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A Higiene Militar: um estudo comparado entre o Serviço de Saúde do Exército
Brasileiro e o Cuerpo de Sanidad do Exército Argentino (1888-1943)
(Rachel Motta Cardoso*)
Apresentação
A questão das relações internacionais encontra-se ligada a muitos de nossos
temas e objetos de estudo. Em nosso caso, a história das ciências e da saúde e as
missões militares de instrução constituem a abordagem do texto que se segue. Desta
forma, trabalharemos aqui com a importância das relações internacionais e suas
implicações nas contratações daquele tipo de missão entre a Alemanha, o Brasil e a
França.
A Ciência nas Relações Internacionais
Ao trabalharmos com o envio de oficiais para estudo no exterior e a contratação
de missões militares, não podemos nos distanciar da discussão que se dá quanto ao
cenário científico internacional. Isto porque entendemos que este tipo de relação não
está desligada da lógica que se segue quanto às relações do Estado e à necessidade de
modernização de seu aparato de força e de garantia de soberania, o Exército nacional.
No que diz respeito à discussão das relações entre cientistas e o desenvolvimento
científico, destacamos que o trabalho de Patrick Petitjean. O autor, em seu trabalho
Ciências, Impérios, Relações Científicas Franco-brasileiras, ressalta “o papel ocupado
pelo envio de cientistas e estudantes ao estrangeiro para daí trazer a ciência moderna ou,
inversamente, o engajamento de professores, cientistas, especialistas e engenheiros
estrangeiros como vetores dessa transferência...”.1 Este tipo de observação também se
* Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde (PPGHCS) da Casa de Oswaldo CRUZ (COC), Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). E-mail: rachel.cardoso@gmail.com 1 PETITJEAN, Patrick. “Ciências, Impérios, Relações Científicas Franco-brasileiras”. In: HAMBURGUER, Amélia Império; DANTES, Maria Amélia M.; PATY, Michael; PETITJEAN, Patrick (org.) A Ciência nas Relações Brasil-França (1850-1950). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; FAPESP, 1996, cf.p.25-26.
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dá, como no caso de nossos estudos, nas missões militares e, antes destas, nas
comissões de compra de material no exterior – tanto no caso brasileiro com Ismael da
Rocha, como no caso argentino com a Comisión de Sanidad Del Ejército Argentino
presidida pelo Cirurgião-mór Alberto Costa.
Ismael da Rocha havia sido promovido à patente de capitão primeiro-
cirurgião2 (tornando-se, assim, um oficial intermediário) a 19 de março de 1890 e em
dezembro daquele ano fora nomeado para integrar uma comissão para viajar para a
Europa “a fim de estudar o meio curativo da tuberculose pelo Dr. Robert Koch”,3
retornando ao Brasil em 1892. Durante sua viagem, frequentou o Instituto Pasteur no
final de 1891, encontrando com Louis Pasteur e estabelecendo contato com Emile
Roux, diretor do Instituto na época. Sua viagem não estava apenas relacionada com
estes estudos, recebera ordens do general médico João Severiano da Fonseca para
“estudar tudo o que dissesse a respeito ao serviço médico-militar na paz e na guerra,
compreendendo hospitais, barracas, ambulâncias e instrumentos cirúrgicos”.4 Outras
informações também foram coletadas pelo médico militar Ismael da Rocha sobre a
construção de hospitais militares. Estes estudos influenciaram o projeto que deu origem
ao prédio do Hospital Central do Exército.
No caso argentino, o cirurgião-mór Alberto Costa foi nomeado para presidir
a Comisión de Sanidad Del Ejército Argentino, de acordo com o Decreto de 17 de abril
de 1895.5 Instalado em Paris, Alberto Costa solicitou autorização para visitar e estudar o
material sanitário do exército francês, além de ter visitado “fábricas e outros
estabelecimentos industriais com o objetivo de começar a aquisição dos materiais
2 Ismael da Rocha, Fé de Ofício IV-16-114, Arquivo Histórico do Exército (AHEx). 3 SILVA, Alberto Martins da. Dr. Ismael da Rocha (1859-1924). Sua vida de Cientista e de Militar. Brasília: Thesaurus, 2004, p. 22. 4 Idem, p. 23-24; Breviário da Evolução do Serviço de Saúde do Exército – Principais atos e fatos marcantes do seu desenvolvimento. Ministério do Exército. DEP-DFA. Academia Militar das Agulhas Negras. 5 Antes desta comissão, em 1888, o oficial médico foi enviado para efetuar compra de instrumentos cirúrgicos e utensílios especiais em Londres. Naquele momento, o oficial também conheceria outros exércitos europeus. Regressaria em 1892 para adquirir materiais sanitários para os hospitais de campanha do território argentino. Archivo General Del Ejército Argentino (AGEA), Comisión de Sanidad Del Ejército Argentino (CSEA), “Comisión de Sanidad Del Ejército Argentino”, cf.p.16.
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necessários”.6 Para a aquisição destes materiais, Costa iniciou o estudo de diversos
modelos a partir da comparação de organizações sanitárias de guerra distintas. Assim, as
legações argentinas de Roma e Berlim intermediaram as solicitações de estudos de
Costa, visando o melhor desempenho de sua missão.7
A comissão dirigida por Alberto Costa foi composta por outros oficiais
médicos do exército argentino: Cirurgião-mor Eleodoro Damianovich; os cirurgiões do
Exército doutor José M. Cabezón e, o de Brigada, doutor Enrique Pietranera; o cirurgião
de divisão doutor Francisco de Veyga. Damianovich de Pietranera passariam a residir
em Paris e Francisco de Veyga em Berlim. Pietranera fora encarregado pela inspeção e
recebimento de artigos que se fabricavam na França. Enquanto isso, em Berlim, Veyga
fazia o mesmo, mas com relação aos produtos alemães. Ali, Francisco Veyga “deveria
apresentar-se ao Quartel general do Corpo de Exército da Guarda para poder visitar os
hospitais militares dessa capital [Berlim], de Tempelholf e também de Hamburgo e
Estrasburgo”. 8
Durante o período da referida comissão, entre 1895- e 1896, vários acordos
e contratos de compra foram feitos entre o cuerpo de sanidad do exército argentino e
casas francesas de material médico e sanitário. Em julho de 1895 houve o contrato com
a casa Froger et Gasselin, de Saint Rémy, para a compra de 30.000 kits individuais para
tratamento de ferimentos. Em 1896, houve compra de instrumentos de cirurgia da casa
R. Mathieu e contratos firmados com H. Massmann e os senhores Schoenfeld.9 Naquele
mesmo ano também se dava a compra de estufas de Geneste Herscher & Cia.10 Houve
também a compra de equipamento oriundo da Inglaterra, realizada pelo doutor Veyga.
Tratava-se de material sanitário como tendas Tortoise, tendas completas com função de
latrinas e carros destinados às tendas.
6 AGEA, CSEA, “Comisión de Sanidad Del Ejército Argentino”, cf.p.16. 7 Idem. 8 AGEA, CSEA, “Comisión de Sanidad Del Ejército Argentino”, cf.p.17. 9 As fontes não são claras quanto ao conteúdo dos referidos contratos. Apenas há a indicação do contrato relativo a artigos que partimos do pressuposto que sejam de material médico e/ou sanitário em função da natureza da Comissão. 10 Este tipo de estufa também foi amplamente utilizado pelo Exército brasileiro, conforme indicado nos trabalhos de Arthur Lobo, Gilberto de Medeiros Mitchell, Ezequiel Antunes, Murillo de Campos e os Almanaques do Ministério da Guerra.
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O que destacamos de importante nestas duas comissões é o contato
estabelecido entre os exércitos de Argentina e Brasil e os exércitos dos países em que as
compras de material foram realizadas. Quando Petitjean se refere ao envio de estudantes
e cientistas ao exterior para trazer a ciência moderna aos seus países, não devemos
esquecer que a mesma lógica se aplica às missões militares. Tratava-se de adequar os
exércitos nacionais a um referencial de “exército modelo” que deveria ser seguido e a
um processo de modernização destes mesmos Estados. A modernização de seus
Exércitos estava vinculado a isto. Como lembra Petitjean continua: “... o papel do
Estado, já que a referência ideológica à ciência moderna como o desenvolvimento
efetivo das atividades científicas parece ter um papel importante, na modernização geral
do Estado, na legitimação das elites, na busca de uma identidade de tal ou qual setor
aspirante ao poder, ou, mais amplamente, na constituição dos movimentos nacionalistas
em luta por uma independência”.11
Estas comissões nos remetem à discussão proposta por Petitjean no que diz
respeito ao envio de cientistas e a transferência da ciência – no nosso caso, a medicina
militar e o desenvolvimento científico relativo a ela.
No que diz respeito ao contexto científico, ao longo do século XIX, se
passava do internacionalismo para o nacionalismo científico. Segundo Petitjean, “Em
geral, a ideia dominante é de que é preciso opor ao internacionalismo científico do XIX
o nacionalismo científico do século XX, sobretudo depois da Primeira Guerra”. 12 Além
disso, a ciência ainda era vista como modelo e base para a organização do mundo, já
que era entendida como uma “língua universal”, favorecendo a boa relação entre os
países.
No entanto, verificamos mudanças no cenário científico e no papel da
ciência (ou o seu lugar) na sociedade que, de acordo com Patrick Petitjean, se
manifestam em três níveis:
11 PETITJEAN, op.cit., p.26. 12 Ibid., p.30.
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1. Mudança da natureza da ciência
� Deixa de ser uma atividade de essência filosófica e de prática
individual para tornar-se, em fins do XIX, uma ciência utilitária,
voltada para as necessidades de sua contribuição para o
desenvolvimento econômico, para a melhoria das condições humanas
para a expansão territorial, melhoria de relações de força contra
rivais. Enfim, a ciência sofre então as consequências da Revolução
Industrial.
2. Surgimento de Estado-nação nutrido pelo surgimento do nacionalismo
� Crescimento de um nacionalismo cultural, de um nacionalismo
científico → vem acompanhado da tomada de consciência do papel
desempenhado pela ciência na disputa de forças entre as potências
rivais.
3. Fim da partilha do mundo como último elemento
� Atividades científicas para a criação de áreas de influência e marcar
territórios.
� Cultura e ciência como fatores que criam redes de amigos das quais
se espera um “papel de grupo de pressão” no caso de conflitos no
futuro.
� América Latina como “terreno de predileção”.
Ao final do XIX, são criados os organismos deste tipo de difusão, já que a
ciência percebida pelas potencias europeias como um investimento importante para o
desenvolvimento dos seus impérios, para a influência política e econômica e para as
relações de força entre elas.13 No caso francês, a Alliance Française e o Office National
des Universités et dês Écoles Françaises – tendo este último se originado um pouco
antes da 1ª G.M. e com sigla Onuef. A argumentação para a criação da Onuef gira em
13 PETITJEAN, Patrick. “Ciências, Impérios, Relações Científicas Franco-brasileiras”. In: HAMBURGUER, Amélia Império; DANTES, Maria Amélia M.; PATY, Michael; PETITJEAN, Patrick (org.) A Ciência nas Relaçõs Brasil-França (1850-1950). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; FAPESP, 1996, cf.p.36-37.
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torno do sucesso da Alemanha. O autor comenta ainda sobre a existência dos
organismos científicos internacionais, além das instituições nacionais, e o seu papel de
organização da cooperação internacional a partir de seus grandes projetos. Tais práticas
também são entendidas por Petitjean como “espaços de regularização das rivalidades”.14
No que diz respeito à Alliance Française, temos o trabalho de Mônica
Lessa.15 Sua perspectiva de trabalho é uma abordagem da influência cultural francesa a
partir da língua, ou melhor, a partir do ensino da língua estrangeira – no caso o francês –
pela Aliança Francesa. Para Mônica Lessa, “Tal conceito permite a constituição do que
chamamos ‘o inventário das contribuições’ – no caso – culturais, assim como o da
‘identificação’ cultural com o outro”.16
Ao tratar especificamente do caso da relação entre Brasil e França, afirma
que o intercâmbio cultural perdeu para a influência cultural em um primeiro momento.
No entanto, a fase de “transferência cultural” foi grande. Lessa parte do pressuposto de
que “qualquer ‘influência’ é reflexo de um jogo de interesses, de um conjunto de ações
orientadas por objetivos e razões de pesquisa e de reflexão”.17
Dentre os organismos citados anteriormente, outro é o objeto de estudos de
Petitjean no artigo Entre ciência e diplomacia: a organização da influência científica
francesa na América Latina, 1900-1940.18 Trata-se do Groupement des Universités et
Grandes Écoles de France pour les Relations avec l’Amerique Latine (ou simplesmente
Groupement, como o autor trabalhará ao longo do artigo), fundado por cientistas
franceses – e não por iniciativa do Estado – em 1907.
Petitjean destaca, então, o apelo lançado por este grupo aos cientistas
franceses para que participassem do Groupement. Nele, temos a indicação de que, para
seu criadores, “a irradiação de nossa civilização é um dos elementos mais preciosos da
14PETITJEAN, op.cit., p.30-31. 15 LESSA, Mônica Leite. “A Aliança Francesa no Brasil: política de influência cultural”, Varia História, n.13, UFMG, 1994, p.80. 16 Ibid., p.79. 17 Ibid., p.80. 18 PETITJEAN, Patrick. “Entre ciência e diplomacia: a organização da influência científica francesa na América Latina, 1900-1940”. In: HAMBURGUER, Amélia Império; DANTES, Maria Amélia M.; PATY, Michael; PETITJEAN, Patrick (org.) A Ciência nas Relações Brasil-França (1850-1950). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; FAPESP, 1996.
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influência francesa no mundo. Importa propagar nossa cultura e defendê-la contra seus
rivais”.19
A crítica de Petitjean ao Groupement é a redução da ciência a uma atividade
cultural, que prevaleceu como prática do grupo em suas relações. É claro que há a outra
perspectiva, a de ter colaborado com os institutos Pasteur e com o Muséum,
correspondendo a uma “real atividade científica. No entanto, foi mesmo o caráter
cultural que dominou.”.20
Estes organismos para “relações intelectuais” ou “irradiação intelectual”,
foram criados na virada do XX por países europeus e EUA e tinham duas funções:
1. Organizar os intercâmbios científicos, tirando proveito dos últimos
progressos da ciência, no caso de relações com outras metrópoles;
2. Tecer redes de aliados políticos a partir de uma influência cultural e
política – como no caso do Brasil.21
Logo após a 1ª G.M., os alemães serão excluídos dessas cooperações
internacionais, em seguida boicotados e a França, em seguida, terá um importante papel
na retomada da “visão universalista mais tradicional”. A partir da Sociedade das
Nações, a França utiliza seu prestígio intelectual e cultural desempenhando um “papel
motor” para que a Comissão Internacional de Cooperação Intelectual e o Instituto
Internacional de Cooperação Intelectual, o primeiro em Genebra e o segundo em Paris,
coloquem um fim ao boicote à Alemanha.22
Quanto à influência cultural francesa no Brasil e demais países da América
Latina, Petitjean destacas três aspectos da mesma no que diz respeito à atividade
científica:
1. Língua francesa como língua científica: segundo Petitjean, o ensino
científico se dava em francês e 80% dos livros utilizados eram em
francês até o início da 1ª G.M.
19Ibidem, cf.p.91. 20 Ibidem, cf.p.117. 21 Ibidem, cf.p.91. 22PETITJEAN, op.cit., p.32.
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2. Referência à latinidade, entendida como uma questão de identidade.
3. Influência de Comte e do positivismo no último terço do XIX. 23
No que diz respeito às relações científicas entre Brasil e França, Petitjean
divide as relações científicas entre Brasil e França em cinco períodos:
1. O tempo dos naturalistas (fim do XVII e primeira metade do XIX);
2. Segunda metade do reinado de dom Pedro II e início da República
(1858, chegada de Liais ao Brasil; e 1907, criação do Groupement na
França);
3. Anos do Groupement e da Academia Brasileira de Ciências (1907-
1934);
4. Missões universitárias a partir da fundação da USP (1934) até a
criação do CNPq;
5. Período contemporâneo (a partir de 1953).24
Esta periodização foi feita com o intuito de relacionar três evoluções: “a
história e a organização das ciências no Brasil, na França e a história das trocas
entre os dois países”25. De acordo com Petitjean, notamos que há um traço comum
nestes períodos: a influência cultural francesa que cresce na primeira metade do
XIX e declina após a 1ªG.M.
Nos interessa, assim, particularmente, o segundo período. Não somente pelo
nosso recorte cronológico de trabalho26 como também pelos pontos apresentados pelo
autor. Segundo Petitjean, é neste período que temos a construção do Estado brasileiro.
Assim, o desenvolvimento científico é acompanhado de forte demanda brasileira em
23 Ibidem, cf.p.93. 24 Ibidem, p.34. 25 Idem. 26 Nosso recorte está localizado no período de 1888 até 1943. O primeiro em função da viagem de Alberto Costa para a compra de materiais cirúrgicos em Londres e para visitar organizações sanitárias dos exércitos europeus. O ano de 1943 é a formação do Batalhão de Saúde que servirá na Força Expedicionária Brasileira, a F.E.B., e que terá como modelo doutrinário a organização do exército norte-americano.
9
relação à ciência, que é impulsionada pelo Estado “como parte de um programa de
modernização da sociedade”. Se este cenário era característico da fase imperial, na
República segue política semelhante. Por esta razão, houve o envio de
missões para Europa para estudar laboratórios e universidades; tomar contato com os meios científicos, escolher o que lhes parecia o mais adaptado à situação brasileira e eventualmente trazer sábios europeus para o Brasil.27
Portanto, o século XIX, conforme a perspectiva de Petitjean, deve ser
entendido como um período de amadurecimento ideológico e com laços intelectuais
significativos com a Europa. Teríamos, portanto, a existência de uma política de
expansão científica que nos leva ao período seguinte, no século XX.
O cenário científico nacional também foi estudado por Maria Amélia M.
Dantes e Amélia Império Hambúrguer. O texto “A ciência, os intercâmbios e a História
da Ciência: Reflexões sobre a atividade científica no Brasil” trata de forma introdutória
o cenário científico nacional entre 1850-1950, além de trazer uma reflexão sobre o
processo de institucionalização da ciência moderna no Brasil relativo ao intercâmbio
técnico-científico entre Brasil e França.28
Para o desenvolvimento deste trabalho, as autoras partem da análise da
atividade científica no país realizada por Nancy Stepan em seu Gênese e Evoulão da
Ciência Brasileira: Oswaldo Cruz e a Política de Investigação Científica e Médica. De
acordo com as autoras, Stepan entende a avaliação de atividade científica de um país em
função da escolha de referências próprios e com significação local, “ainda que essa
atividade e seus produtos estejam inseridos no ‘mundo científico internacional’.”29.
Considerando-se a história de cada país, os “intercâmbios passam a ser vistos como
27 PETIJEAN, op.cit., p.36. 28 DANTES, Maria Amélia M. e HAMBURGUER, Amélia Império. “A ciência, os intercâmbios e a História da Ciência: Reflexões sobre a atividade científica no Brasil”. In: HAMBURGUER, Amélia Império; DANTES, Maria Amélia M.; PATY, Michael; PETITJEAN, Patrick (org.) A Ciência nas Relações Brasil-França (1850-1950). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; FAPESP, 1996, cf.p.15. 29 Ibidem, p.17.
10
concretizações dessas ações, desde que ocorram em correlação, isto é, dentro de
conjunturas favoráveis dos dois lados”. 30
Com a chegada da corte portuguesa em 1808, tivemos a implantação de
instituições científicas – como as escolas profissionais e jardins botânicos – e a presença
de intercâmbios científicos. Apesar de sua forte ligação com a Inglaterra, Portugal
trouxe também suas profundas relações com as instituições científicas e políticas
francesas. A Academia Real Militar, no Rio de Janeiro, foi criada conforme o modelo
da École Polytechnique de Paris. Esta instituição militar inaugurou o ensino de
engenharia no Brasil. Como as autoras destacam, é importante ilustrar o uso de tratados
científicos no original em francês, ou com tradução portuguesa, dos professores da
referida escola francesa.31
Finalmente, um ponto destacado pelas autoras e que converge com nosso
tema de estudos diz respeito ao cenário da Guerra do Paraguai e suas implicações para o
Estado nacional. Segundo Dante e Hambúrguer,
O término da guerra do Brasil, Argentina e Uruguai contra o
Paraguai, em 1870, contribuiu para acelerar mudanças políticas e sociais. Nesses anos se instalou no país um processo de modernização que valorizava as ciências como instrumento constitutivo.32
As implicações da Guerra do Paraguai e a compreensão de que era
necessário acelerar as mudanças no país serão analisadas, em seguida, a partir do estudo
do envio de oficiais brasileiros à Europa e da missão militar francesa no Brasil.
30 Idem. 31 Ibid., cf.p.18-19. 32 Ibid., p.20.
11
Missões Militares e as Relações Internacionais
A segunda metade do XIX e início do XX representam a disputa de
potências industriais europeias pelo monopólio da influência sobre os exércitos latino-
americanos. Neste cenário, destacamos o papel especial de França e Alemanha.
Segundo Cristina Luna, “Tal disputa abarcava desde a venda de material bélico até o
envio de missões militares estrangeiras de instrução junto aos exércitos latino-
americanos”.33 Assim, antes de nos determos no caso brasileiro, é importante
analisarmos o cenário vivido por seus vizinhos: Argentina e Chile.
O caso do Chile e a chegada do capitão alemão Emilio Körner Henze,
ilustram o cenário de propagação das influências militares da Alemanha nos países da
América do Sul. Este oficial, o capitão Henze, foi responsável pela criação de uma
Academia de Guerra e de um Colégio Militar, além de um Estado-Maior eficiente e da
organização de zonas militares – que posteriormente foram transformadas em divisões,
permitindo um apoio logístico de forma adequada.
Todas essas ações foram completadas pela aquisição de um moderno equipamento militar, pelo envio de oficiais chilenos à Alemanha e pela contratação de uma equipe de assessores militares alemães capazes de auxiliarem Körner no processo de transformação do exército daquele país.34
No caso argentino, a reformulação do Exército também se deu sob
influência alemã. Como afirma Luna, na década de 1890 várias comissões de compras
de armamentos foram enviadas à Alemanha e que eram chefiadas pelo tenente-coronel
Pablo Ricchieri. Em 1899, na presidência de Julio Roca, a Argentina recebe a sua
33 LUNA, Cristina Monteiro de Andrada. “Pela Vinda da Missão Alemã ao Brasil”. In: III Jornada de Estudos Históricos do PPHIS/UFRJ, 2007, Rio de Janeiro, RJ. Anais (on-line), Rio de Janeiro, PPGHIS-UFRJ, 2007, cf.p.1. (Disponível em: http://revistadiscenteppghis.files.wordpress.com/2009/05/cristina-luna-pela-vinda-da-missao-militar-alema-ao-brasil.pdf) 34Ibid., p.1.
12
missão militar alemã com uma equipe de militares sob o comando do coronel alemão
Alfred Arent.35
A preocupação do Brasil em relação à necessidade de uma ação
modernizadora no Exército está ligada à questão da soberania nacional e, também, à
constatação de sua precariedade em conflitos internacionais. Quanto à soberania, como
ressalta Luna, a Argentina já havia contestado, na década de 1890, “a posse do Brasil
sobre o território das Missões, tendo Rio Branco participado do litígio, arbitrado por
Grover Cleveland, presidente dos Estados Unidos, que deu ganho de causa ao Brasil,
em 1895”.36 No que diz respeito ao atraso e à precariedade de nosso Exército, a guerra
de Canudos (1896-1897) e o embate com a Bolívia sobre a região do Acre (1900-1903)
tornaram evidente a fragilidade de nosso poderio militar diante de ameaças externas e
internas.
Que modelo deveria ser seguido? Argentina e Chile já haviam optado pelo
caminho prussiano. Neste caso, creditamos a contratação da missão alemã por estes
países em função dos resultados da guerra franco-prussiana, que se deu entre 1870 e
1871. O conflito resultou em derrota para os franceses, fazendo com que o exército
prussiano fosse visto por diversos oficiais como uma instituição que serviria de modelo
ideal.
Quanto à derrota francesa, Petitjean considera que uma das causas seria o
“atraso científico e técnico diante da Alemanha”. Tal panorama representou, então,
consequências no campo da influência política e, também, no potencial industrial.
Lembraríamos, no nosso caso, do caráter militar, já que Brasil, Argentina e Chile
contratam as forças militares prussianas para o desenvolvimento e modernização de
seus exércitos. Argentina e Chile ainda no último decênio do XIX (1899 e 1891
respectivamente) e Brasil através do envio das turmas de oficiais para estudos e estágios
junto ao exército alemão no primeiro decênio do XX. 37
35 Ver também: QUIROGA, Hugo. Estado, Crisis Económica y Poder Militar (1880-1981). Buenos Aires: Centro Editor de América Latina, 1985 (Série Biblioteca Política Argentina), cf. p. 12. 36 LUNA, op.cit., p.3. 37PETITJEAN, op.cit., cf.p.91.
13
A Guerra Franco-Prussiana, segundo a análise de Mônica Lessa, finalizou a
unificação do Império Alemão e sua hegemonia no continente europeu e fez com que a
França perdesse não só territórios – Alsácia e Lorena – mas, também, a sua hegemonia
na Europa. O resultado disso seria o isolamento político francês dura até 1890, ano que
Bismarck deixa o poder.
Este isolamento francês era seu principal objetivo para impedir qualquer possibilidade de aliança sólida que permitisse à França uma revanche e uma mudança deste novo status quo. A Alemanha se tornara uma potência econômica, responsável por 16% da produção industrial do mundo, com a maior população do continente (41 milhões de habitantes em 1871) e o melhor e mais moderno exército.38
Diante deste quadro, temos o envio de turmas de oficiais em 1906, 1908 e 1910.
A segunda turma de oficiais é enviada em 1908, ano em que ocorre a primeira
visita do ministro da Guerra do Brasil à Alemanha entre agosto e setembro.
“A convite de Guilherme II, a comitiva brasileira, composta pelo ministro Hermes da Fonseca, pelo general Mendes de Moraes, pelo major Tasso Fragoso, pelo capitão Deschamps Cavalcanti e pelo correspondente do Jornal do Comércio, assistiu às manobras de guerra do exército germânico, realizadas em diferentes locais da Alemanha.”39
Além destas atividades, os oficiais também foram convidados a
participar de banquetes e óperas. É durante estes eventos que a delegação
brasileira trava seus “contatos com o Kaiser, com o Chefe de Estado- Maior
alemão, Helmuth Von Moltke, e com vários outros militares”.40
É digno de consideração que consideramos este primeiro convite do Imperador Guilherme II como uma tentativa inicial de angariar a simpatia de parte da oficialidade brasileira, bem como de altas autoridades do Brasil, dentre elas a do ministro das Relações Exteriores (1902-1912), Barão do Rio Branco, e a do ministro da Guerra (1906-1909), marechal Hermes Rodrigues
38 LESSA, op.cit., p.81. 39[LESSA] Idem., cf.p.81. 40 Ibid., cf.p.3.
14
da Fonseca, a favor do exército germânico. Conforme destaca o historiador Manuel Domingos Neto, a prática de convidar oficiais para fazer estágios de maior ou menor duração no corpo de tropa ou cursos de especialização inseria-se no conjunto de iniciativas sistemáticas e de longo curso dos países desenvolvidos que visavam à conquista de posições privilegiadas na venda de armas e equipamentos, no estabelecimento de eventuais alianças militares estratégicas e na disputa por mercados.41
O caso brasileiro apenas se define em 1919, com a contratação de uma
missão militar francesa comandada pelo general Maurice Gamelin e representando a
derrota do grupo que ficou conhecido como “Jovens Turcos”. Desta forma, o envio de
oficiais brasileiros também deve ser visto como resultado da preocupação de parte dos
militares e de nossa diplomacia, no que diz respeito ao atraso de nosso exército e na
soberania do país. Isso, como exposto acima, em função das missões militares alemãs
que já ocorriam em nossos vizinhos: Argentina e Chile.
Petitjean também se refere à missão militar francesa em seu trabalho:
Em 1919, uma missão militar instala-se por 20 anos no Rio de Janeiro. Ela comporta, aliás um aspecto científico: formar químicos militares, com cursos de química aplicada. Os membros da missão participarão da Academia Brasileira de Ciências durante vários anos, como Pépin de Halleur ou John Nicoletis (que redigirá o curso de matemática dado por Hadamard em 1922, para fins de publicação pela academia).
42
O autor fala de um objetivo, no aspecto científico, da missão militar
francesa no Brasil: a formação de químicos militares a partir de cursos de química
aplicada. No entanto, não cita a(s) fonte(s) em que se baseou para tal informação e nem
de que forma se dava esta formação. Em nossa pesquisa, não localizamos qualquer
referência a esta preocupação com a formação de químicos militares. Deste modo,
várias perguntas devem ser colocadas: eram cursos ministrados no Brasil ou na França?
Se fosse no Brasil, como e onde seriam? Qual seria a sua duração? Era voltado para
oficiais ou para escolas de formação de oficiais ou ambos? O alvo era médicos militares
41 NETO apud LUNA, op.cit., p.2-3. 42 PETITJEAN, Ibidem, p.96.
15
ou farmacêuticos militares? Estas perguntas poderão ser respondidas apenas a partir de
pesquisas futuras.
Como Luna ressaltou, o caso da modernização do exército brasileiro só teria
sido resolvido com a missão militar francesa em 1919. Há diversos estudos que tocam
no tema, mas merecem destaque os trabalhos de Jayme de Araújo Bastos Filho, com seu
A Missão Francesa no Brasil e a publicação do General Alfredo Souto Malan, Missão
Militar Francesa de Instrução Junto ao Exército Brasileiro.43 Estas duas publicações
são fontes riquíssimas para o estudo da missão francesa no exército brasileiro. Dentre os
artigos mais recentes tratando deste tema, destacamos o trabalho de Jorge Mialhe44, que
realizou pesquisas nos arquivos franceses e fez uma análise jurídica do contrato
estabelecido entre França e Brasil.45
Segundo este autor,
As fontes documentais resgatadas no Quai d’Orsay, referentes ao período de
1917 a 1919, mostram claramente que a ideia do envio da MMF [Missão
Militar Francesa] partiu dos adidos militares da França e do Brasil, apoiados
por militares e políticos brasileiros simpatizantes da França, por exemplo, o
general Aché, chefe de uma malograda missão militar brasileira na França em
1918, e o futuro ministro da Guerra, Pandiá Calógeras, primeiro civil
colocado á frente do Ministério da Guerra pelo presidente da República e ex-
integrante da comitiva brasileira que participou das negociações do Tratado
de Versailles juntamente com Epitácio pessoa, presidente da República entre
1919 e 1922.46
43 BASTOS FILHO, Jayme de Araújo. A Missão militar francesa no Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1994. MALAN, A. S. Missão militar francesa de instrução junto ao Exército brasileiro. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1988. 44 MIALHE, Jorge L. “O Contrato da Missão Militar Francesa de 1919: direito e história das relações internacionais”, Cadernos de Direito, Piracicaba, v.10 (18): 89-119, jan-jun. 2010. 45 Como não tratamos de temas do direito, nos reservamos destacar apenas as informações voltadas para as fontes documentais trabalhadas pelo autor. 46MIALHE, op.cit., p.93. Acreditamos que a referência à “malograda missão militar brasileira em 1918” se trata da Missão Médica para a instalação do hospital de sangue francês e o auxílio ao controle da gripe no final da 1ª G.M.
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A negociação do contrato se deu a partir do representante da legação
brasileira em Paris, com o apoio de seu adido militar. A contratação da missão foi
estabelecida através do Decreto Legislativo nº 3.674, de 7 de janeiro de 1919. A partir
do referido contrato, se dava a contratação de uma missão de oficiais estrangeiros para
instrução do Exército e seu chefe devendo “servir junto ao Estado-Maior como
assistente técnico”.47
Mialhe enfatiza a observação feita por Malan, na qual há evidências do
interesse da França no monopólio da venda do material bélico ao Brasil. De acordo com
o primeiro, na documentação em que realizou sua pesquisa, identificou “outros aspectos
da vigilância exercida pelos militares franceses sobre as ações do Estado-Maior
brasileiro, no sentido de obter equipamentos e serviços fornecidos por países
terceiros”.48
De acordo com Mialhe, os membros da Missão Militar Francesa (MMF)
afastaram qualquer possibilidade de concorrência com os países que foram derrotados
na 1ª Guerra Mundial. Os relatórios de Gamelin relativos à MMF e enviados ao
Ministério da Guerra francês invocam “certas cláusulas do Tratado de Saint-Germain,
vetando a venda de armas pela Áustria”.49
O autor destaca o comportamento do governo francês em relação à missão
no Brasil e seu caráter de “empreendimento comercial”. Segundo Mialhe, O governo
francês estava preocupado com a “missão como um instrumento de penetração da
produção de guerra francesa, atento à concorrência estrangeira pelo mercado brasileiro
de armas”.50 Um dos motivos de tal preocupação era a relação e o fluxo de compra de
armamentos da Alemanha pelo Brasil. Gamelin teria como função pressionar “sem
deixar transparecer um interesse econômico direto por parte da França” (p.100). O autor
cita ainda o trabalho de Rouquié, que atenta para o fato de os alemães não hesitarem em
desacreditar o material francês, enquanto que os franceses, por outro lado,
47 Ibid., p.99. 48 Id.. 49 Id. 50 MIALHE, op.cit., p.99-100.
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“denunciavam o racismo dos oficiais alemães que não se sentiam à vontade em um país
mestiço”. 51
Ao tratar da “vitória” francesa e o envio de uma missão militar ao Brasil,
Mialhe cita o trabalho de Malan. Este chama atenção para as memórias de oficiais
germanófilos, no caso Leitão de Carvalho e Bertoldo Klinger, que consideram que a
vitória francesa foi fundamental para que um contrato entre Brasil e Alemanha não
fosse assinado para o envio de uma missão militar.52
Finalmente, não poderíamos deixar de nos referir à educação. Ela é
entendida por Mialhe como “principal elemento de transformação social” e foi
“rigorosamente conduzida pelos professores e instrutores da MMF”, obtendo “êxito
imediato”. Tal conclusão, segundo Mialhe, pode ser constatada no trabalho de outros
pesquisadores e, também, no Relatório do General Gamilin de 1925 enviado ao
Ministério da Guerra Francês. Nele, “o general Gamelin confirma que, no período entre
1921 e 1922, o ensino ministrado pelos oficiais da MMF pôde se desenvolver
livremente nos diferentes ramos da atividade militar, conforme os propósitos originais
da Missão”. Além disso, vale lembrar que foram feitas encomendas importantes de
equipamento aos militares franceses.53
51 ROUQUIÉ apud MIALHE, p.100. Para mais detalhes, ver: ROUQUIÉ, Alain. O Estado Militar na América Latina. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1984, p.96. 52 MIALHE, op.cit., cf.p.105. 53 Ibidem, cf. p.107.
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Conclusão
Ao colocar as questões que surgem a partir da reflexão de seu trabalho,
Mônica Lessa apresenta diversos pontos. Um deles se dá justamente neste momento de
nosso texto: “Quais os pontos convergentes nas ambições dos países envolvidos?”.
Acreditamos que esta frase se aplica aos nossos estudos, uma vez que a necessidade de
modernização de nosso Exército – e também do Estado brasileiro – bem como da
difusão de um modelo “vencedor” de organização militar resultante do conflito da 1ª
G.M. e, em nosso caso, representado pela França e sua Missão Militar contratada em
1919.54
Nos diversos textos que tratam sobre o contexto científico, Petitjean,
Hambúrguer, Dantes e Lessa refletiram acerca do comportamento das principais nações
do cenário científico europeu e suas estratégias acerca da ciência e as relações
internacionais. Compreendemos que os pontos trabalhados por estes autores também se
aplicariam à lógica das relações entre os oficiais das principais nações europeias e dos
países latino-americanos.
O intercâmbio de cientistas e de oficiais militares implicam em
transferências / influências culturais que trarão implicações diretas nas opções a serem
tomadas quanto à contratação de uma missão de um ou outro país. É claro que não
podemos nos desligar do contexto histórico em questão. A derrota alemã na 1ª G.M. é
um claro exemplo disto no caso brasileiro. No entanto, enquanto no Brasil temos a
opção pela contratação de uma Missão Militar Francesa, o mesmo não ocorre em países
como Argentina e Chile. Entendemos que tal quadro se configura desta forma em
função do quase inexistente contato dos oficiais militares daqueles países com nações
europeias. Diferentemente do que ocorreu no Brasil, o contato com o Exército alemão
se deu em solo nacional, não havendo o envio de oficiais para o país estrangeiro. Isto
caracterizaria uma forte rede de contatos e a consolidação de um modelo de exército
nestes países: o modelo alemão.
54 LESSA, op.cit., cf.p.93-94.
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Portanto, o estudo das relações internacionais não se desvincula daquele
para a compreensão da contratação de missões militares. As estratégias de disputa por
mercados consumidores de armamento bélico não deve ser visto como algo alheio à
influência cultural de um país ou outro. Desta forma, as estratégias adotadas pelas
nações europeias no que diz respeito ao cenário científico internacional também será
importante para a compreensão dos caminhos seguidos para a contratação de missões
militares.
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