A procura de jane roteiro crítico

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Aula produzida pelo professor Alexandre Santos

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A PROCURA DE JANEROMANCE DE GIZELDA MORAIS

ANÁLISE PELO PROFESSOR ALEXANDRE SANTOS

GIZELDA, MAIS POETA DO QUE ROMANCISTA

EM A PROCURA DE JANE OCORRE UMA RETOMADA TEMÁTICA E ESTILÍSTICA DAS OBRAS ANTERIORES DA AUTORA, INCLUSIVE, A POÉTICA. PERCEBE-SE UMA TEMÁTICA CENTRADA NA PROCURA DO EU OU DAS PERSONAGENS E DE NUANCES QUE

EXPLICAM SITUAÇÕES VIVIDAS.

ROSA NO TEMPOPela rua Gizelda Morais

Caminho pela rua... quantos destinos cruzam-se comigo, quantas vidas diferentes de outras vidas, quantas faces diferentes de outras faces...

Vou passando por muitos (enquanto eles também passam por mim) e perscruto seus gestos, seus modos, seus olhares.

Vejo gente sorrindo, Vejo gente sorrindo, vejo gente cansada, vejo gente cansada, gente altiva, gente humilde, gente gente altiva, gente humilde, gente triste... triste... não vejo alguém chorando, não vejo alguém chorando, mas, quanta gente choraria o pranto mas, quanta gente choraria o pranto guardado, se não fosse a vergonha guardado, se não fosse a vergonha de chorar pela rua. de chorar pela rua.

Na rua passa tudo, passam todos Na rua passa tudo, passam todos passa a noite, o silêncio, o barulho, passa a noite, o silêncio, o barulho, até os mortos passam pela rua. até os mortos passam pela rua. E suas casas, suas luzes, suas pedras E suas casas, suas luzes, suas pedras também olham, perscrutam e também olham, perscrutam e testemunham testemunham a tudo e todos que passam a tudo e todos que passam pela rua.pela rua.

A ESTRUTURA DO ENREDO

DOM QUIXOTE DE LA MANCHA

A Procura de Jane foi escrito entre 2004 e 2005, e, segundo a autora, presta uma homenagem a Miguel de Cervantes, autor de Dom Quixote de La Mancha que comemorava, naquela época, quatrocentos anos de edições, obra em que se reflete os desejos dos sonhadores em seu confronto a realidade imediata e concreta.

A AMBIGUIDADE DO TÍTULO

O título é também expressivo e encerra um significado ambíguo: A Procura de Jane pode ser entendido como sendo a procura da protagonista por um sentido a sua vida, ou seja uma procura de si mesma, ou a procura de seus escritos que, segundo a protagonista, teriam sido surrupiados por uma psicóloga.

A DIVISÃO DA NARRATIVA POR PARTES

O romance é dividido em três partes: a viagem, a chegada e a busca, constituindo-se o enredo basicamente da história de Jane Brasil que aborda, filosófica e existencialmente, questões suscitadas a partir do que observa atentamente ao seu redor.

A narrativa se inicia com a personagem central retornando de uma viagem que fizera aos Estados Unidos, talvez a última, depois de já ter feito várias outras e conhecido várias parte do mundo. Nessa viagem, um rapaz que embarca em Miami chama a sua atenção e acaba se tornando amigos.

Professora de filosofia, aposentada, Jane Brasil, cinqüenta anos, vendeu o apartamento, onde morava em Belo Horizonte, e um fusca velho, e com o dinheiro patrocinou mais uma vez uma viagem para o exterior, sendo que desta feita, para os Estados Unidos.

Percebe-se que a intenção da protagonista nessas viagens é conhecer culturas diferentes e compará-las com o Brasil. Faz constantemente reflexões sobre os costumes dos lugares e dialoga com diversos textos da literatura brasileira e internacional.

- Oh! You don’t speak English?

Era sempre a mesma expressão admirativa, como se não falar, ou falar mal o inglês, fosse uma ofensa aos costumes, atentado ao pudor, ao bom comportamento.” ( ... )

JANE BRASIL, A PROFESSORA APOSENTADA

A protagonista faz dura crítica ao idioma inglês e a maneira pela qual os americanos tratam seus turistas estrangeiros e a frieza das pessoas que passaram por ela com total indiferença, por ruas, estações de trens e aeroportos. É comum a reflexão sobre o que acontece ao redor de Jane, a fim de chegar a uma conclusão sobre qual o sentido exato da vida.

Nesta primeira parte, a personagem protagonista procura a partir de lembranças provocadas pelos diversos acontecimentos ao seu redor refletir sobre sua origem, seu estado atual e principalmente sobre seus conflitos interiores.

Fui expelida quando tinha exatamente nove meses de plantada no útero, só por isso não me formei entre merdas. Era a frase inicial de seu texto reconhecido nas páginas do livro encontrado, anos atrás, na porta da livraria. ( ... )

REFLEXÃO SOBRE SUA ORIGEM BIOLÓGICA GENÉTICA

OS PAIS BIOLÓGICOS

“Tinha certeza, já vira aqueles olhos, os olhos da matriz, aquela que a gestara, de cujo subterrâneo ela nascera. ( ... )

Só podia ser ela. Conquanto nunca tivesse visto a sua face inteira, quantas noites passara imaginando o rosto, o corpo, as mãos semelhantes às suas pequeninas. E nem naquela hora o vulto se definia. (... )

OS PAIS BIOLÓGICOS “Assim imagina os detalhes. Pode ter sido desse

modo ou diferente. ( ... ) Quem cuidaria dessa criatura, largada assim no cosmo, sozinha, tendo perdido a mãe e o irmão, o pai endoidecido? ( ... )

Estavia escrito, haveria de escolher Filosofia. Assim começara a se fazer enquanto natureza humana. Agora já ultrapassado meio século de sua existência, quanto mais desce às profundezes de seu conhecimento, indo às suas origens antes do nascedouro, mais vê dificuldade deencontrar explicações para o sentido de sua pequenina vida. ( ... )

QUESTIONAMENTOS EXISTENCIAIS

Jane sente-se desprivilegiada por ser uma professora no Brasil. Entende a desvalorização sofrida pela classe de professores, e pergunta-se para que serve tanta cultura, já que tudo acaba com a morte. Percebe que somente agora é que a ideia da morte a atormenta, já que o jovem nunca pensa que um dia irá morrer. Somente a eles, os velhos, é que esta ameaça se faz presente, junto com o medo da velhice e da solidão.

QUESTIONAMENTOS EXISTENCIAIS

Questiona sobre o tempo e as mudanças que o ser humano sofre com o passar do tempo. Reflete sobre antigos professores, vivos e mortos e teme ter o mesmo destino de muitos que já morreram solitários, solteiros e velhos. Lembra-se que fora justamente por esses anseios que decidira viajar pelo mundo.

PRESENTE E PASSADO SE FUNDEM

Ao fazer o percurso de volta ao Brasil, Jane Brasil, através de suas lembranças, mostra-se indignada pelo fato de seus escritos terem sido indevidamente apropriados por uma psicóloga, com quem se encontrara logo após o atropelamento do qual fora vítima, o que resultou em perda da memória e, por isso, precisou da psicóloga a quem entregou os escritos de sua vida. Depois introspectivamente lembra-se do pai e da vida árdua que tivera e de seu difícil nascimento, arrancada a ferros, o que resulta na morte de sua mãe para que ela sobrevivesse.

A OBSESSSÃO DE JANE BRASIL

A sua frustração inicial de Jane tinha sido pela perda de seus manuscritos. Depois lhe veio o ódio quando o descobriu publicado com o título de “Jane Brasil”, numa livraria de Salvador. Com essa descoberta, mudam-se também seus planos: teria que encontrar a psicóloga e desmascará-la para reaver seus manuscritos numa eterna busca depois de 15 anos. Depois de muitas tentativas descobriu que o livro tinha sido composto em Aracaju. Dali em diante, encontrar a mulher que lhe roubou os seus escritos tornou-se uma obsessão.

O SENTIMENTO DE CULPA

A culpa também a persegue devido a sua concepção. Para ter nascido fora preciso que a mãe morresse num embate entre mãe e filha pela vida. Chega-lhe a visão imaginária da mãe sendo violentada e em seguida a sua condição de filha de um estupro, causando-lhe um trauma pelo seu nascimento forçado e depois a condição de como fora deixada pela avó na porta de um orfanato, onde recebeu o nome de Jane Bahia.

A ORIGEM BIOLÓGICA DA PERSONAGEM

( ... ) Chocada com a revelação, indagou a todos e a cada um sobre a sua origem, ouvindo sempre a mesma ladainha: abandonada, recolhida à assistência pública sob a responsabilidade do juiz de menores. Nada mais sobre seus antecedentes. A princípio não acreditou na palavra da mãe nem dos irmãos. Por isso, antes de fugir de casa, fez a sua busca – o juiz, amigos da família, alguns conhecidos. Ninguém sabia nada do que lhe fora informado. Aquela recém-nascida, deixada na rua, doente, cheia de feridas, jamais saberia a hora, o dia exato de seu nascimento. ( ... )

Na segunda parte, denominada A chegada, a personagem protagonista se depara com uma série de nuances, como, por exemplo, a ordem judicial para desocupar o apartamento e a solução encontrada que foi morar num abrigo.

( ... ) Tem mesmo de fechar aquele

apartamento e ainda não sabe para onde ir. Vivendo na cidade há mais de vinte anos não encontra um amigo a quem tenha a coragem de pedir abrigo, não sabe a quem apelar para um empréstimo. Se cair doente não tem plano privado de saúde, terá de recorrer ao SUS, em processo de falência, corroído pelas fraudes. ( ... )

A DURA REALIDADE

Com a chegada do avião ao aeroporto de São Paulo dá-se também o fim da viagem. A realidade torna-se dura por sua condição: gastara todo o seu dinheiro da venda de seu apartamento e de seu fusca. Nada mais lhe restara. Necessita fazer o movimento de volta, a partir do desenraizamento progressivo, e a triste realidade de regressar para o apartamento que já não lhe pertence.

REFLEXÕES SOBRE O MAGISTÉRIO

A negatividade está presente quando se questiona sobre sua profissão, arrependendo-se por ter vivido tanto tempo dentro de uma sala de aula, sua condição como professora regrada em que tinha de submeter-se a regras e cumprir programas. Convenceu-se, por fim, que a sabedoria é adquirida com a idade e a verdade é apenas um fragmento do que lhe é imposto pela realidade a que seus olhos lhe permitem ver.

Na terceira parte, chamada de Busca, Jane Brasil empreende uma procura de sua origem familiar, tendo que se deslocar de Minas Gerais à Bahia, numa espécie de prestação de contas com o seu passado.

A BUSCA DA PSICÓLOGA

Faz a pesquisa pelo nome Jane Brasil e, depois de várias pesquisas na internet, Jane descobre onde se encontra a autora de livro não autorizado. Viaja a Poço de Caldas, numa busca interminável. O desencontro entre as duas personagens faz com que Jane permaneça na cidade mineira. Emociona-se ao se deparar numa praça com uma orquestra tocando músicas de Roberto Carlos.

A EPIFANIA

Num momento epifânico, depara-se com um cavalheiro de triste figura que a convida para dançar. A veia literária de Jane é aguçada por esta estranha presença, que a remete a Miguel de Cervantes e sua personagem Dom Quixote de La Mancha. Acredita ter dançado com os dois. Nada mais lhe é importante. O que importa se não encontrar agora a trambiqueira? Resolve então escrever uma carta a autora do livro publicado, expondo a sua indignação com o ocorrido em sua vida.

A VERSÃO DA PSICÓLOGA

A resposta vem de forma explicativa e defensiva. É a versão da acusada contra Jane. Diante desse novo fato, especula-se a veracidade da história de Jane. A própria Jane é questionada quando mostra a carta para o amigo Ubaldo, afinal, ela sofrera realmente um traumatismo craniano quando fora atropelada e passara por um breve período de esquecimento, causando-lhe uma amnésia parcial e provisória.

UMA NOVA BUSCA

Dessa vez Jane iria à busca de sua mãe e irmãos. Quer reencontrar o elo partido na história de sua vida. Essa nova busca também começa de forma complicada. Decide-se por procurar o irmão Hildo Brasil na OAB, pois se lembrou de que ele estudava Direito quando ela saiu de casa. O primeiro encontro se dá com o neto de sua mãe adotiva. Depois de alguns questionamentos, Jane recebe o endereço de sua mãe que mora numa fazenda, no município de Irecê.

O ENCONTRO: MÃE E FILHA

Jane reencontra um sobrinho, em Irecê, que é justamente o jovem que viajara com ela e usava um chapéu do Mickey Mouse. A narrativa ganha certa expectativa depois do reencontro entre mãe e filha. Novos destinos são traçados. No café da manhã, surpreendentemente, diante do casal, a mãe declara ter decidido morar com a filha. Diante desse novo impasse, Jane volta para Belo Horizonte a fim de se organizar para receber sua mãe.

( ... ) Venho em busca de reavaliação. De repente, no estágio atual de minha vida, quero reencontrar a mulher que me acolheu recém-nascida, gastou noites comigo, deu-me afeto e atenção na infância e na adolescência. ( ... )

( ... ) –Tudo bem, mãe. A senhora não tem culpa de minha fuga. Vou levá-la comigo, podemos morar juntas. Tenha, porém paciência. Não será amanhã. Vou ver como resolvo este problema. Agora, a senhora tem de ser firme, confirmar diante de seus filhos o seu desejo.( ... )

SONHO E REALIDADE

Jane volta para Belo Horizonte a fim de se organizar para receber sua mãe. Na rodoviária se depara com um pedinte em dificuldades que lhe quer vender um bilhete da mega-sena. Após um breve cochilo, acorda com a voz do repórter anunciando que o prêmio tinha saído para Salvador. Jane começa a fazer planos para o que iria fazer com o dinheiro do prêmio. Realidade e sonho se misturam na narrativa fazendo com que o leitor acredite ser ela a ganhadora..

NO DESFECHO DA HISTÓRIA

A alegria, porém se dá, em contrapartida, ao se deparar com o sobrinho antes de embarcar. Ele tinha ido comunicar-lhe que não se preocupasse com a reforma de seu apartamento e que iria viver bem com a mãe. O final da história é surpreendente: Jane embarca no ônibus e o término do romance é sem um final concreto. O narrador deixa o leitor definir um possível final da história. De concreto mesmo só o acerto de contas de Jane Brasil com a sua família.

As origens familiares de Jane Brasil se resumem numa tentativa de reconstruir sua identidade a partir de sua família biológica e de sua família adotiva, com a qual ela conviveu grande parte de sua adolescência.

CONCLUSÕES

( ... ) reconhece que foi ingrata com a sua

mãe. Ela não foi simplesmente inventada. Nem sabe se ainda vive. Se viver será quase nonagenária. Dessa família adotante deve ter sobrinhos e sobrinhos netos. Da outra biológica, convenceu-se da inutilidade de novos achados. Desistiu de descobrir a origem de seus atavismos. ( ... )

Os aspectos sociais de sua existência giram em torno de sua formação profissional, visto que, no momento da narrativa, ela assume a postura de professora aposentada de filosofia, na plenitude de sua vida intelectual, mas situada numa condição de indigência pelas péssimas condições salariais e de moradia.

As reflexões culturais giram em torno das análises que ela faz em torno da prática de ensino que norteou sua condição profissional de professora e de intelectual.

Ganha corpo na narrativa a procura obstinada que Jane faz em busca de uma chamada “prestação de contas” com uma psicóloga, que, segundo ela, apropriou-se de alguns de seus escritos e publicou em forma de livro autobiográfico com outro título.

( ... ) Porém, na capa do livro onde figurava o seu nome como título, ela não aparecia como autora. Logo reconheceu. O nome estampado no frontispício do livro era o da dita-cuja. A embusteira tinha tido a coragem de se apropriar de seus escritos. Desde então, quando lhe vinha à lembrança um tópico daquele texto, tendia a perder a fala, pois, em resumo, tratava-se de registro de sua própria vida. ( ... )

No desfecho, sabe-se que o encontro entre Jane Brasil e a psicóloga não passa de um truque narrativo, visto que a psicóloga não é nada mais, nada menos que a própria Gizelda, chamada de G.M., portanto criadora da personagem-protagonista.

( ... ) Não irá disputar com G.M. a autoria do livro Jane Brasil. ( ... )

A busca de suas origens termina com esta reflexão:

“De qualquer forma, a pessoa que se tornou a partir de seu nascimento, fruto de desejos carnais ou de anseios da mente, é temporária e impermanente, como todo mundo. Por isso ela resiste, vai continuar a sua vida e ninguém vai saber o seu final.”

ASPECTOS ESTRUTURAIS DA NARRATIVA

O FOCO NARRATIVO O romance é narrado em terceira pessoa,

narrador onisciente e, às vezes intruso. Em quase toda a narrativa, o narrador reflete sobre os pensamentos e sensações da personagem protagonista, Jane Brasil, em sua trajetória existencial e social.

A trajetória da protagonista é praticamente apresentada ao leitor pelo narrador que, às vezes, em discurso indireto livre parece querer se tornar cúmplice das “náuseas” da personagem.

A ESTRUTURA DO ENREDO O romance não é dividido por capítulos

tradicionais e sim em três grandes partes temáticas, A VIAGEM, A CHEGADA E A BUSCA, sendo que ocorre no interior de cada uma das partes uma divisão gráfica, ou seja, uma separação entre nuances narradas ou comentadas.

Na primeira parte do romance, denominada A VIAGEM, o narrador acompanha a trajetória da protagonista numa viagem que faz dos USA ao Brasil, mais precisamente um retorno a Belo Horizonte. Não se limita apenas a narrar as peripécias, mas, principalmente, refletir sobre as lembranças da personagem protagonista.

Na segunda parte, denominada de A CHEGADA, o narrador se concentra em refletir as peripécias da protagonista envolvida na necessidade premente em entregar seu apartamento vendido, mas não desocupado dentro do prazo previsto.

Na terceira e última parte, A BUSCA, a protagonista empreende uma viagem em busca de suas origens familiares e, ao mesmo tempo, de um acerto de contas com uma psicóloga que, segundo ela, teria publicado relatos de sua juventude sem sua permissão.

Percebe-se que nas três partes predomina uma busca à origem de acontecimentos que, de uma forma ou de outra, interferiram na estruturação da personalidade da protagonista, além de ser a essência de seus conflitos, temática que já tinha aparecido em romances como Jane Brasil, Ibiradiô e Preparem os agogôs.

O TEMPO

O tempo histórico da narrativa está situado em 2002, ou seja, início do século XXI, mais precisamente, antes e depois das eleições para a presidência da república, nas quais Lula foi eleito para o seu primeiro mandato.

O tempo cronológico coincide com o tempo histórico, iniciando-se com a partida da protagonista do aeroporto de Seatle City, nos Estados Unidos, e terminando com uma viagem de retorno a Belo horizonte, na rodoviária de Salvador, no estado da Bahia. Não é possível precisar a duração do tempo entre a partida e o retorno.

O tempo psicológico é predominante na narrativa, ocorrendo, principalmente, porque o narrador centra insistentemente o seu relato nas reflexões sobre os pensamentos, sensações e conflitos da protagonista, e, por isso, a seqüência cronológica dos fatos não é o aspecto mais pertinente.

A quebra da estrutura linear não violentamente quebrada, mas a narrativa é permeada de retornos ao passado que servem para a compreensão e explicação dos conflitos interiores de Jane Brasil.

O ESPAÇO/OAMBIENTE

O romance de tendência psicológica, introspectiva, não tem o espaço externo como elemento importante para compreensão dos fatos narrados, isto porque o que se passa no interior do personagem acaba sendo mais relevante.

Em A procura de Jane, contudo, determinados espaços provocarão na personagem impactos importantes para a sua compreensão dos problemas que a afligem. Os Estados Unidos, por exemplo, são importantes para que Jane faça analogia das relações culturais, sociais e políticas com o Brasil.

Em São Paulo, Jane Brasil passou grande parte de sua adolescência, tendo, inclusive, sendo internada para tratamento de saúde e psicológico. É um espaço onde reside a origem de alguns de seus conflitos.

Minas Gerais é o estado onde mora a protagonista, sendo que o apartamento vendido para que a viagem ao exterior se tornasse viável, o Abrigo Santa Rita, onde vai morar depois que chega de viagem e Poços de Caldas, onde mora a autora que publicou seus conflitos autobiográficos, são ambientes reveladores das aflições da protagonista.

Na Bahia, o destaque fica por conta da cidade de Irecê, onde moram os componentes da família adotiva, inclusive sua mãe, e Salvador, em que adquire um bilhete da Caixa Econômica em que imagina ganhadora.

A INTERTEXTUALIDADE A procura de Jane estabelece

intertextualidade com três obras da autora: Jane Brasil, Ibiradiô e Preparem os agogôs, visto que em todos esses romances ocorre uma temática centrada na procura, na busca, dos personagens protagonistas para esclarecimentos de seus conflitos e suas origens sociais.

EM JANE BRASIL

A personagem protagonista possui o mesmo nome da personagem e do romance anterior e os mesmos problemas existenciais, enfim, a história de primeira se prolonga e se intensifica na segunda. Ocorre o que podemos dizer um acerto de contas.

EM IBIRADIÔ

A fusão entre presente e passado e a busca constante dos protagonistas para conhecer as origens raciais, sociais e culturais do estado de Sergipe é a temática mais evidente do romance. No desfecho, a impossibilidade diante da dinâmica da vida.

EM PREPAREM OS AGOGÔS

O protagonista Tomaz Gonzaga, um diplomata de carreira, abandona quase tudo, para, em determinados momentos, procurar obsessivamente pelas suas origens raciais, sociais e culturais, ou seja, pela compreensão de sua identidade.

Em todos os romances da autora ocorre essa busca obsessiva pelas origens, o que de certa forma configura uma procura pela identidade perdida durante a trajetória existencial e que nem sempre é possível encontrar uma resposta satisfatória.

É também um romance que estabelece diálogo com a vertente introspectiva, psicológica da Literatura brasileira que teve como embrião Machado de Assis e atingiu o auge com Clarice Lispector. Essa temática tem como seguidoras escritoras do mais alto nível como Helena Parente, Sônia Coutinho e Ligia Fagundes Telles.

O DIÁLOGO COM OUTRAS OBRASNOITE DE CABIRIA

Cabíria é prostituta e exerce sua profissão em um dos bairros mais pobre de Roma. Sonha encontrar o amor verdadeiro, um homem que a tire da rua, e que possa entregar-se em corpo e alma. Sua bondade e uma certa ingenuidade, a converte em uma vítima de sucessivos espertalhões que se aproveitam, roubam e batem nossa dama da noite. As contrariedades não afetam seu espírito, que cobra esperanças renovadas sempre, pese os sucessivos fracassos. Tudo parece mudar quando abre seu coração a um tímido contador, que lhe propõe casamento.

NOITES DE CABÍRIA

MIGUEL DE CERVANTES

DOM QUIXOTE Durante a Inquisição, o escritor Miguel de

Cervantes é preso como herege, por propagar pensamentos 'subversivos'. Jogado em um calabouço, ocupado também por ladrões e assassinos, é 'julgado' pelos prisioneiros. Para se defender, conta a história de um homem que passa os dias e as noites lendo e só consegue ver a injustiça e a trapaça triunfarem. Ele se torna um cavaleiro errante, conhecido como Dom Quixote de La Mancha, que decide lutar contra as injustiças do mundo.

A LINGUAGEM

O narrador faz uso de um português médio urbano, sintaticamente correto, sem complexidade, e um vocabulário plenamente acessível.

Há predominância do discurso indireto. A narração dos fatos, via de regra, cede

lugar às introspecções, o que torna a narrativa intensamente psicológica.

PERSONAGENS PRINCIPAIS

A PROTAGONISTA, JANE BRASIL- Professora aposentada, cinqüenta e poucos anos,

busca constantemente as suas origens familiares e sociais em busca de uma resposta e explicação para si mesma. Nasceu, em Salvador, morou em São Paulo, esteve num sanatório para tuberculoso, e vive em Belo Horizonte. No desfecho da história decide morar com a mãe adotiva que mora em Irecê, na Bahia, e em Salvador, ficou sabendo que tem um apartamento deixado de herança pelo seu pai adotivo.

O IRMÃO ADOTIVO- Hildo Brasil, funcionário aposentado do INSS.

Fazendeiro em Irecê, onde cria avestruzes e caprinos, interior da Bahia. Sua mulher não suporta a sogra. Daí a razão pela qual a mãe adotiva de Jane pretender ir morar com a filha.

O SOBRINHO- Dr. Hildergardes Brasil, vive em Salvador, e é

responsável pelo apartamento que esta alugado e pertence por herança a Jane Brasil.

O GUAPO RAPAZ- É filho de Hildergardes e, portanto, sobrinho neto

de Jane Brasil. Foi companheiro de viagem de Jane Brasil no retorno dos Estados Unidos..

A PSICOLÓGA- Pseudo-autora do romance Jane Brasil é a própria

Gizelda Morais, cognominada como embusteira e dita-cuja. È nomeada por GM.

DR UBALDO- Companheiro de Jane Brasil, no Abrigo Santa Rita,

confidente e orientador. É advogado.

O QUE OBSERVAR NO ROMANCE A BUSCA OBSESSIVA DE JANE BRASIL PELAS

SUAS ORIGENS COM OBJETIVO DE ENCONTRAR EXPLICAÇÕES PARA A SUA EXISTÊNCIA.

AS REFLEXÕES DA PERSONAGEM CENTRAL SOBRE A SITUAÇÃO DE INDIGÊNCIA EM QUE SE ENCONTRAM AINDA HOJE OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO.

A QUESTÃO DOS DIREITOS AUTORAIS NO BRASIL QUE AINDA HOJE PERMANECE SEM MEDIDAS EFICAZES E CAPAZES DE COMBATER A PIRATARIA E O EMBUSTE.

O FOCO NARRATIVO DE TERCEIRA PESSOA, NARRADOR ONISCIENTE, MAS COM UM PONTO DE VISTA INTENSAMENTE PSICOLÓGICO, INTROSPECTIVO.

A MODERNIDADE DO ROMANCE ESTRUTURADO DE MANEIRA NÃO CONVENCIONAL, OU SEJA, UM ENREDO EM PARTES E SEM CAPÍTULOS DE SEQUÊCIA CRONOLÓGICA.

A DENSIDADE INTROSPECTIVA DO ROMANCE, CENTRADO NO INTERIOR DA PERSONAGEM QUE EM DETERMINADOS MOMENTOS SE SITUA NO LIMITE DA RAZÃO E DA LOUCURA.

O JOGO CONSTANTE DE FLASH BACK EM QUE A PERSONAGEM VAI DO PRESENTE AO PASSADO E VICE-VERSA.

A RETOMADA QUE A NARRATIVA FAZ DE TÉCNICAS E TEMAS OBSERVADOS EM ROMANCES ANTERIORES DA AUTORA.

A INSERÇÃO DA NARRATIVA NA LINHA INTROSPECTIVA DA LITERATURA BRASILEIRA QUE TEVE COMO MESTRA CLARICE LISPECTOR.