2. Transmissão e manutenção de agentes patogênicos · Fábrica de ração – controle de...

Post on 02-Dec-2018

220 views 0 download

Transcript of 2. Transmissão e manutenção de agentes patogênicos · Fábrica de ração – controle de...

2. Transmissão e manutenção de agentes

patogênicos

CURSO DE EPIDEMIOLOGIA VETERINÁRIA, ACT

Prof. Luís Gustavo Corbellini

EPILAB /FAVET - UFRGS

22/07/2012

Ao final desta aula o aluno deverá

compreender

◦ Questões essenciais de como uma doença é

transmitida numa população;

◦ Impacto das diversas formas de transmissão

na dinâmica de espalhamento de uma doença;

◦ Entender o como a doença se mantém na

população.

Epidemiologia Qualitativa

Trata de aspectos básicos fundamentais

para o entendimento de como uma

doença se comporta numa população.

Para discussão 2 (5 minutos)

O que é necessário conhecer para controlar uma

doença infecciosa numa população animal de uma

região?

Esquema construído para entender as

relações dos diferentes elementos que

levam ao aparecimento de uma doença

transmissível.

Cadeia Epidemiológica

ALGUMAS TERMINOLOGIAS

Animal ou artrópode que é capaz de ser infectado, abrigar,

e dar sustento a um agente infeccioso.

H. definitivo

H. intermediário

H. primário (ou natural)

H. reservatório (ou reservatório)

Hospedeiro incidental (final ou acidental)

Hospedeiros

Termos utilizados na protozoologia

Protozoologia

H. definitivo

◦ Toxoplasma : gatos

◦ Plasmodium (malária): mosquitos

H. intermediário

◦ Toxoplasma: mamíferos

Epidemiologia

Hospedeiro primário (natural)

◦ Cinomose em cães, Aujeszky em suínos.

Reservatório (Hospedeiro reservatório):

◦ O hospedeiro no qual o agente sobrevive normalmente e se

multiplica (fonte de infecção para os outros animais).

Ratos reservatórios de Leptospira icterohemorrhagiae

Hospedeiro final (incidental)

◦ Não transmite o agente

Homem e eqüinos - Vírus da Febre do Nilo

AC em 05 equinos na Região do Pantanal em 2011

Vírus da Febre do Nilo

Reservatórios: Aves Hospedeiros finais Vetor: Culex sp.

Vetores

Vetores

Veículo de transmissão indireta vivo.

Geralmente artrópodes:

◦ Carrapato, insetos (mosquitos, flebotomíneos).

Tipos de vetores

Mecânico: carreia fisicamente, não se multiplica.

Biológico: parte do ciclo de vida, se multiplica.

Reservatórios - Influenza

Marrecos – RS. Foto: A. Becker

Transmissão e manutenção de agentes patogênicos

“A continuidade da sobrevivência de um

agente infeccioso depende da sua transmissão

bem sucedida e multiplicação do agente para

manutenção do ciclo de vida na

população.”

TRANSMISSÃO

Parte 1

A agente infeccioso passa de um indivíduo

para outro indivíduo (mesma espécie ou

não).

1. Vias de infecção;

2. Aspectos relacionados a transmissão de um

agente.

Transmissão

Locais por onde o agente penetra no hospedeiro e pode ser

eliminado.

Via oral;

Via respiratória;

Membrana mucosa, pele;

1. Vias de infecção

Muito comum um indivíduo adquirir a infecção pela

inalação de uma partícula contento um agente.

Trato respiratório

◦ Aerossóis

Trato digestório

◦ Secreções orais (saliva)

◦ Fezes contaminadas:

Vírus ou bactérias que se replicam/multiplicam no epitélio

intestinal

Trato urogenital

◦ Urina

◦ Sêmen

◦ Secreções uterinas, líquidos placentários

Secreções oculares

Patógenos podem ser eliminados de muitas formas dos indivíduos

2. Aspectos relacionados a transmissão de um

agente

Tipos de transmissão

1.Horizontal

• São aquelas transmitidas de qualquer

segmento da população para o outro.

2.Vertical

• Transmitidas de uma geração para outra por

ocasião da infecção in utero ou in ovo.

1. Transmissão Horizontal

Transmissão direta

◦ Contato infectado (I) – suscetível (S)

Transmissão indireta

◦ Fômites

◦ Ar (aerossol)

◦ Vetores (carreador mecânico)

I S

Transmissão direta: secreções

Febre catarral maligna

Febre Aftosa

Transmissão indireta: fômites

Mercado de aves vivas, Ásia

Transmissão indireta: ração contaminada

Corbellini

Qual dos seguintes agentes é suspeito de ter sido introduzido na

América do Norte através de um ingrediente da ração animal

constituindo-se numa importante doença infectocontagiosa?

0%0%0%0%0%

1. 2. 3. 4. 5.

1. Príon BSE

2. Vírus da Diarreia Viral Bovina

3. Neospora caninum

4. Diarreia Epidêmica suína

5. Peste Suína Africana

Fábrica de ração – controle de processos

Recepção

Dosagem

Balança

Moagem

Misturador

Expedidos

Peletização Resfriado Expedidos

OD

OC

PCC 1

PCC 2 PCC 3

Métodos de transmissão horizontal

1. Ingestão • Água, ração contaminada com secreções-excreções, carcaças,

hospedeiros intermediários;

• Geralmente são excretados nas fezes;

2. Transmissão aérea • Meio usual de transmissão de esporos de fungos, vírus e bactérias

do trato respiratório (alguns não associadas ao trato respiratório);

• Ocorrem mais em alta densidade e ventilação deficiente;

• Aerossol: soluções na forma de aspersão fina (spray) formando

gotículas (1 -100nm) e partículas virais finas suspensas no ar.

Métodos de transmissão horizontal

3. Contato

Doenças infectocontagiosas

Febre aftosa, PSC;

4. Inoculação

Carrapato, mosca, seringas contaminadas;

5. Transmissão venérea (doenças venéreas);

Transmissão Influenza A (H5N1)

Observou-se, no início da pandemia, que a transmissão de influenza aviária (altamente patogênica H5N1) intra-granja foi maior em aves criadas em pisos do que em gaiolas. Porquê?

Disseminação de uma doença

O modo de transmissão dos agentes

infecciosos têm muita influência na velocidade

disseminação.

◦ Agentes transmitidos pela rota fecal-oral e aérea

freqüentemente produzem epidemias súbitas

explosivas;

◦ Transmissão venérea se disseminam mais

lentamente.

Transmissão a longa distância

Resultado do trânsito de:

◦ Animais;

◦ Vetores;

◦ Movimento de pessoas (regional, aviões, navios);

◦ Fômites (veículos, equipamentos);

◦ Vento: Gotículas núcleo – evaporação água do aerossol;

Vetores (moscas);

Modelos de difusão aftosa

Importante:

◦ Suínos eliminam o vírus por aerossol 3.000 vezes mais do que bovinos e ovinos;

São menos suscetíveis a infecção por via aérea do que bovinos;

◦ 7 sorotipos (A, O, C, SAT 1, SAT 2, SAT 3 e ASIA 1) e inúmeros subtipos (RNA, fita simples).

Variam em virulência, capacidade de infectar hospedeiro específico e habilidade de espalhar por aerossol;

Estima a dose acumulada de vírus inalada

por um bovino a uma determinada

distância (0,1, 1 ou 10km) do foco

primário utilizando como medida de

concentração TCID50/m3

Modelo da Pluma Gaussiana (Gloster, 1981)

Parâmetros para o cálculo de transmissão pelo vento:

Eliminação de 102,9 TCID50 por suíno/hora;

100 metros foi estimado 5 TCID50 de vírus para cada 103 litros de ar;

100 km foi estimados 5 TCID50 de vírus dispersos em cada 107 litros de ar;

0,06 – 0,07 TCID50 por m3 de ar causa infecção em bovinos;

Parâmetros de infecção nos bovinos:

Bovino processa 2,5 x 107 litros (50hs);

Dispersão do vírus: umidade, mudanças de vento

Foi concluído que em 100km do foco primário tinha uma

quantidade suficiente para infectar um bovino;

Epidemia Aftosa, Inglaterra 1967 (Tipo C)

Pluma Gaussiana

100km

Baixa concentração viral no ar

Alta concentração viral no ar

Cenários de transmissão •Eliminam grandes quantidades por aerossol; •Menos suscetíveis a infecção aérea;

•Eliminam poucas quantidades por aerossol; •Mais suscetíveis a infecção aérea (capacidade respiratória);

•Comportamento similar ao bovino; •Lesões muito brandas e podem ser transportados infectados;

Métodos de transmissão confirmados de FA

Saudável Doente Saudável

Contágio direto Contágio indireto

Doenças Contagiosas

Fômites Ar

Epidemia Aftosa, Europa 2001

Suspeita de suíno infectado abatedouro

em 19 fevereiro 2001;

57 focos confirmados quando a doença

foi confirmada em 20 de fevereiro de

2001;

Setembro de 2001 ~6 milhões de animais

abatidos;

8 bilhões de libras de custo;

Epidemia Aftosa, Europa 2001

Epidemia Aftosa, Europa 2001

As transmissões a longas distâncias da epidemia de

2001 foi decorrente principalmente de:

1. 2. 3. 4.

0% 0%0%0%

1. Difusão do agente em gotículas

núcleo pelo ar;

2. Trânsito de bovinos;

3. Difusão local pelo ar de suínos

para ovinos e trânsito de ovinos;

4. Difusão local pelo ar de suínos

para ovinos, trânsito de ovinos e

difusão local por fômites e

pessoas próximos a frigoríficos.

Epidemia Aftosa, Europa 2001

Fonte:

◦ Granja de suínos na Inglaterra alimentados com restos de comida de restaurantes;

Tipo de vírus:

◦ Tipo O, sub-tipo Pan-Asia;

◦ Similar ao encontrado na Irlanda, Holanda e França (epidemiologia molecular);

Origem do vírus – investigação epidemiológica:

◦ Provavelmente carne, ou produto de origem animal contaminado usado na alimentação dos suínos

Hipóteses para o espalhamento 1:

Movimento de suínos infectados, já recuperados

da infecção

Abatedouro (difícil identificar a lesão)

Difusão indireta, através de pessoas, fômites

Hipóteses para o espalhamento II:

Transmissão aérea de suínos para ovinos

Época favorável sobrevivência do vírus ambiente

Período de intenso movimento de ovinos (mercado)

Ovinos naturalmente mais resistentes

Febre Aftosa RS - 2001

ArcView

Métodos de transmissão – doenças transmissíveis

Saudável Doente Saudável Saudável

Contágio direto Contágio indireto

Doenças Contagiosas

veículo

Doenças não contagiosas

vetor

2. Transmissão Vertical

Transmissão que ocorrem da mãe para o filho:

Hereditária;

Congênita (adquiridas in utero):

◦ Influência do período de gestação;

◦ Imunidade materna durante a gestação;

◦ Imunidade fetal.

K. Helms for M. McAllister

Agentes infecciosos são introduzidos nas

propriedades/região por muitos caminhos

Transmissão direta: Contato, quando um animal contaminado é introduzido

Indireta: Fômites, vetores, água,

ração

Prevenção: BIOSSEGURIDADE

Biosseguridade Programas de controle de doenças usado para:

Reduzir/prevenir a introdução de patógenos no rebanho.

Reduzir/prevenir a difusão de patógenos no rebanho.

Práticas de manejo que reduzem as chances de uma doença infecciosa entrar no rebanho através de animais e/ou pessoas/veículos.

Manutenção de patógenos

PARA ONDE O PATÓGENO SE DESLOCA

QUANDO NÃO ESTÁ NO HOSPEDEIRO?

Manutenção de patógenos

Dois tipos de patógenos:

Os que precisam de um organismo para

permanecer vivos (maioria dos vírus, algumas

bactérias e protozoários);

Patógenos que contém estágios resistentes,

conseguem sobreviver no ambiente;

Manutenção da doença

1. Doenças de ciclo curto;

2. Doenças de ciclo longo;

3. Formas resistentes;

4. Persistência em reservatório;

Manutenção da doença

1. Doenças de ciclo curto:

Vírus da Cinomose

Replicação

Morre Imune

Eliminação via respiratória,

fezes, urina

Manutenção da Infecção?

Infectar outro cão rapidamente

• Paramyxoviridae; • DNA, Envelope; • Período incubação (dias): 3-15

Manutenção da doença

Cidades ≥ 250.000 habitantes, cinomose endêmica por 3 anos de estudo;

Quando populações suscetíveis (cães jovens) se tornar grande suficiente, epidemia cinomose ocorre;

Manutenção da doença

2. Doenças de ciclo longo:

Persistência de patógenos em infecções crônicas ◦ Tuberculose: curso clínico longo, muito tempo eliminando

o agente.

◦ Brucelose bovina: fêmea, após aborto, com infecção subclínica, cronicamente infectada.

Persistência de patógenos em vírus de infecções lentas: ◦ Período de Incubação longo

Maedi-Visna (pequenos ruminantes): 2-3 anos

Manutenção da doença

3. Formas resistentes ◦ Bactérias formadoras de esporos;

◦ Oocistos de protozoários, ovos de helmintos.

4. Perpetuação em reservatórios ◦ Leptospira spp.: espécie – específica

L. icterohaemorrhagiae: adaptada ao rato (reservatório), causando doença em seres humanos.

◦ Muitos vírus possuem uma série de hospedeiros, sem causar a doença em muitos deles (reservatórios).

Fatores para manutenção da infecção

1. Evitar um estágio no meio ambiente (externo); ◦ Transmissão vertical, venérea, vetor.

2. Formas de resistência; ◦ Clostridium spp., Bacillus spp. (endosporo)

◦ Cistos de protozoários, ovos de helmintos;

3. Persistência dentro do hospedeiro; ◦ Imunodepressão;

◦ Latência;

◦ Infecção in utero antes da formação da imunidade fetal: imunotolerância (Vírus BVDV);

◦ Resistência intracelular (Mycobacterium tuberculosis);

4. Aumento do numero de hospedeiros suscetíveis;