Post on 06-Dec-2015
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PETER DRUCKER E A TIRANIA EMPRESARIAL
José Pio Martins
Em meados de 2007, quando grandes bancos dos Estados Unidos apresentaram
gigantescos rombos financeiros, começou a estourar a crise imobiliária norte-americana.
Daí em diante, a crise se alastrou e contaminou toda a economia do país. A partir de 2008,
a tragédia ganhou o epíteto de “crise financeira mundial”, em razão de sua força
destruidora nos Estados Unidos e na Europa.
Em meio ao cipoal de problemas, George Bush anunciou um imenso pacote de ajuda
financeira para salvar bancos e empresas, na tentativa de evitar o fundo do poço. Logo
após ser salva com dinheiro público, a gigante de seguros AIG decidiu pagar 165 milhões
de dólares de bônus aos mesmos executivos que arruinaram a empresa e ajudaram a quase
levar o sistema financeiro nacional para o buraco. Esse episódio nos remete a Peter
Drucker.
Austríaco radicado nos Estados Unidos, onde veio a falecer em 2005 aos 96 anos,
Peter Drucker é considerado o pai da administração moderna e seu principal expoente.
Ao longo de sua extensa carreira, Drucker escreveu 39 livros e foi ironizado algumas
vezes por dizer coisas que pareciam não fazer sentido ou por parecerem um tanto
exageradas. No prefácio da edição de 1973 do livro “Management: Tasks,
Responsibilities, Practices”, Drucker fala da tirania empresarial e do perigo que ela
representa.
“No período curto de 50 anos, nossa sociedade tornou-se uma sociedade das
instituições, na qual cada tarefa social relevante tem sido confiada às grandes empresas,
desde a produção de bens econômicos até os serviços de assistência médica, seguro social,
previdência e educação”, dizia ele; para acrescentar que “fazer nossas instituições atuarem
de forma responsável, autônoma e em alto nível é a única salvaguarda da liberdade e da
dignidade. Mas são os administradores que fazem as instituições atuarem. Uma
administração responsável é a alternativa à tirania e nossa única proteção”.
Nesse texto de 1973, Drucker dizia estar horrorizado com a ganância dos executivos,
e muitos acharam que ele estava sendo pessimista e sentimental demais. “As empresas
estão longe de ser perfeitas. Como os gestores sabem, elas são muito difíceis; cheias de
frustrações, tensão e atritos; desajeitadas e incômodas. Mas elas são as únicas ferramentas
que temos para alcançarmos propósitos sociais tais como produção e distribuição de bens,
assistência médica, serviços pessoais, educação”, assim ele se expressava.
Diante dos desmandos e desatinos de alguns empresários e executivos, cabe à
sociedade e ao governo dotar o país de legislação eficiente para regular as atividades
empresariais e punir exemplarmente o comportamento antiético e fraudulento. Drucker
ainda queria que as empresas colocassem o ser humano no foco de suas preocupações.
Sem descuidar dos imperativos da eficiência e da competição, os executivos deveriam
impedir que a empresa se tornasse uma máquina trituradora de gente e geradora de
infortúnio e infelicidade para funcionários e clientes.
Relendo Peter Drucker, vemos que, quando o bolso do acionista ou do executivo é
abastecido à custa do empregado, do cliente e do contribuinte – como ocorreu no caso dos
bônus dos homens que destruíram a AIG – é hora de a sociedade e dos políticos reagirem
com regulação inteligente. Como disse o filósofo André Comte-Sponville: “Na ausência
da ética, a lei”.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
Os artigos de economistas divulgados pelo CORECON-PR são da inteira responsabilidade
dos seus autores, não significando que o Conselho esteja de acordo com as opiniões
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