A Mesa dos Hermanos

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26 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Gastronomia EEddiittoorraa:: Ana Paula Macedoanapaula.df@diariosassociados.com.br

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Fotos: Zuleika de Souza/CB/D.A Press

A culinária argentinareflete o contraste de suas regiões, gerando pratos com sabores considerados únicos

O que imaginar da gastro-nomia de um país tãogrande, que se estendeda Antártida até o cen-

tro da América do Sul e que cole-ciona vales descampados, cordi-lheiras dentre as mais altas domundo, e a segunda maior costado continente? Assim é a Argenti-na, um país de grande diversida-de física que reflete na culinária.Os contrastes entre as diferentesregiões geraram pratos únicos,como os famosos vinhos da Pata-gônia, o doce de leite dos Pampase as empanadas de Santa Fé.

Além dos aspectos físicos, acolonização feita por diversospovos também influenciou naculinária. Os nativos pré-colom-bianos deixaram a erva mate,infusão semelhante à consumi-da no sul do Brasil. Os espa-nhóis, que descobriram o paísem 1502, contribuíram com oconsumo da carne bovina, umadas bases da alimentação argen-tina. Já os italianos, que chega-ram no fim do século 19, trouxe-ram a farinha de trigo, ampla-mente usada em empanadas,panquecas e medialunas.

Grande parte dos temperosconsumidos no Brasil é de ori-gem africana. Como na Argenti-na, durante a colonização nãohouve a importação de mão deobra desse continente, o usos deespeciarias, como açafrão e pi-menta-do-reino, é bastante raro.Com menos tempero, a comidafica com um sabor mais leve. Oazeite, trazido pelos espanhóis, éitem básico, fazendo com que osoutros tipos de óleos, como o desoja, sejam pouco utilizados.

A batata, cultivada desde antesda chegada dos europeus, é aprincipal fonte de carboidrato, e éconsumida principalmente frita,assada junto com carne, ou empurês. As massas, que combinamperfeitamente com os vinhos tin-tos da Patagônia, também sãomuito presentes. As pizzas argen-tinas se diferenciam das euro-peias pela espessura. São muitomais grossas e levam menos to-mate do que as italianas.

Sucesso argentinoUma das opções para quem

quer experimentar um pouqui-nho do sabor argentino, sem terque atravessar os 2.300km queseparam Brasília de Buenos Ai-res, e principalmente, sem gastarmuito, são as empanadas. Elasestão disponíveis em 25 pontosda cidade que incluem cantinasde escolas de inglês, lojas de con-veniência e lanchonetes de hos-pitais. “Existem argentinos quenão gostam de tango ou de vi-nho, mas é impossível encontraralgum que não goste de empana-das”, brinca o gourmet argentinoGustavo Mariasis, 45 anos, donode uma casa de empanadas. “Embreve, será difícil encontrar umbrasiliense que também não te-nha se apaixonado por elas”, afir-ma. Estima-se que por mês se-jam consumidas na cidade até 10mil unidades do produto.

Mariasis conta que uma dasprincipais vantagens da iguaria éo fato de la poder ser consumidaa qualquer hora. “Na Argentina,

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as empanadas são obrigatóriasantes do churrasco, mas podemser transformadas em lanche,substituir uma refeição, ou viremcomo aperitivo para uma bebi-da.” Os sabores são variados, vãodas tradicionais carnes suaves ecarnes com pimenta à saboresmais exóticos, como a mediter-rânea, feita com beringela, ce-noura e abobrinha italiana — de-senvolvida especialmente paraquem tem intolerância à lactose— e para vegetarianos.

Mas não só de empanadas vi-ve a culinária argentina, outroprato onipresente nas mesas doshermanos, e mundialmente co-nhecido, é a parrilla (churrascopara os brasileiros). Para os ar-gentinos, o preparo da carne éuma arte e começa desde a cria-ção do boi — que deve ter umaalimentação balanceada e ricaem fibras —, passando pela con-servação da carne, que não levasal grosso. Para assá-la, sempreassada na brasa, de maneira quenão absorva cheiro, ou sabor defumaça. O ponto ideal é outrodiferencial: os argentinos prefe-rem a carne malpassada e commenos sal, o que garante a elaum sabor mais leve.

TradiçãoO advogado Tiago Boita Lau-

de, 31 anos, é um apaixonadopelo churrasco argentino. “Sem-pre que eu viajava, não abriamão de visitar uma casa de pari-lla, é de um sabor inigualável.” Apaixão é tamanha que em 2006ele resolveu dar fim à loja de ma-teriais de construção e transfor-má-la em restaurante, claro, es-pecializado na cozinha argenti-na: o Corrientes 348. Lá todos osprodutos são trazidos especial-mente do país vizinho, para queo sabor seja o mais fiel possível.“Desde a farinha até a carne, tu-do é trazido de lá. O preparo dosalimentos e os utensílios de co-zinha também seguem rigorosa-mente a tradição argentina.”

Um dos destaques do cardá-pio é o Ojo del Bife, um corte decarne bovina com pouca gordu-ra, assado na brasa em uma gre-lha especial, com pouco sal etemperos argentinos, servidocom batatas e acompanhado devinho tinto. “Temos que orientaro cliente sobre o ponto da carne,que em geral vem malpassadapara os padrões daqui. Com otempo, ao invés de pedir a carnebempassada, os clientes vãoaprendendo a apreciá-la no pon-to argentino”, diz Tiago. Paracompletar, na sobremesa é servi-do panqueca com doce de leite,feita com matérias-primas da re-gião do Pampa, no norte do país.

Quem não gosta de carne,tem como saída a salada Juliana,feita com legumes, mostarda ebatata palha, frita à maneira por-tenha. Laude conta que “muitagente nem come carne, mas vaiao restaurante só para experi-mentar a salada”. Para quem nãodispensa um bom vinho, valelembrar que as uvas argentinasestão entre as melhores do mun-do, nas variedades Cabernet Sau-vignon e Merlot. Entretanto, asde maior produção são da varie-dade Malbec, produzidas na re-gião de Mendoza, em plena Cor-dilheira dos Andes, com um sa-bor único, já que se tratam dasvinícolas mais ao sul do planeta.

Parilla com ojo de bife, servido com vinho tinto é um prato tradicional: corte e prepapro da carne resultam num sabor mais leve para o alimento

Tiago Boita Laude: paixão pela parrilha fez com que abrisse restaurante

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Veja a receita das empanadas