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Encontro Nacional BETÃO ESTRUTURAL - BE2012
FEUP, 24-26 de outubro de 2012
A Barragem de Montante do Baixo Sabor. Aspetos Relevantes de
Projeto e Construção.
Alexandre
Teixeira Gomes1
Júlio Sarmento
Gonçalves2
Domingos Silva
Matos3
Manuel Pinho
Miranda4
RESUMO
O aproveitamento hidroelétrico que a EDP-Energias de Portugal tem em construção no troço final do
Rio Sabor, afluente da margem direita do rio Douro, inclui duas grandes barragens que distam,
respetivamente, cerca de 3 km e 12 km da foz daquele rio.
A barragem de montante é do tipo abóbada de dupla curvatura, com uma altura máxima de 123 m, um
desenvolvimento no coroamento de 505 m e um volume total de betão de 670.000 m3. Na zona central
do coroamento da barragem, insere-se um descarregador de cheias do tipo lâmina livre, que possui
quatro vãos controlados por comportas, com uma capacidade de vazão total de 5.000 m³/s, e que
restitui os caudais para uma bacia de receção e dissipação de energia, localizada no pé de jusante da
barragem (leito do rio).
Após uma descrição dos principais aspetos do projeto da barragem, esta comunicação apresenta as
particularidades mais relevantes do projeto de execução e da estratégia construtiva da obra. Entre
outros, são abordados o projeto da bacia de receção e dissipação do jato proveniente do descarregador
de cheias, e respetivo faseamento construtivo, os elementos de apoio dos equipamentos dos órgãos de
segurança, a estratégia construtiva para materialização das abóbadas das galerias de visita e da consola
de jusante do descarregador de cheias, e o plano de observação.
Palavras-chave: Barragem Abóbada, Descarregador de cheias, Bacia de Dissipação, Sistema de
Observação.
1. INTRODUÇÃO
Os trabalhos de construção do Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor iniciaram-se em Junho
de 2008 e a sua entrada em serviço está prevista para Setembro de 2013. A albufeira criada pela
barragem de montante terá uma capacidade de cerca de 1095 hm3 para o nível de pleno
armazenamento (NPA) à cota (234,00) correspondendo a uma área inundada de cerca de 2819 ha, e de
cerca de 1275 hm3 para o nível de máxima cheia (NMC) à cota (235,00), sendo a correspondente área
inundada igual a cerca de 3100 ha [1]. Na Figura 1 está representada uma antevisão do escalão de
montante, na qual se podem ver a barragem e a central situada na margem direita, e na Figura 2
apresenta-se a planta geral do aproveitamento.
1 EDP – Gestão da Produção de Energia, S.A. – Direção de Projetos e Investimentos alexandre.gomes@edp.pt
2 EDP – Gestão da Produção de Energia, S.A. – Direção de Projetos e Investimentos juliosarmento.goncalves@edp.pt
3 EDP – Gestão da Produção de Energia, S.A. – Direção de Projetos e Investimentos domingossilva.matos@edp.pt
4 EDP – Gestão da Produção de Energia, S.A. – Direção de Projetos e Investimentos manuelpinho.miranda@edp.pt
A Barragem de Montante do Baixo Sabor. Aspetos Relevantes de Construção e Projeto
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Figura 1 – Antevisão.
Figura 2 – Planta geral.
Na Figura 3 a) apresenta-se a fase final das escavações e o início das betonagens da barragem
(Fevereiro de 2011) e na Figura 3 b) o estado da construção em Agosto de 2012.
a) b)
Figura 3 – Estaleiro a) Início das betonagens b) Estado dos trabalhos em Agosto de 2012
Gomes, Gonçalves, Matos e Miranda
3
2. ASPETOS GERAIS DO PROJETO DA BARRAGEM
A barragem está dividida em blocos através de 32 juntas de contração verticais dotadas de caixotões
pré-fabricados com forma esférica. As juntas de contração estão divididas por lâminas de
estanquidade formando compartimentos para injeção com 10,00 m de altura. Na Figura 4 apresenta-se
o alçado de montante, estando representadas as juntas, a descarga de fundo, os quatro vãos do
descarregador de cheias e a galeria do desvio provisório.
Figura 4 – Alçado de Montante.
No interior da barragem existem seis galerias de visita (GV1 a GV6), com soleiras às cotas (129,00),
(149,00), (169,00), (189,00), (209,00) e (229,00), e uma galeria geral de drenagem que acompanha o
contacto com a fundação, conforme pode ser visto na Figura 5 onde se apresenta o perfil desenvolvido
pela superfície de referência. Na zona central da abóbada existe também uma galeria de fundação (e
de drenagem) a jusante, que comunica com a de montante por galerias radiais.
A barragem está dotada de cinco poços de escadas, um em cada encontro, dois que estabelecem a
ligação entre o coroamento e a GV1 (ver Figura 5), localizados nas extremidades do descarregador de
cheias (blocos 15-16 e 19-20), e um poço vertical de escadas e de elevador, a toda a altura da
barragem e localizado no bloco (18-19), permitindo a ligação entre todas as galerias, e o coroamento.
Com o intuito de aumentar os ritmos de betonagem em obra, as lajes correspondentes aos lanços de
escadas foram pré-fabricadas e as abóbadas das galerias de visita (horizontais) foram materializadas
por intermédio de cofragens perdidas constituídas por elementos de betão armado pré-fabricado. O
traçado em planta das galerias foi definido por tramos rectilíneos de comprimento variável entre 0,75
m e 2,00 m. Apesar de as zonas de interseção entre galerias serem todas distintas, optou-se também
nestes casos por utilizar elementos de betão armado pré-fabricado para materializar a geometria do
projeto.
Figura 5 – Perfil desenvolvido pela Superfície de Referência.
Na zona central do coroamento da barragem (J15 a J20), existe um descarregador de cheias do tipo
lâmina livre, que possui quatro vãos com 16 m de largura cada, com as cristas formando uma
poligonal (diretriz) inserida na curvatura da barragem. A superfície descarregadora de cada vão é
A Barragem de Montante do Baixo Sabor. Aspetos Relevantes de Construção e Projeto
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delimitada lateralmente pelas faces dos pilares, paralelas entre si, pelo que os pilares apresentam
espessura variável, decrescente para jusante. A montante, os pilares estão dotados de ranhuras que
permitem a colocação de comportas ensecadeiras, para manutenção das comportas de serviço. Os
caudais são descarregados para uma bacia de dissipação localizada no pé de jusante da barragem,
antes de serem restituídos ao leito natural do rio.
No bloco central (17-18), localiza-se a descarga de fundo, cuja soleira se encontra à cota (140,00),
com secção transversal retangular blindada com 2,10x3,10 m2 e capacidade de vazão de 220 m
3/s. A
montante será dotada de uma comporta de guarda e respetiva conduta de arejamento e a jusante, terá
uma comporta de serviço do tipo segmento. O desvio provisório do rio foi realizado por intermédio de
uma galeria escavada na margem esquerda, com secção transversal em forma de ferradura com
aproximadamente 7,00 m de diâmetro, parcialmente revestida por betão armado.
O comportamento estrutural da estrutura Barragem-Fundação foi estudado recorrendo a modelos de
elementos finitos. De acordo com a regulamentação portuguesa [2], [3] as combinações de ações
consideradas para cenários correntes englobaram o peso próprio dos blocos (na hipótese de juntas
abertas durante a construção), a pressão hidrostática no paramento de montante para o Nível de
Máxima Cheia (NMC) e para o Nível de Pleno Armazenamento (NPA), as variações de temperatura
associadas aos períodos de Verão/Inverno (tendo como referencia a temperatura aquando da injeção
de juntas) e o Sismo Base de Projeto. Considerou-se que quer o betão quer a rocha de fundação são
materiais com comportamento isotrópico e linear com valores do Módulo de Elasticidade E = 20 GPa,
Coeficiente de Poisson ν = 0.2 e Coeficiente de Dilatação Térmica α = 10 x 10-6
/ºC de acordo com o
Eurocódigo 2 [4].
A quantificação da ação sísmica, por meio do espetro de resposta do Sismo Base de Projeto, foi
definida de acordo com o Regulamento Português correspondendo a uma aceleração máxima de
0,084 g (período de retorno de 949 anos). O comportamento estrutural verificado é adequado, tendo-se
chegado a valores de 1.7 MPa para a tensão de tração e 7.0 MPa para a tensão de compressão [5].
A segurança da barragem foi também verificada para os designados cenários de rotura [3], em estudos
elaborados pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). Esses estudos envolveram a
avaliação do coeficiente de segurança da barragem para cenários de deterioração do betão, a
verificação da segurança em relação a roturas no contacto barragem-fundação ou pela fundação e a
análise do comportamento da barragem para a atuação do sismo máximo de projeto (SMP).
Relativamente ao primeiro cenário verifica-se o esmagamento do betão nos arcos às cotas superiores,
na zona central da barragem, precedida da rotura por tração na face de montante na zona de contacto
entre a barragem e a fundação, ao longo das margens. A análise de rotura pela fundação foi
desenvolvida recorrendo a modelos que consideram diversas combinações tendo em conta as
principais falhas e famílias de diaclases do maciço, as juntas da barragem e a superfície de contacto
barragem-fundação. A avaliação dos coeficientes de segurança foi efetuada a partir da redução das
propriedades de resistência dos materiais, tendo-se chegado a valores similares aos verificados noutros
estudos e satisfazendo as disposições das Normas de Projeto de Barragens [3].
Na análise sísmica para o Sismo Máximo de Projeto, considerou-se a aceleração de 0.522 g o que
traduz um evento com 10% de probabilidade de excedência num período de 1000 anos
(correspondente a um período de retorno de 10 000 anos). Com as tensões de compressão máximas
inferiores a 16 MPa, adotaram-se valores de 1% para o coeficiente de amortecimento, o que conduz a
tensões de tração máximas de 5 MPa, que podem dar origem à abertura de fissuras horizontais na base
da barragem. Considerando o coeficiente de amortecimento de 10%, sendo este um valor mais realista
tendo em conta o comportamento não elástico da estrutura, as fissuras horizontais não se chegam a
desenvolver, mesmo considerando a ação da albufeira. Todo este conjunto de estudos permitiram
comprovar a segurança estrutural da barragem.
Gomes, Gonçalves, Matos e Miranda
5
3. O MACIÇO DE FUNDAÇÃO E O TRATAMENTO SUPERFICIAL DE FALHAS
O escalão de montante localiza-se num troço de rio aproximadamente retilíneo (com cerca de 1 km de
desenvolvimento), com orientação aproximada N-35º-E. No local da barragem o fundo do vale situa-
se próximo da cota (125,00), sendo o fundo achatado com cerca de 25 m de largura. No local da
barragem o vale é relativamente simétrico em forma de V, apresentando a margem direita inclinação
média, com a horizontal, de 25º desde aproximadamente a cota (255,00) até cerca da cota (162,00) e
41º desde esta até ao fundo do vale. A margem esquerda apresenta inclinação média de 32º desde o
fundo do vale até cerca da cota (150,00), 25º desde esta até à cota (222,00) e 18º até à cota (255,00).
Sob o ponto de vista litológico o maciço rochoso é constituído por granito porfiroide, de duas micas,
essencialmente biotítico, de matriz média a grosseira. Levando em linha de conta a qualidade da rocha
traduzida no parâmetro W, a fracturação F, o RQD, o módulo de deformabilidade e a partir dos
ensaios sísmicos, procedeu-se ao zonamento do maciço de fundação segundo a superfície de
referência da barragem [6]. A zona ZG1 é caracterizada por ter um grau de alteração W1 a W2, grau
de fracturação F1 a F3, RQD entre 90% e 100 %, módulo de deformabilidade igual a 17,5 GPa e
velocidade de propagação das ondas longitudinais oscilando entre 4000 e 6400 m/s. Na zona ZG2 o
grau de alteração é de W2 a W3, o grau de fracturação F2 a F4, RQD compreendido entre 50% e 90%,
módulo de deformabilidade igual a 7,5 GPa e velocidade de propagação das ondas longitudinais
compreendida entre 3000 e 4500 m/s. A zona ZG3 é caracterizada por um grau de alteração W3 a W5,
grau de fracturação F3 a F5, RQD inferior a 50, módulo de deformabilidade inferior a 5 GPa e
velocidade de propagação das ondas longitudinais inferior a 3200 m/s. As cotas de fundação da
barragem foram definidas de modo a garantir, por um lado, um bom encastramento da barragem na
fundação e, por outro, que o contacto da superestrutura com a fundação se fizesse a profundidades
abaixo da zona de descompressão e alteração superficiais, preferencialmente fundada nas zonas ZG2
ou ZG1, zonas que, do ponto de vista das suas características mecânicas, se consideram adequadas às
exigências de uma barragem do tipo abóbada.
O volume de escavações ascende aos 560.000 m3, tendo-se efetuado diversas recravas para tratamento
da fundação. Na margem esquerda, de modo a garantir a estabilidade do talude afetado por uma falha
importante, realizou-se uma parede/escora fundada à cota (210,00) com cerca de 8,50 m de altura e
aproximadamente 30,00 m de comprimento. Simultaneamente foi executada uma viga de contenção,
pregada ao terreno por intermédio de ancoragens pré-esforçadas com 17,00 m a 29,00 m de
comprimento. Na Figura 6 a) está representada a escavação da parede/escora e a viga de contenção e
na Figura 6 b) está representada a parede escora já executada.
a) b)
Figura 6 – a) Falha b) Parede/escora
Na margem direita foram encontradas e tratadas diversas falhas de pequenas dimensões, tendo-se
procedido ao tratamento preconizado no projeto, substituindo o material da falha por recravas tipo de
A Barragem de Montante do Baixo Sabor. Aspetos Relevantes de Construção e Projeto
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betão armado. No leito do rio, e de acordo com o previsto no reconhecimento geológico, apareceram
algumas falhas já com alguma expressão que obrigaram à remoção do seu preenchimento e à execução
de recravas de betão armado adaptadas à configuração das caixas de falha (ver Figura 7a)).
Em acréscimo, e para permitir o melhor tratamento em profundidade de uma das falhas por injeções
de calda de cimento, inseriu-se no bloco (19-20) uma galeria adicional, dotada de tubos para o referido
tratamento (ver Figura 7b)).
a) b)
Figura 7 – a) Falhas do leito rio b) Betão armado e tubos para injeção.
4. PROJETO E ASPETOS CONSTRUTIVOS DO DESCARREGADOR DE CHEIAS
4.1 Pilares e soleira descarregadora
O descarregador de cheias do tipo lâmina livre é equipado com comportas segmento e dispõe da
possibilidade da inserção de ensecadeiras a montante. A implantação do descarregador foi
condicionada pela necessidade de dotar o coroamento da barragem de um viaduto, que permite
estabelecer a ligação rodoviária entre as duas margens, e simultaneamente pela necessidade de
implantar a estrada na zona central do coroamento. De modo a minimizar a dimensão das consolas a
jusante e dada a reduzida frequência da utilização das comportas ensecadeiras, estas ficaram situadas
sob o viaduto. Assim, este ficou dotado de aberturas obturadas com tampas amovíveis para
introdução, quando necessário, das referidas comportas ensecadeiras. As consolas de jusante do
descarregador desenvolvem-se entre as cotas (206,00) e (216,3243) estando a crista à cota (224,00).
Na Figura 8 estão representados os cortes pelo eixo do descarregador e pelo eixo do pilar do poço de
escadas.
Na extremidade de jusante do descarregador de cheias, de acordo com o ensaio em modelo reduzido
realizado pelo LNEC [7], foram introduzidos defletores de modo a promover uma melhor dissipação
da energia do jato de água. As faces de jusante dos pilares arrancam à cota (206,00), terminando num
plano vertical que se desenvolve entre a cota (223,52) e a cota do coroamento (236,00). Os planos
inclinados das consolas de jusante serão executados por intermédio de cofragens tradicionais, que
serão posicionadas em obra por intermédio de duas gruas fundadas à cota (203,00), e cujas estruturas
ficarão parcialmente embebidas no betão em massa da barragem. As camadas de betonagem, com
1,50 m a 2,00 m de altura, estão dotadas nesta zona de armaduras construtivas que permitem a
sustentação do peso próprio da consola durante a fase de construção, bem como o apoio da cofragem e
a solicitação resultante do betão fluido.
Gomes, Gonçalves, Matos e Miranda
7
a) b)
Figura 8 – Descarregador de Cheias a) Secção pelo eixo do descarregador b) Secção pelo eixo do pilar.
4.2 Elementos de apoio do suporte dos órgãos de segurança
A solução adotada para as comportas de serviço, quer da descarga de fundo quer dos descarregadores
de cheias, envolve a construção de estruturas de suporte em betão armado, nas quais se introduzem
peças fixas metálicas (definidas pelo fornecedor de equipamentos hidromecânicos) que estabelecem a
ligação entre os braços das comportas e as estruturas de betão armado de apoio.
No caso da descarga de fundo, a solução adotada consistiu na materialização de uma consola no
paramento de jusante delimitada por paredes laterais unidas por uma viga-munhão que recebe as peças
fixas para apoio da comporta, como se pode ver na Figura 9. A comporta de serviço tem 6.00 m de
raio, secção transversal de 2.10x3.10 m2 e para o NMC à cota (235.00) terá uma pressão hidrostática
correspondente a 95 m.c.a. (esforços no munhão da ordem dos Fv = 2350 kN e Fh = 3750 kN de
acordo com o fornecedor de equipamentos). Foram efetuados modelos de elementos finitos para
avaliar o comportamento desta estrutura para a ação das forças acima indicadas, verificando-se ser
possível absorver os correspondentes esforços por intermédio de armaduras ordinárias, ainda que com
secções fortemente armadas.
Figura 9 – Corte pelo eixo da Descarga de Fundo
A Barragem de Montante do Baixo Sabor. Aspetos Relevantes de Construção e Projeto
8
Quanto às comportas de serviço do descarregador de cheias, adotou-se a solução convencional de
dotar os pilares da barragem de consolas curtas nas quais apoiam os braços das comportas. Estas
consolas terão 1.50 m de vão, 4.00 m de altura, 3.50 m de comprimento na zona inferior e 3.90 m na
zona superior, conferindo desta forma uma superfície perpendicular ao alinhamento do braço da
comporta (na sua posição fechada – ver Figura 8 a)) na qual será colocada a respetiva peça fixa para
apoio. Na Figura 10 a) pode ver-se a consola de jusante da descarga de fundo, e na Figura 10 b) o
arranque das consolas de jusante do descarregador de cheias à cota (206,00), bem como as gruas que
ficarão parcialmente embebidas no betão do corpo da barragem.
a) b)
Figura 10 – Descarregador de Cheias - Arranque das consolas de jusante
Cada comporta tem 11.00 m de raio, 16,00 m de vão e para o NMC à cota (235.00) terá uma pressão
hidrostática máxima correspondente a cerca de 12 m.c.a. que originam forças no munhão da ordem
dos Fv = 2000 kN e Fh = 8500 kN (de acordo com o fornecedor de equipamentos). A análise
estrutural da consola e respetiva ligação ao pilar foi efetuada por intermédio de modelos de elementos
finitos. Conforme prática que tem sido habitual, optou-se pela utilização de armaduras ordinárias para
absorção dos esforços, solução que apesar de conduzir a elevadas densidades de armadura envolve
uma maior facilidade construtiva.
4.3 Bacia de dissipação
A bacia de dissipação da energia do jato proveniente do descarregador de cheias, localizada no pé de
jusante da barragem, é constituída por 23 blocos (ver Figura 11) separados por juntas verticais,
inserindo-se no vale em forma de concha.
A laje de fundo, em betão armado, tem 3.00 m de espessura, o contacto com a fundação está à cota
(119.00), sensivelmente 6,00 m abaixo do nível da água do rio a jusante, garantindo um colchão de
água dentro da bacia de dissipação. Lateralmente a bacia está confinada por muros com 3,00 m de
espessura em betão armado que se desenvolvem até à cota (150,00). Na definição da bacia de
dissipação foram consideradas pressões hidrodinâmicas resultantes de uma diferença súbita entre a
pressão nas faces superior e inferior da laje de fundo [8]. De modo a minimizar o efeito das
subpressões na face inferior da laje, foi introduzida uma rede de drenagem horizontal, composta por
drenos afastados de 7.20 m conectados a uma galeria perimetral de drenagem.
A laje de fundo foi executada em duas camadas de betonagem, a primeira com 2.10 m de altura e
betão do tipo C20/25 e a segunda com 0,90 m com betão C30/37, tendo-se colocado uma proteção
térmica durante 7 dias. Nas juntas entre os blocos foram colocadas duas lâminas de estanquidade,
próximas da face superior e inferior da laje. De modo a promover o monolitismo entre a laje de fundo
e o maciço de fundação, foi efetuado um tratamento da fundação antes da betonagem e foram
introduzidas pregagens ɸ32 mm, afastadas de 1.80 m, penetrando 4.00 m no maciço de fundação e
2,00 m na laje de betão armado.
Gomes, Gonçalves, Matos e Miranda
9
Figura 11 – Planta geral da bacia de dissipação
5. PLANO DE OBSERVAÇÃO
O Plano de Observação, tem como principal objetivo definir o sistema de observação a implementar e
os critérios para a sua exploração, de forma a permitir interpretar o comportamento das obras nas
diferentes fases da sua vida, com base em resultados de observação e em modelos. Pretende-se que
seja possível prever o comportamento futuro das estruturas e aferir os métodos de cálculo e as
hipóteses de projeto. O acompanhamento e a monitorização dos valores fornecidos pelos instrumentos
aplicados na barragem, permitem avaliar as condições de segurança das estruturas durante a
construção, primeiro enchimento e exploração, e ainda contribuir para melhorar os próprios critérios e
técnicas utilizadas no controlo de segurança deste tipo de obras [9].
O sistema de observação a instalar na barragem foi definido tendo em conta os objetivos gerais atrás
mencionados, e seguiu os critérios definidos nas Normas de Observação e Inspeção de Barragens
NOIB [10] que indicam, para esta obra, a obrigatoriedade de observação das seguintes grandezas:
deslocamentos, movimentos de juntas e fissuras, temperaturas no betão, tensões e extensões, caudais
drenados e infiltrados, subpressões, meteorologia e sismologia.
Os deslocamentos horizontais serão medidos quer por 5 fios-de-prumo invertidos quer por métodos de
geodesia (triangulação por pontos no paramento de jusante e poligonação nas galerias de visita
horizontais), e os deslocamentos verticais serão registados por 15 extensómetros de fundação e por
nivelamentos de precisão (no coroamento e nas galerias de visita horizontais mais elevadas). Salienta-
se que foram colocados termómetros nos extensómetros de fundação de modo a possibilitar a respetiva
correção térmica em profundidade. Os movimentos relativos entre blocos serão registados pelas 101
bases tridimensionais e pelos 152 medidores de juntas.
A Barragem de Montante do Baixo Sabor. Aspetos Relevantes de Construção e Projeto
10
As extensões no betão serão monitorizadas por 40 extensómetros de resistência elétrica, as tensões por
10 células tensométricas e por 6 medidores de pressão, enquanto a deformabilidade do betão será
acompanhada por 3 células de fluência. A temperatura do betão da barragem será registada por 52
termómetros de resistência elétrica e por medidores de junta. Os caudais serão registados pelos drenos,
as subpressões pelos piezómetros a colocar na galeria geral de drenagem, e o nível da albufeira será
registado por um limnígrafo. As ações sísmicas estão a ser acompanhadas desde o início das
escavações por sismógrafos instalados na zona envolvente da obra, estando ainda prevista a colocação
de 5 sismógrafos no interior da barragem.
CONCLUSÕES
O Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor é um investimento estratégico para a gestão da bacia
hidrográfica nacional do Rio Douro. A albufeira criada pela barragem de montante traduz-se numa
reserva estratégica de água e contribui para a segurança do abastecimento energético, para a
regularização dos caudais do rio Douro, controlando as cheias, e para o crescimento da energia eólica
e redução das emissões de CO2. O Projeto está em construção e estão envolvidos diversos técnicos da
EDP bem como de outras empresas consultoras, estando em desenvolvimento um conjunto de estudos
multidisciplinares e complexos. Os aspetos de projeto e construção, apresentados neste artigo, foram
estudados e analisados de modo a obter uma solução económica e otimizada para a barragem e para o
aproveitamento no seu conjunto.
REFERÊNCIAS
[1] Energias de Portugal, SA. Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor. Projeto. Escalão de
Montante. Volume I. Tomo B. Barragem, 2005 (Documento Interno).
[2] Regulamento de Segurança de Barragens (RSB), Decreto-Lei n.º 344/2007 de 15 de Outubro,
2007
[3] Normas de Projeto de Barragens (NPB) Portaria n.º 846/93 de 10 de Setembro, 1993
[4] NP ENV 1992 1-1, Eurocódigo 2, Projeto de Estruturas de Betão.
[5] Silva Matos, D., Paixão, J., Antunes, N., Arch Dam Design of the Baixo Sabor Upstream Scheme.
5th International Conference on Dam Engineering, February 2007, Lisbon, Portugal.
[6] Energias de Portugal, SA. Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor. Projeto. Escalão de
Montante. Apêndices Volume II - Estudos Geológicos e Geotécnicos, 2005 (Documento Interno).
[7] Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Estudo Hidráulico em Modelo Reduzido do
Descarregador de Cheias do Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor. Escalão de Montante,
2006 (Documento Interno).
[8] Bollaert, E.F.R., A new procedure to evaluate dynamic uplift of concrete linings or rock blocks in
plunge pools, Intl. Symp. on Hydraulics of Dams and River Structures, Teheran, Iran, pp. 125-
132, 2004.
[9] Energias de Portugal, SA. Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor. Projeto. Escalão de
Montante. Plano de Observação e Primeiro enchimento, 2005 (Documento Interno).
[10] Normas de Observação e Inspeção de Barragens (NOIB) Portaria nº 847/93 de 10 de Setembro,
1993.