Post on 21-Feb-2018
7/24/2019 a disciplina como disciplina
1/10
DIVERSOS
A Psicologia Como Disciplina
Antropol6g
ic
1. Introduo.
2. A Antropologia como Ontologia.
3. Viso Antropolgica
dos Problemas Psicolgicos.
1.
INTRODUO
4. Conceito de Pessoa
e de Personalidade
ELSO ARRUDA
Por
escolha dos meus pares, coube-me a
honra
de dirigir-vos as
primeiras palavras magistrais do
corrente
ano, no Instituto de Psico
logia. Embora j bastante assoberbado pelas inmeras tarefas da Di
reo, no pude esquivar-me a essa distino, que
eu
pretendia fsse
conferida a quem melhor a merecesse. Escolhi para tema os principais
aspectos relacionados com a psicologia como disciplina antropo
lgica.
Sabem todos vocs que a antropologia, ramo da histria natural
que lida com a espcie humana,
um
captulo da biologia a cincia
dos sres vivos e
uma cinci
que
requer
o concurso de
outras
disci-
Aula proferida na
aberturas das
atividades escolares de 1970,
do Instituto
de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Arq. bras. Psic. apl.,
Rio de Janeiro, 22 3) :131-139,
jul./set. 1970
7/24/2019 a disciplina como disciplina
2/10
plinas, como a psicologia, a sociologia, a etnologia, enfim de tdas as
disciplinas que, de algum modo, contribuem
para
o esclarecimento
da
natureza
do homem. Neste caso, sem deixar de ser cientfica,
mais cientfico-cultural
Kulturwissenschaft)
do que cientfico-natu
ral
Naturwissenschaft) ,
e, no que tange ao conhecimento da mente
e
da
conduta
humana, pode
ser
entendida, como dizem os
autores
alemes,
Geistwissen.schaftlich,
ou seja, como cincia da alma humana.
Por isso, costuma-se design-la
Antropologia cultural para
dis
tingu-Ia
da Antropologia clssica,
que abrangia a antropometria e a
etnografia. Por sua vez, a Antropologia filosfica, que indaga Que
o homem e qual seu psto no cosmo? ,
supera
a antropologia cultu
ral, pois considera o homem no s em seu
ser
natural como, tambm,
dentro do ambiente espiritual que impregna o
ser
humano. A antro
pologia cientfica e a antropologia filosfica seriam, assim, duas disci
plinas, cuja coincidncia de preocupar-se com o mesmo objeto, o
homem, no suprime
sua
radical diferena no sentido da pergunta
que lhes
d
origem. Donde a necessidade,
na
prtica, de definir-se os
limites
de
ambas para no retornarmos antiga posio da psicologia
como disciplina filosfica.
A antropologia cientfica nos leva ao conhecimento do homem,
que, por seu turno, inclui o saber psicolgico e todos os saberes que
nos permitem chegar quele conhecimento, como a biologia, a socio
logia, a histria etc.
No
que tange
a essa ltima, vale
adiantar
que o homem a
criatura
histrica
por
excelncia
Mayr).
No apenas um produto
da evoluo biolgica. Como espcie, est historicamente ligado ao
seu mundo e s circunstncias de
sua
vida (passada, presente e, por
que no dizer, s perspectivas
futuras).
Por isso, Ortega y Gasset
afirmou lapidarmente:
o
sO l
10 I m circunstancia.
Igualmente por
isso, Van den Berg introduziu
uma
nova forma
da
abordagem hist
rica do comportamento humano, designando-a como a teoria das
mudanas ou
metablrtica, que torna ainda mais vlida a introduo
do
parmetro
histria
em
tda
atividade que visa conhecer o homem.
Poderamos, assim, representar a situao do homem no mundo e
sua conduta com a frmula dinmica: C = f P X A (a conduta hu-
H
mana funo de sua pessoa, do seu ambiente e de
sua
histria).
A histria assim um sistema - o sistema das experincias huma
nas, que formam
uma
cadeia inexorvel e nica.
O prprio conceito da cultura
traz
conotao histrica e biogr
fica, pois deve-se ver a histria do homem como um todo: no
h
divrcio
entre
o homem pr-histrico, o selvagem e o homem civi
lizado.
H
um
continuum
evolutivo. Para Ortega y Gasset, o homem
no
tem
natureza, mas
tem
histria; e cultura um processo, que
dura,
exatamente
como a vida e a existncia. No processo evolutivo,
132
A.B.P.A.
3/70
7/24/2019 a disciplina como disciplina
3/10
no foi a experincia em si que transformou os primatas em homem;
o crebro humano seria produto
da
cultura (Hallowell).
Por outro lado, a cultura smente pode ser herdada atravs de
sua internalizao nas pessoas; um processo de criao e de con
tnua recriao,
j que a vida no dada, pronta, acabada; temos que
faz-la, complet-la ns mesmos. Por isso, a vida um constante
que
fazer
ou como diria Chamfort: O homem chega novio, a cada idade
de sua vida.
H portanto, em jgo, um permanente processo de sobrevivncia
h u m a n ~ Por meio dsse processo, o homem se adapta s condies de
vida, capta os conhecimentos, os desenvolve e os comunica, graas
a sua inteligncia superior. Cultura , assim, inteligncia comunic
vel, um processo bilateral, pela qual o homem desafia o tempo e o
espao, aconselha-se com os mortos, guarda a experincia dos ante
passados e acumula saber, oriundo das diversas partes da terra, qui
do universo.
2.
A ANTROPOLOGIA COMO
ONTOLOGIA
A famosa inscrio
Gnthi Seauton
situada no fronto do templo
de Delfos,
j
indicava que o verdadeiro estudo do homem o prprio
homem, que deveria, preliminarmente, conhecer a si mesmo. Scrates
afirmou que a vida, que no fsse examinada, no valia a pena ser
vivida . Igual sentido tem a frase de Montaigne: La plus grande
chose du monde
c'est
savoir
tre
soy. Essas afirmaes, que prece
deram a revoluo cartesiana, simbolizada pelas frases Cogito ergo
sum e Ego sum, ergo existo ,
j
indicavam o sentido antropolgico
da investigao do ser. Ao alcanar com seu mtodo e, em seguida,
investigar o ser pensante que o homem, Descartes criou verdadeira
ontologia, concebeu as verdades fundamentais como experincias
ontolgicas (Ferra er Mora), e embora no se adiantasse sua
descoberta do sum (ser) nem perguntasse pelo sentido do ser, pode
ser considerado como precursor da moderna antropologia, vista como
reflexo de si mesmo para compreender a si mesmo, do ponto de
vista da vida (Groethuysem) e como disciplina, cuja questo final
a sua significao ontolgica do homem.
A antropologia abrange e procura fundamentar a unidade do Ser
e compreender o homem, atravs dessa unidade. O
ser
em especial o
ser humano ao mesmo tempo o mais universal e indefinvel, porm
mais compreensvel dos conceitos. Est sempre presente em nossa
mente, porm sua investigao metdica exige meios adequados de
captao.
Como a cincia pode ser definida como um conjunto de propo
sies verdadeiras ligadas por relaes de fundamentao,
tem
ela
quanto investigao da conduta humana que utilizar mtodo apro
priado e tomar a forma ou modo de ser dste Ente que o homem,
ontolgicamente designado por Heidegger,
Dasein.
sicologia
e ntropologi
133
7/24/2019 a disciplina como disciplina
4/10
inerente ao Dasein o ser-no-mundo; sua exegese deve
ter
como
ponto de partida essa peculiaridade imanente do existir que inclui o
estar no mundo (espacialidade) e a durao (temporalidade). A po
sio do homem no cosmo (Scheler) e sua historicidade (Heidegger,
van den Berg)
so
resultantes essenciais dessas imanncias.
Portanto, a investigao do homem em geral e em suas particula
ridades contm um sentido ontolgico e a forma de
tratar
o problema
a utilizao do mtodo fenomenolgico, capaz de penetrar
na
inti
midade das manifestaes do ser humano sem que se perca a noo
de sua unidade,
de sua
complexidade e
da
globalidade
ou
totalidade,
que sua caracterstica primordial. Como disse Heidegger, tda onto
logia s possvel como fenomenologia, pois essa a nica maneira
de torn-la evidente, aparente por si mesma.
Em
ltima instncia, a cincia do
ser
humano a antropologia;
por
seu turno, a psicologia de sentido cientfico sempre descansa em
uma antropologia pois as peculiaridades do ser humano no podem
ser investigadas sem um conceito geral
ou
global do homem (von
Begsattel . A psicologia antropolgica parte do ponto de vista que
pergunta
pela existncia do homem sua posio no mundo sem des
lig-lo de
sua
condio de
ser
ou ente. Exemplificando, no campo
da
psicologia social, a considerao antropolgica permite ver que o indi
vduo membro de uma totalidade ntica supra-individual, na qual
desempenha um papel ou funo. O indivduo como unidade social, a
famlia, o casamento, os grupos sociais etc.,
so
totalidades nticas,
vistas de um prisma unitrio, mesmo que essas unidades no sejam
necessriamente simples, exatamente como ocorre na viso antropo
lgica
da
cultura e
da
humanidade,
em seu
desenvolvimento histrico.
A psicologia, como teoria
da
vida anmica, humana, exige que
levemos seus
temas
s ltimas conseqncias. O homem deve
ser
assim considerado luz da pergunta: que existncia; que se realiza
nas vivncias e quais so as possibilidades
de sua realizao?
A considerao antropolgica desemboca, portanto,
em uma
filo
sofia
da
alma ou
da
mente
e,
atravs
dela, seguindo o conceito de
Windelband, de que filosofar pensar nos fatos at o fim, a psicolo
gia evolutiva e a psicologia das diferenas individuais, por exemplo,
teriam seus dados analisados em todos seus mnimos apectos,
luz da idia global do homem, originada
da
realidade e
da
experincia.
Afasta-se, contudo, do filosofismo, pela utilizao apropriada dos m
todos das cincias
naturais
positivas, que lhe do consistncia. Cite
mos exemplo que
d
Ph. Lersch, do ponto de vista antropolgico
da
psicologia:
da
faculdade humana de recordar. No homem,
recordar
no apenas reproduzir como em
uma
tela cinematogrfica ou em
alto-falante, as imagens fotogrficas
ou
sonogrficas registradas
em
um filme ou uma fita magntica. muito mais do que isso: prever
o futuro em funo do passado, ampliar o horizonte da existncia,
dar
continuidade
linha existencial. Como diria
C. G.
Carus,
atra-
134
A B P A 3 7(}
7/24/2019 a disciplina como disciplina
5/10
vs da recordao, a existncia revela sua dupla face, epimetica (re
trospectiva) e prometica (prospectiva), inseparveis. Pela memria,
a existncia escreve
sua
histria,
um
perptuo devir (Bergson) ou,
como diria, sua maneira, Nietzsche: um perptuo pretrito im
perfeito. Verifica-se, portanto, que a anlise dos fenmenos e a exe
gese ontolgica, dirigem a considerao antropolgica em psicologia;
da serem os mtodos fenomenolgico e analtico existencial, os ade
quados para essa maneira de abordar os fatos psicolgicos.
Binswanger afirma que a anlise existencial no tem, no fundo,
nada
de
nvo; um prolongamento
natural da
fenomenologia . an
lise cientfica, emprico-fenomenolgica dos modos e
estruturas
dos
fatos do
Dasein,
o ser humano em particular, em sua subjetividade,
sua intersubjetividade e seu modo
de
ser a, e
sua
transcendncia.
Que essa tendncia
j
se fazia
sentir
h muito, temos prova no con
tedo e
na
disposio dos
temas
do Nouveau
Trait
de Psychologie,
de George Dumas (em 7 volumes).
Trata
inicialmente,
de
maneira
extensa, dos fundamentos da antropologia e sua importncia no de
senvolvimento onto e filogentico do homem, indicando, na intro
duo redigida pelo prprio Dumas, que: avant de traiter des
mthodes de psychologie,
avant
mme d'indiquer dans une intro
duction les tendances communes
et
les tendances differentes qui se
manifestent dans ce Trait, nous avons voulu faire place quelques
notions que nous tenons pour indispensables ceux qui tudient les
faits de l'esprit, sans les
separer
arbitrairement des faits qui condi
tionnent dans 1'organisme,
ou
qui les
preparent
dans l'evolution
de
l'espece. Destacam-se, logo no primeiro volume, os captulos: La Place
de l'Homme dans la Srie Animale; Les Donnes de l Antropologie e
e Probleme Biologique de la Conscience. Ainda mais importante indi
cador da riqueza da concepo antropolgica em psicologia o livro
de Philip Lersch, ufbau
der Person
(traduzido para o espanhol, sob
o ttulo Estrutura da
Personalidade
A obra de Lersch um marco na
psicologia contempornea e provoca, de modo definitivo, o reingresso
da alma em psicologia, que se orienta para uma ontologia indutiva
(Wellek),
tendo por
base o mtodo fenomenolgico (como anlise
qualitativa da experincia) e o conceito de totalidade ou globalidade
da pessoa humana, que volta a ser a chave da moderna psicologia. A
partir da totalidade, desce Philip Lersch anlise dos fatos da expe
rincia humana, em profundidade e em
sua
essncia, a saber: vida
anmica (vivncia) persona, fundo vital e fundo endotmico, alma e
mundo (e sua unidade) at alcanar as mais detalhadas manifesta
es do ser humano. So revividos, ento, problemas dialticos apa
rentemente sem importncia, na atualidade como o
da
unidade corpo
e alma, vida e vida anmica etc. Para Lersch,
tda
psicologia no ser
mais do que
mera
fachada, sem
base
verdadeira e sem
estruturao
interna, enquanto no conseguir tornar visvel, atravs de mltiplos
fatos
da
experincia, uma imagem global do homem, de seu lugar no
mundo e de seu mtuo enlace. Continua afirmando que conceito sob
Psicologia e antropologia
135
7/24/2019 a disciplina como disciplina
6/10
o qual isso pode realizar-se o de pessoa. Neste, a vida anmica vista
antropologicamente e a multiplicidade de seus contedos mutveis
compreendida dentro da unidade da existncia humana, como algo que
nle se realiza e em vista do qual se experimenta a si mesmo como
"sendo no mundo".
Cabe citar, tambm, aqui, os livros Le
Deuxime Sexe
de Sim
mone Beauvoir e La
Mujer
de Buytendijk, ambos de base antropol
gico-existencial. O primeiro liberta a mulher da condio primria
de que os problemas
da mulher foram sempre um problema do homem
e que a histria
da
mulher est condicionada pela histria do homem.
O segundo diz que a mulher homem (ente humano , cujo compor
tamento dialticamente inseparvel da conduta daquele e cuja natu
reza, aparncia e existncia, guardam determinadas peculiaridades.
Destacamos tambm os trabalhos de Buytendijk sbre a dor e de
Huizinga sbre o Homo
Ludens.
A dor, como todo fenmeno humano,
existe, sentida e vivida. Como a angstia, ela rejeitada, escoto
mizada e internalizada. A
dor um sinal significativo, comunicativo,
de algo que ocorre com o homem. Qualquer manifestao,
por
mnima
que seja, que ocorra no ser humano, nunca pode
estar
desvinculada
da
personalidade total: um gesto, um piscar
de
olhos,
um
esgar, um
muxxo, um
ai
representam
tanto
a personalidade total, como a mais
complexa das aes ou os mais refinados sentimentos.
No jgo e nas representaes, o homem se manifesta em
tda
plenitude. conhecido o aforismo: "No se
representa
bem o que no
se tem." O jgo mais velho que a
cultura
e
sua
funo social indis
cutvel. Nle, o homem se realiza e se completa. Nle a personali
dade se afirma. No , portanto, um mero desgaste de energias:
uma
distrao, uma expanso, uma realizao, uma afirmao, em suma,
vida
3. VISO ANTROPOLGICA DOS PROBLEMAS PSICOLGICOS
Os fatos fundamentais da vida psquica do homem so: O homem
o
ser
animado
por
excelncia. Tudo o que acontece conosco, interna
ou externamente, representa o cenrio onde se desenrola e culmina,
do nascimento at a morte, nossa existncia projetada no mundo.
A realidade anmica, cuja captao ingnua e emprica, no privi
lgio, pode contudo
ser
vivida e comunicada em
sua
essncia, pelo
artista e pelo poeta. Porm, pode ser captada sistematizadamente e
adequadamente apresentada, pela cincia que denominamos psi
cologia.
O campo da psicologia se estende, assim, desde o conceito de
vida
at
os transcendentes conceitos
de
ser
e de
existncia.
Que
a
vida? Que
a
mente?
A essncia ntima da vida continua
sendo o mistrio mais impenetrvel com que tem lidado o homem.
Da a impossibilidade de defini-la, sem que se caia em um trusmo
136
A.B.P.A. 3/70
7/24/2019 a disciplina como disciplina
7/10
ou em uma tautologia, que nos levam a definir a coisa por ela mesma.
As tentativas feitas, nesse sentido, resultaram em artifcios de lin
guagem, contraditrios ou estreis, embora aceitveis, filosoficamen
te. Assim, Claude Bernard afirmou A energia vital dirige os fen
menos que no produz: os agentes fsicos produzem os fenmenos
que no podem dirigir . Spinoza fz as seguintes afirmaes: Romo
liber nulla de re minus quam morte cogitat; et ejus sapientia non
mortis sed vitae medita io est . (No h nada sbre que um homem
livre pense menos do que na morte; sua sabedoria surge da medita
o sbre a vida e no sbre a morte) e Nec corpus mentem ad co
gitatum nec mens corpus ad motum ne que ad quietem nec ad aliquid
(si quid est) aliud determinare potest (Ningum pode determinar
mente que pense, nem a mente pode determinar ao corpo que se mova
ou fique quieto ou qualquer outra coisa, se que existe). Os estu
diosos da fsica e da qumica se entusiasmaram, medida que foram
verificando a correspondncia das leis fsico-qumicas com as leis que
dirigem a maioria dos fenmenos biolgicos. Chegaram les a um li
mite em que se daria a to almejada metabasis eis allo genos ,
porm em determinado momento, tiveram que parar, porque, se
bem verdade que muitas manifestaes vitais reproduzem a forma
dos fenmenos fsico-qumicos (como o movimento brawniano), con
tudo a passagem
do
inanimado para o animado e vice-versa, continua
um mistrio.
As
passagens
de Max Planck, de Schroedinger e de Rans Driesch
por sse terreno, ainda insondvel, resultaram negativas. Schroedin
ger, por exemplo, em sua monografia
Que
vida?
termina em um me
lanclico vazio de idias, perdido nas velhas questes do livre arbtrio,
d soberania do Ego sbre as leis da natureza (Deus Factus Sum,
L.: Eu
me,
tornei Deus) , finalizando
por
chegar experincia ltima,
que lhe pareceu
pOSSvel:
a
conscincia
um
singular
cujo
plural
desconhecido.
Irreverentemente, Schopenhauer perguntaria, como o
fz a respeito da
alma: Vida? que ma
essa? (Geist, Leben? Wer
ist denn der Bursche?)
Por
isso, devemos nos contentar em ressaltar alguns traos ou
manifestaes que distinguem as formas vivas ou animadas das inani
madas e que so caractersticas daquelas, pois s ocorrem nelas. No
que nos interessa mais de perto, podemos dizer que o homem o ser
vivo
por
excelncia e nle a vida uma totalidade que transborda e
inclui o anmico (Lersch). Embora em todo ser anmico haja vida,
nem tudo o que vive dotado de alma ou de capacidade de ter vivn
cias. No homem, contudo, que se pode afirmar que tda vida vida
anmica e que corpo e mente so inseparveis. Nesse sentido, Bumke
afirma: Como corpo e mente
Sg
unem, no sabemos; porm, podemos
afirmar que essa unio
s
d.
Caracterizam a vida ou ser vivo: o crescimento e o desenvolvi
mento, totalidade e estrutura; integrao e globalizao; autoconser-
Sicologia e antropologia
137
7/24/2019 a disciplina como disciplina
8/10
vao, autoregulao e capacidade de regenerao; auto-atividade, co
municao e adaptao; e temporalidade, reproduo e transmisso
de seus caracteres.
Vivncia e capacidade de vivenciar: Com a vivncia, a vida pene
tra em uma nova dimenso. O anmico a vida chegada ao estado
vigil
da
vivncia. Somente quem vive
tem
capacidade
de
vivenciar.
Vivenciar viver em clivagem e tenso; uma iluminao interior,
pela qual a pessoa se d conta do que se passa com ela e com seu
mundo. A vivncia , portanto, o fenmeno elementar
da
vida anmica,
que desborda nos sentimentos mais puros,
nas cognies,
na
captao
das essncias e nas vrias formas de comunicao, de relao inter
humana e
de
valorizao (introcepo), que do direo e forma a
tda vida genuinamente humana. Ao conjunto, d-se o nome de
vida
mental. Portanto, mente tudo referente pessoa que vivncia ou
essencialmente relacionado com vivncia. Finalmente, chamaramos
vida anmica ou
alma
ao palco espiritual e supra-individual do
ser
humano, que se sobrepe vida e vivncia, iluminando-as, numa
nova dimenso e em um reino mais profundo e inobjetivo, de elevadas
potencialidades (Palagyi). Como a vida, a alma indefinvel e objeti
vamente no-captvel; porm, a cada instante, sentimos sua presena.
Apenas se pode deduzir que
h
ntima ligao entre vida e alma, pois
embora se possa afirmar que, nos animais inferiores
h
vida, sem alma,
no podemos contudo afirmar que haja alma, onde no
h
vida.
4.
CONCEITO
DE
PESSOA
E DE
PERSONALIDADE
A partir das noes bsicas apresentadas e da descrio dos fe
nmenos, mais ou menos complexos, que ocorrem no ser humano,
chegamos estruturao de uma totalidade: a pessoa e seu represen
tante individual, a personalidade. Aqui, se verifica com tda plenitude,
o aforisma da Pars pro to o e seu antagnico Toto pro pars Pela parte
se
conhece o todo e o todo se manifesta nas partes. Na pessoa humana
se alcana essa transcendente peculiaridade de ser uma unidade dentro
da multiplicidade Unitas multiplex), uma entidade individual, indi
visvel, singular,
aberta
ao mundo onde vive e com o qual se relaciona,
forma uma unidade fenomenolgica e fora da qual no pode sobrevi
ver. A noo antropolgica-existencial bsica que a psicologia atual
d, de personalidade, a seguinte: o padro unitrio e significa
tivo
de
vida, em que o indivduo, atravs
da
coalescncia do mundo
dos valres com
sua
prpria substncia, se
apresenta
com peculiares
direo e forma de vida, genuinamente humanas. A personalidade
pois
uma
categoria estritamente humana,
que
contm significaces
bossociais, jurdicas, culturais e filosficas, que a
tornam
inimitvel,
pelo menos
at
o atual nvel
da
razo.
A personalidade uma totalidade com
uma
estrutura
bsica
for
mada do fundo vital do fundo endotmico (uma esfera profunda e n
tima das vivncias, que se manifesta nas pulses, emoes e senti-
138
A.B.P.A. 3/70
7/24/2019 a disciplina como disciplina
9/10
mentos) e do setor externo das vivncias (conscincia e orientao,
conduta ativa) e uma estrutura superior (atividades no tica e teleo
blica, inteligncia e espiritualidade), e se integra com o mundo ex
terno, formando com o mesmo uma unidade indissolvel. A indisso
.ciabilidade do homem e do mundo, resulta do fato de que o mundo na
tural exerce sua influncia sbre o homem como sbre qualquer ser
vivo, porm o homem capaz de influir, por seu turno, sbre a natu
Teza
e
mesmo, modific-Ia, criando novas condies, adaptando-se
s suas necessidades e comodidades. No apenas o mundo natural,
:mas tambm o mundo cultural, como so vivenciados, resultam da
maneira como o homem insensivelmente os modifica ou transforma.
J dissemos em outro trabalho que o homem est por
trs
das
:grades por le mesmo implantadas, representadas pelas restries
que a vida em comunidade impe. Afetado assim, em sua comunica
bilidade, em sua liberdade, em sua naturalidade, o homem
se
angustia.
Por
isso, le estrutura e elabora conscientemente sua existncia e seu
Saber acrca do universo, e ao mesmo tempo, objetiva sua prpria
existncia e toma posio no cosmo. E por isso, tambm, surge a an
gstia como sua sinistra companheira (Jaspers), e condio perma
nente do
ser no mundo.
Essas, as consideraes que julguei interessante trazer-vos nesta
-abertura de nossos cursos.
IDORT
- Instituto
de
Organizao Racional
do Trabalho
tem por finalidade: est.udar, difundir e aplicar
os
princpios e
mtodos de racionalizao, no intuito de aumentar o
bem-estar
social, cooperando para o aumento da eficincia e coordenao
do
trabalho, em todos os seus ramos, de modo a
proporcionar
s ativi-
dades
produtores
de riquezas ou de servios o mximo proveito para
c indivduo, para a organizao e para a coletividade, pela elevac
da produtividade e maior respeito dignidade da pessoa humana.
J sica1Qgla
e ntropologi
139
7/24/2019 a disciplina como disciplina
10/10
t vasto o programa editorial da UNESCO
No
Brasil sse valioso acervo de
obras versando sbre aspectos variados das atividades culturais educacionais e
cientficas do homem encontra-se sua disposio na Fundao Getlio Vargas
atravs do seu Servio de Publicaes de suas Livrarias ou de seus revendedores
autorizados em todo o Pas.
Qualquer que seja o seu campo de atividade solicite o catlogo de obras da
UNESCO a qualquer uma das nossas Livrarias ou a um dos nossos agentes de
vendas autorizados.
LIVRARIA ;
Praia de Botafogo 188
Caixa Postal 21.120
Rio
de Janeiro
GB
Avenida Graa Aranha 26
Lojas C e H
Rio de Janeiro
GB
Super Quadra 104 - Bloco A
Loja
Braslia DF
Avenida
Nove
de Julho 2029
Caixa Postal
5534
So Paulo SP
AGENTES AUTORIZADOS
Cear - Cincia e Cultura
Rua
Edgar Borges 89
Fortaleza CE
Organizao Sulina de Representaes
Av
Borges de Medeiros
1030
Prto Alegre RS
KAPPA
- Ind. e Com. Ltda.
Rua
Dr. Villa Nova 321
So Paulo SP
Fornecedora de Publicaes Tcnicas
M M
de Oliveira Marques
Av Ipiranga
200
- Loja 40
So Paulo
SP
Agncia Van Damme
Goitacazes 103 s / 131
Belo Horizonte MG
Livraria Ghignone
Quinze de Novembro
423
Curitiba
PR
Livraria Civilizao
Brasileira S.
A
Rua
Padre Vieira 9
Salvador
BA
M
Inijosa
Av
Dantas Barreto 564
13.
0
andar
- s/1308
Recife PE