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A AGRICULTURA FAMILIAR EM GOIOERÊ PARANÁ: IMPORTÂNCIA PARA O
DESENVOLVIMENTO LOCAL
Kauhana Mayhara Cândido Desanoski, (IC), Unespar – Câmpus de Campo Mourão,
kaudesanoski93@gmail.com
Cláudia Chies, (OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, claudiachies@hotmail.com
RESUMO: A presente pesquisa de iniciação científica aborda como temática de estudo a agricultura familiar e a importância para o desenvolvimento econômico do município de Goioerê - PR. Neste sentido, discutimos brevemente sobre o conceito de agricultura familiar, que apresenta diferentes definições devido às mudanças e adaptações no tempo histórico. O objetivo principal foi identificar a importância e representatividade da agricultura familiar para o desenvolvimento local investigando as ações governamentais voltadas a tal produção e as principais dificuldades e desafios enfrentados pelos produtores rurais frente à crescente inserção do capitalismo no campo. As metodologias utilizadas: levantamento teórico e de dados secundários e/ou estatísticos, aplicação de entrevistas com representantes de instituições envolvidas como: Emater e Prefeitura Municipal, e aplicação de questionários com agricultores. As análises demonstraram que a produção familiar tem um papel importante no município de Goioerê, mesmo num contexto de modernização agrícola. Também constatamos que as políticas públicas, voltadas à produção familiar, têm contribuído para a melhoria das condições de vida dos pequenos produtores e para a diminuição do êxodo rural entre os pesquisados, embora o alcance dessas ações seja ainda limitado. Neste sentido, a reprodução da agricultura familiar se apresenta como o principal desafio aos pequenos produtores no município. Palavras-chave: Agricultura familiar. Economia. Desenvolvimento local.
INTRODUÇÃO
A agricultura familiar pode ser compreendida como a atividade agropecuária desenvolvida em
sua maior parte pelos membros da família, que estrutura-se como proprietária e mão de obra nas
propriedades de até 4 módulos fiscais. Além disso, caracteriza-se pela maior parte da renda familiar
proveniente das atividades agropecuárias desenvolvidas na propriedade rural.
No que se refere à agricultura familiar no município de Goioerê – PR, evidenciamos um
contexto de avanço crescente das relações capitalistas no campo, por meio da implantação de
agroindústrias no município. Neste contexto surge uma preocupação no que se refere aos novos
desafios que vêm sendo enfrentados pelos agricultores familiares, e sendo assim, levantamos os
seguintes problemas de pesquisa: 1) Qual a representatividade da agricultura familiar para a economia
local? 2) Como o poder público nas diferentes escalas vem agindo para promover o desenvolvimento
da agricultura familiar no município? 3) Quais as principais dificuldades e desafios enfrentados pelos
agricultores familiares no município estudado?
IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014
ISSN 1981-6480
O objetivo geral da pesquisa foi identificar a importância e representatividade da agricultura
familiar para o desenvolvimento local do município de Goioerê - PR, investigando as principais
dificuldades e desafios enfrentados pelos produtores rurais frente à crescente inserção do capitalismo
no campo.
Neste contexto evidenciamos a necessidade em se buscar entender sobre as dificuldades
encontradas pelos produtores familiares, diante da expansão crescente do capitalismo no campo, e a
forma que o poder público vem intervindo para a busca da continuidade, desenvolvimento e apoio à
expansão dos espaços agrários familiares em Goioerê.
As metodologias utilizadas foram: levantamento teórico bibliográfico sobre as temáticas
apresentadas, a fim de contextualizar o problema levantado sobre a agricultura familiar,
principalmente a representatividade na economia, e análise crítica das informações. Aplicação de
entrevistas com: representante do escritório local do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e
Extensão Rural – Emater; e com representante da Prefeitura Municipal de Goioerê. Também
elaboração e aplicação de questionários com agricultores familiares do município, o que nos levou a
traçar um breve perfil desses agricultores. Os resultados foram tabulados em gráficos nos softwares
Sphix Plus Lexica e Corel Draw, e analisados criticamente.
BREVE REFLEXÃO SOBRE O CONCEITO DE AGRICULTURA FAMILIAR
Quando ouvimos o termo agricultura familiar pensamos em um conceito básico, que seria uma
família tomando conta da sua propriedade e da sua produção, porém ao estudarmos com mais afinco o
conceito, percebemos um processo mais complexo. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome (MDS, 2013), a agricultura familiar pode ser definida como uma forma de
produção onde predomina a interação entre gestão e trabalho; são os agricultores familiares que
dirigem o processo produtivo, dando ênfase na diversificação e utilizando o trabalho familiar,
eventualmente complementado pelo trabalho assalariado, em épocas de colheita, por exemplo.
O meio rural passou por várias mudanças nas últimas décadas, por consequência também o
setor da agricultura familiar. Para Lamarche (1993, p.15) “a exploração familiar, [...], corresponde a
uma unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados a família.”.
Trata-se de exploração agrícola com o envolvimento da força de trabalho familiar, sendo assim cria-se
certa dependência desses fatores, uma conexão entre trabalho, família e a propriedade de terra.
[...] É forçoso admitir, entretanto, uma grande diversidade de situações: em alguns lugares, a exploração familiar é a ponta-de-lança do desenvolvimento da agricultura e de sua integração de economia de mercado; em outros permanecem arcaica e fundada essencialmente sobre a economia de subsistência; em alguns lugares, ela é mantida, reconhecida, como a única forma social de produção capaz de satisfazer as necessidades essenciais da sociedade como um todo; em outros, ao contrário, é
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excluída de todo desenvolvimento, sendo desacreditada e à custo tolerada, quando não chegou a ser totalmente eliminada. (LAMARCHE,1993, p.13).
A agricultura familiar pode ser caracterizada pela organização do trabalho e gestão partilhada
e coordenada pelos membros das famílias. Assim como a diversificação dos seus produtos, a gestão e
trabalho estritamente relacionados e também a utilização dos recursos naturais utilizados.
Segundo o Banco Central do Brasil (2013) para ser considerado produtor rural familiar é
preciso se encaixar nas categorias: proprietários, arrendatários, parceiros ou concessionário a reforma
agrária, residir na propriedade ou morar perto do local, deter no máximo quatro módulos fiscais de
terra, quantificados conforme a legislação, no mínimo 50% da renda bruta familiar deve ser
proveniente da exploração agropecuária, e a base da exploração deve ser o trabalho familiar.
Agricultura familiar em termos políticos constitucionais alcançou sua legitimidade crescente a partir
da criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, em 1996.
A agricultura familiar é constituída por pequenos e médios produtores, e ainda representa
cerca de 80% da ocupação do setor rural, numa proporção de sete em cada dez empregos no campo, e
corresponde a cerca de 40% da produção agrícola. (MOVIMENTO DOS PEQUENOS
AGRICULTORES- MPA, 2010).
Segundo a CONAB (2003), maioria dos alimentos consumidos pela população brasileira é
proveniente das pequenas e médias propriedades, e que a agricultura familiar apresenta práticas de
cultivo mais equilibradas do ponto de vista ecológico. Em 2009, cerca de 60% dos alimentos que
compuseram a cesta alimentar distribuída pela Companhia Nacional do Abastecimento – Conab,
originaram-se da Agricultura familiar.
Os agricultores familiares vêm se transformando diante das relações socioeconômicas, criando
mecanismos para se reproduzirem diante da expansão dos latifúndios, da monocultura, da
mecanização agrícola, da economia de mercado e do sistema econômico.
O setor agropecuário familiar destaca-se pela sua importância na geração de emprego e na
produção de alimentos, também voltados à subsistência, ou seja, focalizando mais as funções de
caráter social. Entretanto, é necessário destacar que a produção familiar também contribui
expressivamente para a geração de riqueza e crescimento econômico brasileiro, e essa contribuição é
importante, sobretudo, para a economia local dos municípios, cuja base econômica é a agropecuária.
Neste ensejo, a agricultura familiar é um importante segmento do setor agropecuário do país,
sendo grande geradora de empregos no campo e responsável pela maior parte da produção que
abastece o mercado interno, ou seja, cerca de 70% dos alimentos consumidos nos lares brasileiros. Os
produtores familiares respondem, ainda, por cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do País,
desempenhando papel crucial na economia de um grande número de municípios, o que a torna
indispensável para o desenvolvimento do Brasil. (BANCO DO BRASIL, 2012).
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CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE GOIOERÊ: PERSPECTIVAS DE
DESENVOLVIMENTO LOCAL E O PAPEL DA AGRICULTURA FAMILIAR
Para entender qual a participação da agricultura familiar no desenvolvimento local do
município de Goioerê é necessário enfatizar que para que haja o desenvolvimento local é preciso ter
um local (terra) e um conjunto de interações das esferas política, econômica e social. “O
Desenvolvimento Local promove a participação e o diálogo a nível local, estabelecendo a ligação
entre as partes interessadas do setor público e do setor privado e os respetivos recursos, com vista ao
emprego de uma melhor qualidade de vida para homens e mulheres.”. (CENTRO INTERNACIONAL
DE INFORMAÇÃO, 2013).
O município de Goioerê, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2006), está localizado na região Noroeste do estado do Paraná, próximo das cidades de Campo
Mourão e Umuarama, e está a 530 km da capital Curitiba. As coordenadas geográficas são: Latitude: -
24°11’ 06’’ e Longitude: -53°01’40”. A cidade de Goioerê foi fundada em 1943, quando foram
instaladas as primeiras fazendas de café.
Figura 1- Localização do município de Goioerê no Estado do Paraná.
O município de Goioerê é um dos principais da Comunidade de Municípios da Região de
Campo Mourão - COMCAM, sua principal atividade econômica é a agricultura, sobretudo o plantio de
soja, e também tem destaque na economia municipal o setor comercial.
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As transformações que ocorreram na agricultura local, com o processo de modernização
agrícola, são evidentes, e em particular na agricultura familiar, cujos incentivos para a permanência
dos pequenos produtores no campo, embora tenham aumentado nas últimas décadas, ainda são
insuficientes, pois não atingem a todos os produtores. Sendo assim, vale investigar as políticas
públicas voltadas ao fortalecimento e à manutenção dos produtores familiares na área rural. Neste
sentido, algumas atitudes estão sendo tomadas:
[...] as organizações de agricultores estão sendo mobilizadas para produzir ou preservar bens comuns ou bens públicos, em dois tipos de circunstâncias: a) para assumir funções de interesses geral que eram antes da responsabilidade do Estado ou deviriam sê-lo, b) para participar da elaboração ou da gestão de projetos ou programas de desenvolvimento local, territorial ou de manejo de recursos naturais. (SABOURIN et al , 2004 apud SCHNEIDER, 2006).
Os agricultores têm como recurso as políticas públicas, que são ações que o poder público
direciona para a busca de soluções para os problemas da sociedade. As políticas públicas são segundo
a Agenda 21 (2008, p.5):
[...] uma totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais e municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade de o interesse público. É certo que as ações dos dirigentes públicos (os governamentais ou os tomadores de decisões) selecionam (suas prioridades) são aquelas que eles entendem serem as demandas ou expectativas da sociedade. Ou seja, o bem-estar da sociedade é sempre definido pelo governo e não pela sociedade. Isto ocorre porque a sociedade não consegue se expressar de forma integral.
Neste contexto, vale salientar que a busca por mais desenvolvimento local está vinculada ao
fortalecimento da agricultura familiar que depende da efetivação das políticas públicas, e que estas
atendam às reais necessidades dos produtores e que sejam planejadas, executadas e avaliadas
democraticamente.
Perfil dos produtores familiares de Goioerê – PR
A partir de levantamentos realizados por meio de 19 questionários aplicados com produtores
familiares de Goioerê, totalizando uma amostragem de aproximadamente 10% dos agricultores
familiares do município, traçamos um breve perfil desses trabalhadores.
No que se refere à idade dos produtores pesquisados (gráfico 1), tivemos uma concentração na
faixa etária entre 46 a 55 anos, com 52,7%. Na sequência, com 15,8% dos produtores pesquisados,
tivemos a faixa etária de 36 a 40 anos, e também com 15,8%, os acima de 70 anos.
Como pode ser observado no gráfico 1, não obtivemos jovens e adultos na faixa etária até os
35 anos que responderam aos questionários. Este fato denota a falta de motivação dos jovens em
permanecerem no campo, o que foi constatado também durante os trabalhos de campo realizados, a
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partir do relato dos agricultores com relação aos filhos que não dão continuidade às atividades dos
pais, sobretudo as filhas, que ao se casarem acabam indo morar na cidade.
Gráfico 1 : Idade dos agricultores familiares
Fonte: Pesquisa de Campo.
Outra constatação importante sobre a faixa etária, entre os agricultores pesquisados, é que se
somarmos os estratos entre 56 a mais de 70 anos, 31.6% estão na faixa etária de aposentados rurais
(mulher 55 anos e homens 60 anos), e se considerarmos o grupo entre 46 a 55 anos, também já estão
próximos à idade de aposentar-se, o que mostra dificuldade de reprodução da agricultura familiar no
município, pela falta de jovens no campo, e demonstra a permanência de aposentados rurais no meio
rural, evidenciando que a aposentadoria rural tem se constituído em uma política de permanência dos
agricultores familiares na área rural.
No que se refere ao gênero, tivemos 53% dos pesquisados do sexo masculino, e 47% do sexo
feminino, tendo assim um equilíbrio entre os gêneros, mostrando que as mulheres estão ativas no
trabalho no campo, assim como os homens. Quanto ao estado civil, 79% dos entrevistados são
casados, 10,5% são solteiros e 10,5% são viúvos.
Como pode ser verificado no gráfico 2, constatamos baixos níveis de instrução entre os
produtores familiares pesquisados. Somando os que se declararam analfabetos, com os que não
concluíram o ensino fundamental, temos 73,7%, que é um número expressivamente alto, que
acreditamos estar relacionado ao fato de que a maioria dos entrevistados está na faixa etária acima de
46 anos, e não tiveram oportunidade de estudar no período adequado. Sendo assim, é necessário que
haja incentivos dos gestores públicos para que os agricultores possam aprimorar seu nível de
instrução.
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Gráfico 2: Nível de Instrução dos agricultores familiares
Fonte: Pesquisa de Campo.
No que se refere à posse da terra, dentre os agricultores que responderam aos questionários,
apenas 1 é arrendatário, representando 5,3%, e os 94,7% restantes, são proprietários, reforçando uma
característica específica da produção familiar, a propriedade da terra. No que se refere à quantidade de
propriedades que possuem, 89,5% dizem possuir apenas uma propriedade, e 10,5%, duas
propriedades. Constamos que os produtores que possuem duas propriedades fazem uso de maquinário
(micro trator), e há em média 4 pessoas que trabalham, sendo este um número maior que a média da
maioria dos pesquisados, de 2 pessoas trabalhando por propriedade.
Quanto aos dados levantados sobre tamanho da propriedade, não obtivemos nenhum entrevistado
com propriedade menor que 3.000 m², aproximadamente 58% dos agricultores têm propriedade acima
de 7.000 m², seguido 26,3 % com propriedade entre 3.001 m² a 5.000 m², e o restante, 15,8 %, com
propriedade entre 5.001 m² a 7.000 m². Com tais informações avaliamos que a área de cultivo dos
agricultores são minifúndios, não ultrapassando 4 módulos fiscais, que é o tamanho da área que
caracteriza a agricultura familiar.
Os principais produtos são as hortaliças, mandioca, milho e a avicultura (gráfico 3). Ele também
mostra a diversidade de cultivos desenvolvidos pelos produtores familiares do município.
De acordo com o representante da Emater1 do município de Goioerê, a agricultura familiar no
Município é importante para a economia e para a sociedade, uma vez que os agricultores familiares
representam mais de 70% dos agricultores do município.
Sobre a representatividade da produção familiar para a economia do município, o técnico da
Emater ressaltou sobre a importância da diversificação das produções, uma vez que os grandes e
médios proprietários de terra plantam basicamente soja e milho. Já os pequenos proprietários, praticam
a policultura, pecuária leiteira, plantio de algumas frutas e também confeccionam produtos como pães
1 Entrevista realizada no dia 06/06/2014, no escritório da Emater de Goioerê.
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caseiros, bolachas e doces, para comercializarem na feira do produtor e/ou vender nas ruas,
contribuindo com a diversificação de alimentos oferecido à população.
Por meio da aplicação dos questionários verificamos também que a produção mais rentável aos
produtores são as hortaliças, com mais de 50% das respostas, verificamos que esta produção está
relacionada com a comercialização na feira do produtor e para os mercados locais. Na sequência entre
os produtos mais rentáveis está a produção de mandioca e a avicultura, que somadas representam 21%
das respostas entre os produtos mais rentáveis.
Gráfico 3: Principais produções Fonte: Pesquisa de Campo.
No que se refere ao sistema de produção utilizado pelos produtores, o método convencional
representou 68,4% dentre os que responderam ao questionário, seguido do método orgânico, 31,6 %.
Vale considerar que o método convencional, nesta abordagem, foi considerado como a combinação de
várias técnicas, que envolvem o uso da tecnologia e maquinários, assim como adubação química e
aplicação de agrotóxicos. Considerando assim que a maioria dos entrevistados afirma fazer uso do
método produtivo convencional, há uma contradição quando indagados se usam agrotóxicos ou
maquinários, sendo que somente 29,4% responderam que sim, e 70,6 % afirmaram que não utilizam.
Devemos levar em consideração que ao responderem ao questionário, a maioria dos produtores
estava no local onde comercializam suas produções (feira do produtor), podendo assim se sentirem
inibidos de responder que utilizavam agrotóxicos, por exemplo, por receio de que seus clientes
ouvissem.
Quando questionados se algum membro da família trabalha em outras atividades, que não seja
a atividade agrícola, obtivemos um montante de 31,8% que afirmaram ter membros da família que
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desenvolvem outras atividades, o que mostra a importância do trabalho acessório para a reprodução
dos agricultores familiares na atualidade.
Entre essas atividades estão, jardineiro, vigia, trabalhador doméstico, técnico em laboratório,
pedreiro e serviços gerais. Dentre os que responderam que havia membros da família trabalhando fora
da propriedade, constatamos que havia apenas uma pessoa por família. Com este dado, podemos
entender que a renda extraída de parte considerável das propriedades, está sendo insuficiente para
manter a família. O fato de um número considerável das famílias obterem rendimento insuficiente com
as propriedades agrícolas, provavelmente se deve em parte, à baixa inserção dos produtores nas
políticas públicas, já que com pouca ou nenhuma orientação e/ou incentivo, não conseguem obter
resultados satisfatórios, como podemos ver no gráfico 4.
Gráfico 4: Participação dos programas
Fonte: Pesquisa de Campo.
Dos produtores que não participam de nenhum programa governamental, cerca de 74%
apontaram como motivo de não participarem, a falta de informação sobre esses programas; 35,7%,
formam o grupo dos que não veem benefícios em participarem. Considerando essas informações
constatamos que falta informação e esclarecimento sobre como funcionam as políticas públicas, e
como podem ser importantes para a melhoria das condições de vida dos agricultores familiares no
campo. O baixo índice de escolaridade dos entrevistados também é um fator a ser considerado, no que
se refere à falta de informação e/ou compreensão das políticas governamentais propostas.
Avaliamos ainda que falta dinamismo aos gestores das políticas no município, pois verificamos
que muitas informações importantes não chegam aos produtores, pela falta de visitas técnicas às
propriedades e promoção de reuniões e/ou palestras para explicar/informar sobre essas políticas.
Outro limitador da participação dos agricultores nas políticas públicas, é o medo de endividar-se,
somando 14,7% dos produtores pesquisados. Acreditamos que este fato se deve à recente abertura de
crédito agrícola aos agricultores familiares, quando comparado aos grandes produtores.
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Acreditamos que a inserção consciente dos agricultores familiares nestes programas, poderia
promover melhores condições de vida no campo, assim como a diminuição do êxodo rural, pois
evidenciamos na pesquisa, que dentre os produtores que participam dos programas, 100% encontram-
se satisfeitos.
Sobre as dificuldades e desafios em continuarem no campo, os participantes da pesquisa
apontaram respostas que podem ser observadas no gráfico 5. Os agricultores opinaram sobre qual
deveria ser o apoio governamental, e dentre as respostas obtivemos as seguintes opiniões: que o
governo deveria mandar verbas para que pudessem comprar maquinários, que fornecesse adubo,
esterco, assistência técnica, rede de iluminação e a construção de um posto de saúde na área rural, para
facilitar a mobilidade e o rápido atendimento médico.
Gráfico 5: Desafios e dificuldades enfrentados
Fonte: Pesquisa de Campo.
Na avaliação feita pelos produtores pesquisados, sobre a ação da prefeitura municipal para os
agricultores familiares, 57,9% se dizem insatisfeitos e 42,1%, satisfeitos. Ou seja, a ação da prefeitura
local, está abaixo do esperado pelos produtores. Dos agricultores familiares pesquisados, 94,4%
comercializam seus produtos somente no município, e 5,6% além de comercializarem no município,
vendem para alguns municípios vizinhos, mostrando assim, que há um mercado local para os produtos
oriundos da agricultura familiar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da revisão teórica, dos dados estatísticos e de campo levantados, consideramos que a
agricultura familiar tem um papel importante para a economia local, embora o município esteja
inserido em um contexto regional de modernização agrícola.
Salientamos que na produção familiar tem destaque a horticultura que abastece os pequenos
mercados locais, as panificadoras e restaurantes, além de outros alimentos fundamentais ao
abastecimento da população. Vale destacar ainda a feira do Produtor que é organizada pela prefeitura
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do município, pois tanto se apresenta como uma possibilidade de mercado aos produtos provenientes
da produção familiar, como uma opção de acesso pelos consumidores a alimentos frescos e de
qualidade.
No que se refere às principais políticas públicas voltadas à produção familiar presentes no
município, destaca-se o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA (compra direta da agricultura
familiar). Consideramos que este é um programa que contribui tanto para melhorar as condições de
vida dos produtores envolvidos, quanto a qualidade da alimentação da população, sobretudo, dos
alunos das escolas públicas.
Também está sendo realizado o Programa Nacional de Habitação Rural – PNHR, que
beneficiou 20 famílias em Goioerê. Evidenciamos que o Programa de habitações rurais é fundamental
para possibilitar condições dignas de moradia aos pequenos produtores, porém o alcance ainda é
limitado, considerando que atingiu apenas 20 das 194 famílias de produtores familiares do município.
Quanto ao acesso ao crédito pelos pequenos produtores, destacamos as linhas de crédito
disponíveis pelo Pronaf, cujas análises da pesquisa mostraram que tem contribuído para o aumento da
produtividade e melhores condições de vida no meio rural, mas que ainda é insuficiente para fortalecer
a produção familiar e manter o agricultor no campo.
As principais dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores são: a sucessão hereditária
da propriedade, pois os filhos dos agricultores, sobretudo os mais jovens, geralmente não permanecem
no meio rural, o que também dificulta a manutenção das famílias no campo, visto que muitas vezes, os
idosos/aposentados acompanham os filhos nas áreas urbanas, desfazendo-se das propriedades. As
precárias condições de vida e a pobreza no meio rural também ficam evidentes na realidade do meio
rural de Goioerê - PR.
Portanto evidenciamos a necessidade de políticas públicas mais eficientes voltadas à produção
familiar, bem como salientamos a necessidade da presença mais efetiva do poder público local nas
ações que impactam a vivência dos agricultores, bem como a participação democrática dos grupos
sociais envolvidos para planejar, executar e avaliar os projetos que dizem respeito às suas
necessidades.
REFERÊNCIAS
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IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014
ISSN 1981-6480
BANCO DO BRASIL. Agronegócio . 2012. Disponível em: < http://www.bb.com.br/portalbb/page100,8623,10816,0,0,1,1.bb?codigoNoticia=19538&codigoMenu=11724> Acesso em : Abr. 2013. CENSO AGROPECUÁRIO. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2006. CENTRO INTERNACIONAL DE INFORMAÇÃO. Disponível em :< http://www.itcilo.org/pt/the-centre/areas-de-especializacao/emprego/desenvolvimento-local > Acesso em: Dez. 2013. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Agricultura familiar. Superintendência de Suporte à agricultura familiar. 2013. Disponível em: < http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1125&t=2>. Acesso em: Mar. 2013.
DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Sobre o programa. Secretaria da agricultura familiar. Disponível em : < http://www.mda.gov.br/portal/saf/programas/SIPAF> Acesso em : Mar. 2013. LAMARCHE, HUGHES. A agricultura familiar. Comparação internacional; tradução: Angela Maria Naoko Tijiwa. Campinas. São Paulo: Editora da UNICAMP, 1993. MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE A FOME. Agricultura familiar. Disponível em : < http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/bolsa-familia/programas-complementares/beneficiario/agricultura-familiar > Acesso em: Mar. 2013. MOVIMENTO DOS PEQUENOS AGRICULTORES. 2010. Disponível em: <
http://mpabrasiles.wordpress.com/2010/02/18/censo-agropecuario-confirma-agricultura-camponesa-e-a-principal-produtora-de-alimentos-do-pais/> Acesso em : Mar. 2013. SCHNEIDER, SÉRGIO. A diversidade da agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000.