Post on 25-Jul-2015
UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO
UNAERP
Curso de Psicologia
Nome: Bruna Pimenta do Patrocínio Código: 799452
Adoção Tardia: Estudo bibliográfico sobre a expectativa de crianças e adolescentes ainda institucionalizados sobre
adoção.
Monografia III
Profª. Luzia Del Vechio
Ribeirão Preto
2012
UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO
UNAERP
Curso de Psicologia
Bruna Pimenta do Patrocínio
Adoção Tardia: Estudo bibliográfico sobre a expectativa de crianças e adolescentes ainda institucionalizados sobre
adoção.
Ribeirão Preto
2012
Monografia apresentada como parte das exigências do curso de Psicologia para obtenção do grau de bacharel Psicólogo. Orientadora:Profª Luzia Del Vechio
Ficha catalográfica preparada pelo Centro de Processamento Técnico da Biblioteca Central da UNAERP
- Universidade de Ribeirão Preto -
Patrocínio, Bruna Pimenta, 1991 -.
P314a Adoção tardia: estudo biográfico sobre a expectativa de
C crianças e adolescentes anda institucionalizados sobre adoção /
Bruna Pimenta Patrocínio. - - Ribeirão Preto, 2012.
44 f.: il. color.
Orientadora: Prof.ª Me. Luzia Del Vecchio Bernardes.
UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO CURSO DE PSICOLOGIA
O presente trabalho foi examinado nesta data, pela banca examinadora composta dos seguintes membros: ___________________________________________________________________
Orientadora: Profa. Luzia Del Vechio Bernardes
___________________________________________________________________ Docente indicada: Profa. Lilían de Almeida Guimarães
Média:_________________
Aos meus pais e a minha família pelo carinho e apoio constante que permitiu que eu chegasse até aqui.
Aos amigos que sempre estiveram comigo, nos bons e nos maus momentos, estando longe ou perto.
Obrigada.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pela oportunidade de estar viva e seguir em
frente para realizar meus sonhos.
Aos meus pais e familiares, que sempre estiveram do meu lado, apoiando e
incentivando meus estudos. Obrigada a todos.
Aos meus amigos pela companhia e todos os momentos que vivemos juntos
durante esses cinco anos de curso, não sei como teria sido sem vocês. Espero que
sejamos amigos sempre.
Á minha orientadora que me ajudou no desenvolvimento deste trabalho.
Obrigada.
Á professora Lilian de Almeida Guimarães, pelo trabalho desenvolvido na
área jurídica do curso de Psicologia, que me ajudou a descobrir uma área de grande
interesse profissional. Meu muito obrigada.
E agradeço a todos que de alguma maneira estiveram presentes em algum
momento da minha vida, que contribuíram de alguma forma para ser que eu sou
hoje. Obrigada.
“Eu quero ser Igual e nada mais
Poder pedir um presente no natal Soprar velinhas no meu aniversário
Realizar os meus sonhos Conhecer os reis magos
Eu quero ver um mundo de verdade (de verdade) Onde as crianças aprendam a jogar (a jogar)
Ir a praça (ir a praça) Brincar no tobogã (no tobogã)
Chegar na praia e conhecer o mar
Eu quero um carinho Não ter mais que chorar
Por que ninguém me quer? Eu quero ser normal!
Assim como as novelas que vejo na tv Com um final feliz Eu quero ser igual
Quero cruzar o céu num avião (num avião) Ver as estrelas, chegar perto do sol (do sol)
Sentir que o vento ensina a voar E atrás de uma nuvem a Deus, vou encontrar
Quero um carinho Não ter mais que chorar
Por que ninguém me quer? Eu quero ser normal!
Assim como as novelas que vejo na tv Com um final feliz Eu quero ser igual
Eu quero um carinho Não ter mais que chorar
Por que ninguém me quer? Eu quero ser normal!
Assim como as novelas que vejo na tv Com um final feliz
Eu quero ser igual”
(Igual aos demais – Chiquititas - Compositora: Cristina de Glácomi)
RESUMO
Adoção tardia é o termo utilizado para caracterizar a adoção de crianças maiores de 24 meses. Enquanto os pretendentes a pais adotivos esperam por uma criança de até três anos, branca, de preferência do sexo feminino e sem irmãos, a realidade dos abrigos é bem diferente, são crianças mais velhas, negras e pardas e com grupos de irmãos. Este trabalho teve por objetivo investigar as perspectivas de crianças e adolescentes que ainda vivem em instituições de acolhimento sobre a adoção. O trabalho foi desenvolvido a partir de uma revisão de materiais bibliográficos e vídeos disponíveis por meios eletrônicos. Durante o desenvolvimento deste trabalho pode-se observar que o perfil de criança desejado pelos pretendentes á adoção no Brasil, é muito diferente da realidade encontrada nos abrigos brasileiros. A pesquisa proporcionou descobrir que os brasileiros têm receio de adotar crianças mais velhas por conta da crença da dificuldade de estabelecer vínculos com a criança que já vem com uma história de vida, geralmente com problemas de abandono e violência. Também pode-se observar que quando se esgota a possibilidade da mesma ser adotada no Brasil, essa criança ou adolescente poderá ser adotada por uma família estrangeira, que segundo pesquisas são famílias mais dispostas a aceitar o perfil das crianças acolhidas no Brasil.
Palavras-Chave: Adoção Tardia. Crianças e Adolescentes. Acolhimento institucional. Perspectivas das Crianças.
ABSTRACT
Adoption late is the term used to characterize the adoption of children over 24 months. While the suitors to adoptive parents waiting for a child up to three years old, white, preferably female and without brothers, the reality of shelters is quite different, are older children, black and mulatto and with groups of brothers. This work aimed to investigate the prospects of children and adolescents who are still living in host institutions on the adoption. The work was developed from a review of bibliographic materials and videos available through electronic means. During the development of this work can be seen that the profile of child desired by suitors to adoption in Brazil is very different of the reality found in the shelters brazilians. The research provided discover that Brazilians are afraid to adopt older children on account of the belief of the difficulty to establish bonds with the child that already comes with a story of life, usually with abandonment problems and violence. You can also observe that when it exhausts the possibility of the same be adopted in Brazil, this child or adolescent may be adopted by a foreign family, that according to surveys are families more willing to accept the profile of children in Brazil.
Keywords: Late Adoption. Children and Adolescents. Institutional care. Perspectives of Children.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 9
2. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................................... 10
2.1 HISTÓRIA DA ADOÇÃO ........................................................................................................ 10
2.2 PERFIL E MOTIVAÇÃO DOS ADOTANTES ...................................................................... 14
2.3 ADOÇÃO TARDIA ................................................................................................................... 17
2.4 ADOÇÃO INTERNACIONAL – ESPERANÇA PARA NOSSAS CRIANÇAS ................. 23
2.5 A ADOÇÃO PELO OLHAR DAS CRIANÇAS ..................................................................... 25
3. OBJETIVOS ................................................................................................................................ 28
4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................................ 29
4.1 MATERIAL OU INSTRUMENTOS ................................................................................... 29
4.2 PROCEDIMENTO .............................................................................................................. 29
5. DISCUSSÃO ............................................................................................................................... 30
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 34
7. REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 36
9
1. INTRODUÇÃO
Adoção tardia é o termo utilizado para identificar adoções de crianças com
mais de 24 meses. A cada dia que passa a cultura de adoção se modifica, se antes
apenas crianças de até dois anos de idade eram consideradas “adotáveis” e vistas
como a preferência dos adotantes, hoje podemos perceber que os perfis solicitados
começam a assumir uma nova forma. Candidatos a pais adotivos que antes tinham
receios em adotar crianças mais velhas devido ao medo de não se adaptarem e de
não criarem um vínculo entre eles, começam a ver a adoção de crianças maiores
com outros olhares (CAMARGO, 2005; EBRAHIM, 2007). A adoção tardia começa a
ser vista como uma nova oportunidade para que crianças e adolescentes encontrem
uma nova família e esta percebe que o vinculo e o amor podem ser construídos
pouco a pouco.
De acordo com o que foi pesquisado, pode-se perceber que geralmente os
casais que estão á espera de um filho na fila de adoção, são casais que apresentam
dificuldades para terem filhos biológicos, porém essa necessidade de ter um filho,
não é apenas um fator biológico notando-se também uma necessidade psicológica,
o fato de não ter um filho, pode gerar no casal um estado de depressão, e através
da adoção o casal acaba revivendo fantasias e expectativas de vida (COSTA, 1992
apud NASCIMENTO, et al, 2006).
Na busca por pesquisas sobre adoção tardia, foram encontrados poucos
materiais com o tema aqui proposto. Neste trabalho buscou-se entender a maneira
que, as crianças e adolescentes que ainda estão institucionalizados, vêem a adoção.
10
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 HISTÓRIA DA ADOÇÃO
“As crianças têm mais necessidade de modelos do que de críticas”. Joseph Joubert
O termo adoção é inserido em nossa sociedade desde a antiguidade. Costa e
Rossetti-Ferreira (2007) mostram que civilizações como do Egito, da India, China,
Grécia e de Roma sempre mostraram algum tipo de regulamentação de situações
de adoção. Sendo que a mais antiga está presente no Código de Hammurabi (2800
a.C.)
Na psicanálise, por exemplo, podemos citar o caso de Édipo que depois de
ser abandonado pelos pais e condenado a morte, foi encontrado por pastores e
adotado pelo rei de Corinto, Pólibo que era casado com a rainha Peribéia e que não
podiam ter filhos (Brandão, 1987 apud Silva, Jaqueline Araújo da, 2009).
Vargas (1998), ainda mostra que a qualidade de adotado também é
encontrada em diversas situações, como na mitologia grega no caso de Hércules
filho de Zeus que foi abandonado pela mãe Alcmena, os gêmeos Rômulo e Remo
fundadores de Roma. No campo da religião pode-se citar Moisés que foi adotado
pela filha do faraó e criado como membro da corte egípcia. E na literatura infantil
ainda encontra-se o caso do herói Super-Homem que foi abandonado pelos pais
biológicos e adotado por um casal estéril. A autora ainda cita o caso do desenho da
Walt Disney “Rei Leão” onde o personagem principal perde os pais e é criado por
animais diferentes de si, recebendo apoio e cuidados necessários para se
desenvolver em família.
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No Brasil a história da adoção começa a partir do século XX, sendo tratado
pela primeira vez em 1916 pelo Código Civil Brasileiro, e aprovado em 1957 por leis
que estabelecem o Código Brasileiro de Menores (Moraes, 2007).
Saldanha (2010) mostra que em 1924 foi criado o primeiro documento
internacional sobre os direitos da criança e do adolescente, a “Declaração de
Genebra”, que procurava assegurar estes direitos. A autora ainda diz que em 1927
foi promulgado o Código de Menores, conhecido como Código Mello Mattos, onde o
primeiro artigo já definia para quem a lei se aplicava:
O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinqüente, que tiver menos de 18 annos de idade, será submettido pela autoridade competente ás medidas de assistência e protecção contidas neste Codigo. (grafia original) Código de Menores – Decreto n. 17.943 A – de 12 de outubro de 1927.
De acordo Vargas (1998), a lei 6.697/1979 do Código de Menores introduz a
adoção plena em substituição à legitimação adotiva, expressamente revogada,
admitindo, também, a adoção simples, regulada pelo Código Civil. A autora ainda diz
que o Código de Menores era destinado á proteção dos menores de até dezoito
anos que se encontravam em “situação irregular”. De acordo com Costa (1993, apud
Vargas 1998) esses menores foram agrupados como crianças e adolescentes (1)
desprovidos de meios para satisfação de suas necessidades básicas (carentes); (2)
privados de qualquer tipo de assistência familiar (abandonados) e (3) em conflito
com a lei em razão de cometimento de delito (infratores).
Em 13 de julho de 1990 ocorre a promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei 8.069/90), sendo este um documento que contempla o que há de
mais avançado a nível internacional em respeito aos direitos das crianças e
adolescentes. O Estatuto se divide em dois livros: o primeiro trata da proteção dos
direitos fundamentais da pessoa em desenvolvimento, e o segundo trata dos órgãos
e procedimentos protetivos. (Saldanha,2010).
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), artigo 19:
Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de sua família, ou, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.
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Segundo Camargo (2005), boa parte das crianças abandonadas no Brasil
crescem e se “educam” dentro de instituições. Poucas privilegiadas são adotadas.
Porém grande parte desses excluídos pelo sistema, ainda vivem nas ruas.
A adoção, na antiguidade, exercia o simples papel de continuidade familiar,
dando uma imagem de que a adoção é um processo que visa exclusivamente os
interesses dos adotantes. Mas hoje, poderia se pensar em adoção como um
procedimento para “dar pais a quem não os têm, do que em dar filhos a quem não
os têm” (WEBER, 1996).
Camargo (2005) diz que atualmente o tema adoção tem trazido algumas
preocupações que se inserem em um contexto tridimensional:
1) o compromisso assumido com todas as crianças e adolescentes do Brasil e oficializado com a promulgação da Lei 8.069, em 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em especial os que se encontram em situação de abandono e, portanto, fora do convívio familiar; 2) a necessidade de se construir uma nova cultura da adoção, liberta dos entraves paradigmáticos que historicamente se opõem a uma postura de maior flexibilidade e aceitação da adoção na família brasileira, dificultando a práxis legal e contribuindo para a solidificação de uma tendência nacional, ou seja, a de que criança abandonada no Brasil tem um destino traçado: a instituição ou a rua; 3) refere-se à possibilidade de fortes, necessárias e urgentes contribuições da ciência psicológica em relação à adoção, uma vez que por meio da pesquisa e da produção científica fomenta-se a construção e instalação de uma outra cultura.
Vargas (1998) ainda diz que:
as mudanças introduzidas pelo ECA colocam a sociedade brasileira diante de um novo paradigma em relação à ótica e aos modos de ação quando se trata de Infância e Juventude. A Carta Constitucional, tanto como o Estatuto, traz avanços fundamentais quando passa a considerar a criança e o adolescente 1) sujeitos de direito; 2) pessoas em condições peculiares de desenvolvimento; e 3) de prioridade absoluta.
Em sua pesquisa, Weber (1996) divide as crianças aptas para adoção em
dois grupos, o de crianças “adotáveis” e “não-adotáveis”, sendo o primeiro composto
por aquelas que mais interessam os casais, cujo perfil é: criança saudável (76%),
recém-nascidas (69% - crianças até 3 meses), do sexo feminino (60%) e de pele
clara (64% - crianças brancas). Já no segundo grupo, estão as crianças que não são
tão procuradas pelos pretendentes á adoção: 16,66% são adotadas com a idade
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média de 2 anos; 36% das crianças são de cor negra ou parda e 23,15% são
adotadas mediante a presença de alguma deficiência ou problema de saúde.
Em uma reportagem exibida em 2008 pelo Jornal Hoje da Rede Globo, Lima e
Palhano (2008b) mostram que metade das crianças que vivem nos abrigos recebe
visita dos familiares, mas afirmam que as chances delas voltarem para casa é muito
difícil. A repórter mostra que dessas crianças, 18,8% foram abandonadas, 11,6%
sofreram maus tratos físicos e psicológicos, 11,3% eram filhos de dependentes
químicos, 3,3% sofreram abuso sexual dos pais e 24% foram abrigados por causa
da pobreza.
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2.2 PERFIL E MOTIVAÇÃO DOS ADOTANTES
“A melhor maneira de tornar as crianças boas é torná-las felizes.” Oscar Wilde. “Só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a”. Johann Goethe
Segundo a pesquisa realizada por Weber (1996), 91% dos adotantes são
casados e têm em média 40 anos. Sendo que 55% não possuem filhos biológicos. A
maior parte dos pretendentes á adoção pertence a classes sociais de melhores
condições econômicas e realizam o processo de adoção conforme os trâmites
legais.
De acordo com Souza (2011), segundo o cadastro do CNJ – Conselho
Nacional de Justiça - o perfil exigido pelos pretendentes é o grande problema para a
adoção das crianças. Segundo o cadastro 10.173 pretendentes afirmaram aceitar
apenas crianças brancas, 1.537 apenas crianças pardas e apenas 585 aceitaram
receber apenas crianças negras. 9.137 pretendentes se manifestaram indiferentes á
raça da criança. Os pretendentes também deixaram claro o desinteresse em adotar
crianças com irmãos, sendo que 22.702 manifestaram o desejo por apenas uma
criança e apenas 4.461 se interessaram em adotar até duas crianças.
O levantamento mais recente realizado pelo CNJ em maio de 2012 e
publicado por Souza (2012), mostra que existem 28.041 pretendentes á adoção em
todo país. Segundo o levantamento, 5.240 crianças estão aptas para adoção no
Brasil, sendo que 45,92 % são pardas, 33,8% brancas e 19,06% negras. Destas,
77,16% possuem irmãos, sendo que 35,99% deles também estão inscritos no
Cadastro Nacional de Adoção, mas apenas 18,08% dos pretendentes estão
dispostos a adotar irmãos. Com relação á raça, 90,91% se interessa em adotar
crianças brancas, 61,87% em adotar crianças pardas e 34,99% crianças negras. O
levantamento ainda mostra que 33,04% dos pretendentes querem adotar meninas,
sendo que 76,01% dos interessados esperam por crianças com até três anos.
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Segundo pesquisa realizada por Casellato (1998 apud Camargo, 2005) as
expectativas e motivações dos pretendentes á adoção são: impossibilidade de ter os
próprios filhos (29%); desejo de ajudar uma criança (16,34%), já desejavam adotar
uma criança (9,80%), adotaram porque a “criança apareceu” (6,54%), eram filhos de
parentes (5,88%) e sentimentos de solidão, compaixão e afeição pela criança
(9,71%); dessa pesquisa também pode-se descobrir que 3,27% dos pretendentes
somente adotaram depois da morte de um filho natural e 2,61% optaram pela
adoção porque assim puderam escolher o sexo da criança. Dessa forma, Camargo
(2005) conclui que:
Observando os resultados da pesquisa é possível concluir que por detrás das expectativas e motivações dos adotantes está o desejo de satisfação de interesses próprios, ou seja, para a maioria dos adotantes, a adoção resolve um problema, preenche uma lacuna e contribui para a resolução de um luto: o desejo de aumentar o número de filhos, de fazer caridade, de solucionar
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problemas conjugais, de encontrar companhia, possibilidade de realização procriativa (no caso da esterilidade/infertilidade de alguns casais), complementar a identidade pessoal, evitar discriminação social (por não ter tido filhos naturais), substituir um filho que se perdeu, etc.
Vargas (1998) também mostra que os motivos que levam à adoção,
aparecem na maioria dos casos, como uma forma de substituição, sendo o filho
adotivo usado para ocupar o lugar do filho biológico ou pela reparação da culpa pela
esterilidade.
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2.3 ADOÇÃO TARDIA
“ Não devemos moldar os filhos de acordo com os nossos sentimentos; devemos tê-los e amá-los do modo como nos foram dados por Deus”. Johann Goethe
A adoção é um termo muito discutido, sendo a adoção tardia ou adoção de
crianças maiores um tema muito complexo assim como apontadas em algumas
pesquisas (Weber & Cornélio, 1995; Weber & Gagno, 1995 apud Ebrahim, 2001).
De acordo com Weber (1996), o perfil de criança mais solicitada pelos
pretendentes à adoção é a criança de até 24 meses, de preferência recém-nascida,
saudável, de pele clara, geralmente do sexo feminino e sem irmãos. Mas na
realidade a maioria das crianças aptas á adoção não se encaixam neste perfil,
geralmente são meninos com mais de cinco anos, pardos e/ou negros e com irmãos.
Outro dado apontado na pesquisa realizada por Weber (1996) é que o
número de adoções tardias é menor do que a adoção de crianças deficientes e com
problemas de saúde.
Ebrahim (2001) aponta em seu trabalho, algumas pesquisas (Weber, Gagno,
Cornélio & Silva,1994; Weber & Cornélio, 1995; Weber & Gagno, 1995) que
mostram que a população ainda apresenta alguns preconceitos em relação á
adoção tardia, sendo eles:
a) o medo de adotar crianças mais velhas pela dificuldade na educação; b) o receio de adotar crianças institucionalizadas pelos maus hábitos que trariam; c) as crianças que não sabem que são adotivas têm menos problemas, por isso deve-se adotar bebês e esconder deles a verdade, imitando uma família biológica.
Quando pesquisamos sobre adoção de crianças maiores, os temas
geralmente giram em torno de pesquisas sobre o perfil das crianças e dos
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adotantes, também sobre a visão dos pais adotivos sobre a adoção tardia e a visão
de crianças e adolescentes que já estão inseridos em uma nova família.
Quando se adota uma criança mais velha, os novos pais recebem uma
criança que muitas vezes já compreende sua situação e conhece sua origem. Esta
criança pode ter sofrido violência, agressão, negligência e provavelmente já passou
por uma ruptura emocional muito severa quando separada da família. Oscar (2007)
diz que “os pais temem que a criança não esqueça a família biológica e que venha
problemática”.
Ferreyra (1994, pag. 142 apud Weber, 1998) diz que existem diversos
motivos para que os pais adotem um bebê:
Em primeiro lugar, os casais manifestam que querem viver todas as experiências do filho, desde “as primeiras fraldas e mamadeiras”. Em segundo lugar, existe uma série de receios com relação à adoção de crianças maiores, que se manifestam medos: das seqüelas psicológicas deixadas pelo abandono e institucionalização; das influências provocadas pelo ambiente de origem; das dificuldades de adaptação; de que a criança guarde ressentimentos; que traga maus costumes; de que as lembranças da família, que pode ter tido antes, não deixem criar novos vínculos familiares.
Ferreyra (1994, pág. 142 apud Souza, 2008) ainda conclui que “Na adoção de
crianças maiores, lidaremos com “conflitos”, e como em todo conflito existem
problemas de “vinculos”, sua resolução consistirá em criar “novas estruturas
vinculares.”
Segundo Bowlby (1988, apud Bento, Rilma, 2008), “quanto maior for o intervalo
entre a separação da mãe natural e a inserção em família substituta, maior será o
estado de privação afetiva [...]”. O desenvolvimento da criança, também ficará
comprometido, assim como observado por Weber (1998):
O desenvolvimento de uma pessoa é severamente prejudicado num ambiente institucional, onde imperam a falta de identidade e a disciplina massificadora. O abandono sofrido pelas crianças e adolescentes institucionalizados leva ao sentimento de rejeição, baixa auto-estima e expectativas de futuro negativas.
Segundo Souza (2008), a longa espera por um filho faz com que casais que já
estão cansados de esperar aceitem receber uma criança mais velha, o que pode
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causar alguns problemas e dificuldades, por antes esperarem por um bebê e agora
estarem adotando uma criança maior ou adolescente. Ainda existem os casos dos
grupos de irmãos que geralmente crescem institucionalizados por nem sempre
aparecerem pretendentes dispostos a adotar todos juntos, o que é obrigatório
segundo a nova Lei de Adoção (Lei n.º 12.010/09) como citado no artigo 28
parágrafo 4 do Estatuto da Criança e do Adolescente:
Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais.
De acordo com trabalho desenvolvido por Almeida, Maehara e Rossetti-
Ferreira (2011), pode-se perceber que o relacionamento entre os irmãos ajuda no
desenvolvimento das crianças que estão acolhidas institucionalmente, apesar de
depender da maneira como for organizada no funcionamento dos abrigos.
Souza (2008) ainda diz que independente de como seja, é necessário que os
pretendentes á adoção de crianças com mais de dois anos passem por uma
adaptação, período de aproximação e convivência, pois a criança ou adolescente
pode apresentar baixa auto-estima por ainda não haver sido adotada.
Andrei (2001, apud Dias, Silva, Fonseca, 2008) classifica as crianças
disponíveis para adoção em quatro grupos, o primeiro se refere á crianças de dois a
seis anos, que são aquelas que possuem grande disponibilidade para receber amor,
levando a uma adaptação mais fácil; o segundo grupo se refere á crianças de sete a
dez anos, que são aquelas que já construíram e desconstruíram esperanças,
necessitam de muito amor e disponibilidade dos pais para enfrentar a revolta e
reconstruir caminhos; o terceiro grupo é constituído pelos pré-adolescentes entre
onze e quatorze anos, que até sonham, mas não tem esperanças, pois já
vivenciaram anos de rejeição, sua adaptação depende de responsabilidade e lucidez
dos pais para compreender seus problemas e ajudá-los a elaborar o passado; e
finalmente, o quarto grupo é formado pelos adolescentes que tem entre quinze e
dezoito anos, sendo este um grupo marcado pelas dificuldades de uma infância
abandonada, além das características próprias da idade.
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Andrei (2001, apud Dias, Silva, Fonseca, 2008) ainda diz que existem
diferentes fases que marcam a inserção da criança adotada na família:
[...] a primeira é a do encantamento, onde a criança se sente feliz por ter sido escolhida e tem idéias fantasiosas sobre família, e os pais, por sua vez, estão encantados com ela. O segundo momento é o da raiva e decepção, assinalado pela busca de "marcar território", onde a criança vai exercitar o direito de dizer "não" que lhe fora até então negado. O terceiro momento é da compreensão quando ela se sente disposta a refazer sua vida e pode mesmo regredir, em busca de si mesma. Finalmente, a quarta fase é a do "insight amoroso" no qual ambos, pais e filho, realmente se adotam.
Souza (2008), diz que: “Educar uma criança recebida com mais idade é como
arrumar pedras irregulares – quadradas e redondas, grandes e pequenas – em uma
caixa: é preciso ter paciência, bom humor, bom senso, constância e acreditar que é
possível.” E ainda conclui dizendo que: “Todas as pessoas desejam pertencer a
alguém, sejam elas crianças, adolescentes ou mesmo adultos. O ser humano não
nasceu para viver só. Todos desejam ter um lar, uma família, amigos, atenção e
carinho.”
Para finalizar, Andrei (in Freire, 2001 p. 110, apud Souza, 2008) cita o que é
necessário aos pais que adotam crianças mais velhas:
[...] que sejam realmente adultos, capazes de amar e de se dedicar com generosidade e lucidez, sem ilusões românticas e piegas. Pais que sejam capazes de construir uma casa aberta, capazes de se comprometer com o mundo e com ideais que transcendam os desejos egoístas e mesquinhos.
Em Santa Catarina, foi criada a campanha Laços de Amor, que incentiva a
adoção de crianças mais velhas. Segundo reportagem de Meurer (2012) exibida
pelo Jornal Nacional em abril de 2012 e disponibilizado pelo canal Adoção Brasil, o
projeto tem dado bons resultados. Um dos vídeos da campanha mostra a história de
Juliana, que foi adotada junto com as três irmãs mais velhas por um casal que já
tinha dois filhos biológicos.
Segundo vídeo disponibilizado pelo canal CBN, quando estas crianças
completam dezoito anos, eles têm de deixar o abrigo. Ainda na reportagem, a
psicóloga Monica Rezende diz que quando a criança chega à adolescência é muito
difícil que ela seja adotada, assim em um último caso, eles têm de capacitar esses
adolescentes com cursos de profissionalização para que estes possam viver
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sozinhos depois da saída da instituição. Ainda nesta reportagem, é possível ver que
as crianças que ainda vivem no abrigo têm esperanças de encontrar uma nova
família, desde a garota de dezesseis anos até os dois irmãos de cinco e sete anos
que esperam encontrar uma mãe e um pai novo.
Lima e Palhano (2008a) em matéria exibida pelo Jornal Hoje, dizem que a
espera nos abrigos é longa, geralmente de dois ou três anos. Também exibem o
caso de Maria, uma menina que foi abrigada ainda bebê, e que depois de dois anos
de tentativa para reaproximá-la da mãe ela novamente sofreu maus tratos e voltou
para o abrigo. Na época aos três anos a menina ainda vivia na instituição e o juiz
ainda não havia autorizado sua adoção. Essa também era a situação de João, um
menino de dois anos que chegou ao abrigo com apenas quinze dias, ele não
mantinha vínculo com a família biológica, mas também ainda não podia ser adotado.
Em 2009, os repórteres voltaram ao mesmo abrigo, na ocasião a pequena Maria, já
estava com quatro anos e ainda não podia ser adotada, mesmo a mãe estando
proibida de visitar a criança, o processo da menina continuava parado. A reportagem
feita por Lima e Palhano (2009) ainda mostra que das mais de 3000 crianças
abrigadas no Rio de Janeiro, 50% dessas crianças não recebem visitas, mas
mantem um vínculo judicial com a família biológica, e ainda não possuíam um
processo para quebrar esse vinculo.
A terceira reportagem feita por Lima e Palhano (2008c) mostra que uma
pesquisa feita pela Universidade Federal do Paraná com um grupo de 300 filhos
adotivos e 300 filhos biológicos surpreendeu os psicólogos. Segundo a psicóloga
Lidia Weber, entrevistada na reportagem, “Os filhos adotivos mostram seus pais
como mais participativos, mais envolvidos”.
A reportagem feita por Lima e Palhano (2008a) ainda mostra a história de
quatro irmãos que receberam uma nova família. O pai, César Magalhães Bastos
afirma: “O amor que você sente pelo filho biológico ou adotado é exatamente o
mesmo. Esse amor nasce com a convivência”. Essa também é a opinião da senhora
Mariah Pereira, casada e com dois filhos biológicos ela adotou quatro irmãs acima
de seis anos, segundo ela “[...] os laços de família, eles vão se fortalecendo a cada
dia.” A família Pereira, é uma das famílias que aparecem na campanha catarinense
Adoção: Laços de Amor, que incentiva a adoção de crianças acima dos três anos de
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idade (MEURER, 2011). A filha Ana Cláudia alerta “Lá dentro de um orfanato tem
crianças que querem ser amadas e essas pessoas que tem amor pra dar porque
que elas não dão? Acho que amor de mãe e de pai não tem outro igual”. E Juliana
afirma “Não precisa esperar um filho, mas sim conhecer um filho”.
Segundo Weber e Kossobudzky (1996); Weber e Mafessoni (1996) apenas
crianças de até três anos conseguem uma família no Brasil. As crianças mais velhas
geralmente crescem institucionalizadas ou são adotadas por estrangeiros, dado que
se confirma de acordo com a pesquisa realizada por Vargas (1998) onde as
psicólogas acabam recorrendo á adoção internacional para crianças acima de três
anos quando estas não encontram pessoas dispostas á adotá-las no próprio país
por considerá-las “idosas”, assim como as crianças que não são brancas, as
portadoras de deficiência e aquelas que possuem grupos de irmãos.
23
2.4 ADOÇÃO INTERNACIONAL – ESPERANÇA PARA NOSSAS CRIANÇAS
“A palavra progresso não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes”. Albert Einstein
Assim como visto nos trabalhos desenvolvidos por alguns autores Weber e
Kossobudzky (1996); Weber e Mafessoni (1996); Vargas (1998) muitas crianças
maiores de três anos e que não se encaixam nos perfis solicitados pelos
pretendentes brasileiros, acabam sendo encaminhadas em último caso para a
adoção internacional.
Segundo trabalho apresentado por Silva, A.C (2008), a Convenção de Haia
enumera em se artigo 4º alguns requisitos da adoção internacional:
Artigo 4
As adoções abrangidas por esta Convenção só poderão ocorrer quando as autoridades competentes do Estado de origem:
a) tiverem determinado que a criança é adotável;
b) tiverem verificado, depois de haver examinado adequadamente as possibilidades de colocação da criança em seu Estado de origem, que uma adoção internacional atende ao interesse superior da criança;
c) tiverem-se assegurado de:
1) que as pessoas, instituições e autoridades cujo consentimento se requeira para a adoção hajam sido convenientemente orientadas e devidamente informadas das conseqüências de seu consentimento, em particular em relação à manutenção ou à ruptura, em virtude da adoção, dos vínculos jurídicos entre a criança e sua família de origem;
2) que estas pessoas, instituições e autoridades tenham manifestado seu consentimento livremente, na forma legal prevista, e que este consentimento se tenha manifestado ou constatado por escrito;
3) que os consentimentos não tenham sido obtidos mediante pagamento ou compensação de
qualquer espécie nem tenham sido revogados, e 4) que o consentimento da mãe, quando exigido, tenha sido manifestado após o nascimento da criança; e
24
d) tiverem-se assegurado, observada a idade e o grau de maturidade da criança, de:
1) que tenha sido a mesma convenientemente orientada e devidamente informada sobre as conseqüências de seu consentimento à adoção, quando este for exigido;
2) que tenham sido levadas em consideração a vontade e as opiniões da criança;
3) que o consentimento da criança à adoção, quando exigido, tenha sido dado livremente, na forma legal prevista, e que este consentimento tenha sido manifestado ou constatado por escrito;
4) que o consentimento não tenha sido induzido mediante pagamento ou compensação de qualquer espécie.
Conforme apresentado por Weber (1998b), os casais estrangeiros geralmente
estão mais dispostos a adotar crianças mais velhas e de etnias diferentes das suas.
Crianças essas que estão fora do padrão considerado “adotável” em nosso país.
De acordo com a reportagem de Tolentino (2010) disponibilizado pelo canal
online Justiça em Questão (2010) no ano de 2009, 45 crianças foram adotadas com
o intermédio da CEJA - Comissão Estadual Judiciária de Adoção – já no primeiro
semestre de 2010, 14 crianças já haviam sido adotadas e 12 estavam em estágios
de convivência. A reportagem ainda mostra que dos 48 estrangeiros habilitados, 44
eram de cidadania italiana. A reportagem de Aquino e Utsch (2007) confirma, a Itália
é o principal destino das crianças brasileiras que são adotadas por estrangeiros.
Segundo a reportagem 85% dos casais que concluíram o processo de adoção no
estado de São Paulo eram de origem italiana. Mas antes de virem buscar o filho no
Brasil, os estrangeiros passam por uma aula de Brasil, aprendendo por exemplo que
os brasileiros fazem muitas exigências na hora de adotar, exigências essas que
acabam excluindo a maioria das crianças e adolescentes que esperam por uma
família. Uma pesquisa apresentada na reportagem, mostra que na época, 94% das
adoções internacionais eram de crianças acima de 3 anos, 66%eram pardas ou
negras, 27% tinham algum tipo de problema de saúde, 86% das crianças adotadas
tinham pais dependentes de álcool e drogas e em 80% dos casos, dois ou mais
irmãos foram adotados juntos.
25
2.5 A ADOÇÃO PELO OLHAR DAS CRIANÇAS
“Palhano: O que precisa para ser feliz? Criança: Ser adotado .” (Lima e Palhano, 2009)
O trabalho desenvolvido por Guimarães (2010) envolveu a análise de
conversas que a mesma fez com três crianças que passaram pelo processo de
adoção tardia. Buscando entender a maneira como as crianças vêm à adoção, pode-
se chegar aos seguintes pontos sobre o tema: Billy (7 anos) via o abrigo como algo
ruim, um ambiente desprotegido onde as crianças permanecem até que alguém vá
buscá-las. Associa a adoção com uma transação comercial. O menino também
ignora os acontecimentos que precederam seu segundo abrigamento e a chegada
na família atual. Guimarães diz que esse silêncio pode estar relacionado com sua
adoção anterior que não foi concretizada. Diz que Billy se nega a falar sobre sua
família biológica e da primeira família adotiva, provavelmente com a intenção de
esquecer o passado e recomeçar do zero com a nova família. No caso das irmãs
Julia (6 anos) e Yasmin (7 anos), a mais velha relembra três passagens de sua vida:
a época que vivia com a família biológica, quando foi para o abrigo e a vinda para a
nova família. Yasmin atribui sua colocação na instituição de acolhimento devido ao
fato de ter crescido. Em sua representação com bonecos, Yasmin representou o
abrigo como um local com muitas crianças. E representou de forma mágica sua ida
para a nova família. Para Yasmin, as crianças são adotadas porque precisam ter
uma família. De acordo com Guimarães, Yasmin narrou sobre adoção como
sinônimo de ter uma família, independentemente de ter nascido ou não nela.
(Guimarães, 2010 pp 109). Assim, pode-se dizer que para Yasmin não existe
diferença entre família biológica e família adotiva. No caso de Júlia, a menina
também caracteriza adoção como o ato de ter uma família. Também atribui o registro
de adoção como uma segurança de que não será devolvida. Rossetti-Ferreira
(2012), também citou o trabalho desenvolvido por Solon (2006) e concluiu que
No seu estudo de caso entrevistando três crianças entre seis e sete anos de idade adotadas há menos de dois anos (Solon, 2006) apontou um ativo processo de silenciamento do passado dessas crianças por parte da família
26
adotiva e dos profissionais envolvidos. Entretanto, ao narrarem seu processo de adoção, as crianças construíram justificativas sobre o afastamento da família de origem, articulando os três contextos que compõem o processo de adoção tardia: a família biológica, o abrigo e a família adotiva. Contudo, suas narrativas nos mostram que circularam de um contexto para outro, submetidas de maneira impotente às decisões dos adultos, muitas vezes sem compreender o que acontecia.
Em uma reportagem feita por Lima e Palhano (2009), onde voltam aos
abrigos que estiveram a quase dois anos, aparece a história de cinco irmãos que
foram abrigados por maus tratos. Depois de dois anos na instituição, uma família se
interessou em adotá-los, mas os irmãos foram reinseridos na família biológica. Os
meninos voltaram a sofrer maus tratos da mãe e novamente foram abrigados. Hoje
segundo a reportagem apenas o mais novo tinha esperanças de encontrar uma nova
família: “Eu todo dia eu rezo. Eu falo pra Ele para me ajudar a achar uma família que
gosta de mim mesmo.”
A repórter Gabriela de Palhano (LIMA, PALHANO, 2008a) entrevista duas
crianças e pergunta o que elas pedem na hora de rezar. A resposta foi à mesma
para as duas crianças: “Peço um pai, uma mãe, um irmão, irmã, cuidando da gente.
Dando carinho.”
Apesar de ainda viverem dentro de uma instituição, algumas crianças ainda
sonham em encontrar uma nova família ou de alguma forma retornar para o convívio
com a família biológica. Já os adolescentes parecem se conformar com a situação e
conforme vão envelhecendo, tendem a perder as esperanças de serem adotados.
Isso pode ser observado na reportagem disponibilizada pelo canal online Mudando
Destinos (2009) e no documentário “O que o destino me mandar” feito pela jornalista
Ângela Bastos em 2006.
De acordo com Rossetti-Ferreira, Serrano e Almeida (2011) muito se escuta
sobre a criança na instituição de acolhimento, “mas ela é pouco informada e
escutada sobre seus sentimentos, medos e experiências”. As autoras ainda mostram
a importância das conversas entre as crianças e os educadores. Também dizem que
em algumas ocasiões “[...] a criança pode evitar conversar sobre suas vivências na
instituição, o que não significa, necessariamente, que ela não tenha o que ‘dizer’ ou
‘perguntar’ sobre o assunto.”
27
No documentário “O que o destino me mandar” (BASTOS, 2006), pode-se
perceber que as maiores dúvidas dessas crianças que ainda estão na instituição de
acolhimento estão relacionadas ás possibilidades das mesmas retornarem ao
convívio com a família biológica, mesmo que assim como um dos casos
apresentados pelo documentário tenham sido vítimas de maus tratos.
28
3. OBJETIVOS
Este trabalho tem por objetivo principal, realizar uma investigação bibliográfica a
respeito das variáveis que envolvem o processo de adoção de crianças e
adolescentes institucionalizadas sob o ponto de vista da percepção e expectativas
das mesmas.
Visa entender os desejos e frustrações que envolvem a espera por ser adotado e
ter uma família. Desta forma, busca-se compreender o processo psicossocial relativo
a esta questão.
29
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 MATERIAL OU INSTRUMENTOS
O estudo será realizado através de uma pesquisa bibliográfica onde serão
aprofundados os temas envolvidos no processo de institucionalização infantil bem
como adoção sob o ponto de vista de diversos autores e pesquisas, bem como
teorias sobre o desenvolvimento humano, especificamente em situações especiais
tais como as citadas.
A pesquisa bibliográfica segundo Macedo (1994) é o primeiro passo de um
trabalho cientifico. Esta pesquisa busca revisar a literatura existente sobre o tema
escolhido. É uma etapa fundamental para o desenvolvimento de trabalhos científicos
na medida em que esta fornece o embasamento teórico sobre o tema abordado no
trabalho (AMARAL, João J.F.; 2007).
Desta forma, buscou-se elucidar sob a luz da literatura pertinente, de publicações
cientificas o assunto, permitindo assim subsidiar vários campos de atuação da
psicologia, principalmente aqueles onde estão envolvidos o objeto desta análise,
promovendo maior qualificação, competência aos profissionais que nela atuam.
4.2 PROCEDIMENTO
Para obter as informações necessárias para o desenvolvimento deste trabalho,
foram utilizados livros, artigos científicos e textos disponíveis em meios eletrônicos.
30
5. DISCUSSÃO
O tema adoção ainda é um assunto muito complexo e que causa muitas
preocupações em diversos profissionais que trabalham com o assunto. A adoção
tardia é um dos pontos mais discutidos dentro dessa temática. Isso porque, o último
levantamento do CNJ sobre o cadastro nacional de adoção, identificou que o
número de pretendentes é quase seis vezes maior (28.041) que o numero de
crianças disponíveis para adoção (5.240) (SOUZA, 2012). Mas a pergunta que fica
é: como é possível ter tantas crianças vivendo em abrigos á espera de uma nova
família sendo que o número de pretendentes á adoção é muito maior do que o
número de crianças disponíveis? Pela lógica, faltariam crianças para tantos pais.
Mas a resposta para essa questão é encontrada facilmente quando analisamos o
perfil de crianças solicitadas pelos pretendentes e o perfil das crianças disponíveis.
Cieglinski (2012) aponta que
A maior parte dos pretendentes procura crianças pequenas, da cor branca e sem irmãos. Dos 28 mil candidatos a pais incluídos no Cadastro Nacional de Adoção, 35,2% aceitam apenas crianças brancas e 58,7% buscam alguma com até 3 anos. Enquanto isso, nas instituições de acolhimento, mais de 75% dos 5 mil abrigados têm entre 10 e 17 anos, faixa etária que apenas 1,31% dos candidatos está disposto a aceitar.
Alem disso outro fator que dificulta a adoção das crianças está relacionado á
raça. Guijt em sua publicação diz que 52,95% das crianças disponíveis para adoção
são negras, mas assim como apontado em algumas publicações (Cieglinski,2012;
Souza 2011) o número de candidatos que aceitam adotar crianças negras é muito
pequeno, comparado com o número de pretendentes á adoção de crianças brancas
e pardas.
Outro problema que atrasa e dificulta a adoção de crianças e adolescentes no
Brasil é que nem todas as crianças que vivem nos abrigos estão aptas para adoção.
Segundo matéria publicada pelo site Gazeta do Povo em maio de 2012, existem
31
39.383 crianças e adolescentes vivendo em abrigos esperando para serem
adotados, mas menos de 15% (5.215) estão habilitadas para adoção, ou seja,
apenas uma a cada sete crianças podem ser adotadas. Assim, o perfil e a
disponibilidade da criança para adoção acabam causando estes problemas que
fazem com que a criança permaneça nos abrigos por um longo período e excedam o
tempo de dois anos de permanência estipulados pela nova lei de adoção
(12.010/09). Na publicação do site Gazeta do Povo (2012), o autor mostra que:
A demora na tramitação dos processos, até que a família biológica perca a guarda e a criança seja habilitada para adoção, reduz as chances de acolhimento em um novo lar. A Lei Nacional da Adoção, aprovada em 2009, fixou em dois anos o tempo máximo de permanência da criança ou do adolescente em um abrigo. Mas, na prática, a demora da Justiça para analisar e decidir cada situação faz com que esse prazo seja extrapolado na maioria dos casos. Muitos adolescentes ficam nas instituições de acolhimento até os 18 anos, quando devem sair para construir as próprias vidas. A lei também estabeleceu que a cada seis meses a situação da criança que vive em um abrigo deve ser revisada. A instituição produz um relatório sobre a condição das famílias e as tentativas de reintegração com os pais biológicos, avós ou tios e indica se ela deverá ser encaminhada para adoção ou pode voltar para a família de origem.
Cuneo (2009) aponta em seu trabalho que muitas vezes as crianças
permanecem anos nos abrigos esperando uma definição de sua situação, “sem
saber se será reintegrada à família de origem, colocada em família substituta através
de adoção ou mesmo se permanecerá na instituição sem perspectivas de
acolhimento familiar”. Além disso, esse longo período que a criança fica no abrigo,
não apenas diminui as chances dela ser inserida em uma nova família, como
também podem prejudicar o seu desenvolvimento, assim como apontado por Cuneo
que diz que:
[...] a institucionalização prolongada impede a ocorrência de condições favoráveis ao sadio desenvolvimento da criança por conta da submissão a rotinas rígidas, do convívio restrito às mesmas pessoas, da precariedade de atenção individualizada e da falta de vida em família sem a oportunidade de trocas afetivas emocionalmente significativas, dentre outros fatores.
Apesar da instituição não ser um local próprio para o desenvolvimento infantil,
vale ressaltar que o desenvolvimento da criança dependerá do ambiente em que a
ela está inserida, neste caso, dependerá do abrigo oferecer um ambiente favorável
onde à criança poderá se desenvolver normalmente. Assim, pode acontecer da
32
instituição oferecer um ambiente mais favorável do que o oferecido pela família de
origem.
Cuneo ainda mostra o quanto isso poderá influenciar no futuro da criança:
A descontinuidade dos vínculos iniciais e a ausência de um referencial cognitivo contribuem para a formação insegura dos padrões de apego, o que pode levar a prejuízos de ordem somática, emocional, intelectual e social. Marcas profundas e dolorosas geralmente afetam a criança institucionalizada por longo período e, se não adequadamente elaboradas, poderão se refletir na adultez, com efeitos perniciosos na formação do desenvolvimento do indivíduo.
Em seu trabalho, Cuneo (2009) ainda diz que a maioria das crianças que
vivem em instituições de acolhimento é de origem pobre, de forma que já possuem
certa carência econômica, escolaridade deficiente e cuidados básicos inadequados.
Tendo por essa visão a autora diz que essas carências podem se acentuar com o
abrigamento prolongado.
Weber (1998) mostra que os receios dos pretendentes á adoção de crianças
mais velhas, estão ligados ao medo de não conseguirem criar novos vínculos com a
criança e de que ela tenha dificuldade para se adaptar á nova família devida ás
seqüelas deixadas pelo abandono e pela institucionalização. Essa dificuldade temida
pelos pretendentes muitas vezes pode estar associada pelo fato da criança
apresentar dificuldades para desenvolver esse vinculo afetivo com a nova família.
Segundo Cuneo (2009),
Cada criança desenvolve um padrão de apego dirigido para uma figura em particular, a mãe, ou o seu substituto, a figura materna. A base para que se estabeleçam vínculos afetivos saudáveis depende do grau em que os pais ou os seus substitutos fornecem à criança uma base segura e a estimulam a explorar o ambiente, de molde a fornecer-lhes o necessário aporte para, gradualmente, ampliarem suas relações. O atraso no desenvolvimento do apego indica que a criança, por alguma razão, experimentou muito menos estimulação social de uma figura materna, como é o caso das que são criadas em instituições, devido à forma impessoal dos cuidados que geralmente lhe são dispensados.
Como foi apresentado neste trabalho, os brasileiros são muito exigentes na
escolha do perfil da criança que vão receber. Segundo Tolentino (2010), “brasileiros
escolhem sexo, idade, aparência de seus futuros filhos”, dessa maneira a última
alternativa para que as crianças e adolescentes brasileiros possam viver em um
33
ambiente familiar é através da adoção internacional. Como visto no trabalho de
Weber (1998b) e na reportagem de Aquino e Utsch (2007), os estrangeiros estão
mais abertos para receber crianças mais velhas, com irmãos e de etnias diferentes
da sua. Segundo uma pretendente à adoção italiana em entrevista para a
reportagem de Aquino e Utsch (2007), “São os pais que se colocam á disposição
das crianças e não vice-versa... E isso a gente entende ainda mais quando se tem
filhos... Poderia ser branco ou preto, pequeno ou maiorzinho...”. Segundo a
reportagem essa é uma lição que os brasileiros ainda têm de aprender.
Este trabalho tinha por objetivo investigar a maneira como crianças e
adolescentes que ainda vivem em instituições percebiam o tema adoção. Quais
eram suas expectativas e opiniões sobre o tema. Porém não foi possível realizar
uma pesquisa diretamente com as crianças, mas buscou-se esclarecer o tema
partindo de uma análise bibliográfica sobre o mesmo. Apesar de a adoção ser um
tema muito discutido e apresentar diversos materiais para análise, foi difícil
encontrar materiais específicos sobre o tema aqui proposto. O que se pode observar
é que “apesar da adoção existir desde remotos tempos, ela permanece “esquecida”
nos meios científicos ou sendo tratada de forma preconceituosa” (Vargas, 1998). A
maioria dos materiais sobre adoção tardia encontrados tratava sobre as perspectivas
dos adotantes e das crianças já adotadas.
.
34
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o desenvolvimento deste trabalho, foi possível observar que a maioria de
trabalhos realizados na área da adoção tardia, estão voltados para as perspectivas
dos pais adotivos e das crianças que já estão inseridas dentro de uma nova família.
Com o propósito de descobrir quais as perspectivas de adoção que crianças que
ainda vivem em instituições de acolhimento possuem, foi necessário recorrer a
materiais disponíveis por meios eletrônicos. Assim através de algumas reportagens
foi possível observar que a maioria das crianças e adolescentes que ainda estão
institucionalizadas ainda sonham com uma nova família, com uma mãe, pai, que
possam dar carinho e a atenção que lhes foi negado pela família biológica.
Ao longo deste trabalho foi possível levantar alguns pontos principais. Primeiro é
que segundo os materiais analisados, ninguém sabe ao certo a quantidade de
crianças e adolescentes que vivem em instituições de acolhimento, o que se sabe é
que apenas a minoria delas está disponível para adoção. Seria necessária, uma
maior supervisão do Sistema Judiciário para com essas crianças e adolescentes,
analisar com mais freqüência a situação em que se encontram e quando não houver
a possibilidade da mesma ser reinserida na família biológica, agilizar o processo de
destituição do poder familiar desta criança e adolescente para que a mesma não
passe anos vivendo em instituições de acolhimento e perca maiores oportunidades
de encontrar uma família substituta. Outra questão do trabalho, é que essa demora
nos processos de adoção faz com que as crianças cresçam nos abrigos, afastando-
se do perfil que a maioria dos brasileiros solicita na hora de adotar um filho. Assim,
poder-se-ia pensar em campanhas para promover e conscientizar os pretendentes á
adoção sobre a realidade dos abrigos brasileiros e os benefícios da adoção de
crianças mais velhas. Através dos materiais bibliográficos e principalmente dos
materiais online, pode-se encontrar vários casos onde famílias que adotaram
35
crianças maiores de três anos, conseguiram quebrar a barreira do preconceito, criar
novos vínculos com o filho adotado e constituir uma família feliz.
A importância de escutar essas crianças e adolescentes que ainda aguardam
uma família para que as mesmas possam expor o que sentem e como vêem a
própria situação. Acredita-se que seriam necessárias pesquisas mais aprofundadas
sobre adoção tardia, que é um tema tão importante e tão complexo. Seria
necessário dar voz a essas crianças e adolescentes que ainda estão
institucionalizadas e “excluídas” do convívio familiar.
36
7. REFERÊNCIAS
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