historiaula.wordpress.com A Revolta da Vacina Professor ... · Só o comércio progride, o homem...

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historiaula.wordpress.comProfessor Ulisses Mauro Lima

A Revolta da Vacina

1904

“Bela e Insalubre”- Rio de Janeiro Capital Federal da República.

Ainda nos primeiros anos do século XX, aCapital Federal, “guarda o cunho desoladordos velhos tempos do rei, dos vice-reis edos governadores.

O lixo espalhado pelas rua, becos e vielastorna a cidade do Rio de Janeiro insalubre emalcheirosa.

O jornalista Luiz Edmundo definia acidade do Rio de Janeiro como “ummonstro onde as epidemias se albergamdançando sabats magníficos, aldeiamelancólica de prédios velhos eacaçapados, a descascar pelos rebocos,vielas sórdidas cheirando mal.”

Em 1904, a população da cidade do Rio de Janeiro era de 730.000 habitantes dos quais,mais de 50% viviam nas ruas vendendo artesanatos e quitutes caseiros.

Na rua do Ouvidor, onde (...) o homem do burro-sem-rabo cruza com o elegante da regiãotropical, que traz no mês de fevereiro sobrecasaca preta de lã inglesa, e (...) dilui-se emcachoeiras de suor.

“O povo está sem instrução. A indústria, desprotegida. Os serviços públicos de molas perras(...) Só o comércio progride, o homem honrado do comércio desta praça com o comendadorà frente, o quilo de 800 gramas, o metro de 70 cm.”

Em torno do quiosque, uma pausa para o trago, a conversa fiada e a cusparada. Um insultoà higiene...

“Cada quiosque mostra, emtorno, um tapete de terra úmida,um circulo de lama. Tudo aquiloé saliva. Antes do trago, o pé-rapado cospe.

Depois vira nas goelas o copázio esuspira um ah! que diz desatisfação, gozo, conforto. Novacusparada. E da grossa, da boa...”

“Pelas ruas, gente irrompe em gritos, como o português vendedor de perus: ‘Olha ôôô prú uuu da rodavô ôôô a!’ (...) O italiano do peixe: ‘Pixe, camaró... (...) Berra o vendedor de vassouras: ‘Vaevasouôôôôra, espanadoooire!’ (...) O homem das garrafas vazias (...): Gueraalfas bazias pr’a bundaire!’”

A cidade é uma grande feira Todos trazem algo para vender, nestaterra onde só o comércio prospera.Onde 30% da população era denegros, 30% de mulatos e o restantede brancos ganhando a sobrevivênciade forma rude e precária.

Nesta época a renda do Rio deJaneiro provinha basicamente dosServiços Públicos, do movimento docais do porto e do grande comércioatacadista. Não eram muitos osempregos, e a maior parte dapopulação tinha que sobreviver doartesanato, da criação ou daagricultura doméstica, vendendoseus produtos pelas ruas, ganhandoa sobrevivência de forma precária erude.

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Os miseráveis do centro do Rio de Janeiro eram considerados culpados pelas autoridadesde espalhar as enfermidades, de disseminar a violência e o banditismo. As elitesacreditavam que eles deveriam ser retirados da região, para transformá-la numa região“limpa”, ou seja, própria para a burguesia local.

O Rio de Janeiro ainda era um “antro” de doenças tropicais, como a febre amarela e avaríola.

Acreditava-se que a acumulaçãode pessoas em espaçosreduzidos era a causa dessasdoenças.

O Rio de Janeiro era uma área urbana decadente. O acúmulo de lixo e a sujeira nas ruasnas zonas periféricas e centrais atraía insetos e ratos que transmitiam doenças fatais comoa febre-amarela, a varíola e a peste bubônica, resultando na morte de milhares de pessoasanualmente. As vielas, os becos e as ruas mal iluminadas tornavam a cidade desolada ebastante perigosa durante a noite.

“A cidade é um monstro (...) aldeia melancólica de prédios velhos (...)”

Presidente Rodrigues Alves: 1902-1906

Rodrigues Alves venceu as eleições com oapoio de Campos Sales e dos PartidosRepublicanos Paulista e Mineiro. Latifundiário,paulista e ex-ministro da Fazenda do governode Prudente de Moraes, Rodrigues Alves foieleito com 592.039 votos e o respaldo daPolítica dos Governadores

O "boom" da exportação de borracha daAmazônia e a disponibilidade de capitaisestrangeiros facilitou o governo na política demodernização, voltada para a reurbanização deáreas e locais públicos que se encontravam emsituação de degradação.

Capital do país, a cidade do Rio de Janeiro, foi oalvo principal desse projeto

Historiaula.wordpress.comFrancisco de Paula Rodrigues Alves

Mas a forma como foi realizada gerou revoltas eprotestos populares, abrindo a primeira crisepolítica do governo de Rodrigues Alves.

O projeto de Modernização da Capital Federal

Prefeito da cidade Pereira Passos.

Foi preciso, então, sanear a cidade a partir darealização de obras públicas, limpeza e combateàs doenças.

O objetivo almejado pelo governo demodernização urbana da capital federal recebeuamplo apoio e respaldo do prefeito da cidade,Pereira Passos.

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Quem colocou esse plano em prática foram oprefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, e opresidente da República, Rodrigues Alves, apartir de 1901.

A idéia era simples: derrubar os velhoscasarões que serviam de cortiço, retiraros mais pobres, considerados pelaselites como “classes perigosas” docentro da cidade e abrir largas avenidas,dando fim às ruelas e pequenas vias doperíodo colonial.

“O Cortiço”? Pois bem, a visão das elitesda época era exatamente essa: apopulação mais necessitada era perigosa,composta de meliantes e, afinal, “o meiocorrompe”.

A ordem é: Bota abaixo

Professor Ulisses Mauro Lima

Outro objetivo era possibilitar a circulaçãode pessoas e dificultar a formação debarricadas por parte da população maispobre.

Para financiar a modernização da capitalfederal, Pereira Passos contratou umempréstimos junto ao capital inglês de136.000 contos (8.500,000 libras),quase metade da receita da União(312.000 contos em 1903).

A política de derrubar as velhasconstruções da capital federal foiconhecida popularmente como “botaabaixo”.

Em nove meses de obras, o saldo dasdemolições na capital era de 614 prédios.

O projeto de higienização prometido porPereira Passos visava beneficiar exclusivamenteas classes dominantes.

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A visão da elite...

A reconstrução, limpeza e o embelezamento da cidade foram feitas às custas das camadaspobres da população. Efetuando desapropriações desordenadas, as habitações populares(casebres e cortiços) foram postas abaixo para o alargamento das ruas, avenidas econstruções de praças públicas.

Rodrigues Alves convidou o médicosanitarista Oswaldo Cruz para tocar oprojeto de saneamento. A campanhacomeçou bem, tratando da febreamarela e da peste. Foi criado nestaépoca o cargo de "comprador de ratos",que consistia no recolhimento de ratosmortos ao preço de 300 réis cada.

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Uma gravíssima epidemia devaríola tomou conta da cidade.Apesar das inúmeras campanhas,a população só podia receber avacina se assim desejasse. E cadavez menos pessoas se mostravamdispostas.

Diante de tal situação o Congressoaprovou a Lei da VacinaObrigatória, de 31 de outubro de1904, que tornava obrigatória avacina contra a varíola, abrindocaminho para Oswaldo Cruzutilizar os métodos aprovados.

Professor Ulisses Mauro Lima

A vacina obrigatória

Os jornais espalhavam boatos que a vacinaem vez de imunizar provocava a doença.

A reação popular As medidas sanitárias de combate asdoenças adotadas por Oswaldo Cruz,desagradou alguns setores da sociedadecarioca que reagia alegando que taismedidas atentavam contra o princípio dapropriedade privada.

No dia 10 de novembro a população,instigada por políticos como o senador LauroSodré, o senador Rui Barbosa e o generalTravassos, reagia formando barricadas,incendiando bondes, depredando esaqueando lojas e derrubando postes.

Os chefes de famílias alegavam que osvacinadores desrespeitavam as jovens e assenhoras acusando-os de violadores de lares.

O Rio Civiliza-se!

Entre as obras de reurbanização da capital federalpromovida pelo prefeito Pereira Passos, vislumbra-se o Teatro Municipal, obra projetada porFrancisco de Oliveira Passos, inaugurado em 1909.Em seu interior repousam obras de Eliseu Visconti,Henrique e Rodolfo Bernardeli e Rodolfo Amoedo.

“ O progresso (...) envaidecera acidade vestida de novo,principalmente inundada declaridade, com jornais nervososque a convencia, de ser a maisbela do mundo...(...) Era a transição da cidademalsã para a cidademaravilhosa”.

Pedro Calmon

A nova cidade, surgida dosescombros, recebia sem medo osestrangeiros convidando-os paraum passeio pela famosa Avenidado Mangue, ou apreciar as lindaspraias das calçadas da AvenidaBeira Mar.

Os prisioneiros foram colocados em porões de navios e despachados para o Território doAcre. Terminava a revolta e começava a vacinação em massa da população carioca. Emalguns meses, a varíola desaparecia da capital federal, transformada em cidadeMaravilhosa.

A reação das autoridades foi rápidae violenta. As tropas leais aogoverno foram convocadas parareprimir e prender os revoltosos eaqueles classificados comodesocupados.

Cidade Maravilhosa!

Fim

Professor Ulisses Mauro Lima

Até a próxima aula...