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A cidade e as serras
Eça de Queiroz
“Os sentimentos mais genuinamente humanos logo se
desumanizam na cidade.”
José Maria Eça de Queiroz
foi um dos pioneiros da literatura realista em Portugal do século XIX.
Estilos; prosa de ficção, crítica literária, crônica jornalística e literatura de viagens.
Temas; cotidiano, descrição de locais e comportamento de pessoas, pessimismo, ironia e humor.
Vida e obra
Administrador, jornalista
e cônsul. 1845 – 1900 (Póvoa de
Varzim – Paris). Aos 40 anos casou com
Emília de Castro, com quem teve 4 filhos: Alberto, António, José Maria e Maria.
Vida e obra
Eça de Queiroz e Emília de Castro
Homenagem a Eça em sua cidade-natal
O conde d‘AbranhosA capital
Cartas de InglaterraEcos de Paris
A cidade e as serrasA ilustre casa de
RamiresOs maiasA relíquia
O mandarimO primo basílio
O crime do Padre AmaroLendas de Santos
Fases do autor
1ª fase) Pré-realista ou preparatória, estava mais ligado a traços românticos.
2ª fase) Realista. 3ª fase) 3ª Maturidade
artística: Pacificação, otimismo em relação a pátria e esperança vinda do interior de Portugal, onde as pessoas ainda não estavam contaminadas pelos falsos valores tecnológicos do mundo urbano.
1875 O Crime do Padre Amaro
1878 O Primo Basílio
1887 A Relíquia
1888 Os Maias
1900 A Ilustre Casa de Ramires
1901 A Cidade e as Serras
Ano Obra Portugal
crítica
reconciliação
Conto publicado em 5 folhetins chamado:
A civilização
Origem do livro
Primeira pessoa Narrador-personagem e testemunhal, José
Fernandes, amigo do protagonista Jacinto. Este narrador coloca-se como menos
importante do que o protagonista. Tem um importante papel na evolução e
mudanças ocorridas com Jacinto.
Foco narrativo
IntertextualidadeD. Quixote/Sancho; Jacinto/Zé
Fernandes: contraponto
(Jacinto)“Acredita, não há senão a Cidade, Zé Fernandes, não há senão a Cidade!”(Zé Fernandes)“Então chasqueei risonhamente o meu Príncipe. Aí estava pois a Cidade, augusta criação da humanidade! Ei-la aí, belo Jacinto! (...) o homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. Vê, Jacinto! A sua tranquilidade onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pão, ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia rodela de ouro! (...) As amizades (...) estalam ao menor embate da rivalidade ou do orgulho. E o amor, na Cidade, (...) onde a nobre carne de Eva se vende (...) como a de vaca!”
“Com que brilho e inspiração copiosa a compusera o divino Artista que faz as serras, e que tanto as cuidou, e tão ricamente as dotou, neste seu Portugal bem-amado! (...) Jacinto adiante, na sua égua ruça, murmurava: – Que beleza!(...)” (Zé Fernandes)“(...) não se trata de saber se a terra é linda, mas se ela é boa”
Enredo
D. Pedro e D. Miguel a brigar pela coroa
portuguesa
Jacinto “Galião” miguelista “E quando soube que o Sr. D. Miguel, com dois velhos baús amarrados sobre um macho, tomara o caminho de Sines e do final desterro – “Jacinto Galeão” correu pela casa, fechou todas as janelas como num luto, berrando furiosamente: –Também cá não fico! Também cá não fico! Não, não queria ficar na terra perversa donde partia, esbulhado e escorraçado, aquele rei de Portugal (...) Embarcou para França com a mulher, a Sr.ª D. Angelina Fafes, com o filho, o Cintinho...”*
Enredo
“Três meses e três dias depois do seu enterro o meu Jacinto nasceu”
Jacinto cresce como um menino forte, saudável e inteligente.
Na faculdade, conhece o seu colega Zé Fernandes (o narrador).*
Universidade de Paris
Enredo
“A felicidade dos indivíduos, como a das nações, se realiza pelo ilimitado desenvolvimento da mecânica e da erudição”.
José Fernandes foi chamado pelo tio e parte para Guiães e, somente após sete anos de vida na província, retorna e reencontra Jacinto no 202 dos Campos Elíseos.
Guiães - Portugal
Enredo em trechos
“(...)Sabei, senhora que esta vida é um rio....
Pois um rio de Verão, manso, translúcido, harmoniosamente estendido sobre uma areia macia e alva, pôr entre arvoredos fragrantes e ditosas aldeias, não ofereceria àquele que o descesse num barco de cedro, bem toldado e bem almofadado, com frutas e Champanhe a refrescar em gelo, um Anjo governando ao leme, outros Anjos puxando à sirga, mais segurança e doçura do que a Vida oferecia ao meu amigo Jacinto. Pôr isso nós lhe chamávamos “o Príncipe da Grã-Ventura”!(...)“
Visões de José Fernandessobre Jacinto
“(...)Reparei então que meu amigo emagrecera; e que o nariz se lhe afilara mais entre duas rugas muito fundas, como as de um comediante cansado. Os anéis de seu cabelo lanígero rareavam sobre a testa, que perdera a antiga serenidade de mármore bem polido. Não frisava agora o bigode, murcho, caído em fios pensativos. Também notei que corcovava(...)”.
Palácio 202
Dois elevadores 70 mil livros Telefone Telégrafo Relógio Conferençofone Teatrofone
Máquina de escrever; dicionários; manuais; guias; máquina de calcular; etc.
O jantarTrecho para análise
“Nessa fecunda semana, uma noite, recolhíamos ambos da Ópera, quando Jacinto, bocejando, me anunciou uma festa no 202. -Uma festa?... -Pôr causa da Grão-duque, coitado, que me vai mandar um peixe delicioso e muito raro que se pesca na Dalmácia. Eu queria um almoço curto. – O Grão-duque reclamou uma ceia. É um bárbaro, besuntado com literatura do século XVIII, que ainda acredita em ceias, em Paris! Reúno no Domingo três ou quatro mulheres, e uns dez homens bem típicos, para o divertir. Também aproveitas. Folheias Paris num resumo... Mas é uma maçada amarga! “
“Claramente percebia eu que o meu Jacinto atravessava uma densa névoa de tédio, tão densa (...) Pobre Príncipe da Grã-Ventura, tombado para o sofá de inércia (...) E esse fastio não o escondeu mais do se velho Zé Fernandes (...) aquele murmurar que se tornara perene e natural: ´Para quê?` – ´Não vale a pena!` – ´Que maçada!...`”
“Uma noite no meu quarto, descalçando as botas, consultei o Grilo: ´– Jacinto anda tão murcho, tão corcunda... Que será, Grilo?O venerando preto declarou com uma certeza imensa:– V. Ex.ª sofre de fartura.”
O tédio que consome Jacinto
Jacinto desencanta-se Desgaste com a sua
atividades Futilidade das pessoas
com quem convivia A inutilidade dos
excessos de objetos O barulho das ruas o
incomodava Período de nítido
desencanto
Desencanto da cidade
Exemplo: Episódio do cano estourado
A carta de Tormes
Jacinto recebe uma carta de Silvério de Tormes.“[...]Tormes, pôr toda a serra, passara uma tormenta devastadora de vento, corisco e água. Com as grossas chuvas, “ou pôr outras causas que os peritos dirão” (como exclamava na sua carta angustiada o procurador Silvério), um pedaço de monte, que se avançava em socalco sobre o vale da Carriça, desabara, arrastando a velha igreja, uma igrejinha rústica do século XVI, onde jaziam sepultados os avós de Jacinto[...]” Decide viajar à Tormes para a
acompanhar a transladação dos osso de seus avós.
Problema: casa de Tormes inabitável, em reforma.
Solução: transferir parte do 202 para Tormes
As bagagens, equipamentos, livros e seus empregados, por engano, são mandados para Tormes da Espanha.
Caixas do 202
Paris
Civilização
Jacinto “sem civilização”
Purificação
Importância do episódio
Chegada em Tormes
Ausência de recepção
Pimenta, chefe da estação, consegue-lhes uma égua e um jumento.
Como ninguém os esperava, a casa não estava pronta para recebê-los, os telhados ainda continuavam sem telhas, a vidraças sem vidros.
Irritado; com desconforto, escassez e rudez.
[...] Melchior, que seguia erguendo a
infusa do vinho, esperava que suas Incelências lhe perdoassem porque
faltara tempo para o caldinho apurar... Jacinto ocupou a sede ancestral – e durante momentos (de esgazeada
ansiedade para o caseiro excelente) esfregou energicamente, com a ponta
da toalha, o garfo negro, a fusca colher de estanho. Depois, desconfiado,
provou o caldo, que era de galinha e recendia. Provou – e levantou para
mim, seu camarada de misérias, uns olhos que brilharam, surpreendidos. Tornou a sorver uma colherada mais
cheia, mais considerada. E sorriu, com espanto: -
“Está bom!” (...) – Estou com uma fome... Santo
Deus! Há anos que não sinto esta fome.
A sedutora serra
Depois que Melchior apresenta os aposentos
aos amigos, serve o jantar.
O céu e as estrelas, que a poluição e a luzes da cidade encobriam, encanta Jacinto.A beleza do campo, a tranquilidade, o barulho dos pássaros cativa-o.
Um novo Jacinto
Zé Fernandes vai para sua cidade, Guiães.
Depois de um tempo retorna e o encontra totalmente mudado, física e mentalmente.
Nada nele denunciava um homem franzino; estava encorpado, corado, como um verdadeiro montês.
Ele queria participar de tudo, e lhe surgiam grandes ideias como encher pastos, construir currais perfeitos, máquinas para produzir queijos...
“Sobre a sua arrefecida palidez de supercivilizado, o ar montesino, ou vida mais verdadeira, espalhara um rubor trigueiro e quente de sangue renovado que o virilizava soberbamente. Dos olhos, que na Cidade andavam sempre tão crepusculares e desviados do Mundo, saltava agora um brilho de meio-dia, resoluto e largo, contente em se embeber na beleza das coisas. Até o bigode se lhe encrespara. E já não deslizava a mão desencantada sobre a face – mas batia com ela triunfalmente na coxa. Que sei? Era Jacinto novíssimo.”
Passa a preferir as
serras
“Agarrava o meu pobre braço, exigia que eu reparasse com reverência. Na natureza
nunca eu descobriria um contorno feio ou repetido! Nunca duas folhas de hera, que, na verdura ou recorte, se assemelhassem! Na cidade, pelo contrário, cada casa repete
servilmente a outra casa; todas as faces reproduzem a mesma indiferença ou a
mesma inquietação; as ideias têm todas o mesmo valor, o mesmo cunho, a mesma
forma, como as libras; e até o que há mais pessoal e íntimo, a ilusão, é em todos
idêntica, e todos a respiram, e todos se perdem nela como no mesmo nevoeiro... A
mesmice — eis o horror das cidades!”
Jacinto familiariza-se com os trabalhos
rurais
Descobre a miséria
“(...)Jacinto pulou
bruscamente da borda do carro. -Fome? Então ele tem fome? Há aqui gente
com fome?(...)”
Ordena que busquem remédios e chama o
médico para visitar os doentes até que eles melhorem. E instala
uma farmácia.
Aumenta o salário de todos.
Manda construir: habitações aos
trabalhadores, mobília essas casas.
Constrói uma escola, biblioteca, sala de
projeção, uma creche para os bebês, uma
biblioteca.
“─ Vi a chaga! Mas enfim, esta, louvado
seja Deus, é das que eu posso curar! “
Reconhecido como um grande benfeitor dos
pobres.
Acreditam que ele é D. Sebastião que voltou.
Zé Fernandes convida Jacinto para o
seu aniversário em Guiães. Neste dia, a presença de Jacinto traz
um certo embaraço aos presentes. Zé Fernandes procura estabelecer maior aproximação entre os convidados, porém de nada adiantava.
Depois acabam descobrindo que os convidados acreditavam que o Jacinto era miguelista igual a seu avô.
E até que Jacinto escondia D. Miguel em sua casa preparando uma volta do miguelismo.
“— Mas o senhor Jacinto, não é? — Eu, minha senhora, sou socialista...”
Aniversário de Zé Fernandes
“Mas, à porta, que de repente se abriu, apareceu minha prima Joaninha, corada do passo e do vivo ar, com um vestido claro um pouco aberto no pescoço, que fundia mais docemente, numa larga claridade, o esplendor branco da sua pele, e o louro ondeado dos seus belos cabelos, - lindamente risonha, na surpresa que alargava os seus largos, luminosos olhos negros, e trazendo ao colo uma criancinha, gorda e cor-de-rosa, apenas coberta com uma camisinha, de grandes laços azuis.E foi assim que Jacinto, nessa tarde de setembro, na Flor da Malva, viu aquela com quem casou, em maio, na capelinha de azulejos, quando o grande pé de roseira se cobrira já de rosas.”
JoaninhaContraponto às
mulheres de ParisMulheres que:
Utilizavam o corpo para chamar a
atenção Seduziam homens e
davam golpes Mantinham casamento de
aparências Casavam-se por
dinheiro Traíam seus maridos
“E agora, entre roseiras que rebentam, e vinhas que se vindimam, já cinco anos passaram sobre Tormes e a Serra. O meu Príncipe já não é o último Jacinto, Jacinto ponto-final – porque naquele solar que decaíra, correm agora, com soberba vida, uma gorda e vermelha Teresinha, minha afilhada, e um Jacintinho, senhor muito da minha amizade.”
Os filhos
Ambientação dos espaços
Capítulo 1 ao 8: Cidade de Paris, 202.Capítulo 8 ao16: Serras, Tormes.
O campo é melhor do que a cidade. Mas a apesar de optar pela serra, ele não exclui totalmente a cidade. Ele dá a ideia de adição e não de subtração, em relação a cidade, pois traz da cidade coisas que lhe são úteis.
Título da obra
EspaçoDe um lado, o meio
urbano; de outro, o meio rural.
Mas, essa oposição básica se desdobra, na forma
de um jogo de
afirmação e negação de cada um dos termos.
No primeiro bloco, a
cidade se apresent
a investida
de valores
positivos, enquanto o campo
se caracteri
za negativamente.
No segundo
bloco, invertem-
se as relações. A cidade
é carregada
de negativid
ade, apresenta
ndo-se como
espaço de aviltamen
to do homem.
Enquanto a cidade é
assim criticada, o campo é como o espaço de libertação
da inteligênci
a, segundo a qual a
vida campestre é fonte de paz e
felicidade.
Cidade x Serras
As características do Realismo que estão presentes nessa obra são: o objetivismo (vê o mundo como ele é) descritivíssimo (dá veracidade à obra), ironia (em relação ao comportamento humano), observação e análise (fatos presentes), contemporaneidade (exatidão para localizar o
tempo e o espaço), análise dos valores burgueses com visão crítica
denunciando a hipocrisia apresenta uma tese de solução
Realismo
Conclusão
UFRS 2001 - Considere o enunciado abaixo e as três possibilidades para completá-lo. Em “A Cidade e as Serras,” de Eça de Queirós, através das personagens Zé Fernandes e Jacinto de Tormes, que vivem uma vida sofisticada na Paris finissecular, percebe-se:I – uma visão irônica da modernidade e do progresso através de descrições de inventos reais e fictícios. II – uma consciência dos conflitos que a vida moderna traz ao indivíduo que vive nas grandes cidades.
III – uma mudança progressiva quanto ao modo de valorizar a vida junto à natureza e os benefícios dela decorrentes.
Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e II. e) I, II e III.
Atividade
UFRS 2001 - Considere o enunciado abaixo e as três possibilidades para completá-lo. Em “A Cidade e as Serras,” de Eça de Queirós, através das personagens Zé Fernandes e Jacinto de Tormes, que vivem uma vida sofisticada na Paris finissecular, percebe-se:I – uma visão irônica da modernidade e do progresso através de descrições de inventos reais e fictícios. II – uma consciência dos conflitos que a vida moderna traz ao
indivíduo que vive nas grandes cidades. III – uma mudança progressiva quanto ao modo de valorizar a vida junto à natureza e os benefícios dela decorrentes.
Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e II. e) I, II e III.
Resposta