Post on 03-Mar-2017
A indústria dos GIS (Geographic Informa-
tion Systems) goza de boa saúde. Diversos
factores fizeram com que a utilização de
soluções, tecnologias e serviços relacionados com a
área dos Sistemas de Informação Geográfica, tenha
crescido nos últimos anos e que se tenha convertido
numa ferramenta indispensável para tomadas de
decisões empresariais. O mercado português tem
vindo a assistir a uma crescente procura destas fer-
ramentas e já são muito poucos os negócios ou
actividades que, hoje em dia, não têm alguma infor-
mação baseada em localização espacial.
“Depois de uma fase introdutória durante os anos
90, a primeira década do milénio foi claramente de
forte crescimento para os sistemas de informação
geográfica”, explica Eduardo Cruz, Business De-
velopment Manager da GMV, grupo privado que
actua neste segmento desde 1984. “Estes períodos
foram acompanhados por ritmos correspondentes
de surgimento de empresas a operar no sector, com
as mais diversas dimensões e focos de actuação”,
acrescenta.
Desde monitorização de redes de energia a trans-
porte de bens e mercadorias, passando pelo acom-
panhamento de furacões e outros eventos me-
teorológicos, todas estas actividades recorrem e
beneficiam de plataformas GIS. E a perspectiva a
curto prazo é igualmente animadora, pois é ex-
pectável que a procura destas soluções suba, uma
vez que se está a tornar claro que as empresas
conseguem aumentar a competitividade se a sua
actividade estiver suportada em soluções GIS.
“A indústria dos GIS está a entrar na sua fase mais
importante, até agora parecia ‘reservada’ a sectores
específicos e está a democratizar-se, chegando a
um público mais amplo, graças ao importante de-
senvolvimento tecnológico nos dispositivos móveis
(telemóveis, tablets, ...) e à utilização cada vez mais
importante da tecnologia GPS”, destaca Nicolás
Os Sistemas de Informação Geográfica, também conhecidos por GIS, perderam a conotação de tecnologia destinada a nichos de mercado e têm vindo a alargar o seu leque de clientes. Do sector público a empresas privadas de grande envergadura, passando por PME, o mercado está a ganhar consciência das vantagens potenciadas por estas plataformas. Para o Canal, a oportunidade está na implementação de hardware e software, assim como na sua integração com outras ferramentas Paulo Belchior de Matos, Ana Rita Silva e CP
A democratização dos GISInovações tecnológicas e novos players
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a fundo
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a fundo julho/agosto 2012G
IS
Galvez, Product Manager Outdoor- Fitness da Gar-
min Iberia, especialista em soluções de navegação
portátil.
Um dos sinais que evidencia a evolução dos GIS é
que já não se trata de uma tecnologia requerida
exclusivamente pelo Sector Público - embora ainda
se mantenha como o principal motor da procura no
mercado GIS nacional, “sendo que se pode situar
acima dos 70%”, esclarece Eduardo Cruz da GMV.
Outros segmentos estão já convencidos de todas as
vantagens que estas plataformas podem trazer para
o seu negócio, como, por exemplo, a possibilidade
de poder optimizar custos e tempo. Mas não é pre-
ciso ir muito longe para termos noção da sua ex-
tensa aceitação na sociedade: no âmbito particular,
é cada vez mais habitual a utilização de terminais
que fazem uso das capacidades de geolocalização,
como ruas ou mapas que detectam o melhor per-
curso a seguir ou que facilitam a localização de um
determinado restaurante ou bomba de gasolina,
por exemplo.
Para trás ficou a ideia de que se trata de ‘tecnologias
de nicho’, com aplicações verticalizadas para secto-
res muito concretos e que requerem conhecimentos
e recursos de hardware específicos para a sua ex-
ploração. Hoje, este tipo de sistemas constitui uma
proposta revolucionária e inovadora ao alcance de
todos. E esta transformação deve-se, por um lado,
a uma série de avanços, como o rápido aumento
das taxas de transferência de dados das redes de
telecomunicações de última geração, da capacidade
de processamento dos computadores e do ‘boom’
de dispositivos móveis. Assim, passou-se de um pa-
radigma em que se gerava e corrigia a informação
para outro, onde existe a capacidade de actualizar
a informação com muita qualidade e num intervalo
de tempo muito curto.
A estas melhorias técnicas e de procedimento, há
que somar a chegada de vários players que provoca-
ram a democratização dos GIS. Vitor Batista, gestor
de projectos da Indra, multinacional que fornece
serviços de valor acrescentado neste segmento, re-
fere que soluções como o Google Maps ou o Goo-
gle Earth tiveram um efeito catalisador no sector,
pois “trouxeram uma consciência geoespacial para
o público em geral”. “Nos últimos cinco anos, a po-
pularidade dos produtos de mapeamento da Google
foi criando uma procura por dados geoespaciais,
ao mesmo tempo que se tornava muito fácil de
usar e sem representar custos para os utilizadores”.
Portanto, estes serviços, com a sua posterior inte-
gração nos social media, estão a gerar um grande
campo de actividade e oportunidade, que terá um
largo reconhecimento nos próximos anos. Como
já não nos referimos a uma tecnologia puramente
empresarial e acessível a poucos, há muitos utiliza-
dores que podem usar a informação pública para
criar as suas próprias aplicações, o que, combinado
com a utilização cada vez mais intuitiva destas pla-
taformas, ajudou a lançar novos projectos e a gerar
consciência social da importância da geografia na
altura de melhorar o desempenho do negócio.
Cloud e mobilidade na origem do crescimentoTradicionalmente, o sector público tem sido o prin-
cipal cliente dos sistemas de geolocalização para
cobrir serviços ligados à gestão de património e de
trânsito, ao ciclo de vida do planeamento urbano, e
à segurança policial, entre outros. Contudo, actual-
mente, outras áreas como o serviço público, meio
ambiente, telecomunicações, transportes, logística
e Defesa já levam a cabo projectos deste tipo. Por
norma, devido à sua capacidade de análise, os GIS
estão vinculados a projectos de grande enverga-
dura, o que se insere na perfeição com estes perfis.
Vitor Batista da Indra considera que as principais
oportunidades de negócio para os GIS no mercado
nacional estão no sector dos transportes, “principal-
mente no transporte marítimo, que está a atravessar
um período de grande crescimento
e que poderá beneficiar muito desta
nova geração de plataformas GIS,
especialmente nas suas componen-
tes de logística e na circulação de
pessoas e mercadorias no espaço de
influência dos portos”.
O aspecto menos positivo deste
tema é que a restrição financeira
fez com que alguns clientes tenham
deixado de investir com a mesma
intensidade, passando a dar priori-
dade à manutenção das iniciativas que já têm em
marcha. “À semelhança do que está a acontecer
em torno de quase todas as áreas de negócio das
empresas, o mercado dos GIS em Portugal, que
não é excepção, tem sofrido nos últimos anos al-
guma estagnação, resultado dos efeitos da crise e
da consequente contenção orçamental”, ressalva
Jorge Apolinário, responsável pela área de SIG da
Ambisig, empresa integradora deste tipo de tec-
nologias. “Contudo, é normalmente na crise que se
encontram soluções para novos investimentos e, no
caso específico dos GIS, uma oportunidade de mo-
dernização tecnológica - as decisões passam a ser
tomadas de forma mais acertada dado existir menos
poder de investimento generalizado, o que faz com
que se tenha de fazer um melhor uso de toda a
informação já disponível”, acrescenta. Esta opinião
é reforçada por Eduardo Cruz da GMV: “No que se
Não é novo. As empresas debatem-se
há anos para perceber como influenciar a
variável espacial nos seus negócios e, hoje
em dia, devido ao maior conhecimento
que possuem do fenómeno GIS, têm
ao seu alcance uma ferramenta que
lhes oferece a possibilidade de tomar
decisões que melhorarão o seu fluxo de
trabalho e, consequentemente, os seus
resultados. Qualquer organização que
se preze precisa de conhecer os seus
recursos (como se distribuem e como os
estruturar com base no tempo e no espaço)
e a sua competência (onde estão, novas
zonas de acção, onde estavam a crescer)
- um sistema de geolocalização torna
possível analisar toda essa informação e
posteriormente visualizá-la num mapa.
Ferramenta de gestão empresarial
Os serviços GIS e a sua posterior evolução e integração nos social media estão a gerar um grande campo de actividade e oportunidade que terão um largo desenvolvimento nos próximos anos
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GIS
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refere à tecnologia, quando se conside-
ram as plataformas ‘tradicionais’ (server
e desktop), estamos perante um mer-
cado amadurecido, onde a expansão é
agora mínima ou quase nula. Quanto
à componente de serviços deu-se uma
forte retracção nos últimos dois anos,
com muitas das empresas portuguesas
a redireccionar os seus esforços para a
internacionalização da sua oferta. Cre-
mos que o espaço de crescimento está
agora na adopção de novos ambientes
de suporte (cloud, mobile), e na opti-
mização das infra-estruturas existentes,
quer do ponto de vista funcional, quer
do ponto de vista tecnológico.”
Ainda assim, a relação entre a Admi-
nistração Pública e os GIS está conso-
lidada, pois tratam-se de ferramentas
desenhadas para melhorar a gestão de
tempo, esforço e dinheiro, algo parti-
cularmente necessário na conjuntura actual. Jorge
Apolinário da Ambisig refere que “é no sector pú-
blico que se encontram as maiores referências a
projectos realizados em Clientes, até porque uma
das principais características dos GIS é servir de ins-
trumento no processo de Gestão Territorial e, nessa
medida, o forte do investimento está, de facto,
posicionado no Sector Público”. Além disso, a tec-
nologia continua a evoluir, o que permite oferecer
um valor acrescentado com novos produtos e fun-
cionalidades, como, por exemplo, processamento
na Cloud ou mobilidade.
Para termos uma noção do tipo de clientes existente
no mercado português, maioritariamente no sector
público, refira-se que, por exemplo, a Indra desen-
volve a sua actividade em múltiplos sectores, desde
a Defesa à Segurança, passando pela Administração
Pública e Utilities, entre outros, pelo que, actual-
mente, “observamos que são os nossos clientes que
já têm um elevado grau de maturidade tecnológica
que procuram soluções GIS com o objectivo de ob-
ter aumentos de produtividade e competitividade”,
explica Vitor Batista.
A título de exemplo, refira-se que a Indra desen-
volveu para o Gabinete de Gestão de Emergências
do Ministério dos Negócios Estrangeiros um sis-
tema que permite acompanhar e monitorizar os
portugueses espalhados pelo mundo, centralizando
a informação proveniente de Postos Consulares,
do Registo de Viajantes e dos Operadores Turísti-
cos, de modo a suportar, centralizar e controlar as
actividades efectuadas, o que permite actuar com
maior eficácia em situações de emergência. Por
sua vez, a Ambisig foi co-autora do projecto POR-
DATA Regiões para a Fundação Francisco Manuel
dos Santos, tendo também desenvolvido projectos
para empresas como a Brisa, REN ou Ana Aeropor-
tos. Já a GMV trabalhou em parceria com a Câmara
Municipal de Lisboa nas plataformas LxI - Lisboa In-
teractiva e SGPI – Sistema de Gestão e Planeamento
de Intervenções, que articula diversos
serviços municipais no planeamento e
execução das obras municipais. Além
disso, também participou no projecto
SIG-SIRESP, da Guarda Nacional Re-
publicana, o qual estende os GIS que
detém adoptando tecnologias aber-
tas e livres para se dotar de uma pla-
taforma de gestão da monitorização
de meios e ocorrências.
O sector privado, graças ao compro-
vado avanço tecnológico destas solu-
ções nos últimos anos, começa tam-
bém a requerer este tipo de sistemas,
especialmente se virem neles um aliado
perfeito para o seu desenvolvimento e
crescimento. Além disso, também as
PME começam a deslumbrar-se com
os encantos de ofertas que não su-
põem um grande investimento.
Para todos os públicos (e necessidades)A evolução natural dos GIS será implementar-se
cada vez mais na sociedade, apresentando soluções
verticais ao mesmo tempo que chegam ao mercado
global, pois cidadãos, empreendedores, PME e pro-
gramadores querem criar as suas próprias soluções
e aceder a conteúdos. E a verdade é que, deixando
de parte a vertente mais técnica, estes sistemas
estão a começar a andar lado a lado com as redes
sociais, combinando informação social e georrefe-
renciação. Além disso, começam a integrar-se com
outro tipo de propostas de “smart computing”, de-
fendem a formula SaaS e têm na mobilidade e no
modelo Cloud dignos aliados. Ou seja, os GIS estão
a democratizar-se - estamos numa sociedade com
utilizadores activos, que querem explorar informa-
ção e analisá-la, pois não se conformam apenas em
visualizá-la.
Por tudo isto, no futuro dos GIS a curto-médio
prazo em Portugal podemos contar com um au-
mento da procura de soluções baseadas em cloud
computing, como as plataformas da Google ou da
Microsoft. Esta convicção é defendida por Vitor
Batista da Indra: “Hoje em dia, assistimos a uma
racionalização do investimento em TI e o modelo de
Cloud vem dar resposta a diversos problemas que
os investidores enfrentam, porque permite apenas
pagarem pelos serviços que usam, não necessitando
de efectuar o setup de infra-estruturas dedicadas
com a redução de custos que isso implica. Tam-
bém não podemos ignorar o facto de que existe
• A maturidade tecnológica que se vive a todos os níveis: comunicações, armazenamento,
e sofisticação das interfaces do cliente;
• A regularização dos dados, muito graças ao trabalho realizado até agora pela
Administração Pública;
• O consumo cada vez maior de serviços de valor associados à georeferenciação, tanto
a nível particular, a partir da democratização dos serviços, como a nível profissional,
aportando valor aos negócios dos clientes em todo o seu ciclo de vida,
desde a operação à tomada de decisões.
Factores que aumentam a procura dos GIS
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uma migração dos utilizadores do escritório para
o terreno potenciado pelos dispositivos móveis e
pelo acesso via browser e, como tal, os modelos
clássicos de distribuição destas ferramentas não é
adequado às necessidades de evolução de empresas
e pessoas.” Além disso, como frisa Nicolás Galvez
da Garmin, os GIS também se vão focando mais no
geomarketing, misturando as vertentes de posicio-
namento geográfico com negócios, o que permite
analisar o comportamento do cliente e organizá-lo
geograficamente.
Desta forma, é na implementação de hardware e
software, assim como na sua integração dentro de
outras ferramentas, que o Canal pode encontrar
o seu nicho. Ou seja, o factor de diferenciação do
Parceiro está no valor que pode oferecer ao utiliza-
dor final mediante a especialização na definição,
desenvolvimento e início de produção de soluções
ligadas à exportação da informação geográfica dos
dados, integrando soluções, serviços e tecnologias
onde a localização, a dimensão espacial e a contex-
tualização geográfica da informação aportem valor
ao negócio dos clientes. Eduardo Cruz da GMV
faz uma análise do panorama actual do Canal de
GIS em Portugal: “Existe uma grande profusão de
empresas integradoras, com diversificados âmbitos
de actuação, quer ao nível dos sectores de mercado,
quer ao nível das tecnologias, quer até da abran-
gência territorial. Quase todas estas empresas têm
um foco numa determinada tecnologia/software;
muito poucas têm uma perspectiva de combinação
tecnológica visando a implementação de sistemas
heterogéneos preocupados com a optimização
funcional e de custos. Nos tempos mais recentes
assiste-se a uma relativa atomização da oferta, com
o aparecimento disperso de empresas de pequena
dimensão e posicionadas em nichos de actuação,
dando resposta a necessidades muito focalizadas e/
ou a mercados regionais.”
“Actualmente, podemos observar que os integra-
dores estão também a procurar adaptar-se ao pa-
radigma de cloud computing, e vai ser a velocidade
com que esta adaptação vai decorrer e o grau de
maturidade das soluções que irá ditar o sucesso de
cada um”, destaca Vitor Batista da Indra. A juntar
a tudo isto, há que salientar que os fabricantes
precisam de se juntar a Parceiros que mostrem os
benefícios e o retorno do investimento destes siste-
mas, pois o negócio passa por construir soluções de
âmbito global, já que a rentabilidade não provém da
venda de licenças, mas sim da concessão de serviços
de consultoria, formação, implementação e integra-
ção com outras aplicações.
Info www.ambisig.pt | www.garmin.com/ptwww.gmv.com/pt | www.indracompany.com
À primeira vista, poderia dizer-se que o negócio de sistemas
de geolocalização é muito rentável e pouco concorrido.
Contudo, embora seja certo que a lista de fabricantes centrados
no fornecimento destas soluções não é muito extensa, do ponto
de vista dos integradores desta tecnologia, o sector encontra-se
bastante fragmentado. Assim, por um lado, há grandes empresas
a operar para um pequeno nicho, com alta especialização,
que dão cobertura a necessidades claras e concretas do mercado.
Por outro lado, existem grandes integradores que funcionam através
de capacidades próprias ou mediante uma associação pontual
– de acordo com a oportunidade que apareça – com terceiros.
Tanto num caso como noutro, os profissionais que prestam
os seus serviços neste âmbito estão obrigados a ter um elevado
grau de qualificação. Desde a elaboração de dados cartográficos
através das empresas de fotogrametria e produção
cartográfica até ao consumo dos mesmos ou a redes sociais
em terminais móveis, existe toda uma cadeia de valor
ancorada em prestadores de serviços GIS, como, por exemplo,
gestores de conteúdos e portais web, que participam
neste mercado.
Assim, podemos dizer que nos encontramos perante um bolo
repartido em várias partes, embora não menos apetitoso
por isso, ou seja, ‘rentável’. É que muitas vezes lida-se
com projectos de grande envergadura, que acabam
por ser muito rentáveis, pois têm uma amortização rápida
devido à qualidade de análise da informação que é desenvolvida.
Um negócio extremamente especializado (e rentável)
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