // Diagramação: Ronaldo Alves 5103 DRT-DF

Editorial

É quase impossí-vel reproduzir o clima esfuziante do Encontro

Nacional de Educação, ocorrido no Rio de Janeiro entre os dias 8 a 10 de agosto.

Milhares de jovens, um grande número de professores e trabalha-dores da educação de sindicatos e movimen-tos sociais diversos acorreram a essa mani-festação de retomada e revigoramento do caminho para uma educação que atenda às exigências históricas dos trabalhadores, isto é, feita por eles, molda-da pela cultura do trabalho, de solidariedade e respeito a esses que são os sujeitos, os verdadeiros e únicos cons-trutores da sociabilidade humana.

A submissão da educação aos interesses do capital assume um papel estratégico para o seu triunfo incontes-te, favorecido pelas alianças com setores cooptados, apa-rentemente modernos ou ditos progressistas, também se declarando contra o neoliberalismo, mas que, sabemos nós, nada mais são do que reprodutoras de formas anti -gas de dominação, ajustadas para atender aos mesmos propósitos de exploração, agora mais sofi sti cados ainda para corresponder às exigências da divisão internacional do trabalho: de um lado, os donos do saber e da ciência, que têm a chave dos nossos desti nos; de outro, a imensa maioria dos que são considerados por eles menos dota-

dos, os deserdados e atrasados, que devem ser treinados para servir ao capital, traba-lhando, consumindo e conformando-se com a lógica dessa explo-ração.

Essa corrente tem que ter os elos rompi-dos. Foi essa a men-sagem principal do Encontro Nacional de Educação.

Para tanto, foi apon-tada a necessidade de se estabelecer uma

agenda de lutas, que arti cule os trabalhadores, e faça avançar para a hegemonia um Plano de Educação real-mente público, excluídos os interesses mercadológicos e a fi nalidade exploradora e escravizadora do capitalismo, um plano que esteja exclusivamente sob o controle dos trabalhadores.

Esse deve ser o objeti vo de todas as forças – sindicatos e movimentos sociais. Se a educação é a porta de entra-da para dominação e reprodução do capital, para nós, trabalhadores, é o principal instrumento de libertação para a construção de uma nova sociedade.

Unir forças, fazer esse combate ideológico e ganhar essa terra a parti r desse momento especial que estamos vivendo deve ser conti nuação da nossa trajetória para que nos reconheçamos como seres humanos. É isto que ensinam os trabalhadores. Esta é a educação que quere-mos alcançar!.

Pensar coletivamente fortacele nossa luta.Um a mais é muito mais.

Filie-se ao ANDES-SN.

Educação pública, gratuita e de qualidade.

Em mais uma demonstração de mobi-lização e integração, enti dades pro-tagonistas na defesa dos direitos na aposentadoria do serviço público,

entre elas o ANDES-SN, e dos trabalhado-res do regime geral do país, promoveram a unifi cação das lutas em uma iniciati va inédita. No dia 5 de agosto, o Insti tuto Mosap (Movimento dos Servidores Públicos Aposentados e Pensionistas) e a Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados, Pensionistas e Idosos) realizaram o lança-mento do Movimento Unifi cado dos Idosos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público e do INSS (UNA-SE), no Congresso Nacional, em Brasília.

O Movimento, que ofi cializa a unifi cação das ações desenvolvidas por essas enti da-des, tem como objeti vo fortalecer a luta pela garanti a dos direitos na aposentadoria, independente do vínculo empregatí cio. Duas grandes bandeiras, historicamente defendida pelas enti dades, são prioritárias para o UNA-SE: a aprovação imediata da PEC 555/2006, que prevê a exti nção da contribuição previdenciária dos proventos de aposentados e pensionistas do setor público, e do PL 4434/2008, que prevê o reajuste dos benefí cios manti dos pelo Regime Geral da Previdência Social e o índice de correção previdenciária.

De acordo com o UNA-SE, a iniciati va já conta com o apoio de 40 milhões de pessoas. O lançamento contou com a parti -cipação de dezenas de parlamentares, que mais uma vez manifestaram apoio à luta das enti dades e destacaram a iniciati va.

“É importantí ssima essa unidade para a luta dos aposentados e pensionistas do serviço público e do INSS. A luta é em defesa dos direitos na aposentadoria, indepen-

dente do local onde eles estão. Acredito que, com esta integração, se consiga realmente aprovar projetos de interesses dos trabalhadores aposentados”, afi rma o encarregado de Assuntos de Aposentadoria do ANDES-SN, Almir Menezes Filho.

Durante o lançamento, o presidente do Mosap, Edison Guilherme Haubert, res-saltou a importância da unidade da luta. “A fi nalidade hoje é convencermos a nós, servidores públicos e trabalhadores do regime geral, que somos uma única força, e que daqui para frente seremos uma única força. Queremos a aprovação imediata dessas duas matérias para fazer justi ça, e também derrubar o fator previdenciário, que ati nge a todos nós”.

Agenda de mobilizaçõesAlém da ati vidade realizada em Brasília

no dia 5, uma agenda de mobilizações prevê ações no Rio de Janeiro (16 de agosto), Porto Alegre (21 de agosto), São Paulo (28 de agosto) e Natal (19 de setembro). “Com este esforço concentra-do para agosto e setembro, buscaremos intensifi car a mobilização para a aprova-ção destes projetos, momento em que o governo também tem tentado aprovar projetos de seu interesse”, afi rma o diretor do ANDES-SN.

InformANDES/2014 3Aposentadoria

dos direitos na aposentadoria, indepen- do ANDES-SN.

Entidades unifi cam a luta em defesados direitos na aposentadoria

Movimento Unifi cado dos Idosos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público e do INSS, UNA-SE é lançado em Brasília com duas bandeiras prioritárias: a aprovação imediata da PEC 555/2006 e do PL 4434/2008

InformANDES/2014459º Conad

O 59º Conad do ANDES-SN, que será realizado em Aracaju (SE) entre os dias 21 e 24 de agosto, traz como tema central “Luta em

defesa da educação: autonomia da univer-sidade, 10% do PIB exclusivamente para a educação pública”, uma das bandeiras prio-ritárias e históricas do ANDES-SN, cercada de grandes desafi os, que resultam de uma conjuntura de favorecimento do capital a parti r da implementação, por sucessivos governos, de políti cas que promovem e subsidiam o lucro do setor privado.

“A discussão dessa temáti ca no 59º Conad fortalecerá o debate e a luta para que os recursos do Estado sejam desti nados exclusivamente para o setor público e gratuito da educação. O tema foi escolhido exatamente para garanti r a luta em torno da aplicação imediata dos 10% do PIB para a educação pública, e impedir que parte deste recurso vá para a iniciati va privada , a exemplo do que diz o PNE aprovado pelo governo”, explica o 1º tesoureiro do ANDES-SN, Fausto de Camargo Junior, integrante da Comissão Organizadora do 59º Conad.

A presidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira, ressalta que o Sindicato colocou, no centro de sua pauta, 2014 como o ano da educação, para contrapor às políti cas impostas pelo governo federal e, em espe-cial, ao PNE aprovado. “A nossa avaliação é que o PNE sancionado é uma legislação que atende aos interesses privati vistas do empresariado da educação, aprofunda a precarização do trabalho docente, e promove a expansão sem adequadas condições que preservem a qualidade do ensino público, desde a educação básica até a superior, na perspecti va de

desobrigar o Estado do compromisso de fi nanciamento da educação pública”.

Esta é a terceira vez que Sergipe sedia o Conad. De acordo com Jailton Costa, também integrante da Comissão Organizadora e secretário da Adufs, Seção Sindical do ANDES-SN que recepciona o evento nacional, a esti mati va é que 250 docentes - entre delegados, observado-res e diretores nacionais-, parti cipem do Conad. “A diretoria da Adufs considera de grande importância receber e organizar

59º Conad fortalecerá atuação do ANDES-SN para luta em defesa da educação Entre os dias 21 e 24 de agosto, docentes de todo o país se reúnem em Aracaju (SE) para avaliar e atualizar o plano de lutas do Sindicato Nacional. 59ª edição será marcada ainda pela posse da nova Diretoria

Balançoda gestão

"Iniciamos esta gestão em meio a uma forte greve e à retomada da identi dade da luta coleti va. A vitória políti ca deste movimento e desta gestão foi a ampliação da base com novos fi liados, legiti man-do o ANDES-SN como representante da categoria, e o contí nuo fortalecimento como sindicato classista de luta e com-bati vidade, diante dos ataques ao nosso projeto de educação e aos direitos da classe trabalhadora. Neste período, as-sumimos com empenho a conti nuidade da luta pela valorização do trabalho docente e pela educação pública como componentes essenciais da defesa de uma sociedade igualitária e democráti ca. Para garanti r os nossos direitos enquanto trabalhadores da educação, o ANDES-SN teve e tem signifi cati vo papel. A luta para fortalecer a nossa inserção junto à base, compreendendo e atuando para garanti r a valorização do trabalho docente com melhores condições de trabalho e uma carreira e salários dignos, foi fundamental. Para além destas questões, o ANDES-SN sempre foi protagonista na discussão dos mais variados temas que têm relação com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Exatamente por isso, é uma enti dade que se integra a outros sindica-tos e movimentos sociais e consolida suas posições em elaborações que servem de referência para muitos lutadoras e lutado-res desse país. Também nesse processo, trabalhamos para fortalecer a nossa cen-tral sindical, a CSP-Conlutas, na base da categoria, como instrumento importante na organização da classe trabalhadora".

Marinalva Oliveira, presidente do ANDES-SN.

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um evento desse porte, principalmente pela temáti ca que será discuti da, pois a comunidade da UFS sofre com a perda da autonomia universitária perante o governo e suas agências de fomento, e ainda pela precarização das condições de trabalho, ampliadas com o Reuni e reforçadas no governo Dilma”, destaca.

Além de fazer a atualização do plano de lutas e das questões organizati vas e fi nanceiras do Sindicato Nacional, o 59º Conad também exerce o papel de conselho fi scal, e será marcado pela posse da nova Diretoria do ANDES-SN, que estará à frente da enti dade no próximo biênio. “É um momento de renovação do Sindicato, com novos militantes assumindo a direção do ANDES-SN em um momento conjuntural muito difí cil, com ataques aos direitos sociais e desmonte da educação. De um lado há a resistência dos trabalhadores e, para contê-la, os governantes têm uti lizado

de métodos e estratégias de ditadura”, afi rma Marinalva.

“A expectati va é que, diante deste acir-ramento dos ataques à educação pública e criminalização dos movimentos sociais, saiamos com uma agenda de lutas tendo os professores como protagonistas deste processo e a universidade como local de resistência, para trabalhar em unidade com a CSP-Conlutas, Cnesf, Fórum dos SPF, Espaço de Unidade de Ação, entre outros, para transformar a resistência em avanço democráti co”, ressalta a presidente do ANDES-SN.

O 2º secretário do ANDES-SN, Paulo Rizzo, e presidente eleito do Sindicato Nacional, acrescenta que é função do Conad avaliar a aplicação do plano de lutas defi nido pelo 33º Congresso, e atualizá-lo. “Isso signifi ca que ele terá que fazer um bom balanço da aplicação do plano de lutas, a atualização da conjuntura e apro-var resoluções que armem o Sindicato até o próximo Congresso. A Diretoria estará armada para os desafi os em conformidade com o que for defi nido no 59º Conad”, diz.

Entre os temas que serão abordados, Rizzo destaca o avanço da privati zação dos hospitais universitários, o enfrentamento à privati zação do sistema de aposentadoria, a mobilização para a retomada da discus-são da carreira docente, a criminalização dos movimentos sociais e sindicais, e o debate das questões organizati vas rela-cionadas ao enraizamento do Sindicato Nacional. “Estas discussões resultarão em propostas para que o ANDES-SN tenha condições de estar organizado pela base e sustentado pela base. Os maiores proble-mas enfrentados pelo Sindicato Nacional em relação à criminalização estão locali-zados, principalmente, nos novos campi pelo Brasil afora, em que os professores têm sofrido assédio moral, perseguição, inti midação. Por isso é importante ter o ANDES-SN bastante enraizado. O enfrenta-mento ao processo de criminalização não ocorre só nas lutas gerais, mas no coti diano do Sindicato junto as suas bases”, afi rma.

Para Marinalva, a defesa da educação pública no próximo biênio se dará em ambiente hosti l, e só a mobilização e en-gajamento poderão garanti r o dever do Estado na manutenção das insti tuições públicas e autônomas e com desti nação de 10% do PIB para educação pública, já!. “O principal desafi o será o fortalecimento do diálogo do ANDES-SN com os professores que, em seu trabalho coti diano, fazem a universidade brasileira, e com os movi-mentos sociais e classistas que defendem educação pública e de qualidade”.

59º Conad

Expectativas para nova gestão

"Neste Conad vai tomar posse a nova Diretoria, que irá dirigir o Sindicato pelos próximos dois anos. Nós estamos animados com a expectati va de cumprirmos com as nossas responsabilidades e com desafi os que estão postos para esse período. O 59º Conad será realizado após o Encontro Na-cional de Educação, no qual estamos depo-sitando grandes expectati vas em termos de agluti nação de forças dos que lutam pela educação pública e se contrapõem às políti -cas ofi ciais privati zantes que estão conti das no PNE, e de onde poderá sair uma agenda de lutas que unifi que todos os setores que defendem a educação pública. A conjuntu-ra, no entanto, não é favorável, no senti do de que conti nuam os avanços das políti cas neoliberais do país, os processos de priva-ti zação da educação, a reti rada de direitos dos trabalhadores e diante do quadro de crise do capitalismo em escala internacional. A expectati va é que iremos enfrentar um período difí cil no país. O nosso desafi o está em organizar categorias desde a base e a aliança com todos os setores que defendem a educação pública, a aposentadoria pública e integral e defendem, enfi m, os direitos dos trabalhadores. Também é desafi o dessa próxima gestão dar conti nuidade à cons-trução da CSP-Conlutas, e do enraizamento cada vez maior do ANDES-SN em todos os lugares. É um período difí cil também por essa onda de criminalização dos movimen-tos sociais que ati ngem os sindicatos, o que expressa que nós não vivemos hoje, em nosso país, as mínimas liberdades democrá-ti cas. Isso demanda do Sindicato um enfren-tamento e a não aceitação dessas práti cas no Brasil. O que quer dizer isso? Quer dizer que vai estar presente nas nossas ações tanto a defesa das reivindicações materiais da categoria como a defesa das liberdades democráti cas no país".

Paulo Rizzo, presidente eleito do ANDES-SN.

InformANDES/20146Matéria Central

Com colaboração da Comunicação do ENE

O Encontro Nacional de Educação (ENE), realizado no Rio de Janeiro nos dias 8, 9 e 10 de agosto, foi uma ampla demons-

tração de força dos movimentos sociais, estudantis e sindicais em defesa da edu-cação pública, gratuita, laica, socialmente referenciada e de qualidade. Durante três dias, mais de 2 mil participantes, vindo de todas as regiões do Brasil, se reuniram para discutir ações de luta em resposta ao processo de aprofundamento da pre-carização e mercantilização da educação pública no Brasil.

Marcado pela conjuntura de recente apro-vação de um Plano Nacional de Educação (PNE) que consolida e aprofunda a precari-zação e privatização da educação pública, o ENE se apresentou como um espaço de aglutinação para a construção de um projeto alternativo de educação, que seja voltado às necessidades da classe trabalhadora.

O Encontro teve início com um grande ato no centro da capital fluminense, que levou às ruas mais de 2 mil pesso-as – mesmo sob a ameaça explícita de repressão. Após o primeiro debate no Club Municipal da Tijuca, os participantes seguiram para os grupos de discussão, no campus do Fundão da UFRJ, que se debruçaram sobre os sete eixos que nortearam também os debates dos en-contros preparatórios: Financiamento da Educação Pública; Democratização da Educação; Acesso e Permanência; Passe livre e Transporte Público; Privatização e Mercantilização da Educação das cre-ches à Pós-Graduação; Precarização das Atividades dos Trabalhadores da Educação e Avaliação Meritocrática.

No domingo, os participantes aclama-ram o Manifesto do Encontro, construído com base na discussão dos grupos, lido na plenária final. O documento indica a constituição de comitês estaduais em defesa da escola pública; a organização, nos estados, na segunda quinzena de outubro, de um dia de luta em defesa da educação pública; e a realização, em 2016, do II Encontro Nacional de Educação,

precedido de encontros estaduais.“Há mais de 10 anos que os setores

da educação não se reuniam em defesa de uma pauta comum. O ENE retomou a unidade de ação em defesa da educação pública, aglutinando lutadores que re-presentam trabalhadores e estudantes de esquerda, que têm em comum a dis-posição de assumir o protagonismo na construção de um projeto de educação pública, gratuita e de qualidade. Fomos

vitoriosos”, comenta a presidente do ANDES-SN, Marinalva Oliveira.

Segundo Marinalva, as conquistas do Encontro estão no método, ao discutir e construir as propostas a partir das bases, e na política, em revelar, com a presença de mais de 2 mil pessoas, a insatisfação com o desmonte da educação pública e a disposição de lutar por ela. “Os encaminha-mentos do ENE apontam direcionamentos para fortalecer esta unidade, chamando

Encontro Nacional de Educação expressa força dos movimentos em defesa da educação pública

Na sexta-feira (8), um grande ato no centro do Rio de Janeiro, que marchou até a Cinelândia, palco histórico de lutas, marcou o início do Encontro. Mais de duas mil pessoas participaram da manifestação, que contou com delegações de norte a sul do país, tanto de professores, quanto de técnico-administrativos em educação e estudantes, além da comuni-dade em geral.

As falas explicaram o objetivo do ENE e da manifestação composta por educadores e estudantes à população, além de abordar a crescente criminalização dos movimentos sociais, agudizada no último período.

A crítica ao PNE também foi reafirmada. Os manifestantes apontaram que é necessária uma inversão de prioridades e de perspectivas, pois, ao contrário do texto aprovado no Congresso Nacional, um verdadeiro plano de educação deveria destinar todos os recursos para a educação pública, e fazê-lo imediatamente. “Defendemos 10% do PIB já, exclusivamente

Marcha em defesa da educação pública

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setores que não estiveram presentes a se juntarem a nós”, avalia.

A presidente do ANDES-SN ressalta que as lutas pela educação, a partir do ENE, serão fortalecidas pela unidade constru-ída: “foi emocionante assistir e participar deste momento histórico para educação pública. Momento também fortalecido pela presença de representantes de entidades da educação de alguns países, mostrando que a unificação da luta deve ocorrer de forma internacional para resistir à mercantilização da educação pública, que se revela um ataque mundial”.

Unificar e internacionalizar as lutas em um novo patamarA mesa de abertura do ENE propôs

a reflexão sobre o tema “Conjuntura, lutas sociais e educação”. Maria de la Luz Arriaga, professora de Economia da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam); Roberto Leher, professor de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e Valério Arcary, professor do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) introduziram o debate sobre a situação da educação e as perspectivas de organização dos movimentos.

De acordo com Maria de La Luz, o de-safio dos movimentos ligados à defesa da educação é encontrar meios de atuar local-mente, mas sempre em uma perspectiva internacional - superando a solidariedade pura e simples, e avançando rumo à cons-tituição de um plano de lutas com uma

agenda definida. Isso, sobretudo, neste momento de criminalização das lutas.

“Todos reconhecemos que, hoje, mais do que nunca, a luta em defesa da educa-ção como direito social é internacional. E é histórica. Isso quer dizer que não basta resolver uma reivindicação de aumento salarial ou de um contrato coletivo. É uma luta por todos nós, nossos filhos e netos, por todas as gerações. Ela ultrapassa as fronteiras, e é uma tarefa de professores, de estudantes e de todos os trabalhadores da educação. E é também do povo em geral. Por isso esse encontro é estratégi-co”, afirmou a professora mexicana.

Para Maria de La Luz, os ataques recor-rentes à educação e a movimentos que se opõem à mercantilização da educação têm dois claros objetivos. “Primeiro porque é um grande negócio. E depois, porque necessitam se apropriar dos valores que temos para expandirem a agenda do capital”, alega.

Para a docente da Unam, “está em jogo o que conhecemos como educação pública e a continuidade da nossa profissão como professores e professoras. Querem nos roubar conceitos fundamentais. Temos que trabalhar coletivamente e reforçar a luta dos trabalhadores da educação e dos estudantes do mundo”.

Dando continuidade ao debate, Roberto Leher abordou a precarização da educa-ção e a privatização que é facilitada pelo PNE, além de traçar um perfil dos novos setores que operam na mercantilização da educação. O docente lembrou que a

para a educação pública. O governo fala em 10% do PIB, mas não cita que o recurso também é destinado às instituições privadas de ensino. Da mesma maneira também não explica de onde virá o dinheiro”, denunciou Marinalva.

Coordenadora nacional do Sinasefe, Samanta Lopes, afirmou ser necessária a atenção especial às péssimas condições de funcionamento das escolas, que não garan-tem condições de trabalho aos profissionais e precarizam o ensino.

A representante da Assembleia Nacional dos Estudantes Livre (Anel), Janaína Oliveira, resgatou a história de luta da entidade, “que se confunde com a luta contra o Reuni”, e denunciou a dificuldade dos jovens de en-trarem e permanecerem nas universidades públicas. Pela Esquerda da UNE, Deborah Cavalcante também denunciou a falta de acesso dos jovens negros e da periferia à uni-versidade, e reforçou a importância da luta

pela manutenção dos jovens que entram na universidade. A dirigente da Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física (EXNEEF), Caroline Roque reafirmou a ne-cessidade da unidade na luta pela educação pública gratuita e de qualidade. Segundo Elernia Sobral, do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), os assistentes sociais fazem parte do ENE. “Estamos na resistên-cia a esse governo que legitima a visão de educação como mercadoria. Só a aliança

da classe trabalhadora na luta pode mudar essa situação”.

Também estiveram presentes diversas entidades que compõem outras lutas e categorias, mas que têm a bandeira pela educação como uma de suas reivindi-cações, como o MST, o MTST, Fasubra, Assibge-SN.

Já na Cinelândia, o encerramento contou com atrações musicais, dando um toque cul-tural e de descontração à abertura do ENE.

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Os ataques à educação pública - com o acirramento da precarização das condições de trabalho, mercantilização e privatização -, são uma realidade mundial. Foi o que apontou a reunião Internacional em Defesa da Educação Pública, realizada no Rio de Janeiro, com a presença de representantes da luta em defesa da educação pública do Brasil, México, Equador, Colômbia, França e Palestina, organizada pela CSP-Conlutas.

Apesar das diferenças culturais, políticas e sociais, a aplicação da doutrina neoliberal, com um projeto de educação que favorece a acumulação de capital e transforma a edu-cação em negócio, se dá de forma generali-zada. Para fortalecer a luta internacional em defesa da educação pública os participantes elaboraram um manifesto que aponta para a realização de ações conjuntas.

Modelo para atender ao mercado

A aplicação deste projeto educacional neoliberal se mostrou comum aos países da América Latina e mesmo à França, país com nível de desenvolvimento econômico e social evidentemente mais alto. “Tínhamos um sistema educacional bom, mas ele está sendo desmantelado, principalmente nos subúrbios e zonas rurais”, disse a francesa Cybele David, uma das representantes do sindicato francês SUD Education, que integra a central Unión Syndicale Solidaires.

“O que querem fazer é uma escola de vários níveis: uma [formadora] de mão de obra barata sem senso crítico, e outra escola elitista para pequena [parte] da sociedade”, constatou. Este processo, disse, vem levando a uma revolta da juventude, em especial dos jovens filhos de imigrantes.

O avanço deste modelo que oferece duas escolas – uma para a massa trabalhadora, outra para uma elite econômica – vem acompanhado de um forte processo de privatização e mercantilização do ensino. “A política do governo brasileiro faz com que a educação deixe de ser um fim para ser um negócio. O PNE aprovado é a marca da privatização”, afirmou Elizabeth Barbosa, 2º vice-presidente da Regional Rio de Janeiro do ANDES-SN. Ela mencionou ainda que os

editais de agências de fomento cada vez mais “precarizam e privatizam” o trabalho nas universidades brasileiras, processo que atinge tanto as instituições federais quanto as estaduais.

O presidente da Adcefet RJ - Seção Sindical do ANDES-SN, Alberto Jorge, acrescentou que o mercado avança também na forma-ção técnico-profissional. “Esta tarefa vem sendo comprada pelas entidades privadas, que estão enxergando isso como um nicho de mercado“, disse, citando a abertura de 30 mil vagas nesta área pela Estácio.

Ataque à educação pública é mundial

proposta do governo é oferecer educação privada e precária para os estudantes mais pobres, “garantindo, portanto, um serviço compatível com seu lugar na divisão social do trabalho”.

Outro objetivo, para o docente, seria o de converter a educação em uma ati-vidade de serviço, “uma nova fronteira para o capital”. “A principal ofensiva dos setores dominantes foi exatamente no campo da educação. A privatização da educação no Brasil nada tem a ver com os processos das décadas de 60, 70, 80 e 90. Algo novo acontece. Corporações financeiras estão assumindo o controle

da educação. O grupo Kroton domina 1,5 milhão de estudantes – mais do que as 60 universidades federais do país juntas”.

Leher concluiu afirmando que o ENE é um momento importante para a reor-ganização dos movimentos de defesa da educação pública. Ele reivindicou Florestan Fernandes ao dizer que é necessário um novo ponto de partida nessa disputa, tanto para lutar contra a mercantilização da educação quanto para construir, na prática, um projeto de educação voltado às necessidades dos trabalhadores. “O ENE demonstra que estamos no momento de construirmos nosso próprio projeto de

educação, da ciência, das artes. Precisamos unir esforços com essa perspectiva. Vamos começar a dar materialidade a esse novo marco da educação pública”, apontou.

Valério Arcary chamou a atenção para as ações globalizadas de ataques à educa-ção e aos trabalhadores. “O vocabulário é o mesmo em todo o mundo: meritocracia, produtividade, avaliações constantes. É um pacote do Banco Mundial que está sendo implementado. A diferença está apenas na velocidade em que esses pacotes se desenvolvem nos diferentes lugares”.

Arcary afirmou que há uma disputa ideológica em jogo, na qual os movimentos sociais organizados precisam atuar mais inci-sivamente. “Os governantes responsabilizam a população pelos fracassos dos serviços essenciais. É como se os governantes fossem iluminados e que o povo não prestasse. Isto é uma guerra ideológica. Podemos ganhá-la, mas é preciso fazê-la. Caso contrário, nossa juventude vai assimilar o discurso do opres-sor e achará que a responsabilidade pelos fracassos é individual, quando sabemos que é um problema social”.

Ele conclamou os presentes a somarem esforços para transformar as “ideias tão poderosas em ação”. “Nosso princípio deve ser muito objetivo e claro: nenhum centavo de dinheiro público para a

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A colombiana Rosa Cecília Lemus, da Associação Distrital de Educadores, expôs provavelmente o processo de privatização mais feroz. “Se privatizou absolutamente tudo”, disse, relatando que, da década de 1990 para cá, a Colômbia já viveu seis reformas educacionais. Nas universidades públicas, disse, foi instituída a cobrança de mensalidades, com a gratuidade se limitando a quem comprova ter uma renda inferior a determinado limite. Segundo ela, outra nova “invenção” é a privatização de colégios por meio de concessões. Nesta modalidade, o

Estado assegura a planta física da escola e transfere a gestão para uma empresa pri-vada, que recebe um repasse público por cada aluno matriculado.

Ocupou ainda boa parte dos relatos a descrição dos processos de precarização do trabalho e de retirada de direitos que atinge cada país. “Tínhamos direitos sociais que eram uma herança da revolução de 1920. Não foram presentes. Foi uma conquista que custou sangue, morte e muitas lutas”, disse Maria de La Luz Arriaga, da Universidade Autônoma do México, ao discorrer sobre a

investida liberal que vem derrubando direi-tos no seu país após 30 anos de resistência.

“Tivemos uma mudança na Constituição que retira dos professores o direito à estabili-dade e permite privatizar a educação”, disse.

O equatoriano Edgar Isch, da base da União Nacional dos Educadores e integrante da Rede Sepa, também relatou um cenário de criminalização das lutas no Equador, o que levou à marca atual de 200 sindicalis-tas acusados de serem “terroristas”. “Para Correa, [presidente do país], tudo o que se opõe ao [que ele considera] desenvolvimento é terrorista”, disse Edgar, assinalando que isso ocorre apesar de não existirem orga-nizações terroristas no país.

Assim como no Brasil com Lula, a ascensão de Correa ao governo do Equador levou a expectativas de mudanças e transformações sociais, que, segundo ele, não se concre-tizaram. Ao contrário, o próprio governo admite que segue fazendo o que se fazia antes, só que de uma forma “melhor”. “Não puderam privatizar uma série de coisas, mas não significa que não apliquem o modelo neoliberal”, sustentou. Na área da educação, isso levou a um duro enfrentamento com a União Nacional de Educadores, uma das mais fortes entidades sindicais do país.

educação privada. Mesmo os que nos consideram radicais vão concordar que dinheiro público deve ser destinado para a educação pública”.

Socialização de experiênciasOs grupos de discussão, realizados após

o debate inicial, permitiram socializar as experiências e aprofundar as discussões com base no acúmulo dos encontros pre-paratórios realizados nos estados durante o primeiro semestre, e nas reflexões pro-postas pelos expositores da mesa.

Segundo Marina Barbosa, 1ª secretária do ANDES-SN que coordenou um dos GD, este foi um espaço que possibilitou dois movimentos: “o primeiro é a socialização das experiências pelos que vivem o coti-diano da atual realidade da educação e que poderão apresentar suas propostas, e o segundo é o fato de que o resultado desses debates refletirá melhor a realida-de justamente por expressar as sínteses dos que estão vivenciando os ataques à educação e vem elaborando propostas coletivamente”.

ENE define plataforma de lutasOs gritos uníssonos de “10% do PIB

para a Educação Pública, Já!” marcaram

o término do Encontro. O encerramento teve início com a leitura dos resultados dos grupos de discussão. Todas as propostas apresentadas serão incluídas nos anais do ENE e servirão de base para os debates dos próximos encontros. Será elaborada ainda uma cartilha com a plataforma de lutas em defesa da educação.

Ao final, foi feita a leitura da carta do Rio de Janeiro, manifesto do ENE, que traz a sistematização dos sete eixos que nortearam os debates tanto do evento nacional quanto dos encontros prepa-ratórios e as propostas construídas com base na discussão dos grupos.

Para Samantha Lopes, coordenadora--geral do Sinasefe, que fez a leitura do manifesto, o documento inaugura um novo marco de aglutinação dos trabalhadores da educação e dos estudantes na perspectiva de pautar a construção de um projeto de educação construído pelos trabalhadores e para os trabalhadores. “Agora é dar continuidade nesse espaço de unidade e começar a materializar um projeto de educação do povo brasileiro, construído nesses moldes”, apontou.

Na avaliação de Paulo Rizzo, 2º secre-tário do ANDES-SN e presidente eleito do Sindicato Nacional, o ENE foi, em todos os sentidos, uma vitória, por ser resultado de

um processo de discussão que envolveu milhares de pessoas pelo Brasil afora.

“Ao reunir mais de duas mil pessoas, dois mil lutadores em defesa da educação pública, o Encontro teve uma unidade muito grande nas discussões, e expressou maturidade na aglutinação de forças. Foi um espaço de unidade na ação, no qual as divergências existem, mas são trabalha-das, e se priorizou o que é unitário para construir o enfrentamento às políticas governamentais e à visão privada da educação. Creio que, a partir de agora, vamos ter a possibilidade de repercutir muito mais as lutas em defesa da educa-ção pública, gratuita, de qualidade, laica e socialmente referenciada”, destacou Rizzo, coordenador da mesa da plenária final.

10Matéria Central

“A minha avaliação é que o Encontro foi realmente uma construção, reuniu pessoas

e delegações de todo o Brasil, foi espetacular, com teses extremamente transformadoras para a educação. Nesse sentido, o Encontro cumpriu seu objetivo e foi extremamente positivo. Eu participei de um grupo misto que era sobre a questão de acesso e permanência, e a nossa decisão lá é que esse Encontro não termine aqui, que tenha o segundo, o terceiro, que a gente tenha encontros regionais, enfim, o pontapé inicial está dado e tenho certeza que daqui pra frente nós estamos unificados em torno de um tema extremamente importante para o nosso país que é a educação”.

Júlio Quevedo da Sedufsm

"O Encontro Nacional de Educação me surpreendeu bastante. Eu não esperava

ver essa quantidade de pessoas de tantos cantos do Brasil participando. Fiquei muito bem impressionado com a qualidade dos debates, especialmente nos grupos. Com relação ao futuro, acredito que sairemos daqui com propostas bastante definidas de luta e estratégias já para o próximo semestre. É preciso unificar bandeiras para travar a luta contra os ataques perpetrados pelo governo e empresários contra a educação. É preciso mostrar para o governo que a população não está contente com os rumos que a educação pública vem tomando. Precisamos mostrar que queremos um Plano Nacional de Educação que seja pensado pela sociedade, que contemple as necessidades e expectativas da população".

Tadeu Machado da Sindunifap

“O que nos moveu a estar aqui é o sucateamento e a precarização da educação

que sofremos em todo o país. Particularmente na Estadual de Roraima, passamos por grave crise financeira e contenção de gastos. Como faltam recursos e infraestrutura, foi determinado pelo estado que o expediente só vai até às 14h, o que compromete todo o trabalho da universidade. Antes de vir, conseguimos realizar uma etapa preparatória do ENE. Agora, após as discussões, voltaremos com a missão de retomar os debates e avançar na construção da união de todos os setores da educação para reforçar a luta”.

Laurinete Rodrigues da Silva da Sinduerr

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InformANDES/2014 11Matéria Central

“O Encontro Nacional de Educação foi o resultado de uma construção nacional

contra o estado burguês antidemocrático, que tenta tirar do trabalhador o direito à educação pública, gratuita e de qualidade. O espaço foi fundamental para caminharmos na construção da unidade de todos que atuam na defesa da educação pública, gratuita, de qualidade, laica e socialmente referenciada”.

Caroline de Araújo Lima da Aduneb

“Achei muito interessante porque creio que nunca teve, pelo menos que eu me lembre,

um encontro deste tipo. Então, é mais gente para poder lutar. É muito interessante neste sentido. Estou impressionado com essa garotada, chega a ser emocionante. Esses estudantes serão professores no futuro também, e vão poder continuar essa luta. Por exemplo, eu não sei até quando estarei à disposição, por causa da minha idade, eu sou aposentado, mas estou aí na luta agora e ainda por um bocado de tempo, espero”.

Benedito Jesus Magalhães do Sindcefet/MG

"O Encontro Nacional de Educação se apresenta como um marco em defesa

da educação pública. Há muito tempo não conseguíamos reunir tantas pessoas em torno de um mesmo objetivo, num evento com uma agenda organizada. O mais importante é que o ENE mostra que os problemas vividos pelos diferentes setores são comuns e, portanto, a busca por alternativas e soluções pode ser conjunta. Este é o começo da resistência organizada ao Plano Nacional de Educação aprovado pelo governo. A reorganização da classe trabalhadora é necessária e começa agora. Ela não se encerra na educação, mas começa a partir dela na direção de conquistas muito mais amplas".

Claudio Ribeiro da Adufrj

“Gostei bastante do Encontro porque, pra gente que milita na área de educação,

há muito tempo não havia a oportunidade de ter o mesmo espaço em que professores dos diferentes níveis, das diferentes unidades da federação se encontrassem, junto também com os técnicos e os estudantes. Esse espaço é fundamental para você avaliar a luta, as bandeiras, onde é que a gente tem consenso, onde não tem. Quanto à perspectiva, o que mais me impressionou foi o grande número de pessoas que veio aqui, e isso me dá a impressão que não só eu, mas todos nós que estamos militando, estávamos ansiosos por um espaço como esse”.

Luis Allan Künzle da Apufpr

12 InformANDES/2014 Entrevista

Como você vê a situação da educação superior no México, e quais são as lutas e as disputas políticas por trás da educação mexicana?Maria de La Luz Arriaga: Como se falou

no ENE, o ataque à educação pública tem a ver com o interesse das corporações em se apropriar da educação como negócio e como controle ideológico. Mas essa apropriação não resulta somente em aumento da educa-ção privada – que vem crescendo no México, mas não tanto quanto no Brasil.

No meu país, as universidades e institutos públicos atendem a mais de 80% das matrí-culas do ensino superior, diferente do que ocorre aqui. Logo, essas corporações querem ampliar educação privada, e também se apropriar de toda a educação pública mexica-na, ter acesso às mentes dos jovens, à forma-ção, e à venda de serviços para eles.

Querem impor a sua forma para a adminis-tração das universidades. Por exemplo, fazer com que os estudantes comecem a pagar pela educação pública. A Unam, maior uni-versidade do país, atende a 400 mil estudan-

tes e é gratuita. Mas, em geral, as universida-des autônomas não o são, ainda que, com-parando com o Brasil, se paga pouco pelas matrículas – cerca de R$ 200 por semestre.

São três elementos centrais em disputa na educação mexicana. Primeiro, que todos aqueles que entram na universidade paguem por isso. Porque eles têm uma posição ide-ológica de que o que não se paga não tem qualquer valor.

Segundo, é diminuir o tempo de formação, ou seja, que os jovens cumpram seus cursos no prazo estabelecido e não fiquem nem um semestre a mais na universidade. Também querem que os estudantes que reprovam disciplinas no meio do curso não possam continuar seus estudos. Isso foi algo que já tentaram, mas não conseguiram. Terceiro, é a mudança de conteúdos e da estrutura dos cursos, tema que está em voga no momento. Há uma ofensiva para que se modifiquem os conteúdos dos cursos, porque se diz que es-tão muito atrasados, velhos e devem ser atu-alizados, e isso inclui o corte do número de anos nas graduações: três anos de graduação, dois de mestrado e três de doutorado.

"Está em jogo o que conhecemos como educação pública"Maria de La Luz

Arriaga é professora da Faculdade de

Economia da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), e membro da Coalizão Trinacional em Defesa da Educação Pública – movimento em defesa da educação que agrega sindicatos e estudantes do México, Estados Unidos e Canadá.Mariluz, como é chamada, também participa da Rede Social para a Educação Pública nas Américas – Rede Sepa –, que existe há 15 anos. A mexicana veio ao Brasil para participar do Encontro Nacional de Educação (ENE) e também da Reunião Internacional em Defesa da Educação Pública, organizada pela CSP-Conlutas, no dia seguinte ao Encontro. Em entrevista exclusiva ao InformANDES, a docente debate os problemas e perspectivas da educação pública no México e no mundo.

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Sobre a mudança de conteúdos, os inte-resses das corporações são de que matérias como Filosofia, História e Ética sejam redu-zidas ou deixem de existir, porque, obvia-mente, eles não querem que os estudantes tenham uma formação humanista e crítica. O enfoque da mudança de conteúdos também tem relações com uma visão de educação mais empresarial. Por exemplo, no curso de Comunicação Social, ao invés de se realizar um debate crítico sobre os programas de televisão, querem que os estudantes se alinhem às necessidades das empresas e do mercado.

E as disputas que envolvem mais diretamente os professores?M.A: Um problema da educação superior,

que atinge mais diretamente os professores e servidores, é a mudança do modelo de do-cência e de pesquisa para algo mais empresa-rial. Por exemplo, que os professores tenham que buscar seus próprios financiamentos, ou que vendam seus “produtos” para empresas.

Outra questão é a forma de pagamento aos professores. No México, temos uma distribui-ção salarial produtivista. Os índices de pro-dutividade, para uma carreira de dedicação exclusiva, representam dois terços do salário do docente. Isso é gravíssimo, pois segmenta a categoria e faz com que os salários sejam, em maior parte, pagos por hora-aula – o que limita o tempo dos docentes para formação, para reflexão e para pesquisa.

Qual o papel do Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) nesse ataque à educação, ainda mais em um país tão próximo aos EUA?M.A: Acredito que, particularmente nos

anos 80, quando começa a se instalar o neo-liberalismo na América Latina, o Banco Mun-dial e o FMI tiveram um papel fundamental no ataque à educação, pois condicionavam seus créditos para pagamento da dívida pública às mudanças estruturais nas áreas sociais, como educação e saúde. Hoje a si-tuação mudou um pouco, não porque essas instituições não estejam mais na disputa, mas porque os empresários querem, agora, estar na condução direta dessas políticas. Para isso, organizaram-se como empresários, mas sem se mostrar como tais. Dizem-se repre-sentantes da sociedade civil interessados na melhoria da educação.

Em nível internacional, existe também um organismo que cumpre um papel funda-mental nesses ataques, a Organização Para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A OCDE realiza uma avaliação e, atra-vés desta prova, dizem que nossos sistemas

educativos são um desastre, que os professo-res são péssimos, que os estudantes não sa-bem ler. No México, a OCDE se tornou quem dita as políticas de educação.

E quem essa organização representa? Os mesmos grupos financeiros de antes, que aproveitam para se repaginar, uma vez que o BM e o FMI estão com pouco prestígio após tantas lutas sociais que os trataram como inimigos do povo. Então eles se apresentam como OCDE e dizem que apenas assessoram as mudanças na educação. Fazem isso por meio de contratos pagos pelos Estados, que, ao final das contas, são pagos por nós. Ou seja, os governos os contratam, com nosso dinheiro, para fazer as leis que vão nos retirar direitos. Também é certo que, além do BM, do FMI e da OCDE, há empresas com muito poder que, silenciosamente, vão se apro-priando da educação, como a Pearson, uma enorme empresa transnacional que opera em todo o mundo, e que se apropria do saber a partir das novas tecnologias.

Aqui no Brasil estamos vivendo um aumento da criminalização dos movimentos sociais e dos movimentos sindicais. Essa situação existe em México? De que maneira?M.A: Assim como a imposição das políti-

cas neoliberais são parecidas no Brasil e no

México, as estratégias para combater a luta dos trabalhadores, camponeses e estudantes também são similares. A criminalização das lutas sociais é algo que sempre existiu, mas que agora se agudiza com o uso da força pública, militarizando espaços públicos para impedir que se exerça o direito de manifesta-ção. No México isso é muito frequente, não só com prisões, mas também com assassi-natos de militantes. Isso não se dá tanto ao setor da educação, mas principalmente com os movimentos camponeses e populares, em locais mais afastados da capital federal. Eles estão menos protegidos, porque se são pre-sos ou assassinados, não há uma organização nacional que possa reagir.

Qual é sua avaliação do ENE e das lutas brasileiras que você conheceu em sua estadia no Rio de Janeiro?M.A: Esse Encontro e a luta pela educação

são estratégicos. A nossa luta não é corpora-tivista e não pode ser. Tem que ser uma luta de todo o povo. E, para isso, os professores e estudantes têm que fazer dessa luta algo visível. Creio que existe uma grande força nos participantes do ENE, e me convenço mais ain-da de que a luta é internacional, e que temos que avançar nisso. Levo para o México a tarefa de aumentar os vínculos da luta dos brasileiros com os mexicanos pela educação pública.

InformANDES/2014 13Entrevista

InformANDES/201414Internacional

Palesti na é o nome dado, desde a Anti guidade, ao território localiza-do ao sul do Líbano e a nordeste da Península do Sinai, entre o Mar

Mediterrâneo e o vale do Rio Jordão. É conhecido como Terra de Canaã, como consta nos escritos bíblicos, prometi do por Deus aos descendentes de Abraão, como Isaque e Jacó. Na região, onde a parti r do século XIX estabeleceu-se o povo judeu, atualmente há o recrudescimento do massacre ao povo palesti no por parte do Estado de Israel. O confl ito não é a simples conti nuidade de agressões precedentes, pois a políti ca de Israel ganha a cada dia em número de mortes, feridos e destrui-ções. Os muros que cercam atualmente a Faixa de Gaza e Cisjordânia e a sistemáti ca políti ca de aumentar os assentamentos confi gura um processo quase irreversível. Por isso, para além do factual, é preciso compreender o confronto a parti r de seu longo rastro histórico, tendo como eixo norteador a gênese do confl ito: o nasci-mento do movimento sionista.

“O confl ito da Palesti na já foi explicado de todas as maneiras imagináveis, como um confl ito religioso (islamismo vs. ju-daísmo), cultural (Oriente vs. Ocidente), nacional (Palesti na vs. Israel). Ele não se

deixa encerrar, porém, nessas simplifi ca-ções. Os antecedentes do confl ito afun-dam suas raízes há mais de cem anos”, apontou Osvaldo Coggiola, professor de História Contemporânea da USP e 2º vice-presidente da Regional São Paulo do ANDES-SN.

Após a fuga da escravidão no Egito, aproximadamente no ano 1250 antes de Cristo (a.C), até as últi mas revoltas fracassadas contra os romanos, em 135 depois de Cristo (d.C), quando começou a diáspora judaica, os judeus (chamados de hebreus ou israelitas) viveram quase 1,4 mil anos na região da Palesti na. No entanto, como parte do processo de diáspora judaica, os israelitas espalharam--se pelo Império Romano; alguns grupos emigraram para a Mesopotâmia (região onde hoje se encontra o Iraque) e outros pontos do Oriente Médio, fora do poder de Roma.

A região, em 638, foi conquistada pelos árabes, no contexto da expansão do islamismo e, em 1517, o território foi incorporado ao Império Otomano.

Uma terra sem povo para um povo sem terra Em 1852, haviam 11,8 mil judeus na

Palesti na, chegando, em 1880, a aproxima-damente 24 mil, para uma população total de 500 mil habitantes. “O anti ssemiti smo na Rússia (com destaque para os pogroms czaristas) e as leis restriti vas anti ssemitas nos países da Europa Oriental suscitaram a consti tuição de colônias agrícolas judai-cas na Palesti na, que receberam grupos judeus provenientes dessas nações; pa-ralelamente, ocorreu também uma leva migratória judia para a Europa Ocidental e os Estados Unidos”, contou Coggiola.

Nesse momento nasce o movimento sionista, fundado pelo jornalista hún-garo Theodor Herzl, autor do livro O Estado Judeu, que pregava a criação de um Estado judeu na anti ga terra dos he-breus. Coggiola relembra que “a ideia do ‘retorno’ estava associada, de um lado, às perseguições anti ssemitas na Europa, e de outro, à tentati va de construção de um ‘lar nacional’ onde os judeus pudes-sem viver sem ser atacados”. Essa era a principal reivindicação do “Programa de Basiléia”, aprovado no primeiro congresso sionista, realizado na Suíça, sob o coman-do de Herzl, em 1897. Os antecedentes a favor dessa aspiração eram religiosos e históricos. A trajetória bíblica do povo israelense era contada a parti r de fatos

Israel e Palestina: a gênese do confl ito

Uma guerra desigual que dizima um povo e vai muito além da questão territorial

InformANDES/2014 15Internacional

relacionados com a região, desde os pri-meiros patriarcas.

O avanço do sionismo começou a se intensifi car. Quando começou a Primeira Guerra Mundial, já existi am 44 colônias agrícolas judaicas na Palesti na. Nesse pe-ríodo, enquanto segmentos de esquerda defendiam algum ti po de negociação com os árabes, o sionismo incenti vava a criação de estruturas militares para as disputas de terras com os árabes.

Os judeus organizaram grupos arma-dos que lutaram junto com os ingleses. A Legião Judaica chegou a ser incorporada ao exército Britânico. O objeti vo era destruir o Império Turco-Otomano, que desde 1517 controlava a Palesti na. “À medida que esse império perde a guerra, com a Alemanha e a Áustria, os territórios começam a ser divididos. A França assumiu vários ter-ritórios e a Palesti na passou então a ser administrada pela Grã-Bretanha, mediante mandato concedido pela Liga das Nações. A Inglaterra permiti u que os judeus entras-sem e começassem a comprar terras, o que foi ofi cializado através da Declaração de Balfour. Foi o chamado deslocamento branco. E assim foram se estabelecendo na região palesti na. O sionismo é um grupo muito forte e poderoso, que está por trás da direita israelense. Para muitos israe-lenses, o melhor sempre foi viver em paz. Diferente dessa direita, que hoje patrocina as colônias e as ocupações”, contou Márcio de Oliveira, secretário-geral do ANDES-SN e docente aposentado do Departamento de História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

“As companhias industriais e comer-ciais europeias começaram a intervir no

mundo árabe, interessadas no controle das jazidas petrolíferas da região”, comple-mentou Coggiola. Nessa época, residia na Palesti na uma população árabe bastante ampla (mais de 700 mil pessoas) sobre uma clara minoria judaica (por volta de 150 mil habitantes).

Após a Segunda Guerra Mundial, o fl uxo de imigrantes judeus ganhou im-pulso. Apoiado no senti mento mundial contra os crimes do nazismo sobre o povo judeu, a ONU formulou uma resolução, em 1947, propondo biparti r o território palestino, que estava sob o mandato britânico. A decisão foi imediatamente rejeitada pela Liga dos Estados Árabes. Coggiola conta que não houve qualquer consulta à população árabe local. Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano atacaram Israel, dando início a 1ª

Guerra Árabe-Israelense. Os árabes foram derrotados e Israel passou a controlar 75% do território palesti no. A parti r daí, iniciou-se o êxodo dos palesti nos para os países vizinhos. Os 25% restantes da Palesti na, correspondentes à Faixa de Gaza e à Cisjordânia, fi caram sob a ocupação do Egito e da Jordânia, respecti vamente.

Em 14 de maio de 1948 foi criado o Estado de Israel. É outorgado 52% do território para Israel e 48% para os palesti -nos, ainda que ali habitassem 1,3 milhões palesti nos e 600 mil judeus. Na parte que foi concedida para Israel viviam mais de 900 mil palesti nos.

A primavera árabe e o futuro do confl ito64 anos depois da proclamação do Estado

de Israel, a ONU reconheceu a Palesti na

InformANDES/201416Internacional

como Estado observador não-membro. O reconhecimento, em 29 de novembro de 2012, deu-se no contexto da primavera árabe, um ano após a tomada das ruas por milhões de israelenses contra os aparatos do estado sionista. Israelenses apontaram a contradição em relação à alta no preço das moradias, diante da especulação imo-biliária em Israel, e o grande volume de dinheiro gasto pelo governo de Benjamin Netanyahu para construir colônias na Cisjordânia ocupada. Em 2011, muitos mani-festantes marcharam pelo centro de Tel Aviv em solidariedade aos palesti nos, pedindo a criação de um “Estado palesti no pelo bem de Israel”, que respeitassem as fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967.

A primavera árabe, período em que grandes mobilizações revolucionárias despontaram no Oriente Médio, fez com que houvesse “uma mexida no tabulei-ro político”, apontou Oliveira. Apesar da queda de ditaduras no Egito e na Tunísia - o que representou o avanço das

forças populares-democráti cas-, ao mesmo tempo, se evidenciaram e fortaleceram forças mais à direita, por fora dos regimes, como no caso do neofascismo na Europa, o Tea Party nos Estados Unidos, as direi-tas fascistas pró-russas e pró-ocidentais na Ucrânia. O fortalecimento da direita sionista em Israel e do fundamentalismo religioso islâmico foram também expres-sões desse período pós-revoluções árabes.

Educação bombardeadaUm triste relato de uma guerra de-

sigual, que vitima muitos civis, entre estes centenas de crianças e mulheres, foi apresentado pelo palesti no Ahmad Anees Sihwil, durante o Encontro Nacional de Educação, realizado neste mês no Rio de Janeiro. O secretário-geral do Sindicato dos Professores da Palesti na, da Cisjordânia e de escolas palesti nas em acampamentos da ONU falou sobre a situação atual no território e a luta dos docentes daquela região, onde seis escolas já foram bombardeadas.

De acordo com ele, desde a construção do muro de separação, milhares de estu-

dantes e professores foram isolados de suas escolas. E, com o acirramento da violência de Israel contra a Palesti na, aumentaram também os "check-points' - postos de fi scalização -, o que faz com que trabalhadores e estudantes levem muito mais tempo

para se deslocar entre suas residên-cias e locais de trabalho e estudo,

além de serem constrangidos e muitas vezes impedidos de seguir caminho.

"Eu normalmente levo cerca de 30 minutos para chegar ao escritório. Agora, são mais de três horas de deslocamento e no mínimo três postos de fi scalização. Antes já era ruim, mas agora a situação é muito mais complexa. Isso tem impacto direto na vida coti diana de estudantes e trabalhadores. Além disso, enfrentamos a violência dos Exércitos dentro das escolas. Os soldados entram nas salas de aula para prender estudantes. Vocês podem imaginar o que é tentar ensinar e aprender nessas circunstâncias?", disse.

Sihwil explicou ainda que, para além dos problemas enfrentados para so-breviver no atual cenário de guerra, os professores das áreas ocupadas sofrem há tempos com baixos salários, péssimas condições de trabalho e criminalização por parte do próprio governo. O sindicalista contou que, em 2013, os trabalhadores da educação realizaram uma greve de mais de 20 dias, que foi duramente reprimida. Alguns dirigentes foram deti dos, o movi-mento paredista judicializado e levado a julgamento. A situação só não se agravou mais porque trabalhadores e estudantes realizaram uma grande manifestação na Cisjordânia, e, ao fi nal, os professores foram vitoriosos, garanti ndo 5% de rea-juste nos salários, entre outros benefí cios.

O dirigente ressalta que as enti dades sin-dicais têm duas frentes de luta: uma contra a Autoridade Palesti na para conquistar e garanti r os direitos dos trabalhadores e outra contra a ocupação e ataques promo-vidos por Israel. "No momento, nossa força e luta estão voltadas para esta segunda".

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