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ANTONIO CARLOS DOS SANTOS RA 410202541 8°B UNIDADE VERGUEIRO EDUCAÇÃO EM SAÚDE E O PAPEL DO ENFERMEIRO VISANDO ASSISTÊNCIA INTEGRAL Área de Concentração: Saúde Pública Orientador: Professor Alessandro Lira da Silva Projeto de Pesquisa apresentado à Universidade Nove de Julho referente ao Trabalho de Conclusão de Curso II para obtenção do título de Enfermeiro. . São Paulo 2011

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ANTONIO CARLOS DOS SANTOS RA 410202541 8°B UNIDADE VERGUEIRO

EDUCAÇÃO EM SAÚDE E O PAPEL DO ENFERMEIRO VISANDO

ASSISTÊNCIA INTEGRAL

Área de Concentração: Saúde Pública

Orientador: Professor Alessandro Lira da Silva

Projeto de Pesquisa apresentado à Universidade

Nove de Julho referente ao Trabalho de Conclusão

de Curso II para obtenção do título de Enfermeiro.

.

São Paulo

2011

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EDUCAÇÃO EM SAÚDE E O PAPEL DO ENFERMEIRO VISANDO

ASSISTÊNCIA INTEGRAL

Health education and the role of nurses played by integral assistance

ANTONIO CARLOS DOS SANTOS

Graduando do Curso de Enfermagem da Universidade Nove de Julho - [email protected]

ALEXANDRE LIRA DA SILVA

Especialista em Urgência e Emergência

Professor do Departamento de Ciências da Saúde

Da Universidade Nove de Julho

[email protected]

RESUMO

Na atenção primária em saúde, as doenças crônicas representam problemas de saúde pública.

Diante desta constatação e reconhecendo a importância da educação para a saúde no cotidiano

profissional do enfermeiro, objetivou-se nessa oportunidade apresentar as estratégias adotadas

para a adesão do paciente ao tratamento, visando a prevenção de complicações e maior

qualidade de vida. Para tanto, foi considerado pertinente o desenvolvimento de uma pesquisa

bibliográfica do tipo exploratória-descritiva. Os estudos evidenciam que as atividades

realizadas em grupos educativos representam as principais estratégias adotadas na

sensibilização dos pacientes em relação ao autocuidado e prevenção de complicações,

utilizando como referencial Paulo Freire, Teoria de Orem e a Metodologia do Arco, por

possibilitarem ações de interação, incentivando uma participação ativa, troca de experiências

a partir de relatos da vivência com a doença, o que favorece a compreensão ampliada da

problemática que se traduz em mudanças de comportamentos, com atitudes mais positivas.

Palavras-chave: Atenção Básica; Doenças Crônicas; Enfermagem; Educação em Saúde.

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ABSTRACT

In primary health care, chronic diseases pose public health problems. Given this finding and

recognizing the importance of health education in the daily professional nursing at that time

aimed to present the strategies adopted for patient adherence to treatment aimed at preventing

complications and improved quality of life. Therefore, it was considered appropriate to

develop a literature of exploratory-descriptive. Studies show that activities in educational

groups represent the main strategies used in patient awareness regarding the care and

prevention of complications, using as a reference to Paulo Freire, Orem Theory and

Methodology of Arc, by allowing actions to interact, encouraging a active participation,

exchange of experiences from accounts of living with the disease, which favors a broadened

understanding of the problem which translates into behavioral changes, with more positive

attitudes.

Key words: Primary Care; Chronic Diseases; Nursing; Health Education.

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INTRODUÇÃO

No contexto dos serviços da atenção primária, a promoção e o controle da saúde e prevenção

de doenças são considerados fundamentais na atualidade, uma vez que as pesquisas

desenvolvidas nas duas últimas décadas evidenciaram que os processos patológicos crônicos

não transmissíveis apresentaram um aumento significativo, representando assim um grave

problema de saúde pública, por serem causas principais de complicações incapacitantes e

aumento da mortalidade entre os indivíduos acometidos.1

Atribui-se como causas da ocorrência deste fenômeno o aumento da expectativa de vida da

população associado ao processo acelerado e crescente de urbanização e industrialização, que

resultaram em significativas modificações no estilo de vida, principalmente nos grandes

centros urbanos que envolvem hábitos culturais, tais como os alimentares inadequados (dietas

hipercalóricas e ricas em hidratos de carbono de absorção rápida), consumo de bebidas

alcoólicas, tabagismo, sedentarismo, formas de trabalho e de desgaste físico, além do estresse

psicológico condicionado à lida cotidiana e, especificamente, entre as mulheres, uso de

contraceptivos hormonais e menopausa.2

Dentre as doenças crônicas prevalentes, encontram-se Diabetes mellitus e Hipertensão

Arterial Sistêmica, sobressaindo-se às demais pelo fato de atingirem todas as faixas etárias e

resultarem, quando não devidamente controladas, em disfunção e falência de vários órgãos,

especialmente rins, olhos, nervos, coração e vasos sanguíneos, que se traduzem em

complicações graves como cegueira adquirida, doenças coronarianas, amputações de

membros inferiores, entre outras.3-6

Por conta desta gravidade, o tratamento de doenças crônicas tem como principal objetivo o

controle do agravo. Neste sentido, as diretrizes propõem o uso adequado da medicação,

quando prescrita, e, principalmente, modificações no estilo de vida, através de uma dieta com

o consumo calórico balanceado, associada à prática atividade física, redução do peso corporal

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e cessação do fumo e consumo de bebidas alcoólicas quando presentes, permitindo assim

alcançar e/ou manter um estado de saúde. As recomendações objetivam ainda aliviar os

sintomas da doença, melhorar a qualidade de vida, prevenir complicações agudas e crônicas,

reduzir a mortalidade e tratar as doenças associadas.7-10

O seguimento dos pacientes a tais recomendações é de grande relevância, uma vez que os

resultados obtidos em estudos clínicos e epidemiológicos comprovam crescente prevalência e

elevados índices de morbidade e mortalidade relacionados às doenças crônicas, como também

acréscimo nos custos envolvidos no controle e no tratamento de suas complicações, que

impõem alterações de comportamento ao seu portador em relação à dieta alimentar, ingestão

de medicamentos e estilo de vida, representando assim um desafio aos profissionais da área

de saúde atuantes na atenção primária.8,11-12

Diante de tal constatação, objetiva-se nessa oportunidade revisar os estudos desenvolvidos na

área de Enfermagem que abordam a educação em saúde para os indivíduos portadores de

doenças crônicas, como meio de desenvolver ações voltadas à melhoria do autocuidado dos

indivíduos na prevenção de complicações.

A escolha por esta temática deu-se pelo desejo de conhecer melhor a atuação da Enfermagem

nas ações preventivas, enfatizando as ações educativas na atenção primária, em relação à

prevenção de doenças crônicas na comunidade, por acreditar que esta se constitui em uma

excelente ferramenta para melhorar indicadores que mostram o desconhecimento da

comunidade sobre os meios de evitar complicações.

OBJETIVO GERAL

Revisar estudos que abordam a atuação do enfermeiro como educador na atenção básica de

saúde.

OBJETIVO ESPECIFICO

Elucidar as estratégias adotadas pelos enfermeiros no âmbito da educação em saúde, que os

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tornam multiplicadores de conhecimentos, métodos e técnicas de aprendizado para a

comunidade com relação à prevenção de agravos e manutenção do estado de saúde.

METODOLOGIA

A fim de alcançar o objetivo proposto foi considerado pertinente o desenvolvimento de uma

pesquisa bibliográfica, através de uma busca informatizada de artigos científicos indexados

nas principais bases de dados bibliográficos da área de saúde: LILACS (Literatura Latino-

Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), MEDLINE (Medical Literature Analysis and

Retrieval System Online) e SciELO (Scientific Eletronic Library Online), utilizando-se os

seguintes descritores: enfermeiro, enfermagem, educação, saúde, educador, atenção, básica.

Nesta busca adotou-se um recorte temporal delimitando o período das publicações entre os

anos de 2006 e 2011, em razão de fornecer informações atualizadas.

Os critérios de inclusão dos artigos utilizados foram: publicações redigidas em português e

inglês; presença dos termos escolhidos no título ou presença dos descritores anteriormente

citados; artigos indexados na íntegra, disponíveis somente nas bases de dados selecionadas.

DESENVOLVIMENTO

Compreendendo a Educação em Saúde na Atenção Primária

Na sua trajetória histórica, o objeto do trabalho de Enfermagem sempre foi o “cuidado”,

porém, no atual momento, é dispensado ao ser enfermo e não à doença. Agora, o olhar volta-

se para o paciente de forma holística, reconhecendo-o como um ser capaz de pensar, agir e

sentir; alguém que tem anseios, temores, incertezas, que precisa de um pouco mais de atenção

e carinho. Por conta de todas as transformações ocorridas, descreve-se a Enfermagem hoje

como a arte e a ciência do cuidar. E para que isso seja viável é necessário um processo de

interação entre quem cuida e quem é cuidado, favorecendo uma troca de informações e de

sentimentos entre essas pessoas.13

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Este cuidado, a princípio realizado somente no contexto hospitalar, expandiu-se para os

serviços extra-hospitalares, destacando-se entre estes a atenção básica de saúde cuja proposta

é fornecer assistência integral (promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos,

diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde) e contínua aos indivíduos que,

apesar de estar na atenção primária, encontra-se ligada a uma rede de serviços de forma a

garantir a resolução de problemas de saúde da família, apontada como o objeto principal de

atenção, sendo considerado também os seus ambientes físico e social, ultrapassando o

cuidado individualizado focado na doença.14-15

Tem-se então uma mudança na atenção da assistência ao processo saúde-doença, colocando

em primeiro lugar as ações de proteção e promoção à saúde dos indivíduos e da família, tanto

dos adultos quanto das crianças, sadios ou doentes, de forma integral e contínua, abandonando

de vez a oferta de serviços de saúde voltados para a doença.

Na atenção básica de saúde, os profissionais e a população assistida criam vínculos de co-

responsabilidade, o que facilita a identificação e o atendimento aos problemas de saúde da

comunidade, o que se traduz num novo conceito de relacionamento humano no âmbito da

saúde pública.16

Isso significa voltar à atenção ao ser humano, e para as suas características

físicas e mentais, assim como para a alteração das mesmas.17

Para tanto, é necessário resgatar uma assistência e um cuidado que não considera somente as

questões biopsíquicas, mas que reconheça valores de vida, condições sociais e busque formas

de enfrentar os problemas, indo além dos sinais e sintomas, mas também a sua maneira de

caminhar na vida. Por conta desta mudança de foco, há um consenso sobre ser a educação em

saúde, enquanto área de atuação da Enfermagem, de grande relevância, devendo ser

considerada como indispensável na prática profissional. Acredita-se constituir papel do

enfermeiro abordar as questões educacionais em saúde envolvendo as suas diversas áreas de

trabalho. Desse modo, espera-se que o enfermeiro funcione como “educador” para os outros

membros da equipe, assim como para os pacientes.18-19

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Na trajetória acadêmica ficou nítido que o enfermeiro na sua prática profissional está sempre

envolvido com situações referentes ao processo de ensino, seja assistindo pacientes e

promovendo educação em saúde, ou ainda, exercendo atividades administrativas junto à

equipe de Enfermagem e participando de programas de educação continuada e, também,

atuando diretamente no ensino contribuindo para a formação de futuros profissionais.

Dentre estas situações, sobressai-se a educação em saúde por ser um conjunto de saberes e

práticas, orientados para prevenção de doença e promoção de saúde. Trata-se de uma

estratégia por meio da qual o conhecimento cientificamente produzido no campo da saúde,

intermediado pelos profissionais, atinge diretamente a vida cotidiana das pessoas, em razão da

compreensão dos condicionantes do processo saúde-doença contribuindo assim para a adoção

de novos hábitos saudáveis.20

Assim, deve-se entender a educação em saúde como ação baseada no diálogo e na troca de

saberes. Se traduz em um intercâmbio entre o saber científico, a prática de profissionais e a

realidade dos indivíduos, em que cada um deles tem muito a ensinar e a aprender.

A ação educativa em saúde constitui um processo que leva os indivíduos ou grupos

assumirem ou ajudarem na melhoria das condições de saúde. Os profissionais e a população

devem compreender que a saúde da comunidade depende de ações oferecidas pelo serviço de

saúde, como também de esforço da própria população através de conhecimento, compreensão,

reflexão e adição de práticas de saúde. Por esta razão, muitos profissionais vêm implantando

experiências de atenção à saúde, onde passam a conviver com seus movimentos e sua

dinâmica interna, introduzindo o pioneirismo de educação popular, que tem proporcionado

aos profissionais inovações de forma extremamente criativa na relação educativa com a

população e seus movimentos organizados.21

Essa relação mais profunda do profissional de saúde com a população possibilita, inclusive,

condições para redefinição crítica da prática técnica em vários serviços de saúde, apontando

para um modelo mais integrado aos interesses populares. Assim, vai se configurando no

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Brasil, uma postura de relação entre os profissionais de saúde e a população, voltada para a

geração de novos conhecimentos e novas maneiras de organização social. As ações educativas

devem buscar a participação e reflexão conjunta dos profissionais de saúde com a população

sobre os diferentes aspectos relacionados às doenças e as ações de controle das mesmas na

tentativa de sensibiliza-la para adoção de atitudes e comportamentos compatíveis ou

condizentes com uma vida mais saudável.22

Dentre os profissionais de saúde comprometidos com essa nova postura, encontra-se o

enfermeiro, sendo que a sua atuação eficaz na prevenção primária de saúde tem sido

comprovada, revelando a sua importância nos programas de prevenção junto à população, não

só como técnico, mas também como educador e orientador.23-25

Experiências dos Enfermeiros na Prevenção de Doenças Crônica na Atenção Primária

Foi possível constatar que diversas publicações têm reportado a relevância de programas

educativos para promover maior adesão ao tratamento de doenças crônicas, em virtude das

evidências demonstrarem que um melhor controle se traduz, a longo prazo, na redução do

risco de complicações.3-4,7,9,12,26-33

Essas doenças, de evolução lenta e progressiva, que acometem milhares de pessoas em todo

mundo, demanda aos profissionais da área de saúde o oferecimento de um acompanhamento e

seguimento contínuo aos seus portadores, bem como orientações adequadas sobre a doença,

tratamento e prevenção das complicações agudas e crônicas. Para tanto, é necessário um

envolvimento harmonioso e contínuo entre pacientes, família e profissionais de saúde, na

busca de se atingir o equilíbrio biológico, psíquico e social do indivíduo.34.41

Os estudos selecionados3,4,7,9,12,25,28,32,35-41

apresentam Programas de Educação por

reconhecerem esta estratégia como parte essencial no controle de doenças crônicas, que, por

sua vez, exigem um processo contínuo de alteração de hábitos de vida que demanda tempo,

espaço, planejamento, material didático e profissionais capacitados. As evidências

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comprovaram que somente seguir a medicação prescrita não é o suficiente para a melhoria da

qualidade de vida desses indivíduos.

Os relatos de experiências analisados revelam que entre as estratégias educacionais, os grupos

de convivência, participativos, operativos e interativos são os mais desenvolvidos, por haver

um consenso que a educação em saúde deve estar voltada para a construção de conhecimentos

que favoreçam o autocuidado e a autonomia das pessoas, na perspectiva de que possam ter um

viver mais saudável, enfrentando os desafios impostos pela doença.25

Portanto, constata-se que a educação em saúde abordada nos estudos consultados representa

um alicerce para a construção do autocuidado consciente, prevenção do surgimento de

complicações e, principalmente, para a melhoria da qualidade de vida dos portadores de

doenças crônicas. Significa, portanto, a aquisição de conhecimento, não como mero

recebimento de informações, mas em concretas mudanças de comportamentos para a adesão

ao tratamento proposto.25,36

Nesta perspectiva, as ações educativas, junto ao paciente, família e comunidade, têm um

caráter de controle da doença, focando o cuidado pessoal diário adequado e adoção de um

estilo de vida saudável. Para tanto, o paciente necessita ser estimulado pelo enfermeiro, no

papel de educador, a manter uma vida independente, adaptando-se da melhor maneira

possível às modificações exigidas para o controle da doença. Desse modo, as ações educativas

terão muito a contribuir para uma melhor qualidade de vida.

Os autores consultados demonstram que a educação em saúde pode ser desenvolvida de várias

maneiras, como através de educação individual e em grupo, utilizando dinâmicas interativas e

lúdicas, dramatizações, role playing (treinamento de papéis), troca de experiências, além de

material didático contendo ilustrações e conteúdos interessantes que despertam a atenção do

paciente, ou ainda, objetos como manequim do corpo humano.28,35-36,39

As informações fornecidas pelas estratégias de educação individual e em grupo beneficiam o

sujeito com uma mudança de comportamento e a conscientização de que suas ações são

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imprescindíveis no sucesso do tratamento proposto. O enfermeiro, como profissional

fundamental da equipe, assume a educação em saúde como atividade inerente a sua atuação,

cujas intervenções tem como foco principal o indivíduo com doença crônica incluindo

cuidados específicos e as ações educativas, focando temas como fisiopatologia, prevenção das

complicações agudas e crônicas, importância da dieta saudável e da prática de atividades

físicas, entre outros cuidados.28,35

O atendimento individual, realizado através da consulta de Enfermagem, permite ao

enfermeiro conhecer melhor o paciente em seus hábitos de vida, suas práticas de autocuidado,

sendo considerado a melhor maneira de estabelecer o processo educativo, além de favorecer

um vínculo entre o profissional e o paciente, considerados como importantes facilitadores

deste processo. Nesse momento, propõem-se a transmissão de orientações específicas de

acordo com as necessidades de cada indivíduo, fortalecendo a prática educativa. Nas

atividades em grupos, a partir de dinâmicas lúdicas e interativas, os participantes são

motivados a trocarem experiências em relação à vivência com a doença e, ao mesmo tempo,

adquirirem informações dos profissionais acerca da doença e do tratamento, a fim de se

conscientizarem sobre a importância do autocuidado no controle do processo patológico.

Portanto, nas duas estratégias, os participantes têm a oportunidade de relatarem suas

experiências, receberem informações adequadas além de apoio, num clima de descontração e

lazer.28

Também são relatadas estratégias nas quais os participantes são os próprios autores do

material didático, com o auxílio do enfermeiro e demais profissionais da equipe

multiprofissional, como no caso da elaboração de cartilhas que ensinam a conviver com o

Diabetes, contendo ilustrações e textos obtidos das reuniões em grupos, abordando temas

como fisiopatologia, atividade física e alimentação, atendendo assim necessidades específicas

dos pacientes. As experiências evidenciam que esta estratégia de confecção de material escrito

a partir das vivências dos portadores de Diabetes se apresenta como uma contribuição valiosa

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para se desenvolver habilidades e favorecer a autonomia do indivíduo. Do ponto de vista

profissional, contribui com a prática assistencial e educacional, oferecendo assim uma

assistência integral, por reconhecer que a participação do indivíduo possibilita a aquisição de

conhecimentos e a troca de experiências.35

Programas voltadas para a avaliação do conhecimento dos portadores de Diabetes antes e

depois da sua implementação também se mostram valiosos, devido o fato de proporem

atividades educativas em sala de aula, através de palestras e dramatizações, bem como

caminhadas no parque, festas comemorativas e relatos de experiências, contando com

recursos didáticos como cartazes, figuras, transparências, retroprojetor, projetor de slides,

folhetos e materiais para demonstração (seringas, agulhas, monitor de glicemia, lancetas,

algodão, álcool, balança, entre outros). Os resultados obtidos com tais programas revelam um

aumento significativo no conhecimento dos participantes, traduzido na prática em mudanças

de comportamento relacionadas ao tratamento, como maior adesão no controle de glicemia,

dieta adequada, prática de atividade física, maior atenção aos cuidados com os pés,

monitorização dos sinais e sintomas de complicações e um apoio maior dos familiares.38

Já nos grupos de convivência, outra estratégia educativa em que são adotadas as Teoria de

Orem e a Educação Libertadora de Paulo Freire, os participantes têm oportunidades

enriquecedores tanto para a troca de experiências como repensarem as atitudes em relação à

doença. A partir da proposta de Trentini e Dias denominada “4 Erres”(4R), cada reunião passa

a adotar quatro fases na formação de um grupo de convivência, que seriam: fase do

reconhecimento, fase da revelação, fase do repartir e do repensar. Na fase do

reconhecimento, as pessoas se apresentam individualmente e iniciam o processo de identidade

enquanto grupo, contemplando não somente o reconhecer o grupo, mas também a si mesmas

enquanto integrantes do grupo. O revelar inicia-se à medida que se estabelece uma relação

de confiança. As pessoas revelam o que pensam, sentem e suas expectativas em relação ao

grupo. Ao revelarem situações pessoais, já passam para a fase do repartir, em que surgem as

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dificuldades, os problemas e a busca de soluções. Nessa fase, os portadores repartem as

alterações que percebem nos pés, os cuidados que realizam, os significados, os sentimentos e

a esperança do viver melhor. No repensar, tem-se o pensar novamente após ter sido

experienciado o processo. Com a troca de experiências os participantes repensam sobre o que

faziam, avaliando e construindo um novo pensar em grupo. Os resultados obtidos com os

grupos de convivência revelaram as potencialidades das pessoas com doenças crônicas e o

poder que estas detêm sobre suas ações na transformação consciente de sua situação saúde-

doença e de seu ambiente. A educação em saúde participativa apresentou-se como

fundamental estratégia para reflexão e discussão das situações de saúde, levando à tomada de

consciência, o que conduziu a um melhor enfrentamento das situações vivenciadas.25

As atividades realizadas em grupos educativos representam as principais estratégias adotadas

pelos enfermeiros na sensibilização dos pacientes portadores de doenças crônicas em relação

ao autocuidado e prevenção de complicações, modificando somente a teoria adotada e os

recursos didáticos adotados como, por exemplo o referencial teórico de Paulo Freire, Orem, e

metodológicos de Manguerez (Metodologia do Arco adaptada por Bordenave). No geral, são

propostas ações de interação entre os membros do grupo, a fim de motivar uma participação

ativa, possibilitando a troca de experiências a partir de relatos da vivência com a doença, o

que favorece a compreensão ampliada da problemática que se traduz em mudanças de

comportamentos, com atitudes mais positivas.25,37

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As evidências demonstram que a doença crônica não controlada representa uma perda

importante na qualidade de vida e, portanto, um problema de saúde pública, responsável por

índices elevados de morbimortalidade na população, como também pelos custos envolvidos

no seu controle e no tratamento de suas complicações causadoras de graves incapacidades.

Por essa razão, o trabalho não pode ser realizado de forma rotineira e/ou protocolar, haja vista

a demanda de um cuidado integral, numa perspectiva preventiva e não mais curativa.

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Neste contexto, o enfermeiro atuante na atenção primária que assiste o portador de doença

crônica, tem a incumbência de manter, promover e recuperar a sua saúde. Para tanto, necessita

desenvolver estratégias a fim de facilitar o processo educativo sobre seu agravo e tratamento,

facilitando assim sua adesão à terapêutica proposta e, ao mesmo tempo, auxiliando no

enfrentamento de situações impostas para o controle do distúrbio apresentado.

Ações educativas direcionadas aos pacientes portadores de doenças crônicas são de grande

relevância, uma vez que tais agravos exigem continuamente comportamentos especiais e

autocuidado. Os estudos evidenciam que os enfermeiros encontram-se cientes desta

importância. Estes profissionais, por meio dos grupos operativos, vêm desenvolvendo

programas com resultados positivos no que diz respeito à maior adesão dos pacientes ao

tratamento e adoção de um estilo de vida mais saudável.

As estratégias propostas pelos enfermeiros visam criar ambientes de troca mútua de

experiências entre os indivíduos que vivenciam problemas comuns, obtendo resultados

positivos para a melhoria da qualidade de vida e saúde.

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