Post on 20-Aug-2020
A VULNERABILIDADE DOS CORPOS DE ÁGUA: uma questão a ser trabalhada no
ensino de Ciências nos anos finais do ensino fundamental
Autor: Marcos da Silva1
Orientadora: Prof. Dra. Irene Carniatto2
Resumo
O projeto ‘A Vulnerabilidade da Água’ pretendeu sensibilizar os alunos quanto à importância deste recurso mineral e apresentar a necessidade urgente da preservação do mesmo, o qual sofre intensa degradação. A partir dessa problemática, desenvolveu-se a possibilidade do professor estabelecer relações contextuais quanto à importância do uso adequado da água, a preservação das nascentes e rios. Objetivou-se também a criação de caminhos pelos quais, tais informações foram construídas com os alunos a partir de situações-problemas, as quais os levaram a refletir, inventar, construir conceitos e desenvolver novos modelos de comportamento. Tal pesquisa foi desenvolvida no Colégio Estadual do Bairro Itaipu, localizado na cidade de Salto do Lontra – PR. Foram realizadas oficinas com alunos do ensino fundamental e dados foram coletados por meio de questionários a priori et posteriori o desenvolvimento das oficinas. Em seguida, os dados foram submetidos a uma análise quali-quantitativa para verificação de concepções e possíveis mudanças de postura. Com essa abordagem, o professor pode e poderá tornar mais interessante e dinâmico o ensino de Ciências a fim de enriquecer seu trabalho, adaptar a prática pedagógica e tornar o ato de ensinar e aprender mais atraente, pois a educação é um grande desafio.
Palavras-chave: Recursos naturais; Degradação ambiental; Educação Ambiental;
Preservação da água.
1 Especialista em Ensino de Matemática. Graduação em Ciências matemática. Docente da Escola Estadual do
Bairro Itaipu – Salto do Lontra - PR. marcos@seed.pr.gov.br 2 Doutora em Engenharia Florestal pela UFPR, Conservação da Natureza – Planejamento e Gestão de Recursos
os Hídricos e Bacias Hidrográficas Docente e Pesquisadora do Curso de Ciências Biológicas da UNIOESTE,
Cascavel - PR. irenecarniatto@yahoo.com.br.
Abstract
The project 'The Vulnerability of Water' intended to sensitize students about the importance of this mineral resource and present the urgent need to preserve the same, which undergoes rapid degradation. From this problem, we developed the ability to establish contextual relationships the teacher about the importance of proper use of water, preservation of springs and rivers. We will also creating ways in which such information was built with students from situations-problems, which led them to think, invent, build concepts and develop new models of behavior. This research was conducted at the State College Bairro Itaipu, located in the city of Salto do Lontra - PR. Workshops were held with elementary students and data were collected through questionnaires in advance et the development of subsequent workshops. Then, the data underwent a qualitative and quantitative analysis for verification of conceptions and possible changes in posture. With this approach, the teacher can and will become more interesting and dynamic science teaching in order to enrich their work, adapting the teaching practice and make the act of teaching and learning more attractive, because education is a major challenge.
Keywords: Natural Resources; Environmental Degradation; Environmental Education; Conservation of water.
1 Introdução
O material presente neste estudo tem o objetivo de sugerir alguns subsídios
e práticas aos professores do ensino de Ciências para o desenvolvimento de
atividades de Educação Ambiental voltadas para o tema “Preservação de Corpos
D’água”. Por ser algo que se encontra correlacionado à vida de todo cidadão.
A escola pública precisa trabalhar arduamente para a formação do sujeito
consciente e desenvolver nele a responsabilidade socioambiental, já que o ensino
atual não consegue realizar com eficiência tal responsabilidade. Para facilitar este
trabalho, podemos ter como aliada a educação ambiental.
O ensino de Ciências no Paraná tem sofrido transformações para atingirem
as exigências de oportunizar ao educando o conhecimento científico de sua
realidade, sem aliená-lo do seu meio. Ademais, as Diretrizes Curriculares foram uma
das bases para tais transformações e discussões. As Diretrizes Curriculares
provocam o educador a fazer uso dos importantes conteúdos estruturantes, também
ajudam a organizar as disciplinas e a norteá-las, além de sugerirem suporte
pedagógico aos conteúdos específicos, sem deixar de lado o conhecimento empírico
do aluno e a partir desse construir o conhecimento científico (PARANÁ, 2008).
O trabalho no ensino de Ciências com o tema Educação ambiental,
relacionado com o tema “preservação dos corpos d’água”, nas séries finais do
ensino fundamental, é um grande desafio ao educador no que se refere à
contextualização com a aprendizagem significativa. Pois, mesmo sabendo que jogar
lixo no rio, poluir nascentes e degradar mananciais são ações ecologicamente
incorretas, as pessoas continuam fazendo. Isto significa que a educação ambiental
não se efetuou como deveria.
Portanto, há necessidade de que sejam revistas as práticas docentes para
que o processo torne-se mais atraente. A educação também precisa se efetivar
realmente, pois o trabalho do educador precisa ter conteúdo atraente, dinâmico e
deixar de lado certos métodos rotineiros. O educador precisa lançar mão de
métodos lúdicos, ou práticas fora da sala de aula. Essa é uma tarefa pela qual todos
podem se beneficiar, tanto pela diversão como pelo prazer de tornar a aprendizagem
menos dolorosa.
Segundo Chaguri (2006), a principal característica do lúdico são o prazer e o
esforço espontâneo. O aluno não se vê obrigado a nada, apenas a trabalhar de
forma nova, pois, o lúdico torna a atividade divertida e não uma obrigação. O lúdico
constitui em um grande recurso para o professor desenvolver a habilidade de
resolver problemas, favorecer a apropriação de conceitos e atender às
características da adolescência (CAMPOS, 2008). Todavia, de acordo com as
Diretrizes Curriculares de Ciências para o Ensino Fundamental do Paraná, o lúdico
deve ser considerado como estratégias de ensino, independente da série e da faixa
etária de educação. O importante é que tal prática esteja adaptada à linguagem do
aprendiz.
O lúdico se caracteriza pelo prazer e esforço espontâneo, o qual pode se
levar o aluno a refletir e explorar a realidade, cultivar as regras da sociedade,
interpretar o meio ambiente e sua relação com o ser humano. O professor, por sua
vez, deve ter claro quais objetivos pretende atingir com a atividade que vai
desenvolver. É preciso, no entanto, respeitar o nível de aprendizagem dos alunos, o
tempo que vai utilizar e o conteúdo que vai explorar ou rever.
Já o tema água é algo que nos remete à evolução tecnológica, à
modernização industrial e à incessante busca do ser humano para suprir suas
necessidades. Essas superam a capacidade de tolerância da natureza, já que o
homem impõe uma pressão cada vez maior sobre o ambiente e propicia a rápida
evolução dos problemas ambientais (SIMIONI, 2006).
Tais atitudes comportamentais aliadas aos surtos de urbanização são
contrárias à manutenção do equilíbrio ambiental, já que os recursos naturais são
renovados num ritmo mais lento do que são consumidos e também pela geração de
resíduos em quantidades maiores do que o ambiente pode suportar (FUNASA,
2010).
O desenvolvimento caótico das cidades e a maneira como se deu a
formação inadequada da maioria dos municípios atropelaram os modelos de
organização do território e gestão urbana. O resultado tem sido o surgimento de
cidades sem infraestrutura nem disponibilidade de serviços urbanos capazes de
comportar o crescimento provocado pelo contingente populacional (NEFUSSI;
LICCO, 2008).
A poluição das águas pode ocorrer de forma direta pelo lançamento
indiscriminado do lixo nos corpos receptores, ou ainda, de forma indireta, quando o
lixo reciclável é destinado incorretamente aos terrenos baldios e às ruas das
cidades. O lixo também se desloca até os rios através da ação das enxurradas
(RIBEIRO, 2002).
Muitas vezes a disponibilidade da água é tratada com interesses difusos. É
vista como algo óbvio, natural e a população não percebe que uma pequena ação
como o ato de jogar um objeto na rua ou córrego, multiplicado por várias pessoas
produz um drama social (DOWBOR; TAGNIN, 2005).
A água constitui um caso particular de recurso renovável. Qualquer que seja
seu uso, no final, ela é restituída ao ambiente, logo, retorna à sua origem. A
quantidade de água existente na natureza é constante: ela não se perde. Porém, sua
distribuição no tempo e no espaço pode ser alterada em função da periodicidade das
chuvas e de outros fenômenos que deformam o ciclo hidrológico normal (BRANCO,
1993).
A água que existe no Planeta circula por três reservatórios naturais que são:
a água dos oceanos, a água continental (constituída por rios, lagos e água
subterrânea) e a água da atmosfera que se encontra na forma de vapor, responsável
pela umidade do ar (que quando está muito baixa prejudica nosso sistema
respiratório e dificulta a respiração). Há também água das calotas polares, com
grande volume de água, além de formarem geleiras e icebergs. A circulação entre
esses reservatórios naturais é chamada de o ciclo da água.
Mas, a partir de alguns dados, podemos ressaltar que a contaminação das
águas naturais representa um dos principais riscos à saúde pública. Segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2000, apud SIMIONI, 2006),
cerca de cinquenta brasileiros morrem por dia devido a doenças hidrotransmissíveis,
decorrentes da falta de saneamento básico. Fica, portanto, evidente a estreita
relação entre a qualidade da água e inúmeras enfermidades que acometem as
populações, especialmente aquelas não atendidas por serviços de saneamento, fato
preocupante já que 52% dos municípios brasileiros não coletam nem tratam os
esgotos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, estimam-se que 80
milhões de pessoas se infectem anualmente em cem países, desses, 550.000
doentes necessitam de hospitalização e 20.000 morrem em consequência de
doenças.
As causas desse fenômeno são múltiplas, mas o intenso e rápido fluxo
migratório rural e urbano contribuiu decisivamente para essa situação. Verificou-se
que quase 70% dos casos confirmados de dengue no País se concentram em
municípios com mais de 50.000 habitantes, que, na sua grande maioria, fazem parte
de regiões metropolitanas ou de pólos de desenvolvimento econômico. Portanto, os
grandes centros urbanos, na maioria das vezes, são responsáveis pela dispersão do
vetor da doença para os municípios menores. Segundo o relatório de 2002, o custo
total do combate à dengue no Brasil foi de 1.033.837 551,04 reais. Nesse estão
inclusos o custeio, o capital, o pessoal e os recursos adicionais (FUNASA, 2010).
Afinal, quanto mais se desenvolvem nossas cidades, mais diversas são as
formas de contaminação das águas (suas fontes e reservatórios), como a disposição
de lixo de forma inadequada, ocupação irregular próxima às nascentes e aos rios,
esgotos domésticos, erosão, lançamento de resíduos industriais, desmatamentos,
falta de mata ciliar em rios e nascentes, abusos no consumo e marginalização dos
excluídos da sociedade de consumo. Todos provocam diversos problemas
socioambientais e tornam a vulnerabilidade desse recurso natural cada vez maior
(KUCHPIL, 2010).
2 Desenvolvimento
2.1 Local
Salto do Lontra é um município brasileiro do estado do Paraná. Sua área
total é atualmente, segundo o IPARDES, de aproximadamente 313 km². A parte
inserida nos limites do perímetro urbano totaliza aproximadamente 2,9 km². Isso
corresponde a aproximadamente 1 % do total do território municipal abrigando, em
2000, segundo dados do IBGE, a menor parte da população, 5.602 habitantes, 44%
do total do município. Observa-se, portanto, que o município conta com uma extensa
área rural, de 310,1 km² que representam os outros 99 % da área municipal total.
Em 2004, abrigava outros 56 % da população com 7.155 habitantes. Sua população
estimada era de 12.199 habitantes. Seu HID médio era de 0,76, enquanto o PIB foi
de 72.351,00, todavia, o PIB per capita era de 5992,00. Está a 500 Km de Curitiba e
a 630 km do porto de Paranaguá (SALTO DO LONTRA, 2012).
Figura 1 - Vista parcial da cidade de Salto do Lontra - PR
Fonte: Arquivo da prefeitura municipal de Salto do Lontra –PR
2.2 A Problemática
No município de Salto do Lontra - PR, a região tem muitos problemas em
relação à preservação e uso adequado da água, bem como há o risco de
racionamento com estiagens, devido à ocupação irregular de áreas que
comprometem nascentes, a ocupação da agricultura em morros, montes, os quais
dificultam o abastecimento dos lençóis freáticos de água consequentemente as
nascentes.
Porém, a realidade do município do Salto do Lontra – PR apresenta uma
face ainda tímida com relação aos avanços das leis, pois a população urbana de
Salto do Lontra é abastecida pelo Rio Lontra, o qual faz parte da Bacia do Rio
Iguaçu. O Rio Lontra tem a nascente na parte urbanizada da cidade de Nova
Esperança, com vários córregos que atravessam a cidade e deságuam no rio e
como toda cidade pequena e nova, não possui rede de tratamento de esgoto. O Rio
Lontra também passa por propriedades agrícolas e suinoculturas, com pouca ou até
mesmo sem mata ciliar em suas margens. Ao chegar ao Salto do Lontra, o rio passa
por uma parte urbana da cidade bem populosa, onde o descaso com a preservação,
descuido e contaminação são reais. Alguns moradores têm rede de esgoto
inadequada, que deságua em um dos córregos e esse, por sua vez, despeja suas
águas no rio.
Em nossa região a estiagem em algumas propriedades não causa tanto
transtorno, todavia, em outras ocorre o contrário. A pergunta é: qual o motivo da
diferença? Esse é um fato que deveria nos levar a uma reflexão contundente e
práticas efetivas.
A carência deste recurso, água, em nossa comunidade escolar também
ocorre em pequenas estiagens, pois o rio que abastece a escola com água potável
desenvolve em suas águas uma cor esverdeada. Contudo, de acordo com a
empresa fornecedora (SANEPAR), é motivado pelo acumulo de substâncias
orgânicas, cuja cor verde na água ocorre pela presença de algas na água e à
redução no fluxo hídrico, principalmente nas estações com baixo índice
pluviométrico. Para garantir a qualidade da água, a empresa se vê obrigada a
aumentar a quantidade de produtos para limpa-lá, cuja consequência é um gosto
forte de cloro na água.
Nessa época, várias campanhas se fazem necessárias no município, para
sensibilizar a população do uso adequado da água com o objetivo de evitar o
desperdício da mesma que, nem sempre, é levada a sério pela população local.
2.3 Metodologia
Para diagnosticar a problemática em questão, foi proposta uma entrevista
inicial feita com os alunos para o registro da compreensão sobre o tema. Nessa
entrevista inicial, foram observadas percepções dos alunos com relação à
preservação da água. Após a entrevista, os dados foram submetidos a uma análise
quali-quantitativa de acordo com Ludke e André (1986).
Nas entrevistas pré-testes, pode se verificar que, ao se referir à primeira
questão: qual a importância da água para o aluno? Os mesmos respondem que é de
suma importância para a sobrevivência e a existência de vida, portanto, trazem uma
concepção da importância da água para o ser humano. Todavia, na prática, alguns
alunos relatam demorar no chuveiro e, às vezes, esquecem a torneira aberta.
Quanto à questão sobre a qualidade da água na escola, o resultado foi o
seguinte:
Gráfico 1: Pesquisa - Qualidade da água na E. E.do Bairro Itaipu
Fonte: SILVA, 2011
O gráfico acima aponta que os alunos conhecem a qualidade da água da
escola que bebem e confirma o que se afirmava no projeto: que para melhorar a
qualidade da água fornecida pela SANEPAR, a mesma se vê obrigada a adicionar
mais cloro à água fornecida para a escola, porém, dentro das normas legais, pois
com estiagem, a vazão do rio diminui e o número de algas aumenta. Por
conseguinte, para evitar problemas pelo consumo de água contaminada, a
população sente o gosto forte de cloro.
A questão quatro demonstra que os alunos têm consciência de onde vem a
água que usam no consumo diário, assim como sua utilidade na escola em que
estudam. Eles estão cientes do tratamento que a água recebe. Já na quinta questão,
que se refere à degradação dos córregos próximos às suas casas, apenas um dos
córregos citados está preservado, livre do risco de contaminação. Há, portanto, a
necessidade de conscientização da população local sobre os riscos dos corpos
d’água que estão contaminados, para quem consome água dos rios.
Percebe-se que quando se pergunta o que se entende por contaminação da
água, a maioria entende o que é poluição. Portanto, foi trabalhada no transcorrer do
projeto uma questão objetivando trazer maior lucidez ao tema, através de debates,
fundamentação teórica e pesquisa de campo, de nascentes próximas a suas casas e
comunidade, para debatermos com a turma sua condição e assim foi esclarecida a
questão.
Quanto à questão seguinte: como podemos mostrar a importância da água
para as pessoas? O resultado é demonstrado no gráfico abaixo:
Gráfico 2: Pesquisa demonstrando a importância da água para a comunidade.
Fonte: SILVA, 2011
De acordo com os dados acima, há uma parcela de treze por cento que
parece ter perdido a esperança nas pessoas. Em contrapartida, trinta e sete por
cento dos entrevistados acreditam que o bom exemplo ajuda a chamar a atenção
quanto à importância da água para a vida. Uma pequena parte (6%) acredita que
com os erros, as pessoas aprendem, assim, os entrevistados defendem que as
pessoas precisam sofrer as consequências pela falta de zelo com as fontes de água.
Mas, a maioria (44%), acredita que a partir da educação pode se tentar
reverter o quadro da situação do descaso com o recurso natural que é a base da
vida no Planeta, a água. Portanto, esse foi um dos motivos que levou os alunos a
gostarem do curso e afirmarem que o mesmo deveria ser mais longo e que o tempo
foi adequado ao objetivo proposto, ou seja, a conscientização da preservação da
água.
Outra questão que me chamou atenção refere-se ao desperdício de água na
escola, conforme tabela abaixo:
% Consciente ou não Tipo de desperdício
56 % Sabem que tipo de desperdício
ocorre
Torneira aberta, defeito
em vasos sanitário
44% Não tem consciência da ocorre
algum tipo de desperdício
------------------------------
Tabela1: Resultado da pesquisa - causas de desperdício de água. Fonte: SILVA, 2011
De acordo com os dados, é necessário trabalhar a questão em foco, tanto
nas casas como nas escolas, para que todos tenham consciência dos tipos de
desperdícios que ocorrem ou venham a ocorrer, e assim podê-los evitar ou resolvê-
los. Também foi possível observar que outras disciplinas abordam a problemática
sobre a contaminação dos corpos d’água, pois a questão nove aborda isso e foram
citadas mais três disciplinas além de Ciências.
A partir deste pré-teste, foi possível abordar e direcionar o tema trabalhado.
A cada parte teórica trabalhada, uma prática era proposta, a fim de tornar o projeto
mais dinâmico e interessante. Este trabalho levanta a hipótese de que esse seja o
motivo de os alunos terem sempre se mostrado entusiasmados.
A fundamentação teórica teve boa aceitação e participação dos alunos. Isto
pode ter ocorrido pelo fato de terem recebido apostilas individuais e coloridas e de
fácil leitura. Além disso, o tema desperta o interesse da coletividade. As exposições
foram feitas com um data-show fornecido pela escola e com auxílio do pessoal da
secretaria da mesma.
2.4 Procedimentos (ações)
As ações foram realizadas após o término das aulas em dias alternados,
num período de três meses: de agosto a outubro de 2012. O tema trabalhado em
sala de aula era ajustado às práticas propostas e ao tempo. O conteúdo foi
planejado de acordo com a faixa etária e série e partindo da problemática das
comunidades que formam a escola e da própria escola.
2.4.1 Atividade – 1 - O Ciclo da Água
A primeira parte teórica da aula e as atividades abordam as localidades que
o Rio Lontra passa para chegar até as cidades. As vulnerabilidades, o ciclo da água,
os desperdícios que podem ocorrer, bem como o consumo foram discutidos.
Informações sobre os lugares impróprios para banho e o tratamento da água
também foram debatidos em classe, com o intuito despertar no aluno a consciência
de uma educação socioambiental sustentável.
Fez parte dos objetivos, levar o aluno a refletir sobre as fontes de água que
abastecem sua casa, comunidade e escola. Os alunos foram esclarecidos sobre os
riscos que o ser humano corre ao ingerir água contaminada e nadar em lugares
impróprios. Foi feita uma visita ao reservatório de água e, na ocasião, um grupo de
adolescentes foi surpreendido, pois nadavam no reservatório que abastece a cidade.
Esse exemplo foi usado em sala de aula a fim de questionar os alunos sobre tal
atitude, a qual foi condenada, já que todos bebem da água que é recolhida naquele
local.
No mesmo instante, o Conselho Tutelar foi acionado pelos funcionários para
resolver a questão e procurar os responsáveis pelos menores, que foram
reconhecidos.
Figura 2 – Maquete montada pelos alunos da E. E. do bairro Itaipu
Fonte: SILVA, 2011
Estratégia
Foram usadas as seguintes estratégias:
Pesquisou-se na internet sobre filtros de água potável e estações de
tratamento de água; criação em grupo de maquetes do filtro e da estação de
tratamento da água, as quais foram feitas pelos alunos e através delas, se percebeu
qual o melhor processo para o tratamento da água.
A partir daí, os alunos compreenderam o processo realizado para filtrar a
água em uma estação de tratamento.
Muitos alunos ficaram surpresos ao saberem que para a água chegar às
casas, há todo um processo de desinfecção e tratamento da mesma. Todo esse
processo tem um custo e demanda pessoal bem treinado, com controle rígido de
qualidade.
Ficou claro para os alunos que a água usada de poços e fontes, que não
tratada pela Companhia de abastecimento, deve ser clorada ou fervida. Nesta aula,
alguns alunos compreenderam que o que o pai jogava no poço era cloro, para a
proteção da família, pois não sabia e nem procurava entender o que estava sendo
jogado ali.
Figura 3 – Filtro de areia
Fonte: SILVA, 2011
2.4.2 Atividade 2 - Vulnerabilidades dos corpos d’água
Estratégia
A atividade foi realizada em dupla ou individualmente e as respostas eram
discutidas no grande grupo antes de formarem-se os painéis.
Os alunos (a) Identificaram as nascentes nos bairros e nos sítios onde
residem;
- Diagnosticaram seus respectivos estados de preservação;
- Registraram as informações através fotos: o estado das nascentes e rio que serve
para abastecer a cidade (pontos críticos);
- Realizaram um levantamento dos programas de preservação de nascentes rurais e
urbanas do município através de pesquisa de campo no sindicato dos agricultores,
em seguida, as pesquisas foram expostas ao grupo para debate. E com as palavras
– ambiente, água, vulnerabilidade, poluição, preservação, nascentes, rio,
consciência, cada grupo fez um texto a fim de alertar sobre os riscos que os corpos
d’água de Salto do Lontra correm, em forma de histórias em quadrinhos, que
fazem parte da montagem do painel exposto na escola.
Percebeu-se o encantamento dos alunos com esse projeto, pois as ‘aulas
diferentes’ eram legais. Expressão usada por eles, cujo resultado foi a fixação e a
conscientização sobre o tema.
Outra afirmação dos alunos referia-se a como o tema era iniciado, pois
sempre revisávamos o que já tínhamos trabalhado, somente então se dava
continuidade às novas informações. Assim ficava mais fácil de aprender, pois eles
não se ‘perdiam’.
Figura 4 – Histórias em quadrinhos
Fonte: SILVA, 2011
A segunda parte teórica juntamente com as atividades aborda a utilização
adequada da água na escola e residências onde é proposto o trabalho teórico.
Foram usados retroprojetor e data-show com intuito de despertar a atenção dos
alunos, além de problematizar o tema de forma que provocasse a participação do
aluno, levando-o a colocar sua opinião sobre o que estava em debate no grande
grupo, formado em forma de um C. Na ocasião, também foram incluídas notícias
locais e regionais, referentes ao tema em questão.
Estratégia
Propôs o debate de grupo formado por quatro pessoas e em seguida levar
as informações para o grande grupo que tiravam as devidas conclusões. A aula
finalizava com a intervenção do professor, o qual solicitou aos grupos a criação de
uma frase que melhor representasse o tema debatido, exposta em forma de painel.
2.4.3 Atividade 3 - Comparação quanto ao Consumo e Alerta para o
Desperdício:
Estratégia:
Visita à SANEPAR
Os alunos juntamente com o professor visitaram a companhia de
abastecimento local para conhecerem como a cidade é abastecida, a água é tratada
e sanar dúvidas.
Durante a visita, os alunos indagavam os funcionários da estação de
tratamento com perguntas que tinham fundamentos, e que esclareciam todo
processo. De volta à sala de aula, os debates ocorreram em grupos antes de
darmos continuidade às atividades.
No próximo encontro, os alunos trouxeram suas contas de água de até três
meses atrás a fim de serem selecionadas aquelas que podiam ter desperdícios, ou
seja, que estavam com valores elevados. As contas foram xerocadas e apagados os
nomes dos donos, pois o propósito era criar um debate em grupos de quatro alunos
para que depois o grande grupo analisasse a relação entre o valor pago por litro no
consumo normal e o valor pago por litro quando se gasta além da taxa. Foi proposta
a criação de uma lista de possíveis soluções, que ficasse exposta em sala de aula
junto com o desenho do ciclo da água e suas fases. As maquetes dos alunos quanto
às atividades anteriores foram reavaliadas para que fossem feitos os ajustes
necessários.
Figura 5: Foto da estação de tratamento de água.
Fonte: SILVA, 2011
Nesta atividade, vários alunos perceberam que desperdiçavam água em
casa, pois acreditavam que certas atitudes da família eram naturais. A partir daí
fizemos um acordo, que todos fossem fiscais em suas casas para evitar o
desperdício e alertar os familiares para tais atitudes. Durante o ano desta pesquisa,
eles trouxeram as contas de água para verificarmos se houve mudanças nos
resultados. Todos concordaram embora algumas famílias não tenham apresentado
sinais de desperdícios.
2.4.4 Atividade 4 - Jogo Caminho das Águas
Figura 6 - Jogo lúdico Caminho da Águas
Fonte: SILVA, 2011
Descrição do jogo
O jogo ‘Caminho das Águas’ apresenta um tabuleiro em que aparecem
intervalos com cores diversas. As cores servem apenas para deixar o jogo mais
atraente. As questões correspondiam às atitudes que contribuem para a
conservação da água, para informações sobre o uso da água e para as atitudes que
não contribuem para a conservação da água. Os alunos em grupo formulavam
frases e questões que formavam o tabuleiro e o professor, por sua vez, os auxiliava.
Todavia, ele tinha suas próprias questões prontas para poder intervir com mais
segurança sem dar as questões resolvidas após o tabuleiro está pronto para ler e
rever todas as questões. Os alunos expunham suas dúvidas para debate ou
esclarecimentos, antes de iniciar o jogo, e algumas questões eram ajustadas, assim
o tabuleiro era criado.
Ao jogar no tabuleiro, os alunos começaram entusiasmados, mas logo se
aborreceram. O motivo de tal desânimo foi investigado e a conclusão para isso foi a
de que os alunos já haviam participado da formulação das questões, logo eles
incorporaram o conteúdo, assim ficou muito rápido para acertar as questões e
chegar ao término do jogo. O mesmo ocorreu com o segundo jogo criado por eles.
2.4.5 Atividade 5 - Educação Ambiental e as Relações entre Pessoas,
Sociedade e Meio Ambiente
Esta atividade, como nas demais, teve a parte teórica, cujo apoio foi o texto
da Carta da Terra, cujo prelúdio encanta com suas frases de alerta e outros trechos
da mesma em que foram debatidas em grupo, sempre problematizando e
questionando o grupo.
Não se usou toda a carta por ser extensa e isto faria com que o aluno
ficasse disperso. O uso dos três ERRES (3R) também foi questionado. A partir de
então, construiu-se o jogo da verdade, a fim de sensibilizar os alunos sobre a
questão da escassez da água, assim como os demais recursos naturais, os quais
são um bem comum.
Os alunos foram alertados sobre o aumento do consumo, seja pelo
desperdício ou uso de forma irracional e mudanças climáticas. Tais fatos geram uma
preocupação universal com a possibilidade da escassez dos recursos naturais
disponíveis às diversas populações e futuras gerações. Essas atividades
objetivavam desenvolver no aluno senso crítico e raciocínio lógico a fim de torná-lo
mais autônomo em relação ao ato de estudar e pesquisar em busca da construção
do conhecimento.
Após estudarem a parte teórica, os alunos criaram o ‘Jogo da Verdade’, que
é formado por questões afirmativas elaboradas pelos alunos, as quais foram
retiradas dos textos após terem sido estudados e debatidos.
Cada questão tinha duas alternativas (certo e errado). O aluno escolhia uma
e depois eram criadas vinte questões em grupos pequenos, que eram levadas ao
grande grupo. A partir dessas questões, formavam-se as questões definitivas do
jogo. O professor poderia levá-las para casa e reorganizá-las.
O trabalho feito pelos alunos foi considerado uma avaliação colada em papel
cartaz com duas cores diferentes para cada dez questões. Em seguida, foi criada
uma ficha para cada grupo com duas colunas onde ficavam as questões: dez em
cada lado, com certo e errado, além disso, cada grupo tinha uma cor.
O comprometimento socioambiental do aluno, a existência de regras, o
trabalho em grupo também foram trabalhados com esse jogo. Assim, foi possível
promover algumas mudanças de atitude dos alunos em relação às questões
ambientais e no ambiente pessoal (casa e escola) no dia-a-dia.
Pôde-se registrar que após o projeto, sempre que os alunos percebiam uma
torneira pingando na escola avisavam ou fechavam. O mesmo ocorreu com os
vazamentos nas caixas de descargas, comuns na escola em estudo.
Ao final das oficinas uma nova entrevista foi feita em relação à
vulnerabilidade da água do município, com o objetivo de verificar se houve
mudanças nas atitudes dos alunos e na visão desses em relação à preservação da
água.
Na entrevista (pós-teste) com os alunos, observaram-se alguns resultados
quanto à aplicação do projeto. Os exemplos seguem abaixo:
Quando se pergunta se o curso contribuiu para sua vida escolar, cem por
cento deles afirmam que sim. Os mesmos afirmam que foi de fácil entendimento,
pois todos gostaram do material usado e construído durante o curso.
Ressalta-se que para o professor, o tempo usado para realização do curso
foi muito longo, porém, para cinquenta por cento dos alunos, tais aulas poderiam se
estender mais.
Quando se pergunta sobre a parte mais importante do curso os alunos
citam: o tema trabalhado, visitas e entrevistas, e principalmente os jogos lúdicos
criados com eles. Ai se percebe que o ensino de Ciências está carente de atividades
práticas que venham a instrumentalizar e tirar da mesmice as práticas de Ciências
em sala de aula.
Quando a questão se refere à mudança que o curso pode proporcionar para
a família de quem participou, cem por cento afirmam: ‘o melhor uso da água e da
energia elétrica, já que nos debates em grupo esta questão também entrou em
pauta durante o curso’.
Ao se finalizar o pré-teste, indagou-se sobre o que acharam do curso e as
respostas foram as seguintes:
% Respostas
70 O curso foi bom
20 Gostaria de participar de outro, caso houvesse
10 Afirmam que faltou uma visita uma usina hidrelétrica
Tabela 2 – Avaliação da implementação Fonte: SILVA, 2011
Baseados nestas afirmações, acreditamos ter sido muito válido e bem
aproveitado o curso, A Vulnerabilidade da Água, dados aos alunos.
Ao final do projeto, todos os alunos receberam um certificado de
participação, o qual foi rubricado pela diretora, pedagoga e professor do projeto e o
receberam em uma solenidade realizada ao término das aulas.
Figura 7 – Modelo de certificado recebido pelos alunos participantes do projeto
Fonte: SILVA, 2011
Considerações Finais
A associação teórica e pratica, aplicada de forma investigativa, “provocante”,
foi eficiente na busca por um raciocínio lógico e investigativo. Ela também dinamizou
as atividades simultâneas, o uso de um material bem atraente, colorido e de fácil
entendimento. Uma roupa que prendesse a atenção dos alunos, assim, ela ajudou
muito no ensino e aprendizado dos alunos, demonstrando se possível, de acordo
com o projeto realizado.
Para que o projeto tivesse possibilidade de atingir o objetivo almejado, o
professor precisa de muita leitura teórica e pesquisar sobre o tema a ser
desenvolvido. Assim como realizar com antecedência todas as atividades práticas,
que vão desde os jogos, maquetes, entrevistas e visitas. É importante pensar em
possíveis problemas e obstáculos para que o professor não se sinta despreparado e
tenha que improvisar tanto ou não demonstre domínio, pois assim poderá perceber o
grau de dificuldade proposto aos alunos e repensar todo o processo a ser realizado.
O grupo também deve ser levado em conta, pois um grande número de
alunos pode não ser viável, pois em visitas e pesquisa de campo isto pode ser tornar
difícil. O mesmo pode ocorrer com as construções de jogos, maquetes e debates,
pois todos devem opinar. Assim, o professor tem uma visão mais ampla do
pensamento de todos bem como sobre a realidade de cada aluno.
A aplicação desse projeto me entusiasmou a aplicar tal atividade em outras
séries, com outros temas, mas, em turmas pequenas. O resultado foi surpreendente,
pois minhas aulas tornaram-se ‘diferentes’ e mais atraentes. Eu mesmo me
entusiasmei e percebi que vale a pena usar a prática em sala de aula bem como
problematizar e tornar o tema mais investigativo.
Percebi também que o relacionamento com os chamados alunos ‘difíceis’
melhorou, portanto, acredito que este curso foi válido tanto para meus alunos como
para mim, que perdi o receio de inovar e do ‘diferente’.
Referências Bibliográficas
BRANCO. S. M. Água, Origem, Uso e Preservação. 3 ed.1993, São Paulo: Moderna,1993.
CANTO, E. L. do, Ciências Naturais- Aprendendo com o cotidiano. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2009.
CHAGURI, J. P. O uso de atividades lúdicas no processo de ensino/aprendizagem de espanhol como língua estrangeira para aprendizes brasileiros. 2006. Disponível em: Acesso: 04/jun/2008.
DOWBOR, L; TAGNIN, R. A. Administrando a água como se fosse importante: gestão ambiental e sustentabilidade. São Paulo. Ed. SENAC, 2005. FUNASA, Manual de Saneamento. Disponível em: . Acesso em 28/set/2010
NEFUSSI, N; LICCO E. Solo Urbano e Meio Ambiente, 2008. Disponível em . Acesso em 01/mar/2011.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Ciências. Curitiba: SEED, 2008.
SALTO DO LONTRA. Prefeitura Municipal. Disponível em: . Acesso em 26/abr/2012
SILVA, Marcos da. Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola. Salto do Lontra (PR), 2011
RIBEIRO, L. Vulnerabilidade de Aquíferos Costeiros e risco de contaminação. In: Anais do XII Congresso Brasileiro de águas Subterrâneas.
KUCHPIL, N. M.S. Intervenção Pedagógica no ensino de Ciências, no Colégio Estadual Polivalente - Apucarana, PR: “água da Vida”. Secretaria de Estado da Educação – SEED. Disponível: < http://www.pde.pr.gov.br> Acesso em 08/out/2010.
SIMIONI, R. L. Direito Ambiental e sustentável: o problema e as possibilidades de comunicação intersistêmica e seus impactos jurídicos: o planejamento jurídico da sustentabilidade, Curitiba: Juruá, 2006.
Página em branco