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Bruno Nogueira
Humorista
O medo e elaAntes de tudo havia o resto. O mundo arrastava-se para girar e tudo parecia no sítio certo para quem sabia pou-co do que estava por vir. É preciso que se perceba uma coisa: eu nasci filho, cheio de certezas. A vida sempre foi comprida para quem é filho, é para os pais que o passa-do apequena o horizonte, onde sente que a carne é fraca. Não percamos mais letras. A primeira vez que senti medo foi quando a vi nascer, toda ela inteira e cheia de futuro. E eu ali, tão pequenino, com o corpo a dobrar-se em ver-tigens que eu, tolo, pensava serem próprias dos tolos, de olhos postos num milagre de carne e osso, uma história por acontecer à minha frente, um estilhaço de amanhã. A minha filha a gritar ao mundo que tinha chegado e eu tão espantado com uma alegria que me saía pelos olhos, com uma força que me arregaçava as mangas, pronto a pôr água na terra e terra no mar, a fazer um braço de ferro comigo, não fosse ela ver-me fraco, arrepender-se e virar as pernas do avesso para andar sozinha dali para fora.
Percebi como um soco que veio do escuro: o que me soprava até àquele dia era um parente pobre do medo, que mostrava timidamente os dentes quando a coragem estava à sombra. Um antemedo, que me estava a tirar as medidas. E eu, que estava tão certo de ser valente, de medalha ao peito, quando a vi cá fora, de nariz e boca a aspirarem vida, pulmões tão cheios de certezas, aí sim,
percebi que esse medo chegava agora de malas cheias e pronto a ancorar, e que a valentia era afinal coisa dos fracos.
Não foi tudo de um trago só. Tal qual uma lâmpada que fareja o escuro para poder mostrar o que vale, esta des-coberta demora o seu tempo e precisa da ajuda dela, a minha pequenina e doce filha, que me apresenta o mun-do que (dizem) sempre esteve lá mas que nunca me es-pantou tanto como agora, que dos olhos dela se agiganta e passa a ser novo como juro nunca ter sido. E o medo (sempre o medo), esse contrapeso do amor, dois passos à frente, a arrastar os pés pesados, de costas voltadas sem nunca mostrar a cara, só para que eu saiba que ele está lá, uma sombra sem forma que me finta o passo, que isto de ser feliz é muito bonito mas eu que não me faça de importante e o esqueça, senão ele atira o tabuleiro ao ar, apoia-se com os dois punhos na mesa e, curvado de raiva, põe-me pequenino e no lugar.
Agora, já ancorado e com guelras à mostra, sei que veio para ficar. E só me larga no dia em que me for embora e ela fique por aqui, a tomar conta deste futuro que lhe saiu pelos pulmões no dia em que nasceu, e em que eu nasci com ela.
Foi por um triz que me deixaram escrever este texto. O medo e ela.
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