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8/18/2019 1938 - Os Complexos Familiares Na Formação Do Indivíduo (Outros Escritos)
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Os complexos familiares
na formar;ao do individuo
Ensaio de analise de uma funriio em psicologia
JN71(QDU~Ao
A INSTITUI
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ca, basta refletir sobre 0 que 0 senti men ' postulados espiritLnis qLle c to clepatermclacle deve aos
< m arcaram seu 1· I'compreencler que, nesse domfnio ' . ' A e,~senvo Vllllento paraas naturais a ponto de nC" d' as JnstancJas culturals dominam
, dO po ermos cons'cI .. ' ,casos em que como WJ ad _ , I el aJ paracloxals os
S " " < < ogao, umas substltuem as GLltrasella essa estrutura cultural da l' T' " '
acessfvel aos metoclos' eLl " ] , ami Id humana Jntelramente, c 1< PSICOOcr l 'l Co nc ' t " bse? Sem cllivicla esses 111't d . b b < l,e,d,O servagaoe amlli-
, , "e 0 os astam " 'cI '"sencJals com o 'I estl'LltL " h' " , pal d eVI enCldl tragos es-
,
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de casais biologicos, mas sobretudo um parentesco menos confor-
me aos la~os naturais de consangUinidade.
o primeiro desses aspectos foi demonstrado por Durkheim, el?or ~~auconnet depois dele, com base no exemplo historico da
famIlra romana; pelo exame dos sobrenomes de familia e do direi-
to sucess6rio, descobrimos que apareceram tres grupos sucessiva-
mente, do .mais amplo ao mais estreito: a gens, agregado muitoa~p~o ~e .lmhagens paternas; a famflia agnata, mais estreita, po-
re~ mdIvIsa; e por fil.n, a famflia que submete apatria potestas do
avo os pares conJugals de todos os seus filhos e netos.
Quanto ao segundo aspecto, a famflia primitiva desconhece
os ~a?os biologicos do parentesco - urn desconhecimento apenas
~undIco, na parcIalIdade unilinear da filia~ao, mas tambem uma
Ignorancia positiva, ou talvez um desconhecimento sistematico
(no senti do de paradoxo da cren
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I) Sua forma representa essa realidade no que ela tem de ob-
jetivamente distinto numa dada etapa do desenvolvimento psfqui-
co; essa etapa especifica sua genese.
2) Sua atividade repete na vivencia a realidade assim fixada,
toda vez que se produzem certas experiencias que exigiriam uma
objetivac;:ao superior dessa reaIidade; tais experiencias especifi-
cam 0 condicionamento do complexo.
Essa definic;:ao, por si s o , implica que 0complexo e dominado
por fatores culturais: em seu conteudo, representativo de um obje-
to; em sua forma, ligada a uma eUlpa vivida da objetivayao; por
ultimo, em sua manifestac;:ao de carencia objetiva em relac;:ao a
uma situac;:ao atual, isto e, sob seu aspecto trfplice de reJac;:~lode
conhecimento, forma de organizac;:ilo afetiva e experiencia no
choque com 0 real, 0 compJexo e compreendido pOl'sua referencia
ao objeto. Ora, toda identifica
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miliares. Complex os, imagos, sentimentos e cren
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cientemente coordenadas para que se conclua 0 reconhecimento
do corpo proprio, nem tampouco, correlati vamente, a i(h~iado queIhe e externo.
Muito cedo, contudo, certas sens
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explica a generalidade do complexo e 0 fato de ele independer dos
acidentes da ablactas;ao. Esta - 0desmame no sentido estrito _
confere expressao psfquica, a primeira e tambem a mais adequa-
da, a imago mais obscura de um desmame mais antigo, mais dolo-
roso e de maior amplitude vital: aquele que, no nascimento, separa
a crians;a da matriz, numa separa
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AU-aves disso, tudo 0 que constitui a unidade domestica do
grupo familiar passa a ser para 0 indivfduo, a medida que ele se
torna malS capaz de abstraf-Jo, objeto de uma afei~ao diferente das
que 0unem a cada membro desse grupo_ Tambem au-aves disso, 0
abandono das garantias comportadas pela economia familiar tem
o peso de uma repetil;aO do desmame e, na maioria das vezes, esomente nessa ocasiao que 0complexo e suficientemente liquida-
do. Qualquer retorno a essas garantias, mesmo que parcial, pode
desencadear no psiquismo estragos desproporcionais ao beneffcio pratico desse retorno.
Todo remate da personaJidade exige esse novo desmame. He-
~el formulou que 0 indivfduo que nao luta por ser reconhecido
fora do grupo familiar nunca atinge a personaJidade antes da mar-
te. 0sentido psico]c)gico dessa tese se evidenciara na seqUencia de
nosso estudo. Em materia de dignidade pessoaJ, e somente ~ldas
ent~dades nominais que a famflia promove 0 indivfduo, e s6 podelaze-Io na hora do sepultamento.
A satural;ao do complexo funda 0 sentimento materno' sua
sUblimal;a~ contribui para 0 sentimento familiar; sua liquid~~ao
delxa vestlglOs em que se pock reconhece-Ia: e essa estrutura da
imago qu~ 1,'icana base dos progressos mentais que a remaneja-
ram. Se tIvessemos que definir a forma mais abstrata em que a
encontramos, nos a caracterizarfamos assim: uma assimila~ao
pertelta da totahdade ao ser. Nessa f6rmula, de feil;ao meio filoso-
hC .:l,. reconhecemos as nostalgias da humanidade: a miragem me-
tahslca da harmonia universal, 0 abismo mfstico da fusao afetiva
a utopia social de uma tutela totalitaria, todos safdos da obsessa~
com 0 parafso perdido de antes do nascimento e da mais obscuraaspinll;ao ~l mOlle.
o co~nplexo da intrusao representa a experiencia feita pelo sujeito pnmltlvo, na malOrIa das vezes quando ve um ou varios de seus
semelhantes paniciparem C0111ele cia rela~ao domestica, ou, dito
cI~outra maneira, quando se reconhece entre irmaos. As condi~oes
clIsso, ponanto, sao muito variaveis, por um lado, conforme as
culturas e ': extensao que eJas conferem ao grupo domestico, por
outro, contorme as contingencias individuais, e, antes de mais
11;lda,conforme 0 lugar que 0 acaso confere ao sujeito na ordem
do,s nascimentos, conforme a posil;aO dinastica, dirfamos, que ele
;l.ssim ocupa, antes de qualquer conflito: a de abastado ou a de
lIsurpador.
o ciume [jalousie] infantil impressiona desde longa data os
observadores: "Vi com meus pr6prios olhos" , disse Santo Agos-linho, "e observei bem um menino tom ado de ciume: ele ainda
nao falava, mas nao conseguia desviar as olhos, sem empaJidecer,
do amargo espetacu!o de seu irmao de leite" (Conjissoes, t, VII).
Durante muito tempo, 0fato af revel ado ao assombro do moralista
licou reduzido ao valor de um tema de retorica, utilizavel para
todos os fins apologeticos.
A observal;ao experimental da crianl;a e as investigal;oes psi-
canalfticas, ao demonstrarem a estrutura do cit:ime infantil, escla-
receram seu papel na genese da sociabilidade e, atraves disso, do
proprio conhecimento como humano. Digamos que 0 ponto cru-
cial revelado pOI'essas pesquisas e que 0 ciLlIne, no fundo, repre-
senta nao uma rivalidade vital, mas uma identifical;ao mental.
Ern crianl;as entre seis meses e dois anos, confrontadas aos
pares e sem terceiros e entregues a sua espontaneidade ILldica,
podemos constatar 0seguinte fato: entre as crianl;as assim coloca-
dasjuntas surgem real;oes diversas nas quais parece manifestar-se
uma comunical;aO. Dentre essas real;oes, um tipo se destaca, por
podermos reconhecer nele uma rivalidade objetivamente definf-
vel: de fato, ele comporta entre os sujeitos uma certa adaptal;ao
das posturas e dos gestos, qual seja, uma conformidade em sua
alternfll1cia e uma cOl1vergencia em sua sucessao, que os ordenam
como provocal;oes e respostas e permitem afirmar, sem prejulgar
a consciencia c10s sujeitos, que eles discernem a situa~ao como
tendo uma safda c1upla, como lima alternativa. Na medida mesma
dessa adaptal;aO podemos aclmitir que, ja nessa eUlpa, esbo\a-se 0recol1hecimento de um rival, isto e, de lim "OLltro" como objeto.
Ora, embora tal real;ao possa ser muito precoce, ela se mostra
cleterminada por uma conclil;ao to.o dominante que se afigura unf-
voca, a saber, um limite que nao pock ser ultrapassaclo na c1istflll-
cia etaria entre os sujeitos. Esse limite restringe-se a dais meses e
meio no primeiro ana do perfoclo considerado, e continua igual-
mente estrito ao se ampliar.
Quando essa condi~ao nao e satisfeita, as real;oes observadas
entre as crimwas confrontaclas tem um valor total mente diferente.
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Examinemos as mais freqUentes: as da eXibi
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na economia dos instintos vitais que levou Freud a afirmar uminstinto de mOTte.
Quem quiser seguir a ideia que indicamos acima e apontar
conosco, no mal-estar do desmamc humano. a origem do desejo
de morte, reconhecera no masoquismo primario 0momento diale-
tico em que 0 sujeito assume, pOl' seus primeiros atos ludicos, a
reprodu
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coordenagao dos aparelhos. Daf resulta um estagio que, afeti va e
mentalmente, constitui-se com base numa proprioceptividade que
apresenta 0 corpo como despeclagado: pOl' um Iado, 0 interesse
psfquico e deslocaclo para tendencias que visam a uma recolagem
clocorpo proprio; por outro Iado, a realiclade, inicialmente subme-
tida a um despeclagamento perceptivo cujo caos atinge ate suas
categorias - pOl' exemplo, "espagos" tao dfspares quanta as su-
cessivas posigoes estaticas da crianga -, ordena-se refletinclo as
formas do corpo, que fornecem como que 0 modelo de todos osobjetos.
Ha af LII:laestrutura arcaica do mundo humano cujos vestfgios
profundos Ioram mostrados pel a analise do inconsciente: fanta-
sias de desmembramento, de desarticuIa
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constitui seu objeto do que e determinado por ele; revela-se 0arquetipo dos sentimentos sociais.
Assim concebido, 0 eu nao encontra antes dos tres anos sua
c?nstitui.c,;ao essencial - aquela, como estamos vendo, da objeti-
vldade fundamental do conhecimento humano. Ponto noUivel
este ultimo extrai sua riqueza e sua potencia da insuficiencia vital'
do hOl:nem em sua origem. 0 simbolismo primordial do objeto
tanto favorece sua extensao para fora dos limites dos instintos
vitais, quanto suapercep
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ta esse elemento psicologico como sendo a forma especffica da
familia humana e the subardina todas as varia~oes sociais da famf-
lia. A ordem metodica aqui proposta, na considera~ao tanto das
estruturas mentais quanto das realidades sociais, conduzini a uma
1 4 6 1 revisao do complexo que permitini situar na historia a famflia
patriarcal e esclarecer melhor a neurose contemporanea.
. A psicanalise revelou na crian~a pulsoes genitais cujo apogeu
sltua-se no quarto ana de vida. Sem nos estendermos aqui em sua
estrutura, digamos que elas constituem uma especie de puberdade
psicologica, muito prematura, como se ve, em rela~ao a puberda-
de fisiologica. Ao fixar a crian~a, an'aves de um desejo sexual, no
obJeto mais proximo que a presenc,:a eo interesse narmalmente lhe
oferecem, a saber, 0genitor do sexo oposto, essas pulsoes dao sua
base ao. complexo, cujo no e formado pela frustrac,:ao del as. Ape-
sar de lI1erente a prematuridade essencial dessas pulsoes, essa
frustnt
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baseou numa dessimetria, surgida desde as primeiras investiga-
c;:6es,na situac;:ao dos dois sexos em relac;:ao ao Edipo. 0 processo
que vai do desejo edipiano a sua repressao so parece tao simples
quanta 0expusemos na crianc;:a do sexo masculino. E tambem esta
que costuma ser constantemente tomada pOl' sujeito nas exposi-c;:6esdidaticas do complexo.
1481 Com efeito, 0 desejo edipiano parece muito mais intenso no
menino e, portanto, pela mae. POl' outro lado, a repressao revela,
em seu mecanismo, trac;:osque a princfpio so parecemjustificaveis
se, em sua forma tfpica, ela for exercida do pai para 0filho. Nisso
reside a fato do complexo de castrac;:ao.
Essa repressao se efetua por L I m duplo movimento afeti vo do
sujeito: agressividade contra a genitor em relac;:ao ao qual seu de-
seJo sexual 0coloca na posic;:ao de rival, e temor secundario, expe-
nmentado em contrapartida, de uma agressao similar. Ora, esses
dois movimentos saD sustentaclos por uma fantasia tao notavel,
que ela foi individualizada com eles no chamado complexo de
castrac;:ao. Se esse tenllO se justifica pelos fins agressivos e repres-
sivos que aparecem nesse momenta do Edipo, ele e pouco confor-me, no entanto, a fantasia que constitui seu dado original.
Essa fantasia consiste, essencialmente, na mutilac;:ao de um
membro, isto e , numa sevfcia que s6 pode servir para castrar 0macho. Mas a realidade aparente desse perigo, acrescida '10 fato
d~ sua ameac;:a ser real mente formulada pOl' uma tradic;:ao educa-
clonal, levari a F;'reud a concebe-Io como inicialmente sentido
por seu valor real, e a reconhecer num medo inspirado de macho
para macho - pelo pai, na verdade - 0 prototipo da repressaoechplana. .
Nesse percurso, Freud recebeu 0 respaldo de um dado socio-
16gico: nao apenas a proibic;:ao do incesto com a mae tem um
carater universal, atraves das relac;:6es de parentesco infinitamente
diversificadas e nao raro paradoxais em que as culturas primitivas
imprimem 0 tabu do incesto, como tambem, seja qual for 0 nfvel
da consciencia moral numa cultura, essa proibic;:ao e sempre ex-
pressamente formulada e sua transgressao e marcada pOl' uma re-
provac;:ao constante. Foi por isso que Frazer reeonheceu no tabu da
mae a lei primordial da humanidade.
Foi assim que Freud deu 0 saIto teorico cujo carMer abusivo
assinalamos em nossa introduc;:ao: da famflia co'njugal que ele ob-
servava em seus sujeitos para uma hipotetica famflia primitiva
nl11cebida como uma horda que um macho dominaria pOl' sua
~;uperioridade biol6gica, monopolizando as mulheres nt"ibeis.
I;reud baseou-se no vfnculo constatado entre os tabus e observan-
cias relacionados com 0 totem, alternadamente objeto de inviola-
Ililidade e de orgia sacrificial. Ele imaginou um drama de assassi-
llato do pai pelos filhos, seguido por uma consagrac;:ao p6stuma deseu poder sobre as mulheres par parle dos assassinos, prisioneiros
de uma rivalidade insollivel: evento primevo do qual, juntamente [4 '.1 1
com 0 tabu da mae, teria safdo toda a tradic;:ao moral e cultural.
Mesmo que essa construc;:ao nao Fosse destrufda pelas simples
petic;:6es de princfpio que comporta - atribuir a um grupo biol6-
gico a possibilidade do reconhecimento de uma lei, que e justa-
mente 0que se lrata de fundamentar -, suas pr6prias supostas
premissas biol6gicas, a saber, a permanente tirania exercida pelo
chefe da horda, se reduziriam a um fanlasma cada vez mais incer-
(0, conforme 0avanc;:o de nossos conhecimentos sobre os antro-
p6ides. Mas sobreludo os vcslfgios universalmente prescntes e a
cxtensa sobrevivencia de uma eslrutura malriarcal da famflia, bemcomo a existencia, em sua Circa,de todas as formas fundamentais
da cultura, especial mente de uma repressao amiude rigorosfssima
da sexualidade, evidenciam que a ordem cia famflia humana tem
fundamentos que escapam ~l forc;:ado macho.
Parece-nos. contudo, que a imensa coleta de fatos que 0com-
plexo de Edipo tem permitido objetivar, ha uns cinqUenta anos,
pode esclarecer a estrutura psicologica da famflia mais do que as
intuic;:6es sumamente precipitadas que acabamos de expor.
o complexo de Edipo marca todos os nfveis do psiquismo,mas os teoricos da psicanCtiise nao definiram sem ambigUidade as
func;:6es que ele exerce em fUI1(,,:aode l1ao haverem distinguido
suficientemente os pIanos de desenvolvimento com base nosquais 0 explicam. Se, com efeito, 0 complexo Ihes parece 0 eixo
segundo 0qual a evolw,:{io da sexllalidade projeta-se na CO!7stitlli-
~'{iuda realidade, esses dois pianos di vergem, no homem, pOl'uma
incidencia especffica, que decerto e reconhecida por eles como
repress{iu da sexllalidade e sublinzaf'{io da realidade, mas que
tem de ser integrada numa concepc;:ao mais rigorosa clessas rela-
c;:6esestrlltllrais: 0 papeJ de maturac;:ao desempenhado pel a com-
plexo num e noutro desses pIanos s6 poc!e ser tido como paralelo
em termos aproximati vos.
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o aparelho psfquico da sexualidade revela-se na crianc;a, ini-cialmente, sob formas as mais aberrantes em relac;ao a seus fins
biologicos, e a sucessao dessas formas atesta que e pOl' urn amadu-
recimento progressivo que ele se conforma a organizac;ao genital.
Essa maturac;ao da sexualidade condiciona 0 complexo de Edipo,
formando suas tendencias fundamentais, mas, inversamente, 0
complexo a favorece, dirigindo-a para seus objeros.
o movimento cIoEdipo opera-se, com efeito, pa r um conflitotriangular no sujeito; ja vimos a articulac;ao cIas tendencias prove-
nientes do desmame procIuzir uma farmac;ao cIesse tipo; e tambem
a mae, objeto primario dessas tendencias, como alimento a ser
absorvido e ate como seio em que se reabsorver, que se propoe
inicialmente ao desejo edipiano. Assim, e compreensfvel que esse
desejo se caracterize melhar no homem, e tambem que oferec;a
nele uma oportuniclade singular para a reativac;ao das tendencias
do desmame, isto e, para uma regressao sexual. Essas tendencias
nao constituem, de fato, apenas um impasse psicologico; opoem-
se, alem disso, particularmente aqui, a
atitude de exteriorizac;aoque e conforme ~latividade do macho.
Muito pelo contrario, no outro sexo, no qual essas tendencias
tem uma safda possfvel no destino bioIogico do sujeito, 0 objeto
materno, desviando uma parte do desejo edipiano, decerto tende a
neutralizar 0 potencial do complexo e, aU'aves disso, seus efeitos
de sexualizac;ao, mas, ao impor uma mudanc;a de objeto, a tenden-
cia genital cIesvincula-se melhor das tendencias primitivas, e mais
facilmente ainda pOl'nao tel' que inverter a atitude de interiarizac;ao
herdada dessas tendencias, que sao narcfsicas. Chega-se assim a
conclusao ambfgua de que, de um sexo para OLltro,quanto mais a
formac;ao do complexo e destacada, mais aleatorio parece ser seu
papel na adaptac;ao sexual.Vemos aqui a influencia do complexo psicologico numa rei a-
c;ao vital, e e atraves disso que ele contribui para a constituic;ao da
realidade. 0que ele traz para esta furta-se aos termos de uma
psicogenese intelectualista: e uma certa profundidade afetiva do
objeto. E ssa e uma dim ensao que, apesar de com par a base de
qualquer compreensao subjetiva, nao se distinguiria como feno-
meno se a cIfnica das doenc;as mentais nao nos fizesse apreende-la
como tal ao propor toda uma serie de suas degradac;oes aos limitesda compreensao.
Apesar de constituir, com efeito, uma norma da vivencia, essa
dimensao so pode ser reconstrufda pOl' intuic;oes me.taforicas: den:
_
pelas iIusoes do sosia, pelos sentimentos de ad.lvl~~ac;a~, de ~artl-
cipac;ao e de inlluencia, pelas intuic;oes de slgn~hca?ao, ate de:
sembocar no crepCIsculo do mundo e na abolIc;ao
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c;;6es,ora de soluc;;6es - com as crises afetivas. E diferenciando 0
funcionamento formal do complexo que se pode estabelecer, entre
sua func;;ao e a estrutura do drama que the e essencial, uma relac;;aomais definitiva.
Se 0complexo de Edipo marca 0auge cia sexualiclade infantil,
ele e tambem 0 mobil cia repressao que reduz suas imagens ao
estado de latencia ate a puberdacIe; se determina uma condensac;;aoda realidade no sentido da vida, ele e tambem 0momento cIasubli-
mac;;ao que, no homem, abre para essa realidade sua ampliac;;aodesi nteressada.
As fonnas sob as quais se perpetuam esses efeitos sao cIesig-1 5 2 1 d d
na' as e supereu ou ideal cIo eu, conforme sejam, para 0 sujeito,
conscientes ou inconscientes. Elas reprocIuzem, como se costuma
cIizer, a imago do genitor do mesmo sexo, assim contribuincIo 0
ideal do eu para 0 conformismo sexual do psiquismo. Mas a ima-
go do pai, segundo a cIoutrina, teria nessas duas func;;6es um papel
prototfpico em razao da dominac;ao masculina.
Quanto a repressao da sexualidade, essa concepc;;ao repOLlsa,
como indicamos, na fantasia de castrac;ao. Se a doutrina a relacio-
na com LIma ameac;a real, e porque, antes cIe mais nada, genial-
mente clinamicista para reconhecer tendencias, FreucI se manteve
fechado, pelo atomismo tracIicional, para a icIeia da autonomia das
formas; assim e que, ao observar a existencia cIa mesma fantasia
na menina, ou de uma imagem Uilica da mae nos dois sexos, viu-se
coagido a explicar esses fatos por revelac;;6es precoces da domina-
c;;aomasculina, revelac;;6es estas que concIuziriam a menina a nos-
talgia da virilidade, a crianc;;a a conceber sua mae como viril. Uma
genese que, apesar cIeencontrar um fundamento na identificac;;ao,
requer em seu uso uma tal sobrecarga de mecanismos que pareceerrada.
Ora, 0 material da experiencia analftica sugere uma interpre-
tac;;ao diferente; a fantasia de castrac;ao e precedida, com efeito, por tocla uma serie de fantasias cle despedac;;amento clo corpo, que
regricIem da desarticulac;;ao e do desmembramento, passando pela
eviscerac;;ao, pelo desventramento, ate a devorac;;ao e 0 sepulta-mento.
o exame dessas fantasias revela que sua serie se inscrevenuma forma de penetrac;;ao, de sentido simultaneamente destruti-
vo e investigador, que visa 0 segredo do seio materno, mas que
essa relac;ao e vivida pclo sujeito de um modo mais ambivalcnte
" 1 1 1 proporc;ao a seu arcafsmo. Contudo, os est~ldiosos que melhor
, (lmpreencIeram a origem materna dessas fantasias (.iV!elal1l~
I,lein) atem-se apenas a simetria e a extensao que elas conferem a
I (lrmac;;ao do Edipo, revelando, por exemplo, a nostalgia da mateI'-
IIiclacIeno menino. Scu interesse prende-se, a nosso ver, a evidente
11Tcalidade da estrutura cIelas: 0exame das fantasias que encontra-
IllllS nos sonhos e em certos impulsos permite afirmar que elas nao
';l: relacionam com nenhum corpo real, mas com um manequim
Itcteroclito, uma boneca barroca, um trofeu de membros em que
l"onvem reconhecer 0objeto narcfsico cuja genese evocamos mals
;\cima: condicionacIa pela precedencia, no homcm, das formas
1ll1aginarias cIocorpo sobre 0 domfnio do corpo proprio, pelo va-
1m de cIefesa que 0 sujeito cI{1a cssas formas, contra a angustia cia
d ila ce rac ;;a o vit al q uc e obra da pre ma tura c; ao. .
A fantasia dc castrac;ao relaciona-se com esse mesmo obJeto:
sua forma, nascida antes cIe qualCjuer demarcac;;ao do corpo pro-
prio, antes de qualCjucr distinc;;ao dc uma amcac;;a do a(~ulto, l:~O
depende do sexo clo sujeito e mais determina clo que sotre as for-
ll1ulas da tradic;iIo educacional. Ela representa a clcfesa que 0 eunarcfsico identificado com seu cIuplo especular, op6e a renovac;;ao
da angCls~iaque, no primeiro momenta do Edipo, tende a abala-Io:
crise que menos causa a irrupc;;ao do desejo ge~ital no sujeito clo
que 0objeto que ele reatualiza, ou seja, a mae. A angustia cIes?~r-
tacla pOl' esse objeto, 0 sujeito responde reproduzll1do a reJelc;;ao
masoquista mediante a qLlalsuperou sua perda primordial, mas ele
a p6e em pratica conforme a estrutura que adquiriu, isto e, numa
tocalizac;;flo imagin
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sentando a mais maciga repressao. Essa forga se distribui com a
di~e~'enci~gao dessa forma, isto e, com a progressao pela qual 0
sUJelto dIscerne a instiincia repressora na autoridade do adulto'
seria imposslvel compreendermos de OLltromodo 0fato, aparente~
I.nente contn.irio a teoria, de que 0rigor com que 0 supereu inibe as
fungoes do sujeito tende a se estabelecer na proporgao inversa aos
tragos de severidade reais da educagao. Embora 0supereu ja rece- ba da simples repressao materna (disciplinas do desmame e dos
esflncteres) trag os da realidade, e no complexo de Edipo que ele
ultrapassa sua forma narcfsica.
Aqui se introduz 0 papel desse complexo na sublimagao da
reahdade. Devemos partir, para compreende-Io, do momento em
que a doutrina mostra a solugao do drama, a saber, da forma que
ela descobriu neste - da identificagao. De fato, c em razao de
uma identificagao do sujeito com a imago do genitor do mesmo
sexo que 0 supereu e 0 ideal do eu podem revelar a experiencia
trag os conformes ~IS particularidades dessa imago.
A doutrina ve nisso a obra de um narcisismo secundario; ela
nao distingue essa identifica
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m~is punt. A imago da mae na iclentifica
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bem demonstrar um processo real de "abertura" do liame social
na autoridade paterna, e dizer que, pelo conflito funcional do Edi-
po, ela introduz na repressao um ideal de promessa.
Caso se refiram aos ritos sacrificiais com que as culturas pri-
mitivas, mesmo havendo chegado a uma concentra
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Enfim e acima de tudo, a evidencia da vida sexual nos repre-
sentantes das coen,;oes morais e 0 exemplo singularmente trans-
gressor da imago do pai quanto a interdi
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AS complexos familiares cumprern, nas psicoses, uma fun~ao for-
mal: temas familiares que prevalecem nos delfrios, pOl' sua con-
formidade com a parada que as psicoses constituem no eu e na
realidade; nas neuroses, os complexos exercem uma fun~ao cau-
/6 2 1 sal: incidencias e constela\;oes ramiliares que determinam os sin-tomas e as estruturas segundo os quais as neuroses dividem, intro-
vertem ou invertem a personalidade. Tais sao, em poucas pala-
vms, as teses desenvolvidas neste capitulo.
E eviclente que, ao qualificar de familiares a forma de uma
psicose ou a Fonte de uma neurose, entendemos esse tenno no
senticlo estrito de uma rela~ao social que este estuclo se empenha
em clefinir e, ao mesmo tempo, justificar pOl'sua fecuncliclacle ob-
jetiva: assim, 0que decorre ciasimples transmissao biol6gica cleve
ser clesignaclo como" herecliUirio" e nao como" familiar", no sen-
ticlo estrito cleste tenno, mesmo que se trate cle uma afec~ao psi-
quica, a despeito clo uso corrente no vocabuLirio neurol6gico.
Foi com essa preocupa~ao cleobjeti viclade psicol6gica que estuda-
mos as psicoses, quando, clenlre os primeiros na Fran~a, fizemos
questao de compreendc-Ias em sua rela\;ao com a personalidacle:
ponlo de vista a que nos levOll a ideia, desde entao cada vez mais
reconhecida, cle que a totaliclacle clo psiquismo e implicada na le-
sao ou no deficit de qualquer elemenlo de seus aparelhos ou suas
fun~oes. Essa ideia, que era demonstrada pel os disturbios psfqui-
cos causados por lesoes localizaveis, pareceu-nos ainda mais apli-
cavel as produ
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sobre qualquer possibilidade de compensa
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nas psicoses, os complexos sao conscientes, ao passo que sao in-
conscientes nas neuroses. Isso nao e rigoroso, pOl'que, pOl' exem-
plo, 0 sentido homossexual das tendencias na psicose e desconhe-
cido pelo sujeito, apesar de traduzido na inten\;ao persecutoria.
1 6 6 1 Mas a formula aproximativa permite nos surpreendermos com 0
fato de tel' sido nas neuroses, onde eles SaD latentes, que os com-
plexos foram descobertos, antes de serem reconhecidos nas psico-ses, onde SaD patentes. E que os temas familiares que isolamos nas
psicoses sao apenas efeitos virtuais e estc'iticos de sua estrutura,
representa\;oes em que 0 eu se estabiliza; apresentam, portanto,
apenas a morfologia do complexo, sem revelar sua organiza\;ao
nem, par conseguinte, a hierarquia de seus caracteres.
Daf 0evidente artificialismo que marcava a classifica\;ao das
psicoses pelos temas delirantes e 0descredito em que havia cafdo
o estudo desses temas, antes que os psiquiatras fossem a des re-
conduzidos pelo impulso para 0concreto dado pela psicanalise.
Foi assim que alguns, pod endo acreditar-se os men os afetados pOl'
essa influencia, renovaram a importancia clfnica de certos temas,
como a erotomania ou 0 delfrio de filia\;ao, ao cleslocarem a aten-
c;ao do conjunto para os detalhes de seu romanceamento e desco-
brirem nisso as caracterfsticas de uma estrutura. Mas so 0 conhe-
cimento clos complexos pode trazer para tal pesquisa, com uma
dire\;ao sistemLltica, uma certeza e um avan\;o que ultrapassem em
muito os meios cia observa\;ao pura.
Tomemos, pOl' exemplo, a estrutura clotema dos interpretaclo-
res filiais, tal como a clefiniram Serieux e Capgras como entidade
nosologica. Caracterizanclo-a pelo mobil ciaprivagao afetiva, ma-
nifesta na freqUente ilegitimiclacle clo sujeito, e par uma farma\;ao
mental do tipo "romance cle grancleza" , cle aparecimento normal
entre os oito e os treze anos, os autores pretenclem reunir a fabula
ciatroca dos filhos, amaclurecida desde essa idade, fabula esta pela
qual uma clacla solteirona clo vilarejo identifica-se com outra maisfavorecicla, com as pretensoes, cujajustifica\;ao parece equivalen-
te, de algum "falso delfim" . Mas, ainda que este pense apoiar seus
direitos na clescri\;ao minuciosa de uma maquina de aparencia ani-
malesca, em cujo ventre teria sido preciso esconde-Io para realizar
o seqUestro inicial (a historia de Richemont e seu "cavalo extra or-
dinario" , citacla pOl' esses autores), nos, pOl' nosso turno, cremos
que essa fantasia, que decerto poclemos tomar por redundante e
imputar a debilidade mental, revela, tanto por seu simbolismo de
"l'sta\;ao quanta peJo lugar que Ihe confere 0 sujeito em seu delf-
110. uma estrutura mais arcaica de sua psicose.
Resta estabelecer se os complexos que clesempenham esses [67]
jlapeis cle motiva\;ao e tema nos sintomas cia psicose tem tambem
IIIII papel de causa em seu cleterminismo; e e ssa questao e obscura.
De nossa parte, se quisemos compreender esses sll1tomas
;Ilraves cle uma psicogenese, estamos longe de haver pensado em
tom isso reduzir 0cleterminismo da cloen\;a. Muito pelo contrario,
;10 demonstrar na paranoia que sua fase fecunda comporta um
"stado hiponoico ~ confusional, onfrico ou crepuscular~, sub!j-
Ilhamos a necessiclacle de um mobi! arganico para a subclu\;ao
mental em que 0 sujeito se inicia no delfrio.
Em Olltro trabalho, mais uma vez, inclicamos que e em alguma
lara biologica cia libido que se cleveria procurar a causa cia estag-
Ilagao da sublimagao em que vemos a essencia da psicose. Isso
quer dizer que acreditamos num cleterminismo end?geno cI"apSl-
cose e que quisemos apenas refutal' certas patogemas mechocres
que, atualmente, ja nem sequel' poderiam passar pOl' representar
;tlguma genese" orgfll1ica": pOl' um laclo, a reclu\;flO cia cloen\;a a;ilgum fen6meno mental, prctcnsamente automatico, que, como
lal, nao pocleria carresponclcr ~lorganiza\;ao perceptl va, ou scp, ao
nfvel cle cren\;a que clestacamos nos sintomas realmente elementa-
res cia interpreta\;aO e cia alucina\;ao; por outro laclo, a pre-forma-
«ao cia cloen\;a em pretensos tnl\;OSconstitucionais clo carater, Cj~e
desaparecem ao submetermos a investiga
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1 6 8 1 seja pela interpreta'iaO dos dados clfnicos, seja por uma exp]ora-
' iao do sujeito que, por nao saber ser curati va aqui, tem de se
manter prudente, mostra que 0 ideal do eu formou-se, muitas ve-
zes em razao dessa situa'iao, segundo 0 objeto do irmao. Esse
objeto, passando a libido destinada ao Edipo para a imago da ho-
mossexualidade primitiva, fornece um ideal narcfsico demais para
nao abastarelar a estrutura da subli ma'iao. Alem elisso, uma elispo-
si'iao " em redorna" do grupo familiar tende a intensificar os efei-
tos de soma'iao caracterfsticos da transmissao do ideal do eu,
como indicamos em nossa analise do Edipo; mas, enquanto hi ele
se exerce normalmente num sentido seletivo, aqui esses efeitos
atuam num sentido degenerati YO.
Se 0 abortamento da realidade nas psicoses prende-se, em
Ciltima instflllcia, a uma deficiencia biologica da libido, revela
tambem uma deriva'iao da sublima'iao em que 0 papel do comple-
xo familiar e corroborado pelo concurso de numerosos dados clf-
nlcos.
Convem assinalar, com efeito, as anomalias da personalidade
cuja constflllcia na parentela clo paranoico e sancionada pela eo-nhecida denomina'iao de "ninhos cle paranoicos" , aplicada pelos
psiquiatras a csses meios; pela frcqLiencia da transmissao da para-
noia na linhagem familiar direta, muitas vezes com um agrava-
mento de sua forma para a parafrenia, e peb preeessao temporal,
relativa ou ate absoluta, de seu aparecimento no descendente; e
pOI'fim, pela eletividade quase exclusivamente familiar dos casos
de delfrios a dois, bem evideneiada nas antigas antologias, como a
de Legrand du SauIIe em sua obra sobre 0 "delfrio de persegui-
'iao" , na qual a amplitude da escolha compensa a falta de sistema-
tiza'iao com a ausencia de parcialidade.
Quanto a nos, e nos delfrios a dois que acreditamos apreender
melhor as concliyoes psicologicas que podem desempenhar um
papel determinante na psicose. Excetuados os casos em que 0 cle-
Ifrio emana de um genitor acometido por um distCtrbio mental que
o coloca na posi'iao de tirano clomestico, encontramos constante-
mente esses delfrios num grupo familiar que chamamos de des-
completado, no qual 0isolamento social que ele propicia surte seu
efeito maximo, a saber, 0 "par psicologico" formado por uma
m ae e uma filha ou por duas irm as (ver nosso estudo sobre as
irmas Papin), ou, mais raramente, por uma mae e um filho.
()s complexos familiares revelam-se, nas neuroses, por um angu]o
tota]mente diferente: e que, nelas, os sintomas nao manifestam
nenhuma rela'iao, a nao ser contingente, com um objeto familiar.
Os complexos, no entanto, cumprem af uma fun
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c;;a,reativando as emoc;;6es primordiais de seu apego a mae, pelos
sinais de sua gravidez e pelo espeuiculo dos cuidados que ela pres-
ta ao recem-nascido, e pOI' fim cristalizando, na presenc;;a do pai
junto dela, 0 que a crianc;;a adivinha do misterio da sexualidacle, 0
que ela sente pOI'seus impulsos precoces e 0que teme pelas amea-
c;;asque Ihe profbem sua satisfac;;ao masturbatoria. Tal e, pelo me-
nos, definida pOI' seu grupo e pOI' seu momento, a constelac;;aofamiliar que para Freud forma 0 eurnplexo nodal das neuroses.
Ele cxtraiu daf () complcxo de Edipo, e vcrcmos melhor, mais
adiante, como cssa origem domina a concepc;;ao que ele formou
desse complexo.
Concluamos aqui que uma dupla instancia de causas e defini-
da pelo complexo: os traumas j{l citados, que recebem sua impor-
tancia da incidencia que tem em sua evoluc;;ao, e as relac;;6es do
grupo familiar que podem determinar atipias em sua constituic;;ao.
Se a pratica das neuroscs evidencia, com efeito, a freqUencia das
anomalias da situac;;ao familiar, e preciso, para definir seu efeito,
voltarmos a produc;;ao do sintoma.
As impressoes provenientes do trauma pareciam, numa pri-meira abordagcm, determinar 0sintoma pOI'uma relac;;ao simples:
uma parte diversa da lembranya delas - se n~losua forma repre-
sentativa, ao men os suas correlac;;oes afetivas - e, nao esquccida,
mas recalcada no inconsciente, eo sintoma, embora sua produyao
tome caminhos nao menos diversos, deixa-se reduzir a uma fun-
c;;aode cxpressao do recalcado, 0qual assim manifesta sua perma-
nencia no psiquismo. Com efeito, nao apenas a origem do sintoma
era compreendida pOI' uma interpretac;;ao segundo uma chave -
entre outras coisas, simbolismo, deslocamento etc. - que cOI1Vi-
nha a sua forma, como tambem 0sintoma cedia ~lmedida que essa
compreensao era comunicada ao sujeito. Que 0 tratamento do sin-
toma prendia-se ao fato de tel' sido levada a consciencia a impres-
saD de sua origem, ao mesmo tempo que se demonstrava ao sujeito
a irracionalidade de sua forma, tal induc;;ao teve seus caminhos
abertos no espfrito pela ideia socnltica de que 0 homem se Iiberta
ao se conhecer pelas intuic;;oes da razao, Mas foi preciso introduzir
na simplicidade e no otimismo dessa concepc;;ao correc;;6es cacla
vez mais rigorosas, a partir do momento em que a experiencia
mostrou que uma resisteneia e oposta pelo sujeito a elucidac;;ao do
sintoma e que uma tran~fereneia afetiva, que tem pOI' objeto 0
analista, e a forc;;aque vem a prevalecer no tratamento.
Dessa etapa, no entanto, restou a ideia de que 0 sintoma neu-
IIIIico representa no sujeito um momenta de sua experiencia no
Illl~dele nao sabe se reconhecer, uma forma de divisao da persona-
Iidade. Mas, a m edida que a analise discerniu m ais de perto a
Ilrocluc;;aodo sintoma, sua compreensao recuou da clara func;;aode
I','\pressao do inconsciente para uma funyao mais obscura de defe-
',;1 contra a angustia. Essa angustia, Freud a considerou, em suas,oncepc;;6es mais recentes, como 0 sinal que, pOI'ter-se desprendi-
,10 de uma situayao primordial de separac;;ao, desperta ante a simi-
IItude de um perigo de castrac;;ao. A defesa do sujeito, se e verdade
'Iue 0 sintoma fragmenta a personalidade, consistiria, portanto,
,'In levar em conta esse perigo, proibindo-se tal accsso ~lrealidade,
sob uma forma simbolica ou sublimada. A forma que se reconhcce
Ilcssa concepc;;ao do sintoma nao cleixa, em princfpio, mais resfcluo
do que seu contet:iclo ao ser compreenclicla pOI' uma dinamica clas
[cndencias, mas tende a transformar em termos estruturais a refe-
rencia clo sintoma ao sujeito deslocando 0 interesse para a func;;ao
do sintoma no tocante as relac;;6es com a real iclade.
Os efeitos cle proibic;;ao cle que se trata constituem relac;;6es
que, apesar de serem inacessfveis ao controle consciente e so semanifestarem em negativo no comportamento, revelam c1aramen-
te sua forma intencional a luz ciapsican{tlise; mostrando a unidacle
de uma organizac;;ao, clescle 0 aparente acaso dos tropec;;os das fun-
c;;6ese da fataliclade das "sinas" que fazem a a
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desejo sexual e a ilusao indi vidual da vontade de poder, manifesta
nas formas imaginarias cIoeu uma condic;ao nao men os estrutural
da realiclade human'l. Se esse sistema e muito mal cIefinicIo pOl'um
uso cIo tenno "ideal do eu" que 'linda 0 confunde com 0 supereu,
basta.no entanto para captar sua originalidade indicarmos que ele
consytul como segredo cIe consciencia 0 proprio domfnio que 0
anahsta tem cIo misterio do inconsciente; mas e precisamente por
ser demaslado lInanente a experiencia que ele tem de ser isolado
e.m~ultimo lugar pela cIoutrina: e para isso que contribui esta expo-slc;ao.
. Se as instfll1cias psfquicas que escapam ao eu aparecem pri-
memtmente como efeito do recalque da sexuaiidacle na infflllcia
sua formac;ao se revel a, na experiencia, cada vez mais proxima:
quanto ao tempo e i:leSlrutura, da situac;ao de separac;flo que a
am'ilise da angustia faz com que se reconhec;a como primordial, eque e a do nascimento.
A referencia de tais ef"eitos psfquicos a uma situac;ao tao ori-
ginalnao se da sem obscuridade. Parece-nos que nossa concepc;ao
cIoestaclio do espelho pock contribuir para esclarece-Ia: ela esten-
cIe0
suposto trauma dessa situac;ao a todo um estagio de despeda-c;amento funcional, determinado pelo inacabamento especial do
sIstema nervoso; cIa reconhece, desde esse estagio, a intenciona-
lizac;ao dessa siluac;ao em cIuas manifesla
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Dessa "anomia" , que favoreceu a descoberta do complexo, de-
pende a forma de degradac;ao pela qual a conhecem os analistas:
forma que definiremos pOl' um recalque incompleto do desejo pela
mae, com uma reati vac;ao da angustia e da investigaC;ao inerentes
a relac;ao do nascimento; pOl' um abastardamento narcfsico da
idealizac;ao do pai, que faz ressaltar, na identificac;ao edipiana, a
ambi valencia agressi va imanente il relac;ao pri mordial com 0se-melhante. Essa forma eo efeito comum tanto das incidcncias trau-
maticas do complexo quanta da anomalia das conex6es entre seus
objetos. Mas a essas duas ordens de causas correspondem, respec-
tivamente, duas ordens de neuroses - as chamadas neuroses de
transferencia e as chamadas neuroses de carater.
Ha que pOl' de lado a mais simples dessas neuroses, isto e, a
fobia, sob a forma cm que cIa e mais freqUentemente observada na
crianc;a: aquela que tem por objeto um animal.
Ela nao e sen~10uma forma substituta da degradaC;il0 do Edi-
po, porquanto nela 0 animal grande representa imediatamente a
mal' como gestante, 0 pai como amcac;ador e 0 irm~lo mais novo
como intruso. Mas cia mcrece uma observaC;~lo, porque 0 indivf-
duo cncontra af, para sua defesa contra a angustia, a propria forma
do ideal do eu que reconhecemos no totem, e pela qual as socieda-
des primitivas asseguram ilformw;ao sexual do sujeito um confor-
to psicologico mcnos fr{lgiI. 0neurotico, entretanto, nao segue 0
rastro de nenhuma "Iembran
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locamento. Essa composic,;ao assemelha-se tanto aos efeitos da
sublimac,;ao, e as formas que a amllise demonstra no pensamento
obsessivo - isolamento do objeto, desconexao causal do fato,
anulac,;ao retrospectiva do aconteeimento - manifestam-se tanto
como uma caricatura das proprias fOrINls do conhecimento, que e
imposslvelnao procurarmos a origem dessa neurose nas primeiras
atIvldades de identifieayao do eu, 0que muitos analistas reconhe-cem ao insistir numa manifestac,;ao precoce do eu nesses sujeitos;
alias, seus sintomas vem a ser tao pouco desintegraclos do eu, que
Freucl introduziu, para designa-Ios, a clenominac,;ao cle pensamento
compulsivo. Portanto, san as superestruturas cia personalidade
que san utilizadas af para mistijiw!" a angustia. 0 esforc,;o de res-
taurayao do eu traduz-se, no destino do obsessivo, numa busca
torturante do sentimento de sua unidade. Ese compreende a razao
par que esses sujeitos, que freqLientemente se distinguem por fa-
culclades espeeulati vas, mostram, em mui tos cle seus sintomas, 0
reflexo ingcnuo dos problemas existenciais do homem.
Vemos, portanto, que c a incidcncia do trauma no progresso
narcfsico que determina a forma do sintoma com seu conteLido.
Certamente, pOl'ser ex6geno, 0 trauma concerne ao menos passa-
gelramente ~lvertente passi va desse progresso, antes da vertente
ativa, e toda divisao da identificayao consciente do eu parece im-
plIcar a base de lllll despedayamento funeional - 0 que e eonfir-
mado, com efeito, pelo aliccrce histcrico que a analise encontra
toda vez que se consegue reconstituir a evolucao arcaica de uma
neurose obsessiva. Todavia, uma vez que os p;'imeiros ekitos do
trauma escavaram seu Ieito, con forme uma das vertentes do drama
existencial - assuny~io da separayao ou identificayao do eu -,0
tIpo da neurose vai se revelanclo.
E ssa concepc,;ao tem nflo apenas a vantagem de incitar a
apreender de moclo mais abrangente 0desenvolvimento cianeuro-
se, adiando um pouco 0 recurso aos dados da constituic,;ao nos
quaIs sempre descansamos depressa demais, como tambem da
conta do carclter essencialmente individual das determinac,;oes da
afecyao. Se as neuroses mostram, com efeito, pela natureza das
complicayoes introduzidas nelas pelo sujeito na idade adulta (pela
adaptac,;ao secundaria a sua forma e tambem pela defesa secunda-
ria contra 0 proprio sintoma, como portador do recalcado), uma
tal variedade de formas que seu catalogo ainda esta pOl'fazer apos
malS de um teryo de seculo de analise, essa mesma variedade e
observada em suas causas. Convem ler os relatos dos tratamentos
;lnalfticos, e especial mente os admiraveis casos publicados por
Freud, para compreender a gama infinita de acontecimentos que
podem inscrever seus efcitos numa neurose, como trauma inieial
ou como ensejos para sua reativayao - a sutileza com que os
desvios do complexo edipiano san utilizados pela incidcncia se-
xual: a ternura excessiva de um dos pais ou uma severidade ino- portuna podem desempenhar 0 papel de seduc,;ao, assim como 0
(emm despertado da perda do objeto parental ou uma queda de
prestlgio que atinja sua imagem podem ser expericncias revelado-
ras. Nenhuma atipia do complcxo pock ser definida pOl' efeitos
constantes. Quando muito, podemos assinalar global mente um
componente homossexual nas tendcncias reealcadas pela histeria,
e a marca geral da ambivalencia agressiva em relayao ao pai na
neurose obsessiva; essas sao, alias, farmas manifeslas da subvcr-
san narcfsica que caracteriza as tendcncias determinanles das neu-
roses.
E lambcm em func,;aodo progresso narcfsico que convem con··
ceber a importancia muilo constante do nascimento de lllll irmao:
se 0 movimento compreensivo da an{t1ise exprime a repercussao
disso no sujeito sob um motivo qualquer- investigac,;flo, rivalida-
de, agressividade, culpa -, convcm nao tomarmos esses molivos
como homogcneos ao que des representam no adulto, mas sim
corrigir seu teor lembrando-nos da heterogeneidade da estrutura
do eu na primeira infflncia; assim, a importfll1cia desse aconteci-
mento e medida pOl' seus ekilos no processo de identificay30:
lIluitas vezes, ele precipila a formac,;ao do ell e fixa sua eslrLIlura
numa defcsa passIvel de se lllanifeslar em trayos de carater, ava-
rentos ou aUlosc6picos. E e lambem como uma ameac,;a, inlima-
mente sentida na identificac,;ao com 0 OLltro,que a morte de um
irmao pode ser vivida.
Feilo esse examc, conslalaremos que, elllbora a soma dos ca-
sos assim ]Jublicados possa ser inclulda nos autos das causas fami-
liares dessas neuroses, c impossIvel relacionar cada enlidade a
uma anomalia constanle das inslfll1cias familjares. Isso e verdade
pclo menos em relac,;ao as neuroses de lransferencia; 0 silcl1cio a
respeito delas, num relatorio apresenlado ao Congresso de Psica-
nalistas Franceses em 1936 versando sobre as causas familiares
das neuroses, e decisivo. Nao se trata, em absolulO, de diminuir a
importfll1cia do complexo familiar na genese dessas neuroses, mas
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de fazer com que se reconhes;a a importancia delas como expres-
soes essenciais do drama do indivfduo.
As chamadas neuroses de caniter, ao contnirio, deixam entre-
ver certas relas;oes constantes entre suas formas tfpicas e a estru-
tura da famflia em que 0 sujeito cresce. Poi a investigas;ao psica-
nalftica que permitiu reconhecer como neurose certos disturbios
do comportamento e do interesse que so se sabia relacionar com aidiossincrasia do carater; ela encontrou nestes 0mesmo efeito pa-
radoxal de intens;oes inconscientes e objetos imaginarios que se
revelara nos sintomas das neuroses classicas; e constatou a mesma
a
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liar e reduzidos a expressar as exigencias do sobrenome ou da
rewa.
E nessas conjunturas que se produzem os casos mais impres-
sionantes das neuroses que chamamos de neuroses de autopuni-
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muito segura na crian~a, nas rela~6es que os pais mantem entre si,
do senti do neurotico das barreiras que os separam, muito especial-
mente no pai, em razao da fun~ao reveladora de sua imagem no
processo de sublima({ao sexual.
E, pois, com a desarmonia sexual entre os pais que convcm
relacionar a preponderftncia conservada pelo compJexo do desma-
me num descnvolvimento que ele poclera marcar de cliversas ma-neiras neuroticas.
o sujeito fica condenado a repetir indefinidamcnte 0 esfor~ode desltgamento da mae - e c af que encontramos 0 scntido de
toda sorte de condutas for~adas, dcsde cerlas fugas infantis atc os
impuIsos de errfmcia e as rupturas caoticas que singularizam a
conduta em idade mais avan"ada; ou entao, 0 sujcito continua
prisioneiro das imagcns do complexo c submetido tanto a sua ins-
tfmcia letal quanta a sua forma narcfsica - c 0caso clo consumo
mais ou menos intencional em que, sob a denomina~ao de suicfclio
nao violento, assinalamos 0sentido de algumas neuroses orais ou
digestivas; c igualmente 0caso do invcstimento libidinal que dei-
xam transparecer, na hipocondria, as mais singularcs endosco-
pias, bem como a preocupa"ao, mais compreensfvel porcm nao
men os curiosa, com 0 equilfbrio imaginario entre os ganhos ali-
mentares e as pcrdas cxcretorias. Alias, essa cstagna~ao psfquica
pode~ manifestar scu corolario social numa estagna"ao dos la~os
domesttcos, permanccendo os membros do grupo familiar agluti-
nados por suas "doen"as imaginarias" num nucleo isolado na so-
cicdade, ou scja, tao cstcril para sua troca quanto inutil cm suaarq uitetura.
. .Convcm distinguir, por ultimo, uma terceira atipia da sitlw"ao
JaI1llltar, que, concern indo tambcm ~tsublima"ao sexual, ataca
eleti vamente sua mais dclicada fun~ao, que c a de assegurar a
sexualiza"ao psfquica, ou seja, uma certa rela~ao cle confonnida-
cle entre a personalidacle imaginaria do sujeito e seu sexo biologi-co: ~ssa rela~ao c inverticla em diversos nfveis da estrutura psfqui-
ca, ll1CIUSIVena cletermimt"ao psicologica cle uma tlagrante ho-mossexualiclade.
Os analistas nao precisaram escavar muito a funclo os claclos
eviclentes da clfnica para incriminar af, mais uma vez, 0 papel da
mae, ou seja, tanto os excess os de sua ternura para com 0 filho
quanto os tra~os de viriliclade de seu proprio carater. E por um
mecanismo trfplice que, pelo menos para 0sujeito masculino, rea-
liza-se a inversao: as vezes a flor cia consciencia, quase sempre a
110rcia observa~ao, uma fixa~ao afetiva na mae, fixa~ao esta que c
concebfvel que acarrete a exclusao de Olltra mulher; num plano
mais profundo, porcm ainda penetravel, mesmo que apenas pela
intui~ao poctica, a ambivalencia narcfsica mediante a qual 0sujei-
to se identifica com a mae e identifica 0objeto amoroso com sua
propria imagem especular, vindo a rela~ao da mae com ele a for-necer 0 molde em que se encastoam para sempre a modalidade de
seu desejo e a escolha de seu objeto - desejo motivado pela ter-
nura e pel a educa~ao, objeto que reproduz um momento de seu
duplo; por fim, no fundo do psiquismo, a interven~ao muito pro-
priamente castradora pela qual a mae deu vadlO a sua propria
reivindica"ao viril.
Af se revela bem mais claramente 0 papel essencial da rela~ao
entre os pais; e os analistas frisam como 0carateI' da mae se expri-
me tambcm, no plano conjugal, por uma tirania domcstica cujas
formas larvares ou patentes, desde a reivindica~ao sentimental atc
o confisco da autoridade familiar, deixam transparecer, todas eIas,
seu sentido intrfnseco de protesto viril, encontrando este uma ex-
pressao eminente, a um tempo simbolica, moral e material, na
satisLt"ao de "tomar conta das despesas". No marido, as inclina-
~6es que costumam garantir uma espccie de harmonia nesse casal
so fazem tornar patentes as hannonias mais obscuras que fazem
da carreira do casamento 0 lugar de elei~flo do cultivo das neuro-
ses, depois de haverem guiado um ou ambos os conjuges para uma
escolha divinatoria de seu par complementar, eorrespondendo os
anuneios do inconsciente num sujeito, sem intermedia~ao, aos si-
nais pel os quais se deixa revelar 0ineonsciente do outro.
Nesse ponto, mais uma vez, uma considera~ao suplementar
parece-nos impor-se, agora relacionando 0 processo familiar a
suas condic6es culturais. Podemos vcr no dado do protesto viril da
mulher a c~nsequcncia ultima do complexo de Edipo. Na hierar-
quia dos valores que, integrados nas proprias formas da realidade,
constituem uma cultura, um dos mais caracterfstieos e a harmoniaque ela define entre os princfpios masculino e feminino da vida.
As origens de nossa cultura estao por demais ligadas ao que de
bom grado chamarfamos de aventura da famflia patriarcal para
que cIa nao imponha, em todas as fonnas pelas quais enriqueceu 0
desenvolvimento psfquico, uma prevalencia do princfpio masculi-
no, cuja parcialidade 0 peso moral conferido ao termo virilidade esuficiente para aquilatar.
8/18/2019 1938 - Os Complexos Familiares Na Formação Do Indivíduo (Outros Escritos)
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E eviclente, por uma questao cle equilfbrio, base cle toclo 0
pensamento, que essa preferencia tem um avesso: funclamental-
mente, trata-se da ocultac;ao do princlpio feminino sob 0 icleal
masculino, uma oculta